A peça conta a história de Zé-do-Burro, que prometeu carregar uma cruz de madeira até a Igreja de Santa Bárbara após a recuperação milagrosa de seu amigo Nicolau. No entanto, o Padre Olavo se recusa a permitir que Zé cumpra sua promessa na igreja, vendo o ritual como coisa do demônio. Após tentativas frustradas de resolver o impasse, Zé é morto pela polícia ao resistir à prisão.
2. O ENREDO
primeiro ato
quatro e meia da manhã, chegam a uma praça em frente à Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, Zé-do-Burro e Rosa;
Zé está ali para cumprir um promessa; chegam Marli e Bonitão; este se dirige a Zé e percebe ser ele um ingênuo; Rosa
reclama de Zé [promessa: dividira terra com pobres]; Bonitão oferece-se para providenciar local para Rosa descansar;
amanhece; surgem Sacristão, Padre Olavo, Beata; Zé explica ao vigário por que está ali [uma árvore caíra sobre Nicolau]
[durante uma tempestade e ele não sarou nem com as rezas de Preto Zeferino, então, como não havia Igreja no povoado]
[Zé leva burro ao terreiro de Iansã – aconselhado por comadre Miúda q disse serem Iansã e Santa Bárbara a mesma coisa]
promessa: dividir terra com lavradores + carregar cruz de madeira até Igreja de Santa Bárbara; Nicolau ficou bom
Zé dividiu as terras e ali estava com a cruz; o Padre se escandaliza e diz ser aquilo coisa do Demônio;
diz ainda q não permitirá q Zé ponha a cruz na Igreja [Candomblé é culto do diabo]; sacristão fecha porta da igreja;
fiéis entram pela porta da sacristia; Padre manda fechar a Igreja; Zé do Burro fica atônito.
3. O ENREDO
segundo ato
oito horas da manhã; o bar do Galego já está aberto; chega Minha Tia [vende quitutes]; Dedé Cospe-Rima vende abecês;
através da Beata – indignada com o sacrilégio – as demais personagens ficam sabendo o q faz Zé na praça; chega o
Guarda e procura tirar Zé da praça; policial vai à Igreja; chega Rosa, com o ar culposo, que procura disfarçar; Zé revela
sua estupefação: não entende por que não pode pôr a cruz na Igreja; Rosa, com medo de ceder novamente a Bonitão,
chama Zé para irem embora; chegam Repórter e Fotógrafo [sensacionalismo, venda de jornais] e entrevistam o casal;
Guarda volta e diz q o Padre está irredutível; Minha Tia oferece ajuda [Zé poderia pagar a promessa no terreiro de Iansã]
Zé não concorda em ir ao Candomblé de Menininha; Bonitão e Rosa são surpreendidos por Marli, q, enciumada insulta
Rosa e diz para ela deixar seu homem em paz; Zé não acredita no que ouve – seu mundo começa a desabar; três horas;
Dedé pede dinheiro para fazer um abecê sobre o caso; o Guarda volta com o jornal [tudo foi deturpado]; Bonitão, q já
havia sido policial, conversa com o Secreta e diz ser Zé um subversivo; Zé diz ao Secreta q seu desejo é jogar 1 bomba;
o Padre está irredutível; chega o Monsenhor Otaviano, enviado pelo Bispo; o religioso diz q está autorizado a ajudar Zé;
ele poderia abjurar a primeira promessa e fazer outra; Zé diz que não pode faltar com sua promessa à Santa;
Monsenhor lava as mãos [fez o q pôde]; Bonitão faz sinais ao Secreta; sons de berimbau fecham o segundo ato.
4. O ENREDO
terceiro ato
o terceiro ato começa com a exibição de capoeira dos mestres Coca e Manoelzinho; cantam-se músicas em nagô;
Dedé, Coca e Galego discutem a situação de Zé e fazem apostas sobre o desfecho do caso; vendo que o Secreta se
aproxima, Rosa procura convencer Zé a desistir do seu intento e novamente fracassa; o Secreta, o Guarda e o Delegado
conversam sobre Zé-do-Burro e aquele diz que o capiau é um subversivo; pedem-se-lhe os documentos q ele diz não ter
o Delegado ordena q conduzam Zé para a cadeia; resiste à prisão; policiais se atiram sobre ele; capoeiristas se preparam
para defender o beato; ouve-se um tiro; todos dispersam; Zé-do-Burro está morto; o Padre, reconhecendo seu erro,
aproxima-se do corpo, mas é repelido por Rosa e por Coca; este põe o corpo em cima da cruz, com os braços abertos,
como se estivesse crucificado e, em procissão, leva o corpo para dentro da igreja; Bonitão tenta puxar Rosa, mas esta
o repele e segue com os capoeiristas; apenas Minha Tia fica na praça, enquanto uma violenta trovoada se faz ouvir.
5. O PAGADOR DE PROMESSAS
gênero literário
UMA TRAGÉDIA BRASILEIRA
[caráter clássico]
regra das três unidades: a) ação: os eventos relatados têm início, meio e fim;
regra das três unidades: a) espaço: os acontecimentos se passam numa praça, em frente à Igreja;
regra das três unidades: a) tempo: Zé chega de madrugada e morre ao pôr-do-sol.
6. O PAGADOR DE PROMESSAS
gênero literário
UMA TRAGÉDIA BRASILEIRA
[Zé-do-Burro, um herói trágico]
na Grécia Antiga, os heróis trágicos cometiam um pequeno deslize [hýbris], e, em função disso, eram condenados
a um destino terrível – o erro de Zé-do-Burro é não fazer concessões; ele acredita ser portador de uma verdade
e, em nome dela, está disposto a morrer; é essa resistência [religiosa e social] aos poderes instituídos que faz
com que ele angarie a simpatia daqueles que pertencem a sua classe social; e, ao mesmo tempo, o faz ser visto
como um ser perigoso [subversivo] para o Poder Instituído [Igreja e Polícia].
em O pagador de promessas está presente a visão grega segundo a qual o homem é um joguete nas mãos dos
deuses; isso fica patente na irônica entrada de Zé na Igreja, em cima da cruz, após sua morte.
7. O PAGADOR DE PROMESSAS
gênero literário
UM DRAMA NACIONAL
[amor e fé]
a peça O pagador de promessas apresenta alguns elementos do drama, a saber:
conflito amoroso;
discussão de problemas sociais;
8. O PAGADOR DE PROMESSAS
preconceito e intolerância
na medida em que as religiões afro-descendentes são submetidas à ótica judaico-cristã, fica difícil entender seus ritos,
a conseqüência desse desentendimento é o preconceito exposto e criticado na peça O pagador de promessas
bem mal
Padre, Sacristão, Beata, Igreja Católica Rituais afro-descendentes e seus defensores
defesa de uma tradição pura e elitista
Padre, Sacristâo, Beata, Monsenhor
Monsenhor e Padre: visão dogmática
religiosidade popular e sincrética
Zé-do-Burro, Minha Tia, Capoeiristas
Zé-do-Burro: sobrenatural, resistência, integridade
9. O PAGADOR DE PROMESSAS
preconceito e intolerância
ZÉ – Seu vigário me desculpe, mas eu tentei de tudo. Prêto Zeferino é rezador afamado na minha
zona: sarna de cachorro, bicheira de animal, peste de gado, tudo isso êle cura com duas rezas e
três rabiscos no chão. Todo o mundo diz. E eu mesmo, uma vez estava com uma dor de cabeça
danada, que não havia meio de passar. Chamei Prêto Zeferino, êle disse que eu estava com o Sol
dentro da cabeça. Botou uma toalha molhada na minha testa, e derramou uma garrafa dágua,
rezou uma oração, o sol saiu e eu fiquei bom.
PADRE – Você fez mal, meu filho. Essas rezas são orações do demo.
ZÉ – Do demo, não senhor.
PADRE – Do demo, sim. Você não soube distinguir o bem do mal. Todo homem é assim. Vive atrás
do milagre em vez de viver atrás de Deus. E não sabe se caminha para o céu ou para o inferno.
ZÉ – Para o inferno? Como pode ser, Padre, se a oração fala de Deus? (Recita.) “Deus fêz o Sol,
Deus fez a luz, Deus fez toda a claridade do Universo grandioso. Com Sua Graça eu te benzo, te
curo. Vai-te Sol, da cabeça desta criatura para as ondas do Mar Sagrado, com os santos poderes
do Padre, do Filho e do Espírito Santo.” Depois rezou um Padre Nosso e a dor de cabeça sumiu no
mesmo instante.
SACRISTÃO – Incrível!
PADRE – Meu filho, esse homem era um feiticeiro.
ZÉ – Como feiticeiro, se a reza é pra curar?
PADRE – Não é para curar, é para tentar. E você caiu na tentação.
ZÉ – Bem, eu só sei que fiquei bom.
10. O PAGADOR DE PROMESSAS
preconceito e intolerância
ZÉ – (Em desespero). Mas Padre, eu prometi levar a cruz até o altar-mor! Preciso cumprir a minha
promessa!
PADRE – Fizesse-a então numa igreja. Ou em qualquer parte, menos num antro de feitiçaria.
ZÉ – Eu já expliquei...
PADRE – Não se pode servir a dois senhores, a Deus e ao Diabo!
ZÉ – Padre...
PADRE – Um ritual pagão, que começou num terreiro de candomblé, não pode terminar na nave
de uma igreja!
ZÉ – Mas Padre, a igreja...
PADRE – A igreja é a casa de Deus. Candomblé é o culto do Diabo!
ZÉ – Padre, eu não andei sete léguas para voltar daqui. O senhor não pode impedir a minha
entrada. A igreja não é sua, é de Deus.
PADRE – Vai desrespeitar a minha autoridade?
ZÉ – Padre, entre o senhor e Santa Bárbara, eu fico com Santa Bárbara.
11. O PAGADOR DE PROMESSAS
preconceito e intolerância
intolerância da Igreja Católica
autoritarismo do Padre Olavo e insensibilidade do Monsenhor
incapacidade das autoridades em tratar com questões multiculturais
as autoridades transformam um caso de diferenças culturais em questão de polícia
voracidade inescrupulosa da imprensa
o Repórter e o Fotógrafo maquiam a história de Zé-do-Burro e deturpam os fatos para vender jornais
grande fosso que separa o Brasil Urbano do Brasil Rural
representantes da elite [insensibilidade] x populares [compreensão do drama de Zé-do-Burro]
12. O PAGADOR DE PROMESSAS
personagens
ZÉ-DO-BURRO
ROSA
MARLI
13. O PAGADOR DE PROMESSAS
personagens
PADRE OLAVO
NICOLAU
BONITÃO
BEATA