Siderações: poema de Cruz e Sousa sobre elevação espiritual

teoria da literatura
Exercícios sobre estudo da poesia
Manoel Neves

INSTRUÇÃO
exercícios sobre estudo da poesia
Leia atentamente o poema a seguir.

NOTURNO ARREBALEIRO
Mário Quintana
Os grilos... os grilos... Meu Deus, se a gente
Pudesse
Puxar
Por uma
Perna
Um só
Grilo,
Se desfiariam todas as estrelas!

QUESTÃO 01
Assinale a alternativa que apresente um comentário INCORRETO acerca do poema de Mário
Quintana:
A repetição de consoantes implica um processo aliterativo, que culmina com a instauração de
um ritmo no poema.
O material sonoro contribui, também, para a produção de um significado.
A disposição física dos versos, associada à cadeia sonora, colabora na ênfase ao conteúdo.
A significação do poema está diretamente relacionada à economia de palavras e arquitetura
aleatória dos versos.

SOLUÇÃO COMENTADA
O poema “Noturno arrebaleiro”, de Mário Quintana, explora os estratos sonoro e visual. Trata-se
de um texto articulado a partir da observação crítico-poética do real [lirismo metafísico].
Atentando-se para os aspectos fonéticos, percebe-se que a presença da onomatopeia [repetição
da sequência gri, que sugere o barulho produzido pelos grilos] e da aliteração [repetição da
consoante p] acaba por sugerir, no plano formal, o que é dito no plano semântico. Por outro
lado, se se observar a disposição dos versos, percebe-se que os versos de 2 a 7 mimetizam o
troco e a cabeça do grilo, ao passo que os versos 1 e 8, devido ao formato longilíneo, lembram,
em alguma instância, as pernas do grilo. Outra leitura possível é que os versos 1 e 8 sugerem,
respectivamente, o céu e o chão; já os versos de 2 a 7 imitam a queda das estrelas – descem do
céu [verso um] e se acumulam no chão [verso oito]. Dadas essas considerações, é inadequado
afirmar que a arquitetura dos versos é aleatória. Assinale-se, pois, a alternativa “d”.

INSTRUÇÃO
A questão 02 baseia-se no seguinte poema

POEMA DO BECO
Manuel Bandeira
Que importa a paisagem, a baía, a glória, a linha do horizonte.
– O que eu vejo é o beco.

QUESTÃO 02
A ideia básica do poema de Manuel Bandeira vem traduzida através da:
antítese
ironia
hipérbole
metonímia

SOLUÇÃO COMENTADA
O “Poema do beco”, de Manuel Bandeira, contrapõe, em dois versos, vários espaços abertos e
belos [baía, paisagem, Glória, linha do horizonte] a um espaço estreito e de exclusão social
[beco]. A antítese que permeia o poema não aparece apenas no nível semântico, mas vem
também sugerida no nível visual, na medida em que o verso 01 é longo [desdobrando-se
horizontalmente tal qual os lugares nele referidos] e o 02 é curto, estreito, tal qual o lugar [e a
palavra] à qual se refere. Trata-se de um texto de conotação nitidamente social que apresenta,
num primeiro instante, o belo, o elevado, o sublime, para, num segundo momento, destacar que
o que interessa ao locutor [cuja presença se faz notar não só no pronome de primeira pessoa,
mas também no jogo de pergunta e resposta e no travessão que introduz o verso dois] são os
problemas sociais sugeridos pelo lugar enunciado no segundo verso. Assinale-se, pois, a
alternativa “a”.

INSTRUÇÃO
Leia o poema a seguir para responder às questões 03 e 04.

SERENATA SINTÉTICA
Cassiano Ricardo
Lua
morta
Rua
torta
Tua
porta

QUESTÃO 03
Quanto ao poema acima, é CORRETO afirmar:
Utiliza-se de versos assimétricos e brancos.
O fato de seus versos serem monossilábicos está diretamente relacionado com o título do
poema.
A ausência de figura de efeito sonoro como a assonância e a aliteração justifica-se pelo poema
ser um exemplo de construção modernista.
Não há nenhum vínculo entre o título e o poema em si.

SOLUÇÃO COMENTADA
“Serenata sintética”, de Cassiano Ricardo, é um poema de lirismo amoroso. Trata-se de uma
composição estruturada por três dísticos de versos monossilábicos com o esquema rímico AB.
Atentando ao plano sonoro, as rimas poderiam ser consideradas paronomásias, na medida em
que as palavras escolhidas para a composição do poema guardam tamanha proximidade sonora
que o que as separa é apenas uma letra [l, r, t; m, t, p].
Atentando ao plano sintático, nota-se que, para compor o poema, o locutor escolheu apenas
substantivos e adjetivos. Tal seleção lexical poderia indicar, num primeiro momento, que o
sujeito poético construiu três cenários estáticos. Entretanto, quando se relaciona o título a uma
leitura sequencial dos cenários, nota-se a sugestão de movimento. Ou seja, apesar de se valer
de estruturas textuais que configuram o que se convencionou chamar de descrição, o locutor –
ao apresentar os cenários – consegue sugerir deslocamento.
O poema sugere duas leituras – uma leitura literal e outra metafórica. Na primeira, pode-se
imaginar o sujeito apaixonado, numa noite escura [lua/ morta] deslocando-se pelas vielas de
uma cidade pequena [rua/ torta] até chegar à casa da amada [tua/ porta], onde fará a serenata
[referida no título]. A lua aparece, na lírica ocidental, associada à expressão dos sentimentos
amorosos. O fato de ela estar morta [primeira estrofe], além de sugerir escuridão, pode estar se
referindo ao sofrimento do sujeito poético, que, tortuosamente [segunda estrofe], tenta tocar,
com seus apelos poético-musicais, o coração da amada [terceira estrofe].
Assinale-se a alternativa “b”.

QUESTÃO 04
Todas as figuras de linguagem foram utilizadas por Cassiano Ricardo em “Serenata sintética”,
EXCETO:
Metáfora: porta pode estar se referindo ao coração da pessoa amada, a quem o eu-poético
dedicou uma serenata.
Prosopopeia ou personificação: presente na segunda estrofe.
Assonância, aliteração e rima.
Ironia: pois, na verdade, a serenata não foi escrita de forma sucinta.

SOLUÇÃO COMENTADA
Marque-se a alternativa “d”, pois o poema de Cassiano Ricardo explora a sonoridade de modo
muito veemente – o que se constata através das rimas, da paronomásia, da aliteração e da
assonância.

INSTRUÇÃO
Leia o poema a seguir.

SIDERAÇÕES
Cruz e Sousa
Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...
E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...

QUESTÃO 05
No poema acima, de Cruz e Sousa, encontramos todos os recursos poéticos, EXCETO:
metalinguagem
assonância
aliteração
vocabulário ligado à cor branca

SOLUÇÃO COMENTADA
Não há, em momento algum, reflexão sobre o processo de construção do texto. Assinale-se,
pois, a alternativa “a”.

QUESTÃO 06
A partir da leitura do poema “Siderações”, é INCORRETO afirmar que:
Apresenta campos semânticos que nos remetem à ideia de pureza, elevação, sublimação;
Demonstra uma grande preocupação com a musicalidade, não só no nível fonético, mas
também no nível semântico;
Há, no texto, forte conotação religiosa, que fica evidente na negação explícita da sexualidade;
A primeira estrofe apresenta tanto aliterações quanto assonâncias.

SOLUÇÃO COMENTADA
Apesar de o poema tratar [sutilmente, como convém ao Simbolismo] da espiritualidade, ele não
faz referência à sexualidade. Assinale-se, pois, a alternativa “c”.

QUESTÃO 07
Em todas as alternativas abaixo, apresentam-se justificativas para que o sujeito poético adote
uma postura crítica diante do mundo, EXCETO:
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Este o rostinho é de Caterina;
E porque docemente obriga, e mata,
Não livra o ser divina em ser ingrata,
E raio a raio os corações fulmina.
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.

SOLUÇÃO COMENTADA
Apenas na alternativa “c” não se nota a presença de um posicionamento crítico do locutor.
Trata-se de um fragmento de um poema de lirismo amoroso.

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