2. “Lá vem os eleitores, em massa; deram cem por cento
dos votos a quem os torturam. Não têm pão, não têm
manteiga, não têm casacos.
Votaram no führer”
Terror e Miséria no III Reich
Bertolt Brecht
3. “Não, de forma alguma o fascismo é a vingança da burguesia contra o levante militante do
proletariado. Em termos históricos, visto de forma objetiva, o fascismo apresenta-se muito mais
como uma punição pelo fato de que o proletariado não tenha sustentado e aprofundado a
revolução que foi iniciada na Rússia. E a base do fascismo não repousa sobre uma pequena casta,
mas em amplas camadas sociais, grandes massas, inclusive o proletariado. Devemos entender essas
diferenças essenciais se quisermos lidar com o fascismo de forma bem sucedida. Meios militares,
por si só, não poderão subjugá-lo, se puder usar esse termo; é necessário combatê-lo até sua
queda também política e ideologicamente”
Clara Zetkin.
4. O filósofo político Gianni Fresu, em Fronteiras do Ocidente, apresenta os três principais campos de
interpretação do fascismo:
1. O fascismo é resultante de uma doença moral europeia que se instala quando a Primeira
Guerra Mundial põe por terra a crença que norteava a burguesia do velho continente de que
sua civilização era a mais sofisticada e avançada do mundo. O fascismo teria surgido, então,
de um sentimento de frustração e desamparo que emergiu dos escombros das cidades
bombardeadas e dos corpos mutilados;
2. O fascismo é um expediente autoritário de Estados atrasados na concorrência internacional
capitalista. O autoritarismo seria, dessa maneira, um instrumento de aceleração necessário
para colocar tais nações pari passu àquelas já em pleno desenvolvimento graças à realização
de suas revoluções burguesas alguns séculos antes.
3. O fascismo é um processo comum às determinações do desenvolvimento do sistema
capitalista.
Problemas para uma teoria do fascismo:
5. “...assim, a ressurgência do fascismo nos obriga a lançar mais de um novo arsenal teórico e de novos
métodos que possam explicar as duas marés fascistas (anos 20/30 e anos 90) ocorridas em nosso
século e, mesmo, unificar a teoria explicativa do fascismo, pensando-o em termos mais
fenomenológicos, enquanto modelo de reação, organização e participação de amplas camadas
populares nas modernas sociedades industriais ou em transição à industrialização, e muito menos em
fenômeno específico da história alemã ou italiana dos anos 20.”
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. “Os fascismos.” O século
XX, vol. II, Civilização Brasileira, 2005, pp. 109-163.
6. Os desdobramentos históricos recentes nos obrigam a aceitar o desafio de pensarmos acerca da
natureza do fascismo.
No entanto,
Cada explicação que se coloca se posiciona a partir de um complexo político-científico que nem
sempre escapa ao calor do momento ou às amarras de determinadas leituras político-partidárias.
Há ainda muita dificuldade em lidar com uma proposta de entendimento sobre o fascismo que seja
atualizada, fazendo com que as novas leituras busquem, em muitas ocasiões, conexões, muitas vezes
mecânicas, com as experiências históricas.
A dificuldade em lidar com a ideia de lutas de classes para além do imediato faz com que o
entendimento do fascismo seja, em muitas ocasiões, superficial e dicotômico.
7. Premissas:
1. Buscar explicação que escape de formalismos (conceitos abstratos, tipos-ideais, modelos fechados
etc);
2. Observar o fascismo em seu movimento histórico-político-cultural-econômico;
3. Compreender o fascismo para além de fenômenos isolados, mas percebendo as conexões que se
estabelecem entre as diversas experiências históricas;
4. Compreender suas atualizações a partir dos contextos históricos.
8. Determinações de pesquisa:
1. O fascismo é uma forma-política que emerge com a ascensão da burguesia, portanto, deve ser
estudado em longa duração;
2. O fascismo é uma forma-política inerentemente conectado ao imperialismo, portanto, só pode ser
entendido em sua abrangência geopolítica;
3. O fascismo é uma forma-política que opera com as camadas mais profundas do regressismo
burguês, portanto, tem uma natureza cultural que deve ser observada.
4. Localizar o fascismo na LUTA DE CLASSES, no ESPAÇO e no TEMPO.
9. Entendimentos iniciais:
1. Forma-política;
3. Dicotomia entre ECONOMIA x POLÍTICA;
4. O fascismo é a expressão política da pequena-burguesia;
5. O fascismo só pode emergir em momentos de crises complexas (situação fascista);
6. O fascismo manipula camadas profundas da cultura.
10. Emergência das burguesias enquanto classe.
- Formação de novas relações societárias;
- Divisão entre burguesia e pequena-burguesia;
- Luta contra o absolutismo;
- Revoluções burguesas / formação do Estado moderno;
- Formação do operariado;
- Reversão contrarrevolucionária (regressismos), ideologias e hegemonias formando
mentalidades;
- Imperialismo.
11. Imperialismo:
- Enfraquecimento da pequena-burguesia;
- Hegemonia da burguesia transnacional;
- Acirramento das lutas de classes e crises.
Crises:
- Impossibilidade de resolução, seja por parte dos representantes da burguesia ou da
classe trabalhadora;
- Possibilidade de emergência de representantes políticos da extrema-direita / fascismo;
- Forma-fascismo acessa camadas profundas da cultura para legitimar-se politicamente,
meio pelo qual consegue arregimentar amplos setores das demais classes.
12. A questão da cultura / fascismo como projeto político - cultural:
- Cultura comum (Raymond Williams) aspectos conservadores e contribuições para
avanço;
- Mentalidade colonial / patriarcalismo;
- cultura de massas.
13. ‘FASCISMO’
FASCISMO é um forma-política que promove o agenciamento político da população por meio do
medo/insegurança/desamparo social historicamente construído nos marcos do
capitalismo/imperialismo. O ambiente político para as emergências fascistas são os momentos de
crises agudas da política e da economia nos marcos do imperialismo, tendo por centralidade a
pequena-burguesia.