SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 20
Baixar para ler offline
Universidade Presbiteriana Mackenzie


ESTUDO DO PROCESSO CRIATIVO DE YUTAKA TOYOTA: UMA INSPIRAÇÃO
À CRIAÇÃO DE JÓIAS
Júlia Prado (IC) e Regina Lara Silveira Mello (Orientadora)

Apoio: PIBIC Mackenzie



Resumo

Este artigo estuda o processo de criação do artista plástico Yutaka Toyota e aponta relações da arte
com a joalheria, mostrando características das esculturas de Toyota que poderiam ser utilizadas na
criação de joias. Para isto realizou-se uma entrevista com o artista, analisou-se algumas esculturas e
estudou-se o caminho da jóia contemporânea. Observa-se que as esculturas de Toyota possuem
uma ilusão de ótica, que se dá através de reflexos em metal polido, criando um espaço virtual,
ilusório. Essa ilusão é intencional, pois o artista deseja falar de outra dimensão.


Palavras-chave: Yutaka Toyota, joia contemporânea, processos criativos




Abstract

This article studies Yutaka Toyota´s creative process and points art and jewelry relations,
showing features from Toyota´s sculptures that could be used in jewelry design. For this
there was an interview with the artist, some sculptures were analyzed and the way to
contemporary jewelry was studied. Toyota´s sculptures have an optical illusion that occurs
through reflections in polished metal, creating a virtual space. This illusion is intentional,
because the artist wants to show another dimension.

Key-words: Yutaka Toyota, contemporary jewelry, creative processes




                                                                                                    1
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


INTRODUÇÃO

O presente estudo observa o processo criativo do artista plástico Yutaka Toyota e aponta
características de suas esculturas, interessantes para serem tratadas na joalheria. Ao
relacionar arte e joia, enriquece-se o universo joalheiro.

As esculturas de Toyota são formal e conceitualmente interessantes, possuem formas
contemporâneas geométricas, características interessantes para as joias. Suas esculturas
monumentais pelo mundo possuem chapas de aço côncavas e convexas, reflexos e cores
que despertam a curiosidade do espectador e algumas possuem movimentos acionados
pelo vento.

Esculturas do artista foram escolhidas e analisadas segundo a teoria da Gestalt1,
observando estrutura, forma e figura, relacionando as partes do todo e apontando os fatores
de equilíbrio, clareza e harmonia visual. Não se vê partes isoladas, a percepção é sempre
do todo, e a escola da Gestalt aponta alguns mecanismos de organização visual que a
mente reproduz espontaneamente ao observar qualquer imagem.

A idéia de processo criativo está ligada à um conceito de movimento, de algo dinâmico que
percorre um tempo. Kneller (1978, apud. Mello, 2008) definiu cinco etapas do processo
criativo: apreensão, preparação, incubação, iluminação e verificação. Esta concepção inclui
a atenção aos problemas, questões que exigem soluções criativas, ou simplesmente a idéia
do fazer (a apreensão). A preparação é o estudo da idéia inicial e, em seguida, a incubação
pode-se dizer que é uma fase de maturação, do cruzamento entre a idéia inicial e a
pesquisa, essa etapa ocorre inconscientemente, num momento de afastamento para relaxar
e renovar as idéias. Depois dessas etapas vem o clímax, quando o criador percebe a
solução do problema, o momento da descoberta. E finalmente a fase da verificação, em que
se retoma a inspiração para corrigir e modificar, conscientemente, pequenas coisas na obra,
com olhar de observador externo, pensando no público. Essas etapas, na realidade, não são
definidas e isoladas, elas acabam se sobrepondo.

Segundo Mihalyi Csikszentmihalyi (1998, p. 98) o processo criativo começa com o objetivo
de resolver um problema dado por uma pessoa, ou sugerido pelo estado da arte na área; e
quando esse problema é localizado, o processo passa para um nível subconsciente. Isso
provoca uma lembrança apenas do “insight”, deixando o processo, os passos para o
resultado, adormecidos. Isso é chamado pelo psicólogo Csikzentmihalyi de incubação do
processo consciente, que segundo ele é o momento mais criativo do processo. O “insight”
acontece quando uma conexão subconsciente entre idéias encaixa tão bem que é forçada a

1
  Escola de psicologia experimental, com o filósofo austríaco, de fins do século XIX, Christian Von Ehrenfels
como percursor (GOMES FILHO, 2008, p. 18).



                                                                                                           2
Universidade Presbiteriana Mackenzie


saltar ao consciente.

O principal conceito elaborado pelo psicólogo é o “flow”, definido como uma experiência de
prazer que também pode envolver atividades dolorosas, arriscadas e difíceis, que, no
entanto ampliam a capacidade da pessoa, trazendo elementos de novidade e descobertas –
o fluir de ideias, a profunda concentração, quando tudo se volta para um objetivo, e o
indivíduo passa por uma experiência interna. Csikzentmihalyi define (1998, p. 110) alguns
elementos que descrevem o que se sente quando uma experiência é prazerosa (flow): há
objetivos claros, passos a percorrer; as respostas às ações são imediatas; há equilíbrio
entre desafios e habilidades; a concentração é total no que se está fazendo; distrações não
atingem a consciência; não há preocupação em fracassar; a autoconsciência se recolhe,
não há preocupação em parecer bem, manter a pose; a percepção do tempo é distorcida,
perde-se a noção do tempo e horas parecem minutos; e a atividade se torna autotélica, se
auto alimenta com recompensas e satisfações em si mesma.



REFERENCIAL TEÓRICO

Yutaka Toyota

Yutaka Toyoda (com “d”) nasceu no dia 14 de maio de 1931, na cidade de Tendo, ao norte
do Japão. O sobrenome, herdado do pai, desde o início de sua carreira no Brasil foi trocado
pela imprensa por Toyota (com “t”), e posteriormente adotado.

Quando pequeno desenhava e fazia aquarelas das paisagens e estações do ano; na
infância também conviveu com a marcenaria do pai, tendo contato com a fabricação
artesanal de móveis. O irmão de sua mãe era pintor, Jin Ichi Oe, e Toyota gostava de
observá-lo. Ganhava as telas inutilizadas do tio, cobria com tinta branca e as reaproveitava.
O seu primeiro prêmio de pintura veio em 1946, aos quinze anos, com o quadro 'Outono',
que reutilizava uma das telas do tio.

Em 1950 foi para Tóquio, ingressou na Universidade de Artes, no curso de arte e artesanato.
Embora a maioria das disciplinas cursadas referia-se ao artesanato, aulas de desenho de
observação, de história da arte oriental e ocidental e de desenho industrial também fizeram
parte da sua graduação, completada em 1954. Fez um curso extraclasse de cenografia e
tornou-se assistente do mestre Kenkichi Yoshida, o que contribuiu para sua melhor
compreensão do espaço.

Tornou-se instrutor técnico do Instituto de Pesquisas Industriais, da cidade de Shizuoka – lá
utilizou seus conhecimentos adquiridos nas aulas de desenho industrial, pois visavam a
fabricação em série de móveis, bicicletas, esquis, entre outros objetos.



                                                                                             3
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Com a intenção de implantar uma fábrica de máquinas de costura, Toyota veio ao Brasil
junto com uma equipe de técnicos. A fábrica nunca veio a funcionar, mas o tempo que
Toyota ficou por aqui foi suficiente para querer retornar ao Brasil.

De volta a São Paulo, dedicou-se com maior entusiasmo à arte, sua pintura adquiriu formas
abstratas geométricas, carregadas de uma procura por uma expressão interior; há presença
do círculo, que representa harmonia, unidade – referência oriental (PRIETO, 2009, p. 29).
Este período, na década de 60, ele chamou de Círculo – Símbolo da Harmonia Cósmica (fig.
1). Essa persistência no signo círculo, Toyota acredita que fosse uma manifestação da
atitude zen-budista, princípios que acompanharam a sua criação, como a busca pela paz
interior e pela compreensão simples e profunda das coisas.




                 Fig. 1 – Toyota pintando círculos nos meados dos anos 60. Fonte: Prieto.

Em 1965 suas pinturas fizeram grande sucesso no Brasil, com premiações e obras aceitas
para a VIII Bienal Internacional de São Paulo. Mas o artista queria progredir mais, e resolveu
explorar a tradição cultural européia, mudando-se para Florença.

Na Europa obteve contato com o diretor do Museu de Arte de São Paulo, Pietro Maria Bardi,
que ajudou o casal convidando-os para permanecerem na Villa Beneviene, pertencente ao
MASP. Bardi também serviu como grande estímulo intelectual à Toyota. Neste período
começou a fazer experiências com diferentes materiais nas telas, como terra, areia e linho



                                                                                                       4
Universidade Presbiteriana Mackenzie


misturados à tinta.

Após o contato com a arte antiga de Florença Toyota resolveu conhecer os movimentos
atuais mudando-se para Milão, onde havia uma arte de vanguarda. É lá que nasce o
primeiro filho do casal Toyota, Gianni Yo. Durante este tempo em Milão (1966 a 1968) os
movimentos de op-art e arte cinética se afirmavam na Europa. Neste período Toyota teve
contato com diversos artistas, dos quais todos admiravam o pensamento de Lucio Fontana,
argentino radicado em Milão, um dos percussores da revelação de outra dimensão espacial
nas artes plásticas. Toyota se identificou em vários pontos do pensamento de Lucio Fontana
no “Manifesto Blanco” (1946), principalmente quando Fontana afirma que o conhecimento
experimental deve tomar o lugar do conhecimento imaginativo.

                        Ao cortar a tela, Fontana queria enxergar além dela, alcançar outra dimensão que
                        não fosse a do plano nem a do volume, mas a tetra dimensão. (...) O aspecto
                        estático do quadro e da escultura – em suas dimensionalidades tradicionais –
                        estavam assim sendo abandonadas por artistas que Toyota encontrava na Itália.
                        (PRIETO, 2010, p. 42)

Com a vida mais dinâmica, as idéias de rápido, contínuo e mutável foram introduzidas na
arte, fazendo com que se falasse de quarta dimensão. Nesta fase, o trabalho de Toyota ficou
mais limpo e a arte óptica apareceu. As figuras geométricas eram elemento principal –
quadrados, losangos e até o círculo, que se aproximava de elipses, sofrendo deformações –
em faixas paralelas de linhas finas, em tons luminosos, geralmente em um fundo claro (fig. 2
e 3). As formas eram concêntricas, repetidas a partir de um possível centro, lembrando a
propagação da água em lago ao cair uma pedra – com a ilusão de ótica as figuras iam se
tornando sólidas, avançando da tela.




                  Fig. 2 e 3 – Duas das primeiras pinturas ópticas, 1966. Fonte: Prieto.



                                                                                                      5
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Depois acrescentou às suas pinturas outros elementos materiais. Deixando as tintas a óleo
e acrílicas de lado, e preocupado com as questões do espaço, procurou materiais da época
tecnológica: o alumínio e o poliéster. A madeira continua apenas como suporte. O artista
preocupava-se em mostrar uma dimensão que se relacionasse com a simplicidade do
pensamento zen – que sempre o acompanhou – transmitindo sua concepção de um mundo
cósmico. Gravava desenhos em placas de alumínio, geralmente círculos amassados.
“Perdurava o desejo de falar de algo incorpóreo – refúgio, nuance. Toyota desejava que
seus trabalhos passassem a traduzir o positivo e o negativo, para representarem o mundo”
(PRIETO, 2009, p.47). Procurava mostrar o visível e o imaterial ao mesmo tempo.

Os primeiros objetos que Toyota criou, fixou-os nas paredes – relevos côncavos, convexos,
com suporte de madeira forrado de alumínio na parte frontal. Não usava muito o poliéster
devido ao alto custo, e pelo mesmo motivo ainda não usava o aço inoxidável. O alumínio foi
o mais usado, pelo preço acessível e o utilizava espelhado para obter os reflexos. Sobre as
superfícies colocou esferas pintadas de branco, que se deformavam (mais que em seus
quadros) no reflexo.

Toyota pretendia comunicar um significado mental e espiritual do espaço. Essa fase de
preocupação com a questão espacial foi chamada de In-Yo – símbolo de elementos opostos
(fig. 4). O reflexo do alumínio espelhava a obra e o ambiente onde estivesse, deformando e
criando um novo espaço. A opção por não usar espelhos se deu pois estes, apenas,
reproduziriam a obra e o ambiente, sem deformá-los.




             Fig. 4 – Espaço In Infinito, aço inoxidável, madeira e pintura, 1967. Fonte: Prieto.




                                                                                                          6
Universidade Presbiteriana Mackenzie


Para Prieto (2009, p. 50):

                          A arte de Toyota se tornava ambiental e enigmática em suas intenções e resultados.
                          Isso se dava graças à versatilidade das imagens virtuais constantes de cada obra, o
                          que dependia do local de sua inserção e do ponto de vista do observador. (...) Toyota
                          pretendia ir além do mundo visível. Partindo de motivações dualistas, que ele fez
                          coexistir nas suas obras – feminino/masculino, grande/pequeno, bem/mal,
                          positivo/negativo, ying/yang (in/yo em japonês) – ele sempre buscou a unidade, o
                          neutro, a harmonia do universo.

De volta ao Brasil, nasce seu segundo filho e a família Toyota se muda para uma casa
maior, rodeada pelo verde da natureza, lembrando-o de suas origens. Com exposições e
prêmios na sua volta ao Brasil, houve uma divulgação das propostas de tendência óptica.
Toyota estava entre os artistas convidados para expor na X Bienal Internacional de São
Paulo (1969), aonde apresentou seis criações, chamando atenção com as obras
opticocinéticas (fig. 5), fazendo enorme sucesso.




      Fig. 5 – Sucesso das obras de Toyota na X Bienal Internacional de São Paulo, 1969. Fonte: Prieto.

Apesar de suas viagens e exposições por outros países, em 1971 obteve a naturalização
brasileira. No mesmo ano foi convidado para participar da XI Bienal na Bélgica,
representando o Brasil junto com outros artistas. Suas propostas tiveram o elemento cubo
tomando o lugar da esfera. Na simbologia chinesa do taoísmo, o círculo é o céu e o
quadrado a terra, encontrando o homem entre ambos. Para o artista, o cubo sugere a vida


                                                                                                             7
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


nas cidades grandes, o isolamento das pessoas em apartamentos, com os ângulos retos e
forma fechada.

Em 1974 viajou ao Japão, devido a uma exposição, e percebeu que ao viver em país
ocidental, onde a cultura é voltada para a lógica, conseguiu melhor compreender sua
ascendência e desenvolver o lado espiritual na arte.

Nos anos 70 a necessidade de criar volumes monumentais só aumentou, de criar formas
que se relacionassem com o espaço urbano. Toyota foi então sendo cada vez mais
reconhecido como escultor, participando de diversas exposições com suas esculturas
magníficas. Até que apresentou sua nova pintura, em uma mostra de um grupo nipônico
(Primeira Geração) em 1982, em São Paulo.

                         Percebia-se que suas esculturas e objetos transformavam-se, evoluíam. Nas peças
                         de médio ou pequeno porte, vistas em 1983, na Skultura Galeria de Arte (São
                         Paulo), um renovar criativo já havia sido demonstrado, como comentou o jornalista
                         Ivo Zanini: ' As esculturas em chapas de alumínio e aço de Toyota ganharam nova
                         dimensão na medida em que o artista conseguiu redimensionar formas e oferecer
                         novos espaços às cores no interior das peças'. (...) Por intermédio do metal, os
                         volumes continuavam a captar, espelhar, deformar o ambiente e o evanescente,
                         parâmetro da quarta dimensão de Toyota. (PRIETO, 2009, p. 97)

Em 1986 foi instalada a obra Espaço Vibração (fig. 6) no Hotel Tivoli Mofarrej, em São
Paulo. Uma obra magnífica que despertou um número enorme de encomendas
monumentais ao artista nos anos seguintes.




        Fig. 6 – Espaço Vibração, inox e latão, Hotel Tivoli Mofarrej, São Paulo, 1985. Fonte: Prieto.



                                                                                                          8
Universidade Presbiteriana Mackenzie


Em 1988 foi estimulado a criar uma jóia para participar da exposição Arte em Joias: uma
nova expressão, na qual expôs junto com outros 14 artistas nipônicos para celebrar o 80˚
aniversário da imigração japonesa no Brasil. A exposição aconteceu na Skultura Galeria de
Arte. A joia projetada por Toyota (fig. 7) possui claramente sua linguagem, com sólidos
côncavos extremamente polidos, parece uma miniatura de uma de suas esculturas. Na
apresentação do convite da exposição, Olney Krüse (1988) diz:

                         Estamos, nós que vivemos em 1988, no apogeu da joia como obra de arte, vale
                         dizer, aquela que além de seu valor intrínseco passa ao corpo de quem a usa e aos
                         olhos de quem observa, um acúmulo de informações cultuais. A joia, hoje, é um
                         fichário da soma de nossos dias, desde Altamira e suas cavernas até Brasília e seus
                         palácios. A joia, agora, é arquitetura, é desenho industrial, é escultura.




              Fig. 7 – Joia de Yutaka Toyota para a exposição Arte em Joias, São Paulo, 1988.

Em 1991 o artista recebeu da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) o prêmio de
Melhor Escultor de 1990. Reconhecido como escultor, Toyota volta a retomar a pintura,
desta vez as “folhas metálicas” revelam menos através das pontas viradas, a cor utilizada
então passa a ser o dourado, e surgem formas geométricas. Utilizando técnica mista, à base
de gesso, tinta a óleo, tinta acrílica, imitação de folhas de ouro (atualmente utiliza folhas de
ouro e de prata), cria texturas nas superfícies (fig. 8 e 9).




                                                                                                          9
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


                Fig. 8 – Espaço Ilusão n˚2, técnica mista sobre tela, 1992. Fonte: Prieto.




                  Fig. 9 – Espaço Ilusão, técnica mista sobre tela, 1998. Fonte: Prieto.


Em 2003 Toyota fez algumas obras para o Hotel Matsubara, de São Paulo. Entre elas,
luminárias lindas e funcionais em aço inoxidável e alumínio (fig. 10). Relembrando um pouco
o desenho industrial, parte de sua formação.




                                                                                                       10
Universidade Presbiteriana Mackenzie




   Fig. 10 – Lustre, chapa de aço inox escovado, tubos de alumínio, esferas cromadas, Hotel Matsubara, São
                                          Paulo, 2001. Fonte: Prieto.

A cor volta a aparecer em suas esculturas, desta vez através de uma película de adesivo
vinílico a uma superfície (fig. 11).




                 Fig. 11 – Espaço Luz e Sombra, aço, madeira e plástico, 2001. Fonte: Prieto.



Em 2009, com curadoria de Jacob Klintowitz, no MuBE (Museu Brasileiro de Escultura),
Toyota teve uma retrospectiva na exposição A Leveza da Flor. Na apresentação do
prospecto da exposição, Klintowitz (2009) fala poeticamente a respeito do artista:



                                                                                                             11
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


                      É universal o Fascínio que a escultura do brasileiro Yutaka Toyota exerce, como o
                      demonstra a sua intensa presença pública em lugares tão díspares como o Japão, a
                      Itália e o Brasil. É curioso como a sutil combinação de materiais, o conceito espiritual
                      subjacente e a produção tecnológica, não afasta o público, mas o aproxima. A sua é
                      uma escultura de combinações inesperadas. (…) É possível dizer que a junção e a
                      aparente contradição entre a dureza e o macio, a espontaneidade e a reflexão, o
                      volume e a leveza, a geometria estável e o equilíbrio instável, são companheiros
                      constantes de Yutaka, fazem parte do mundo que inventou e são a origem da
                      empatia do público. (…) A alta tecnologia é indissociável da sua delicada concepção.
                      E temos a sensação de que este vôo só existe embalado nestes materiais e em
                      contrastes incomuns. Yutaka Toyota enriquece o nosso olhar neste jogo essencial
                      feito de aço, alumínio, reflexos cromáticos de pigmentos ocultos, e movimentos
                      eólicos. Éolo, deus dos ventos, filho de Zeus, e Yutaka Toyota, e algumas esculturas
                      tão próximas da natureza e do gesto humano. Vôo de prata. Carícia do vento e
                      reflexos das luzes. Linha geométrica a recortar e reconstruir o espaço. Paradoxo,
                      tudo parece natural.

O processo criativo de Toyota é bastante metódico, envolve uma rotina fixa. Seu tema de
trabalho se mantém o mesmo, com inovações em formas e, as vezes, técnica e material, o
que contribui para sua identidade e para o amadurecimento de suas idéias.



O Caminho à Joia Contemporânea

O universo da joalheria começou a se libertar do tradicionalismo a partir do século XX, na
Europa, quando dois movimentos artísticos influenciaram a joalheria e a moda: o Art
Nouveau, estilo com linhas simples, soltas, alongadas, assimétricas, sinuosas, e com
movimento, gerando formas orgânicas e temas florais, naturalista e feminino, estilo em que
as fronteiras entre a belas-artes e o artesanato estavam bem reduzidas. E o Art Déco, estilo
que surgiu em um período de mudança comportamental da população, em que havia novos
ricos, hotéis de luxo, e novas tendências (de massificação) da moda, um estilo luxuoso, que
se utilizou de materiais caros (diamantes, pérolas e platina), formas limpas e geométricas,
simétricas, e utilizou a luz (tema proveniente do cinema) como referência, inspiração.
Podemos observar esses estilos nos trabalhos de Lalique (fig. 12) – considerava que o valor
do material em suas jóias era irrelevante, adorando trabalhar com marfim, chifre, âmbar,
pedras semipreciosas e vidro, a criatividade superava o valor da matéria e por isso as joias
de Lalique são consideradas obras de arte (CAMPOS, 1997, p. 54) – e Cartier (fig. 13),
respectivamente.




                                                                                                           12
Universidade Presbiteriana Mackenzie




  Fig. 12 - Pente Art Nouveau de marfim, chifre, ouro e topázio (1903-1904), René Lalique. Fonte: Gulbenkian.




                 Fig. 13 - Colar Art Deco de diamantes e citrinos (1934), Cartier. Fonte: Cartier.

Segundo Campos (1997, p. 61), a moda também provocou mudanças na joalheria, pois nos
anos 20 se tornava mais esportiva, casual, e deixou de combinar com as pedras preciosas,
precisando de um novo tipo de ornamento, o que fez surgir a joia de moda, produzida em
material não precioso. Essas joias de moda, criadas por estilistas, eram inspiradas nas
coleções anuais e nos movimentos artísticos, e posteriormente foram imitadas pela indústria
para serem objetos de consumo em massa.

Na década de 50 o abstracionismo e o expressionismo começaram a aparecer na produção
dos muitos artistas joalheiros que surgiam, envolvidos com os movimentos artísticos. Nos
anos 60 e 70 houve influência das conquistas espaciais – utilização do alumínio e titânio,
metais mais leves – da Pop e Op Art – geometrização das formas, utilização de plásticos – e
os movimentos hippies e pacifistas – tendências étnicas. Na década de 70, com a
exploração de novos metais, apareceu o aço. Nos anos 80, os artistas joalheiros começaram
a colaborar e promover encontros e demonstrar interesse por materiais diversos e novas
formas de expressão (CAMPOS, 1997, p. 65).

No Brasil, uma das pioneiras a criar joias como mini esculturas, como obra de arte foi a
francesa residente no Brasil Renée Sasson, segundo Magtaz (2008). Renée criava
acessórios exclusivos para grandes costureiros da época, era especialista em esmaltes e
mudou o conceito de fazer arte e joalheria.


                                                                                                                13
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Fig. 14 - Colar de prata com turmalinas melancia, Renée Sasson. Fonte: Magtaz, 2008. p.153.




As joias passaram a ser pequenas obras de arte usadas para adornar o corpo, como
podemos ver documentado neste convite para a exposição Eucat Expo (fig. 15), realizada
em 1974, em São Paulo. Outros “artistas-joalheiros” que se destacaram no pioneirismo
foram: Ulla Johnsen, Caio Mourão e Reny Golcman (entre outros).




             Fig. 15 - Documento da Eucat Expo, realizada em 1974. Fonte: Magtaz, 2008. p. 157.




                                                                                                        14
Universidade Presbiteriana Mackenzie




                         Fig. 16 - Colar de prata Crista de Galo, Caio Mourao. Fonte: Mourão.

A partir de então a joia ganhou espaço, no Brasil, ao lado de obras de artistas plásticos e
arquitetos, passou a fazer parte do circuito das artes, exposições foram incentivadas e
criadas por Pietro Maria Bardi no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Além de ter
presença na Bienal de São Paulo.

Deixou de ser uma técnica que se passava exclusivamente em família e passou a ser
difundida em ateliês para novos interessados. Na década de setenta já havia cursos livres e
escolas de joalheria fundadas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

                               A joia é uma obra de arte. Expostas em diversas galerias, a joia única ou joia de
                               autor, assume uma identidade de obra de arte. Consideradas esculturas criadas para
                               adornar, e assinadas por seus criadores, transforma artistas em joalheiros e
                               joalheiros em artistas. (MAGTAZ, 2008, p. 156)

A joia de arte trabalha com materiais e formas experimentais, combinações inovadoras e
diferentes maneiras de utilizar a técnica.

                               Para se avaliar a estética de uma joia, que lida com as questões das artes liberais,
                               considera-se a essência do design, buscando por estruturas poéticas tanto na
                               concepção, quanto na composição da peça, e por elementos metafóricos e/ou
                               simbólicos significativos. Na joalheria, materiais alternativos são experimentados na
                               medida em que reafirmam as intenções das mensagens artísticas. (CLARKE, 2004)

Em 2007 surgiu, no Brasil, o Projeto Nova Joia2, um exemplo de joalheria experimental. O
projeto se preocupa com o valor do processo criativo, colocando em segundo plano o uso de
materiais preciosos (ouro e diamantes). Coloca um novo significado para a joia, buscando
com experimentações, materiais e técnicas diferentes, reflexões, propondo adornos com
significados mais íntimos, uma nova joalheria.




2
    Projeto com o objetivo de expandir e divulgar a arte-joalheria no Brasil.




                                                                                                                 15
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


MÉTODO

Inicialmente leu-se a respeito do processo criativo segundo Mihalyi Czikzentmihalyi, e
procurou-se apreender o percurso de Toyota na arte. Então, um roteiro de entrevista foi
elaborado, visando obter algumas informações sobre o processo criativo do artista. A
entrevista foi realizada em fevereiro de 2011, no ateliê do artista, sendo gravada e transcrita
pela autora. Algumas obras do artista foram selecionadas para serem analisadas e as
características mais marcantes e comuns entre elas apontadas. O momento que possibilitou
maior entendimento a cerca de suas obras foi uma visita guiada com o artista à exposição
'Espaço Multidimensional' quando Toyota expos suas idéias apontando às obras. Reunindo
informações obtidas na entrevista à autora, acrescida de observações feitas durante a
exposição, analisadas à luz dos conceitos desenvolvidos por Csikzentmihalyi, resultou a
compreensão do processo criativo de desenvolvimento das formas.

Posteriormente leu-se a respeito da joalheria a partir de seu relacionamento com a arte, até
os dias atuais. E então, com as análises das obras do artista e pensando em uma jóia de
arte, estabeleceram-se algumas relações que permitem expor a riqueza das obras de Toyota
ao universo da joalheria.



RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Espaço

Yutaka Toyota traz referências culturais de sua origem japonesa, entre outras, do Zen-
budismo em suas obras. O tema que aborda é do espaço, do mundo cósmico, das
dimensões (quarta, quinta e até sexta!), assunto tratado no Zen-budismo. Essa abordagem
aparece com reflexos espelhados no aço, geralmente côncavo, super polido criando uma
ilusão de que há matéria além da superfície espelhada, despertando curiosidade no
observador, que chega mais perto tentando encontrar essa matéria. As formas que saem da
obra, cilindros, perfis quadrados, possuem a parte visível também em aço polido, e a parte
posterior, geralmente, em alguma cor vibrante. Esta cor refletida em meio ao metal polido se
distorce e cria imagens que parecem virtuais, imagens “flutuantes”, que na verdade são
apenas resultado de uma ilusão de ótica.




                                                                                               16
Universidade Presbiteriana Mackenzie




                   Fig. 17 – Espaço Invisível, 2010, Yutaka Toyota. Fonte: Catálogo.

Esses reflexos transmitem uma sensação de que há um espaço além do espelho, que nos
observa, como observamos o espelho, que existe e nos engloba, mas que na verdade é
uma imagem intangível (a outra dimensão, segundo Toyota). Em uma visita guiada em sua
exposição ‘Espaço Multidimensional’, o artista revela parte de sua concepção de espaço
quando disse: “No mundo não tem cima e baixo, esquerda e direita, estamos no cósmico”,
apontando a obra Espaço Reflexo Infinito, 1994, e os reflexos invertidos do observador na
obra.

Toyota (2011, p. 2) fala das dimensões da ciência, da quarta dimensão - que por ser espaço
e tempo, já não é tangível - mas diz que as dimensões superiores possuem “um universo
invisível aos nossos olhos, porém elas existem e os seres mais evoluídos são capazes de
compreendê-las”.

                                       Assim, ao penetrarmos neste espaço multidimensional, teremos
                                       novas sensações, viajaremos para outros pontos deste imenso
                                       universo e observaremos novos mundos – talvez um mundo de
                                       esperança, onde exista respeito ao próximo e à lei natural. Gostaria
                                       que minhas obras, onde o invisível se mostra visível nas cores
                                       ocultas e formas anônimas, nos levassem a uma viagem sideral,
                                       multidimensional, em que o positivo e o negativo e todos os
                                       opostos, o masculino e o feminino, o In e o Yo e tudo mais
                                       convivam em plena harmonia e o cosmos repleto de enigmas se
                                       mostre claro e simples (TOYOTA, 2011, p. 2).

Yutaka Toyota é super organizado e técnico, seus pequenos rascunhos e desenhos matinais
transformam-se em desenhos detalhadamente pensados em papel milimetrado. Ao acordar
pela manhã, em torno das 4 ou 5 horas, Yutaka faz pequenas anotações, desenhos e
croquis. Depois lista suas atividades do dia, o que deve fazer, o que vai pintar, se deve


                                                                                                        17
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


continuar alguma obra. Os croquis e anotações, ao longo do dia, vão se transformar em
desenhos técnicos em papel milimetrado, para facilitar o dimensionamento da obra.

Com o desenho pronto e bem resolvido, o artista faz uma maquete, praticamente um
protótipo, em escala reduzida, já utilizando os materiais próprios da obra, às vezes
experimentando com esse material, observando suas características, como se comporta,
como o reflexo acontece. A busca pelo reflexo implica numa escolha de textura na
superfície, polida ou fosca, conforme o artista deseja. Os materiais são escolhidos conforme
o desenho e a forma se formam para o artista, juntos, e conforme as necessidades físicas
da obra, se externa precisará de um material mais resistente, por exemplo.

A utilização do papel milimetrado permite facilmente a ampliação - já que as obras de Toyota
são, em sua maioria, grandiosas – e remete também ao lado técnico do artista, que fez
aulas de desenho industrial e trabalhou no Instituto de Pesquisas Industriais em Shizuoka.

O artista, quando recebe uma encomenda, faz visitas ao local em que a obra será colocada;
estuda a luz, o clima, a dimensão que a obra poderá ter no local. Esse estudo é essencial
para uma boa integração da obra com o ambiente. Um fator muito importante para o artista é
se a obra será interna ou externa, pois isso influencia muito o material utilizado. Em
entrevista à autora o artista disse: “Ambiente é muito importante”, fazendo referência ao
respeito que ele mantém ao ambiente, harmonizando-o com suas obras através da
integração.



As Esculturas e a Joia:

A comparação imediata das esculturas de Toyota com joias é a utilização de metal polido,
mas diferentemente das joias tradicionais polidas, Toyota acrescenta um ar contemporâneo
às suas esculturas através de formas geométricas, curvas matemáticas e formas abstratas.

O diferencial do artista: os reflexos e as deformações das cores e formas são características
que podem trazer um novo olhar à uma joia, agregando um elemento surpresa, que
desperte curiosidade, chamando atenção à joia. Algumas esculturas trabalham a chapa –
muitas joias o fazem também - mas a maioria é sólida, embora feitas a partir de chapas,
resultam em formas fechadas, aproximando-se de sólidos. Embora sejam formas fechadas
(sólidos), a aparência se mantém leve. Talvez pelo movimento gerado pelos ventos, ou pela
disposição de módulos crescentes, gerando ritmo. Ergonomicamente é fundamental que
uma joia seja leve, já que, seu uso não deve incomodar jamais.

Outra questão importante, que aparece constantemente nas obras do artista, é o ritmo –
repetição, alternância ou progressão de elementos similares – que conduz o olhar, embala a



                                                                                              18
Universidade Presbiteriana Mackenzie


percepção da obra, seduzindo o observador (fig. 18). Essa característica final enriquece a
joia, valorizando-a, já que seduz o olhar.




                 Fig. 18 – Espaço Reflexo Infinito, 1994, Yutaka Toyota. Fonte: Catálogo.



CONCLUSÃO

Este estudo mostra como é possível aproximar a joalheria da arte, utilizando-a como
referência projetual. Recolhendo características de sucesso em obras de artistas plásticos
pode-se fazer joias de sucesso, com uma referência rica em arte. Diferentemente de outros
objetos de design, o design de joias permite uma liberdade maior, a livre expressão de
conceitos que o aproximam das artes visuais.

As principais características encontradas nas esculturas de Yutaka Toyota, que podem
enriquecer o desenho da joia, são: o ritmo (repetição ou progressão de módulos); o
movimento (resultado de mecanismos entre os módulos); a utilização de côncavos; o
material diferenciado (o artista pesquisa materiais contemporâneos para sua criação); e
principalmente a utilização das cores no reflexo.

Na obra de Toyota transparecem elementos intangíveis como suas crenças, pensamento e
inspiração, através de materiais concretos e tangíveis como madeira, aço e tinta revelados
nas imagens formadas pela ilusão de ótica (percepções visuais). Concluímos que esta é a
principal característica de sua poética que pode ser importante referencia ao projeto de uma
joia: a liberdade na apropriação de elementos concretos de forma poética como linguagem
expressiva do design.


                                                                                                    19
VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


REFERÊNCIAS

CAMPOS, Ana Paula De. Jóia contemporânea brasileira: reflexões sob a ótica de alguns
criadores. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Artes) - Faculdade
de Comunicação e Artes, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1997

CARTIER.           Blog         55          secret          street.           Disponível         em:
<http://55secretstreet.typepad.com/photos/ne_plus_ultra/kentshireart_deco_diamond_and_c
ognac_cit.html>. Acesso em: 12 out. 2010.

CLARKE,      Cathrine.     A   Joalheria        de   Arte    Pós-moderna.         Disponível     em:
<http://www.katesjewelry.com.br/artigo1.htm>. Acesso em: 10 abr. 2010.

_______.      A     Arte       na      Joalheria       Contemporânea.            Disponível      em:
<http://www.katesjewelry.com.br/artigo2.htm>. Acesso em: 10 abr. 2010.

CSIKSZENTMIHALYI, M. Creatividad. El fluir y la psicologia del descubrimento y la
invencion. Barcelona, Espanha: Paidos, 1998.

GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma. 8. ed. rev. e
ampl. São Paulo: Escrituras, 2008. 127 p.

GULBENKIAN,          Museu          Galouste.        René       Lalique.        Disponível       em:
<http://www.museu.gulbenkian.pt/obra.asp?num=1211&nuc=a11&lang=pt> Acesso em: 10
abr. 2010.

MAGTAZ, M. Joalheria Brasileira: do descobrimento ao século XX. São Paulo: Mariana
Magtaz, 2008. 292 p.

MELLO, R. L. S. O Processo Criativo em Arte:Percepção de Artistas Visuais. 2008, 258p.
Tese (Doutorado em Psicologia como Profissão e Ciência ) – Centro de Ciências da Vida da
PUC-Campinas, São Paulo.

MOURÃO, Caio. Disponível em: <http://www.ateliermourao.com.br/galeria.html>. Acesso
em: 12 ou. 2010.

NASSER,       Salma.       Sobre       a        Joalheria     de      Arte.      Disponível      em:
<http://www.salmanasser.com.br/designer.html>. Acesso em: 10 abr. 2010.

PRIETO, Sonia. Yutaka Toyota: 50 anos de arte. São Paulo: Sonia Prieto, 2009. 205p.




Contato: juliapradodesign@gmail.com e reginalara.vitral@gmail.com




                                                                                                   20

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Julia prado

Seminário mário botta
Seminário mário bottaSeminário mário botta
Seminário mário bottaJanainaBSilva
 
Hélio Oiticica e Lygia Clark
Hélio Oiticica e Lygia ClarkHélio Oiticica e Lygia Clark
Hélio Oiticica e Lygia ClarkAline Corso
 
Seminário Pop Art and Op Art
Seminário Pop Art and Op Art Seminário Pop Art and Op Art
Seminário Pop Art and Op Art Everton Rodrigues
 
Arte Conceitual Definição e Características.ppt
Arte Conceitual Definição e Características.pptArte Conceitual Definição e Características.ppt
Arte Conceitual Definição e Características.pptCléa Lilian Parente
 
Cordeiro, waldemar
Cordeiro, waldemarCordeiro, waldemar
Cordeiro, waldemardeniselugli2
 
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.PIBID HISTÓRIA
 
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividade
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividadeSobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividade
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividadeRenata Furtado
 
Estética e ensino de arte
Estética e ensino de arteEstética e ensino de arte
Estética e ensino de arteMarcos Santos
 
Estetica-part 3.1.docx
Estetica-part 3.1.docxEstetica-part 3.1.docx
Estetica-part 3.1.docxLuisa679574
 
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0HENRIQUE GOMES DE LIMA
 

Semelhante a Julia prado (20)

Seminário mário botta
Seminário mário bottaSeminário mário botta
Seminário mário botta
 
Hélio Oiticica e Lygia Clark
Hélio Oiticica e Lygia ClarkHélio Oiticica e Lygia Clark
Hélio Oiticica e Lygia Clark
 
AULA 2_Moda conceitual.pdf
AULA 2_Moda conceitual.pdfAULA 2_Moda conceitual.pdf
AULA 2_Moda conceitual.pdf
 
I Nhotimonline
I NhotimonlineI Nhotimonline
I Nhotimonline
 
Seminário Pop Art and Op Art
Seminário Pop Art and Op Art Seminário Pop Art and Op Art
Seminário Pop Art and Op Art
 
Arte Conceitual Definição e Características.ppt
Arte Conceitual Definição e Características.pptArte Conceitual Definição e Características.ppt
Arte Conceitual Definição e Características.ppt
 
Cordeiro, waldemar
Cordeiro, waldemarCordeiro, waldemar
Cordeiro, waldemar
 
FUTURISMO
FUTURISMOFUTURISMO
FUTURISMO
 
Cildo Meireles
Cildo MeirelesCildo Meireles
Cildo Meireles
 
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.
Artigo: Pintando Identidades: “O grito do Ipiranga” em sala de aula.
 
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividade
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividadeSobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividade
Sobre o espectador e a obra de arte - da participaçãoo a interatividade
 
Arte o que é
Arte   o que éArte   o que é
Arte o que é
 
Maiolino 2C15
Maiolino 2C15Maiolino 2C15
Maiolino 2C15
 
Clark, lígia
Clark, lígiaClark, lígia
Clark, lígia
 
Estética e ensino de arte
Estética e ensino de arteEstética e ensino de arte
Estética e ensino de arte
 
5. pesquisas linguagem
5. pesquisas linguagem5. pesquisas linguagem
5. pesquisas linguagem
 
Arte contemporanea
Arte contemporaneaArte contemporanea
Arte contemporanea
 
Estetica-part 3.1.docx
Estetica-part 3.1.docxEstetica-part 3.1.docx
Estetica-part 3.1.docx
 
arte cinetica.pdf
arte cinetica.pdfarte cinetica.pdf
arte cinetica.pdf
 
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0Fund. filosóficos e sociológicos da arte   nota 10,0
Fund. filosóficos e sociológicos da arte nota 10,0
 

Mais de Carlos Elson Cunha

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Carlos Elson Cunha
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...Carlos Elson Cunha
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016Carlos Elson Cunha
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em públicoCarlos Elson Cunha
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eternoCarlos Elson Cunha
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Carlos Elson Cunha
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléCarlos Elson Cunha
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaCarlos Elson Cunha
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasCarlos Elson Cunha
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqCarlos Elson Cunha
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCarlos Elson Cunha
 

Mais de Carlos Elson Cunha (20)

Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
Wittgenstein, ludwig. tractatus logico philosophicus (1968)
 
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology   mead and the reality of t...
Westlund, olle. s(t)imulating a social psychology mead and the reality of t...
 
Alexandria sem muros monografia 2016
Alexandria sem muros   monografia 2016Alexandria sem muros   monografia 2016
Alexandria sem muros monografia 2016
 
Shopping das artes
Shopping das artesShopping das artes
Shopping das artes
 
Atitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em públicoAtitude mental correta para falar em público
Atitude mental correta para falar em público
 
Introduções para falar em público
Introduções para falar em públicoIntroduções para falar em público
Introduções para falar em público
 
O temor de falar em público
O temor de falar em públicoO temor de falar em público
O temor de falar em público
 
Mec solo ms
Mec solo msMec solo ms
Mec solo ms
 
Xadrez é fácil com o aluno eterno
Xadrez é fácil   com o aluno eternoXadrez é fácil   com o aluno eterno
Xadrez é fácil com o aluno eterno
 
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
Canvas do Carlão - Exemplo do modelo Canvas
 
B n
B nB n
B n
 
Guindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picoléGuindaste de palitos de picolé
Guindaste de palitos de picolé
 
Atribuições arquiteto
Atribuições arquitetoAtribuições arquiteto
Atribuições arquiteto
 
Todas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdiaTodas as árvores do largo da concórdia
Todas as árvores do largo da concórdia
 
R caetano pinto
R caetano pintoR caetano pinto
R caetano pinto
 
Levantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr brasLevantamento fotográfico v oprr bras
Levantamento fotográfico v oprr bras
 
Lançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparqLançamento de livros enanparq
Lançamento de livros enanparq
 
Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007Drenagem urbana.2007
Drenagem urbana.2007
 
Domótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecasDomótica em bibliotecas
Domótica em bibliotecas
 
Cdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologiasCdhu principais programas e tipologias
Cdhu principais programas e tipologias
 

Julia prado

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie ESTUDO DO PROCESSO CRIATIVO DE YUTAKA TOYOTA: UMA INSPIRAÇÃO À CRIAÇÃO DE JÓIAS Júlia Prado (IC) e Regina Lara Silveira Mello (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo Este artigo estuda o processo de criação do artista plástico Yutaka Toyota e aponta relações da arte com a joalheria, mostrando características das esculturas de Toyota que poderiam ser utilizadas na criação de joias. Para isto realizou-se uma entrevista com o artista, analisou-se algumas esculturas e estudou-se o caminho da jóia contemporânea. Observa-se que as esculturas de Toyota possuem uma ilusão de ótica, que se dá através de reflexos em metal polido, criando um espaço virtual, ilusório. Essa ilusão é intencional, pois o artista deseja falar de outra dimensão. Palavras-chave: Yutaka Toyota, joia contemporânea, processos criativos Abstract This article studies Yutaka Toyota´s creative process and points art and jewelry relations, showing features from Toyota´s sculptures that could be used in jewelry design. For this there was an interview with the artist, some sculptures were analyzed and the way to contemporary jewelry was studied. Toyota´s sculptures have an optical illusion that occurs through reflections in polished metal, creating a virtual space. This illusion is intentional, because the artist wants to show another dimension. Key-words: Yutaka Toyota, contemporary jewelry, creative processes 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO O presente estudo observa o processo criativo do artista plástico Yutaka Toyota e aponta características de suas esculturas, interessantes para serem tratadas na joalheria. Ao relacionar arte e joia, enriquece-se o universo joalheiro. As esculturas de Toyota são formal e conceitualmente interessantes, possuem formas contemporâneas geométricas, características interessantes para as joias. Suas esculturas monumentais pelo mundo possuem chapas de aço côncavas e convexas, reflexos e cores que despertam a curiosidade do espectador e algumas possuem movimentos acionados pelo vento. Esculturas do artista foram escolhidas e analisadas segundo a teoria da Gestalt1, observando estrutura, forma e figura, relacionando as partes do todo e apontando os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia visual. Não se vê partes isoladas, a percepção é sempre do todo, e a escola da Gestalt aponta alguns mecanismos de organização visual que a mente reproduz espontaneamente ao observar qualquer imagem. A idéia de processo criativo está ligada à um conceito de movimento, de algo dinâmico que percorre um tempo. Kneller (1978, apud. Mello, 2008) definiu cinco etapas do processo criativo: apreensão, preparação, incubação, iluminação e verificação. Esta concepção inclui a atenção aos problemas, questões que exigem soluções criativas, ou simplesmente a idéia do fazer (a apreensão). A preparação é o estudo da idéia inicial e, em seguida, a incubação pode-se dizer que é uma fase de maturação, do cruzamento entre a idéia inicial e a pesquisa, essa etapa ocorre inconscientemente, num momento de afastamento para relaxar e renovar as idéias. Depois dessas etapas vem o clímax, quando o criador percebe a solução do problema, o momento da descoberta. E finalmente a fase da verificação, em que se retoma a inspiração para corrigir e modificar, conscientemente, pequenas coisas na obra, com olhar de observador externo, pensando no público. Essas etapas, na realidade, não são definidas e isoladas, elas acabam se sobrepondo. Segundo Mihalyi Csikszentmihalyi (1998, p. 98) o processo criativo começa com o objetivo de resolver um problema dado por uma pessoa, ou sugerido pelo estado da arte na área; e quando esse problema é localizado, o processo passa para um nível subconsciente. Isso provoca uma lembrança apenas do “insight”, deixando o processo, os passos para o resultado, adormecidos. Isso é chamado pelo psicólogo Csikzentmihalyi de incubação do processo consciente, que segundo ele é o momento mais criativo do processo. O “insight” acontece quando uma conexão subconsciente entre idéias encaixa tão bem que é forçada a 1 Escola de psicologia experimental, com o filósofo austríaco, de fins do século XIX, Christian Von Ehrenfels como percursor (GOMES FILHO, 2008, p. 18). 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie saltar ao consciente. O principal conceito elaborado pelo psicólogo é o “flow”, definido como uma experiência de prazer que também pode envolver atividades dolorosas, arriscadas e difíceis, que, no entanto ampliam a capacidade da pessoa, trazendo elementos de novidade e descobertas – o fluir de ideias, a profunda concentração, quando tudo se volta para um objetivo, e o indivíduo passa por uma experiência interna. Csikzentmihalyi define (1998, p. 110) alguns elementos que descrevem o que se sente quando uma experiência é prazerosa (flow): há objetivos claros, passos a percorrer; as respostas às ações são imediatas; há equilíbrio entre desafios e habilidades; a concentração é total no que se está fazendo; distrações não atingem a consciência; não há preocupação em fracassar; a autoconsciência se recolhe, não há preocupação em parecer bem, manter a pose; a percepção do tempo é distorcida, perde-se a noção do tempo e horas parecem minutos; e a atividade se torna autotélica, se auto alimenta com recompensas e satisfações em si mesma. REFERENCIAL TEÓRICO Yutaka Toyota Yutaka Toyoda (com “d”) nasceu no dia 14 de maio de 1931, na cidade de Tendo, ao norte do Japão. O sobrenome, herdado do pai, desde o início de sua carreira no Brasil foi trocado pela imprensa por Toyota (com “t”), e posteriormente adotado. Quando pequeno desenhava e fazia aquarelas das paisagens e estações do ano; na infância também conviveu com a marcenaria do pai, tendo contato com a fabricação artesanal de móveis. O irmão de sua mãe era pintor, Jin Ichi Oe, e Toyota gostava de observá-lo. Ganhava as telas inutilizadas do tio, cobria com tinta branca e as reaproveitava. O seu primeiro prêmio de pintura veio em 1946, aos quinze anos, com o quadro 'Outono', que reutilizava uma das telas do tio. Em 1950 foi para Tóquio, ingressou na Universidade de Artes, no curso de arte e artesanato. Embora a maioria das disciplinas cursadas referia-se ao artesanato, aulas de desenho de observação, de história da arte oriental e ocidental e de desenho industrial também fizeram parte da sua graduação, completada em 1954. Fez um curso extraclasse de cenografia e tornou-se assistente do mestre Kenkichi Yoshida, o que contribuiu para sua melhor compreensão do espaço. Tornou-se instrutor técnico do Instituto de Pesquisas Industriais, da cidade de Shizuoka – lá utilizou seus conhecimentos adquiridos nas aulas de desenho industrial, pois visavam a fabricação em série de móveis, bicicletas, esquis, entre outros objetos. 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Com a intenção de implantar uma fábrica de máquinas de costura, Toyota veio ao Brasil junto com uma equipe de técnicos. A fábrica nunca veio a funcionar, mas o tempo que Toyota ficou por aqui foi suficiente para querer retornar ao Brasil. De volta a São Paulo, dedicou-se com maior entusiasmo à arte, sua pintura adquiriu formas abstratas geométricas, carregadas de uma procura por uma expressão interior; há presença do círculo, que representa harmonia, unidade – referência oriental (PRIETO, 2009, p. 29). Este período, na década de 60, ele chamou de Círculo – Símbolo da Harmonia Cósmica (fig. 1). Essa persistência no signo círculo, Toyota acredita que fosse uma manifestação da atitude zen-budista, princípios que acompanharam a sua criação, como a busca pela paz interior e pela compreensão simples e profunda das coisas. Fig. 1 – Toyota pintando círculos nos meados dos anos 60. Fonte: Prieto. Em 1965 suas pinturas fizeram grande sucesso no Brasil, com premiações e obras aceitas para a VIII Bienal Internacional de São Paulo. Mas o artista queria progredir mais, e resolveu explorar a tradição cultural européia, mudando-se para Florença. Na Europa obteve contato com o diretor do Museu de Arte de São Paulo, Pietro Maria Bardi, que ajudou o casal convidando-os para permanecerem na Villa Beneviene, pertencente ao MASP. Bardi também serviu como grande estímulo intelectual à Toyota. Neste período começou a fazer experiências com diferentes materiais nas telas, como terra, areia e linho 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie misturados à tinta. Após o contato com a arte antiga de Florença Toyota resolveu conhecer os movimentos atuais mudando-se para Milão, onde havia uma arte de vanguarda. É lá que nasce o primeiro filho do casal Toyota, Gianni Yo. Durante este tempo em Milão (1966 a 1968) os movimentos de op-art e arte cinética se afirmavam na Europa. Neste período Toyota teve contato com diversos artistas, dos quais todos admiravam o pensamento de Lucio Fontana, argentino radicado em Milão, um dos percussores da revelação de outra dimensão espacial nas artes plásticas. Toyota se identificou em vários pontos do pensamento de Lucio Fontana no “Manifesto Blanco” (1946), principalmente quando Fontana afirma que o conhecimento experimental deve tomar o lugar do conhecimento imaginativo. Ao cortar a tela, Fontana queria enxergar além dela, alcançar outra dimensão que não fosse a do plano nem a do volume, mas a tetra dimensão. (...) O aspecto estático do quadro e da escultura – em suas dimensionalidades tradicionais – estavam assim sendo abandonadas por artistas que Toyota encontrava na Itália. (PRIETO, 2010, p. 42) Com a vida mais dinâmica, as idéias de rápido, contínuo e mutável foram introduzidas na arte, fazendo com que se falasse de quarta dimensão. Nesta fase, o trabalho de Toyota ficou mais limpo e a arte óptica apareceu. As figuras geométricas eram elemento principal – quadrados, losangos e até o círculo, que se aproximava de elipses, sofrendo deformações – em faixas paralelas de linhas finas, em tons luminosos, geralmente em um fundo claro (fig. 2 e 3). As formas eram concêntricas, repetidas a partir de um possível centro, lembrando a propagação da água em lago ao cair uma pedra – com a ilusão de ótica as figuras iam se tornando sólidas, avançando da tela. Fig. 2 e 3 – Duas das primeiras pinturas ópticas, 1966. Fonte: Prieto. 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Depois acrescentou às suas pinturas outros elementos materiais. Deixando as tintas a óleo e acrílicas de lado, e preocupado com as questões do espaço, procurou materiais da época tecnológica: o alumínio e o poliéster. A madeira continua apenas como suporte. O artista preocupava-se em mostrar uma dimensão que se relacionasse com a simplicidade do pensamento zen – que sempre o acompanhou – transmitindo sua concepção de um mundo cósmico. Gravava desenhos em placas de alumínio, geralmente círculos amassados. “Perdurava o desejo de falar de algo incorpóreo – refúgio, nuance. Toyota desejava que seus trabalhos passassem a traduzir o positivo e o negativo, para representarem o mundo” (PRIETO, 2009, p.47). Procurava mostrar o visível e o imaterial ao mesmo tempo. Os primeiros objetos que Toyota criou, fixou-os nas paredes – relevos côncavos, convexos, com suporte de madeira forrado de alumínio na parte frontal. Não usava muito o poliéster devido ao alto custo, e pelo mesmo motivo ainda não usava o aço inoxidável. O alumínio foi o mais usado, pelo preço acessível e o utilizava espelhado para obter os reflexos. Sobre as superfícies colocou esferas pintadas de branco, que se deformavam (mais que em seus quadros) no reflexo. Toyota pretendia comunicar um significado mental e espiritual do espaço. Essa fase de preocupação com a questão espacial foi chamada de In-Yo – símbolo de elementos opostos (fig. 4). O reflexo do alumínio espelhava a obra e o ambiente onde estivesse, deformando e criando um novo espaço. A opção por não usar espelhos se deu pois estes, apenas, reproduziriam a obra e o ambiente, sem deformá-los. Fig. 4 – Espaço In Infinito, aço inoxidável, madeira e pintura, 1967. Fonte: Prieto. 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie Para Prieto (2009, p. 50): A arte de Toyota se tornava ambiental e enigmática em suas intenções e resultados. Isso se dava graças à versatilidade das imagens virtuais constantes de cada obra, o que dependia do local de sua inserção e do ponto de vista do observador. (...) Toyota pretendia ir além do mundo visível. Partindo de motivações dualistas, que ele fez coexistir nas suas obras – feminino/masculino, grande/pequeno, bem/mal, positivo/negativo, ying/yang (in/yo em japonês) – ele sempre buscou a unidade, o neutro, a harmonia do universo. De volta ao Brasil, nasce seu segundo filho e a família Toyota se muda para uma casa maior, rodeada pelo verde da natureza, lembrando-o de suas origens. Com exposições e prêmios na sua volta ao Brasil, houve uma divulgação das propostas de tendência óptica. Toyota estava entre os artistas convidados para expor na X Bienal Internacional de São Paulo (1969), aonde apresentou seis criações, chamando atenção com as obras opticocinéticas (fig. 5), fazendo enorme sucesso. Fig. 5 – Sucesso das obras de Toyota na X Bienal Internacional de São Paulo, 1969. Fonte: Prieto. Apesar de suas viagens e exposições por outros países, em 1971 obteve a naturalização brasileira. No mesmo ano foi convidado para participar da XI Bienal na Bélgica, representando o Brasil junto com outros artistas. Suas propostas tiveram o elemento cubo tomando o lugar da esfera. Na simbologia chinesa do taoísmo, o círculo é o céu e o quadrado a terra, encontrando o homem entre ambos. Para o artista, o cubo sugere a vida 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 nas cidades grandes, o isolamento das pessoas em apartamentos, com os ângulos retos e forma fechada. Em 1974 viajou ao Japão, devido a uma exposição, e percebeu que ao viver em país ocidental, onde a cultura é voltada para a lógica, conseguiu melhor compreender sua ascendência e desenvolver o lado espiritual na arte. Nos anos 70 a necessidade de criar volumes monumentais só aumentou, de criar formas que se relacionassem com o espaço urbano. Toyota foi então sendo cada vez mais reconhecido como escultor, participando de diversas exposições com suas esculturas magníficas. Até que apresentou sua nova pintura, em uma mostra de um grupo nipônico (Primeira Geração) em 1982, em São Paulo. Percebia-se que suas esculturas e objetos transformavam-se, evoluíam. Nas peças de médio ou pequeno porte, vistas em 1983, na Skultura Galeria de Arte (São Paulo), um renovar criativo já havia sido demonstrado, como comentou o jornalista Ivo Zanini: ' As esculturas em chapas de alumínio e aço de Toyota ganharam nova dimensão na medida em que o artista conseguiu redimensionar formas e oferecer novos espaços às cores no interior das peças'. (...) Por intermédio do metal, os volumes continuavam a captar, espelhar, deformar o ambiente e o evanescente, parâmetro da quarta dimensão de Toyota. (PRIETO, 2009, p. 97) Em 1986 foi instalada a obra Espaço Vibração (fig. 6) no Hotel Tivoli Mofarrej, em São Paulo. Uma obra magnífica que despertou um número enorme de encomendas monumentais ao artista nos anos seguintes. Fig. 6 – Espaço Vibração, inox e latão, Hotel Tivoli Mofarrej, São Paulo, 1985. Fonte: Prieto. 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie Em 1988 foi estimulado a criar uma jóia para participar da exposição Arte em Joias: uma nova expressão, na qual expôs junto com outros 14 artistas nipônicos para celebrar o 80˚ aniversário da imigração japonesa no Brasil. A exposição aconteceu na Skultura Galeria de Arte. A joia projetada por Toyota (fig. 7) possui claramente sua linguagem, com sólidos côncavos extremamente polidos, parece uma miniatura de uma de suas esculturas. Na apresentação do convite da exposição, Olney Krüse (1988) diz: Estamos, nós que vivemos em 1988, no apogeu da joia como obra de arte, vale dizer, aquela que além de seu valor intrínseco passa ao corpo de quem a usa e aos olhos de quem observa, um acúmulo de informações cultuais. A joia, hoje, é um fichário da soma de nossos dias, desde Altamira e suas cavernas até Brasília e seus palácios. A joia, agora, é arquitetura, é desenho industrial, é escultura. Fig. 7 – Joia de Yutaka Toyota para a exposição Arte em Joias, São Paulo, 1988. Em 1991 o artista recebeu da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) o prêmio de Melhor Escultor de 1990. Reconhecido como escultor, Toyota volta a retomar a pintura, desta vez as “folhas metálicas” revelam menos através das pontas viradas, a cor utilizada então passa a ser o dourado, e surgem formas geométricas. Utilizando técnica mista, à base de gesso, tinta a óleo, tinta acrílica, imitação de folhas de ouro (atualmente utiliza folhas de ouro e de prata), cria texturas nas superfícies (fig. 8 e 9). 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Fig. 8 – Espaço Ilusão n˚2, técnica mista sobre tela, 1992. Fonte: Prieto. Fig. 9 – Espaço Ilusão, técnica mista sobre tela, 1998. Fonte: Prieto. Em 2003 Toyota fez algumas obras para o Hotel Matsubara, de São Paulo. Entre elas, luminárias lindas e funcionais em aço inoxidável e alumínio (fig. 10). Relembrando um pouco o desenho industrial, parte de sua formação. 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie Fig. 10 – Lustre, chapa de aço inox escovado, tubos de alumínio, esferas cromadas, Hotel Matsubara, São Paulo, 2001. Fonte: Prieto. A cor volta a aparecer em suas esculturas, desta vez através de uma película de adesivo vinílico a uma superfície (fig. 11). Fig. 11 – Espaço Luz e Sombra, aço, madeira e plástico, 2001. Fonte: Prieto. Em 2009, com curadoria de Jacob Klintowitz, no MuBE (Museu Brasileiro de Escultura), Toyota teve uma retrospectiva na exposição A Leveza da Flor. Na apresentação do prospecto da exposição, Klintowitz (2009) fala poeticamente a respeito do artista: 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 É universal o Fascínio que a escultura do brasileiro Yutaka Toyota exerce, como o demonstra a sua intensa presença pública em lugares tão díspares como o Japão, a Itália e o Brasil. É curioso como a sutil combinação de materiais, o conceito espiritual subjacente e a produção tecnológica, não afasta o público, mas o aproxima. A sua é uma escultura de combinações inesperadas. (…) É possível dizer que a junção e a aparente contradição entre a dureza e o macio, a espontaneidade e a reflexão, o volume e a leveza, a geometria estável e o equilíbrio instável, são companheiros constantes de Yutaka, fazem parte do mundo que inventou e são a origem da empatia do público. (…) A alta tecnologia é indissociável da sua delicada concepção. E temos a sensação de que este vôo só existe embalado nestes materiais e em contrastes incomuns. Yutaka Toyota enriquece o nosso olhar neste jogo essencial feito de aço, alumínio, reflexos cromáticos de pigmentos ocultos, e movimentos eólicos. Éolo, deus dos ventos, filho de Zeus, e Yutaka Toyota, e algumas esculturas tão próximas da natureza e do gesto humano. Vôo de prata. Carícia do vento e reflexos das luzes. Linha geométrica a recortar e reconstruir o espaço. Paradoxo, tudo parece natural. O processo criativo de Toyota é bastante metódico, envolve uma rotina fixa. Seu tema de trabalho se mantém o mesmo, com inovações em formas e, as vezes, técnica e material, o que contribui para sua identidade e para o amadurecimento de suas idéias. O Caminho à Joia Contemporânea O universo da joalheria começou a se libertar do tradicionalismo a partir do século XX, na Europa, quando dois movimentos artísticos influenciaram a joalheria e a moda: o Art Nouveau, estilo com linhas simples, soltas, alongadas, assimétricas, sinuosas, e com movimento, gerando formas orgânicas e temas florais, naturalista e feminino, estilo em que as fronteiras entre a belas-artes e o artesanato estavam bem reduzidas. E o Art Déco, estilo que surgiu em um período de mudança comportamental da população, em que havia novos ricos, hotéis de luxo, e novas tendências (de massificação) da moda, um estilo luxuoso, que se utilizou de materiais caros (diamantes, pérolas e platina), formas limpas e geométricas, simétricas, e utilizou a luz (tema proveniente do cinema) como referência, inspiração. Podemos observar esses estilos nos trabalhos de Lalique (fig. 12) – considerava que o valor do material em suas jóias era irrelevante, adorando trabalhar com marfim, chifre, âmbar, pedras semipreciosas e vidro, a criatividade superava o valor da matéria e por isso as joias de Lalique são consideradas obras de arte (CAMPOS, 1997, p. 54) – e Cartier (fig. 13), respectivamente. 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie Fig. 12 - Pente Art Nouveau de marfim, chifre, ouro e topázio (1903-1904), René Lalique. Fonte: Gulbenkian. Fig. 13 - Colar Art Deco de diamantes e citrinos (1934), Cartier. Fonte: Cartier. Segundo Campos (1997, p. 61), a moda também provocou mudanças na joalheria, pois nos anos 20 se tornava mais esportiva, casual, e deixou de combinar com as pedras preciosas, precisando de um novo tipo de ornamento, o que fez surgir a joia de moda, produzida em material não precioso. Essas joias de moda, criadas por estilistas, eram inspiradas nas coleções anuais e nos movimentos artísticos, e posteriormente foram imitadas pela indústria para serem objetos de consumo em massa. Na década de 50 o abstracionismo e o expressionismo começaram a aparecer na produção dos muitos artistas joalheiros que surgiam, envolvidos com os movimentos artísticos. Nos anos 60 e 70 houve influência das conquistas espaciais – utilização do alumínio e titânio, metais mais leves – da Pop e Op Art – geometrização das formas, utilização de plásticos – e os movimentos hippies e pacifistas – tendências étnicas. Na década de 70, com a exploração de novos metais, apareceu o aço. Nos anos 80, os artistas joalheiros começaram a colaborar e promover encontros e demonstrar interesse por materiais diversos e novas formas de expressão (CAMPOS, 1997, p. 65). No Brasil, uma das pioneiras a criar joias como mini esculturas, como obra de arte foi a francesa residente no Brasil Renée Sasson, segundo Magtaz (2008). Renée criava acessórios exclusivos para grandes costureiros da época, era especialista em esmaltes e mudou o conceito de fazer arte e joalheria. 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Fig. 14 - Colar de prata com turmalinas melancia, Renée Sasson. Fonte: Magtaz, 2008. p.153. As joias passaram a ser pequenas obras de arte usadas para adornar o corpo, como podemos ver documentado neste convite para a exposição Eucat Expo (fig. 15), realizada em 1974, em São Paulo. Outros “artistas-joalheiros” que se destacaram no pioneirismo foram: Ulla Johnsen, Caio Mourão e Reny Golcman (entre outros). Fig. 15 - Documento da Eucat Expo, realizada em 1974. Fonte: Magtaz, 2008. p. 157. 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie Fig. 16 - Colar de prata Crista de Galo, Caio Mourao. Fonte: Mourão. A partir de então a joia ganhou espaço, no Brasil, ao lado de obras de artistas plásticos e arquitetos, passou a fazer parte do circuito das artes, exposições foram incentivadas e criadas por Pietro Maria Bardi no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Além de ter presença na Bienal de São Paulo. Deixou de ser uma técnica que se passava exclusivamente em família e passou a ser difundida em ateliês para novos interessados. Na década de setenta já havia cursos livres e escolas de joalheria fundadas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A joia é uma obra de arte. Expostas em diversas galerias, a joia única ou joia de autor, assume uma identidade de obra de arte. Consideradas esculturas criadas para adornar, e assinadas por seus criadores, transforma artistas em joalheiros e joalheiros em artistas. (MAGTAZ, 2008, p. 156) A joia de arte trabalha com materiais e formas experimentais, combinações inovadoras e diferentes maneiras de utilizar a técnica. Para se avaliar a estética de uma joia, que lida com as questões das artes liberais, considera-se a essência do design, buscando por estruturas poéticas tanto na concepção, quanto na composição da peça, e por elementos metafóricos e/ou simbólicos significativos. Na joalheria, materiais alternativos são experimentados na medida em que reafirmam as intenções das mensagens artísticas. (CLARKE, 2004) Em 2007 surgiu, no Brasil, o Projeto Nova Joia2, um exemplo de joalheria experimental. O projeto se preocupa com o valor do processo criativo, colocando em segundo plano o uso de materiais preciosos (ouro e diamantes). Coloca um novo significado para a joia, buscando com experimentações, materiais e técnicas diferentes, reflexões, propondo adornos com significados mais íntimos, uma nova joalheria. 2 Projeto com o objetivo de expandir e divulgar a arte-joalheria no Brasil. 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 MÉTODO Inicialmente leu-se a respeito do processo criativo segundo Mihalyi Czikzentmihalyi, e procurou-se apreender o percurso de Toyota na arte. Então, um roteiro de entrevista foi elaborado, visando obter algumas informações sobre o processo criativo do artista. A entrevista foi realizada em fevereiro de 2011, no ateliê do artista, sendo gravada e transcrita pela autora. Algumas obras do artista foram selecionadas para serem analisadas e as características mais marcantes e comuns entre elas apontadas. O momento que possibilitou maior entendimento a cerca de suas obras foi uma visita guiada com o artista à exposição 'Espaço Multidimensional' quando Toyota expos suas idéias apontando às obras. Reunindo informações obtidas na entrevista à autora, acrescida de observações feitas durante a exposição, analisadas à luz dos conceitos desenvolvidos por Csikzentmihalyi, resultou a compreensão do processo criativo de desenvolvimento das formas. Posteriormente leu-se a respeito da joalheria a partir de seu relacionamento com a arte, até os dias atuais. E então, com as análises das obras do artista e pensando em uma jóia de arte, estabeleceram-se algumas relações que permitem expor a riqueza das obras de Toyota ao universo da joalheria. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Espaço Yutaka Toyota traz referências culturais de sua origem japonesa, entre outras, do Zen- budismo em suas obras. O tema que aborda é do espaço, do mundo cósmico, das dimensões (quarta, quinta e até sexta!), assunto tratado no Zen-budismo. Essa abordagem aparece com reflexos espelhados no aço, geralmente côncavo, super polido criando uma ilusão de que há matéria além da superfície espelhada, despertando curiosidade no observador, que chega mais perto tentando encontrar essa matéria. As formas que saem da obra, cilindros, perfis quadrados, possuem a parte visível também em aço polido, e a parte posterior, geralmente, em alguma cor vibrante. Esta cor refletida em meio ao metal polido se distorce e cria imagens que parecem virtuais, imagens “flutuantes”, que na verdade são apenas resultado de uma ilusão de ótica. 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie Fig. 17 – Espaço Invisível, 2010, Yutaka Toyota. Fonte: Catálogo. Esses reflexos transmitem uma sensação de que há um espaço além do espelho, que nos observa, como observamos o espelho, que existe e nos engloba, mas que na verdade é uma imagem intangível (a outra dimensão, segundo Toyota). Em uma visita guiada em sua exposição ‘Espaço Multidimensional’, o artista revela parte de sua concepção de espaço quando disse: “No mundo não tem cima e baixo, esquerda e direita, estamos no cósmico”, apontando a obra Espaço Reflexo Infinito, 1994, e os reflexos invertidos do observador na obra. Toyota (2011, p. 2) fala das dimensões da ciência, da quarta dimensão - que por ser espaço e tempo, já não é tangível - mas diz que as dimensões superiores possuem “um universo invisível aos nossos olhos, porém elas existem e os seres mais evoluídos são capazes de compreendê-las”. Assim, ao penetrarmos neste espaço multidimensional, teremos novas sensações, viajaremos para outros pontos deste imenso universo e observaremos novos mundos – talvez um mundo de esperança, onde exista respeito ao próximo e à lei natural. Gostaria que minhas obras, onde o invisível se mostra visível nas cores ocultas e formas anônimas, nos levassem a uma viagem sideral, multidimensional, em que o positivo e o negativo e todos os opostos, o masculino e o feminino, o In e o Yo e tudo mais convivam em plena harmonia e o cosmos repleto de enigmas se mostre claro e simples (TOYOTA, 2011, p. 2). Yutaka Toyota é super organizado e técnico, seus pequenos rascunhos e desenhos matinais transformam-se em desenhos detalhadamente pensados em papel milimetrado. Ao acordar pela manhã, em torno das 4 ou 5 horas, Yutaka faz pequenas anotações, desenhos e croquis. Depois lista suas atividades do dia, o que deve fazer, o que vai pintar, se deve 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 continuar alguma obra. Os croquis e anotações, ao longo do dia, vão se transformar em desenhos técnicos em papel milimetrado, para facilitar o dimensionamento da obra. Com o desenho pronto e bem resolvido, o artista faz uma maquete, praticamente um protótipo, em escala reduzida, já utilizando os materiais próprios da obra, às vezes experimentando com esse material, observando suas características, como se comporta, como o reflexo acontece. A busca pelo reflexo implica numa escolha de textura na superfície, polida ou fosca, conforme o artista deseja. Os materiais são escolhidos conforme o desenho e a forma se formam para o artista, juntos, e conforme as necessidades físicas da obra, se externa precisará de um material mais resistente, por exemplo. A utilização do papel milimetrado permite facilmente a ampliação - já que as obras de Toyota são, em sua maioria, grandiosas – e remete também ao lado técnico do artista, que fez aulas de desenho industrial e trabalhou no Instituto de Pesquisas Industriais em Shizuoka. O artista, quando recebe uma encomenda, faz visitas ao local em que a obra será colocada; estuda a luz, o clima, a dimensão que a obra poderá ter no local. Esse estudo é essencial para uma boa integração da obra com o ambiente. Um fator muito importante para o artista é se a obra será interna ou externa, pois isso influencia muito o material utilizado. Em entrevista à autora o artista disse: “Ambiente é muito importante”, fazendo referência ao respeito que ele mantém ao ambiente, harmonizando-o com suas obras através da integração. As Esculturas e a Joia: A comparação imediata das esculturas de Toyota com joias é a utilização de metal polido, mas diferentemente das joias tradicionais polidas, Toyota acrescenta um ar contemporâneo às suas esculturas através de formas geométricas, curvas matemáticas e formas abstratas. O diferencial do artista: os reflexos e as deformações das cores e formas são características que podem trazer um novo olhar à uma joia, agregando um elemento surpresa, que desperte curiosidade, chamando atenção à joia. Algumas esculturas trabalham a chapa – muitas joias o fazem também - mas a maioria é sólida, embora feitas a partir de chapas, resultam em formas fechadas, aproximando-se de sólidos. Embora sejam formas fechadas (sólidos), a aparência se mantém leve. Talvez pelo movimento gerado pelos ventos, ou pela disposição de módulos crescentes, gerando ritmo. Ergonomicamente é fundamental que uma joia seja leve, já que, seu uso não deve incomodar jamais. Outra questão importante, que aparece constantemente nas obras do artista, é o ritmo – repetição, alternância ou progressão de elementos similares – que conduz o olhar, embala a 18
  • 19. Universidade Presbiteriana Mackenzie percepção da obra, seduzindo o observador (fig. 18). Essa característica final enriquece a joia, valorizando-a, já que seduz o olhar. Fig. 18 – Espaço Reflexo Infinito, 1994, Yutaka Toyota. Fonte: Catálogo. CONCLUSÃO Este estudo mostra como é possível aproximar a joalheria da arte, utilizando-a como referência projetual. Recolhendo características de sucesso em obras de artistas plásticos pode-se fazer joias de sucesso, com uma referência rica em arte. Diferentemente de outros objetos de design, o design de joias permite uma liberdade maior, a livre expressão de conceitos que o aproximam das artes visuais. As principais características encontradas nas esculturas de Yutaka Toyota, que podem enriquecer o desenho da joia, são: o ritmo (repetição ou progressão de módulos); o movimento (resultado de mecanismos entre os módulos); a utilização de côncavos; o material diferenciado (o artista pesquisa materiais contemporâneos para sua criação); e principalmente a utilização das cores no reflexo. Na obra de Toyota transparecem elementos intangíveis como suas crenças, pensamento e inspiração, através de materiais concretos e tangíveis como madeira, aço e tinta revelados nas imagens formadas pela ilusão de ótica (percepções visuais). Concluímos que esta é a principal característica de sua poética que pode ser importante referencia ao projeto de uma joia: a liberdade na apropriação de elementos concretos de forma poética como linguagem expressiva do design. 19
  • 20. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 REFERÊNCIAS CAMPOS, Ana Paula De. Jóia contemporânea brasileira: reflexões sob a ótica de alguns criadores. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Artes) - Faculdade de Comunicação e Artes, Universidade Presbiteriana Mackenzie, 1997 CARTIER. Blog 55 secret street. Disponível em: <http://55secretstreet.typepad.com/photos/ne_plus_ultra/kentshireart_deco_diamond_and_c ognac_cit.html>. Acesso em: 12 out. 2010. CLARKE, Cathrine. A Joalheria de Arte Pós-moderna. Disponível em: <http://www.katesjewelry.com.br/artigo1.htm>. Acesso em: 10 abr. 2010. _______. A Arte na Joalheria Contemporânea. Disponível em: <http://www.katesjewelry.com.br/artigo2.htm>. Acesso em: 10 abr. 2010. CSIKSZENTMIHALYI, M. Creatividad. El fluir y la psicologia del descubrimento y la invencion. Barcelona, Espanha: Paidos, 1998. GOMES FILHO, João. Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Escrituras, 2008. 127 p. GULBENKIAN, Museu Galouste. René Lalique. Disponível em: <http://www.museu.gulbenkian.pt/obra.asp?num=1211&nuc=a11&lang=pt> Acesso em: 10 abr. 2010. MAGTAZ, M. Joalheria Brasileira: do descobrimento ao século XX. São Paulo: Mariana Magtaz, 2008. 292 p. MELLO, R. L. S. O Processo Criativo em Arte:Percepção de Artistas Visuais. 2008, 258p. Tese (Doutorado em Psicologia como Profissão e Ciência ) – Centro de Ciências da Vida da PUC-Campinas, São Paulo. MOURÃO, Caio. Disponível em: <http://www.ateliermourao.com.br/galeria.html>. Acesso em: 12 ou. 2010. NASSER, Salma. Sobre a Joalheria de Arte. Disponível em: <http://www.salmanasser.com.br/designer.html>. Acesso em: 10 abr. 2010. PRIETO, Sonia. Yutaka Toyota: 50 anos de arte. São Paulo: Sonia Prieto, 2009. 205p. Contato: juliapradodesign@gmail.com e reginalara.vitral@gmail.com 20