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Teoria do Turismo
Conceitos, Modelos e Sistemas
Guilherme Lohmann
Alexandre Panosso Netto
7
Sumário
Apresentação..................................................................................................... 13
Seção 1: Teorias, Sistemas e Modelos
Epistemologia do Turismo ........................................................................... 19
Teoria Geral de Sistemas e Turismo............................................................. 26
Cuervo, Sistema Turístico de........................................................................ 30
Leiper, Sistema Turístico de ......................................................................... 33
Krippendorf, Modelo Existencial da Sociedade Industrial de................... 37
Jafari, Modelo Interdisciplinar de................................................................ 42
Molina, Sistema Turístico de........................................................................ 47
Beni, Sistema Turístico de ............................................................................ 50
Boullón, Teoria do Espaço Turístico de....................................................... 56
Seção 2: Conceitos
Hospitalidade................................................................................................ 67
Lazer............................................................................................................... 73
Entretenimento............................................................................................. 79
Recreação....................................................................................................... 83
Turismo e Viagem.......................................................................................... 89
Alimentos e Bebidas (A&B)............................................................................ 92
Eventos........................................................................................................... 98
Paisagem........................................................................................................ 103
Seção 3: Disciplinas
Organismos de Turismo ............................................................................... 115
Política Pública de Turismo.......................................................................... 121
Planejamento Turístico................................................................................. 129
Legislação Turística....................................................................................... 137
Pós-modernidade e Turismo........................................................................ 145
8
Teoria do Turismo
Marketing Turístico....................................................................................... 151
Segmentação do Turismo............................................................................. 164
Mercado Turístico ......................................................................................... 176
Cluster de Turismo........................................................................................ 184
Qualidade dos Serviços (SERVQUAL)............................................................. 195
Yield Management (Gerenciamento de Receitas) ...................................... 199
Impactos Positivos e Negativos do Turismo ............................................... 206
Efeito Multiplicador do Turismo.................................................................. 221
Conta Satélite do Turismo............................................................................ 230
Balança Comercial do Turismo.................................................................... 233
Seção 4: O Turista
Demanda Turística........................................................................................ 237
Fatores Determinantes e Motivadores ........................................................ 242
Iso-Ahola, Modelo da Psicologia Social do Turismo de ............................. 245
Crompton, Modelo de Escolha de Destinos de .......................................... 249
Schmöll, Modelo de Escolha do Consumidor de Turismo de ................... 252
Urry, Teoria do “Olhar do Turista” de........................................................... 254
Plog, Sistema Psicográfico de....................................................................... 258
Cohen, Tipologia de Viajantes de................................................................. 265
Smith, Classificação de Turista de ............................................................... 269
Gray, Tipologia do Turismo de ..................................................................... 272
Wickens, Tipologia do Turista de................................................................. 277
Klenosky & Gitelson, Modelo Conceitual de............................................... 280
Seção 5: Intermediação, Distribuição e Viagem
Canais de Distribuição em Turismo ............................................................ 285
Agências de Viagens e Operadoras Turísticas............................................. 293
Sistemas de Reserva por Computador (CRS)............................................... 305
Mariot, Modelo de Fluxos Turísticos de ...................................................... 313
Campbell, Modelo de Viagens Recreativas e Excursionistas de................ 315
Modelo de Padrões de Viagem Multidestinos............................................. 318
Oppermann, Modelo de Itinerários de Viagem de..................................... 321
Defert, Índice de Função Turística de ......................................................... 324
Índice de Viagem........................................................................................... 327
Transportes.................................................................................................... 330
Funções Nodais............................................................................................. 337
9
Sumário
Seção 6: O Destino Turístico
Destino Turístico........................................................................................... 347
Imagem de um Destino Turístico ................................................................ 350
Butler, Modelo de (Ciclo de Vida de um Destino Turístico)....................... 357
Prideaux, Espectro do Desenvolvimento de Resort de............................... 362
Resorts ............................................................................................................ 367
Oferta Turística.............................................................................................. 369
Custos e Preços dos Produtos e Serviços Turísticos ................................... 375
Infra-estrutura Turística ............................................................................... 381
Serviços e Equipamentos Turísticos............................................................ 387
Atração Turística ........................................................................................... 390
Gunn, Modelo de Atração Turística de........................................................ 396
Meios de Hospedagem ................................................................................. 399
Produtividade no Setor Hoteleiro................................................................ 411
Residências Secundárias .............................................................................. 415
Capacidade de Carga.................................................................................... 420
Sazonalidade ................................................................................................. 428
Patrimônio Cultural...................................................................................... 431
Zoneamento Turístico .................................................................................. 441
Referências bibliográficas ............................................................................... 447
Índice de lugares............................................................................................... 467
Índice de autores .............................................................................................. 473
Índice remissivo................................................................................................ 479
19
Teoria do conhecimento e gnosiologia são sinônimos de epistemologia.
Sua raiz etimológica está no grego, onde gnosis é conhecimento e ciência, e lo-
gia é estudo e discurso ordenado. Portanto, resumidamente, epistemologia é o
estudo do conhecimento.
Epistemologia do turismo é um assunto que ganhou importância nos es-
tudos turísticos somente na década de 1990. Isso se deve ao fato de que, em
sua maioria, os investigadores da área estavam mais interessados em ques-
tões práticas da atividade, como gestão, planejamento e políticas públicas,
entre outros. A epistemologia nasceu da filosofia; entretanto, a maioria dos fi-
lósofos não se interessa pelos estudos turísticos, pois, como afirmou Comic
(1989), eles estão preocupados com outros temas mais importantes que o tu-
rismo; daí origina-se também a relativa escassez de publicações sobre esse as-
sunto.
Entre as perguntas feitas pela epistemologia do turismo, estão as seguin-
tes: o que se pode conhecer em turismo? Como é produzido o conhecimento
em turismo? O conhecimento em turismo é possível? Pode o conhecimento
produzido em turismo ser verdadeiro? Como se dá a apreensão do conheci-
mento em turismo pelo sujeito pensante? Por que se conhecem algumas coisas
em turismo e outras, não? Até onde vai o campo de estudos do turismo? Quais
são os limites do conhecimento produzido em turismo? Pela relação de per-
guntas acima, é possível perceber que a epistemologia questiona os alicerces
teóricos e as questões fundamentais sobre o conhecimento de determinado as-
sunto, não pairando sobre aspectos superficiais e pseudocientíficos.
Para se fazer epistemologia do turismo, é necessária uma reflexão séria
acerca do problema proposto. Segundo Bunge (1980), para ser útil, a epistemo-
logia deve ter as seguintes condições:
• referir-se à ciência propriamente dita, não à imagem pueril e, às vezes,
até caricata, tomada de livros-texto elementares;
Epistemologia do Turismo
20
Teoria do Turismo
• ocupar-se de problemas filosóficos que se apresentem, de fato, no cur-
so da investigação científica ou na reflexão sobre os problemas, méto-
dos e teorias da ciência;
• propor soluções claras para tais problemas, em particular soluções
consistentes com teorias rigorosas e inteligíveis, bem como adequadas
à realidade da investigação científica, em lugar de teorias confusas ou
inadequadas à experiência científica;
• ser capaz de distinguir a ciência autêntica da pseudociência, a investi-
gação profunda da superficial;
• ser capaz de criticar programas e, até, resultados errôneos, assim como
sugerir novos enfoques promissores.
Para todas as ciências, a epistemologia é importante porque estabelece
uma revisão do conhecimento de determinado assunto e oferece critérios para
a aceitação desse conhecimento.
Para a validação do conhecimento, o filósofo da ciência Karl Popper criou
o critério da falseabilidade. Para ele, um enunciado científico, para ser conside-
rado verdadeiro deveria, ser passível de comprovação pela experiência. Ainda
segundo o referido autor, o critério de demarcação da validade do conheci-
mento não seria a verificabilidade, mas sim a falseabilidade de um sistema. Em
suas palavras:
(...) não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como
válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua
forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas
empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um
sistema científico empírico (POPPER, 2003, p. 42).
Para Popper, o cientista deve expor seu pensamento e esperar por críticas
que o obriguem a reformular as partes falhas; somente assim o conhecimento
avança. Essa nova posição causou uma revolução na forma de analisar o co-
nhecimento, pois criou uma forma “ao contrário” de validade dos enunciados
científicos, pois o critério não seria mais a possibilidade de sua verificabilida-
de, mas sim o de sua falseabilidade.
Popper também afirmava que o conhecimento científico avançava em for-
ma de degraus, gradativamente. Todavia, outro filósofo – Thomas Kuhn – não
21
Epistemologia do turismoSeção 1
concordava com ele neste ponto, pois, para ele, o conhecimento avançava em
forma de saltos, de rupturas.
Em seu famoso livro A estrutura das revoluções científicas, de 1962, Kuhn
apresentou sua maior teoria, qual seja, a dos paradigmas científicos. Por para-
digmas, Kuhn (2001) compreendia os valores, as crenças e os métodos que uma
comunidade científica partilha, e, ao mesmo tempo, uma comunidade cientí-
fica consistiria de homens que partilham um paradigma.
Segundo essa teoria, as comunidades científicas, em algum momento,
chegam a um ponto na estrada do conhecimento em que não conseguem mais
avançar, seja por estarem indo pelo caminho errado, seja por estarem utilizan-
do métodos inapropriados ou por não haver mais condições de seguir a teoria
e as leis por elas mesmas propostas. Neste momento, é necessário romper com
o paradigma vigente e tentar uma nova abordagem para o problema proposto.
Lentamente vai sendo construído um novo modelo científico, que acaba por
substituir seu antecessor e, assim, ocorrem os saltos, as rupturas teóricas (e de
paradigmas) que fazem o conhecimento avançar.
Um modelo que buscou explicar a criação e o desenvolvimento do conhe-
cimento em turismo foi o apresentado por John Tribe (1997), no qual o campo
do turismo é dividido em duas partes (ver Figura 1): Campo do Turismo 1 (CT1)
e o Campo do Turismo 2 (CT2). Para este autor, o conhecimento em turismo não
é produzido apenas na universidade; isso significa que, nas agênciasdeviagens,
nas companhias aéreas, nos meios de hospedagem e em todas as empresas de
turismo de um modo geral, é produzido conhecimento em turismo. Desta for-
ma, esse campo leva o nome de Campo do Turismo 1, que é o campo dos aspec-
tos comerciais do turismo. No entanto, no Campo do Turismo 2 é produzido
conhecimento pelos aspectos não-comerciais do turismo. Este campo necessita
de que outra disciplina faça a ligação com o turismo e ofereça a base conceitual
para a produção do conhecimento em turismo. Ele inclui áreas como percep-
ções do turismo e impactos sociais e ambientais (TRIBE, 2004).
No círculo de fora, estão as disciplinas1
,consideradas ciências (disciplinas
“n” indicam as outras ciências), que oferecem as ferramentas de abordagem do
1
O conceito de disciplina tem o significado de ciência, que possui método de investigação e
objeto de pesquisa já constituído e que se tornou um paradigma para sua comunidade científi-
ca. Entretanto, o conceito de campo não tem o significado de ciência, mas sim de objeto de es-
tudo de outras disciplinas (ou ciências). É neste sentido que John Tribe afirmou que o turismo
não é uma disciplina (ciência), mas sim um campo de estudo (objeto de estudo) das ciências.
22
Teoria do Turismo
turismo. O círculo do meio, denominado “Banda K”, é a região na qual o conhe-
cimento do turismo é criado. É na“Banda K” que ocorre a interface das discipli-
nas com os campos do turismo. Por exemplo, o conceito de capacidade de
carga emerge de uma combinação de disciplinas que incluem Sociologia, Eco-
nomia e Biologia (TRIBE, 2004).
Figura 1 Criação do conhecimento em turismo na visão de John Tribe
Fonte: Adaptada de Tribe (1997).
23
Epistemologia do turismoSeção 1
No centro do círculo, estão o modo 2 de produção do conhecimento e o
campo do turismo (CT1 + CT2 = CT). O modo 1 corresponde ao “conhecimento
produzido por uma ciência, primeiramente em um contexto acadêmico”
(GIBBONS et al. 1994; TRIBE, 2004, p. 51). Trata-se do conhecimento produzido
em um contexto acadêmico e madurado em instituições de educação superior.
O modo 2, por sua vez, corresponde a uma nova forma de conhecimento que
se dá nas empresas, no governo, nos grupos de interesse, nas consultorias e nos
institutos de pesquisa. É um conhecimento produzido nas empresas turísticas
e direcionado para as empresas turísticas; ou seja, um conhecimento que nas-
ce de um contexto particular, com teorias e estrutura teórica distintas, métodos
de pesquisa e práticas que não são alocadas em um mapa disciplinar concei-
tual. Tribe também introduziu o conceito extradisciplinar para denominar o
conhecimento produzido fora dos meios acadêmicos científicos, como é o caso
do modo 2 de produção do conhecimento.
O debate se o turismo é ou não uma ciência também se encontra no cam-
po da epistemologia. São três as correntes a respeito deste tema. A primeira diz
que o turismo não é uma ciência, mas está trilhando o caminho para tornar-se
uma, pois está passando pelas mesmas fases de outras ciências que surgiram
no início do século XX, tais como a Antropologia2
e a Etnografia3
. A segunda cor-
rente diz que o turismo não é e nunca será uma ciência, pois se constitui ape-
nas de uma atividade humana, e é auxiliado pelas ciências em seus estudos. A
argumentação deste grupo diz que os estudos turísticos não possuem um ob-
jeto de pesquisa claro e definido, nem um método de estudo particular, o que
o inviabiliza de se tornar uma ciência. O terceiro grupo de pesquisadores diz
que o turismo é uma ciência por possuir um corpo teórico maduro e relativa-
mente grande; todavia, esses pesquisadores ainda não conseguiram compro-
var esta afirmação por meio de seus estudos.
2
Ciência do homem no sentido mais amplo, englobando o estudo de suas origens, evolução,
desenvolvimentos físico, material e cultural, fisiologia, psicologia, características raciais, cos-
tumes sociais e crenças, dentre outros.
3
Estudo descritivo das diversas etnias, de suas características antropológicas, sociais etc.
24
Teoria do Turismo
OPERACIONALIZANDO
O livro Filosofia do turismo: teoria e epistemologia, publicado por Panosso Netto
(2005b) apresenta algumas das principais abordagens teóricas de turismo e ensaia
um estudo epistemológico apresentando a Fenomenologia como um possível caminho
para uma compreensão mais completa do turismo.
EXERCÍCIO PROPOSTO
Selecione dois ou três livros de turismo que foram indicados por seus professores em
aula e estabeleça uma relação entre eles destacando o fundamento científico utilizado
por cada autor para justificar o fenômeno turístico. Descubra qual é a formação aca-
dêmica dos autores (sociólogos, economistas, geógrafos, turismólogos etc.) e verifique
até que ponto essa formação acadêmica interfere nas opiniões dos autores. Procure
também levantar possíveis falhas teóricas e contradições. Verifique se os autores usam
de fundamentos científicos ou descrevem o fenômeno turístico apenas a partir de suas
experiências pessoais.
REFERÊNCIAS
BUNGE, M. Epistemologia: curso atualizado. São Paulo: Queiroz Editor/EDUSP, 1980.
COMIC, D. K. Tourism as a subject of philosophical refletion. Revue de Turisme, AIEST, n.
2, p. 6-13, 1989.
GIBBONS, M. et al. The new production of knowledge: the dynamics of science and
research in contemporary societie. Londres: Sage, 1994.
KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001.
PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph, 2005b.
POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2003.
TRIBE, J. The indiscipline of tourism. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 4, p. 638-657,
1997.
______. Knowing about tourism. In: PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative
research in tourism: ontologies, epistemologies and methodologies. Londres: Routledge,
2004. p. 46-62.
25
Epistemologia do turismoSeção 1
PARA SABER MAIS
KUHN, T. S. O caminho desde a estrutura. São Paulo: Perspectiva, 2006.
NECHAR, M. C. & CORTÉS, M. L. (Orgs.). Apuntes para la investigación turística. Chetumal:
Universidad de Quintana Roo, 2006.
NECHAR, M. C. & GARCÍA, M. O. (Orgs.). Ensayos teóricos-metodológicos del turismo: cuatro
enfoques. Toluca-México: Universidad Autónoma del Estado de México, 2006.
PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative research in tourism: ontologies, episte-
mologies and methodologies. Londres: Routledge, 2004.
SALVATIERRA, N. M. & VILLARREAL, L. Z. (Orgs.). Investigación turística. Toluca-México: Uni-
versidad Autónoma del Estado de México, 2000.
26
Há consenso nos meios acadêmicos em afirmar que um dos principais
criadores e divulgadores da teoria geral de sistemas foi o biólogo Ludwing von
Bertalanffy (1901-1972). Bertalanffy considerava sistema (VASCONCELLOS, 2002,
p. 199-200): “Amplamente a qualquer unidade em que o todo é mais do que a
soma das partes. Assim, um sistema é um todo integrado cujas propriedades
não podem ser reduzidas às propriedades das partes, e as propriedades sistê-
micas são destruídas quando o sistema é dissecado”.
Vasconcellos (2002) explicou que Bertalanffy reconheceu que as leis da Fí-
sica não poderiam ser aplicadas igualmente na Biologia e na sociedade huma-
na; por isso, ele postulava novas categorias do pensamento científico, com leis
que pudessem ser aplicadas tanto na Física quanto na Biologia e nas Ciências
Sociais. Foi daí que, baseado na termodinâmica clássica, que lida com os siste-
mas em equilíbrio, ele postulou a criação de uma termodinâmica que lidasse
com os sistemas abertos, que não estão em equilíbrio.
As idéias de Bertalanffy foram publicadas em vários artigos e livros, mas o
seu livro mais conhecido é Teoria geral dos sistemas, publicado nos Estados
Unidos, em 1968, no qual ele apresentou a sua teoria para os sistemas abertos.
Tais sistemas poderiam ser de qualquer natureza, e a sua teoria geral de siste-
mas pretendia ser interdisciplinar.
A partir das idéias básicas de Bertalanffy (1973), constituem exemplos de
sistemas o corpo humano, a economia de um país, a organização política de um
município e o turismo de uma região qualquer. A teoria geral de sistemas permi-
te analisar cada um desses sistemas de forma total – o sistema unido – ou dividir
o sistema em partes para facilitar sua compreensão e seu estudo.
Um sistema, para ser completo, deve possuir meio ambiente (local em que
o sistema se encontra); unidades (as partes do sistema); relações (entre as uni-
dades do sistema); atributos (qualidade das unidades e do próprio sistema);
input (o que entra no sistema); output (o que sai do sistema); feedback (o con-
Teoria Geral de Sistemas e Turismo
27
Teoria geral de sistemas e turismoSeção 1
trole do sistema para mantê-lo funcionando corretamente); modelo (um dese-
nho do sistema para facilitar a sua compreensão).
Existem vantagens e desvantagens de se estudar o turismo a partir da teo-
ria geral de sistemas, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1 Vantagens e desvantagens da teoria geral de sistemas
Vantagens Desvantagens
Pela criação de um modelo (desenho con-
ceitual), tem-se uma visão geral do “todo”
do turismo.
É possível segmentar o sistema em partes
e estudá-las separadamente.
A separação do sistema turístico dos ou-
tros sistemas facilita o estudo, mas, entre-
tanto, ocasiona uma visão fragmentada do
objeto de estudo.
É possível separar o sistema turístico de
outros sistemas, sendo seu estudo facilita-
do desta forma.
Possibilita o estudo interdisciplinar do tu-
rismo.
Ao separar o turismo em um sistema, de-
veria ser levado em conta que o turismo
faz parte de um sistema maior, como o so-
cial, por exemplo.
Getz (1986) fez uma revisão teórica de artigos e livros publicados em lín-
gua inglesa e encontrou cerca de 150 modelos de abordagens do turismo, toda-
via nem todos são baseados na teoria geral de sistemas. Segundo esse autor, os
modelos de turismo encontrados dividem-se basicamente em três grupos: (1)
modelos teóricos; (2) processos de planejamento e gerenciamento; e (3) mode-
los de previsão.
Segundo a bibliografia levantada, a primeira análise do turismo utilizan-
do a teoria geral de sistemas foi feita por Raymundo Cuervo (1967); entretan-
to, não está presente no levantamento de Getz (1986), que trabalhou somente
com textos em inglês. No Brasil, o sistema turístico mais difundido e conheci-
do é o de Beni, que desenvolveu a sua teoria com inspiração na obra de Chris-
tofoletti (1979). No exterior, o sistema turístico mais conhecido é o de Leiper
(1979). Sem dúvida, a teoria geral de sistemas é a teoria mais utilizada nos es-
tudos turísticos mundiais, e grande parte dos autores internacionais baseia-se
nela para empreender seus estudos do turismo.
28
Teoria do Turismo
Todavia, o sistema em questão não está livre de críticas, sendo mais co-
muns aquelas direcionadas à teoria de sistemas de um modo geral, como o fato
de que os modelos sistêmicos oferecem algumas explicações de como funcio-
na o turismo, mas não conseguem aprofundar fatos importantes para a com-
preensão total. Algumas perguntas ficam em aberto, tais como: qual seria a
lógica que existe entre os componentes do sistema? Como os atributos do sis-
tema influenciam seu funcionamento? Em que sentido é possível dizer que se
constitui em um sistema funcional social? Como é possível a quantificação das
entradas (input) e das saídas (output) de energia do sistema? Se não é possível
essa quantificação, como seria possível, então, a sua análise qualitativa? Como
é possível delimitar o sistema turístico de seu entorno?
Talvez, devido a essas perguntas sem respostas, recentemente autores pas-
saram a investigar e a procurar outras formas e teorias para se analisar o turis-
mo; daí têm surgido análises inovadoras com a aplicação da teoria dos rizomas,
da complexidade e da fenomenologia.
OPERACIONALIZANDO
Uma aplicação da Teoria de Sistemas está no atual “Plano Nacional de Turismo 2007-
2001 – uma viagem de inclusão”, do Ministério do Turismo, que adota claramente
essa opção teórica para fundamentar suas ações práticas.
O plano está dosponível em: http://www.turismo.gov.br/portalmtur/opencms/institucio-
nal/arquivos/plano_nacional_turismo_2007_2010.html
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
1. Em grupo, estabeleça os pontos positivos e negativos de se analisar o turismo como um
sistema, tendo como fundamento a Teoria Geral de Sistemas.
2. Que outra teoria busca explicar o turismo além da sistêmica? Você conhece alguma?
Quais são os pontos de vantagem dessa teoria em relação ao sistemismo? Procure se
informar e estudar sobre outras análises e abordagens do turismo que não a sistêmica.
29
Teoria geral de sistemas e turismoSeção 1
3. Ouse e crie uma proposta de sistema de turismo que seja original. Se tiver dificuldades,
consulte um professor ou dialogue com os colegas. Não tenha medo de ousar e deixar
a imaginação funcionar. Porém, seu sistema de turismo tem que ser lógico e minima-
mente funcional.
REFERÊNCIAS
BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: EDUSP/Hucitec, 1979.
CUERVO, R. S. El turismo como medio de comunicación humana. México-DF: Departa-
mento de Turismo do Governo do México, 1967.
GETZ, D. Models in tourism planning: towards integration of theory and practice. Tourism
Management, v. 7(1), p. 21-32, 1986.
LEIPER, N. The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the
tourist industry. Annals of Tourism Research, v. 6, p. 390-407, 1979.
VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas:
Papirus, 2002.
PARA SABER MAIS
KRIPPENDORF, J. Le tourime dans le systeme de la societe industrielle. In: SESSA, A.
La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985. p. 167-184.
PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph, 2005.
SESSA, A. La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985.

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  • 1. Teoria do Turismo Conceitos, Modelos e Sistemas Guilherme Lohmann Alexandre Panosso Netto
  • 2. 7 Sumário Apresentação..................................................................................................... 13 Seção 1: Teorias, Sistemas e Modelos Epistemologia do Turismo ........................................................................... 19 Teoria Geral de Sistemas e Turismo............................................................. 26 Cuervo, Sistema Turístico de........................................................................ 30 Leiper, Sistema Turístico de ......................................................................... 33 Krippendorf, Modelo Existencial da Sociedade Industrial de................... 37 Jafari, Modelo Interdisciplinar de................................................................ 42 Molina, Sistema Turístico de........................................................................ 47 Beni, Sistema Turístico de ............................................................................ 50 Boullón, Teoria do Espaço Turístico de....................................................... 56 Seção 2: Conceitos Hospitalidade................................................................................................ 67 Lazer............................................................................................................... 73 Entretenimento............................................................................................. 79 Recreação....................................................................................................... 83 Turismo e Viagem.......................................................................................... 89 Alimentos e Bebidas (A&B)............................................................................ 92 Eventos........................................................................................................... 98 Paisagem........................................................................................................ 103 Seção 3: Disciplinas Organismos de Turismo ............................................................................... 115 Política Pública de Turismo.......................................................................... 121 Planejamento Turístico................................................................................. 129 Legislação Turística....................................................................................... 137 Pós-modernidade e Turismo........................................................................ 145
  • 3. 8 Teoria do Turismo Marketing Turístico....................................................................................... 151 Segmentação do Turismo............................................................................. 164 Mercado Turístico ......................................................................................... 176 Cluster de Turismo........................................................................................ 184 Qualidade dos Serviços (SERVQUAL)............................................................. 195 Yield Management (Gerenciamento de Receitas) ...................................... 199 Impactos Positivos e Negativos do Turismo ............................................... 206 Efeito Multiplicador do Turismo.................................................................. 221 Conta Satélite do Turismo............................................................................ 230 Balança Comercial do Turismo.................................................................... 233 Seção 4: O Turista Demanda Turística........................................................................................ 237 Fatores Determinantes e Motivadores ........................................................ 242 Iso-Ahola, Modelo da Psicologia Social do Turismo de ............................. 245 Crompton, Modelo de Escolha de Destinos de .......................................... 249 Schmöll, Modelo de Escolha do Consumidor de Turismo de ................... 252 Urry, Teoria do “Olhar do Turista” de........................................................... 254 Plog, Sistema Psicográfico de....................................................................... 258 Cohen, Tipologia de Viajantes de................................................................. 265 Smith, Classificação de Turista de ............................................................... 269 Gray, Tipologia do Turismo de ..................................................................... 272 Wickens, Tipologia do Turista de................................................................. 277 Klenosky & Gitelson, Modelo Conceitual de............................................... 280 Seção 5: Intermediação, Distribuição e Viagem Canais de Distribuição em Turismo ............................................................ 285 Agências de Viagens e Operadoras Turísticas............................................. 293 Sistemas de Reserva por Computador (CRS)............................................... 305 Mariot, Modelo de Fluxos Turísticos de ...................................................... 313 Campbell, Modelo de Viagens Recreativas e Excursionistas de................ 315 Modelo de Padrões de Viagem Multidestinos............................................. 318 Oppermann, Modelo de Itinerários de Viagem de..................................... 321 Defert, Índice de Função Turística de ......................................................... 324 Índice de Viagem........................................................................................... 327 Transportes.................................................................................................... 330 Funções Nodais............................................................................................. 337
  • 4. 9 Sumário Seção 6: O Destino Turístico Destino Turístico........................................................................................... 347 Imagem de um Destino Turístico ................................................................ 350 Butler, Modelo de (Ciclo de Vida de um Destino Turístico)....................... 357 Prideaux, Espectro do Desenvolvimento de Resort de............................... 362 Resorts ............................................................................................................ 367 Oferta Turística.............................................................................................. 369 Custos e Preços dos Produtos e Serviços Turísticos ................................... 375 Infra-estrutura Turística ............................................................................... 381 Serviços e Equipamentos Turísticos............................................................ 387 Atração Turística ........................................................................................... 390 Gunn, Modelo de Atração Turística de........................................................ 396 Meios de Hospedagem ................................................................................. 399 Produtividade no Setor Hoteleiro................................................................ 411 Residências Secundárias .............................................................................. 415 Capacidade de Carga.................................................................................... 420 Sazonalidade ................................................................................................. 428 Patrimônio Cultural...................................................................................... 431 Zoneamento Turístico .................................................................................. 441 Referências bibliográficas ............................................................................... 447 Índice de lugares............................................................................................... 467 Índice de autores .............................................................................................. 473 Índice remissivo................................................................................................ 479
  • 5. 19 Teoria do conhecimento e gnosiologia são sinônimos de epistemologia. Sua raiz etimológica está no grego, onde gnosis é conhecimento e ciência, e lo- gia é estudo e discurso ordenado. Portanto, resumidamente, epistemologia é o estudo do conhecimento. Epistemologia do turismo é um assunto que ganhou importância nos es- tudos turísticos somente na década de 1990. Isso se deve ao fato de que, em sua maioria, os investigadores da área estavam mais interessados em ques- tões práticas da atividade, como gestão, planejamento e políticas públicas, entre outros. A epistemologia nasceu da filosofia; entretanto, a maioria dos fi- lósofos não se interessa pelos estudos turísticos, pois, como afirmou Comic (1989), eles estão preocupados com outros temas mais importantes que o tu- rismo; daí origina-se também a relativa escassez de publicações sobre esse as- sunto. Entre as perguntas feitas pela epistemologia do turismo, estão as seguin- tes: o que se pode conhecer em turismo? Como é produzido o conhecimento em turismo? O conhecimento em turismo é possível? Pode o conhecimento produzido em turismo ser verdadeiro? Como se dá a apreensão do conheci- mento em turismo pelo sujeito pensante? Por que se conhecem algumas coisas em turismo e outras, não? Até onde vai o campo de estudos do turismo? Quais são os limites do conhecimento produzido em turismo? Pela relação de per- guntas acima, é possível perceber que a epistemologia questiona os alicerces teóricos e as questões fundamentais sobre o conhecimento de determinado as- sunto, não pairando sobre aspectos superficiais e pseudocientíficos. Para se fazer epistemologia do turismo, é necessária uma reflexão séria acerca do problema proposto. Segundo Bunge (1980), para ser útil, a epistemo- logia deve ter as seguintes condições: • referir-se à ciência propriamente dita, não à imagem pueril e, às vezes, até caricata, tomada de livros-texto elementares; Epistemologia do Turismo
  • 6. 20 Teoria do Turismo • ocupar-se de problemas filosóficos que se apresentem, de fato, no cur- so da investigação científica ou na reflexão sobre os problemas, méto- dos e teorias da ciência; • propor soluções claras para tais problemas, em particular soluções consistentes com teorias rigorosas e inteligíveis, bem como adequadas à realidade da investigação científica, em lugar de teorias confusas ou inadequadas à experiência científica; • ser capaz de distinguir a ciência autêntica da pseudociência, a investi- gação profunda da superficial; • ser capaz de criticar programas e, até, resultados errôneos, assim como sugerir novos enfoques promissores. Para todas as ciências, a epistemologia é importante porque estabelece uma revisão do conhecimento de determinado assunto e oferece critérios para a aceitação desse conhecimento. Para a validação do conhecimento, o filósofo da ciência Karl Popper criou o critério da falseabilidade. Para ele, um enunciado científico, para ser conside- rado verdadeiro deveria, ser passível de comprovação pela experiência. Ainda segundo o referido autor, o critério de demarcação da validade do conheci- mento não seria a verificabilidade, mas sim a falseabilidade de um sistema. Em suas palavras: (...) não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de recurso a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico (POPPER, 2003, p. 42). Para Popper, o cientista deve expor seu pensamento e esperar por críticas que o obriguem a reformular as partes falhas; somente assim o conhecimento avança. Essa nova posição causou uma revolução na forma de analisar o co- nhecimento, pois criou uma forma “ao contrário” de validade dos enunciados científicos, pois o critério não seria mais a possibilidade de sua verificabilida- de, mas sim o de sua falseabilidade. Popper também afirmava que o conhecimento científico avançava em for- ma de degraus, gradativamente. Todavia, outro filósofo – Thomas Kuhn – não
  • 7. 21 Epistemologia do turismoSeção 1 concordava com ele neste ponto, pois, para ele, o conhecimento avançava em forma de saltos, de rupturas. Em seu famoso livro A estrutura das revoluções científicas, de 1962, Kuhn apresentou sua maior teoria, qual seja, a dos paradigmas científicos. Por para- digmas, Kuhn (2001) compreendia os valores, as crenças e os métodos que uma comunidade científica partilha, e, ao mesmo tempo, uma comunidade cientí- fica consistiria de homens que partilham um paradigma. Segundo essa teoria, as comunidades científicas, em algum momento, chegam a um ponto na estrada do conhecimento em que não conseguem mais avançar, seja por estarem indo pelo caminho errado, seja por estarem utilizan- do métodos inapropriados ou por não haver mais condições de seguir a teoria e as leis por elas mesmas propostas. Neste momento, é necessário romper com o paradigma vigente e tentar uma nova abordagem para o problema proposto. Lentamente vai sendo construído um novo modelo científico, que acaba por substituir seu antecessor e, assim, ocorrem os saltos, as rupturas teóricas (e de paradigmas) que fazem o conhecimento avançar. Um modelo que buscou explicar a criação e o desenvolvimento do conhe- cimento em turismo foi o apresentado por John Tribe (1997), no qual o campo do turismo é dividido em duas partes (ver Figura 1): Campo do Turismo 1 (CT1) e o Campo do Turismo 2 (CT2). Para este autor, o conhecimento em turismo não é produzido apenas na universidade; isso significa que, nas agênciasdeviagens, nas companhias aéreas, nos meios de hospedagem e em todas as empresas de turismo de um modo geral, é produzido conhecimento em turismo. Desta for- ma, esse campo leva o nome de Campo do Turismo 1, que é o campo dos aspec- tos comerciais do turismo. No entanto, no Campo do Turismo 2 é produzido conhecimento pelos aspectos não-comerciais do turismo. Este campo necessita de que outra disciplina faça a ligação com o turismo e ofereça a base conceitual para a produção do conhecimento em turismo. Ele inclui áreas como percep- ções do turismo e impactos sociais e ambientais (TRIBE, 2004). No círculo de fora, estão as disciplinas1 ,consideradas ciências (disciplinas “n” indicam as outras ciências), que oferecem as ferramentas de abordagem do 1 O conceito de disciplina tem o significado de ciência, que possui método de investigação e objeto de pesquisa já constituído e que se tornou um paradigma para sua comunidade científi- ca. Entretanto, o conceito de campo não tem o significado de ciência, mas sim de objeto de es- tudo de outras disciplinas (ou ciências). É neste sentido que John Tribe afirmou que o turismo não é uma disciplina (ciência), mas sim um campo de estudo (objeto de estudo) das ciências.
  • 8. 22 Teoria do Turismo turismo. O círculo do meio, denominado “Banda K”, é a região na qual o conhe- cimento do turismo é criado. É na“Banda K” que ocorre a interface das discipli- nas com os campos do turismo. Por exemplo, o conceito de capacidade de carga emerge de uma combinação de disciplinas que incluem Sociologia, Eco- nomia e Biologia (TRIBE, 2004). Figura 1 Criação do conhecimento em turismo na visão de John Tribe Fonte: Adaptada de Tribe (1997).
  • 9. 23 Epistemologia do turismoSeção 1 No centro do círculo, estão o modo 2 de produção do conhecimento e o campo do turismo (CT1 + CT2 = CT). O modo 1 corresponde ao “conhecimento produzido por uma ciência, primeiramente em um contexto acadêmico” (GIBBONS et al. 1994; TRIBE, 2004, p. 51). Trata-se do conhecimento produzido em um contexto acadêmico e madurado em instituições de educação superior. O modo 2, por sua vez, corresponde a uma nova forma de conhecimento que se dá nas empresas, no governo, nos grupos de interesse, nas consultorias e nos institutos de pesquisa. É um conhecimento produzido nas empresas turísticas e direcionado para as empresas turísticas; ou seja, um conhecimento que nas- ce de um contexto particular, com teorias e estrutura teórica distintas, métodos de pesquisa e práticas que não são alocadas em um mapa disciplinar concei- tual. Tribe também introduziu o conceito extradisciplinar para denominar o conhecimento produzido fora dos meios acadêmicos científicos, como é o caso do modo 2 de produção do conhecimento. O debate se o turismo é ou não uma ciência também se encontra no cam- po da epistemologia. São três as correntes a respeito deste tema. A primeira diz que o turismo não é uma ciência, mas está trilhando o caminho para tornar-se uma, pois está passando pelas mesmas fases de outras ciências que surgiram no início do século XX, tais como a Antropologia2 e a Etnografia3 . A segunda cor- rente diz que o turismo não é e nunca será uma ciência, pois se constitui ape- nas de uma atividade humana, e é auxiliado pelas ciências em seus estudos. A argumentação deste grupo diz que os estudos turísticos não possuem um ob- jeto de pesquisa claro e definido, nem um método de estudo particular, o que o inviabiliza de se tornar uma ciência. O terceiro grupo de pesquisadores diz que o turismo é uma ciência por possuir um corpo teórico maduro e relativa- mente grande; todavia, esses pesquisadores ainda não conseguiram compro- var esta afirmação por meio de seus estudos. 2 Ciência do homem no sentido mais amplo, englobando o estudo de suas origens, evolução, desenvolvimentos físico, material e cultural, fisiologia, psicologia, características raciais, cos- tumes sociais e crenças, dentre outros. 3 Estudo descritivo das diversas etnias, de suas características antropológicas, sociais etc.
  • 10. 24 Teoria do Turismo OPERACIONALIZANDO O livro Filosofia do turismo: teoria e epistemologia, publicado por Panosso Netto (2005b) apresenta algumas das principais abordagens teóricas de turismo e ensaia um estudo epistemológico apresentando a Fenomenologia como um possível caminho para uma compreensão mais completa do turismo. EXERCÍCIO PROPOSTO Selecione dois ou três livros de turismo que foram indicados por seus professores em aula e estabeleça uma relação entre eles destacando o fundamento científico utilizado por cada autor para justificar o fenômeno turístico. Descubra qual é a formação aca- dêmica dos autores (sociólogos, economistas, geógrafos, turismólogos etc.) e verifique até que ponto essa formação acadêmica interfere nas opiniões dos autores. Procure também levantar possíveis falhas teóricas e contradições. Verifique se os autores usam de fundamentos científicos ou descrevem o fenômeno turístico apenas a partir de suas experiências pessoais. REFERÊNCIAS BUNGE, M. Epistemologia: curso atualizado. São Paulo: Queiroz Editor/EDUSP, 1980. COMIC, D. K. Tourism as a subject of philosophical refletion. Revue de Turisme, AIEST, n. 2, p. 6-13, 1989. GIBBONS, M. et al. The new production of knowledge: the dynamics of science and research in contemporary societie. Londres: Sage, 1994. KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph, 2005b. POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. 16. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. TRIBE, J. The indiscipline of tourism. Annals of Tourism Research, v. 24, n. 4, p. 638-657, 1997. ______. Knowing about tourism. In: PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative research in tourism: ontologies, epistemologies and methodologies. Londres: Routledge, 2004. p. 46-62.
  • 11. 25 Epistemologia do turismoSeção 1 PARA SABER MAIS KUHN, T. S. O caminho desde a estrutura. São Paulo: Perspectiva, 2006. NECHAR, M. C. & CORTÉS, M. L. (Orgs.). Apuntes para la investigación turística. Chetumal: Universidad de Quintana Roo, 2006. NECHAR, M. C. & GARCÍA, M. O. (Orgs.). Ensayos teóricos-metodológicos del turismo: cuatro enfoques. Toluca-México: Universidad Autónoma del Estado de México, 2006. PHILLIMORE, J. & GOODSON, L. (Orgs.). Qualitative research in tourism: ontologies, episte- mologies and methodologies. Londres: Routledge, 2004. SALVATIERRA, N. M. & VILLARREAL, L. Z. (Orgs.). Investigación turística. Toluca-México: Uni- versidad Autónoma del Estado de México, 2000.
  • 12. 26 Há consenso nos meios acadêmicos em afirmar que um dos principais criadores e divulgadores da teoria geral de sistemas foi o biólogo Ludwing von Bertalanffy (1901-1972). Bertalanffy considerava sistema (VASCONCELLOS, 2002, p. 199-200): “Amplamente a qualquer unidade em que o todo é mais do que a soma das partes. Assim, um sistema é um todo integrado cujas propriedades não podem ser reduzidas às propriedades das partes, e as propriedades sistê- micas são destruídas quando o sistema é dissecado”. Vasconcellos (2002) explicou que Bertalanffy reconheceu que as leis da Fí- sica não poderiam ser aplicadas igualmente na Biologia e na sociedade huma- na; por isso, ele postulava novas categorias do pensamento científico, com leis que pudessem ser aplicadas tanto na Física quanto na Biologia e nas Ciências Sociais. Foi daí que, baseado na termodinâmica clássica, que lida com os siste- mas em equilíbrio, ele postulou a criação de uma termodinâmica que lidasse com os sistemas abertos, que não estão em equilíbrio. As idéias de Bertalanffy foram publicadas em vários artigos e livros, mas o seu livro mais conhecido é Teoria geral dos sistemas, publicado nos Estados Unidos, em 1968, no qual ele apresentou a sua teoria para os sistemas abertos. Tais sistemas poderiam ser de qualquer natureza, e a sua teoria geral de siste- mas pretendia ser interdisciplinar. A partir das idéias básicas de Bertalanffy (1973), constituem exemplos de sistemas o corpo humano, a economia de um país, a organização política de um município e o turismo de uma região qualquer. A teoria geral de sistemas permi- te analisar cada um desses sistemas de forma total – o sistema unido – ou dividir o sistema em partes para facilitar sua compreensão e seu estudo. Um sistema, para ser completo, deve possuir meio ambiente (local em que o sistema se encontra); unidades (as partes do sistema); relações (entre as uni- dades do sistema); atributos (qualidade das unidades e do próprio sistema); input (o que entra no sistema); output (o que sai do sistema); feedback (o con- Teoria Geral de Sistemas e Turismo
  • 13. 27 Teoria geral de sistemas e turismoSeção 1 trole do sistema para mantê-lo funcionando corretamente); modelo (um dese- nho do sistema para facilitar a sua compreensão). Existem vantagens e desvantagens de se estudar o turismo a partir da teo- ria geral de sistemas, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 Vantagens e desvantagens da teoria geral de sistemas Vantagens Desvantagens Pela criação de um modelo (desenho con- ceitual), tem-se uma visão geral do “todo” do turismo. É possível segmentar o sistema em partes e estudá-las separadamente. A separação do sistema turístico dos ou- tros sistemas facilita o estudo, mas, entre- tanto, ocasiona uma visão fragmentada do objeto de estudo. É possível separar o sistema turístico de outros sistemas, sendo seu estudo facilita- do desta forma. Possibilita o estudo interdisciplinar do tu- rismo. Ao separar o turismo em um sistema, de- veria ser levado em conta que o turismo faz parte de um sistema maior, como o so- cial, por exemplo. Getz (1986) fez uma revisão teórica de artigos e livros publicados em lín- gua inglesa e encontrou cerca de 150 modelos de abordagens do turismo, toda- via nem todos são baseados na teoria geral de sistemas. Segundo esse autor, os modelos de turismo encontrados dividem-se basicamente em três grupos: (1) modelos teóricos; (2) processos de planejamento e gerenciamento; e (3) mode- los de previsão. Segundo a bibliografia levantada, a primeira análise do turismo utilizan- do a teoria geral de sistemas foi feita por Raymundo Cuervo (1967); entretan- to, não está presente no levantamento de Getz (1986), que trabalhou somente com textos em inglês. No Brasil, o sistema turístico mais difundido e conheci- do é o de Beni, que desenvolveu a sua teoria com inspiração na obra de Chris- tofoletti (1979). No exterior, o sistema turístico mais conhecido é o de Leiper (1979). Sem dúvida, a teoria geral de sistemas é a teoria mais utilizada nos es- tudos turísticos mundiais, e grande parte dos autores internacionais baseia-se nela para empreender seus estudos do turismo.
  • 14. 28 Teoria do Turismo Todavia, o sistema em questão não está livre de críticas, sendo mais co- muns aquelas direcionadas à teoria de sistemas de um modo geral, como o fato de que os modelos sistêmicos oferecem algumas explicações de como funcio- na o turismo, mas não conseguem aprofundar fatos importantes para a com- preensão total. Algumas perguntas ficam em aberto, tais como: qual seria a lógica que existe entre os componentes do sistema? Como os atributos do sis- tema influenciam seu funcionamento? Em que sentido é possível dizer que se constitui em um sistema funcional social? Como é possível a quantificação das entradas (input) e das saídas (output) de energia do sistema? Se não é possível essa quantificação, como seria possível, então, a sua análise qualitativa? Como é possível delimitar o sistema turístico de seu entorno? Talvez, devido a essas perguntas sem respostas, recentemente autores pas- saram a investigar e a procurar outras formas e teorias para se analisar o turis- mo; daí têm surgido análises inovadoras com a aplicação da teoria dos rizomas, da complexidade e da fenomenologia. OPERACIONALIZANDO Uma aplicação da Teoria de Sistemas está no atual “Plano Nacional de Turismo 2007- 2001 – uma viagem de inclusão”, do Ministério do Turismo, que adota claramente essa opção teórica para fundamentar suas ações práticas. O plano está dosponível em: http://www.turismo.gov.br/portalmtur/opencms/institucio- nal/arquivos/plano_nacional_turismo_2007_2010.html EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Em grupo, estabeleça os pontos positivos e negativos de se analisar o turismo como um sistema, tendo como fundamento a Teoria Geral de Sistemas. 2. Que outra teoria busca explicar o turismo além da sistêmica? Você conhece alguma? Quais são os pontos de vantagem dessa teoria em relação ao sistemismo? Procure se informar e estudar sobre outras análises e abordagens do turismo que não a sistêmica.
  • 15. 29 Teoria geral de sistemas e turismoSeção 1 3. Ouse e crie uma proposta de sistema de turismo que seja original. Se tiver dificuldades, consulte um professor ou dialogue com os colegas. Não tenha medo de ousar e deixar a imaginação funcionar. Porém, seu sistema de turismo tem que ser lógico e minima- mente funcional. REFERÊNCIAS BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: EDUSP/Hucitec, 1979. CUERVO, R. S. El turismo como medio de comunicación humana. México-DF: Departa- mento de Turismo do Governo do México, 1967. GETZ, D. Models in tourism planning: towards integration of theory and practice. Tourism Management, v. 7(1), p. 21-32, 1986. LEIPER, N. The framework of tourism: towards a definition of tourism, tourist, and the tourist industry. Annals of Tourism Research, v. 6, p. 390-407, 1979. VASCONCELLOS, M. J. E. de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas: Papirus, 2002. PARA SABER MAIS KRIPPENDORF, J. Le tourime dans le systeme de la societe industrielle. In: SESSA, A. La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985. p. 167-184. PANOSSO NETTO, A. Filosofia do turismo: teoria e epistemologia. São Paulo: Aleph, 2005. SESSA, A. La scienza dei sistemi per lo sviluppo del turismo. Roma: Agnesotti, 1985.