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A ATUALIDADE DA EMERGÊNCIA FASCISTA BRASILEIRA
“Lá vem os eleitores, em massa; deram cem por cento
dos votos a quem os torturam. Não têm pão, não têm
manteiga, não têm casacos.
Votaram no führer”
Terror e Miséria no III Reich
Bertolt Brecht
“Não, de forma alguma o fascismo é a vingança da burguesia contra o levante militante do
proletariado. Em termos históricos, visto de forma objetiva, o fascismo apresenta-se muito mais
como uma punição pelo fato de que o proletariado não tenha sustentado e aprofundado a
revolução que foi iniciada na Rússia. E a base do fascismo não repousa sobre uma pequena casta,
mas em amplas camadas sociais, grandes massas, inclusive o proletariado. Devemos entender essas
diferenças essenciais se quisermos lidar com o fascismo de forma bem sucedida. Meios militares,
por si só, não poderão subjugá-lo, se puder usar esse termo; é necessário combatê-lo até sua
queda também política e ideologicamente”
Clara Zetkin.
O filósofo político Gianni Fresu, em Fronteiras do Ocidente, apresenta os três principais campos de
interpretação do fascismo:
1. O fascismo é resultante de uma doença moral europeia que se instala quando a Primeira
Guerra Mundial põe por terra a crença que norteava a burguesia do velho continente de que
sua civilização era a mais sofisticada e avançada do mundo. O fascismo teria surgido, então,
de um sentimento de frustração e desamparo que emergiu dos escombros das cidades
bombardeadas e dos corpos mutilados;
2. O fascismo é um expediente autoritário de Estados atrasados na concorrência internacional
capitalista. O autoritarismo seria, dessa maneira, um instrumento de aceleração necessário
para colocar tais nações pari passu àquelas já em pleno desenvolvimento graças à realização
de suas revoluções burguesas alguns séculos antes.
3. O fascismo é um processo comum às determinações do desenvolvimento do sistema
capitalista.
Problemas para uma teoria do fascismo:
“...assim, a ressurgência do fascismo nos obriga a lançar mais de um novo arsenal teórico e de novos
métodos que possam explicar as duas marés fascistas (anos 20/30 e anos 90) ocorridas em nosso
século e, mesmo, unificar a teoria explicativa do fascismo, pensando-o em termos mais
fenomenológicos, enquanto modelo de reação, organização e participação de amplas camadas
populares nas modernas sociedades industriais ou em transição à industrialização, e muito menos em
fenômeno específico da história alemã ou italiana dos anos 20.”
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. “Os fascismos.” O século
XX, vol. II, Civilização Brasileira, 2005, pp. 109-163.
Os desdobramentos históricos recentes nos obrigam a aceitar o desafio de pensarmos acerca da
natureza do fascismo.
No entanto,
Cada explicação que se coloca se posiciona a partir de um complexo político-científico que nem
sempre escapa ao calor do momento ou às amarras de determinadas leituras político-partidárias.
Há ainda muita dificuldade em lidar com uma proposta de entendimento sobre o fascismo que seja
atualizada, fazendo com que as novas leituras busquem, em muitas ocasiões, conexões, muitas vezes
mecânicas, com as experiências históricas.
A dificuldade em lidar com a ideia de lutas de classes para além do imediato faz com que o
entendimento do fascismo seja, em muitas ocasiões, superficial e dicotômico.
Premissas:
1. Buscar explicação que escape de formalismos (conceitos abstratos, tipos-ideais, modelos fechados
etc);
2. Observar o fascismo em seu movimento histórico-político-cultural-econômico;
3. Compreender o fascismo para além de fenômenos isolados, mas percebendo as conexões que se
estabelecem entre as diversas experiências históricas;
4. Compreender suas atualizações a partir dos contextos históricos.
Determinações de pesquisa:
1. O fascismo é uma forma-política que emerge com a ascensão da burguesia, portanto, deve ser
estudado em longa duração;
2. O fascismo é uma forma-política inerentemente conectado ao imperialismo, portanto, só pode ser
entendido em sua abrangência geopolítica;
3. O fascismo é uma forma-política que opera com as camadas mais profundas do regressismo
burguês, portanto, tem uma natureza cultural que deve ser observada.
4. Localizar o fascismo na LUTA DE CLASSES, no ESPAÇO e no TEMPO.
Entendimentos iniciais:
1. Forma-política;
3. Dicotomia entre ECONOMIA x POLÍTICA;
4. O fascismo é a expressão política da pequena-burguesia;
5. O fascismo só pode emergir em momentos de crises complexas (situação fascista);
6. O fascismo manipula camadas profundas da cultura.
Emergência das burguesias enquanto classe.
- Formação de novas relações societárias;
- Divisão entre burguesia e pequena-burguesia;
- Luta contra o absolutismo;
- Revoluções burguesas / formação do Estado moderno;
- Formação do operariado;
- Reversão contrarrevolucionária (regressismos), ideologias e hegemonias formando
mentalidades;
- Imperialismo.
Imperialismo:
- Enfraquecimento da pequena-burguesia;
- Hegemonia da burguesia transnacional;
- Acirramento das lutas de classes e crises.
Crises:
- Impossibilidade de resolução, seja por parte dos representantes da burguesia ou da
classe trabalhadora;
- Possibilidade de emergência de representantes políticos da extrema-direita / fascismo;
- Forma-fascismo acessa camadas profundas da cultura para legitimar-se politicamente,
meio pelo qual consegue arregimentar amplos setores das demais classes.
A questão da cultura / fascismo como projeto político - cultural:
- Cultura comum (Raymond Williams) aspectos conservadores e contribuições para
avanço;
- Mentalidade colonial / patriarcalismo;
- cultura de massas.
‘FASCISMO’
FASCISMO é um forma-política que promove o agenciamento político da população por meio do
medo/insegurança/desamparo social historicamente construído nos marcos do
capitalismo/imperialismo. O ambiente político para as emergências fascistas são os momentos de
crises agudas da política e da economia nos marcos do imperialismo, tendo por centralidade a
pequena-burguesia.

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Sentença Prefeitura Urupá 7000515-69.2015.8.22.0011
 

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  • 1. A ATUALIDADE DA EMERGÊNCIA FASCISTA BRASILEIRA
  • 2. “Lá vem os eleitores, em massa; deram cem por cento dos votos a quem os torturam. Não têm pão, não têm manteiga, não têm casacos. Votaram no führer” Terror e Miséria no III Reich Bertolt Brecht
  • 3. “Não, de forma alguma o fascismo é a vingança da burguesia contra o levante militante do proletariado. Em termos históricos, visto de forma objetiva, o fascismo apresenta-se muito mais como uma punição pelo fato de que o proletariado não tenha sustentado e aprofundado a revolução que foi iniciada na Rússia. E a base do fascismo não repousa sobre uma pequena casta, mas em amplas camadas sociais, grandes massas, inclusive o proletariado. Devemos entender essas diferenças essenciais se quisermos lidar com o fascismo de forma bem sucedida. Meios militares, por si só, não poderão subjugá-lo, se puder usar esse termo; é necessário combatê-lo até sua queda também política e ideologicamente” Clara Zetkin.
  • 4. O filósofo político Gianni Fresu, em Fronteiras do Ocidente, apresenta os três principais campos de interpretação do fascismo: 1. O fascismo é resultante de uma doença moral europeia que se instala quando a Primeira Guerra Mundial põe por terra a crença que norteava a burguesia do velho continente de que sua civilização era a mais sofisticada e avançada do mundo. O fascismo teria surgido, então, de um sentimento de frustração e desamparo que emergiu dos escombros das cidades bombardeadas e dos corpos mutilados; 2. O fascismo é um expediente autoritário de Estados atrasados na concorrência internacional capitalista. O autoritarismo seria, dessa maneira, um instrumento de aceleração necessário para colocar tais nações pari passu àquelas já em pleno desenvolvimento graças à realização de suas revoluções burguesas alguns séculos antes. 3. O fascismo é um processo comum às determinações do desenvolvimento do sistema capitalista. Problemas para uma teoria do fascismo:
  • 5. “...assim, a ressurgência do fascismo nos obriga a lançar mais de um novo arsenal teórico e de novos métodos que possam explicar as duas marés fascistas (anos 20/30 e anos 90) ocorridas em nosso século e, mesmo, unificar a teoria explicativa do fascismo, pensando-o em termos mais fenomenológicos, enquanto modelo de reação, organização e participação de amplas camadas populares nas modernas sociedades industriais ou em transição à industrialização, e muito menos em fenômeno específico da história alemã ou italiana dos anos 20.” SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. “Os fascismos.” O século XX, vol. II, Civilização Brasileira, 2005, pp. 109-163.
  • 6. Os desdobramentos históricos recentes nos obrigam a aceitar o desafio de pensarmos acerca da natureza do fascismo. No entanto, Cada explicação que se coloca se posiciona a partir de um complexo político-científico que nem sempre escapa ao calor do momento ou às amarras de determinadas leituras político-partidárias. Há ainda muita dificuldade em lidar com uma proposta de entendimento sobre o fascismo que seja atualizada, fazendo com que as novas leituras busquem, em muitas ocasiões, conexões, muitas vezes mecânicas, com as experiências históricas. A dificuldade em lidar com a ideia de lutas de classes para além do imediato faz com que o entendimento do fascismo seja, em muitas ocasiões, superficial e dicotômico.
  • 7. Premissas: 1. Buscar explicação que escape de formalismos (conceitos abstratos, tipos-ideais, modelos fechados etc); 2. Observar o fascismo em seu movimento histórico-político-cultural-econômico; 3. Compreender o fascismo para além de fenômenos isolados, mas percebendo as conexões que se estabelecem entre as diversas experiências históricas; 4. Compreender suas atualizações a partir dos contextos históricos.
  • 8. Determinações de pesquisa: 1. O fascismo é uma forma-política que emerge com a ascensão da burguesia, portanto, deve ser estudado em longa duração; 2. O fascismo é uma forma-política inerentemente conectado ao imperialismo, portanto, só pode ser entendido em sua abrangência geopolítica; 3. O fascismo é uma forma-política que opera com as camadas mais profundas do regressismo burguês, portanto, tem uma natureza cultural que deve ser observada. 4. Localizar o fascismo na LUTA DE CLASSES, no ESPAÇO e no TEMPO.
  • 9. Entendimentos iniciais: 1. Forma-política; 3. Dicotomia entre ECONOMIA x POLÍTICA; 4. O fascismo é a expressão política da pequena-burguesia; 5. O fascismo só pode emergir em momentos de crises complexas (situação fascista); 6. O fascismo manipula camadas profundas da cultura.
  • 10. Emergência das burguesias enquanto classe. - Formação de novas relações societárias; - Divisão entre burguesia e pequena-burguesia; - Luta contra o absolutismo; - Revoluções burguesas / formação do Estado moderno; - Formação do operariado; - Reversão contrarrevolucionária (regressismos), ideologias e hegemonias formando mentalidades; - Imperialismo.
  • 11. Imperialismo: - Enfraquecimento da pequena-burguesia; - Hegemonia da burguesia transnacional; - Acirramento das lutas de classes e crises. Crises: - Impossibilidade de resolução, seja por parte dos representantes da burguesia ou da classe trabalhadora; - Possibilidade de emergência de representantes políticos da extrema-direita / fascismo; - Forma-fascismo acessa camadas profundas da cultura para legitimar-se politicamente, meio pelo qual consegue arregimentar amplos setores das demais classes.
  • 12. A questão da cultura / fascismo como projeto político - cultural: - Cultura comum (Raymond Williams) aspectos conservadores e contribuições para avanço; - Mentalidade colonial / patriarcalismo; - cultura de massas.
  • 13. ‘FASCISMO’ FASCISMO é um forma-política que promove o agenciamento político da população por meio do medo/insegurança/desamparo social historicamente construído nos marcos do capitalismo/imperialismo. O ambiente político para as emergências fascistas são os momentos de crises agudas da política e da economia nos marcos do imperialismo, tendo por centralidade a pequena-burguesia.