ALTAR DOS DIAS
Olhamos, assombrados. Olhamos e assalta-nos a incerteza da percepção, num desejo de
baixar as pálpebras. Olhamos assim, em instantes de cegueira, a sombra que nos esconde o
visível. Decidimos então não baixar a cabeça, não fechar os olhos, e os fantasmas desta
pintura, por vezes petrificados, por vezes renascendo em raízes de árvores tombadas,
iluminam-se dentro de nós, passando pela retina e selecionando-se no bloco cerebral da
visão, entre milhões de outras imagens decorrentes do que percepcionamos dia a dia,
porventura no fundo dos próprios sonhos.
De uma aparência por vezes sombria, esta arrebatadora pintura de Maria João Franco, aliás
como nos próprios desenhos, agrega em cada apresentação conjuntos de iluminações — um
intenso desejo de clarificar as metamorfoses interiores do ver e do ser, memória trágica e
romântica que emerge dos nervos sob a pele e se propaga num espaço feito de coisas quase
sempre inomináveis, indiciando diversas aparições do mundo, gente e bichos, corpos
aparentemente amputados ou de cabeças ao alto, talvez gritando, como que mostrando o
vale torturado antes da vida emergir dessa cova cósmica. Tudo parece lítico, modelado por
uma civilização pós apocalipse, mas o saber daquelas forças registadas na tela obriga-nos a
ressuscitar depois do próprio século XX. E então tudo se aproxima do olhar aberto, da obra
aberta, ainda que ligeiramente tocada por morfologias de algum Prometeu agrilhoado, de
algum Cristo crucificado, de algum Dilúvio capaz de arrancar quase todas as raízes da terra,
deixando-as escancaradas e de hastes ao alto. É verdade que esta visão parece não exprimir
a arte destroçada do século XX, essa colossal «soma de destruições», mas é daí e da Bíblia
relida que tudo se espalha por este mundo nocturno a crescer entre desastres para nos
atormentar um pouco ao jeito das obras aqui expostas, de ontem ou de hoje, denegando a
tecnologia de ponta e gritando, da dor dos cortes e das metamorfoses kafkianas, o medo do
colapso na contracção futura do Universo sobre si mesmo, até ao nada.
A inquietante paisagem que estes quadros formam entre si, agrupáveis por partes de
possíveis semelhanças morfológicas e gráficas, é uma espécie de memória do futuro, uma
forma humana fechada sobre si ou sentada em concha, na hora de um parto solitário; é
também a narrativa da crise social, farrapos de gente, enforcados suspensos do nada, cãos
ou lobos farejando por baixo; e a par dos riscos que reescrevem gestos, é ainda o indício
gráfico do grito ou do chamamento; depois (ou antes) os troncos tombados de árvores
centenárias, talvez petrificadas no espaço onde as rochas ficaram nuas, texturais,
endurecidas pela luz forte dos incêndios em volta.
Claro que a arte não explicada nada, nem mesmo quando ilustra as encenações do visível ou
retrata impossivelmente os santos que nunca existiram: ainda assim é dentro da sua
reinvenção das coisas e dos seres que podemos palpitar ao sentir as rasuras que nos fazem
prever o infinito ou nos inventam, a morte pelo homem na crucificação reformulada por
Grunewald: é desse universo que vem o futuro, com os seus mortos de ontem.
Rocha de Sousa /
Maria João Franco
www.mariajoaofranco.blogspot.com
https://www.facebook.com/pages/Maria-Jo%C3%A3o-Franco-artista-
pl%C3%A1stica/306966102394?ref=hl
franco.mariajoao@gmail.com
tm +351 919276762
Maria João Franco nasceu em Leiria em 1945.
Tem o curso de Pintura da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Frequentou o curso de Arquitectura de Belas Artes do Porto.
EXPOSIÇÕES COLECTIVAS participou em colectivas desde 1982 com destaque para:
1982- “Pequeno Formato”- SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes),Lisboa.
1983- “Pequeno Formato”- SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes),Lisboa.
“Artistas da SNBA”- Lisboa.
1984- “Exposição comemorativa do 10º Aniversário do 25 de Abril” , Lisboa
“Portugal em Abril”- Palácio da Cidadela , Cascais.
1984/85-“Homenagem dos Artistas Portugueses a Almada Negreiros” , Lisboa.
1985- “II Bienal Nacional de Desenho “- Cooperativa Arvore, Porto;
SNBA, Lisboa;
“Jovens Pintores” Galeria Almada Negreiros, Lisboa.
1986- “III Exposição de Artes Plásticas”- 30º Aniversário da Fundação
Calouste Gulbenkian , Lisboa.
1987- “IV Prémio da Grabado Maximo Ramos”- Ferrol/Corunha, Espanha;/ “IV Exposição de
Gravura”- Cooperativa de Gravadores Portugueses , Gravura/Fundação Calouste Gulbenkian –
Lisboa / Exposição de Gravura comemorativa do Ano Europeu do Ambiente – Portugal,
Espanha ;França, Inglaterra e Alemanha; / “Colectiva de Pintura”- Museu Grão Vasco./ “I
Concurso de Desenho Perez Villaamil”- Museu Municipal , Bello Piñero, Ferrol (Corunha),
Espanha; / “III Bienal Nacional de Desenho”- Cooperativa Arvore, Porto./ Colectiva da
Inauguração da Galeria VO- Lisboa.
1988- “Risco Inadiável”- ESBAL;/ Inauguração da Galeria Municipal de Vila Franca de Xira;/ “V
Prémio de Grabado Maximo Ramos”- Ferrol (Corunha), Espanha./ “Salão de Gravura Luso –
Brasileira” – Estoril;/ “MoMarte” – Vila do Conde;/ I Aniversário da Galeria VO –Lisboa ;/ “I
Bienal de Gravura da Amadora “ – C.M. Amadora, Galeria Municipal Amadora /Arvore , Porto;/
“II Concurso de Desenho Artístico Perez Villaamil” – Ferrol (Corunha), Espanha.
1989- “III Bienal de Escultura e Desenho das Caldas da Rainha”- Atelier Museu
António Duarte, Caldas da Rainha;/ “Mulheres Pintoras” – Galeria Municipal de Vila Franca de
Xira;/ “VII Prémio de Grabado Maximo Ramos” –Ferrol(Corunha) ,Espanha;/ “Colectiva de
Gravura” Galeria Municipal de Almada.
1990- “Colectiva de Pintura” - Galeria S. Francisco, Lisboa; / “Colectiva de Desenho”- Galeria S.
Francisco , Lisboa;
1990/91 – “Colectiva de Pintura no Aniversário da Morte de José Régio
Galeria Municipal de Portalegre.
1992- “Unidade e Conflito na Arte Contemporânea”- Galeria Municipal de Almada;/
“Arte Contemporânea” – Galeria Santa Justa, Lisboa;/ Galeria Quattro –Leiria.
1993- “4ª Bienal das Caldas da Rainha”- Galeria Quattro- Leiria.
.
1997- “I Bienal do Alentejo”- Beja, Vendas Novas;/ “I Salão de Arte Internacional da Moita”-
Moita;/ “X Bienal da Festa do Avante” – Lisboa; “25º Aniversário da A.P.D.” – Lisboa;/
Inauguração da Galeria 57 – Leiria.
1998- Colectiva de Pintores de Leiria – Galeria 57, Leiria;/Exposição no congresso de Sexologia
Clínica – Hospital Júlio de Matos , Lisboa;/ Desenho e Pintura Galeria Trema – Lisboa;/ II
Exposição do espólio da Câmara Municipal da Amadora.
1999 - “ArsMultiplica” Rheine ,Alemanha /Leiria , Portugal
2000- Colectiva “500 anos depois”- Galeria de exposições Hotel Meridian, Salvador da
Bahia ./ Galeria 57 – Leiria (com o alto patrocínio da presidência da República)/ Intercâmbio
Cultural Palácio das Artes, Belo Horizonte – galeria 57- Leiria;/ Aniversário da Galeria 57, Leiria
; / Colectiva da Galeria Trema – FAC (Feira de Arte Contemporânea), Lisboa;/ Colectiva de
Natal – Galeria 57, Leiria/ Colectiva Galeria 57 – Leiria –Exposalão, Batalha.
2001- Galeria Trema – Lisboa
2002- Galeria VO- Lisboa
2003- Galeria Perve –Lisboa
2005 - "universos femininos" Galeria Corrented'Arte –Lisboa / Feira de Arte Contemporânea-
Galeria SãoFrancisco - Lisboa
2007 – ART MADRID – Homenagem a Mário Cesariny – FEIRA DE ARTE
CONTEMPORÂNEA DE MADRID
2008- Colectiva de Verão do MAC-Movimento Arte Contemporânea-Lisboa;/Colectiva de verão
da Galeria São Mamede-Lisboa;/ Colectiva de Natal do MAC-Movimento Arte Contemporânea-
Lisboa
2009 - “8 MULHERES”- Fundação Oriente-Delegação de Macau-China/Galeria 57-Leiria-
Portugal;/ Kun St art 2009 ,Bolzano – Galeria 57,Leiria.Potugal/Bolzano-Itália;/ 13th Shanghai
Art Fair – Galeria 57 Leiria.Portugal/Shangai-China; / “A Arte não se mede aos palmos” – NUNO
SACRAMENTO – GaleriadeArte ;/Contemporânea-Aveiro-Portugal;/“ MAC’15ºAniversárioMAC-
Movimento Arte Contemporânea-Lisboa;/Colectiva de Verão – Galeria São Mamede - Lisboa
2010 - Galeria Patricia Muñoz - Sabadel -Barcelona / Espanha
2011 - Extempo Galeria Zero / Barcelona ESPANHA / Paris- ART AUTOMNE/ França
2012 – Arc 16 –inauguração das novas instalações – Faro
2013 - SEVEN, QUESTIONING IDENTITY – Instituto Politécnico de Viana do Castelo
2013 - "CORPO E CORPOS, TRANSGRESSÕES E NARRATIVAS" - MIMO MUSEU DA IMAGEM -
Leiria
2014 –Con(Tributos) da Liberdade a Joan Miró.– Perve Galeria (Casa da Liberdade
Mário Césarini)
EXPOSIÇÔES INDIVIDUAIS
1985-“A Galeria”, Cascais;
1987- “Casa de Bocage”, Setúbal;
1988- Galeria Voz do Operário , Lisboa;
Galeria Quattro , Leiria ;
Galeria S. Francisco, Lisboa.
1989- Galeria Quattro , Leiria.
1990 - Alfa Mixta , Lisboa; Galeria Municipal de Portalegre , Portalegre.
1991 - Galeria S. Francisco , Lisboa;
1993 - Convento do Baeto , Lisboa.
1994 – Galeria Quattro , Leiria.
1997 – “Um olhar de Pele” – Galeria Municipal da Amadora; Edifício Chiado, Coimbra;
“Memórias” – Inauguração da Casa Miguel Franco; “Estorias do Corpo”- Museu Municipal Dr.
Santos Rocha , Figueira da Foz.
1998 – “Novos Fragmentos” – Galeria Municipal Gymnasio , Lisboa;
1999 – “Corpos Estranhos” Galeria Trema, Lisboa; “Percursos”- Cooperativa Arvore , Porto;
“Tempo de o senso e o Ser” – Galeria 57, Leiria.
2004 – “Nós, os Nús e os outros objectos” – Galeria Perve – Lisboa. ;“ Lírica do nu entre as
sombras” – Galeria Sacramento – Aveiro
2005 –“lugar dos desencontros ou sítios da memória” – Espaço Chiado - Coimbra ;
"lugar dos desencontros ou sítios da memória"2 - Espaço Alfama - Lisboa
2005 - "tu vens tão perto que a distância existe" - Centro de Arte Contemporânea da Amadora
2006 - "MULHER E EU" - MAC- Movimento Arte Contemporânea –Lisboa
2007 – “ENCONTROS estorias…” - MAC Movimento Arte Contemporânea
2008- “Tu não aconteces quando eu te quero”
Museu da Água da EPAL-Lisboa ;MAC-Movimento Arte Contemporânea-Lisboa
2009-“não! não abro mão da minha maré” MAC-Movimento Arte Contemporânea-Lisboa
2010-“esta pele que dispo para nela te envolver” Galeria Municipal Artur Bual – Amadora
“o rio largo da minha memória” – ARC16 galeria – Faro
2012- “ no meu silêncio vejo-te em palavras” Edifício do Banco de Portugal – Leiria
2013- “bestiário AMOR e outros espantos” 57 Art Gallery – Viana do Castelo
2014- “O Motim” Casa do Infante – Porto
“Altar dos Dias” Arc 16 galeria - Faro
PRÉMIOS 1987 – Prémio de edição na “IV Exposição Nacional de Gravura” – Gravura/Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa; 1º Prémio do concurso de Gravura Integrado no Ano Europeu do
Ambiente Setúbal/Beauvais.
2006 – Prémio MAC Carreira 2006 – MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa 2007-
Prémio MAC Prestígio 2007 – MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa ;2008 - Prémio
MAC Prestígio 2008 – MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa ;Prémio MAC Pintura
2008 – MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa ;2009- Prémio MAC Prestígio2009 -
MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa;2010- Prémio MAC’Hilário Teixeira Lopes –
MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa ; Prémio MAC’2010 Colaboração e Divulgação
Cultural - MAC Movimento Arte Contemporânea – Lisboa
REPRESENTAÇÕES
Museu de Setúbal; Cooperativa dos Gravadores Portugueses, Gravura em Lisboa; Culturgest,
Lisboa;Museu Armindo Teixeira Lopes, Mirandela;Acervo da C.M. Lisboa, Coimbra, Amadora e
Abrantes;Teatro Miguel Franco, com painel alusivo à obra “O Motim”, daquele autor.Museu da
Água da EPAL, Lisboa;Colecções particulares em Portugal, Itália, Espanha, França, Suíça, Brasil,
EUA e Holanda
Em 1997 executou um cartão de tapeçaria para Manufactura de Tapeçaria de Portalegre
cujo primeiro exemplar foi oferecido pela Câmara Municipal de Portalegre ao então Presidente
da República Dr. Jorge Sampaio.
Em Maio de 2012 foi-lhe atribuída a Medalha de Prata da Cidade de Leiria
Actualizado em 4 de junho de 2014