2. ASPECTOS TÉCNICOS
definindo a heteronímia pessoana
heterônimo ≠ pseudônimo
Heterônimo
é
o
nome
imaginário
que
um
criador
iden3fica
como
o
autor
de
obras
suas
e
que,
à
diferença
do
pseudônimo,
designa
alguém
com
qualidades
e
tendências
marcadamente
diferentes
das
desse
criador
ortônimo Fernando Pessoa o literato
heterônimo Ricardo Reis o clássico
heterônimo Álvaro de Campos o moderno
heterônimo Alberto Caeiro o homem do campo
3. polo da objetividade, sensação
Alberto Caeiro
presente,
vida
simples
cultura
elementar
[campo]
Ricardo Reis
passado
classicizante
cultura
humanís3ca
[formal]
Álvaro de Campos
presente
[grandes
cidades]
conflitos
modernos
[crises]
polo da subjetividade, pensar
4. ALBERTO CAEIRO
o poeta do campo
características
prega a simplicidade da vida
eliminação do ato de pensar
o mais importante é ver e sentir
o mundo se reduz às coisas que se percebem pelo sentido
a sensação é a forma de conhecimento do mundo
sem subjetivismo ou idealização, apenas o presente vive
linguagem simples e vocabulário limitado
5. ALBERTO CAEIRO
O guardador de rebanhos V
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo? forma: versos livres e brancos [simplicidade]
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso. anti-intelectualismo
Que idéia tenho eu das coisas? [pensar é doença, viver ≠ pensar]
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma defende-se a ausência de especulação
E sobre a criação do Mundo?
[não à filosofia, à mística ou metafísica]
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas incisivo e agressivo discurso anti-cristão
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
busca da objetividade absoluta de si mesmo
O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
6. ALBERTO CAEIRO
O guardador de rebanhos, IX
Sou guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés forma: versos livres e brancos [simplicidade]
E com o nariz e a boca. anti-intelectualismo
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
[pensar não é necessário; deve-se sentir]
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor a felicidade consiste em apenas viver
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva, a metafísica e o pensar não inúteis
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado no realidade
Sei a verdade e sou feliz.
7. ALBERTO CAEIRO
Se, depois de eu morrer, quiserem...
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.
forma: versos livres e brancos [despojamento e simplicidade]
filosofia anti-filosófica: não preciso pensar, basta sentir.
8. RICARDO REIS
um erudito em defesa da tradição
características
locus amoenus, carpe diem e aurea mediocritas
busca do equilíbrio contido dos árcades
indiferente à vida social
valoriza a vida campestre e a simplicidade das coisas
sente-se fruto da vida cristã, em decadência
fatalidade: acredita que a vida passa e a morte é inevitável
linguagem clássica, vocabulário erudito, formas tradicionais
9. RICARDO REIS
Para ser grande, sê inteiro
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
forma: métrica: 10-6-10-6-10-6
defende-se a tese segundo a qual deve-se aceitar o sofrimento, encontrar nele a nobreza
pode-se abdicar de tudo, menos de si próprio;
deve-se abdicar do ilusório [que traz humilhação]
10. RICARDO REIS
Acima da verdade estão os deuses
Acima da verdade estão os deuses.
Nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
forma: métrica: 10-6-10-6-10-6
crença que o destino humano é controlado pelos deuses [ponto de vista clássico]
paganismo de caráter erudito [herança clássica]
11. RICARDO REIS
As rosas amo do jardim de Adônis
As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o Sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia ,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
forma: métrica: 10-6 [caráter clássico]
epicurismo: a vida deve ser aproveitada intensamente no dia de hoje [carpe diem]
constatação que a vida é breve [primeira estrofe]
constatação de que para as rosas de Adônis a vida é eterna [segunda estrofe]
transposição do que é referido para a vida do locutor, carpe diem [terceira estrofe]
12. RICARDO REIS
As rosas amo do jardim de Adônis
Não consentem os deuses mais que a vida.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flores.
Só de aceitar tenhamos a ciência,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha conosco
O mesmo amor, duremos,
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente,
E refletindo um pouco.
forma: métrica: 10-6 [caráter clássico]
tema: aceitação do que a vida nos apresenta e recusa aos prazeres passageiros
prazeres, fama e riquezas [sem beleza e sem alegria] devem ser evitados: crítica ao artificialismo
a única sabedoria é aceitar e passar a vida com a única intenção de durar
vidro: metáfora da aceitação transparente
13. ÁLVARO DE CAMPOS
a energia futurista
características
homem voltado para o presente
saudades da infância
decadentismo simbolista + futurismo + pessimismo, desilusão
espírito moderno: máquina, multidão e velocidade [futurismo]
sensações obtidas a partir da vida urbana e industrial
caráter prosaico [versos longos e observação do cotidiano]
ausência de rima e de métrica
14. ÁLVARO DE CAMPOS
Ode triunfal, fragmento
À
dolorosa
luz
das
grandes
lâmpadas
eléctricas
da
fábrica
Tenho
febre
e
escrevo.
Escrevo
rangendo
os
dentes,
fera
para
a
beleza
disto,
Para
a
beleza
disto
totalmente
desconhecida
dos
an3gos.
Ó
rodas,
ó
engrenagens,
r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r-‐r
eterno!
Forte
espasmo
re3do
dos
maquinismos
em
fúria!
Em
fúria
fora
e
dentro
de
mim,
Por
todos
os
meus
nervos
dissecados
fora,
Por
todas
as
papilas
fora
de
tudo
com
que
eu
sinto!
Tenho
os
lábios
secos,
ó
grandes
ruídos
modernos,
De
vos
ouvir
demasiadamente
de
perto,
E
arde-‐me
a
cabeça
de
vos
querer
cantar
com
um
excesso
De
expressão
de
todas
as
minhas
sensações,
Com
um
excesso
contemporâneo
de
vós,
ó
máquinas!
15. ÁLVARO DE CAMPOS
Ode triunfal, fragmento
Em
febre
e
olhando
os
motores
como
a
uma
Natureza
tropical
–
Grandes
trópicos
humanos
de
ferro
e
fogo
e
força
–
Canto,
e
canto
o
presente,
e
também
o
passado
e
o
futuro,
Porque
o
presente
é
todo
o
passado
e
todo
o
futuro
E
há
Platão
e
Virgílio
dentro
das
máquinas
e
das
luzes
eléctricas
Só
porque
houve
outrora
e
foram
humanos
Virgílio
e
Platão,
E
pedaços
do
Alexandre
Magno
do
século
talvez
cinquenta,
Átomos
que
hão-‐de
ir
ter
febre
para
o
cérebro
do
Ésquilo
do
século
cem,
Andam
por
estas
correias
de
transmissão
e
por
estes
êmbolos
e
por
estes
volantes,
Rugindo,
rangendo,
ciciando,
estrugindo,
ferreando,
Fazendo-‐me
um
acesso
de
carícias
ao
corpo
numa
só
carícia
à
alma.
Ah,
poder
exprimir-‐me
todo
como
um
motor
se
exprime!
Ser
completo
como
uma
máquina!
Poder
ir
na
vida
triunfante
como
um
automóvel
úl3mo-‐modelo!
Poder
ao
menos
penetrar-‐me
fisicamente
de
tudo
isto,
Rasgar-‐me
todo,
abrir-‐me
completamente,
tornar-‐me
passento
A
todos
os
perfumes
de
óleos
e
calores
e
carvões
Desta
flora
estupenda,
negra,
ar3ficial
e
insaciável!
16. ÁLVARO DE CAMPOS
Ode triunfal
aspectos formais
presença
de
onomatopeias
versos
livres
e
brancos
poesia
discursiva
características
culto
da
máquina
e
da
vida
moderna
[sons,
luzes,
fábrica,
sons
do
mundo];
passeio
ver3ginoso
pela
paisagem
de
um
mundo
povoado
por
máquinas,
circuito
e
cores;
velocidade
e
ver3gem
agressiva
do
progresso;
o
locutor
compara-‐se
a
uma
máquina;
a
par3r
da
observação
da
máquina,
o
locutor
faz
reflexões
filosóficas;
a
valorização
da
máquina
dá
lugar
ao
desencanto,
ao
cansaço
da
vida.
17. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
Não
sou
nada.
Nunca
serei
nada.
Não
posso
querer
ser
nada.
À
parte
isso,
tenho
em
mim
todos
os
sonhos
do
mundo.
18. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
Janelas
do
meu
quarto,
Do
meu
quarto
de
um
dos
milhões
do
mundo
que
ninguém
sabe
quem
é
(E
se
soubessem
quem
é,
o
que
saberiam?),
Dais
para
o
mistério
de
uma
rua
cruzada
constantemente
por
gente,
Para
uma
rua
inacessível
a
todos
os
pensamentos,
Real,
impossivelmente
real,
certa,
desconhecidamente
certa,
Com
o
mistério
das
coisas
por
baixo
das
pedras
e
dos
seres
Com
a
morte
a
pôr
umidade
nas
paredes
e
cabelos
brancos
nos
homens.
Com
o
Des3no
a
conduzir
a
carroça
de
tudo
pela
estrada
de
nada.
Estou
hoje
vencido,
como
se
soubesse
a
verdade.
Estou
hoje
lúcido,
como
se
es3vesse
para
morrer,
E
não
3vesse
mais
irmandade
com
as
coisas
Senão
uma
despedida,
tornando-‐se
esta
casa
e
este
lado
da
rua
A
fileira
de
carruagens
de
um
comboio,
e
uma
par3da
apitada
De
dentro
da
minha
cabeça,
E
uma
sacudidela
dos
meus
nervos
e
um
ranger
de
ossos
na
ida.
19. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
Estou
hoje
perplexo,
como
quem
pensou
e
achou
e
esqueceu.
Estou
hoje
dividido
entre
a
lealdade
que
devo
À
Tabacaria
do
outro
lado
da
rua,
como
coisa
real
por
fora,
E
à
sensação
de
que
tudo
é
sonho,
como
coisa
real
por
dentro.
Falhei
em
tudo.
Como
não
fiz
propósito
nenhum,
talvez
tudo
fosse
nada.
A
aprendizagem
que
me
deram,
Desci
dela
pela
janela
das
traseiras
da
casa.
Fui
até
ao
campo
com
grandes
propósitos.
Mas
lá
encontrei
só
ervas
e
árvores,
E
quando
havia
gente
era
igual
à
outra.
Saio
da
janela,
sento-‐me
numa
cadeira.
Em
que
hei
de
pensar?
20. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
Que
sei
eu
do
que
serei,
eu
que
não
sei
o
que
sou?
Ser
o
que
penso?
Mas
penso
ser
tanta
coisa!
E
há
tantos
que
pensam
ser
a
mesma
coisa
que
não
pode
haver
tantos!
Gênio?
Neste
momento
Cem
mil
cérebros
se
concebem
em
sonho
gênios
como
eu,
E
a
história
não
marcará,
quem
sabe?,
nem
um,
Nem
haverá
senão
estrume
de
tantas
conquistas
futuras.
Não,
não
creio
em
mim.
Em
todos
os
manicômios
há
doidos
malucos
com
tantas
certezas!
Eu,
que
não
tenho
nenhuma
certeza,
sou
mais
certo
ou
menos
certo?
Não,
nem
em
mim...
Em
quantas
mansardas
e
não-‐mansardas
do
mundo.
Não
estão
nesta
hora
gênios-‐para-‐si-‐mesmos
sonhando.
Quantas
aspirações
altas
e
nobres
e
lúcidas
-‐
Sim,
verdadeiramente
altas
e
nobres
e
lúcidas
-‐,
E
quem
sabe
se
realizáveis,
Nunca
verão
a
luz
do
sol
real
nem
acharão
ouvidos
de
gente?
21. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
O
mundo
é
para
quem
nasce
para
o
conquistar
E
não
para
quem
sonha
que
pode
conquistá-‐lo,
ainda
que
tenha
razão.
Tenho
sonhado
mais
que
o
que
Napoleão
fez.
Tenho
apertado
ao
peito
hipoté3co
mais
humanidades
do
que
Cristo,
Tenho
feito
filosofias
em
segredo
que
nenhum
Kant
escreveu.
Mas
sou,
e
talvez
serei
sempre,
o
da
mansarda,
Ainda
que
não
more
nela;
Serei
sempre
o
que
não
nasceu
para
isso;
Serei
sempre
só
o
que
3nha
qualidades;
Serei
sempre
o
que
esperou
que
lhe
abrissem
a
porta
ao
pé
de
uma
parede
sem
porta,
22. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
E
cantou
a
can3ga
do
Infinito
numa
capoeira,
E
ouviu
a
voz
de
Deus
num
paço
tapado.
Crer
em
mim?
Não,
nem
em
nada.
Derrame-‐me
a
Natureza
sobre
a
cabeça
ardente
O
seu
sol,
a
sua
chuva,
o
vento
que
me
acha
o
cabelo,
E
o
resto
que
venha
se
vier,
ou
3ver
que
vir,
ou
não
venha.
Escravos
cardíacos
das
estrelas,
Conquistamos
todo
o
mundo
antes
de
nos
levantar
da
cama;
Mas
acordamos
e
ele
é
opaco,
Levantamo-‐nos
e
ele
é
alheio,
Saímos
de
casa
e
ele
é
a
terra
inteira,
Mais
o
sistema
solar
e
a
Via
Láctea
e
o
Indefinido.
23. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria
aspectos formais
versos
livres
e
brancos
versos
longos,
enjambement
e
discursividade.
características
lirismo
metaksico;
visão
nega3va
[niilista]
da
existência;
o
mundo
é
nada
e
o
eu
é
tudo
[subje3vidade
e
individualismo];
subje3vismo:
dimensão
da
solidão
interior
ante
a
imensidão
do
mundo;
parte-‐se
do
real,
do
mundo
moderno,
da
máquina
para
fazer
reflexões
filosóficos;
o
futurismo
aparece
pela
referência
à
carruagem
e
ao
apito
tom
melancólico
e
nega3vista
acerca
do
mundo,
do
eu
e
da
existência:
final
do
poema.
24. ÁLVARO DE CAMPOS
Tabacaria, fragmento
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
forma: versos livres e brancos
tom metafísico: visão niilista [pessimismo e desilusão] da existência
25. FERNANDO PESSOA [ortônimo]
a dor de existir
características
identidade perdida e incapacidade de auto-definição
consciência do absurdo de existir
recusa da realidade enquanto aparência
oposições: sentir-pensar, pensamento-vontade, esperança-desilusão
niilismo: egoísmo, solidão, ceticismo, tédio, angústia, náusea
intelectualização das emoções
simplicidade formal
26. FERNANDO PESSOA
Autopsicografia
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
forma: três quadras com versos heptassílabos
tema: uma escrita analítica do eu, da alma [teoria da escrita e da recepção]
primeira estrofe: poesia é a invenção [que se articula a partir do sentimento]
segunda estrofe: por vezes, o leitor projeta no texto seus próprios sentimentos
terceira estrofe: discute-se a relação razão x emoção [predomínio do emocional]
27. FERNANDO PESSOA
Sou um evadido
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
forma: quatro quadras com predomínio da redondilha menor
tema: tentativa de definição do eu [eu desadaptado = por isso foge], cansaço do eu.