O documento discute a possibilidade de uma moeda única para todos os países e as dificuldades dessa idéia. Aponta que cada país tem problemas econômicos diferentes que afetariam o valor de uma mesma moeda. A Europa enfrentou desafios ao adotar o Euro devido às diversas economias nacionais.
Mercado cambial: agentes, sistemas e funcionamento
1. Comentar: Curiosamente, poderíamos conjecturar por que não haveria uma moeda úni-
ca para todos os países do mundo. Evidentemente, isso traria uma facilidade muito
grande para o comércio internacional, porque as operações de câmbio tornar-se-iam
desnecessárias.
Resposta: Na verdade, a idéia de uma unidade monetária única é uma tarefa difícil,
porque a moeda é a vítima dos problemas econômicos nacionais. A título de exemplo,
se Brasil e Argentina adotassem a mesma moeda, com o mesmo valor, dentro de pouco
tempo elas teriam valores diferentes em virtude do impacto de seus respectivos
desempenhos econômicos. Isso só não ocorreria se a inflação do Brasil fosse
absolutamente igual à da Argentina e se todos os outros problemas econômicos
brasileiros fossem iguais aos argentinos. A Europa, dentro do programa de unificação
econômica, está fazendo uma experiência inédita: adoção de moeda única, o euro, para
os países que aderiram ao Tratado de Maastricht. Entretanto, as dificuldades têm sido
grandes em virtude da diversidade dos problemas econômicos de cada nação.
O mercado cambial pode ser livre ou controlado pelo governo, entre esses dois sistemas
estão os arranjos intermediários usados na prática, de que na atualmente não há
mercado totalmente livre, sem nenhuma intervenção do governo; também, são raros os
mercados totalmente controlados, sem nenhuma liberdade. Explique as características
principais destes sistemas de taxas de câmbio.
Resposta
Mercado livre de câmbio é aquele com as seguintes características:
Os participantes podem comprar e vender livremente a moeda estrangeira;
Praticamente inexiste a presença do governo; eventualmente ele compra e vende
moeda estrangeira para coibir a especulação e defender a moeda nacional;
As taxas de câmbio são fixadas livremente pelo mercado;
Os participantes podem manter conta no exterior;
Podem também manter conta no próprio país em moeda estrangeira.
Exemplo de mercado livre é o existente nos Estados Unidos, onde a presença do
governo é mínima; não disciplina nem impõe regras ao mercado, apenas fiscaliza. Toda
economia de mercado bem-sucedida tem de combinar Estado e Mercado. Mercados
mais livres exigem órgãos reguladores cada vez mais capazes. Os países que tiveram
melhor desempenho foram os que liberalizaram parcial e gradualmente sua economia.
Outro exemplo de mercado livre é o do dólar paralelo no Brasil. Nesse caso, não há
presença da lei, motivo pelo qual é também chamado de mercado negro.
Mercado controlado de câmbio é aquele com as seguintes características:
A presença do governo é muito grande, restringindo a liberdade de câmbio;
A compra e a venda de moeda estrangeira obedecem a severas normas do
governo;
O turista que viaja para o exterior só pode levar um montante de moeda
estrangeira estabelecido pelo governo;
Os cidadãos e as empresas não podem manter contas no exterior;
As taxas de compra e venda de moeda estrangeira são estabelecidas pelo
governo, que nem sempre leva em conta as necessidades econômicas, mas as
conveniências políticas;
Não é permitida a existência, no país, de contas em moedas estrangeiras;
• Os participantes não podem comprar e vender livremente a moeda estrangeira.
2. Em alguns países, o mercado, além de ser controlado, também é monopólio do governo.
Como funciona este mercado.
Resposta. Esse mercado funciona da seguinte forma:
Entradas de divisas (exportações, entradas de capitais etc.): aquele que recebe as
divisas pode fechar câmbio em qualquer banco autorizado a operar em câmbio. Esse
banco, entretanto, repassa ao Banco Central a moeda estrangeira recebida. Portanto,
todas as divisas ficam em poder do governo;
saídas de divisas (importações, retorno de capitais etc.): o importador e o investidor
também podem fechar câmbio, para as operações permitidas pelo governo, em qualquer
banco autorizado a operar no mercado cambial. Esse banco, entretanto, solicita ao
Banco Central cobertura para as divisas vendidas.
Os agentes que participam do mercado cambial são: os vendedores de moedas, os
compradores, os bancos, os corretores e as autoridades monetárias. Descreva estes
agentes.
Resposta
São vendedores todos aqueles que possuem divisas estrangeiras e precisam trocá-las
por moeda nacional. Portanto, são vendedores:
exportadores;
tomadores de empréstimos externos (pela entrada das divisas);
turistas procedentes do exterior;
comerciantes de serviços (empresas de turismo e navegação);
investidores estrangeiros em bolsas nacionais (na ocasião do ingresso das divisas);
e, em países em que as leis permitem, os especuladores.
São compradores todos aqueles que necessitam de moedas estrangeiras e dispõem
apenas de moeda nacional. Portanto, são compradores:
importadores;
turistas nacionais que viajam para o exterior;
comerciantes de serviços (empresas de turismo e navegação);
investidores estrangeiros em bolsas nacionais (quando retomam suas aplicações a
seu país);
devedores de empréstimos externos (remessas para pagamento de juros e liquidação
das dívidas);
e, quando a legislação do país permite, os especuladores.
Os bancos são verdadeiras pontes entre os compradores e os vendedores. Muitos países
exigem que as operações realizadas no mercado cambial devam, obrigatoriamente,
transitar por um estabelecimento bancário. No Brasil, as operações de câmbio são
consideradas ilegítimas se realizadas sem a intermediação de um estabelecimento
(banco ou casa de câmbio) autorizado pelo Banco Central a operar nesse mercado.
3. Nos bancos, há as Mesas de Operações, onde os operadores (internacionalmente
conhecidos por dealers) dispõem de equipamentos de comunicação muito fácil e rápida.
Isso é importante porque permite ao dealer verificar qual país e qual banqueiro que
oferecem taxas mais convenientes.
O bom operador é aquele que possui raciocínio rápido, intuição (conhecida
internacionalmente por feeling) e bastante experiência.
Os corretores dão orientação tanto na parte burocrática como na operacional.
Na parte burocrática, fazem com que os documentos transitem adequadamente pelos
diversos órgãos, tais como departamentos encarregados de expedição de licenças etc.
Na parte operacional, pesquisam o banco que oferece condições mais satisfatórias a seu
cliente.
No Brasil é obrigatória a participação dos corretores nas operações de câmbio? É
necessária a participação obrigatória dos corretores nas operações de cãmbio?
Resposta. No Brasil, a intermediação do corretor já foi obrigatória nas praças onde ha-
via Bolsas de Valores. Assim, uma operação realizada no mercado cambial em São
Paulo ou Rio de Janeiro precisava da intermediação do corretor; se realizada em
Campinas, não era necessária porque não havia Bolsa de Valores. Hoje, já não existe
essa obrigatoriedade.
Em relação à participação dos corretores nas operações de câmbio existem opiniões
favoráveis e desfavoráveis à presença obrigatória do corretor.
Os favoráveis acham que ele é necessário porque as operações de câmbio são
complexas, de grande valor e dificilmente podem ser desfeitas. Por serem complexas, as
operações, o corretor, com sua grande experiência, encaminha-as aos bancos com
margem de erro muito pequena e de forma bem ágil.
Os que não são favoráveis à presença obrigatória do corretor acham que ele deveria
participar somente quando o cliente julgasse necessário o seu auxílio, como ocorre na
compra ou venda de um imóvel. A participação do corretor aumenta o custo da
operação. Por isso, deveria ser dispensada quando as partes acharem desnecessária sua
presença.
Por que é muito difícil desfazer uma operação de câmbio no sistema bancário?
Resposta exemplificando:
• O exportador E vende ao Banco B US$ 100.000,00;
• O Banco B vende essas divisas ao importador I;
• se E se arrepender da operação, o Banco B já não mais dispõe das divisas para lhe
devolver.
• Nesse caso, é feita uma nova operação, denominada cancelamento, na qual o Banco B
compra divisas na praça para cobrir a venda que fez ao importador I.
• O exportador E terá de pagar os custos da nova operação que, provavelmente, será feita
com taxa diferente da pactuada na operação inicial. Além do mais, as operações de
câmbio são de valores muito elevados; isso significa que uma pequena alteração da taxa
de câmbio pode proporcionar prejuízos elevados. Daí a necessidade de as operações
tramitarem com maior segurança.
Qual é tempo hábil de funcionamento do mercado cãmbio?
4. Resposta. Devido à existência de fusos horários diferentes, o Mercado Cambial funcio-
na 24 horas por dia. Assim, quando um grande mercado está fechando, outro está
abrindo. A título de exemplo, citamos apenas alguns mercados, com fusos horários bem
diferentes: Tóquio, Londres, NewYork e SanFrancisco.
Como são determinadas as cotações da taxa de câmbio?
Resposta, Na abertura do mercado, os bancos cotam as taxas de compra e de venda.
Quando alguém vende moeda estrangeira a um banco, a taxa é de compra. Embora
para o cliente seja uma venda, ele recebe pela taxa de compra, porque para o banco é
uma compra. A taxa de compra é conhecida internacionalmente por bid rate.
Quando alguém compra moeda de um banco, a taxa é de venda, porque para o banco é
uma venda. A taxa de venda é conhecida internacionalmente por offer rate. A diferença
entre a taxa de venda e a de compra é o lucro do banco. Essa diferença é conhecida
como spread. Num mercado livre, essas taxas variam a todo instante.
Os bancos que participam do mercado de câmbio podem ter posição comprada, vendida
ou nivelada. Explique cada uma elas;
Resposta.
Posição comprada. Durante o dia, o Banco X comprou, de vários clientes, o montante
de US$ 10 milhões. Nesse mesmo período, vendeu, também a vários clientes, US$ 8
milhões. Partindo do princípio de que, quando ele iniciou o dia, não dispunha de um
dólar sequer, terminou o expediente com US$ 2 milhões em caixa. Isso é o que
chamamos posição comprada.
Posições vendida. Esse mesmo banco, no dia seguinte, compra US$ 7 milhões e vende
US$ 15 milhões. Como ele tinha em caixa US$ 2 milhões (saldo do dia anterior), com a
compra do dia ficou com US$ 9 milhões. Vendendo US$ 15 milhões, fica com um furo
de caixa de US$ 6 milhões. Isso é o que denominamos posição vendida.
Posição nivelada. Esse mesmo banco reabre no terceiro dia com posição vendida de
US$ 6 milhões. Durante o expediente ele vende US$ 4 milhões e compra US$ 10 mi-
lhões. Seu saldo em moeda estrangeira fica zero. Isso é o que denominamos posição
nivelada.
Por que os bancos podem ter posição vendida?
Resposta. Aparentemente, a posição vendida não poderia existir porque
ninguém pode vender o que não tem. Entretanto, no mercado cambial isso
funciona da seguinte maneira:
O Banco X vende US$1milhão a um cliente. Ocorre que o banco não dispõe
de dólares para efetuar a venda; o cliente solicita ao Banco X a emissão de
uma ordem de pagamento, desse valor, a favor de uma pessoa domiciliada
em New York.
Ocorre que, como falamos, o banco estava com posição nivelada, antes de
efetuar essa venda. Como ele não tem recursos para mandar pagar a ordem
de pagamento, usa o seguinte artifício: solicita ao banqueiro Y, sediado em
New York, que pague a ordem a débito da linha de crédito a seu favor.
5. Quando o Banco X nivelar sua posição, liquidará o débito junto a Y.
Explique que significa uma Posição por moeda
Resposta. Aposição citada nos itens anteriores é global e não por moeda.
Assim, o Banco X poderia estar com posição comprada em euros e vendida
em dólares. Esse fato, entretanto, não constitui empecilho para emitir e
mandar pagar uma ordem de pagamento em dólares. Ele transforma os euros
em dólares, por meio de uma operação de arbitragem. O aspecto rentável da
operação é que deverá ser analisado na ocasião em que fechar o negócio com
o cliente.
Existe uma pergunta muito comum: qual a posição ideal, a comprada, a vendida
ou a nivelada?
Resposta. Todas as posições por moeda podem ser boas e também todas
podem ser más, dependendo das condições de mercado.
Quando uma posição comprada por moeda é ideal?
Resposta. Imaginemos duas hipóteses: (a) o banco está comprado em moeda
que se valorizou e (b) o banco está comprado numa moeda que se
desvalorizou.
a. O Banco está comprado em moeda que se valorizou. Se o banco
estiver comprado em uma moeda que se valorizou, ele ganha o valor da
valorização. Por exemplo, o banco está comprado em US$ 100 mil, que
lhe custaram R$ 150 mil, porque a taxa de câmbio era de R$ 1,50 por
dólar.
Agora o dólar vale R$ 2,00, o que significa que ele tem um ativo
comprado por R$ 150 mil que valem R$ 200 mil. Teve, portanto, um
lucro de R$ 50 mil
Entretanto, se os recursos usados para comprar os US$ 100 mil (isto é,
R$ 150 mil) fossem usados na Carteira de Empréstimos, poderiam ter
rendido R$ 60 mil esse caso, a posição comprada não foi um bom
negócio.
b. O Banco está comprado em uma moeda que se desvalorizou. Se o
banco estiver comprado em uma moeda que se desvalorizou, ele perde o
valor da desvalorização.
Por exemplo, o banco está comprado em US$100mil, que equivalem a
R$ 200 mil; isto é, US$ 100 mil x R$ 2,00 = R$ 200 mil. Se a cotação do
dólar passou de R$ 2,00 para R$ 1,80, ele comprou por R$ 200 mil o que,
agora, vale somente R$ 180 mil