SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
Ciências Sociais Unisinos
46(2):140-151, maio/agosto 2010
© 2010 by Unisinos - doi: 10.4013/csu.2010.46.2.03
Resumo
O artigo visa contribuir no estudo e no aperfeiçoamento daquelas inovações institucionais
voltadas para a promoção de práticas participativas nas democracias contemporâneas.
Primeiramente, são examinados alguns dos principais argumentos que abordam as pos-
sibilidades, os limites e os efeitos que o desenho institucional do Estado exerce sobre o
jogo político. Em seguida, explora-se, por meio de um breve histórico atinente aos modos
de configuração das democracias modernas, a relação entre desenho institucional e par-
ticipação política. Aponta-se, na sequência, a necessidade de reformas em determinados
traços da formatação do Estado, a fim de possibilitar uma maior participação em âmbitos
institucionais. Por último, defende-se a proposta de que três aspectos fundamentais
devem ser contemplados em qualquer tentativa de constituir mecanismos participativos
adequados e efetivos: (a) aperfeiçoamento do repertório informacional e de habilidades
políticas dos cidadãos; (b) deferência a elementos motivacionais que fomentem o envolvi-
mento com a política; (c) cuidados quanto à configuração e à disponibilidade de canais
de input cujo objetivo seja conduzir as contribuições da esfera civil.
Palavras-chave: participação, desenho institucional, democracia.
Abstract
This paper focuses on the study and development of those institutional innovations con-
ceived to promote participatory practices in contemporary democracies. In a first moment,
one considers some of the main arguments addressing the scope, limits and the effects
of the institutional design on the political game. Then, the article explores, through a
brief history regarded the configuration modes of modern democracies, the relationship
between institutional design and political participation. This fact calls the attention
to the need of a change in the current institutional design of democracies. Finally, one
proposes the idea that three features must be taken into account in any attempt to of-
fer effective mechanisms of participation in the decision-making process: (a) to improve
citizens’ repertoire of skills and political information; (b) to pay attention to motivational
factors that encourage the involvement in politics; (c) to be careful about the setting and
the availability of input channels whose goal is to lead the contributions of civil sphere.
Key words: participation, institutional design, democracy.
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques1
marquesjamil@yahoo.com.br
Participação política e desenho institucional: uma
proposta para a concepção de mecanismos participativos
1
Professor Adjunto I da Universidade Federal
do Ceará - Instituto de Cultura e Arte - ICA.
Coordenação do Curso de Comunicação Social.
Av. da Universidade, 2762, Benfica, 60020-
180, Fortaleza, CE, Brasil. O autor agradece
à CAPES e ao CNPq pela concessão de bolsa
para a realização da pesquisa que gerou o
presente artigo.
Political participation and institutional design:
A proposal for the conception of participatory mechanisms
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
141
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
Introdução
De um modo geral, pode-se dizer que a compreensão
mais comum da ideia de desenho institucional democrático se
refere à forma pela qual são configuradas as instituições políti-
cas do Estado em tal regime de governo. Esta concepção aparen-
temente enxuta esconde um jogo intrincado de relações entre
agentes políticos de diferentes naturezas; de categorias teóricas
oriundas dos distintos modelos de democracia; e de conjuntos
diversos de fenômenos a reverberarem sobre as práticas políti-
cas. Ou seja, quando se pensa em desenho institucional, a dis-
cussão pode recair sobre questões tão amplas como: as crenças
ideológicas e de princípios a orientarem as modificações promo-
vidas na estrutura do Estado a médio e longo prazo; o modo a
partir do qual estão dispostos os sistemas eleitorais; a maior ou
menor centralização das decisões de governo e de elaboração
de políticas públicas; as responsabilidades e jurisdições de agen-
tes e de entidades políticas; o grau de independência do Poder
Judiciário e a afinidade com seus órgãos de controle; a relação
de poder entre o Executivo e o Legislativo; e, não menos impor-
tante, as formas de interação do Estado com os cidadãos e os
movimentos organizados da sociedade civil (Lijphart e Weisman,
1996; Goodin, 1996; Brennan e Hamlin, 2000; Helmke e Levitsky,
2006; Marques, 2008; Miola, 2009).
É possível afirmar, assim, que o resultado das diferenças
na formatação institucional de cada Estado constitui um dos
fatores mais relevantes que caracterizam a singularidade das de-
mocracias nos diversos países em que ela é adotada.
Se existem diferentes alternativas a serem consideradas
quando da configuração das instituições democráticas, pode-se
questionar o que motiva a existência de tal diversidade. O que
levaria uma sociedade democrática a contar, em determinadas
ocasiões, com instituições tão particulares, tanto no que se refe-
re às justificativas apontadas sobre a razão de ser de tais entida-
des, quanto no que concerne aos seus modos de atuação? O que
impulsiona uma democracia como o Brasil a contar com um Mi-
nistério dedicado ao Desenvolvimento Social e Combate à Fome?
Que causas fundamentam a existência peculiar de um Ministério
criado para tratar exclusivamente dos assuntos relacionados aos
Veteranos de Guerra na democracia norte-americana?
Um conjunto de fatores pode ser apontado para respon-
der a estas questões, mas três deles parecem se sobressair, tanto
por sua importância quanto pela conexão que demonstram ter.
O primeiro tem a ver com a cultura política de cada democracia,
forjada a partir do reconhecimento da importância de aspectos
atinentes à história do país, suas tradições, princípios e valores
políticos, bem como seu passado de mobilizações, lutas e revoltas
(Almond e Verba, 1963). Veja-se o caso do Ministério da Imigra-
ção, Integração e Identidade Nacional, que compõe a máquina
administrativa francesa. O segundo fator está relacionado à lide
com dificuldades específicas de cada sociedade, uma vez que a
persistência de determinados estorvos poderia comprometer a
consolidação da democracia em contextos específicos. No Brasil,
mais uma vez, há ministérios dedicados à promoção da igual-
dade racial e para elaborar políticas voltadas para as mulheres.
Um terceiro fator está relacionado aos dois anteriores,
mas destaca, por sua vez, a busca pela consecução de determi-
nados valores atinentes à ideia de democracia (Gomes, 2007).
Inspirando-se nos diferentes modelos de democracia a contarem
com maior projeção teórica (Held, 1987), mas não se limitando
a estas sistematizações, é possível afirmar que uma ideia razoá-
vel de democracia procura encerrar em sua constituição valores
aparentemente díspares ressaltados por tais modelos. Valores
que, em verdade, precisam ser vistos como complementares.
Assim, se, por um lado, o Liberalismo se esmera na de-
fesa de mecanismos de transparência e garantia de liberdades
e de direitos individuais; e se, por outro lado, o Republicanismo
reforça a necessidade de participação da comunidade política
na produção de decisões coletivas; e, ainda, se for admitido um
terceiro modelo, o de sedimentação mais recente, a saber, o De-
liberacionismo, que enfatiza a indispensabilidade de discussão
e de debate sobre questões de interesse público, haverá três
concepções a apontarem princípios e valores que, tomados de
maneira conjunta, conformam uma ideia de democracia coe-
rente a contemplar diferentes questões. Dito de outro modo, o
que se quer é indicar que uma democracia não pode prescindir
de valores específicos defendidos por cada um destes modelos
(transparência, liberdades e direitos, participação, discussão),
não obstante estas sistematizações parecerem construir seu ar-
gumento próprio de forma excludente.
É justamente na tentativa de se promoverem mecanismos
políticos voltados para o reforço de cada um destes valores que
se pode enxergar melhor o terceiro fator a motivar a existência
de determinadas instituições na configuração dos Estados de-
mocráticos contemporâneos. Se uma determinada sociedade é
tradicionalmente atingida por males, tais como a corrupção e o
patrimonialismo (um traço da cultura política), a tendência deve
ser procurar antídotos para o reforço daqueles valores de transpa-
rência e de prestação de contas. Em especial, no caso brasileiro, a
autonomia do Tribunal de Contas da União, a proeminência aufe-
rida à Controladoria Geral da União e a atuação de outros órgãos
de controle interno em nível municipal, estadual e federal são
aspectos particulares do desenho institucional desta democracia.
A partir da constatação de que os diversos desenhos ins-
titucionais dos regimes democráticos se originam, por exemplo,
a partir de dimensões ligadas à cultura política e ao enfrenta-
mento de certas dificuldades, é possível perguntar que institui-
ções podem melhor assegurar a consecução de determinados
valores associados à ideia de democracia.
A este ponto é preciso esclarecer que o presente trabalho
possui como meta fundamental a reflexão acerca da relação en-
tre o desenho institucional e um dos valores específicos da ideia
de democracia, a saber, a participação política da esfera civil.
Sabe-se que, a depender da cultura política, de aspectos socio-
econômicos e da configuração institucional adotada em cada
democracia, o modo pelo qual se encaminha o papel político
atribuído aos cidadãos segue um curso específico. Na intenção
142
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos
de isolar a variável concernente ao desenho institucional, são
investigados aqueles formatos que facilitam o envolvimento po-
lítico da esfera civil no processo de produção da decisão política.
No tópico seguinte, discute-se quanta influência o de-
senho institucional exerce sobre as práticas políticas, sobretudo
aquelas atinentes à participação. Em seguida, o trabalho detalha
a forma por meio da qual as instituições modernas da demo-
cracia foram montadas de modo a desfavorecer a intervenção
dos cidadãos no jogo político. Por último, defende-se, por meio
do detalhamento de uma proposta, a adoção de um redesenho
em certos aspectos das instituições democráticas com o objetivo
de aperfeiçoar os mecanismos de participação política auferidos
aos cidadãos.
Desenho institucional democrático:
possibilidades e limites
Os estudos em Teoria Política, empenhados em examinar
as formas de configuração das instituições políticas do Estado,
terminam por revelar um leque de divergências acerca de quan-
ta influência exerce o desenho institucional sobre as práticas
democráticas.2
De maneira mais específica quanto à interface entre de-
senho institucional e participação, é importante mencionar as
contribuições de Putnam (1993). Ao sugerir explicações para
a diferença de comportamento político identificada nos cida-
dãos oriundos do norte e do sul da Itália, o autor propõe a
avaliação de três fatores: (i) um fator relativo ao desenho insti-
tucional; (ii) outro fator ligado às questões socioeconômicas; e,
por último, (iii) um fator referente aos aspectos socioculturais
típicos destas regiões.
De interesse para o presente trabalho, fica a conclusão
do autor de que o desenho institucional exerce uma fraca in-
fluência sobre a participação da esfera civil, visto que padrões
nitidamente distintos de engajamento político são apresentados
em diferentes localidades italianas, ainda que os cidadãos este-
jam alocados em um mesmo cenário constitucional-jurídico e
institucional. Em outras palavras, para Putnam (1993), se, por
um lado, as instituições são as mesmas, mas se, por outro lado, os
comportamentos políticos se mostram tão díspares, a explicação
deve se encontrar, em maior conta, nos aspectos socioeconômi-
cos e, preponderantemente, nas questões socioculturais.
De fato, é necessário reconhecer que o desenho institu-
cional não é o único fator a explicar uma maior ou menor capa-
cidade e inclinação para a atuação cívica por parte dos cidadãos,
visto que, no caso apontado, sob idênticos códigos e oportuni-
dades institucionais de participação, o grau de envolvimento da
esfera civil se mostrava diferente. Contudo, se o desenho institu-
cional não é o único fator, resta examinar se ele é tão dispensá-
vel quanto dá a entender a concepção de Putnam (1993).
Na verdade, não obstante a importância de fatores de
ordem sociocultural e econômica, acredita-se que tal estudio-
so excessivamente valoriza a cultura cívica como o elemento
mais fundamental a determinar o comportamento político dos
cidadãos. Ou seja, o raciocínio de Putnam (1993) conduz à ideia
de que as instituições do Estado pouco podem fazer para, por
exemplo, reverter índices decrescentes de engajamento cívico,
uma vez que a base de boa parte das convicções e inspirações
para a atuação política estaria localizada na própria comunidade
e em seus valores.
Conforme expõe Frey (2003), o argumento de Putnam
(1993) pode contar com certas fraquezas ao subestimar o papel
do desenho institucional e de seus efeitos no que concerne à
participação política da esfera civil. Isso pelo simples fato de que
as formas de mobilização e de engajamento perpetradas pelos
cidadãos guardam, não por acaso, íntima relação com a confi-
guração das instituições políticas.3
Veja-se, por exemplo, o modo
pelo qual as organizações da sociedade civil montam seus orga-
nogramas a partir da inspiração a elas conferida pela estrutura
das instituições do Estado (Skocpol, 2004).
Ademais, os modos de atuação destas entidades cívi-
cas também são orientados, em boa medida, pelo sentimen-
to de que as instituições se mostram mais ou menos abertas
para absorver as disposições da esfera civil. Isto é, os cidadãos
protestam porque, dentre outros fatores, acreditam que de-
terminadas formas de pressão irão provocar algum tipo de
reverberação institucional. Qual seria a utilidade do emprego
de mecanismos como abaixo-assinados, se os cidadãos tives-
sem a convicção de que as instituições do Estado não apre-
sentassem aptidão alguma para levar em conta as demandas
a elas endereçadas? Sendo assim, conforme explicam Almond
e Verba (1963), o modo pelo qual as instituições se dispõem
a considerar as contribuições dos cidadãos reflete, de modo
decisivo, naquilo que estes autores chamam de sentimento de
eficácia política.
2
Segundo Frey (2003, p. 170): “A percepção de Putnam é bastante fatalista na medida em que as raízes históricas e culturais são sobrevalorizadas.
[...] É imprescindível avaliar a relevância do desenho institucional para a relação entre capital social e democracia e o desempenho governamental
em geral. [...] Pelo menos, o que os recentes estudos sobre experiências brasileiras em democracia local mostram é que inovações concernentes
ao desenho institucional fazem de fato a diferença, não apenas para a ampliação da participação política, mas também para o fortalecimento da
sociedade civil local e, consequentemente, a criação de capital social”.
3
Philip Pettit sumariza a interação destes diversos fatores que influenciam a forma pela qual os cidadãos participam: “O comportamento das pessoas
em sociedade – seu comportamento individual, seu comportamento como agentes de coletivos corporativos e seu comportamento em capacidades
públicas – é sensível às oportunidades e aos incentivos disponíveis a elas como resultado de sua configuração social, como é sensível a outros
fatores: por exemplo, para os valores, representações e modos de discurso que elas herdam, em boa parte, de seu quadro social de referências”
(Pettit, 1996, tradução própria).
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
143
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
Neste contexto, a ideia aqui defendida é a de que o desenho
institucional não pode ser tomado como fator único a influenciar
a oferta e o emprego dos mecanismos de participação, mas, ainda
assim, deve-se reconhecer que ele representa um vetor fundamen-
tal para se afirmar os diversos padrões de interferência e de enga-
jamento dos cidadãos.4
A fim de evitar uma excessiva valorização
do desenho institucional, é preciso, portanto, definir alguns de seus
limites de modo a se compreender adequadamente como os esta-
dos podem ser redesenhados a fim de se fomentar a participação.
Em primeiro lugar, o elogio ao potencial das instituições
para promover mudanças nos padrões de ativismo e engajamen-
to da esfera da cidadania precisa de limites porque, conforme
sustenta Frey (2003), é preciso ser cuidadoso no que concerne às
tentativas de controle e de cooptação que podem ser exercidas
pela burocracia estatal. Há um conjunto de autores a apontar
os riscos de se centralizarem as oportunidades de participação
apenas à dimensão institucional, ressaltando-se a necessidade
de manutenção de espaços de debate e de mobilização em ins-
tâncias eminentemente civis (Dryzek, 2000).
Em segundo lugar, atente-se para o fato de que mesmo
um desenho institucional direcionado ao favorecimento da par-
ticipação dos cidadãos não garante que tal participação ocorrerá
de maneira fluida e sem percalços, exatamente por conta da re-
troinfluência de outros fatores sobre os modos de engajamento
da esfera civil. Mais uma vez, merecem ser mencionados que-
sitos ligados às condições socioeconômicas e às características
socioculturais de cada sociedade democrática. Desta forma, o
empreendimento de iniciativas de participação deve estar aten-
to a estas dimensões e, caso sejam detectados empecilhos ou
dificuldades de maior eminência, faz-se importante procurar
transformá-los ou aliviá-los.
Tratando-se não apenas dos limites da influência do de-
senho institucional para a participação, mas também para as
práticas democráticas em geral, aponta-se, ainda, que nem to-
dos os problemas a afetarem as democracias podem ser resolvi-
dos a partir de um redesenho das instituições do Estado. Existem
certas distorções, como determinadas modalidades de corrup-
ção, que, mesmo uma reformulação do desenho institucional,
pouco podem contribuir para debelar.
Uma vez que se tenham discutido a importância, as pos-
sibilidades e os limites de influência do desenho institucional,
parte-se para o exame do modo pelo qual foram configurados os
Estados democráticos desde a Era Moderna. A intenção é expor
o argumento de que a participação efetiva dos cidadãos no pro-
cesso de produção da decisão política foi considerada um valor
secundário naquele momento, dada a concessão de demasiadas
prerrogativas aos representantes eleitos. Defende-se, assim, a
necessidade de se promoverem modificações em certos aspectos
da montagem do Estado e de suas instituições, a fim de apontar
saídas para problemas como a excessiva autonomia dos agentes
políticos frente à esfera civil.
Do aperfeiçoamento da participação
política por meio do desenho
institucional
Se for possível verificar uma relação próxima entre a
configuração do Estado e as práticas democráticas testemunha-
das em determinada sociedade, este trabalho propõe refletir so-
bre os modos de se redesenhar as instituições políticas, a fim de
apontar soluções para problemas típicos da democracia. Assim,
por exemplo, caso em determinada sociedade haja carência de
visibilidade e transparência no trato com a coisa pública, argu-
menta-se que o Estado pode ser reformatado em alguns de seus
traços por intermédio do emprego de mecanismos específicos, a
ponto de se corrigir ou aliviar a ocorrência de tais falhas.
É importante ressaltar, a este ponto, que há problemas
nas democracias de qualidades e de dimensões diversas, sendo
alguns deles solucionáveis por meio de simples atos adminis-
trativos (o que não requer modificações de maior profundidade
no desenho do Estado). Por outro lado, existem questões que
exigem uma reorganização mais estrutural das instituições com
o intuito de se encaminharem respostas consistentes para as di-
ficuldades tradicionalmente enfrentadas e que prejudicam, de
maneira contínua, a consecução de ideais democráticos. Este é
o caso do aperfeiçoamento das oportunidades institucionais de
participação já existentes e da criação de novas iniciativas a fo-
mentarem o envolvimento político da esfera civil.
A defesa do redesenho institucional para que se possi-
bilite uma maior participação dos cidadãos parte da premissa
de que a forma pela qual foram configuradas as instituições
democráticas modernas expõe uma feição nitidamente desfa-
vorável ao envolvimento político da esfera civil (Manin, 1997;
Delli Carpini, 2000; Verba et al., 1995). Bernard Manin, mais
exatamente, afirma haver uma indisposição das instituições em
incluir os cidadãos de forma incisiva no processo de produção
da decisão política. Este fenômeno, segundo o autor, seria fruto
de determinadas escolhas estabelecidas quando da formatação
institucional procedida ao longo das revoluções burguesas que
tiveram lugar, em um primeiro momento, na América do Norte e
na Europa (Manin, 1997, p. 3-4).
4
Cass Sunstein reafirma o diagnóstico de que os federalistas norte-americanos tinham a intenção de rejeitar a herança monárquica de Europa e, ao
mesmo tempo, promover um governo com capacidade de manter o exercício do poder político relativamente afastado da esfera civil. Conforme o
autor: “Em vez de se buscar permitir ao povo filtrar o que ele iria ver e ouvir, eles tentaram criar instituições que iriam ‘filtrar’ os desejos populares
de modo a assegurar políticas que promoveriam o bem público. Assim, a estrutura da representação política, e o sistema de checagens e balanços,
foram desenhados para criar um tipo de filtro entre o povo e a lei, de modo a garantir que aquilo que emergiria seria tanto reflexivo quanto bem
informado” (Sunstein, 2001, p. 37-38, tradução própria).
144
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos
As insurreições da burguesia perpetradas para derrubar
o Absolutismo nunca tiveram como intenção de fundo tornar a
participação da esfera da cidadania um valor fundamental para
o exercício das práticas democráticas. Manin (1997, p. 8) ilumina,
por exemplo, o fato de se ter optado pela eleição de representan-
tes através de voto e não por sorteio, como acontecia na antiga
cidade-estado de Atenas. Desta forma, se, por um lado, parece
praticamente consensual a noção de que a representação se tor-
nou indispensável devido ao tamanho dos estados modernos, a
justificativa (ou a falta dela) pelo voto (em detrimento do sorteio)
para a indicação destes delegados expõe um claro exemplo de
como o desenho institucional molda as concepções modernas de
governo e, por conseguinte, as formas de se atuar no jogo político.
Em outras palavras, a intenção, naquele instante, foi
evitar que um cidadão qualquer tivesse a chance de exercer a
representação política (o que poderia ser ocasionado pelo sor-
teio), estabelecendo-se, assim, um mecanismo com o intuito de
permitir que alguns se destacassem por intermédio de suas ca-
pacidades inerentes de arregimentar prestígio e apoio político-
eleitoral. Esta constatação leva Manin (1997) a afirmar, então,
que o governo representativo moderno não foi originalmente
pensado enquanto detentor de um caráter democrático por ex-
celência . Para o autor:
[...] nós não hesitamos em categorizar os sistemas representa-
tivos de hoje como democracias. Os pais fundadores, por outro
lado, enfatizaram a ‘enorme diferença’ entre o governo repre-
sentativo e o governo por parte daqueles que eram, então,
o povo. Nós somos, assim, deixados com o paradoxo de que,
sem ter claramente evoluído, a relação entre representantes e
aqueles que eles representam é, hoje em dia, percebida como
democracia, enquanto ela era, originalmente, vista como não
democrática (Manin, 1997, p. 236, tradução própria).
Manin (1997) vai concluir, então, que a formatação geral
conferida modernamente ao governo representativo acabou por
combinar aspectos democráticos e não democráticos. Isso porque,
de um lado, as eleições permitem um elemento de exercício de
soberania popular através do input no qual consiste o voto; ao
mesmo tempo, contudo, nem todos os cidadãos arregimentam
condições para serem eleitos, o que seria provável com o estatuto
da fortuna auferido pelo sorteio5
(Manin, 1997, p. 236-238).
Dryzek e Torgerson (1993) confirmam que os pioneiros
na defesa do governo representativo moderno não tinham em
mente uma configuração política eminentemente democráti-
ca, pois acreditavam que a elite deveria exercer uma influência
de maior peso e que seriam plenamente justificáveis os receios
concernentes ao aprofundamento da democracia por meio do
exercício de poder por parte da esfera da cidadania. Este é o
mesmo diagnóstico de Bohman e de Habermas (1997), autores
para quem as instituições da democracia liberal foram pensadas
de modo a isolar os cidadãos do centro da produção da decisão
política (Bohman, 1996, p. 189).
Até o momento, o texto se dispôs a apontar as possibilida-
des, os limites e as influências que o desenho institucional exerce
sobre as práticas participativas. Também foi mencionada a escassez
de mecanismos participativos institucionais voltados para incluir
efetivamente os cidadãos no processo de discussão e de decisão
acerca da res publica. Mas pouco ou nada, ainda, foi dito acerca da
importância da participação da esfera civil para o regime democrá-
tico de governo, o que justificaria a necessidade de modificações no
traço do desenho institucional dos Estados democráticos.
Não se pretende fazer uma digressão a ponto de arrolar to-
dos aqueles argumentos a fundamentarem a indispensabilidade da
participação política dos cidadãos para a democracia. Por este mo-
mento, e a fim de não estender a discussão, considera-se suficiente
destacar que a defesa por oportunidades efetivas de intervenção
e controle dos cidadãos não ocorre apenas por uma questão de
princípios ou de filiações teórico-ideológicas. Na verdade, autores
como Habermas (1997) argumentam que uma esfera de cidadãos
bem informados e civicamente engajados é fundamental, graças às
contribuições que oferece nos debates e na promoção de decisões
de maior qualidade, no encaminhamento de sugestões, na agilida-
de da implementação de políticas públicas, na vigilância sobre os
representantes e, talvez o mais importante, na manutenção da legi-
timidade do regime democrático (Bohman, 1996; Creighton, 2005;
Gastil, 2000; Nobre, 2004). Entretanto, um argumento candente
para se defender a participação vem da ideia de que ela evita males
que podem afetar o jogo democrático em um plano mais geral.
Fung e Wright (2001), por exemplo, sustentam que deter-
minadas dificuldades identificadas no exercício das práticas de-
mocráticas não são, exclusivamente, fruto de traços tais como a
complexidade (Bohman, 1996) e o multiculturalismo (Gutmann
e Thompson, 1996) que marcam as sociedades contemporâneas,
mas também de um desenho de Estado inadequado para lidar
com as demandas e o envolvimento político dos cidadãos. De
acordo com estes autores:
Talvez, esta erosão da vitalidade democrática seja um resultado
inevitável da complexidade e da escala. Talvez, o máximo que
nós possamos esperar seja ter um tipo de constrangimento po-
pular sobre as atividades de governo limitado a eleições regula-
res e fracamente competitivas. Talvez a Era do ‘Estado democrá-
tico afirmativo’ – o Estado que desempenha um papel criativo
e ativo na resolução de problemas em resposta a demandas
populares – esteja terminado, e uma retração ao privatismo e à
passividade política seja o preço inevitável de nosso ‘progresso’.
Mas, talvez, o problema tenha mais a ver com o desenho es-
pecífico de nossas instituições do que com as tarefas que elas
precisam encarar (Fung e Wright, 2001, p. 6, tradução própria).
5
Foi assim que se originou a ideia da democracia liberal de que o voto é o instrumento por excelência da intervenção política adequada da esfera
civil, pois, uma vez que os cidadãos elegem seus representantes, eles, por um lado, ratificam o método de escolha dos delegados como legítimo e,
por outro, chancelam os resultados e as políticas delineadas por estes representantes (Manin, 1997, p. 85-86).
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
145
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
A tese de fundo sustentada, em maior ou menor medida,
por estes e por outros estudiosos citados até aqui é a de que
determinados estorvos típicos das democracias (como apatia,
cinismo, baixo sentimento de legitimidade das decisões políti-
cas, dentre outros) têm a ver com o formato do desenho das
instituições do Estado e a relação destas com a esfera civil. Ou
seja, delinear iniciativas e ferramentas de âmbito institucional a
fim de fomentar a participação pode aliviar a ocorrência de um
conjunto de problemas que fazem a democracia perder parte de
sua consistência prática.
A origem de mudanças no desenho institucional se en-
contra na alteração do projeto de Estado, empreendimento ge-
ralmente encampado, seja por convicção política ou devido a
pressões externas, por parte, sobretudo, de agentes do campo
político (Gomes, 2007). Algumas das antigas orientações do Es-
tado liberal, por exemplo, foram reorganizadas para absorver
o sufrágio universal ou, conforme defendia Rawls (1999), para
atender a demandas de justiça e bem-estar social. Caso recon-
figurações desta natureza não fossem providenciadas, se cor-
reria o risco de comprometer a legitimidade das práticas caras
à democracia então vigentes e de um outro regime de governo
ganhar prestígio.
Estas modificações são respostas específicas, oferecidas
por governos e tendências políticas particulares, aos sucessivos
desafios com os quais os regimes democráticos precisam lidar.
Desta forma, uma vez constatado um conjunto de deficiências
nas práticas democráticas, sobretudo relativas ao oferecimento
de oportunidades de participação aos cidadãos, deve-se esqua-
drinhar quais são os novos formatos institucionais que respon-
dem de maneira mais adequada a esta urgência.
Diretrizes para um desenho
institucional participativo
A face mais visível da mudança de disposição dos agentes
e de suas concepções de Estado, com vistas à promoção de um
redesenho institucional, se mostra naquelas situações práticas por
meio das quais se desenrola o processo político. Em outras pala-
vras, tomando-se o caso da participação política, uma instituição
se mostra mais “porosa” na medida em que se esforça em insti-
tuir e aperfeiçoar aqueles mecanismos e situações que, cotidia-
namente, são capazes de receber e de processar as contribuições
originadas na esfera civil. Desta forma, a intenção é delinear uma
proposta cujo teor se refere a uma formatação específica quanto
à montagem dos recursos participativos institucionais.
À primeira vista, pode-se pensar que o redesenho das
instituições do Estado de modo a torná-las mais favoráveis à
participação dos cidadãos tem a ver apenas com o oferecimento
de canais mais adequados de input. A ideia desenvolvida neste
artigo, entretanto, argumenta que outras dimensões, além da
disponibilidade de canais de participação, estão envolvidas.
Ao lado de autores como Delli Carpini (2000) e Verba
et al. (1995), sustenta-se que, para se engajarem politicamen-
te, os cidadãos precisam não apenas de (i) oportunidades, isto
é, de canais de input que materializem meios apropriados de
intervenção (fóruns, pesquisas de opinião, audiências públicas,
encontros com representantes), mas também de (ii) motivação
(senso de responsabilidade, satisfação, confiança nas institui-
ções, crença de que a participação será devidamente conside-
rada e que poderá fazer a diferença) e de (iii) habilidades (este
aspecto se relaciona, sobretudo, à disponibilidade de informação
política de qualidade e ao cultivo de educação formal). Em ou-
tras palavras, é preciso enxergar a concepção de desenhos insti-
tucionais mais participativos como uma tarefa composta por di-
mensões diferenciadas. Por exemplo, um canal que não seja visto
pelos cidadãos como útil e de confiança ou que não se esforce
em fazer com que os cidadãos se informem e reflitam acerca
da importância e das consequências de determinadas políticas
públicas dificilmente proporcionará uma participação adequada
e capaz de gerar efeitos incisivos.
As direções de redesenho propostas abaixo apontam,
portanto, para um programa de atividades conjuntas a ser de-
sempenhado no âmbito das iniciativas de participação promo-
vidas pelas instituições do Estado democrático. Cada uma das
três dimensões que compõem o fundamento destas frentes de
atividades será detalhada a seguir.
(a) Desenho institucional
e cultivo de habilidades
necessárias à participação
Não há dúvidas acerca da importância da aquisição de
habilidades e de informação política de qualidade para que se
participe de maneira adequada. A capacidade de organização
dos cidadãos, o conhecimento acerca do funcionamento das ins-
tituições (seus trâmites e jurisdições) e a aquisição de dados fac-
tuais sobre personalidades, agendas, eventos e acontecimentos
políticos são valores previstos mesmo no projeto original de de-
mocracia liberal (avesso a uma participação diligente da esfera
civil). Autores tão diversos como Mill (2001), Barber (2004), Pa-
teman (1992) e Dahl (2001) consideram o acesso aos conteúdos
cognitivos do universo político exigência fundamental ao bom
funcionamento do regime democrático de governo, no intuito
de se incrementarem o acompanhamento e a fiscalização acerca
da condução da coisa pública.
Ainda que seja um requisito tão importante, pode-se
apontar um conjunto de estudos a concluírem que os cida-
dãos estão longe de alcançar um nível minimamente aceitá-
vel de informação para uma participação política consistente
e efetiva. Bobbio (2000) sustenta que os cidadãos continuam
a demonstrar um conhecimento limitado em relação aos fe-
nômenos e fatos concernentes ao domínio da política, o que
seria mais uma promessa não cumprida pela democracia. Gastil
(2000), por sua vez, enfatiza que poucos cidadãos se infor-
mam sobre os fatos e fenômenos atinentes ao jogo democrá-
tico, e quando o fazem, dão preferência àquelas visões, dados
146
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos
e argumentos que apenas vêm para solidificar suas convicções
e ideologias peculiares previamente adquiridas. Delli Carpini e
Keeter (1996), no livro What Americans Know about politics
and why it matters, sustentam a ideia de que tal fenômeno é
motivo de lamentação, visto que os recursos de comunicação
e informação (muitas vezes voltados para a cobertura política)
apenas se multiplicaram nas últimas décadas.6
[...] não obstante as preocupações acerca da qualidade da
educação, o declínio da leitura de jornais, o crescimento do
jornalismo de sound-bite, a maior proeminência dos temas de
política nacional e o minguante comprometimento concernen-
te ao engajamento cívico, os cidadãos parecem estar não me-
nos informados acerca de política hoje quanto eles estavam há
um século. [...] [entretanto] não obstante uma expansão sem
precedentes da educação pública, de uma revolução das comu-
nicações que abalou as fronteiras nacionais e internacionais e
a crescente relevância de eventos e políticas nacionais e inter-
nacionais sobre a vida diária dos americanos, os cidadãos não
parecem estar mais informados sobre política (Delli Carpini e
Keeter, 1996, p. 133, tradução própria).
Por ser um requisito tão importante a vir enfrentando
dificuldades em sua consecução, pelo menos de acordo com as
conclusões destes estudiosos, considera-se que o redesenho das
instituições do Estado para se fomentar a participação da esfera
civil deve iluminar as formas de acesso à informação em quan-
tidade e qualidade adequadas. O aperfeiçoamento deste aspecto
visa possibilitar uma interferência e um controle mais consisten-
tes em relação aos negócios públicos.
O desenho de iniciativas de participação precisa, então,
visa projetar de modo cauteloso a forma pela qual se dará a
prestação de informação política, que deve ter entre suas ca-
racterísticas qualidade, quantidade, pluralidade e neutralidade.
Creighton (2005, p. 91-127) cita uma série de técnicas para se
prestar informação com este perfil aos cidadãos. Dentre os prin-
cipais artifícios, podem ser citados:
Conferências apreciativas são eventos que envolvem
uma comunidade por alguns dias a fim de fazer os ci-
dadãos tomarem conhecimento de certas questões e,
na medida do possível, convergirem acerca dos pontos
principais sobre os quais recai a atenção das institui-
ções públicas.
Conselhos e forças-tarefa caracterizam-se em grupos
que representam interesses ou especialidades diversas e
participam de encontros com públicos de cidadãos, na
intenção de informar sobre suas perspectivas e de tirar
dúvidas. Esta técnica é exemplificada com a realização de
apresentações para grupos comunitários, sendo um dos
intuitos principais a aproximação com líderes e a cons-
trução de laços de confiança entre sociedade e Estado.
Reuniões informais revelam-se como ocasiões nas quais
os cidadãos são convidados a discutir em particular te-
mas específicos e trocar informações.
Realização de entrevistas coletivas, com o intuito de
dar visibilidade a determinada questão e aos dilemas
em jogo, podem ser representadas pelas aparições em
programas e colaboração em matérias jornalísticas as
quais elucidam um conjunto de tópicos que faz parte
das preocupações do debate em pauta.
Envio por correio de relatórios e demais documentos,
tais como informativos com periodicidade definida
para manter os cidadãos atualizados.
Painéis de exibição em locais públicos como em ruas, sho-
ppings, praças e eventos esportivos podem ser conside-
rados espaços privilegiados de prestação de informações.
Emprego da comunicação de massa, por meio da distri-
buição de materiais (chamados comumente de press-
kits) aos repórteres e veículos mediáticos contendo as
informações mais relevantes sobre determinada ques-
tão, inserções em publicidade paga, utilização dos re-
cursos de Internet, uma vez que as redes de comunica-
ção digital servem como repositório de dados, provedor
de informações e convêm no que concerne à elucida-
ção de dúvidas por meio de atendimento on-line.
Estes artifícios, assim, têm o objetivo de criar um ambien-
te informacional favorável a uma participação mais instruída
dos cidadãos. Cada uma destas maneiras de prover informação
à esfera civil parece mais apropriada a casos peculiares que, por
suas características, exigirão maior ou menor envolvimento e
discernimento dos cidadãos. Sendo assim, a lista acima funcio-
na mais como um conjunto de sugestões cuja plausibilidade da
aplicação deve ser pensada de acordo com a ocasião.
O importante, conforme destaca Creighton (2005), é
que estas ferramentas sejam empregadas de maneira a prestar
a maior quantidade e qualidade possível de informações aos
cidadãos, devendo-se conferir atenção especial à neutralidade
dos dados ofertados. Ou seja, para este autor, os cidadãos sabem
identificar o quão tendenciosas podem ser aquelas informações
políticas ofertadas, por exemplo, ao longo de campanhas eleito-
rais ou cuja origem se encontra nos gabinetes parlamentares e
nas assessorias de comunicação dos governos. Desvios de infor-
mação voltados para contemplar interesses de grupos poderão
gerar desconfiança e descrédito em relação àqueles que promo-
vem iniciativas de participação.
Se a posse de informação política de qualidade e a aqui-
sição de habilidades podem ser trabalhadas junto aos cidadãos
através de uma formação educacional sólida e da oferta de
dados sobre temas específicos, deve-se ressaltar que um re-
pertório apropriado de cognição política não preenche os re-
quisitos de aperfeiçoamento de uma cultura cívica orientada
6
Outras referências importantes sobre este assunto são Althaus (1998) e Gilens (2000).
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
147
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
para a participação dos cidadãos. Além de informações e de
habilidades para participar, deve-se compreender que os cida-
dãos precisam se sentir estimulados a atuarem politicamente e
a confiarem no regime político. Estes aspectos apontam, então,
para o senso de motivação que também deve orientar o rede-
senho das instituições do Estado.
(b) Desenho institucional
e motivação à participação
Diferentes autores vão indicar que, mesmo com a exis-
tência de determinados dispositivos de participação, a esfe-
ra civil, em muitas ocasiões, não tem interesse em participar,
o que confirma um diagnóstico tradicional de desconfiança,
apatia ou insatisfação com as instituições do Estado, sobre-
tudo no caso brasileiro (Carvalho, 2003; Fernandes, 1976). Tal
fenômeno exige, nestes termos, um esforço institucional não
apenas em oferecer mecanismos de intervenção, mas, também,
em estimular seu uso.
Gastil (2000) é um dos autores que consideram que o
Estado pode ser um forte elemento na reversão da tendência de
declínio da confiança dos cidadãos na democracia. Para ele, as
instituições políticas têm a capacidade de atuar enquanto for-
midáveis indutoras da formação de capital social (Gastil, 2000,
p. 178). O argumento de Gastil (2000) é o de que, em um cenário
marcado pela desconfiança e insatisfação em relação aos agen-
tes do campo político e às instituições, não se pode, isoladamen-
te, oferecer recursos de participação, mostrando-se necessária
a conquista da confiança dos cidadãos. Isso porque, caso os ci-
dadãos não creiam que suas opiniões, sugestões e necessidades
serão atendidas pelos representantes e se consideram que pouca
influência podem exercer nos rumos dos debates e decisões rela-
tivas às políticas públicas, pouco adiantaria ofertar dispositivos
participativos em um novo desenho institucional.
Desta forma, se tal dificuldade não for tratada com a devi-
da cautela, dificilmente a esfera civil tomará como legítimo e efe-
tivo o recurso participativo a ela ofertado, ainda que tenha adqui-
rido informação política relevante e de qualidade e que conte com
canais e instrumentos institucionais de participação disponíveis.7
Dentre as providências mais importantes para se ganhar
a confiança dos cidadãos está a demonstração de que as ferra-
mentas participativas geram resultados efetivos e a confirmação
de que o Estado considera as contribuições a ele encaminhadas.
Estas providências tendem, ao longo do tempo, a solidificar um
sentimento de respeito e credibilidade por parte dos cidadãos
em relação às instituições políticas e suas iniciativas. A pesquisa
empírica conduzida por Almond e Verba (1963, p. 205) conclui
que aqueles cidadãos com maior senso de competência política
(ou seja, que crêem poder influenciar e que se sentem estimu-
lados a intervir) consideram, adicionalmente, que a democracia
é o regime de governo mais adequado e legítimo. Em outras
palavras, além de ofertar canais de participação, as instituições
do Estado devem mostrar que estão efetivamente dispostas a
tratarem os cidadãos enquanto parceiros na discussão e formu-
lação das políticas públicas.
Se um indivíduo acreditar que ele tem influência, ele se sentirá
mais propenso a exercê-la. Um cidadão subjetivamente com-
petente, assim, tende a ser um cidadão mais ativo. E, se os
representantes do governo não necessariamente respondem às
tentativas ativas de influência, eles, certamente, estarão mais
propensos a responder aos cidadãos ativos do que àqueles que
não apresentam demandas. Se o cidadão ordinário, por outro
lado, percebe que a política do governo está consideravelmen-
te longe de sua esfera de influência, ele se encontrará indis-
posto a tentar influenciar aquela política, e os representantes
governamentais estarão indispostos a se preocupar acerca do
potencial de pressão que pode ser exercido sobre eles (Almond
e Verba, 1963, p. 138-139, tradução própria).
Simone Chambers destaca, adicionalmente, que é funda-
mental não apenas que sejam oferecidos canais de participação
e que o Estado se comprometa a valorizar a contribuição da es-
fera civil. É preciso, ainda, que as reivindicações e observações
dos cidadãos se vejam, de alguma forma, refletidas nas decisões
produzidas (Chambers, 2004, p. 158). Dito de outro modo, se a
participação não apontar para resultados concretos, as iniciati-
vas tendem a se esvaziar, visto que o processo de aquisição de
confiança dos cidadãos na efetividade da ferramenta participa-
tiva será falho.8
Segall (2005), de forma complementar a esta
ideia, afirma que os cidadãos, na maioria das ocasiões, não se
contentam apenas em influenciar os rumos do debate ou em
apresentar sugestões. Além de sentirem que suas opiniões serão
realmente consideradas quando da produção de decisões polí-
ticas, os participantes desejam contar com um sentimento de
gratificação por terem atuado.
7
Schudson (1995) afirma, por sua vez, que não é fácil criar nos cidadãos um sentimento de apego às instituições da democracia, devendo-se destacar
que tal processo, ainda que plausível, é lento. Este mesmo autor ressalta o papel das instituições neste contexto: “Demasiada crítica contemporânea
fala como se a democracia com enraizamento popular fosse algo que brotasse da terra, de forma espontânea e natural, sem intervenção ou
moldagem das estruturas ou das instituições políticas” (Schudson, 1995, p. 150).
8
Coelho (2007) comenta a ideia de “efeito demonstração” sustentada por Abers (2000), Baiocchi (2001) e Wampler e Avritzer (2004). “Abers, Baiocchi
e Wampler afirmam que um fator-chave para o sucesso das experiências participativas é o investimento das autoridades e instituições públicas no
‘efeito demonstração’. Segundo os autores, os foros de políticas públicas não atraem participantes quando a população não percebe a relação entre
eles e sua vida cotidiana. No processo do orçamento participativo estudado por Abers, o Governo Municipal teve de esclarecer aos participantes
por que sua presença nas assembleias os beneficiaria e depois teve de cumprir estritamente todas as promessas. Abers sugere, assim, que um bom
processo participativo não é o que reduz o envolvimento do governo nas decisões. Ao contrário, o comprometimento ativo do Estado é crucial
para fomentar a participação dos cidadãos” (Coelho, 2007, p. 81).
148
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos
Consolida-se, nestes termos, a necessidade de se interli-
gar as iniciativas de participação com as consequências do pro-
cesso de produção da decisão política (Bohman, 1996; Avritzer,
2008). Por isso, para estimular um senso positivo de eficácia po-
lítica, as instituições devem, por um lado, ser claras quanto às
possibilidades de participação e aos limites de influência que
os cidadãos têm (esclarecer o alcance prático das intervenções);
e, por outro lado, os representantes e agentes políticos devem,
efetivamente, levar os canais de participação a sério. Em suma,
além dos próprios canais de input participativo, é necessário um
ambiente apropriado, constituído por crenças, comportamentos
e atitudes dos cidadãos que estejam direcionados de forma fa-
vorável tanto ao envolvimento político quanto às instituições
que o promovem.
(c) Desenho institucional
e características dos canais
participativos de input
A necessidade de criação de novos canais de input para
se absorver, considerar e processar as contribuições e reivindi-
cações dos cidadãos consiste em um dos pontos essenciais do
projeto de reconfiguração das práticas participativas institucio-
nais e, por isso mesmo, julga-se pertinente refletir acerca das
características adequadas que devem marcar tais dispositivos.
Há ferramentas de diferentes naturezas a permitirem graus
variados de influência e de exercício do poder político. Existem
mecanismos de participação que operam mais no sentido de au-
xiliar no debate e na consideração de razões (como as audiências
públicas), enquanto outros se inclinam, decisivamente, a conferir
poder de decisão sobre uma questão determinada (o orçamento
participativo, por exemplo). Nestes termos, uma vez que as con-
dições gerais (como um ambiente informacional consistente e a
motivação para envolvimento político) foram criadas, é preciso
pensar sobre os canais mais adequados para receber, conduzir e
processar as contribuições oriundas da esfera civil.
Esta não é uma tarefa fácil. Primeiramente, devido à va-
riação de condições gerais e das especificidades das ocasiões nas
quais se requer a participação dos cidadãos, Creighton (2005) ar-
gumenta que não existe um modelo único a orientar a construção
de dispositivos de participação: é necessário estabelecer no que,
o quanto, como e o que se quer dos cidadãos (aliás, de quais ou
quantos cidadãos) e de sua intervenção. Só a partir de então será
possível determinar a ferramenta mais plausível para a situação.
Em segundo lugar, ponha-se luz, ainda, sobre o fato de que
nem todos os cidadãos querem se envolver na discussão de temas
políticos. O interesse da esfera civil em tomar parte nas iniciativas
de participação promovidas pelas instituições varia, por exemplo,
de assunto para assunto (Creighton, 2005; Vita, 2004).
Estas ressalvas demonstram, novamente, que pensar a
participação na prática, bem como as possíveis modalidades de
canais de input, é uma tarefa complicada. Dentre os estudiosos
da teoria democrática deve-se destacar aqueles pertencentes à
vertente deliberativa como os que mais se aproximam da propos-
ta de redesenho das instituições do Estado de modo a torná-las
mais abertas à participação dos cidadãos. Estes autores propõem
ferramentas interessantes que, se incluídas no projeto de dese-
nho do Estado aqui sugerido, podem contribuir para fomentar
uma participação mais ativa e com maior eficácia política por
parte da esfera civil (Dryzek, 2000; Fishkin e Laslett, 2003; Fung
e Wright, 2001; Steiner et al., 2001).
Estudiosos como Gastil (2000) começam por avaliar as
ferramentas de participação já existentes para, em um segundo
momento, propor a adoção de novos mecanismos de interferên-
cia e controle político. No caso das pesquisas de opinião pública,
por exemplo, Gastil (2000) aponta que estes mecanismos repre-
sentam, de fato, uma modalidade de input dos cidadãos que tem
a capacidade de exercer considerável influência e pressão sobre
os representantes. Porém, ainda que permitam a articulação de
uma voz pública proeminente, o autor critica o fato de que es-
tas sondagens pouco se preocupam em informar os cidadãos de
modo mais detalhado e em promover uma avaliação das diversas
razões e argumentos envolvidos naquela questão que é o centro
da sondagem. É neste sentido que o argumento de Gastil (2000,
p. 97-98) insiste na busca e emprego de outras ferramentas que
mensurem o sentimento público através de procedimentos mais
apropriados do que o simples registro de disposições momentâ-
neas. Ao não ofertar aos cidadãos a possibilidade de confrontar
suas opiniões e razões, recursos tais como as pesquisas de opi-
nião permitem apenas que se aflore uma perspectiva individual
sobre temas de concernência pública, contemplando-se, assim,
um modo utilitarista de se empregar os meios de intervenção
civil nas práticas democráticas.
No caso da promoção de audiências e reuniões públicas,
Gastil (2000) afirma que é preciso considerar mais de perto as
condições nas quais estes eventos se dão, pois, não obstante sua
natureza e planejamento, muitas vezes, eles são incapazes de
favorecer um diálogo deliberativo. Segundo o autor:
A estrutura do discurso em audiências públicas é um problema
mais sutil. Mesmo quando um representante eleito convoca
uma audiência antes de tomar uma decisão, a típica audiência
pública encoraja um processo não deliberativo ao restringir a
expressão pública a uma série de assunções e respostas limita-
das dos representantes a contrapontos episódicos. As audiên-
cias tendem a ter um enquadramento indevidamente técnico
dos temas que torna difícil aos cidadãos se dirigirem aos re-
presentantes através de sua própria linguagem (Gastil, 2000,
p. 99, tradução própria).
No final das contas, não se está afirmando que recursos
como estes são dispensáveis. Na verdade, a intenção deste tópi-
co é defender um aumento da capacidade destes dispositivos,
bem como dar vazão à existência de outros, e refletir acerca de
quais procedimentos são os mais adequados a fim de se possibi-
litar que os cidadãos expressem suas demandas, reivindicações,
sugestões e opiniões por intermédio de diferentes canais, com
níveis de profundidade diferenciados.
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
149
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
Por exemplo, para incrementar as pesquisas de opinião
pública, Gastil (2000) propõe adicionar traços deliberativos ao
padrão operacional das sondagens. O curso destas pesquisas, de
acordo com o autor, seria marcado por uma discussão prévia
cujo intento primordial seria pedagógico, aprimorando-se, as-
sim, o processo de formulação das opiniões dos indivíduos e o
aconselhamento de representantes políticos quanto à condução
dos temas relativos ao interesse público.
Mais exatamente em relação à proposição de novas fer-
ramentas, as referências mais citadas em deliberação pública
apontam para a realização das seguintes atividades:
Painéis deliberativos que consistem de debates realiza-
dos em comunidades ou outros espaços aos quais os ci-
dadãos tenham acesso conveniente. Os representantes
políticos e demais agentes institucionais demonstram a
intenção em se aproximar dos mandantes, expor razões
e informações e em coletar reivindicações, comprome-
tendo-se, então, a estimular o diálogo e a levar em con-
sideração as razões apontadas ao longo das discussões.
Conferências de cidadãos, nas quais, sob pagamento de
honorários por sua participação, os cidadãos recebem in-
formações balanceadas acerca dos prós e contras de certa
medida, são estimulados a discutir e, ao final, encaminham
suas principais observações às instituições (Burkhalter
et al., 2002). É um tipo de canal que prova polêmica e que
carece de viabilidade em determinadas sociedades.
Balanços públicos, cujo princípio de funcionamento re-
fere-se, por um lado, à capacidade dada à esfera civil de
se manifestar e reivindicar a discussão de determinadas
razões e, por outro, à exigência de uma exposição dos
motivos, da parte dos representantes, que levaram certa
decisão a ser tomada. Esta relação mais próxima entre
representantes e cidadãos por meio de sugestões e da
avaliação institucional destas contribuições possibilita-
ria o que Bohman (1996, p. 190) chama de “administra-
ção reflexiva”, incrementando-se, assim, as atividades
participativas e representativas.
Fóruns de amostragem aleatória, que promovem men-
suração da opinião pública de modo mais aprofundado
mediante a seleção aleatória de cidadãos e da promo-
ção de debates entre eles (Fishkin e Luskin, 1999).
Podem ser listadas, ainda, iniciativas a exemplo de júris
de cidadãos, deliberation day, e sondagens deliberativas de opi-
nião (deliberative pooling) (Fishkin, 2002). Ressalta-se, todavia,
que não se defende o emprego de todas estas ferramentas de
participação simultaneamente, nem se tem a intenção de dar
preferência àquelas que prevêem uma participação direta (im-
plicando posse de poder decisório) ou que estimule a deliberação
pública. Na verdade, a solução mais plausível parece se encon-
trar no exame de quais ferramentas cada situação requer.
Em suma, faz-se necessária uma meditação mais detida
em relação a particularidades como em que situações, a quem,
com que finalidade, com que alcance e quais mecanismos são
os mais apropriados para cada evento que se queira tachar de
participativo. Isso porque determinadas ocasiões que envolvem a
decisão política nem mesmo parecem adequadas para contarem
com a participação os cidadãos, tornando-a desnecessária ou
desaconselhável. Assim, sugere-se que as ferramentas emprega-
das sejam adotadas levando-se em conta o contexto nas quais
deverão atuar.
Conclusão
A cada sociedade democrática corresponde um desenho
de Estado caracterizado por certas especificidades. Ou seja, mes-
mo possuindo aspectos em comum, os desenhos institucionais
que servem a determinadas democracias admitem contornos
excepcionais, sendo tais pontos similares e divergentes aqueles
a conformarem, de modo ímpar, a configuração de cada Estado.
Isso ocorre porque sociedades diferentes lidam com particula-
ridades contextuais ou enfrentam dificuldades específicas, por
conta de suas tradições, valores, costumes, condições socioeco-
nômicas, dentre outros fatores.
Após esta constatação inicial, o trabalho procurou avaliar
os modos por meio dos quais o desenho institucional do Estado
reverbera sobre as práticas democráticas. Assim, passou-se ao
exame das potencialidades, dos limites e dos efeitos da confi-
guração institucional para direcionar o jogo político. A maneira
pela qual as instituições se dispõem é fundamental para, por
exemplo, influenciar as mobilizações e manifestações políticas
que têm origem na esfera civil. Porém, apontou-se que, não obs-
tante sua importância, o desenho de Estado não é o único fator
a atuar sobre tais práticas. Outros fatores, como a cultura cívica
e a realidade socioeconômica das sociedades, devem ser levados
em consideração.
Observando tal conjunto de fatores, o artigo se aprofun-
dou na investigação acerca dos modos de se aperfeiçoar as prá-
ticas democráticas (notadamente aquelas voltadas para a parti-
cipação), a partir do redesenho institucional. Sustentou-se que,
se a intenção é aprofundar os mecanismos de interferência e
controle da esfera civil, qualquer alternativa plausível nesse sen-
tido deverá envolver uma reestruturação do papel dos cidadãos
no jogo político por meio de modificações institucionais.
Desta forma, a oferta de mecanismos participativos deve
ser pensada dentro de uma proposta mais ampla de redesenho
das instituições do Estado. A consecução deste redesenho será
facilitada, acredita-se, na medida em que os agentes responsá-
veis por levar à frente tal projeto reflitam sobre a necessidade
de se fomentar a participação a partir de um programa de ati-
vidades cujo intento seja: (a) reforçar o repertório informacio-
nal e de habilidades políticas dos cidadãos, (b) motivá-los a se
envolverem no jogo democrático e (c) tornar disponíveis canais
de input adequados. Em outras palavras, para que o processo
participativo de feições institucionais seja pensado de forma in-
tegral, é importante não apenas elaborar e oferecer mecanismos
150
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos
de input, mas, também, possibilitar que os cidadãos se sintam
motivados a empregar tais recursos e que façam um uso apro-
priado e proveitoso destes artifícios.
Deve-se atentar para o fato de que a configuração do
desenho institucional não é uma tarefa puramente administra-
tiva ou técnica, mas que, na verdade, carrega fortes componen-
tes políticos. Ou seja, é preciso considerar a força de interesses
políticos quando da formatação destes mecanismos, bem como
as resistências quanto, por exemplo, ao compartilhamento de
poder por parte dos representantes.9
Além disso, conforme ar-
gumenta Pettit (1996), deve-se assumir que o próprio processo
de redesenho dos recursos de participação deve contar com a
interferência dos cidadãos.
Por último, ressalta-se que a inquietação de fundo a in-
centivar o estudo das possibilidades e das iniciativas institucionais
de participação não pode se limitar ao tema da oferta de mecanis-
mos de participação. São necessários, ainda, estudos complemen-
tares que forneçam respostas para perguntas atinentes ao escopo
e à efetividade da participação, participação acerca de que temas,
em que cenários e em que ocasiões, e participação de quem. Tais
dimensões precisam ser vistas de forma complementar para que se
compreenda e se aperfeiçoe a participação política dos cidadãos.
Referências
ABERS, R. 2000. Inventing local democracy: Grassroots politics in Bra-
zil. Boulder, Lynne Rienner Publishers, 288 p.
ALMOND, G.; VERBA, S. 1963. The civic culture: Political attitudes and
democracy in five nations. Princeton, Princeton University Press, 562 p.
ALTHAUS, S. 1998. Information effects in collective preferences. Ameri-
can Political Science Review, 92(3):545-558.
http://dx.doi.org/10.2307/2585480
AVRITZER, L. 2008. Instituições participativas e desenho institucional:
algumas considerações sobre a variação da participação no Brasil de-
mocrático. Opinião Pública, 14(1):43-64.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-62762008000100002
BAIOCCHI, G. 2001. Participation, activism and politics: The Porto Alegre
experiment and deliberative democracy theory. Politics & Society,
29(1):43-72. http://dx.doi.org/10.1177/0032329201029001003
BARBER, B. 2004. Strong democracy: Participatory politics for a new
age. Berkeley, University of California Press, 356 p.
BOBBIO, N. 2000. O futuro da democracia. 9ª ed., Rio de Janeiro, Paz
e Terra, 171 p.
BOHMAN, J. 1996. Public deliberation: Pluralism, complexity and de-
mocracy. Cambridge, MIT Press, 303 p.
BRENNAN, G.; HAMLIN, A. 2000. Democratic devices and desires. Cam-
bridge, Cambridge University Press, 267 p.
http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511490194
BURKHALTER, S.; GASTIL, J.; KELSHAW, T. 2002. A conceptual defini-
tion and theoretical model of public deliberation in small face-to-face
groups. Communication Theory, 12:398-422.
CARVALHO, J.M. 2003. Cidadania na encruzilhada. In: N. BIGNOTTO
(org.), Pensar a república. Belo Horizonte, Editora UFMG, p.105-130.
CHAMBERS, S. 2004. Democracy, popular sovereignty, and constitu-
tional legitimacy. Constellations, 11(2):153-173.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1351-0487.2004.0370.x
COELHO, V.S. 2007. A democratização dos Conselhos de Saúde: o para-
doxo de atrair não aliados. Novos estudos - CEBRAP, 78. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
33002007000200009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19/01/2008.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002007000200009
CREIGHTON, J.L. 2005. The public participation handbook: Making better
decisions through citizen involvement. San Fransisco, Jossey-Bass, 261 p.
DAHL, R. 2001. Sobre a democracia. Brasília, Universidade de Brasília, 232 p.
DAHL, R.; SHAPIRO, I.; CHEIBUB, J. (eds). 2003. The democracy source-
book. Cambridge, MIT Press, 556 p.
DELLI CARPINI, M. 2000. Gen.com: Youth, civic engagement, and the new
information environment. Political Communication, 17(4): 341-349.
http://dx.doi.org/10.1080/10584600050178942
DELLI CARPINI, M.; KEETER, S. 1996. What Americans know about poli-
tics and why it matters. New Haven, Yale University Press, 397 p.
DRYZEK, J. 2000. Deliberative democracy and beyond: Liberals, critics,
contestation. Oxford, Oxford University Press, 195 p.
DRYZEK, J.; TORGERSON, D. 1993 Democracy and the policy sciences:
A progress report. Policy Sciences, 26(3):127-37.
http://dx.doi.org/10.1007/BF00999713
FERNANDES, F. 1976. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de inter-
pretação sociológica. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 504 p.
FISHKIN, J.; LASLETT, P. 2003. Introduction. In: J. FISHKIN; P. LASLETT
(eds.), Debating Deliberative Democracy. Malden, Blackwell, p. 1-6
http://dx.doi.org/10.1002/9780470690734.ch
FISHKIN, J.; LUSKIN R. 1999. Bringing deliberation to the democratic
dialogue: The NIC and beyond. In: M. MCCOMBS; A. REYNOLDS, A poll
with a human face: The national issues convention experiment in po-
litical communication. New York, Erlbaum, p. 30-38.
FISHKIN, J.S. 2002. Possibilidades democráticas virtuais: perspecti-
vas da democracia via internet. In: J. EISENBERG; M. CEPIK (orgs.),
Internet e Política: teoria e prática da democracia eletrônica. Belo
Horizonte, Editora UFMG, p. 17-45.
FREY, K. 2003. Desenvolvimento sustentável local na sociedade em rede:
o potencial das novas tecnologias de informação e comunicação. Re-
vista de Sociologia e Poítica, 21. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782003000200011&lng=p
t&nrm=iso. Acesso em: 26/01/2008.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782003000200011
FUNG, A.; WRIGHT, E. 2001. Deepening democracy: Innovations in em-
powered participatory governance. Politics and Society, 29(1):5-41.
http://dx.doi.org/10.1177/0032329201029001002
GASTIL, J. 2000. By popular demand: Revitalizing representative de-
mocracy through deliberative elections. Berkeley, University of Califor-
nia Press, 267 p.
GILENS, M. 2000. Political Ignorance and American Democracy. Paper
read at Midwest Political Science Association Meeting, at Chicago, IL. s/d.
GOMES, W. 2007. Democracia digital: que democracia? In: ENCONTRO
DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E
POLÍTICA, II, Belo Horizonte, 2007. Anais... Belo Horizonte, UFMG, s/d.
9
De acordo com Lijphart e Weisman (1996, p. 244, tradução própria): “[...] o interesse político particular, aquele tanto dos políticos quanto de seus
partidos, é a motivação dominante por trás da escolha dos desenhos institucionais. E estes políticos não são apenas interesseiros, mas, também,
pensam a curto prazo [...]”.
Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010
151
Francisco Paulo Jamil Almeida Marques
GOODIN, R. 1996. The theory of institutional design. Cambridge, Cam-
bridge University Press, 304 p.
GUTMANN, A.; THOMPSON, D. 1996. Democracy and disagreement.
Cambridge, Harvard University Press, 432 p.
HABERMAS, J. 1997. Direito e democracia: entre faticidade e validade.
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, vol. II, 356 p.
HELD, D. 1987. Models of democracy. Stanford, Stanford University
Press, 321 p.
HELMKE, G.; LEVITSKY, S. (eds.). 2006. Informal institutions and democ-
racy: Lessons from Latin America. Baltimore, John Hopkins University
Press, 368 p.
LIJPHART, A.; WEISMAN, C. (eds). 1996. Institutional design in new demo-
cracies: Eastern Europe and Latin America. Boulder, Westview Press, 288 p.
LINZ, J.J.; VALENZUELA, A. (eds.). 1994. The failure of presidential de-
mocracy. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 192 p.
MANIN, B. 1997. The principles of representative government. Cam-
bridge, Cambridge University Press, 243 p.
http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511659935
MARQUES, F.P.J.A. 2008. Participação política e internet: meios e opor-
tunidades digitais de participação civil na democracia contemporânea,
com um estudo do caso brasileiro. Salvador, BA. Tese de Doutorado.
Universidade Federal da Bahia, 498 p.
MILL, J.S. 2001. Considerations on representative government. Boston,
Adamant Media Corporation, 212 p.
MIOLA, E. 2009. Radiodifusão pública e participação deliberativa: um
estudo das características e dos modos de atuação do Conselho De-
liberativo da Fundação Cultural Piratini. Salvador, BA. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 195 p.
NOBRE, M. 2004. Participação e deliberação na teoria democrática: uma
introdução. In: V. COELHO; M. NOBRE, Participação e deliberação: teo-
ria democrática e experiências institucionais no Brasil contemporâneo.
São Paulo, Editora 34, p. 21-40.
PATEMAN, C. 1992 [1970]. Participação e teoria democrática. São Pau-
lo, Paz e Terra, 162 p.
PETTIT, P. 1996. Institutional design and rational choice. In: R. GOODIN
(ed.), The theory of institutional design. Cambridge, Cambridge Univer-
sity Press, p. 54-89.
PO, M.V.; ABRUCIO, F.L. 2006. Desenho e funcionamento dos mecanismos
de controle e accountability das agências reguladoras brasileiras: seme-
lhanças e diferenças. Revista de Administração Pública, 40(4). Disponí-
vel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
76122006000400009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26/01/2008.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122006000400009
PUTNAM, R. 1993. Making democracy work: Civic traditions in modern
Italy. Princeton, Princeton University Press, 280 p.
RAWLS, J. 1999. A theory of justice. Cambridge, Harvard University
Press, 538 p.
SCHUDSON, M. 1995. A ‘esfera pública’ e os seus problemas - Re-
introduzir a questão do Estado. Revista de Comunicação e Linguagens,
21-22:149-166.
SEGALL, S. 2005. Political participation as an engine of social solidarity:
A skeptical view. Political Studies, 53(2):362-378.
http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-9248.2005.00533.x
SKOCPOL, T. 2004. Diminished democracy: From membership to manage-
ment in American civic life. Norman, University of Oklahoma Press, 366 p.
STEINER, J.; BÄCHTIGER, A.; SPÖRNDLI M. 2001. The real world of de-
liberation: Favourable conditions and substantive outcomes. In: ECPR
GENERAL CONFERENCE, I, Canterbury, 2001. Anais... Canterbury, s/d.
SUNSTEIN, C. 2001. Republic.com. Princeton, Princeton University
Press, 224 p.
VERBA, S.; BRADY, H.; SCHOLZMAN, K. 1995. Voice and equality: Civic vol-
unteerism in American politics. Cambridge, Harvard University Press, 640 p.
VITA, Á. 2004. Democracia deliberativa ou igualdade equitativa de
oportunidades?. In: V.S. COELHO; M. NOBRE, (eds.), Participação e de-
liberação: teoria democrática e experiências institucionais no Brasil
contemporâneo. São Paulo, Editora 34, p. 107-130.
WAMPLER, B.; AVRITZER, L. 2004. Participatory publics: civil society and
new institutions in democratic Brazil. Comparative Politics, 36(3):291-312.
http://dx.doi.org/10.2307/4150132
Submetido em: 22/09/2009
Aceito em: 21/02/2010

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Artigo para revista participação popular nas politicas publicas
Artigo para revista participação popular nas politicas publicasArtigo para revista participação popular nas politicas publicas
Artigo para revista participação popular nas politicas publicasAna Paula da Silva Pereira
 
Relações federativas nas políticas sociais
Relações federativas nas políticas sociaisRelações federativas nas políticas sociais
Relações federativas nas políticas sociaisPetianos
 
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereador
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereadorA07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereador
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereadorUniversity of Campinas
 
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David Ferraz
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David FerrazConfigurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David Ferraz
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David FerrazDavid Ferraz
 
Politico aministrativo
Politico aministrativoPolitico aministrativo
Politico aministrativoCarla Miguel
 
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAPARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAUniversidade Federal do Paraná
 
1º política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...
1º   política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...1º   política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...
1º política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...claudio alfonso
 
A hibridização organizacional das polícias do brasil
A hibridização organizacional das polícias do brasilA hibridização organizacional das polícias do brasil
A hibridização organizacional das polícias do brasilUMINHO
 
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatalRosane Domingues
 
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiro
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiroPolíticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiro
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiroJunior Adriano
 
Artigo partidos políticos e democracia sensos e consensos
Artigo   partidos políticos e democracia sensos e consensosArtigo   partidos políticos e democracia sensos e consensos
Artigo partidos políticos e democracia sensos e consensosNovas da Guiné Bissau
 
“Os direitos sociais como direitos fundamentais contributo para um balanço a...
“Os direitos sociais como direitos fundamentais  contributo para um balanço a...“Os direitos sociais como direitos fundamentais  contributo para um balanço a...
“Os direitos sociais como direitos fundamentais contributo para um balanço a...Fábio Peres
 
72033 rafae
72033 rafae72033 rafae
72033 rafaegrazi87
 
Cidadania e poder local
Cidadania e poder localCidadania e poder local
Cidadania e poder localKarla Cardoso
 
Políticas públicas sefaz
Políticas públicas sefazPolíticas públicas sefaz
Políticas públicas sefazFábio Maia
 
Cadespecial26
Cadespecial26Cadespecial26
Cadespecial26mauxa
 

Mais procurados (20)

Artigo para revista participação popular nas politicas publicas
Artigo para revista participação popular nas politicas publicasArtigo para revista participação popular nas politicas publicas
Artigo para revista participação popular nas politicas publicas
 
Relações federativas nas políticas sociais
Relações federativas nas políticas sociaisRelações federativas nas políticas sociais
Relações federativas nas políticas sociais
 
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereador
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereadorA07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereador
A07n84 tatagiba como se fosse eleição para vereador
 
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David Ferraz
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David FerrazConfigurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David Ferraz
Configurações Político-administrativas, Cadap Iscte 2009, David Ferraz
 
Politico aministrativo
Politico aministrativoPolitico aministrativo
Politico aministrativo
 
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICAPARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA, LEGITIMIDADE E EFICÁCIA DEMOCRÁTICA
 
1º política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...
1º   política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...1º   política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...
1º política social e desenvolvimento no brasil revista economia e sociedade...
 
A hibridização organizacional das polícias do brasil
A hibridização organizacional das polícias do brasilA hibridização organizacional das polícias do brasil
A hibridização organizacional das polícias do brasil
 
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal
4.2 o trabalho_do_assistente_social_na_esfera_estatal
 
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiro
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiroPolíticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiro
Políticas públicas e reconstrução do federalismo brasileiro
 
Artigo partidos políticos e democracia sensos e consensos
Artigo   partidos políticos e democracia sensos e consensosArtigo   partidos políticos e democracia sensos e consensos
Artigo partidos políticos e democracia sensos e consensos
 
“Os direitos sociais como direitos fundamentais contributo para um balanço a...
“Os direitos sociais como direitos fundamentais  contributo para um balanço a...“Os direitos sociais como direitos fundamentais  contributo para um balanço a...
“Os direitos sociais como direitos fundamentais contributo para um balanço a...
 
116
116116
116
 
72033 rafae
72033 rafae72033 rafae
72033 rafae
 
Cidadania e poder local
Cidadania e poder localCidadania e poder local
Cidadania e poder local
 
Poder Local
Poder LocalPoder Local
Poder Local
 
Políticas públicas sefaz
Políticas públicas sefazPolíticas públicas sefaz
Políticas públicas sefaz
 
Conselho Gestores de Políticas Públicas
Conselho Gestores de Políticas PúblicasConselho Gestores de Políticas Públicas
Conselho Gestores de Políticas Públicas
 
Cadespecial26
Cadespecial26Cadespecial26
Cadespecial26
 
Conselhos gestores
Conselhos gestoresConselhos gestores
Conselhos gestores
 

Destaque

A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...
A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...
A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...Universidade Federal do Paraná
 
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...Universidade Federal do Paraná
 
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...Universidade Federal do Paraná
 
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...Universidade Federal do Paraná
 
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...Universidade Federal do Paraná
 
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Universidade Federal do Paraná
 
Configuração institucional do sus
Configuração institucional do susConfiguração institucional do sus
Configuração institucional do susRafael Vieira
 
O Sistema Único de Saúde Brasileiro
O Sistema Único de Saúde BrasileiroO Sistema Único de Saúde Brasileiro
O Sistema Único de Saúde Brasileiroloirissimavivi
 

Destaque (9)

A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...
A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...
A opinião da empresa no Jornalismo Brasileiro: Um estudo sobre a função e a i...
 
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...
THE AGENDA OF THE DAY: A study about the Brazilian Congress in editorials of ...
 
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...
A PAUTA DO DIA: Um estudo sobre o agendamento do Congresso Nacional brasileir...
 
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...
Propaganda eleitoral e personalização da política: a influência de Lula na di...
 
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...
Wikipédia, democracia e eleições municipais em São Paulo: um estudo sobre as ...
 
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
Parlamentares, representação política e redes sociais digitais: perfis de uso...
 
Ciberpolítica – Conceitos e Experiências
Ciberpolítica – Conceitos e ExperiênciasCiberpolítica – Conceitos e Experiências
Ciberpolítica – Conceitos e Experiências
 
Configuração institucional do sus
Configuração institucional do susConfiguração institucional do sus
Configuração institucional do sus
 
O Sistema Único de Saúde Brasileiro
O Sistema Único de Saúde BrasileiroO Sistema Único de Saúde Brasileiro
O Sistema Único de Saúde Brasileiro
 

Semelhante a Desenho institucional e participação política

Política institucional no Brasil
Política institucional  no BrasilPolítica institucional  no Brasil
Política institucional no BrasilRodrigo Ribeiro
 
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...Universidade Federal do Paraná
 
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...Universidade Federal do Paraná
 
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.pptadrianomcosta3
 
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no Brasil
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no BrasilDemocracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no Brasil
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no BrasilRodrigo Carreiro
 
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...Universidade Federal do Paraná
 
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoSociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoAlvaro Gomes
 
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaPara uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaRafael Pinto
 
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e Desafios
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e DesafiosA Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e Desafios
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e DesafiosUniversidade Federal do Paraná
 
bl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfbl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfclaudineilima21
 
Considerações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaConsiderações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaJoão Cardoso
 
Fraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democraciaFraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democraciaAna Luiza Santana
 
Resumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentroResumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentroSavio Vasconcelos
 
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão" “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"Novas da Guiné Bissau
 
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Danilo de Azevedo
 
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Colaborativismo
 

Semelhante a Desenho institucional e participação política (20)

Política institucional no Brasil
Política institucional  no BrasilPolítica institucional  no Brasil
Política institucional no Brasil
 
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...
Internet e oportunidades de participação política - Um exame dos websites de ...
 
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...
Participação, Instituições Políticas e Internet: Um exame dos canais particip...
 
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt
04seminario2011habermas-130308125550-phpapp02.ppt
 
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no Brasil
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no BrasilDemocracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no Brasil
Democracia digital e participação: um estudo sobre iniciativas civis no Brasil
 
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...
Internet e Parlamento - Um estudo dos mecanismos de participação oferecidos p...
 
Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas PúblicasArtigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
Artigo_Conselho Gestores de Políticas Públicas
 
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falandoSociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
Sociedade civil, participação e cidadania.de que estamos falando
 
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latinaPara uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na américa latina
 
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e Desafios
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e DesafiosA Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e Desafios
A Idéia de Democracia em Perspectiva - Crise, Avanços e Desafios
 
bl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdfbl3_conceito democracia.pdf
bl3_conceito democracia.pdf
 
Considerações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquicaConsiderações sobre a teoria poliarquica
Considerações sobre a teoria poliarquica
 
3 participação social
3 participação social  3 participação social
3 participação social
 
Fraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democraciaFraternidade, instituições e democracia
Fraternidade, instituições e democracia
 
Modelo monografia premiada_ugf
Modelo monografia premiada_ugfModelo monografia premiada_ugf
Modelo monografia premiada_ugf
 
Resumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentroResumo politicas públicas por dentro
Resumo politicas públicas por dentro
 
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão" “Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
“Intervenção política na administração pública - contributos para reflexão"
 
Texto seminã rio 5
Texto seminã rio 5Texto seminã rio 5
Texto seminã rio 5
 
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
 
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
Plano de Ação do Compromisso Nacional pela Participação Social - Guia Técnico...
 

Mais de Universidade Federal do Paraná

1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...
1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...
1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...Universidade Federal do Paraná
 
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...Universidade Federal do Paraná
 
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...Universidade Federal do Paraná
 
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...Universidade Federal do Paraná
 
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...Universidade Federal do Paraná
 
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...Universidade Federal do Paraná
 
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...Universidade Federal do Paraná
 
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Universidade Federal do Paraná
 
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...Universidade Federal do Paraná
 
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...Universidade Federal do Paraná
 
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...Universidade Federal do Paraná
 
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...Universidade Federal do Paraná
 
Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Parti...
Participação e deliberação na internet:  Um estudo de caso do Orçamento Parti...Participação e deliberação na internet:  Um estudo de caso do Orçamento Parti...
Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Parti...Universidade Federal do Paraná
 
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...Universidade Federal do Paraná
 
“Muro baixo, o povo pula”: iniciativas institucionais de participação digita...
“Muro baixo, o povo pula”:  iniciativas institucionais de participação digita...“Muro baixo, o povo pula”:  iniciativas institucionais de participação digita...
“Muro baixo, o povo pula”: iniciativas institucionais de participação digita...Universidade Federal do Paraná
 
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...Universidade Federal do Paraná
 
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...Universidade Federal do Paraná
 
Deliberações ampliadas ou restritas: perspectivas de integração
Deliberações ampliadas  ou restritas: perspectivas  de integraçãoDeliberações ampliadas  ou restritas: perspectivas  de integração
Deliberações ampliadas ou restritas: perspectivas de integraçãoUniversidade Federal do Paraná
 

Mais de Universidade Federal do Paraná (20)

1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...
1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...
1989, the year that never ended: epistemology and methodology of the research...
 
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...
1989, o ano que não terminou: epistemologia e metodologia da pesquisa em Comu...
 
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...
Corações, mentes e estratégias: a relação entre marqueteiros e políticos dura...
 
Sobre os estudos em democracia digital e suas ênfases
Sobre os estudos em democracia digital e suas ênfasesSobre os estudos em democracia digital e suas ênfases
Sobre os estudos em democracia digital e suas ênfases
 
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
'Nem Dilma nem Temer': Um estudo quantitativo sobre padrões de cobertura do i...
 
Entrevista sobre Internet e Democracia
Entrevista sobre Internet e DemocraciaEntrevista sobre Internet e Democracia
Entrevista sobre Internet e Democracia
 
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...
Campanha negativa nas eleições de 2014: uma abordagem empírica sobre como os ...
 
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...
Campanha negativa e formas de uso do Facebook nas eleições presidenciais bras...
 
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...
A COBERTURA JORNALÍSTICA EM MÍDIAS LEGISLATIVAS: UM ESTUDO SOBRE A AGÊNCIA CÂ...
 
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
Blogs e jornalismo no Brasil: um estudo da relação entre instituições e profi...
 
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...
COMO SE CONFIGURA A COMUNICAÇÃO ONLINE ENTRE REPRESENTANTES E REPRESENTADOS N...
 
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...
Jornalismo, Assessoria de Imprensa e seus condicionantes organizacionais: Uma...
 
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...
Mídias sociais e eleições: um estudo sobre as campanhas de reeleição dos vere...
 
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...
Democracia digital e práticas colaborativas: a Wikipédia como espaço de discu...
 
Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Parti...
Participação e deliberação na internet:  Um estudo de caso do Orçamento Parti...Participação e deliberação na internet:  Um estudo de caso do Orçamento Parti...
Participação e deliberação na internet: Um estudo de caso do Orçamento Parti...
 
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...
Deliberação mediada: Uma tipologia das funções dos media para a formação do d...
 
“Muro baixo, o povo pula”: iniciativas institucionais de participação digita...
“Muro baixo, o povo pula”:  iniciativas institucionais de participação digita...“Muro baixo, o povo pula”:  iniciativas institucionais de participação digita...
“Muro baixo, o povo pula”: iniciativas institucionais de participação digita...
 
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...
Estratégias de Comunicação Política Online: Uma Análise do Perfil de José Ser...
 
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...
Congressmen in the age of social network sites: Brazilian representatives and...
 
Deliberações ampliadas ou restritas: perspectivas de integração
Deliberações ampliadas  ou restritas: perspectivas  de integraçãoDeliberações ampliadas  ou restritas: perspectivas  de integração
Deliberações ampliadas ou restritas: perspectivas de integração
 

Último

PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfAnaGonalves804156
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfIedaGoethe
 
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoGametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoCelianeOliveira8
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosAntnyoAllysson
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPanandatss1
 
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfSlides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfpaulafernandes540558
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfEyshilaKelly1
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdfPLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdfProfGleide
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxDeyvidBriel
 
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESPRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESpatriciasofiacunha18
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxacaciocarmo1
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...LuizHenriquedeAlmeid6
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfErasmo Portavoz
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024GleyceMoreiraXWeslle
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxFree-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxkarinasantiago54
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 

Último (20)

PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdfPPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
PPT _ Módulo 3_Direito Comercial_2023_2024.pdf
 
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdfCurrículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
Currículo escolar na perspectiva da educação inclusiva.pdf
 
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e femininoGametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
Gametogênese, formação dos gametas masculino e feminino
 
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteirosBingo da potenciação e radiciação de números inteiros
Bingo da potenciação e radiciação de números inteiros
 
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO5_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
Educação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SPEducação São Paulo centro de mídias da SP
Educação São Paulo centro de mídias da SP
 
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdfSlides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
Slides criatividade 01042024 finalpdf Portugues.pdf
 
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdfGuia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
Guia completo da Previdênci a - Reforma .pdf
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdfPLANEJAMENTO anual do  3ANO fundamental 1 MG.pdf
PLANEJAMENTO anual do 3ANO fundamental 1 MG.pdf
 
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptxÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
ÁREA DE FIGURAS PLANAS - DESCRITOR DE MATEMATICA D12 ENSINO MEDIO.pptx
 
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕESPRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
PRÉ-MODERNISMO - GUERRA DE CANUDOS E OS SERTÕES
 
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptxBaladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
Baladão sobre Variação Linguistica para o spaece.pptx
 
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
Slides Lição 3, Betel, Ordenança para congregar e prestar culto racional, 2Tr...
 
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdfO guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
O guia definitivo para conquistar a aprovação em concurso público.pdf
 
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
Apresentação sobre o Combate a Dengue 2024
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
treinamento brigada incendio 2024 no.ppt
treinamento brigada incendio 2024 no.ppttreinamento brigada incendio 2024 no.ppt
treinamento brigada incendio 2024 no.ppt
 
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptxFree-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
Free-Netflix-PowerPoint-Template-pptheme-1.pptx
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 

Desenho institucional e participação política

  • 1. Ciências Sociais Unisinos 46(2):140-151, maio/agosto 2010 © 2010 by Unisinos - doi: 10.4013/csu.2010.46.2.03 Resumo O artigo visa contribuir no estudo e no aperfeiçoamento daquelas inovações institucionais voltadas para a promoção de práticas participativas nas democracias contemporâneas. Primeiramente, são examinados alguns dos principais argumentos que abordam as pos- sibilidades, os limites e os efeitos que o desenho institucional do Estado exerce sobre o jogo político. Em seguida, explora-se, por meio de um breve histórico atinente aos modos de configuração das democracias modernas, a relação entre desenho institucional e par- ticipação política. Aponta-se, na sequência, a necessidade de reformas em determinados traços da formatação do Estado, a fim de possibilitar uma maior participação em âmbitos institucionais. Por último, defende-se a proposta de que três aspectos fundamentais devem ser contemplados em qualquer tentativa de constituir mecanismos participativos adequados e efetivos: (a) aperfeiçoamento do repertório informacional e de habilidades políticas dos cidadãos; (b) deferência a elementos motivacionais que fomentem o envolvi- mento com a política; (c) cuidados quanto à configuração e à disponibilidade de canais de input cujo objetivo seja conduzir as contribuições da esfera civil. Palavras-chave: participação, desenho institucional, democracia. Abstract This paper focuses on the study and development of those institutional innovations con- ceived to promote participatory practices in contemporary democracies. In a first moment, one considers some of the main arguments addressing the scope, limits and the effects of the institutional design on the political game. Then, the article explores, through a brief history regarded the configuration modes of modern democracies, the relationship between institutional design and political participation. This fact calls the attention to the need of a change in the current institutional design of democracies. Finally, one proposes the idea that three features must be taken into account in any attempt to of- fer effective mechanisms of participation in the decision-making process: (a) to improve citizens’ repertoire of skills and political information; (b) to pay attention to motivational factors that encourage the involvement in politics; (c) to be careful about the setting and the availability of input channels whose goal is to lead the contributions of civil sphere. Key words: participation, institutional design, democracy. Francisco Paulo Jamil Almeida Marques1 marquesjamil@yahoo.com.br Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos 1 Professor Adjunto I da Universidade Federal do Ceará - Instituto de Cultura e Arte - ICA. Coordenação do Curso de Comunicação Social. Av. da Universidade, 2762, Benfica, 60020- 180, Fortaleza, CE, Brasil. O autor agradece à CAPES e ao CNPq pela concessão de bolsa para a realização da pesquisa que gerou o presente artigo. Political participation and institutional design: A proposal for the conception of participatory mechanisms
  • 2. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 141 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques Introdução De um modo geral, pode-se dizer que a compreensão mais comum da ideia de desenho institucional democrático se refere à forma pela qual são configuradas as instituições políti- cas do Estado em tal regime de governo. Esta concepção aparen- temente enxuta esconde um jogo intrincado de relações entre agentes políticos de diferentes naturezas; de categorias teóricas oriundas dos distintos modelos de democracia; e de conjuntos diversos de fenômenos a reverberarem sobre as práticas políti- cas. Ou seja, quando se pensa em desenho institucional, a dis- cussão pode recair sobre questões tão amplas como: as crenças ideológicas e de princípios a orientarem as modificações promo- vidas na estrutura do Estado a médio e longo prazo; o modo a partir do qual estão dispostos os sistemas eleitorais; a maior ou menor centralização das decisões de governo e de elaboração de políticas públicas; as responsabilidades e jurisdições de agen- tes e de entidades políticas; o grau de independência do Poder Judiciário e a afinidade com seus órgãos de controle; a relação de poder entre o Executivo e o Legislativo; e, não menos impor- tante, as formas de interação do Estado com os cidadãos e os movimentos organizados da sociedade civil (Lijphart e Weisman, 1996; Goodin, 1996; Brennan e Hamlin, 2000; Helmke e Levitsky, 2006; Marques, 2008; Miola, 2009). É possível afirmar, assim, que o resultado das diferenças na formatação institucional de cada Estado constitui um dos fatores mais relevantes que caracterizam a singularidade das de- mocracias nos diversos países em que ela é adotada. Se existem diferentes alternativas a serem consideradas quando da configuração das instituições democráticas, pode-se questionar o que motiva a existência de tal diversidade. O que levaria uma sociedade democrática a contar, em determinadas ocasiões, com instituições tão particulares, tanto no que se refe- re às justificativas apontadas sobre a razão de ser de tais entida- des, quanto no que concerne aos seus modos de atuação? O que impulsiona uma democracia como o Brasil a contar com um Mi- nistério dedicado ao Desenvolvimento Social e Combate à Fome? Que causas fundamentam a existência peculiar de um Ministério criado para tratar exclusivamente dos assuntos relacionados aos Veteranos de Guerra na democracia norte-americana? Um conjunto de fatores pode ser apontado para respon- der a estas questões, mas três deles parecem se sobressair, tanto por sua importância quanto pela conexão que demonstram ter. O primeiro tem a ver com a cultura política de cada democracia, forjada a partir do reconhecimento da importância de aspectos atinentes à história do país, suas tradições, princípios e valores políticos, bem como seu passado de mobilizações, lutas e revoltas (Almond e Verba, 1963). Veja-se o caso do Ministério da Imigra- ção, Integração e Identidade Nacional, que compõe a máquina administrativa francesa. O segundo fator está relacionado à lide com dificuldades específicas de cada sociedade, uma vez que a persistência de determinados estorvos poderia comprometer a consolidação da democracia em contextos específicos. No Brasil, mais uma vez, há ministérios dedicados à promoção da igual- dade racial e para elaborar políticas voltadas para as mulheres. Um terceiro fator está relacionado aos dois anteriores, mas destaca, por sua vez, a busca pela consecução de determi- nados valores atinentes à ideia de democracia (Gomes, 2007). Inspirando-se nos diferentes modelos de democracia a contarem com maior projeção teórica (Held, 1987), mas não se limitando a estas sistematizações, é possível afirmar que uma ideia razoá- vel de democracia procura encerrar em sua constituição valores aparentemente díspares ressaltados por tais modelos. Valores que, em verdade, precisam ser vistos como complementares. Assim, se, por um lado, o Liberalismo se esmera na de- fesa de mecanismos de transparência e garantia de liberdades e de direitos individuais; e se, por outro lado, o Republicanismo reforça a necessidade de participação da comunidade política na produção de decisões coletivas; e, ainda, se for admitido um terceiro modelo, o de sedimentação mais recente, a saber, o De- liberacionismo, que enfatiza a indispensabilidade de discussão e de debate sobre questões de interesse público, haverá três concepções a apontarem princípios e valores que, tomados de maneira conjunta, conformam uma ideia de democracia coe- rente a contemplar diferentes questões. Dito de outro modo, o que se quer é indicar que uma democracia não pode prescindir de valores específicos defendidos por cada um destes modelos (transparência, liberdades e direitos, participação, discussão), não obstante estas sistematizações parecerem construir seu ar- gumento próprio de forma excludente. É justamente na tentativa de se promoverem mecanismos políticos voltados para o reforço de cada um destes valores que se pode enxergar melhor o terceiro fator a motivar a existência de determinadas instituições na configuração dos Estados de- mocráticos contemporâneos. Se uma determinada sociedade é tradicionalmente atingida por males, tais como a corrupção e o patrimonialismo (um traço da cultura política), a tendência deve ser procurar antídotos para o reforço daqueles valores de transpa- rência e de prestação de contas. Em especial, no caso brasileiro, a autonomia do Tribunal de Contas da União, a proeminência aufe- rida à Controladoria Geral da União e a atuação de outros órgãos de controle interno em nível municipal, estadual e federal são aspectos particulares do desenho institucional desta democracia. A partir da constatação de que os diversos desenhos ins- titucionais dos regimes democráticos se originam, por exemplo, a partir de dimensões ligadas à cultura política e ao enfrenta- mento de certas dificuldades, é possível perguntar que institui- ções podem melhor assegurar a consecução de determinados valores associados à ideia de democracia. A este ponto é preciso esclarecer que o presente trabalho possui como meta fundamental a reflexão acerca da relação en- tre o desenho institucional e um dos valores específicos da ideia de democracia, a saber, a participação política da esfera civil. Sabe-se que, a depender da cultura política, de aspectos socio- econômicos e da configuração institucional adotada em cada democracia, o modo pelo qual se encaminha o papel político atribuído aos cidadãos segue um curso específico. Na intenção
  • 3. 142 Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos de isolar a variável concernente ao desenho institucional, são investigados aqueles formatos que facilitam o envolvimento po- lítico da esfera civil no processo de produção da decisão política. No tópico seguinte, discute-se quanta influência o de- senho institucional exerce sobre as práticas políticas, sobretudo aquelas atinentes à participação. Em seguida, o trabalho detalha a forma por meio da qual as instituições modernas da demo- cracia foram montadas de modo a desfavorecer a intervenção dos cidadãos no jogo político. Por último, defende-se, por meio do detalhamento de uma proposta, a adoção de um redesenho em certos aspectos das instituições democráticas com o objetivo de aperfeiçoar os mecanismos de participação política auferidos aos cidadãos. Desenho institucional democrático: possibilidades e limites Os estudos em Teoria Política, empenhados em examinar as formas de configuração das instituições políticas do Estado, terminam por revelar um leque de divergências acerca de quan- ta influência exerce o desenho institucional sobre as práticas democráticas.2 De maneira mais específica quanto à interface entre de- senho institucional e participação, é importante mencionar as contribuições de Putnam (1993). Ao sugerir explicações para a diferença de comportamento político identificada nos cida- dãos oriundos do norte e do sul da Itália, o autor propõe a avaliação de três fatores: (i) um fator relativo ao desenho insti- tucional; (ii) outro fator ligado às questões socioeconômicas; e, por último, (iii) um fator referente aos aspectos socioculturais típicos destas regiões. De interesse para o presente trabalho, fica a conclusão do autor de que o desenho institucional exerce uma fraca in- fluência sobre a participação da esfera civil, visto que padrões nitidamente distintos de engajamento político são apresentados em diferentes localidades italianas, ainda que os cidadãos este- jam alocados em um mesmo cenário constitucional-jurídico e institucional. Em outras palavras, para Putnam (1993), se, por um lado, as instituições são as mesmas, mas se, por outro lado, os comportamentos políticos se mostram tão díspares, a explicação deve se encontrar, em maior conta, nos aspectos socioeconômi- cos e, preponderantemente, nas questões socioculturais. De fato, é necessário reconhecer que o desenho institu- cional não é o único fator a explicar uma maior ou menor capa- cidade e inclinação para a atuação cívica por parte dos cidadãos, visto que, no caso apontado, sob idênticos códigos e oportuni- dades institucionais de participação, o grau de envolvimento da esfera civil se mostrava diferente. Contudo, se o desenho institu- cional não é o único fator, resta examinar se ele é tão dispensá- vel quanto dá a entender a concepção de Putnam (1993). Na verdade, não obstante a importância de fatores de ordem sociocultural e econômica, acredita-se que tal estudio- so excessivamente valoriza a cultura cívica como o elemento mais fundamental a determinar o comportamento político dos cidadãos. Ou seja, o raciocínio de Putnam (1993) conduz à ideia de que as instituições do Estado pouco podem fazer para, por exemplo, reverter índices decrescentes de engajamento cívico, uma vez que a base de boa parte das convicções e inspirações para a atuação política estaria localizada na própria comunidade e em seus valores. Conforme expõe Frey (2003), o argumento de Putnam (1993) pode contar com certas fraquezas ao subestimar o papel do desenho institucional e de seus efeitos no que concerne à participação política da esfera civil. Isso pelo simples fato de que as formas de mobilização e de engajamento perpetradas pelos cidadãos guardam, não por acaso, íntima relação com a confi- guração das instituições políticas.3 Veja-se, por exemplo, o modo pelo qual as organizações da sociedade civil montam seus orga- nogramas a partir da inspiração a elas conferida pela estrutura das instituições do Estado (Skocpol, 2004). Ademais, os modos de atuação destas entidades cívi- cas também são orientados, em boa medida, pelo sentimen- to de que as instituições se mostram mais ou menos abertas para absorver as disposições da esfera civil. Isto é, os cidadãos protestam porque, dentre outros fatores, acreditam que de- terminadas formas de pressão irão provocar algum tipo de reverberação institucional. Qual seria a utilidade do emprego de mecanismos como abaixo-assinados, se os cidadãos tives- sem a convicção de que as instituições do Estado não apre- sentassem aptidão alguma para levar em conta as demandas a elas endereçadas? Sendo assim, conforme explicam Almond e Verba (1963), o modo pelo qual as instituições se dispõem a considerar as contribuições dos cidadãos reflete, de modo decisivo, naquilo que estes autores chamam de sentimento de eficácia política. 2 Segundo Frey (2003, p. 170): “A percepção de Putnam é bastante fatalista na medida em que as raízes históricas e culturais são sobrevalorizadas. [...] É imprescindível avaliar a relevância do desenho institucional para a relação entre capital social e democracia e o desempenho governamental em geral. [...] Pelo menos, o que os recentes estudos sobre experiências brasileiras em democracia local mostram é que inovações concernentes ao desenho institucional fazem de fato a diferença, não apenas para a ampliação da participação política, mas também para o fortalecimento da sociedade civil local e, consequentemente, a criação de capital social”. 3 Philip Pettit sumariza a interação destes diversos fatores que influenciam a forma pela qual os cidadãos participam: “O comportamento das pessoas em sociedade – seu comportamento individual, seu comportamento como agentes de coletivos corporativos e seu comportamento em capacidades públicas – é sensível às oportunidades e aos incentivos disponíveis a elas como resultado de sua configuração social, como é sensível a outros fatores: por exemplo, para os valores, representações e modos de discurso que elas herdam, em boa parte, de seu quadro social de referências” (Pettit, 1996, tradução própria).
  • 4. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 143 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques Neste contexto, a ideia aqui defendida é a de que o desenho institucional não pode ser tomado como fator único a influenciar a oferta e o emprego dos mecanismos de participação, mas, ainda assim, deve-se reconhecer que ele representa um vetor fundamen- tal para se afirmar os diversos padrões de interferência e de enga- jamento dos cidadãos.4 A fim de evitar uma excessiva valorização do desenho institucional, é preciso, portanto, definir alguns de seus limites de modo a se compreender adequadamente como os esta- dos podem ser redesenhados a fim de se fomentar a participação. Em primeiro lugar, o elogio ao potencial das instituições para promover mudanças nos padrões de ativismo e engajamen- to da esfera da cidadania precisa de limites porque, conforme sustenta Frey (2003), é preciso ser cuidadoso no que concerne às tentativas de controle e de cooptação que podem ser exercidas pela burocracia estatal. Há um conjunto de autores a apontar os riscos de se centralizarem as oportunidades de participação apenas à dimensão institucional, ressaltando-se a necessidade de manutenção de espaços de debate e de mobilização em ins- tâncias eminentemente civis (Dryzek, 2000). Em segundo lugar, atente-se para o fato de que mesmo um desenho institucional direcionado ao favorecimento da par- ticipação dos cidadãos não garante que tal participação ocorrerá de maneira fluida e sem percalços, exatamente por conta da re- troinfluência de outros fatores sobre os modos de engajamento da esfera civil. Mais uma vez, merecem ser mencionados que- sitos ligados às condições socioeconômicas e às características socioculturais de cada sociedade democrática. Desta forma, o empreendimento de iniciativas de participação deve estar aten- to a estas dimensões e, caso sejam detectados empecilhos ou dificuldades de maior eminência, faz-se importante procurar transformá-los ou aliviá-los. Tratando-se não apenas dos limites da influência do de- senho institucional para a participação, mas também para as práticas democráticas em geral, aponta-se, ainda, que nem to- dos os problemas a afetarem as democracias podem ser resolvi- dos a partir de um redesenho das instituições do Estado. Existem certas distorções, como determinadas modalidades de corrup- ção, que, mesmo uma reformulação do desenho institucional, pouco podem contribuir para debelar. Uma vez que se tenham discutido a importância, as pos- sibilidades e os limites de influência do desenho institucional, parte-se para o exame do modo pelo qual foram configurados os Estados democráticos desde a Era Moderna. A intenção é expor o argumento de que a participação efetiva dos cidadãos no pro- cesso de produção da decisão política foi considerada um valor secundário naquele momento, dada a concessão de demasiadas prerrogativas aos representantes eleitos. Defende-se, assim, a necessidade de se promoverem modificações em certos aspectos da montagem do Estado e de suas instituições, a fim de apontar saídas para problemas como a excessiva autonomia dos agentes políticos frente à esfera civil. Do aperfeiçoamento da participação política por meio do desenho institucional Se for possível verificar uma relação próxima entre a configuração do Estado e as práticas democráticas testemunha- das em determinada sociedade, este trabalho propõe refletir so- bre os modos de se redesenhar as instituições políticas, a fim de apontar soluções para problemas típicos da democracia. Assim, por exemplo, caso em determinada sociedade haja carência de visibilidade e transparência no trato com a coisa pública, argu- menta-se que o Estado pode ser reformatado em alguns de seus traços por intermédio do emprego de mecanismos específicos, a ponto de se corrigir ou aliviar a ocorrência de tais falhas. É importante ressaltar, a este ponto, que há problemas nas democracias de qualidades e de dimensões diversas, sendo alguns deles solucionáveis por meio de simples atos adminis- trativos (o que não requer modificações de maior profundidade no desenho do Estado). Por outro lado, existem questões que exigem uma reorganização mais estrutural das instituições com o intuito de se encaminharem respostas consistentes para as di- ficuldades tradicionalmente enfrentadas e que prejudicam, de maneira contínua, a consecução de ideais democráticos. Este é o caso do aperfeiçoamento das oportunidades institucionais de participação já existentes e da criação de novas iniciativas a fo- mentarem o envolvimento político da esfera civil. A defesa do redesenho institucional para que se possi- bilite uma maior participação dos cidadãos parte da premissa de que a forma pela qual foram configuradas as instituições democráticas modernas expõe uma feição nitidamente desfa- vorável ao envolvimento político da esfera civil (Manin, 1997; Delli Carpini, 2000; Verba et al., 1995). Bernard Manin, mais exatamente, afirma haver uma indisposição das instituições em incluir os cidadãos de forma incisiva no processo de produção da decisão política. Este fenômeno, segundo o autor, seria fruto de determinadas escolhas estabelecidas quando da formatação institucional procedida ao longo das revoluções burguesas que tiveram lugar, em um primeiro momento, na América do Norte e na Europa (Manin, 1997, p. 3-4). 4 Cass Sunstein reafirma o diagnóstico de que os federalistas norte-americanos tinham a intenção de rejeitar a herança monárquica de Europa e, ao mesmo tempo, promover um governo com capacidade de manter o exercício do poder político relativamente afastado da esfera civil. Conforme o autor: “Em vez de se buscar permitir ao povo filtrar o que ele iria ver e ouvir, eles tentaram criar instituições que iriam ‘filtrar’ os desejos populares de modo a assegurar políticas que promoveriam o bem público. Assim, a estrutura da representação política, e o sistema de checagens e balanços, foram desenhados para criar um tipo de filtro entre o povo e a lei, de modo a garantir que aquilo que emergiria seria tanto reflexivo quanto bem informado” (Sunstein, 2001, p. 37-38, tradução própria).
  • 5. 144 Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos As insurreições da burguesia perpetradas para derrubar o Absolutismo nunca tiveram como intenção de fundo tornar a participação da esfera da cidadania um valor fundamental para o exercício das práticas democráticas. Manin (1997, p. 8) ilumina, por exemplo, o fato de se ter optado pela eleição de representan- tes através de voto e não por sorteio, como acontecia na antiga cidade-estado de Atenas. Desta forma, se, por um lado, parece praticamente consensual a noção de que a representação se tor- nou indispensável devido ao tamanho dos estados modernos, a justificativa (ou a falta dela) pelo voto (em detrimento do sorteio) para a indicação destes delegados expõe um claro exemplo de como o desenho institucional molda as concepções modernas de governo e, por conseguinte, as formas de se atuar no jogo político. Em outras palavras, a intenção, naquele instante, foi evitar que um cidadão qualquer tivesse a chance de exercer a representação política (o que poderia ser ocasionado pelo sor- teio), estabelecendo-se, assim, um mecanismo com o intuito de permitir que alguns se destacassem por intermédio de suas ca- pacidades inerentes de arregimentar prestígio e apoio político- eleitoral. Esta constatação leva Manin (1997) a afirmar, então, que o governo representativo moderno não foi originalmente pensado enquanto detentor de um caráter democrático por ex- celência . Para o autor: [...] nós não hesitamos em categorizar os sistemas representa- tivos de hoje como democracias. Os pais fundadores, por outro lado, enfatizaram a ‘enorme diferença’ entre o governo repre- sentativo e o governo por parte daqueles que eram, então, o povo. Nós somos, assim, deixados com o paradoxo de que, sem ter claramente evoluído, a relação entre representantes e aqueles que eles representam é, hoje em dia, percebida como democracia, enquanto ela era, originalmente, vista como não democrática (Manin, 1997, p. 236, tradução própria). Manin (1997) vai concluir, então, que a formatação geral conferida modernamente ao governo representativo acabou por combinar aspectos democráticos e não democráticos. Isso porque, de um lado, as eleições permitem um elemento de exercício de soberania popular através do input no qual consiste o voto; ao mesmo tempo, contudo, nem todos os cidadãos arregimentam condições para serem eleitos, o que seria provável com o estatuto da fortuna auferido pelo sorteio5 (Manin, 1997, p. 236-238). Dryzek e Torgerson (1993) confirmam que os pioneiros na defesa do governo representativo moderno não tinham em mente uma configuração política eminentemente democráti- ca, pois acreditavam que a elite deveria exercer uma influência de maior peso e que seriam plenamente justificáveis os receios concernentes ao aprofundamento da democracia por meio do exercício de poder por parte da esfera da cidadania. Este é o mesmo diagnóstico de Bohman e de Habermas (1997), autores para quem as instituições da democracia liberal foram pensadas de modo a isolar os cidadãos do centro da produção da decisão política (Bohman, 1996, p. 189). Até o momento, o texto se dispôs a apontar as possibilida- des, os limites e as influências que o desenho institucional exerce sobre as práticas participativas. Também foi mencionada a escassez de mecanismos participativos institucionais voltados para incluir efetivamente os cidadãos no processo de discussão e de decisão acerca da res publica. Mas pouco ou nada, ainda, foi dito acerca da importância da participação da esfera civil para o regime democrá- tico de governo, o que justificaria a necessidade de modificações no traço do desenho institucional dos Estados democráticos. Não se pretende fazer uma digressão a ponto de arrolar to- dos aqueles argumentos a fundamentarem a indispensabilidade da participação política dos cidadãos para a democracia. Por este mo- mento, e a fim de não estender a discussão, considera-se suficiente destacar que a defesa por oportunidades efetivas de intervenção e controle dos cidadãos não ocorre apenas por uma questão de princípios ou de filiações teórico-ideológicas. Na verdade, autores como Habermas (1997) argumentam que uma esfera de cidadãos bem informados e civicamente engajados é fundamental, graças às contribuições que oferece nos debates e na promoção de decisões de maior qualidade, no encaminhamento de sugestões, na agilida- de da implementação de políticas públicas, na vigilância sobre os representantes e, talvez o mais importante, na manutenção da legi- timidade do regime democrático (Bohman, 1996; Creighton, 2005; Gastil, 2000; Nobre, 2004). Entretanto, um argumento candente para se defender a participação vem da ideia de que ela evita males que podem afetar o jogo democrático em um plano mais geral. Fung e Wright (2001), por exemplo, sustentam que deter- minadas dificuldades identificadas no exercício das práticas de- mocráticas não são, exclusivamente, fruto de traços tais como a complexidade (Bohman, 1996) e o multiculturalismo (Gutmann e Thompson, 1996) que marcam as sociedades contemporâneas, mas também de um desenho de Estado inadequado para lidar com as demandas e o envolvimento político dos cidadãos. De acordo com estes autores: Talvez, esta erosão da vitalidade democrática seja um resultado inevitável da complexidade e da escala. Talvez, o máximo que nós possamos esperar seja ter um tipo de constrangimento po- pular sobre as atividades de governo limitado a eleições regula- res e fracamente competitivas. Talvez a Era do ‘Estado democrá- tico afirmativo’ – o Estado que desempenha um papel criativo e ativo na resolução de problemas em resposta a demandas populares – esteja terminado, e uma retração ao privatismo e à passividade política seja o preço inevitável de nosso ‘progresso’. Mas, talvez, o problema tenha mais a ver com o desenho es- pecífico de nossas instituições do que com as tarefas que elas precisam encarar (Fung e Wright, 2001, p. 6, tradução própria). 5 Foi assim que se originou a ideia da democracia liberal de que o voto é o instrumento por excelência da intervenção política adequada da esfera civil, pois, uma vez que os cidadãos elegem seus representantes, eles, por um lado, ratificam o método de escolha dos delegados como legítimo e, por outro, chancelam os resultados e as políticas delineadas por estes representantes (Manin, 1997, p. 85-86).
  • 6. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 145 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques A tese de fundo sustentada, em maior ou menor medida, por estes e por outros estudiosos citados até aqui é a de que determinados estorvos típicos das democracias (como apatia, cinismo, baixo sentimento de legitimidade das decisões políti- cas, dentre outros) têm a ver com o formato do desenho das instituições do Estado e a relação destas com a esfera civil. Ou seja, delinear iniciativas e ferramentas de âmbito institucional a fim de fomentar a participação pode aliviar a ocorrência de um conjunto de problemas que fazem a democracia perder parte de sua consistência prática. A origem de mudanças no desenho institucional se en- contra na alteração do projeto de Estado, empreendimento ge- ralmente encampado, seja por convicção política ou devido a pressões externas, por parte, sobretudo, de agentes do campo político (Gomes, 2007). Algumas das antigas orientações do Es- tado liberal, por exemplo, foram reorganizadas para absorver o sufrágio universal ou, conforme defendia Rawls (1999), para atender a demandas de justiça e bem-estar social. Caso recon- figurações desta natureza não fossem providenciadas, se cor- reria o risco de comprometer a legitimidade das práticas caras à democracia então vigentes e de um outro regime de governo ganhar prestígio. Estas modificações são respostas específicas, oferecidas por governos e tendências políticas particulares, aos sucessivos desafios com os quais os regimes democráticos precisam lidar. Desta forma, uma vez constatado um conjunto de deficiências nas práticas democráticas, sobretudo relativas ao oferecimento de oportunidades de participação aos cidadãos, deve-se esqua- drinhar quais são os novos formatos institucionais que respon- dem de maneira mais adequada a esta urgência. Diretrizes para um desenho institucional participativo A face mais visível da mudança de disposição dos agentes e de suas concepções de Estado, com vistas à promoção de um redesenho institucional, se mostra naquelas situações práticas por meio das quais se desenrola o processo político. Em outras pala- vras, tomando-se o caso da participação política, uma instituição se mostra mais “porosa” na medida em que se esforça em insti- tuir e aperfeiçoar aqueles mecanismos e situações que, cotidia- namente, são capazes de receber e de processar as contribuições originadas na esfera civil. Desta forma, a intenção é delinear uma proposta cujo teor se refere a uma formatação específica quanto à montagem dos recursos participativos institucionais. À primeira vista, pode-se pensar que o redesenho das instituições do Estado de modo a torná-las mais favoráveis à participação dos cidadãos tem a ver apenas com o oferecimento de canais mais adequados de input. A ideia desenvolvida neste artigo, entretanto, argumenta que outras dimensões, além da disponibilidade de canais de participação, estão envolvidas. Ao lado de autores como Delli Carpini (2000) e Verba et al. (1995), sustenta-se que, para se engajarem politicamen- te, os cidadãos precisam não apenas de (i) oportunidades, isto é, de canais de input que materializem meios apropriados de intervenção (fóruns, pesquisas de opinião, audiências públicas, encontros com representantes), mas também de (ii) motivação (senso de responsabilidade, satisfação, confiança nas institui- ções, crença de que a participação será devidamente conside- rada e que poderá fazer a diferença) e de (iii) habilidades (este aspecto se relaciona, sobretudo, à disponibilidade de informação política de qualidade e ao cultivo de educação formal). Em ou- tras palavras, é preciso enxergar a concepção de desenhos insti- tucionais mais participativos como uma tarefa composta por di- mensões diferenciadas. Por exemplo, um canal que não seja visto pelos cidadãos como útil e de confiança ou que não se esforce em fazer com que os cidadãos se informem e reflitam acerca da importância e das consequências de determinadas políticas públicas dificilmente proporcionará uma participação adequada e capaz de gerar efeitos incisivos. As direções de redesenho propostas abaixo apontam, portanto, para um programa de atividades conjuntas a ser de- sempenhado no âmbito das iniciativas de participação promo- vidas pelas instituições do Estado democrático. Cada uma das três dimensões que compõem o fundamento destas frentes de atividades será detalhada a seguir. (a) Desenho institucional e cultivo de habilidades necessárias à participação Não há dúvidas acerca da importância da aquisição de habilidades e de informação política de qualidade para que se participe de maneira adequada. A capacidade de organização dos cidadãos, o conhecimento acerca do funcionamento das ins- tituições (seus trâmites e jurisdições) e a aquisição de dados fac- tuais sobre personalidades, agendas, eventos e acontecimentos políticos são valores previstos mesmo no projeto original de de- mocracia liberal (avesso a uma participação diligente da esfera civil). Autores tão diversos como Mill (2001), Barber (2004), Pa- teman (1992) e Dahl (2001) consideram o acesso aos conteúdos cognitivos do universo político exigência fundamental ao bom funcionamento do regime democrático de governo, no intuito de se incrementarem o acompanhamento e a fiscalização acerca da condução da coisa pública. Ainda que seja um requisito tão importante, pode-se apontar um conjunto de estudos a concluírem que os cida- dãos estão longe de alcançar um nível minimamente aceitá- vel de informação para uma participação política consistente e efetiva. Bobbio (2000) sustenta que os cidadãos continuam a demonstrar um conhecimento limitado em relação aos fe- nômenos e fatos concernentes ao domínio da política, o que seria mais uma promessa não cumprida pela democracia. Gastil (2000), por sua vez, enfatiza que poucos cidadãos se infor- mam sobre os fatos e fenômenos atinentes ao jogo democrá- tico, e quando o fazem, dão preferência àquelas visões, dados
  • 7. 146 Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos e argumentos que apenas vêm para solidificar suas convicções e ideologias peculiares previamente adquiridas. Delli Carpini e Keeter (1996), no livro What Americans Know about politics and why it matters, sustentam a ideia de que tal fenômeno é motivo de lamentação, visto que os recursos de comunicação e informação (muitas vezes voltados para a cobertura política) apenas se multiplicaram nas últimas décadas.6 [...] não obstante as preocupações acerca da qualidade da educação, o declínio da leitura de jornais, o crescimento do jornalismo de sound-bite, a maior proeminência dos temas de política nacional e o minguante comprometimento concernen- te ao engajamento cívico, os cidadãos parecem estar não me- nos informados acerca de política hoje quanto eles estavam há um século. [...] [entretanto] não obstante uma expansão sem precedentes da educação pública, de uma revolução das comu- nicações que abalou as fronteiras nacionais e internacionais e a crescente relevância de eventos e políticas nacionais e inter- nacionais sobre a vida diária dos americanos, os cidadãos não parecem estar mais informados sobre política (Delli Carpini e Keeter, 1996, p. 133, tradução própria). Por ser um requisito tão importante a vir enfrentando dificuldades em sua consecução, pelo menos de acordo com as conclusões destes estudiosos, considera-se que o redesenho das instituições do Estado para se fomentar a participação da esfera civil deve iluminar as formas de acesso à informação em quan- tidade e qualidade adequadas. O aperfeiçoamento deste aspecto visa possibilitar uma interferência e um controle mais consisten- tes em relação aos negócios públicos. O desenho de iniciativas de participação precisa, então, visa projetar de modo cauteloso a forma pela qual se dará a prestação de informação política, que deve ter entre suas ca- racterísticas qualidade, quantidade, pluralidade e neutralidade. Creighton (2005, p. 91-127) cita uma série de técnicas para se prestar informação com este perfil aos cidadãos. Dentre os prin- cipais artifícios, podem ser citados: Conferências apreciativas são eventos que envolvem uma comunidade por alguns dias a fim de fazer os ci- dadãos tomarem conhecimento de certas questões e, na medida do possível, convergirem acerca dos pontos principais sobre os quais recai a atenção das institui- ções públicas. Conselhos e forças-tarefa caracterizam-se em grupos que representam interesses ou especialidades diversas e participam de encontros com públicos de cidadãos, na intenção de informar sobre suas perspectivas e de tirar dúvidas. Esta técnica é exemplificada com a realização de apresentações para grupos comunitários, sendo um dos intuitos principais a aproximação com líderes e a cons- trução de laços de confiança entre sociedade e Estado. Reuniões informais revelam-se como ocasiões nas quais os cidadãos são convidados a discutir em particular te- mas específicos e trocar informações. Realização de entrevistas coletivas, com o intuito de dar visibilidade a determinada questão e aos dilemas em jogo, podem ser representadas pelas aparições em programas e colaboração em matérias jornalísticas as quais elucidam um conjunto de tópicos que faz parte das preocupações do debate em pauta. Envio por correio de relatórios e demais documentos, tais como informativos com periodicidade definida para manter os cidadãos atualizados. Painéis de exibição em locais públicos como em ruas, sho- ppings, praças e eventos esportivos podem ser conside- rados espaços privilegiados de prestação de informações. Emprego da comunicação de massa, por meio da distri- buição de materiais (chamados comumente de press- kits) aos repórteres e veículos mediáticos contendo as informações mais relevantes sobre determinada ques- tão, inserções em publicidade paga, utilização dos re- cursos de Internet, uma vez que as redes de comunica- ção digital servem como repositório de dados, provedor de informações e convêm no que concerne à elucida- ção de dúvidas por meio de atendimento on-line. Estes artifícios, assim, têm o objetivo de criar um ambien- te informacional favorável a uma participação mais instruída dos cidadãos. Cada uma destas maneiras de prover informação à esfera civil parece mais apropriada a casos peculiares que, por suas características, exigirão maior ou menor envolvimento e discernimento dos cidadãos. Sendo assim, a lista acima funcio- na mais como um conjunto de sugestões cuja plausibilidade da aplicação deve ser pensada de acordo com a ocasião. O importante, conforme destaca Creighton (2005), é que estas ferramentas sejam empregadas de maneira a prestar a maior quantidade e qualidade possível de informações aos cidadãos, devendo-se conferir atenção especial à neutralidade dos dados ofertados. Ou seja, para este autor, os cidadãos sabem identificar o quão tendenciosas podem ser aquelas informações políticas ofertadas, por exemplo, ao longo de campanhas eleito- rais ou cuja origem se encontra nos gabinetes parlamentares e nas assessorias de comunicação dos governos. Desvios de infor- mação voltados para contemplar interesses de grupos poderão gerar desconfiança e descrédito em relação àqueles que promo- vem iniciativas de participação. Se a posse de informação política de qualidade e a aqui- sição de habilidades podem ser trabalhadas junto aos cidadãos através de uma formação educacional sólida e da oferta de dados sobre temas específicos, deve-se ressaltar que um re- pertório apropriado de cognição política não preenche os re- quisitos de aperfeiçoamento de uma cultura cívica orientada 6 Outras referências importantes sobre este assunto são Althaus (1998) e Gilens (2000).
  • 8. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 147 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques para a participação dos cidadãos. Além de informações e de habilidades para participar, deve-se compreender que os cida- dãos precisam se sentir estimulados a atuarem politicamente e a confiarem no regime político. Estes aspectos apontam, então, para o senso de motivação que também deve orientar o rede- senho das instituições do Estado. (b) Desenho institucional e motivação à participação Diferentes autores vão indicar que, mesmo com a exis- tência de determinados dispositivos de participação, a esfe- ra civil, em muitas ocasiões, não tem interesse em participar, o que confirma um diagnóstico tradicional de desconfiança, apatia ou insatisfação com as instituições do Estado, sobre- tudo no caso brasileiro (Carvalho, 2003; Fernandes, 1976). Tal fenômeno exige, nestes termos, um esforço institucional não apenas em oferecer mecanismos de intervenção, mas, também, em estimular seu uso. Gastil (2000) é um dos autores que consideram que o Estado pode ser um forte elemento na reversão da tendência de declínio da confiança dos cidadãos na democracia. Para ele, as instituições políticas têm a capacidade de atuar enquanto for- midáveis indutoras da formação de capital social (Gastil, 2000, p. 178). O argumento de Gastil (2000) é o de que, em um cenário marcado pela desconfiança e insatisfação em relação aos agen- tes do campo político e às instituições, não se pode, isoladamen- te, oferecer recursos de participação, mostrando-se necessária a conquista da confiança dos cidadãos. Isso porque, caso os ci- dadãos não creiam que suas opiniões, sugestões e necessidades serão atendidas pelos representantes e se consideram que pouca influência podem exercer nos rumos dos debates e decisões rela- tivas às políticas públicas, pouco adiantaria ofertar dispositivos participativos em um novo desenho institucional. Desta forma, se tal dificuldade não for tratada com a devi- da cautela, dificilmente a esfera civil tomará como legítimo e efe- tivo o recurso participativo a ela ofertado, ainda que tenha adqui- rido informação política relevante e de qualidade e que conte com canais e instrumentos institucionais de participação disponíveis.7 Dentre as providências mais importantes para se ganhar a confiança dos cidadãos está a demonstração de que as ferra- mentas participativas geram resultados efetivos e a confirmação de que o Estado considera as contribuições a ele encaminhadas. Estas providências tendem, ao longo do tempo, a solidificar um sentimento de respeito e credibilidade por parte dos cidadãos em relação às instituições políticas e suas iniciativas. A pesquisa empírica conduzida por Almond e Verba (1963, p. 205) conclui que aqueles cidadãos com maior senso de competência política (ou seja, que crêem poder influenciar e que se sentem estimu- lados a intervir) consideram, adicionalmente, que a democracia é o regime de governo mais adequado e legítimo. Em outras palavras, além de ofertar canais de participação, as instituições do Estado devem mostrar que estão efetivamente dispostas a tratarem os cidadãos enquanto parceiros na discussão e formu- lação das políticas públicas. Se um indivíduo acreditar que ele tem influência, ele se sentirá mais propenso a exercê-la. Um cidadão subjetivamente com- petente, assim, tende a ser um cidadão mais ativo. E, se os representantes do governo não necessariamente respondem às tentativas ativas de influência, eles, certamente, estarão mais propensos a responder aos cidadãos ativos do que àqueles que não apresentam demandas. Se o cidadão ordinário, por outro lado, percebe que a política do governo está consideravelmen- te longe de sua esfera de influência, ele se encontrará indis- posto a tentar influenciar aquela política, e os representantes governamentais estarão indispostos a se preocupar acerca do potencial de pressão que pode ser exercido sobre eles (Almond e Verba, 1963, p. 138-139, tradução própria). Simone Chambers destaca, adicionalmente, que é funda- mental não apenas que sejam oferecidos canais de participação e que o Estado se comprometa a valorizar a contribuição da es- fera civil. É preciso, ainda, que as reivindicações e observações dos cidadãos se vejam, de alguma forma, refletidas nas decisões produzidas (Chambers, 2004, p. 158). Dito de outro modo, se a participação não apontar para resultados concretos, as iniciati- vas tendem a se esvaziar, visto que o processo de aquisição de confiança dos cidadãos na efetividade da ferramenta participa- tiva será falho.8 Segall (2005), de forma complementar a esta ideia, afirma que os cidadãos, na maioria das ocasiões, não se contentam apenas em influenciar os rumos do debate ou em apresentar sugestões. Além de sentirem que suas opiniões serão realmente consideradas quando da produção de decisões polí- ticas, os participantes desejam contar com um sentimento de gratificação por terem atuado. 7 Schudson (1995) afirma, por sua vez, que não é fácil criar nos cidadãos um sentimento de apego às instituições da democracia, devendo-se destacar que tal processo, ainda que plausível, é lento. Este mesmo autor ressalta o papel das instituições neste contexto: “Demasiada crítica contemporânea fala como se a democracia com enraizamento popular fosse algo que brotasse da terra, de forma espontânea e natural, sem intervenção ou moldagem das estruturas ou das instituições políticas” (Schudson, 1995, p. 150). 8 Coelho (2007) comenta a ideia de “efeito demonstração” sustentada por Abers (2000), Baiocchi (2001) e Wampler e Avritzer (2004). “Abers, Baiocchi e Wampler afirmam que um fator-chave para o sucesso das experiências participativas é o investimento das autoridades e instituições públicas no ‘efeito demonstração’. Segundo os autores, os foros de políticas públicas não atraem participantes quando a população não percebe a relação entre eles e sua vida cotidiana. No processo do orçamento participativo estudado por Abers, o Governo Municipal teve de esclarecer aos participantes por que sua presença nas assembleias os beneficiaria e depois teve de cumprir estritamente todas as promessas. Abers sugere, assim, que um bom processo participativo não é o que reduz o envolvimento do governo nas decisões. Ao contrário, o comprometimento ativo do Estado é crucial para fomentar a participação dos cidadãos” (Coelho, 2007, p. 81).
  • 9. 148 Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos Consolida-se, nestes termos, a necessidade de se interli- gar as iniciativas de participação com as consequências do pro- cesso de produção da decisão política (Bohman, 1996; Avritzer, 2008). Por isso, para estimular um senso positivo de eficácia po- lítica, as instituições devem, por um lado, ser claras quanto às possibilidades de participação e aos limites de influência que os cidadãos têm (esclarecer o alcance prático das intervenções); e, por outro lado, os representantes e agentes políticos devem, efetivamente, levar os canais de participação a sério. Em suma, além dos próprios canais de input participativo, é necessário um ambiente apropriado, constituído por crenças, comportamentos e atitudes dos cidadãos que estejam direcionados de forma fa- vorável tanto ao envolvimento político quanto às instituições que o promovem. (c) Desenho institucional e características dos canais participativos de input A necessidade de criação de novos canais de input para se absorver, considerar e processar as contribuições e reivindi- cações dos cidadãos consiste em um dos pontos essenciais do projeto de reconfiguração das práticas participativas institucio- nais e, por isso mesmo, julga-se pertinente refletir acerca das características adequadas que devem marcar tais dispositivos. Há ferramentas de diferentes naturezas a permitirem graus variados de influência e de exercício do poder político. Existem mecanismos de participação que operam mais no sentido de au- xiliar no debate e na consideração de razões (como as audiências públicas), enquanto outros se inclinam, decisivamente, a conferir poder de decisão sobre uma questão determinada (o orçamento participativo, por exemplo). Nestes termos, uma vez que as con- dições gerais (como um ambiente informacional consistente e a motivação para envolvimento político) foram criadas, é preciso pensar sobre os canais mais adequados para receber, conduzir e processar as contribuições oriundas da esfera civil. Esta não é uma tarefa fácil. Primeiramente, devido à va- riação de condições gerais e das especificidades das ocasiões nas quais se requer a participação dos cidadãos, Creighton (2005) ar- gumenta que não existe um modelo único a orientar a construção de dispositivos de participação: é necessário estabelecer no que, o quanto, como e o que se quer dos cidadãos (aliás, de quais ou quantos cidadãos) e de sua intervenção. Só a partir de então será possível determinar a ferramenta mais plausível para a situação. Em segundo lugar, ponha-se luz, ainda, sobre o fato de que nem todos os cidadãos querem se envolver na discussão de temas políticos. O interesse da esfera civil em tomar parte nas iniciativas de participação promovidas pelas instituições varia, por exemplo, de assunto para assunto (Creighton, 2005; Vita, 2004). Estas ressalvas demonstram, novamente, que pensar a participação na prática, bem como as possíveis modalidades de canais de input, é uma tarefa complicada. Dentre os estudiosos da teoria democrática deve-se destacar aqueles pertencentes à vertente deliberativa como os que mais se aproximam da propos- ta de redesenho das instituições do Estado de modo a torná-las mais abertas à participação dos cidadãos. Estes autores propõem ferramentas interessantes que, se incluídas no projeto de dese- nho do Estado aqui sugerido, podem contribuir para fomentar uma participação mais ativa e com maior eficácia política por parte da esfera civil (Dryzek, 2000; Fishkin e Laslett, 2003; Fung e Wright, 2001; Steiner et al., 2001). Estudiosos como Gastil (2000) começam por avaliar as ferramentas de participação já existentes para, em um segundo momento, propor a adoção de novos mecanismos de interferên- cia e controle político. No caso das pesquisas de opinião pública, por exemplo, Gastil (2000) aponta que estes mecanismos repre- sentam, de fato, uma modalidade de input dos cidadãos que tem a capacidade de exercer considerável influência e pressão sobre os representantes. Porém, ainda que permitam a articulação de uma voz pública proeminente, o autor critica o fato de que es- tas sondagens pouco se preocupam em informar os cidadãos de modo mais detalhado e em promover uma avaliação das diversas razões e argumentos envolvidos naquela questão que é o centro da sondagem. É neste sentido que o argumento de Gastil (2000, p. 97-98) insiste na busca e emprego de outras ferramentas que mensurem o sentimento público através de procedimentos mais apropriados do que o simples registro de disposições momentâ- neas. Ao não ofertar aos cidadãos a possibilidade de confrontar suas opiniões e razões, recursos tais como as pesquisas de opi- nião permitem apenas que se aflore uma perspectiva individual sobre temas de concernência pública, contemplando-se, assim, um modo utilitarista de se empregar os meios de intervenção civil nas práticas democráticas. No caso da promoção de audiências e reuniões públicas, Gastil (2000) afirma que é preciso considerar mais de perto as condições nas quais estes eventos se dão, pois, não obstante sua natureza e planejamento, muitas vezes, eles são incapazes de favorecer um diálogo deliberativo. Segundo o autor: A estrutura do discurso em audiências públicas é um problema mais sutil. Mesmo quando um representante eleito convoca uma audiência antes de tomar uma decisão, a típica audiência pública encoraja um processo não deliberativo ao restringir a expressão pública a uma série de assunções e respostas limita- das dos representantes a contrapontos episódicos. As audiên- cias tendem a ter um enquadramento indevidamente técnico dos temas que torna difícil aos cidadãos se dirigirem aos re- presentantes através de sua própria linguagem (Gastil, 2000, p. 99, tradução própria). No final das contas, não se está afirmando que recursos como estes são dispensáveis. Na verdade, a intenção deste tópi- co é defender um aumento da capacidade destes dispositivos, bem como dar vazão à existência de outros, e refletir acerca de quais procedimentos são os mais adequados a fim de se possibi- litar que os cidadãos expressem suas demandas, reivindicações, sugestões e opiniões por intermédio de diferentes canais, com níveis de profundidade diferenciados.
  • 10. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 149 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques Por exemplo, para incrementar as pesquisas de opinião pública, Gastil (2000) propõe adicionar traços deliberativos ao padrão operacional das sondagens. O curso destas pesquisas, de acordo com o autor, seria marcado por uma discussão prévia cujo intento primordial seria pedagógico, aprimorando-se, as- sim, o processo de formulação das opiniões dos indivíduos e o aconselhamento de representantes políticos quanto à condução dos temas relativos ao interesse público. Mais exatamente em relação à proposição de novas fer- ramentas, as referências mais citadas em deliberação pública apontam para a realização das seguintes atividades: Painéis deliberativos que consistem de debates realiza- dos em comunidades ou outros espaços aos quais os ci- dadãos tenham acesso conveniente. Os representantes políticos e demais agentes institucionais demonstram a intenção em se aproximar dos mandantes, expor razões e informações e em coletar reivindicações, comprome- tendo-se, então, a estimular o diálogo e a levar em con- sideração as razões apontadas ao longo das discussões. Conferências de cidadãos, nas quais, sob pagamento de honorários por sua participação, os cidadãos recebem in- formações balanceadas acerca dos prós e contras de certa medida, são estimulados a discutir e, ao final, encaminham suas principais observações às instituições (Burkhalter et al., 2002). É um tipo de canal que prova polêmica e que carece de viabilidade em determinadas sociedades. Balanços públicos, cujo princípio de funcionamento re- fere-se, por um lado, à capacidade dada à esfera civil de se manifestar e reivindicar a discussão de determinadas razões e, por outro, à exigência de uma exposição dos motivos, da parte dos representantes, que levaram certa decisão a ser tomada. Esta relação mais próxima entre representantes e cidadãos por meio de sugestões e da avaliação institucional destas contribuições possibilita- ria o que Bohman (1996, p. 190) chama de “administra- ção reflexiva”, incrementando-se, assim, as atividades participativas e representativas. Fóruns de amostragem aleatória, que promovem men- suração da opinião pública de modo mais aprofundado mediante a seleção aleatória de cidadãos e da promo- ção de debates entre eles (Fishkin e Luskin, 1999). Podem ser listadas, ainda, iniciativas a exemplo de júris de cidadãos, deliberation day, e sondagens deliberativas de opi- nião (deliberative pooling) (Fishkin, 2002). Ressalta-se, todavia, que não se defende o emprego de todas estas ferramentas de participação simultaneamente, nem se tem a intenção de dar preferência àquelas que prevêem uma participação direta (im- plicando posse de poder decisório) ou que estimule a deliberação pública. Na verdade, a solução mais plausível parece se encon- trar no exame de quais ferramentas cada situação requer. Em suma, faz-se necessária uma meditação mais detida em relação a particularidades como em que situações, a quem, com que finalidade, com que alcance e quais mecanismos são os mais apropriados para cada evento que se queira tachar de participativo. Isso porque determinadas ocasiões que envolvem a decisão política nem mesmo parecem adequadas para contarem com a participação os cidadãos, tornando-a desnecessária ou desaconselhável. Assim, sugere-se que as ferramentas emprega- das sejam adotadas levando-se em conta o contexto nas quais deverão atuar. Conclusão A cada sociedade democrática corresponde um desenho de Estado caracterizado por certas especificidades. Ou seja, mes- mo possuindo aspectos em comum, os desenhos institucionais que servem a determinadas democracias admitem contornos excepcionais, sendo tais pontos similares e divergentes aqueles a conformarem, de modo ímpar, a configuração de cada Estado. Isso ocorre porque sociedades diferentes lidam com particula- ridades contextuais ou enfrentam dificuldades específicas, por conta de suas tradições, valores, costumes, condições socioeco- nômicas, dentre outros fatores. Após esta constatação inicial, o trabalho procurou avaliar os modos por meio dos quais o desenho institucional do Estado reverbera sobre as práticas democráticas. Assim, passou-se ao exame das potencialidades, dos limites e dos efeitos da confi- guração institucional para direcionar o jogo político. A maneira pela qual as instituições se dispõem é fundamental para, por exemplo, influenciar as mobilizações e manifestações políticas que têm origem na esfera civil. Porém, apontou-se que, não obs- tante sua importância, o desenho de Estado não é o único fator a atuar sobre tais práticas. Outros fatores, como a cultura cívica e a realidade socioeconômica das sociedades, devem ser levados em consideração. Observando tal conjunto de fatores, o artigo se aprofun- dou na investigação acerca dos modos de se aperfeiçoar as prá- ticas democráticas (notadamente aquelas voltadas para a parti- cipação), a partir do redesenho institucional. Sustentou-se que, se a intenção é aprofundar os mecanismos de interferência e controle da esfera civil, qualquer alternativa plausível nesse sen- tido deverá envolver uma reestruturação do papel dos cidadãos no jogo político por meio de modificações institucionais. Desta forma, a oferta de mecanismos participativos deve ser pensada dentro de uma proposta mais ampla de redesenho das instituições do Estado. A consecução deste redesenho será facilitada, acredita-se, na medida em que os agentes responsá- veis por levar à frente tal projeto reflitam sobre a necessidade de se fomentar a participação a partir de um programa de ati- vidades cujo intento seja: (a) reforçar o repertório informacio- nal e de habilidades políticas dos cidadãos, (b) motivá-los a se envolverem no jogo democrático e (c) tornar disponíveis canais de input adequados. Em outras palavras, para que o processo participativo de feições institucionais seja pensado de forma in- tegral, é importante não apenas elaborar e oferecer mecanismos
  • 11. 150 Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 Participação política e desenho institucional: uma proposta para a concepção de mecanismos participativos de input, mas, também, possibilitar que os cidadãos se sintam motivados a empregar tais recursos e que façam um uso apro- priado e proveitoso destes artifícios. Deve-se atentar para o fato de que a configuração do desenho institucional não é uma tarefa puramente administra- tiva ou técnica, mas que, na verdade, carrega fortes componen- tes políticos. Ou seja, é preciso considerar a força de interesses políticos quando da formatação destes mecanismos, bem como as resistências quanto, por exemplo, ao compartilhamento de poder por parte dos representantes.9 Além disso, conforme ar- gumenta Pettit (1996), deve-se assumir que o próprio processo de redesenho dos recursos de participação deve contar com a interferência dos cidadãos. Por último, ressalta-se que a inquietação de fundo a in- centivar o estudo das possibilidades e das iniciativas institucionais de participação não pode se limitar ao tema da oferta de mecanis- mos de participação. São necessários, ainda, estudos complemen- tares que forneçam respostas para perguntas atinentes ao escopo e à efetividade da participação, participação acerca de que temas, em que cenários e em que ocasiões, e participação de quem. Tais dimensões precisam ser vistas de forma complementar para que se compreenda e se aperfeiçoe a participação política dos cidadãos. Referências ABERS, R. 2000. Inventing local democracy: Grassroots politics in Bra- zil. Boulder, Lynne Rienner Publishers, 288 p. ALMOND, G.; VERBA, S. 1963. The civic culture: Political attitudes and democracy in five nations. Princeton, Princeton University Press, 562 p. ALTHAUS, S. 1998. Information effects in collective preferences. Ameri- can Political Science Review, 92(3):545-558. http://dx.doi.org/10.2307/2585480 AVRITZER, L. 2008. Instituições participativas e desenho institucional: algumas considerações sobre a variação da participação no Brasil de- mocrático. Opinião Pública, 14(1):43-64. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-62762008000100002 BAIOCCHI, G. 2001. Participation, activism and politics: The Porto Alegre experiment and deliberative democracy theory. Politics & Society, 29(1):43-72. http://dx.doi.org/10.1177/0032329201029001003 BARBER, B. 2004. Strong democracy: Participatory politics for a new age. Berkeley, University of California Press, 356 p. BOBBIO, N. 2000. O futuro da democracia. 9ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 171 p. BOHMAN, J. 1996. Public deliberation: Pluralism, complexity and de- mocracy. Cambridge, MIT Press, 303 p. BRENNAN, G.; HAMLIN, A. 2000. Democratic devices and desires. Cam- bridge, Cambridge University Press, 267 p. http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511490194 BURKHALTER, S.; GASTIL, J.; KELSHAW, T. 2002. A conceptual defini- tion and theoretical model of public deliberation in small face-to-face groups. Communication Theory, 12:398-422. CARVALHO, J.M. 2003. Cidadania na encruzilhada. In: N. BIGNOTTO (org.), Pensar a república. Belo Horizonte, Editora UFMG, p.105-130. CHAMBERS, S. 2004. Democracy, popular sovereignty, and constitu- tional legitimacy. Constellations, 11(2):153-173. http://dx.doi.org/10.1111/j.1351-0487.2004.0370.x COELHO, V.S. 2007. A democratização dos Conselhos de Saúde: o para- doxo de atrair não aliados. Novos estudos - CEBRAP, 78. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 33002007000200009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 19/01/2008. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002007000200009 CREIGHTON, J.L. 2005. The public participation handbook: Making better decisions through citizen involvement. San Fransisco, Jossey-Bass, 261 p. DAHL, R. 2001. Sobre a democracia. Brasília, Universidade de Brasília, 232 p. DAHL, R.; SHAPIRO, I.; CHEIBUB, J. (eds). 2003. The democracy source- book. Cambridge, MIT Press, 556 p. DELLI CARPINI, M. 2000. Gen.com: Youth, civic engagement, and the new information environment. Political Communication, 17(4): 341-349. http://dx.doi.org/10.1080/10584600050178942 DELLI CARPINI, M.; KEETER, S. 1996. What Americans know about poli- tics and why it matters. New Haven, Yale University Press, 397 p. DRYZEK, J. 2000. Deliberative democracy and beyond: Liberals, critics, contestation. Oxford, Oxford University Press, 195 p. DRYZEK, J.; TORGERSON, D. 1993 Democracy and the policy sciences: A progress report. Policy Sciences, 26(3):127-37. http://dx.doi.org/10.1007/BF00999713 FERNANDES, F. 1976. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de inter- pretação sociológica. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 504 p. FISHKIN, J.; LASLETT, P. 2003. Introduction. In: J. FISHKIN; P. LASLETT (eds.), Debating Deliberative Democracy. Malden, Blackwell, p. 1-6 http://dx.doi.org/10.1002/9780470690734.ch FISHKIN, J.; LUSKIN R. 1999. Bringing deliberation to the democratic dialogue: The NIC and beyond. In: M. MCCOMBS; A. REYNOLDS, A poll with a human face: The national issues convention experiment in po- litical communication. New York, Erlbaum, p. 30-38. FISHKIN, J.S. 2002. Possibilidades democráticas virtuais: perspecti- vas da democracia via internet. In: J. EISENBERG; M. CEPIK (orgs.), Internet e Política: teoria e prática da democracia eletrônica. Belo Horizonte, Editora UFMG, p. 17-45. FREY, K. 2003. Desenvolvimento sustentável local na sociedade em rede: o potencial das novas tecnologias de informação e comunicação. Re- vista de Sociologia e Poítica, 21. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782003000200011&lng=p t&nrm=iso. Acesso em: 26/01/2008. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782003000200011 FUNG, A.; WRIGHT, E. 2001. Deepening democracy: Innovations in em- powered participatory governance. Politics and Society, 29(1):5-41. http://dx.doi.org/10.1177/0032329201029001002 GASTIL, J. 2000. By popular demand: Revitalizing representative de- mocracy through deliberative elections. Berkeley, University of Califor- nia Press, 267 p. GILENS, M. 2000. Political Ignorance and American Democracy. Paper read at Midwest Political Science Association Meeting, at Chicago, IL. s/d. GOMES, W. 2007. Democracia digital: que democracia? In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM COMUNICAÇÃO E POLÍTICA, II, Belo Horizonte, 2007. Anais... Belo Horizonte, UFMG, s/d. 9 De acordo com Lijphart e Weisman (1996, p. 244, tradução própria): “[...] o interesse político particular, aquele tanto dos políticos quanto de seus partidos, é a motivação dominante por trás da escolha dos desenhos institucionais. E estes políticos não são apenas interesseiros, mas, também, pensam a curto prazo [...]”.
  • 12. Ciências Sociais Unisinos, São Leopoldo, Vol. 46, N. 2, p. 140-151, mai/ago 2010 151 Francisco Paulo Jamil Almeida Marques GOODIN, R. 1996. The theory of institutional design. Cambridge, Cam- bridge University Press, 304 p. GUTMANN, A.; THOMPSON, D. 1996. Democracy and disagreement. Cambridge, Harvard University Press, 432 p. HABERMAS, J. 1997. Direito e democracia: entre faticidade e validade. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, vol. II, 356 p. HELD, D. 1987. Models of democracy. Stanford, Stanford University Press, 321 p. HELMKE, G.; LEVITSKY, S. (eds.). 2006. Informal institutions and democ- racy: Lessons from Latin America. Baltimore, John Hopkins University Press, 368 p. LIJPHART, A.; WEISMAN, C. (eds). 1996. Institutional design in new demo- cracies: Eastern Europe and Latin America. Boulder, Westview Press, 288 p. LINZ, J.J.; VALENZUELA, A. (eds.). 1994. The failure of presidential de- mocracy. Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 192 p. MANIN, B. 1997. The principles of representative government. Cam- bridge, Cambridge University Press, 243 p. http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511659935 MARQUES, F.P.J.A. 2008. Participação política e internet: meios e opor- tunidades digitais de participação civil na democracia contemporânea, com um estudo do caso brasileiro. Salvador, BA. Tese de Doutorado. Universidade Federal da Bahia, 498 p. MILL, J.S. 2001. Considerations on representative government. Boston, Adamant Media Corporation, 212 p. MIOLA, E. 2009. Radiodifusão pública e participação deliberativa: um estudo das características e dos modos de atuação do Conselho De- liberativo da Fundação Cultural Piratini. Salvador, BA. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Bahia, 195 p. NOBRE, M. 2004. Participação e deliberação na teoria democrática: uma introdução. In: V. COELHO; M. NOBRE, Participação e deliberação: teo- ria democrática e experiências institucionais no Brasil contemporâneo. São Paulo, Editora 34, p. 21-40. PATEMAN, C. 1992 [1970]. Participação e teoria democrática. São Pau- lo, Paz e Terra, 162 p. PETTIT, P. 1996. Institutional design and rational choice. In: R. GOODIN (ed.), The theory of institutional design. Cambridge, Cambridge Univer- sity Press, p. 54-89. PO, M.V.; ABRUCIO, F.L. 2006. Desenho e funcionamento dos mecanismos de controle e accountability das agências reguladoras brasileiras: seme- lhanças e diferenças. Revista de Administração Pública, 40(4). Disponí- vel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 76122006000400009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26/01/2008. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-76122006000400009 PUTNAM, R. 1993. Making democracy work: Civic traditions in modern Italy. Princeton, Princeton University Press, 280 p. RAWLS, J. 1999. A theory of justice. Cambridge, Harvard University Press, 538 p. SCHUDSON, M. 1995. A ‘esfera pública’ e os seus problemas - Re- introduzir a questão do Estado. Revista de Comunicação e Linguagens, 21-22:149-166. SEGALL, S. 2005. Political participation as an engine of social solidarity: A skeptical view. Political Studies, 53(2):362-378. http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-9248.2005.00533.x SKOCPOL, T. 2004. Diminished democracy: From membership to manage- ment in American civic life. Norman, University of Oklahoma Press, 366 p. STEINER, J.; BÄCHTIGER, A.; SPÖRNDLI M. 2001. The real world of de- liberation: Favourable conditions and substantive outcomes. In: ECPR GENERAL CONFERENCE, I, Canterbury, 2001. Anais... Canterbury, s/d. SUNSTEIN, C. 2001. Republic.com. Princeton, Princeton University Press, 224 p. VERBA, S.; BRADY, H.; SCHOLZMAN, K. 1995. Voice and equality: Civic vol- unteerism in American politics. Cambridge, Harvard University Press, 640 p. VITA, Á. 2004. Democracia deliberativa ou igualdade equitativa de oportunidades?. In: V.S. COELHO; M. NOBRE, (eds.), Participação e de- liberação: teoria democrática e experiências institucionais no Brasil contemporâneo. São Paulo, Editora 34, p. 107-130. WAMPLER, B.; AVRITZER, L. 2004. Participatory publics: civil society and new institutions in democratic Brazil. Comparative Politics, 36(3):291-312. http://dx.doi.org/10.2307/4150132 Submetido em: 22/09/2009 Aceito em: 21/02/2010