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A narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
                Manoel Neves
LINHAS GERAIS
              da narrativa brasileira depois de 1960
                         experimentação;
             fusão de gêneros e de espécies literárias;
       narrativas com tonalidades e técnicas romanescas;
                             recorte;
        impacto do alargamento do jornalismo moderno;
    ficcionalização de espécies como a crônica e a biografia;
ruptura com a escrita tradicional: elegante, realista e verossímil;
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ULTRARREALISMO ou HIPERREALISMO
     a narrativa brasileira depois de 1960
RUBEM FONSECA
                                          e a narrativa brasileira depois de 1960
Apaguei	
   as	
   luzes	
   e	
   acelerei	
   o	
   carro.	
   Tinha	
   que	
   bater	
   e	
   passar	
   por	
   cima.	
   Não	
   podia	
   correr	
   o	
   risco	
  
de	
   deixá-­‐la	
   viva.	
   Ela	
   sabia	
   muita	
   coisa	
   a	
   meu	
   respeito,	
   era	
   a	
   única	
   pessoa	
   que	
   havia	
   visto	
   o	
   meu	
  
rosto,	
   entre	
   todas	
   as	
   outras.	
   E	
   conhecia	
   também	
   o	
   meu	
   carro.	
   Mas	
   qual	
   era	
   o	
   problema?	
  
Ninguém	
  havia	
  escapado.	
  
BaE	
  em	
  Ângela	
  com	
  o	
  lado	
  esquerdo	
  do	
  pára-­‐lama,	
  jogando	
  o	
  seu	
  corpo	
  um	
  pouco	
  adiante,	
  e	
  
passei,	
   primeiro	
   com	
   a	
   roda	
   da	
   frente	
   –	
   senE	
   o	
   som	
   surdo	
   da	
   frágil	
   estrutura	
   do	
   corpo	
   se	
  
esmigalhando	
   –	
   e	
   logo	
   atropelei	
   com	
   a	
   roda	
   traseira,	
   um	
   golpe	
   de	
   misericórdia,	
   pois	
   ela	
   já	
  
estava	
  liquidada,	
  apenas	
  talvez	
  ainda	
  senEsse	
  um	
  distante	
  resto	
  de	
  dor	
  e	
  perplexidade.	
  
Quando	
  cheguei	
  em	
  casa	
  minha	
  mulher	
  estava	
  vendo	
  televisão,	
  um	
  filme	
  colorido,	
  dublado.	
  
                  FONSECA,	
  Rubem.	
  Passeio	
  noturno.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
ULTRARREALISMO ou HIPERREALISMO
     a narrativa brasileira depois de 1960

                    características
      violência	
  dos	
  temas	
  e	
  dos	
  recursos	
  técnicos;	
  
                       noEcia	
  crua	
  da	
  vida;	
  
                        denúncia	
  explícita;	
  
            caráter	
  transparente	
  e	
  documental.	
  

                             autores
                          Rubem	
  Fonseca	
  
                          Sérgio	
  Sant’Anna	
  
                                  Ferréz	
  
                               Paulo	
  Lins	
  
                          André	
  Sant’Anna	
  
RUBEM FONSECA
                                       e a narrativa brasileira depois de 1960
Dei	
   uma	
   magnum	
   pro	
   Pereba,	
   outra	
   pro	
   Zequinha.	
   Prendi	
   a	
   carabina	
   no	
   cinto,	
   o	
   cano	
   para	
  
baixo,	
  e	
  vesE	
  uma	
  capa.	
  Apanhei	
  três	
  meias	
  de	
  mulher	
  e	
  uma	
  tesoura.	
  Vamos,	
  eu	
  disse.	
  
Puxamos	
   um	
   Opala.	
   Seguimos	
   para	
   os	
   lados	
   de	
   São	
   Conrado.	
   Passamos	
   várias	
   casa	
   que	
   não	
  
davam	
   pé,	
   ou	
   tavam	
   muito	
   perto	
   da	
   rua	
   ou	
   Enha	
   gente	
   demais.	
   Até	
   que	
   achamos	
   o	
   lugar	
  
perfeito.	
  Tinha	
  na	
  frente	
  um	
  jardim	
  grande	
  e	
  a	
  casa	
  ficava	
  lá	
  no	
  fundo,	
  isolada.	
  A	
  gente	
  ouvia	
  
barulho	
  de	
  música	
  de	
  carnaval,	
  mas	
  poucas	
  vozes	
  cantando.	
  Botamos	
  as	
  meias	
  na	
  cara.	
  Cortei	
  
com	
  a	
  tesoura	
  os	
  buracos	
  dos	
  olhos.	
  Entramos	
  pela	
  porta	
  principal.	
  
Eles	
  estavam	
  bebendo	
  e	
  dançando	
  num	
  salão	
  quando	
  viram	
  a	
  gente.	
  
É	
  um	
  assalto,	
  gritem	
  bem	
  alto,	
  para	
  abafar	
  o	
  som	
  da	
  vitrola.	
  Se	
  vocês	
  ficarem	
  quietos	
  ninguém	
  
se	
  machuca.	
  Você	
  aí,	
  apaga	
  essa	
  porra	
  dessa	
  vitrola.	
  
                 FONSECA,	
  Rubem.	
  Feliz	
  ano	
  novo.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
TEMAS RECORRENTES
              a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
solidão	
             violência	
                     eroEsmo	
     marginalidade	
  

                                 incomunicabilidade	
  
RUBEM FONSECA
                                       e a narrativa brasileira depois de 1960
Ela	
  estava	
  grávida,	
  ele	
  disse	
  apontando	
  a	
  mulher,	
  vai	
  ser	
  o	
  nosso	
  primeiro	
  filho.	
  Olhei	
  a	
  barriga	
  
da	
  mulher	
  esguia	
  e	
  decidi	
  ser	
  misericordi-­‐	
  oso	
  e	
  disse,	
  puf,	
  em	
  cima	
  de	
  onde	
  achava	
  que	
  era	
  o	
  
umbigo	
   dela,	
   desen-­‐	
   carnei	
   logo	
   o	
   feto.	
   A	
   mulher	
   caiu	
   emborcada.	
   Encostei	
   o	
   revólver	
   na	
  
têmpora	
  dela	
  e	
  fiz	
  ali	
  um	
  buraco	
  de	
  mina.	
  
                   FONSECA,	
  Rubem.	
  O	
  cobrador.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
A VIOLÊNCIA
               a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
 aparece na linguagem, na escrita, nas descrições das cenas e nos diálogos;
              é retratada com alto grau de verossimilhança;
paródia/pastiche do gênero policial: reflexão sobre o homem contemporâneo;
       faz parte do cotidiano [é intrínseca ao homem e ao sistema].
RUBEM FONSECA
                                       e a narrativa brasileira depois de 1960
AErei	
  bem	
  no	
  meio	
  do	
  peito	
  dele,	
  esvaziando	
  os	
  dois	
  canos,	
  aquele	
  tremendo	
  trovão.	
  O	
  impacto	
  
jogou	
   o	
   cara	
   com	
   força	
   contra	
   a	
   parede.	
   Ele	
   foi	
   escorregando	
   lentamente	
   e	
   ficou	
   sentado	
   no	
  
chão.	
  No	
  meio	
  do	
  peito	
  dele	
  Enha	
  um	
  buraco	
  que	
  dava	
  para	
  colocar	
  um	
  panetone.	
  
                 FONSECA,	
  Rubem.	
  Feliz	
  ano	
  novo.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
O SEXO
         a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
            aparece retratado de forma naturalista;
         quase sempre aparece relacionado à violência;
é animalizado e desenfreado e parece não saciar as personagens.
RUBEM FONSECA
                                        e a narrativa brasileira depois de 1960
Roberto	
   morde	
   as	
   bochechas	
   de	
   Paula,	
   abraça	
   o	
   corpo	
   dela	
   como	
   um	
   urso,	
   ela	
   abre	
   caminho	
  
para	
  que	
  ele	
  entre	
  no	
  corpo	
  dela,	
  meu	
  amor	
  diz	
  que	
  adora	
  foder	
  comigo,	
  rolam	
  pela	
  cama	
  larga,	
  
ele	
  fica	
  em	
  cima,	
  ela	
  fica	
  em	
  cima,	
  diz	
  que	
  me	
  ama,	
  ele	
  diz	
  tudo	
  o	
  que	
  ela	
  quer	
  que	
  ele	
  diga,	
  e	
  
quando	
   ele	
   goza	
   um	
   trem	
   de	
   ferro	
   passa	
   por	
   cima	
   dele	
   e	
   ele	
   urra	
   como	
   um	
   animal	
   ferido	
   de	
  
morte.	
  
                FONSECA,	
  Rubem.	
  Histórias	
  de	
  amor.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
A MARGINALIDADE
          a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
              é o eixo transgressor das narrativas;
   visa à ruptura do sistema e à denúncia das mazelas sociais;
        aparece associada à exclusão social e à maldade;
a maldade atravessa todas as classes sociais: é inerente ao homem.
RUBEM FONSECA
                                       e a narrativa brasileira depois de 1960
Subi.	
  A	
  gordinha	
  estava	
  na	
  cama,	
  as	
  roupas	
  rasgadas,	
  a	
  língua	
  de	
  fora.	
  MorEnha.	
  Pra	
  que	
  ficou	
  
de	
  flozô	
  e	
  não	
  deu	
  logo?	
  O	
  Pereba	
  tava	
  atrasado.	
  Além	
  de	
  fudida,	
  mal	
  paga.	
  Limpei	
  as	
  jóias.	
  A	
  
velha	
  tava	
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  corredor,	
  caída	
  no	
  chão.	
  Também	
  Enha	
  baEdo	
  as	
  botas.	
  Toda	
  penteada,	
  aquele	
  
cabelão	
  armado,	
  pintado	
  de	
  louro,	
  de	
  roupa	
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  rosto	
  encarquilhado,	
  esperando	
  o	
  ano	
  novo,	
  
mas	
  já	
  tava	
  mais	
  pra	
  lá	
  do	
  que	
  pra	
  cá.	
  Acho	
  que	
  morreu	
  de	
  susto.	
  Arranquei	
  os	
  colares,	
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e	
  anéis.	
  Tinha	
  um	
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  que	
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  saía.	
  Fiquei	
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                 FONSECA,	
  Rubem.	
  Feliz	
  ano	
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  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
  das	
  Letras,	
  2001.	
  
A ESCRITA
    a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca
              linguagem enxuta, direta;;
                      oralidade;
 convivência de registro elevado com coloquialismos;;
convivência do calão com refinados jogos intertextuais.
RUBEM FONSECA
                                        e a narrativa brasileira depois de 1960
Os	
   despojos	
   da	
   vaca	
   estão	
   estendidos	
   numa	
   poça	
   de	
   sangue.	
   João	
   chama	
   com	
   um	
   assobio	
   os	
  
seus	
   dois	
   auxiliares.	
   Um	
   deles	
   traz	
   um	
   carrinho	
   de	
   mão.	
   Os	
   restos	
   da	
   vaca	
   são	
   colocados	
   no	
  
carro.	
  Na	
  ponte	
  fica	
  apenas	
  a	
  poça	
  de	
  sangue.	
  
              FONSECA,	
  Rubem.	
  Relato	
  de	
  ocorrência.	
  In.:	
  Contos	
  reunidos.	
  São	
  Paulo:	
  Companhia	
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Rubem Fonseca e a violência na narrativa brasileira

  • 1. A narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca Manoel Neves
  • 2. LINHAS GERAIS da narrativa brasileira depois de 1960 experimentação; fusão de gêneros e de espécies literárias; narrativas com tonalidades e técnicas romanescas; recorte; impacto do alargamento do jornalismo moderno; ficcionalização de espécies como a crônica e a biografia; ruptura com a escrita tradicional: elegante, realista e verossímil; boom da narrativa de fôlego curto [conto].
  • 3. ULTRARREALISMO ou HIPERREALISMO a narrativa brasileira depois de 1960
  • 4. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Apaguei   as   luzes   e   acelerei   o   carro.   Tinha   que   bater   e   passar   por   cima.   Não   podia   correr   o   risco   de   deixá-­‐la   viva.   Ela   sabia   muita   coisa   a   meu   respeito,   era   a   única   pessoa   que   havia   visto   o   meu   rosto,   entre   todas   as   outras.   E   conhecia   também   o   meu   carro.   Mas   qual   era   o   problema?   Ninguém  havia  escapado.   BaE  em  Ângela  com  o  lado  esquerdo  do  pára-­‐lama,  jogando  o  seu  corpo  um  pouco  adiante,  e   passei,   primeiro   com   a   roda   da   frente   –   senE   o   som   surdo   da   frágil   estrutura   do   corpo   se   esmigalhando   –   e   logo   atropelei   com   a   roda   traseira,   um   golpe   de   misericórdia,   pois   ela   já   estava  liquidada,  apenas  talvez  ainda  senEsse  um  distante  resto  de  dor  e  perplexidade.   Quando  cheguei  em  casa  minha  mulher  estava  vendo  televisão,  um  filme  colorido,  dublado.   FONSECA,  Rubem.  Passeio  noturno.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 5. ULTRARREALISMO ou HIPERREALISMO a narrativa brasileira depois de 1960 características violência  dos  temas  e  dos  recursos  técnicos;   noEcia  crua  da  vida;   denúncia  explícita;   caráter  transparente  e  documental.   autores Rubem  Fonseca   Sérgio  Sant’Anna   Ferréz   Paulo  Lins   André  Sant’Anna  
  • 6. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Dei   uma   magnum   pro   Pereba,   outra   pro   Zequinha.   Prendi   a   carabina   no   cinto,   o   cano   para   baixo,  e  vesE  uma  capa.  Apanhei  três  meias  de  mulher  e  uma  tesoura.  Vamos,  eu  disse.   Puxamos   um   Opala.   Seguimos   para   os   lados   de   São   Conrado.   Passamos   várias   casa   que   não   davam   pé,   ou   tavam   muito   perto   da   rua   ou   Enha   gente   demais.   Até   que   achamos   o   lugar   perfeito.  Tinha  na  frente  um  jardim  grande  e  a  casa  ficava  lá  no  fundo,  isolada.  A  gente  ouvia   barulho  de  música  de  carnaval,  mas  poucas  vozes  cantando.  Botamos  as  meias  na  cara.  Cortei   com  a  tesoura  os  buracos  dos  olhos.  Entramos  pela  porta  principal.   Eles  estavam  bebendo  e  dançando  num  salão  quando  viram  a  gente.   É  um  assalto,  gritem  bem  alto,  para  abafar  o  som  da  vitrola.  Se  vocês  ficarem  quietos  ninguém   se  machuca.  Você  aí,  apaga  essa  porra  dessa  vitrola.   FONSECA,  Rubem.  Feliz  ano  novo.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 7. TEMAS RECORRENTES a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca solidão   violência   eroEsmo   marginalidade   incomunicabilidade  
  • 8. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Ela  estava  grávida,  ele  disse  apontando  a  mulher,  vai  ser  o  nosso  primeiro  filho.  Olhei  a  barriga   da  mulher  esguia  e  decidi  ser  misericordi-­‐  oso  e  disse,  puf,  em  cima  de  onde  achava  que  era  o   umbigo   dela,   desen-­‐   carnei   logo   o   feto.   A   mulher   caiu   emborcada.   Encostei   o   revólver   na   têmpora  dela  e  fiz  ali  um  buraco  de  mina.   FONSECA,  Rubem.  O  cobrador.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 9. A VIOLÊNCIA a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca aparece na linguagem, na escrita, nas descrições das cenas e nos diálogos; é retratada com alto grau de verossimilhança; paródia/pastiche do gênero policial: reflexão sobre o homem contemporâneo; faz parte do cotidiano [é intrínseca ao homem e ao sistema].
  • 10. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 AErei  bem  no  meio  do  peito  dele,  esvaziando  os  dois  canos,  aquele  tremendo  trovão.  O  impacto   jogou   o   cara   com   força   contra   a   parede.   Ele   foi   escorregando   lentamente   e   ficou   sentado   no   chão.  No  meio  do  peito  dele  Enha  um  buraco  que  dava  para  colocar  um  panetone.   FONSECA,  Rubem.  Feliz  ano  novo.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 11. O SEXO a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca aparece retratado de forma naturalista; quase sempre aparece relacionado à violência; é animalizado e desenfreado e parece não saciar as personagens.
  • 12. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Roberto   morde   as   bochechas   de   Paula,   abraça   o   corpo   dela   como   um   urso,   ela   abre   caminho   para  que  ele  entre  no  corpo  dela,  meu  amor  diz  que  adora  foder  comigo,  rolam  pela  cama  larga,   ele  fica  em  cima,  ela  fica  em  cima,  diz  que  me  ama,  ele  diz  tudo  o  que  ela  quer  que  ele  diga,  e   quando   ele   goza   um   trem   de   ferro   passa   por   cima   dele   e   ele   urra   como   um   animal   ferido   de   morte.   FONSECA,  Rubem.  Histórias  de  amor.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 13. A MARGINALIDADE a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca é o eixo transgressor das narrativas; visa à ruptura do sistema e à denúncia das mazelas sociais; aparece associada à exclusão social e à maldade; a maldade atravessa todas as classes sociais: é inerente ao homem.
  • 14. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Subi.  A  gordinha  estava  na  cama,  as  roupas  rasgadas,  a  língua  de  fora.  MorEnha.  Pra  que  ficou   de  flozô  e  não  deu  logo?  O  Pereba  tava  atrasado.  Além  de  fudida,  mal  paga.  Limpei  as  jóias.  A   velha  tava  no  corredor,  caída  no  chão.  Também  Enha  baEdo  as  botas.  Toda  penteada,  aquele   cabelão  armado,  pintado  de  louro,  de  roupa  nova,  rosto  encarquilhado,  esperando  o  ano  novo,   mas  já  tava  mais  pra  lá  do  que  pra  cá.  Acho  que  morreu  de  susto.  Arranquei  os  colares,  broches   e  anéis.  Tinha  um  anel  que  não  saía.  Fiquei  puto  e  dei  uma  dentada,  arrancando  o  dedo  dela.   FONSECA,  Rubem.  Feliz  ano  novo.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.  
  • 15. A ESCRITA a narrativa hiperrealista de Rubem Fonseca linguagem enxuta, direta;; oralidade; convivência de registro elevado com coloquialismos;; convivência do calão com refinados jogos intertextuais.
  • 16. RUBEM FONSECA e a narrativa brasileira depois de 1960 Os   despojos   da   vaca   estão   estendidos   numa   poça   de   sangue.   João   chama   com   um   assobio   os   seus   dois   auxiliares.   Um   deles   traz   um   carrinho   de   mão.   Os   restos   da   vaca   são   colocados   no   carro.  Na  ponte  fica  apenas  a  poça  de  sangue.   FONSECA,  Rubem.  Relato  de  ocorrência.  In.:  Contos  reunidos.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  2001.