1. DIDÁTICA DO ENSINO RELIGIOSO
Ao longo da história da educação brasileira, o Ensino Religioso assumiu diferentes
perspectivas teóricometodológicas, geralmente de viés confessional ou interconfessional.
A partir da década de 1980,as transformações socioculturais que provocaram
mudanças paradigmáticas no campo educacional também impactaram no Ensino Religioso.
Em função dos promulgados ideais de democracia, inclusão social e educação integral,
vários setores da sociedade civil passaram a reivindicar a abordagem do conhecimento
religioso e o reconhecimento da diversidade religiosa no âmbito dos currículos escolares.
A Constituição Federal de 1988 (artigo 210) e a LDB nº 9.394/1996 (artigo 33,
alterado pela Lei nº 9.475/1997) estabeleceram os princípios e os fundamentos que devem
alicerçar epistemologias e pedagogias do Ensino Religioso, cuja função educacional,
enquanto parte integrante da formação básica do cidadão é assegurar o respeito à
diversidade cultural religiosa, sem proselitismos.
Mais tarde, a Resolução CNE/CEB nº 04/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 07/2010
reconheceram o Ensino Religioso como uma das cinco áreas de conhecimento do Ensino
Fundamental de 09 (nove) ano. Estabelecido como componente curricular de oferta
obrigatória nas escolas públicas de Ensino Fundamental, com matrícula facultativa, em
diferentes regiões do país, foram elaboradas propostas curriculares, cursos de formação
inicial e continuada e materiais didático-pedagógicos que contribuíram para a construção da
Ensino Religioso.
Considerando o marcos normativo e, em conformidade com as competências gerais
estabelecidas no âmbito da BNCC, o Ensino Religioso deve atender os seguintes objetivos:
a) Proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos religiosos, culturais e estéticos, a
partir das manifestações religiosas percebidas na realidade dos educandos;
b) Propiciar conhecimentos sobre o direito à liberdade de consciência e de crença, no
constante propósito de promoção dos direitos humanos;
c) Desenvolver competências e habilidades que contribuam para o diálogo entre
perspectivas religiosas e seculares de vida, exercitando o respeito à liberdade de
concepções e o pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal;
d) Contribuir para que os educandos construam seus sentidos pessoais de vida a
partir de valores, princípios éticos e da cidadania.
O conhecimento religioso, objeto da área de Ensino Religioso, é produzido no âmbito
das diferentes áreas do conhecimento científico das Ciências Humanas e Sociais,
notadamente da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões). Essas Ciências investigam a
manifestação dos fenômenos religiosos em diferentes culturas e sociedades enquanto um
dos bens simbólicos resultantes da busca humana por respostas aos enigmas do mundo, da
vida e da morte.
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE ENSINO RELIGIOSO PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL
1. Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes tradições/movimentos
religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos científicos, filosóficos, estéticos e
éticos.
2. Compreender, valorizar e respeitar as manifestações religiosas e filosofias de vida,
suas experiências e saberes, em diferentes tempos, espaços e territórios.
2. 3. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza, enquanto
expressão de valor da vida.
4. Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos, convicções, modos de ser
e viver.
5. Analisar as relações entre as tradições religiosas e os campos da cultura, da
política, da economia, da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio ambiente.
6. Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos e práticas de
intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de modo a assegurar os direitos
humanos no constante exercício da cidadania e da cultura de paz.
Afinal, o que é o ensino religioso?
Muitas pessoas têm uma ideia completamente equivocada do que seria o ensino
religioso em uma escola. Para alguns indivíduos, essa disciplina tem um caráter doutrinário
e tem como objetivo a ‘’conversão’’ para determinada religião e seus costumes. Na prática,
no entanto, isso é muito diferente.
Precisamos sempre lembrar que vivemos em um Estado laico, ou seja, um país que
não tem uma religião obrigatória para os seus habitantes e que, mais importante de tudo,
respeita as mais diversas crenças existentes entre seu povo. Nesse contexto, o ensino
religioso deve considerar a laicidade do Brasil e repassar esse conceito aos seus
estudantes.
Embora o ensino religioso possa ser mais direcionado a uma religião específica, ele
não visa doutrinar os estudantes ou convertê-los ao contexto. O objetivo é simplesmente
repassar os ensinamentos das religiões cristãs, mas sem exigir que os alunos sigam tais
fundamentos, respeitando as pluralidades religiosas e de fé.Trata-se, em outras palavras, de
uma disciplina que busca desenvolver a reflexão dos alunos sobre os ensinamentos e
valores da maioria das religiões. A partir daí, são realizados debates sobre esses temas e
sua importância. Afinal, os valores de uma religião são universais e estão contidos em
documentos importantíssimos, como a Declaração Universal de Direitos Humanos.
No que se baseia esse tipo de ensino?
Como mencionado no tópico anterior, o ensino religioso tem como objetivo a promoção da
reflexão nos estudantes sobre características e atitudes que são, em caráter mundial,
pautadas pela ética. Alguns dos valores cristãos que são discutidos durante as aulas
incluem:
respeito;
amor;
paciência;
altruísmo;
solidariedade;
perdão;
honestidade;
justiça.
A maioria desses pontos é estudada em áreas como a Sociologia e a Filosofia há muitos e
muitos anos. Filósofos, como Sócrates e Aristóteles, já se questionavam sobre os impactos
3. dos valores morais em nossa existência e na construção de sociedades e seus aspectos
culturais e de igualdade.
Por isso, podemos dizer que o ensino religioso se baseia não só nos ensinamentos deixados
por Jesus Cristo, mas também em evidências de estudos consagrados por grandes
pensamentos de nosso tempo e também do passado.
O objetivo aqui é, além de ensinar sobre os dogmas de diversas religiões, seus valores e
costumes, promover a reflexão do estudante sobre o seu papel no mundo e como ele se
relaciona com o próximo. Assim, possivelmente poderemos construir gerações mais justas,
igualitárias e livres de preconceito e egoísmo.
Quais são os benefícios do ensino religioso nas escolas?
Agora que já conhecemos os aspectos do ensino religioso e sabemos como ele funciona na
prática, chegou a hora de descobrirmos quais são as vantagens da inclusão da religiosidade
no dia a dia escolar. Vamos lá?
Formação de cidadãos
Cidadania é o nome dado à condição de um indivíduo como cidadão, ou seja, à sua
capacidade de conviver em uma sociedade com regras éticas e de respeitá-las em prol do
bem-estar coletivo. Isso vale, também, para a consciência não só de seus deveres, mas
também de todos os direitos que cada um de nós possui.
O desenvolvimento dos valores morais em um indivíduo é fundamental para a criação de
cidadãos aptos a conviver em uma sociedade boa para todos (e não só para minorias, como
ocorre atualmente). Ao discutirmos tais elementos, passamos a compreendê-los de maneira
mais profunda e também entramos em contato com outras realidades e experiências por
meio da troca de informações.
Desenvolvimento da disciplina
A maioria dos jovens — e, porque não, dos adultos também — tem sérios problemas com
a disciplina. Ainda que isso não seja intencional, é comum termos dificuldades de
organização e execução de tarefas no prazo estipulado. Isso pode, a curto e longo prazo,
prejudicar vários aspectos de nossas vidas, como o âmbito pessoal, acadêmico e
profissional.
Com o trabalho de capacidades, como a paciência e a reflexão, fica muito mais fácil se
preparar e se tornar mais responsável e disciplinado. Assim, todos nós saímos ganhando e
as crianças podem contar com um desempenho escolar muito mais satisfatório, além de
estarem devidamente preparadas para todos os momentos de suas vidas.
Estímulo de valores éticos
Os valores éticos, como já mencionamos, vão muito além dos preceitos religiosos. Eles
estão englobados no estudo da ética e se relacionam completamente com o dia a dia de
uma sociedade. Portanto, trabalhá-los é algo fundamental para a cidadania e para o bom
desempenho nos âmbitos pessoais, acadêmicos e profissionais.
Além disso, conhecer bem esses valores é algo fundamental para o desenvolvimento de
uma grande variedade de habilidades diferentes e que são fundamentais para o mercado de
trabalho atual, sendo pré-requisitos para o preenchimento de muitas vagas das mais
diversas áreas de atuação.
Desenvolvimento da empatia
4. A empatia é a capacidade humana de se sensibilizar com os sentimentos do próximo. A
troca de experiências vivenciada nas aulas de educação religiosa e a própria discussão
sobre os valores morais são importantes para o desenvolvimento dessa vocação que é,
inclusive, muito valorizada no mercado de trabalho atualmente.
Ser empático também é muito importante para o desenvolvimento de bons relacionamentos
interpessoais. Isso pode contribuir até mesmo para o estabelecimento de uma relação muito
mais saudável entre pais e filhos.
Criação de laços de amizade
Sem amigos não somos nada. Desenvolver a empatia e estar em um ambiente repleto de
pessoas que estão aprendendo o mesmo tema faz com que um indivíduo crie e estreite
laços de amizade duradouros. Para os jovens, então, essa sensação de identificação,
integração e respeito é muito importante para o ambiente escolar.
Outra vantagem da criação e do fortalecimento dos laços de amizade entre crianças e
adolescentes está justamente no desenvolvimento do coletivismo, ou seja, do
aperfeiçoamento da capacidade de trabalhar em equipe. Isso é excelente para a vida
profissional desse indivíduo no futuro.
Melhora do relacionamento entre pais e filhos
Trabalhar os valores morais e cristãos na escola também é algo que, mesmo que
indiretamente, contribui para a melhora no relacionamento entre familiares e os jovens
estudantes. Afinal, tudo que é visto no colégio é levado para a vida pessoal, logo, as
relações se tornam muito mais tranquilas e proveitosas.
Além disso, estabelecer uma melhor relação entre essas partes pode ser algo extremamente
importante para a vida acadêmica das crianças e dos adolescentes. Afinal, a participação
ativa dos responsáveis por esses indivíduos no dia a dia escolar é algo muito importante
para todos os envolvidos no processo de educação.
Combate ao bullying
O bullying é um dos problemas mais presentes no dia a dia dos estudantes de todo o
mundo. No Brasil, isso não é diferente, e essa realidade está muito relacionada com a
intolerância às diferenças e a qualquer tipo de característica que fuja, ainda que pouco, dos
padrões impostos pela sociedade.
Com consequências devastadoras para o bem-estar físico e psicológico de crianças e
adolescentes de todas as idades, o bullying precisa ser combatido de forma bastante firme.
O ensino religioso é, portanto, uma poderosa ferramenta contra essa situação,
estabelecendo o equilíbrio entre os estudantes e ensinando-os a respeitar as diferenças.
Desenvolvimento da tolerância religiosa
Um dos maiores problemas de nossa sociedade é a intolerância religiosa. Esse assunto,
infelizmente, não é nada novo: civilizações antigas, desde muito antes do nascimento de
Jesus Cristo, já demonstravam não saber lidar com as diferenças entre os cultos a deuses.
A gravidade do problema é facilmente observada na duração dele. Até hoje, muitas pessoas
têm uma grande resistência em respeitar as escolhas religiosas do próximo. Por isso, não é
incomum observarmos que mortes e guerras ainda são algo existente quando falamos sobre
religião.
Conviver em sociedade significa respeitar o próximo e as suas escolhas. Por isso, o ensino
religioso é algo que faz com que a criança aprenda desde cedo os valores do respeito e da
5. empatia, além de compreender que a religião nada mais é do que um caminho para o
mesmo lugar: o amor.
Compreensão e respeito pelas diferenças
Falando nisso, devemos salientar que os valores cristãos e morais estão diretamente ligados
ao respeito. Isso inclui, obviamente, o ato de acolher a diversidade e a diferença entre as
pessoas, a despeito de sua origem. Portanto, a religiosidade nada tem a ver com o
preconceito e a segregação, e sim com a atitude de amar o próximo, independentemente de
quem ele seja, e de ver todos os humanos como nossos irmãos.
Em uma sociedade tão plural quanto a do Brasil, respeitar essas diferenças é algo que não
pode ser deixado de lado em hipótese alguma. Assim, caminharemos juntos para a
conquista de um país mais justo, onde a individualidade pessoal é vista com bons olhos e
sempre celebrada e poderemos ter, enfim, um país bom para todos!