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NOTA 
OFICIAL 
DE 
EXPULSÃO 
DE 
RAFAEL 
LEANDRO 
(RAFAEL 
LEAFAR/RAFAEL 
ABÁ 
SARAUYA 
PEPÓ/DANZA 
DE 
FUEGO) 
DA 
COLETIVA 
ATÉ 
O 
TALO 
Como 
boa 
parte 
da 
cena 
anarquista, 
libertária 
e 
vegana 
do 
Brasil 
talvez 
saiba, 
a 
Até 
o 
Talo 
é 
uma 
coletiva 
mista 
que 
a 
partir 
da 
alimentação 
busca 
acumular 
e 
trocar 
experiências 
sobre 
'culinária', 
'anarquia', 
'autonomia', 
'saúde', 
'feminismo','trabalho 
cooperativo','autogestão', 
'resistência'. 
Ao 
longo 
dos 
últimos 
3 
anos, 
nossa 
experiência 
e 
vontade 
de 
transformar 
nossas 
relações 
-­‐ 
tanto 
na 
esfera 
macro 
quanto 
na 
micro 
-­‐ 
nos 
levou 
a 
um 
aumento 
do 
grupo 
e 
a 
um 
reconhecimento 
cada 
vez 
maior, 
o 
que 
significa 
apenas 
que 
nossa 
responsabilidade, 
por 
ter 
a 
chance 
de 
dialogar 
com 
mais 
pessoas, 
também 
aumentou. 
Há 
duas 
semanas, 
nos 
vimos 
envolvidas/os 
em 
um 
caso 
no 
qual 
recebemos 
denúncias 
de 
abuso 
sexual 
por 
parte 
de 
um 
dos 
homens 
que 
compunha 
nossa 
coletiva. 
Por 
nossa 
convicção 
em 
como 
lidar 
com 
esse 
tipo 
de 
situação, 
sendo 
uma 
coletiva 
que 
tem 
o 
feminismo 
como 
um 
de 
seus 
princípios, 
e 
se 
tratando 
de 
uma 
pessoa 
com 
quem 
possuíamos 
vínculos 
afetivos, 
nos 
sentimos 
compelidas 
a 
lidar 
com 
a 
situação 
com 
cautela 
redobrada, 
e 
de 
maneira 
sincera, 
transparente 
e 
cuidadosa, 
mas 
assumindo 
a 
gravidade 
da 
situação. 
Infelizmente, 
esta 
pessoa 
não 
valorizou 
este 
gesto, 
e 
nos 
dias 
seguintes 
às 
denúncias, 
reagiu 
da 
maneira 
mais 
“convencional” 
possível, 
negando 
as 
"acusações", 
e 
escrevendo 
uma 
carta 
na 
qual 
tenta 
inverter 
a 
situação. 
Portanto, 
esta 
nota 
tem 
a 
intenção 
de 
relatar 
a 
maneira 
como 
nós 
vivemos 
e 
sentimos 
esta 
situação, 
assim 
como 
compartilhar 
nossos 
aprendizados 
e 
explicitar 
nossa 
posição 
inegociável 
em 
relação 
a 
abusadores. 
A 
partir 
de 
uma 
conversa 
informal 
entre 
duas 
membras 
sobre 
algumas 
situações 
de 
abuso 
envolvendo 
Rafael, 
se 
percebeu 
a 
necessidade 
de 
compartilhá-­‐las 
com 
as 
outras 
mulheres 
do 
grupo. 
Como 
normalmente 
acontece 
quando 
um 
relato 
sobre 
abuso 
emerge, 
começamos 
a 
perceber 
que 
todas 
já 
tínhamos 
conhecimento 
de 
situações 
parecidas 
a 
respeito 
dele. 
Dentre 
vários 
relatos 
de 
assédios 
mais 
"comuns", 
nos 
causou 
um 
grande 
choque 
um 
caso 
de 
estupro 
que 
havia 
ocorrido 
há 
cerca 
de 
um 
ano 
e 
meio. 
Esse 
caso 
foi 
trazido 
por 
uma 
das 
integrantes 
da 
Coletiva, 
que 
diante 
das 
manifestações 
das 
outras 
mulheres, 
se 
sentiu 
encorajada 
para 
revelar 
a 
situação 
ocorrida 
com 
uma 
amiga 
muito 
próxima 
e 
que 
na 
época 
havia 
pedido 
sigilo 
sobre 
o 
fato. 
Nesse 
momento 
tomamos 
a 
frente 
da 
denúncia 
pelo 
fato 
de 
a 
vítima 
se 
encontrar 
bastante 
afastada 
do 
grupo 
de 
convivência 
onde 
se 
deu 
o 
abuso 
e, 
portanto, 
em 
segurança 
e 
também 
porque 
decidimos 
não 
nos 
omitir 
e 
não 
ser 
coniventes 
com 
a 
cultura 
de 
estupro. 
Nossa 
postura, 
enquanto 
coletiva, 
é 
de 
sempre 
dar 
credibilidade 
à 
vítimas 
de 
agressão/abusos, 
justamente 
por 
não 
concordarmos 
com 
o 
Estado 
e 
o 
sistema 
penal-­‐patriarcal 
que 
joga 
sempre 
o 
ônus 
da 
prova 
nos 
ombros 
das 
mulheres. 
Como 
já 
tinhamos 
uma 
reunião 
agendada 
para 
dois 
dias 
depois 
foi 
decidido 
(entre 
as 
mulheres) 
que 
apresentaríamos 
o 
assunto 
como 
pauta 
para 
que 
os 
demais 
membros 
tivessem 
conhecimento 
e 
pudéssemos 
tomar 
uma 
decisão 
coletivamente. 
A 
reunião 
seguiu 
por 
seis 
horas 
e, 
como 
se 
pode 
imaginar, 
não 
foi 
nada 
fácil 
para 
nenhuma/um 
de 
nós. 
Conduzimos 
a 
conversa 
evitando 
qualquer 
verniz 
psicologizante, 
utilizando 
métodos 
para 
resolução 
de 
conflitos 
conhecidos 
e 
acordados 
ao 
inicio 
da 
reunião 
entre 
todas/os 
(incluindo 
Rafael) 
-­‐ 
técnicas 
estas 
que, 
inclusive, 
constavam 
em 
um 
zine 
que 
ironicamente 
ele 
mesmo 
havia 
trazido 
nesse 
dia. 
Falamos 
cada 
uma 
e 
cada 
um 
individualmente, 
respeitando 
os 
tempos, 
silêncios 
e 
necessidades 
de 
reflexão 
de 
todas/os. 
A 
todo 
momento 
fomos 
livres 
para 
fazer 
qualquer 
tipo 
de 
pergunta 
e 
relatar 
sentimentos, 
o 
que 
por 
vezes 
levou 
toda 
a 
Coletiva 
às 
lagrimas 
(Rafael, 
no 
entanto, 
foi 
a 
única 
pessoa 
que 
em 
nenhum 
momento 
demonstrou 
se 
comover). 
Tudo 
correu 
de 
maneira 
espontânea 
e 
cuidadosa 
pela 
delicadeza 
do 
assunto. 
Sentimos 
que
nosso 
companheiro 
reagia 
respondendo 
apenas 
quando 
perguntado, 
com 
longos 
períodos 
de 
silêncio 
e 
que 
se 
mantinha 
com 
uma 
postura 
fria 
e 
indiferente. 
A 
todo 
momento 
nos 
perguntávamos 
como 
nos 
sentíamos 
(inclusive 
a 
Rafael) 
e 
o 
que 
pensávamos 
dos 
relatos 
que 
expusemos. 
Segundo 
a 
técnica 
escolhida 
para 
procedermos, 
foram 
anotados 
em 
uma 
folha 
de 
papel 
acessível 
a 
todas/os 
os 
nossos 
sentimentos, 
necessidades, 
atitudes 
e 
palavras. 
Foi 
perguntado 
a 
Rafael 
por 
mais 
de 
uma 
vez 
se 
ele 
se 
sentiria 
mais 
à 
vontade 
de 
sair 
da 
sala 
e 
conversar 
com 
alguém 
individualmente 
ou 
se 
queria 
continuar 
a 
conversa 
em 
outro 
momento 
para 
que 
tivesse 
mais 
tempo 
para 
assimilar 
o 
que 
havia 
sido 
dito 
até 
então. 
Suas 
respostas 
em 
nenhum 
momento 
negavam 
o 
que 
as 
mulheres 
da 
coletiva 
expuseram 
e 
incluíram 
frases 
como 
'sou 
um 
produto 
da 
sociedade 
patriarcal' 
e 
'sinto 
muita 
vergonha'. 
Sentimos 
que 
com 
essa 
postura 
realmente 
assumia 
cada 
um 
dos 
casos 
Nosso 
intuito 
não 
era, 
no 
entanto, 
obter 
uma 
confissão 
mas, 
num 
impulso 
de 
empatia, 
tratar 
desse 
assunto 
de 
maneira 
a 
estabelecer 
um 
diálogo 
honesto, 
buscando 
que 
ele 
percebesse 
as 
consequências 
dos 
seus 
atos 
para 
que 
revisse 
seu 
comportamento, 
e 
também 
entendesse 
como 
estávamos 
afetadas/os. 
Procuramos 
sugerir 
alternativas 
para 
que 
ele 
fizesse 
uma 
reflexão 
no 
intuito 
de 
evitar 
que 
as 
situações 
relatadas 
se 
repetissem 
e 
definissem 
suas 
relações 
para 
sempre. 
Embora 
para 
nós 
este 
fato 
tenha 
tomado 
uma 
posição 
totalmente 
secundária, 
um 
dos 
membros 
da 
coletiva 
atentou 
para 
como 
as 
atitudes 
abusivas 
de 
Rafael 
se 
estendiam 
para 
outras 
esferas 
das 
suas 
relações 
-­‐ 
incluindo 
a 
maneira 
como 
este 
vinha 
agindo 
em 
relação 
ao 
grupo 
nos 
últimos 
meses, 
marcando 
como 
horas 
trabalhadas 
momentos 
em 
que 
apenas 
se 
encontrava 
presente, 
porém 
fazendo 
outras 
coisas; 
sobrecarregando 
e 
onerando 
o 
trabalho 
de 
todas/os, 
o 
que 
nos 
fazia 
sentir 
exploradas/os 
e 
enganadas/os. 
Dentro 
da 
Coletiva 
há 
pessoas 
com 
diferentes 
níveis 
de 
comprometimento, 
diferentes 
disponibilidades 
e 
ritmos 
de 
trabalho. 
Não 
estávamos, 
portanto, 
questionando 
sua 
'produtividade' 
como 
uma 
empresa 
ou 
um 
patrão 
que 
policia 
seus 
funcionários 
-­‐ 
falamos 
aqui 
de 
uma 
falta 
explícita 
de 
honestidade 
quando 
Rafael, 
num 
claro 
oportunismo 
justamente 
por 
não 
sermos 
'o 
patrão 
que 
policia', 
buscou 
benificiar-­‐se 
individualmente 
de 
um 
esforço 
coletivo. 
Fomos 
sinceros 
com 
Rafael 
em 
relação 
a 
essa 
situação 
e 
sua 
manifestação 
se 
deu 
no 
sentido 
de 
desculpar-­‐se 
pela 
falta 
de 
comprometimento 
e 
organização, 
com 
um 
mínimo 
de 
sinceridade, 
já 
que 
os 
registros 
das 
horas 
de 
todas/os 
na 
coletiva 
são 
abertos 
e 
que 
em 
mais 
de 
uma 
oportunidade 
foi 
apontado 
a 
Rafael 
a 
discrepância 
entre 
as 
horas 
que 
anotou 
e 
a 
realidade. 
O 
desfecho 
dessa 
exaustiva 
reunião 
foi 
uma 
proposta 
nossa 
para 
que 
Rafael 
tivesse 
algum 
tempo 
para 
refletir 
e 
que 
então 
comunicasse 
os 
grupos 
e 
coletivos 
que 
frequentava 
sobre 
os 
motivos 
de 
seu 
afastamento 
sendo 
sincero 
consigo 
mesmo 
e 
com 
as 
pessoas 
destes 
coletivos 
próximos 
a 
nós. 
Quando 
perguntado 
sobre 
qual 
era 
sua 
opinião 
em 
relação 
a 
essa 
proposta, 
ele 
respondeu 
"acho 
justo". 
Suas 
atitudes 
nos 
dias 
seguintes 
a 
esta 
reunião 
surpreenderam 
a 
todas/os 
e 
nos 
desmobilizaram 
cada 
vez 
que 
Rafael 
agia 
de 
maneira 
oposta 
ao 
que 
havíamos 
combinado, 
criando 
a 
necessidade 
da 
elaboração 
de 
uma 
resposta 
coletiva. 
Por 
essas 
atitudes 
percebemos 
nitidamente 
que 
o 
voto 
de 
confiança 
depositado 
em 
Rafael 
ao 
decidirmos 
não 
expô-­‐lo 
foi 
um 
erro. 
Ao 
invés 
de 
se 
aprofundar 
em 
uma 
auto-­‐crítica, 
resolveu 
defender-­‐se 
de, 
como 
ele 
entende, 
'acusações', 
buscando 
apoio 
em 
outros 
homens, 
invertendo 
a 
situação 
e 
se 
vitimizando, 
quando 
na 
verdade 
falávamos 
de 
situações 
reais 
relatadas 
por 
mulheres, 
que, 
segundo 
nossos 
princípios, 
não 
devem 
e 
não 
precisam 
ser 
expostas 
como 
'prova' 
para 
que 
esses 
homens 
validem 
uma 
decisão 
interna 
da 
nossa 
Coletiva. 
Durante 
esses 
dias 
a 
atitude 
de 
Rafael 
e 
seus 
apoiadores 
tem 
sido 
a 
de 
perseguir, 
intimidar 
e 
hostilizar 
as 
mulheres 
desta 
Coletiva, 
impondo 
sua 
presença 
em 
'visitas' 
não 
consentidas 
a 
suas 
casas 
e 
locais 
de 
trabalho, 
exigindo 
explicações 
e 
enviando 
mensagens 
agressivas 
nas
quais 
Rafael 
se 
refere 
de 
maneira 
pejorativa 
e 
machista 
a 
mulheres 
com 
quem 
já 
se 
relacionou, 
corroborando 
os 
relatos 
contra 
ele. 
Por 
fim, 
foi 
divulgada 
uma 
carta 
assinada 
por 
ele 
extremamente 
desonesta 
onde 
constavam 
diversas 
mentiras 
como 
supostas 
acusações 
de 
roubo 
que 
nunca 
aconteceram. 
Nessa 
carta, 
Rafael 
também 
relata 
as 
situações 
sobre 
as 
quais 
está 
sendo 
apontado 
um 
comportamento 
abusivo 
de 
sua 
parte, 
fazendo 
sua 
própria 
leitura 
da 
situação 
para 
mostrar 
como 
“não 
foi 
tão 
abusivo 
assim”. 
Consideramos 
que 
este 
tipo 
de 
narrativa 
é 
inaceitável, 
pois 
insiste 
em 
sua 
vitimização 
e 
não 
assume 
a 
responsabilidade 
pela 
maneira 
como 
fez 
as 
outras 
pessoas 
– 
as 
mulheres 
– 
com 
quem 
estava 
se 
relacionando 
se 
sentirem. 
Entendemos 
esse 
tipo 
de 
atitude 
como 
um 
fator 
de 
silenciamento 
e 
um 
retrocesso 
na 
luta 
contra 
o 
patriarcado 
dentro 
dos 
espaços 
libertários 
na 
medida 
em 
que 
colabora 
ativamente 
para 
que 
outras 
vítimas 
e 
coletivos 
se 
sintam 
intimidados 
em 
confrontar 
situações 
de 
agressão 
e 
abuso. 
A 
campanha 
difamatória, 
persecutória 
e 
silenciadora 
que 
estamos 
enfrentando 
nos 
faz 
entender 
por 
que 
tantos 
coletivos 
não 
conseguem 
ou 
não 
querem 
se 
posicionar 
quando 
surgem 
questões 
de 
violência 
contra 
as 
mulheres. 
Vemos 
anarquistas 
exigindo 
comprovação 
de 
estupro 
e 
a 
exposição 
das 
vítimas 
a 
seu 
agressor 
como 
prova 
para 
que 
eles 
mesmos 
possam 
julgar 
procedentes 
os 
relatos 
e 
então 
validar 
ou 
não 
a 
decisão 
de 
uma 
coletiva 
que 
decidiu 
por 
consenso 
se 
posicionar 
a 
favor 
destas 
vítimas. 
Essa 
decisão 
interna 
não 
está 
aberta 
a 
debate 
e 
não 
será 
questionada 
por 
homens 
que 
nunca 
integraram 
a 
Coletiva. 
Segue, 
em 
anexo, 
o 
link 
para 
uma 
zine 
junto 
com 
nosso 
apelo 
para 
que 
todos 
os 
homens 
o 
leiam. 
Infelizmente, 
ter 
acesso 
a 
esse 
material 
que 
se 
encontrava 
pendurado 
na 
parede 
de 
sua 
casa 
não 
impediu 
que 
Rafael 
agisse 
de 
maneira 
totalmente 
oposta 
ao 
que 
a 
zine 
sugere, 
expondo 
muito 
mais 
mulheres 
à 
sanha 
justiceira 
de 
outros 
homens 
que 
saíram 
violentamente 
em 
sua 
defesa. 
Esperamos 
sinceramente 
que 
nosso 
posicionamento 
sirva 
para 
fortalecer 
e 
incentivar 
as 
mulheres 
a 
se 
posicionarem 
nesses 
casos 
e 
com 
muita 
sorte 
gerar 
algum 
questionamento 
nos 
homens 
da 
cena 
libertária 
e 
evitar 
futuras 
agressões/abusos. 
http://www.pimentanegra.libertar.org/?p=8 
* 
Nosso 
conceito 
de 
estupro 
não 
atende 
à 
uma 
escala 
arbitrária 
dentro 
da 
qual 
se 
decide 
que 
tipo 
de 
intervenção 
no 
corpo 
alheio 
é 
aceitável 
e 
que 
tipo 
não 
é. 
Discordamos 
da 
perspectiva 
falocêntrica 
e 
fantasiosa 
de 
que, 
para 
configurar 
estupro, 
há 
a 
necessidade 
de 
penetração, 
por 
exemplo. 
De 
forma 
alguma 
queremos 
banalizar 
o 
"estupro 
violento" 
(e 
qual 
estupro 
não 
o 
é?) 
que, 
apesar 
de 
existir, 
não 
representa 
a 
realidade 
da 
maioria 
dos 
casos 
mas 
habita 
o 
imaginário 
patriarcal 
como 
o 
único 
tipo 
existente 
-­‐ 
como 
se 
o 
estuprador 
fosse 
sempre 
o 
estranho 
monstro 
violento 
que 
ninguém 
conhece. 
O 
estupro 
acontece 
entre 
pessoas 
que 
já 
tiveram 
ou 
que 
ainda 
mantêm 
relações 
consensuais 
e 
por 
isso 
deve 
ser 
combatido. 
O 
estupro 
acontece 
dentro 
das 
casas, 
das 
famílias 
e 
das 
amizades 
próximas. 
Mulheres 
são 
violadas 
diariamente 
por 
homens 
de 
sua 
confiança 
e 
de 
maneiras 
muito 
mais 
sutis 
do 
que 
o 
‘estuprador-­‐criminoso-­‐sem-­‐face’. 
Fica 
o 
nosso 
convite 
à 
reflexão 
sobre 
o 
exercício 
automático 
de 
se 
buscar 
atenuantes 
por 
meio 
de 
decisões 
arbitrárias 
e 
individuais 
sobre 
quanto 
abuso 
uma 
mulher 
deve 
tolerar 
até 
que 
se 
leve 
a 
sério 
sua 
denúncia. 
Coletiva 
Até 
o 
Talo 
Porto 
Alegre, 
26 
de 
novembro 
de 
2014

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  • 1. NOTA OFICIAL DE EXPULSÃO DE RAFAEL LEANDRO (RAFAEL LEAFAR/RAFAEL ABÁ SARAUYA PEPÓ/DANZA DE FUEGO) DA COLETIVA ATÉ O TALO Como boa parte da cena anarquista, libertária e vegana do Brasil talvez saiba, a Até o Talo é uma coletiva mista que a partir da alimentação busca acumular e trocar experiências sobre 'culinária', 'anarquia', 'autonomia', 'saúde', 'feminismo','trabalho cooperativo','autogestão', 'resistência'. Ao longo dos últimos 3 anos, nossa experiência e vontade de transformar nossas relações -­‐ tanto na esfera macro quanto na micro -­‐ nos levou a um aumento do grupo e a um reconhecimento cada vez maior, o que significa apenas que nossa responsabilidade, por ter a chance de dialogar com mais pessoas, também aumentou. Há duas semanas, nos vimos envolvidas/os em um caso no qual recebemos denúncias de abuso sexual por parte de um dos homens que compunha nossa coletiva. Por nossa convicção em como lidar com esse tipo de situação, sendo uma coletiva que tem o feminismo como um de seus princípios, e se tratando de uma pessoa com quem possuíamos vínculos afetivos, nos sentimos compelidas a lidar com a situação com cautela redobrada, e de maneira sincera, transparente e cuidadosa, mas assumindo a gravidade da situação. Infelizmente, esta pessoa não valorizou este gesto, e nos dias seguintes às denúncias, reagiu da maneira mais “convencional” possível, negando as "acusações", e escrevendo uma carta na qual tenta inverter a situação. Portanto, esta nota tem a intenção de relatar a maneira como nós vivemos e sentimos esta situação, assim como compartilhar nossos aprendizados e explicitar nossa posição inegociável em relação a abusadores. A partir de uma conversa informal entre duas membras sobre algumas situações de abuso envolvendo Rafael, se percebeu a necessidade de compartilhá-­‐las com as outras mulheres do grupo. Como normalmente acontece quando um relato sobre abuso emerge, começamos a perceber que todas já tínhamos conhecimento de situações parecidas a respeito dele. Dentre vários relatos de assédios mais "comuns", nos causou um grande choque um caso de estupro que havia ocorrido há cerca de um ano e meio. Esse caso foi trazido por uma das integrantes da Coletiva, que diante das manifestações das outras mulheres, se sentiu encorajada para revelar a situação ocorrida com uma amiga muito próxima e que na época havia pedido sigilo sobre o fato. Nesse momento tomamos a frente da denúncia pelo fato de a vítima se encontrar bastante afastada do grupo de convivência onde se deu o abuso e, portanto, em segurança e também porque decidimos não nos omitir e não ser coniventes com a cultura de estupro. Nossa postura, enquanto coletiva, é de sempre dar credibilidade à vítimas de agressão/abusos, justamente por não concordarmos com o Estado e o sistema penal-­‐patriarcal que joga sempre o ônus da prova nos ombros das mulheres. Como já tinhamos uma reunião agendada para dois dias depois foi decidido (entre as mulheres) que apresentaríamos o assunto como pauta para que os demais membros tivessem conhecimento e pudéssemos tomar uma decisão coletivamente. A reunião seguiu por seis horas e, como se pode imaginar, não foi nada fácil para nenhuma/um de nós. Conduzimos a conversa evitando qualquer verniz psicologizante, utilizando métodos para resolução de conflitos conhecidos e acordados ao inicio da reunião entre todas/os (incluindo Rafael) -­‐ técnicas estas que, inclusive, constavam em um zine que ironicamente ele mesmo havia trazido nesse dia. Falamos cada uma e cada um individualmente, respeitando os tempos, silêncios e necessidades de reflexão de todas/os. A todo momento fomos livres para fazer qualquer tipo de pergunta e relatar sentimentos, o que por vezes levou toda a Coletiva às lagrimas (Rafael, no entanto, foi a única pessoa que em nenhum momento demonstrou se comover). Tudo correu de maneira espontânea e cuidadosa pela delicadeza do assunto. Sentimos que
  • 2. nosso companheiro reagia respondendo apenas quando perguntado, com longos períodos de silêncio e que se mantinha com uma postura fria e indiferente. A todo momento nos perguntávamos como nos sentíamos (inclusive a Rafael) e o que pensávamos dos relatos que expusemos. Segundo a técnica escolhida para procedermos, foram anotados em uma folha de papel acessível a todas/os os nossos sentimentos, necessidades, atitudes e palavras. Foi perguntado a Rafael por mais de uma vez se ele se sentiria mais à vontade de sair da sala e conversar com alguém individualmente ou se queria continuar a conversa em outro momento para que tivesse mais tempo para assimilar o que havia sido dito até então. Suas respostas em nenhum momento negavam o que as mulheres da coletiva expuseram e incluíram frases como 'sou um produto da sociedade patriarcal' e 'sinto muita vergonha'. Sentimos que com essa postura realmente assumia cada um dos casos Nosso intuito não era, no entanto, obter uma confissão mas, num impulso de empatia, tratar desse assunto de maneira a estabelecer um diálogo honesto, buscando que ele percebesse as consequências dos seus atos para que revisse seu comportamento, e também entendesse como estávamos afetadas/os. Procuramos sugerir alternativas para que ele fizesse uma reflexão no intuito de evitar que as situações relatadas se repetissem e definissem suas relações para sempre. Embora para nós este fato tenha tomado uma posição totalmente secundária, um dos membros da coletiva atentou para como as atitudes abusivas de Rafael se estendiam para outras esferas das suas relações -­‐ incluindo a maneira como este vinha agindo em relação ao grupo nos últimos meses, marcando como horas trabalhadas momentos em que apenas se encontrava presente, porém fazendo outras coisas; sobrecarregando e onerando o trabalho de todas/os, o que nos fazia sentir exploradas/os e enganadas/os. Dentro da Coletiva há pessoas com diferentes níveis de comprometimento, diferentes disponibilidades e ritmos de trabalho. Não estávamos, portanto, questionando sua 'produtividade' como uma empresa ou um patrão que policia seus funcionários -­‐ falamos aqui de uma falta explícita de honestidade quando Rafael, num claro oportunismo justamente por não sermos 'o patrão que policia', buscou benificiar-­‐se individualmente de um esforço coletivo. Fomos sinceros com Rafael em relação a essa situação e sua manifestação se deu no sentido de desculpar-­‐se pela falta de comprometimento e organização, com um mínimo de sinceridade, já que os registros das horas de todas/os na coletiva são abertos e que em mais de uma oportunidade foi apontado a Rafael a discrepância entre as horas que anotou e a realidade. O desfecho dessa exaustiva reunião foi uma proposta nossa para que Rafael tivesse algum tempo para refletir e que então comunicasse os grupos e coletivos que frequentava sobre os motivos de seu afastamento sendo sincero consigo mesmo e com as pessoas destes coletivos próximos a nós. Quando perguntado sobre qual era sua opinião em relação a essa proposta, ele respondeu "acho justo". Suas atitudes nos dias seguintes a esta reunião surpreenderam a todas/os e nos desmobilizaram cada vez que Rafael agia de maneira oposta ao que havíamos combinado, criando a necessidade da elaboração de uma resposta coletiva. Por essas atitudes percebemos nitidamente que o voto de confiança depositado em Rafael ao decidirmos não expô-­‐lo foi um erro. Ao invés de se aprofundar em uma auto-­‐crítica, resolveu defender-­‐se de, como ele entende, 'acusações', buscando apoio em outros homens, invertendo a situação e se vitimizando, quando na verdade falávamos de situações reais relatadas por mulheres, que, segundo nossos princípios, não devem e não precisam ser expostas como 'prova' para que esses homens validem uma decisão interna da nossa Coletiva. Durante esses dias a atitude de Rafael e seus apoiadores tem sido a de perseguir, intimidar e hostilizar as mulheres desta Coletiva, impondo sua presença em 'visitas' não consentidas a suas casas e locais de trabalho, exigindo explicações e enviando mensagens agressivas nas
  • 3. quais Rafael se refere de maneira pejorativa e machista a mulheres com quem já se relacionou, corroborando os relatos contra ele. Por fim, foi divulgada uma carta assinada por ele extremamente desonesta onde constavam diversas mentiras como supostas acusações de roubo que nunca aconteceram. Nessa carta, Rafael também relata as situações sobre as quais está sendo apontado um comportamento abusivo de sua parte, fazendo sua própria leitura da situação para mostrar como “não foi tão abusivo assim”. Consideramos que este tipo de narrativa é inaceitável, pois insiste em sua vitimização e não assume a responsabilidade pela maneira como fez as outras pessoas – as mulheres – com quem estava se relacionando se sentirem. Entendemos esse tipo de atitude como um fator de silenciamento e um retrocesso na luta contra o patriarcado dentro dos espaços libertários na medida em que colabora ativamente para que outras vítimas e coletivos se sintam intimidados em confrontar situações de agressão e abuso. A campanha difamatória, persecutória e silenciadora que estamos enfrentando nos faz entender por que tantos coletivos não conseguem ou não querem se posicionar quando surgem questões de violência contra as mulheres. Vemos anarquistas exigindo comprovação de estupro e a exposição das vítimas a seu agressor como prova para que eles mesmos possam julgar procedentes os relatos e então validar ou não a decisão de uma coletiva que decidiu por consenso se posicionar a favor destas vítimas. Essa decisão interna não está aberta a debate e não será questionada por homens que nunca integraram a Coletiva. Segue, em anexo, o link para uma zine junto com nosso apelo para que todos os homens o leiam. Infelizmente, ter acesso a esse material que se encontrava pendurado na parede de sua casa não impediu que Rafael agisse de maneira totalmente oposta ao que a zine sugere, expondo muito mais mulheres à sanha justiceira de outros homens que saíram violentamente em sua defesa. Esperamos sinceramente que nosso posicionamento sirva para fortalecer e incentivar as mulheres a se posicionarem nesses casos e com muita sorte gerar algum questionamento nos homens da cena libertária e evitar futuras agressões/abusos. http://www.pimentanegra.libertar.org/?p=8 * Nosso conceito de estupro não atende à uma escala arbitrária dentro da qual se decide que tipo de intervenção no corpo alheio é aceitável e que tipo não é. Discordamos da perspectiva falocêntrica e fantasiosa de que, para configurar estupro, há a necessidade de penetração, por exemplo. De forma alguma queremos banalizar o "estupro violento" (e qual estupro não o é?) que, apesar de existir, não representa a realidade da maioria dos casos mas habita o imaginário patriarcal como o único tipo existente -­‐ como se o estuprador fosse sempre o estranho monstro violento que ninguém conhece. O estupro acontece entre pessoas que já tiveram ou que ainda mantêm relações consensuais e por isso deve ser combatido. O estupro acontece dentro das casas, das famílias e das amizades próximas. Mulheres são violadas diariamente por homens de sua confiança e de maneiras muito mais sutis do que o ‘estuprador-­‐criminoso-­‐sem-­‐face’. Fica o nosso convite à reflexão sobre o exercício automático de se buscar atenuantes por meio de decisões arbitrárias e individuais sobre quanto abuso uma mulher deve tolerar até que se leve a sério sua denúncia. Coletiva Até o Talo Porto Alegre, 26 de novembro de 2014