1. O documento discute a origem e significado do sábado judaico em comparação com o domingo cristão.
2. Aborda a questão do legalismo versus graça da lei e analisa argumentos de grupos que defendem a observância do sábado.
3. Conclui que o sábado era um símbolo para os judeus, mas Cristo trouxe a verdadeira graça e liberdade para os cristãos, representada pelo domingo.
8. “Estando, pois, os filhos de Israel no deserto,
acharam um homem apanhando lenha no dia de
sábado (...). Então toda a congregação o tirou
para fora do arraial, com pedras, e o
apedrejaram, e morreu, como o SENHOR
ordenara a Moisés.”
(Nm 15:32, 36)
O sábado judaicoO sábado judaico
“A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se
cabeça de esquina. Foi o Senhor que
fez isto e é coisa maravilhosa aos nossos olhos!
Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e
alegremo-nos Nele!”
(Sl 118.22-24)
O domingo cristãoO domingo cristão
9.
10. 9
Agradecimentos
“Ossábios,pois,resplandecerãocomooresplendordofirmamen-
to; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas,
sempreeeternamente.”
(Dn 12.3)
À minha querida esposa Marlene, anjo protetor, cujo amor, indul-
gência e equilíbrio abençoam minha vida há mais de 50 anos.
Aos meus filhos, Daniel Fidelis, Apolo, Paulo Tide e André Luiz,
pelo apoio e estímulo.
Às minhas filhas, Ana Maria e Débora, exemplos de conduta cris-
tã, porque me deram mais dois filhos, quando se casaram, respecti-
vamente, com Pedro Luiz Cortezi Botelho e Bezaliel Duarte Pereira,
dois abençoados servos de Deus, hoje pastores que muito me aju-
dam nos estudos bíblicos, com suas abalizadas críticas e com os
livros que me recomendam, fazem comprar, ou presenteiam.
Ao pastor Antônio Gilberto, egrégio ensinador, por seu estímulo.
AopastorElizeuMenezesdeOliveira,grandemédicoegarimpeiroespi-
ritual,beneméritorestauradordetrabalhosenfermiçoseformadordeObreiros.
Ao pastor Sóstenes Apolos da Silva, amigo do jejum e da oração,
exemplo raro de desinteresse pelos bens materiais que, tendo a ida-
de de ser meu filho, tem sido um pai para mim.
11. 10
E D M A R . B A R C E L L O S
Ao dileto pastor Gedalias Neves da Costa e a seu filho Bruno,
pela inestimável ajuda na composição e publicação deste trabalho.
À querida irmã Áurea Lima Pereira, exemplo de coragem e lide-
rança,cujoapoio,entusiasmoepersistênciamuitocontribuírampara
esta publicação.
À culta e prendada Luzelúcia Ribeiro da Silva e à Alda Monteiro
Capistrano, pela dedicação com que revisaram este livro.
Ao Dr. Reivaldo Vinas que prestimosa e pacientemente tornou
possível a publicação deste trabalho.
E, acima de tudo e de todos, Graças a Deus por haver-me chama-
do para os seus caminhos e concedido a oportunidade de publicar
este trabalho, que ofereço a todos os que querem crescer no conheci-
mento e na graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
In memoriam
Ao papai e à mamãe (meus avós paternos) e às minhas queri-
das tias, cujo amor, exemplo e orações abençoaram minha vida
desde os primeiros passos até o dia de hoje.
AosaudosopastorNatanaelCortêseaopresbíteroÉricodePaiva
Mota (presbiterianos que, na minha infância, muito me influenciaram
no estudo das Sagradas Letras).
Ao pastor José Teixeira Rego, Patriarca, cuja sinceridade e in-
transigência forjaram o caráter impoluto de centenas de jovens as-
sembleianos.
Ao pastor Luiz Bezerra da Costa, pacificador emérito e amigo a
toda prova, exemplo de mansidão.
Edmar Cunha de Barcellos
12. 11
Ênfase e Lógica contra
as Heresias
Joanyr de Oliveira
Pesquisador infatigável, sempre a transitar com desenvol-
tura no universo da cultura religiosa, o pastor e mestre Ed-
mar Cunha de Barcellos enriquece a literatura bíblica com
este O Sábado Judaico e o Domingo Cristão.
Porque habilitado a recorrer às línguas dos originais, a diri-
mir dúvidas à luz do grego e do hebraico, sua palavra é abali-
zada, absolutamente confiável. Assim, independendo da in-
gerência de tradutores (protegido, portanto, do lamentável
traduttore, tradittori...), o escritor dispõe sua exposição, sua ên-
fase, sua lógica em bases muito sólidas.
Nestes dias de desenfreada proliferação de heresias, é opor-
tuníssima a edição de O Sábado Judaico e o Domingo Cristão. Os
neojudaízantes, os incontáveis formuladores de heresias, ou
responsáveis pela sua ressurreição defrontam-se com a con-
sistência deste livro de afirmações incontestáveis. As doutri-
nas dos crentes propensos ao mediunismo – alguns desses
líderes tidos como evangélicos, mas dados ao sincretismo,estão
por aí, a disseminar até na TV suas venenosas sementes –, as
ficções sobre vida espiritual nos planetas, passadas aos ingê-
nuos como verdade, e outras “teses” falsas, caem como pul-
verizadas máscaras à leitura desta obra.
Aqui, Edmar Barcellos deixa bem clara a importância (para
os judeus) do Sabath, e esclarece não haver por que ter com-
promisso com ele.
13. 12
E D M A R . B A R C E L L O S
Qual a origem dessa importante instituição?
Franz Delitzch, biblicista protestante, entende que o Sa-
bath é mera adaptação do festival babilônico da lua cheia
(Shabatu ou Shabatu); Apion, que viveu no séc. I, e é clas-
sificado por Nathan Ausubil (Biblioteca de Cultura Judai-
ca) como “provocador”, vem com esta: “Tendo os judeus
caminhado seis dias no deserto, ficaram com ínguas (nas
virilhas), e por isso descansaram no sétimo dia... e chama-
ram a esse dia de Sabath, pois que aquela doença (de ín-
guas) nas virilhas era chamada sabatosis pelos egípcios”
(BCJ, p. 661).
Mas a Bíblia não deixa dúvidas a esse respeito: “É um
sinal entre mim e os filhos de Israel, para sempre” (Êx 31.17).
Com que objetivo? Para a memória de fatosextraordinários:
“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e
que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte... pelo
que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de
sábado” (Dt S. 15)
Portanto, o Sabath evoca um acontecimento da maior sig-
nificação para os judeus, mas que para nós nada significa.
Nem histórica nem espiritualmente.
Nesta obra relacionam-se os livros e versículos do Novo
Testamento que reiteram as determinações concernentes
aos Dez Mandamentos. São vários – e nem um, sequer,
referenda a guarda do quarto mandamento, do sábado.
Observa o escritor, a respeito: “Sem repetição, somente
censuras!”
Tendo em vista o seu valor,O Sábado Judaico e o Domingo Cris-
tão merece ser levado a todos: os que ouvem a voz de São Pau-
lo sobre os ventos de doutrinas dos últimos tempos e aos que
14. 13
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
supervalorizam o sábado, para que se compenetrem do equí-
voco em que incorrem e mudem os rumos de seus passos.
Joanyr de Oliveira é poeta várias vezes premiado, no
Brasil e no exterior. Laureado, em 1962, (a Comissão
Julgadora estava integrada por Manuel Bandeira e ou-
tros), como “Grande Poeta de Brasília”.
Pastor, advogado, contista, cronista e jornalista. Foi
diretor de Publicações da CPAD e fundador de revistas
evangélicas. Membro de importantes entidades cultu-
rais. Autor de vários livros, principalmente de poesia, in-
clusive a primeira obra literária editada no DF – Poetas
de Brasília, antologia, 1962. É um dos escritores evan-
gélicos cujo nome é citado em enciclopédias como a
Grande Enciclopédia Delta Larousse. (Edição de 1972,
volume 11 p. 4920).
15.
16. 15
S U M Á R I O
O sábado judaico ................................................................................. 7
O domingo cristão............................................................................... 7
Agradecimentos .................................................................................... 9
Ênfase e Lógica contra as Heresias .............................................. 11
Introdução .............................................................................................. 17
I – Cisternas rotas ............................................................................... 21
1. Psicografia gospel ou espiritismo evangélico ........................... 23
Decepcionante paradoxo........................................................... 30
2. Judaizantes modernos .................................................................. 31
II – As divisões do tempo ................................................................. 35
O calendário ....................................................................................... 35
III – O Sábado Judaico ..................................................................... 39
Na escravidão, os israelitas não tinham sábado ........................... 41
Sábado: um sinal identificador do povo de Israel ...................... 43
Os sinais identificadores da Igreja de Cristo ................................ 45
O sábado: um tipo de Cristo.......................................................... 46
O árduo plano de Deus para nossa salvação .............................. 48
O declínio do sábado judaico ......................................................... 53
Caracteres cerimoniais do sábado .................................................. 56
IV – Lei, Lei Moral, Lei Cerimonial, Lei de Deus
e Lei de Moisés .................................................................................... 63
1. Lei .................................................................................................... 63
2. Lei Moral ........................................................................................ 65
3. Lei Cerimonial ............................................................................... 68
4. Lei de Deus, Lei de Moisés ........................................................ 70
5. A Lei como uma “dispensação” ................................................ 71
A Lei .............................................................................................. 74
6. A Lei e a Graça ............................................................................. 74
V – Anomia x Legalismo ................................................................... 75
Lei da Fé, Lei de Cristo, Lei do Espírito de Vida
ou Lei da Liberdade ......................................................................... 75
VI – O domingo cristão..................................................................... 81
1. O primeiro domingo da história ............................................... 81
17. 16
E D M A R . B A R C E L L O S
2. A ressurreição de Jesus Cristo e o domingo ........................... 82
3. A origem da palavra “Domingo” ............................................. 87
4. Resgatando verdades históricas .................................................. 94
5. Odres novos para o vinho novo ............................................... 97
6. O domingo foi prefigurado na Lei ........................................... 102
7. Domingo: dia do Nascimento da Igreja .................................. 104
8. Domingo, Dia de Jesus, Dia da Igreja...................................... 105
9. Domingo, o principal dia da semana ........................................ 107
VII – Breves respostas aos argumentos adventistas
sobre o sétimo dia ................................................................................ 111
1. Devem os cristãos guardar o sábado do sétimo dia? ............ 111
2. Por que só os israelitas devem guardar o sábado,
e não também os cristãos?............................................................... 111
3. As festas judaicas (os sábados anuais) é que cessaram,
mas não o sábado semanal .............................................................. 112
4. Por que considerar as festas judaicas e o sábado
como figuras ou sombras? .............................................................. 112
5. O sábado está na “Lei Moral”, a lei das tábuas de pedra,
e por isso deve ser guardado .......................................................... 113
6. Por que dizer que a guarda do sábado do sétimo dia é
um mandamento cerimonial?.......................................................... 114
7. O sábado é tão importante que foi mencionado 60 vezes
no Novo Testamento ....................................................................... 115
8. As mulheres repousaram no sábado, conforme
o mandamento (Lc 23.56). Isso prova que o sábado
era guardado nos anos 60, quando Lucas escreveu
o seu Evangelho ................................................................................ 116
9. Jesus, sabendo que o sábado seria guardado depois da
sua ressurreição, disse: ....................................................................... 117
10. O apóstolo Paulo pregava aos sábados
nas sinagogas (Atos 13:44) ............................................................... 119
11. O santo sábado será observado na Nova Terra
por toda a eternidade ....................................................................... 121
12. Por que os judeus queriam matar Jesus?................................. 122
VIII – Bibliografia ............................................................................... 125
(Textos dos originais hebraicos, gregos e latinos)........................ 125
Versões Católicas da Bíblia .............................................................. 125
Versões Evangélicas da Bíblia ......................................................... 126
18. 17
Introdução
IntroduçãoIntrodução
“Ninguém vos prive do prêmio, afetando humildade ou culto aos
anjos, baseando-se em visões, enfatuado... na sua mente carnal.”
(Cl 2.18)
Embora muito já se tenha escrito sobre a guarda da lei e
do sábado, julgamos oportuna uma nova análise do assunto,
em vista dos muitos questionamentos que vimos recebendo
de nossos alunos, de crentes e até de não-evangélicos sobre
programas de televisão em que são apresentadas revelações de
anjos, legalismo sabático e algumas modernices como se fossem
verdades bíblicas.
Queremos oferecer aqui subsídios esclarecedores, num es-
tudo sincero e tão profundo quanto possível, sobre esses en-
sinos que não aceitamos, e sobre o que cremos e ensinamos
acerca desses assuntos, como a Palavra de Deus recomenda:
“Estai sempre dispostos a justificar vossa esperança perante
aqueles que dela vos pedem conta. Mas fazei-o com mansidão e
respeito, com uma boa consciência” (1 Pd 3.15, 6. Tradução Ecu-
mênica da Bíblia).
Paulo nos admoesta a “não irmos além do que está
escrito” (1 Co 4.6) e adverte-nos severamente contra qualquer
doutrina diferente da que ele ensinou.
19. 18
E D M A R . B A R C E L L O S
“Estou admirado de vocês estarem abandonando,tãodepressa,
aquele que os chamou por meio da graça de Cristo para outro evan-
gelho. Na realidade, porém, não existe outro evangelho. Há somente
pessoas que estão semeando confusão entre vocês e querem detur-
par o evangelho de Cristo. Maldito aquele que anunciar a vocês um
evangelho diferente daquele que anunciamos, ainda que sejamos
nós mesmos ou algum anjo do céu. Já dissemos antes e agora repe-
timos: maldito seja quem anunciar um evangelho diferente daquele
que vocês receberam” (Gl 1.6-9.Bíblia Pastoral Católica).
Usaremos, basicamente, as versões de Almeida Revista e
Corrigida (ARC) e Almeida Revista e Atualizada (ARA). Quan-
do oportuno, citaremos qualquer outra tradução que nos pa-
recer mais adequada ao tema estudado, cuidando de jamais
ferir o sentido do texto original. As citações serão destacadas,
buscando-se obter maior atenção para o texto em foco.
Rogamos ao leitor que faça uma consulta cuidadosa às
citações nas notas de rodapé. Elas foram, criteriosamen-
te, extraídas de livros e de documentos cuja cópia pode-
remos enviar aos interessados, arcando estes com os cus-
tos correspondentes.
Pedimos ao Senhor Jesus que nos inspire na exposição
dos assuntos aqui apresentados e que ilumine os leitores,
para que recebam a edificação e os esclarecimentos que tan-
to lhes desejamos.
Cremos que os cristãos têm o direito de comer ou não
comer o alimento que quiserem e de guardar ou de não guar-
dar o dia que quiserem, segundo deixa bem claro a Bíblia,
quando diz:
20. 19
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
“Acolhei o fraco na fé sem querer discutir suas opiniões. Um,
acha que pode comer de tudo; outro, que é fraco, come legumes...
Quem és tu que julgas o servo alheio?... Há quem faça diferença
entre dia e dia e há quem ache todos os dias iguais; cada um
siga sua convicção” (Rm 14.1-5, Bíblia de Jerusalém).
Quem ousaria condenar carnívoros ou vegetarianos, saba-
tistas ou dominguistas, depois de ler tão explícita declaração
da liberdade cristã, registrada por Paulo, o maior teólogo da
Bíblia?
Não obstante, procuraremos refutar os argumentos da Se-
nhora Ellen G. White,1
recentemente plagiados, repetidos e
ampliados nos programas de televisão, bem como alguns ou-
tros tópicos e práticas estranhas ao Evangelho.
Embora saibamos que as pessoas só crêem no que querem
acreditar, esperamos que o leitor faça como os discípulos de
Bereia, que “examinavam cada dia nas Escrituras para ver se
tudo era exato” (At 17.11).
Cremos que são maiores os motivos que nos devem
unir do que os que nos separam! Repetimos, pois com
Agostinho:
“Nascoisasessenciais,unanimidade;nascoisasnãoessenciais,
diversidade; e, em todas as coisas, amor!”.2
1
Ellen G. White foi profetisa, vidente e continuadora do adventismo
de William Miller, depois que ele reconheceu o seu engano em ter mar-
cado, erradamente, por três vezes seguidas, a data da segunda vinda
de Cristo.
2
Agostinho, (354-430 d.C.), o maior teólogo cristão depois de Paulo,
também chamado de “O santo protestante”.
21.
22. 21
I – Cisternas rotasI – Cisternas rotas
“Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos,
diz o SENHOR. ‘O meu povo fez duas maldades: a mim me deixa-
ram’, o manancial de águas vivas, e cavaram para si cisternas,
cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.12, 13).
Glorificamos a Deus pela liberdade de imprensa e de pen-
samento de que gozamos no Brasil.
Lamentamos, porém, que alguém aproveite essa liber-
dade para exibir pela TV e nos púlpitos (às vezes, rebai-
xados à condição de palcos) grotescos espetáculos, “estudos
bíblicos distorcidos, legalismo e revelações de anjos”, num
sincretismo incompatível com a nobreza e a dignidade
do Evangelho.
Agravando essas confusões midiúnicas,3
uma telepastora,
dantes querida e admirada, surpreendeu o povo evangéli-
co abandonando a simplicidade da doutrina que pregava,
introduzindo em seus programas estranhas inovações que,
a nosso ver, não passam de deploráveis cisternas rotas. Ci-
temos dois exemplos:
3
“Midiúnicas”. Propomos este neologismo porque o uso da mídia na
apresentação das modernices teológicas tem apresentado estreitas se-
melhanças com as revelações “mediúnicas” do espiritismo.
23. 22
E D M A R . B A R C E L L O S
1.º Prestigia modernos “videntes”, chegando até a tra-
duzir e a recomendar a leitura do livro de um certo rev.
Elwood Scott (Paraíso: a cidade santa e a glória do Trono. Ed.
Palavra da Fé Produções, 1992), supostamente “ditado pelo
espírito de um judeu falecido na Noruega”, um tal “Sêneca
Sodi”, que é um verdadeiro plágio dos livros espíritas.
(Orientar-se pelas revelações de anjos ou “espíritos aureo-
lados de luz” feitas a modernos videntes é envolver-se num
misticismo danoso, estranho ao Evangelho e característico
do espiritismo.)
2.° Passou a guardar o sábado e a comemorar festas judaicas,
abandonou a sua Igreja de origem, criando uma nova “igre-
ja”, baseada em suas novas e ilusórias convicções.
(Pregar a guarda de dias e de festas judaicas é, a nosso ver,
cair da Graça para voltar à lei.)
Problema semelhante ocorreu nas igrejas da Galácia, quan-
do Paulo escreveu:
“Ninguém vos prive do prêmio afetando humildade ou culto aos an-
jos,baseando-seemvisões,enfatuadonasuamentecarnal”(Cl2.18).
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos
por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e po-
bres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e
tempos, e anos” (Gl 4.10).
“Só quero saber isto de vós: foi por obras da lei que recebestes o
Espírito ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos que, tendo
começadopeloEspírito,quereisagoraterminarpelacarne?”(Gl3.2,3).
24. 23
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Esses dois erros, acima mencionados, encaixam-se no texto
que encabeça este capítulo:
“O meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manan-
cial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não
retêm as águas” (Jr 2.13).
Realmente, legalismo e espiritismo são duas “cisternas rotas
que não retêm as águas vivas”. Apenas acumulam águas poluí-
das, contaminadas, venenos mortais para quem as utiliza.
1. Psicografia gospel ou espiritismo evangélico
“A favor dos vivos interrogar-se-ão os mortos? À lei e ao
testemunho!Seelesnãofalaremsegundoestapalavra,nuncaverão
a alva”4
(Is 8.19, 20).
Recomendar a leitura de um livro ditado pelo espírito de um morto
é fazer o que Deus proibiu! Quem lê a mensagem de alguém que
já morreu está consultando um morto! E o que diz a Bíblia?
“À lei e o testemunho”, isto é, o que devemos consultar é
a “Palavra de Deus”, onde encontramos esta grave proibição:
“Entre ti se não achará (...) quem consulte um espírito adivi-
nhante, nem mágico, nem quem consulte os mortos, pois todo aquele
que faz tal coisa é abominação ao Senhor” (Dt. 18.11,12).
4
A “Estrela d’alva”; um dos nomes de Jesus: “Eu sou (...) a resplan-
decente Estrela da manhã”. (Ap 22:16).
25. 24
E D M A R . B A R C E L L O S
Afirma Scott que o livro que ele escreveu foi “ditado” e
“corrigido” pelo “espírito” de um judeu, “Sêneca Sodi”, que
lhe apareceu aureolado de luz e lhe fez esta proposta:
“Seconsentesemserviraopropósitoparaoqualtetenhobuscado,
proferireiumafavorecidabênçãodosanto(sic)sobreti”.
Scott respondeu que obedeceria a qualquer pedido razoá-
vel que ele lhe fizesse:
“Então escreverás uma mensagem por mim, para o povo” (p. 1 e 2).
Sêneca Sodi descreveu, a seguir, como morrera e como
vira “três anjos como que embalsamando o seu corpo”, após
o que ele subiu ao céu “numa carruagem de ouro cujos mo-
toristas eram dois anjos” (p. 3, 4).
Transcreveremos abaixo declarações fabulosas desse supos-
to “espírito desencarnado”, dos seus “anjos motoristas”, de
outros “anjos” e de falecidos personagens, bíblicos ou imaginários.
“Tão logo tomei assento na carruagem, descobri que podia falar
com os anjos em perfeita liberdade (...). Eles, então, me garantiram
que teríamos uma jornada segura ao Lar Celestial.
Agora perguntei: soisrealmente anjos de Deus?‘Verdadeiramente
somos’ (...). ‘Oh’, disse o condutor da carruagem, ‘não precisas ter
temores; conduzir-te-ei em segurança ao teu lar eterno’ (p. 5, 6 e 7).
Nós havíamos desfrutado de muitos preciosos encontros (...)
quando, inesperadamente,Miguel,umdosprincipaisanjos,eJehuco,
26. 25
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
o ágil cocheiro, trouxeram a carruagem para o nosso lado, e aquele
disse que nós éramos chamados para irmos imediatamente à Terra.
Em mais um momento, suas cidades, vilas, montanhas e rios nos
eram visíveis. A essa altura, Miguel disse a Jehuco: – Diminui a
velocidade e dirige a carruagem passando pelo Monte Nebo (...).
Num momento mais, as rodas da carruagem estavam pousando no
cume do monte” (p. 56-58).
Espíritos desencarnados voltando à Terra para fazer tu-
rismo e revelações são coisa do espiritismo e anjos motoris-
tas dirigindo carruagens de ouro são invencionice exclusiva
dessa nova seita.
Um falso Moisés que os acompanhava disse esta pomposa
bobagem ao descer no monte Nebo:
“Muito antes da sua encarnação, Ele (Jesus) era a luz do mundo
e estava com sua Igreja na Terra” (p. 58).
Não existia igreja na Terra antes de Jesus encarnar-se! Je-
sus disse, já encarnado, na Terra:
“Também eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedraedificarei [o
verbo está no futuro!] a minha igreja” (Mt 16.18).
Leiamos, agora, uma velhaca tentativa de subestimar a Sal-
vação em Cristo, neste episódio mitológico: (Uma alma “meio
salva”(!?) não pôde entrar no Paraíso, porque ainda precisava
fazer certos avanços):
27. 26
E D M A R . B A R C E L L O S
“Naquelemomento,euviumasenhorasairdeumacarruagem.Pare-
ciatãodesnorteadaqueseafundouquandoumdosatendentesaproxi-
mou-se dela... – Oh, meu Deus! Não sou digna nem estou preparada
para esta glória. Oh! Posso algum dia endireitar-me com Deus?... Oh!
Essas vestes brancas, esses cálices de ouro, árvores da vida e flores
exuberantes!... – Foste salva, minha filha, disse o seu atendente, como
pelo fogo, porque não eras uma fiel serva de Deus. (...) Avanços que
deveriam ter sido feitos no mundo, terão de ocorrer aqui, antes que
possas entrar nos portões da Cidade,ouverareluzenteglóriadomuro
de jaspe. Vem comigo e assistir-te-ei no conhecimento mais profundo
de Cristo, sua salvação eterna e seu Reino” (p. 11, 12).
Esse tipo de “aperfeiçoamento para que as almas possam
entrar no céu” é ensino espírita, pelo processo da reencarnação, e
doutrina católica romana, mediante o sofrimento no purgatório.
Jesus disse ao ladrão arrependido que o aceitou como
Salvador: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no
Paraíso”. O ladrão foi salvo sem precisar fazer qualquer
“avanço” para entrar no Paraíso. (Lc 23.43.)
A salvação em Cristo é total, completa, perfeita; nada lhe
podemos acrescentar.
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem
de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie” (Ef 2.8-9 ARC).
Ao ler as fantasias do livro Paraíso, a cidade santa e a glória do
Trono, lembramo-nos de outro livro, A vida no planeta Marte,5
5
MAES, Hercílio. A vida no planeta Marte. 9. ed. LFEB, 1987.
28. 27
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
reeditado muitas vezes e também ditado por um espírito aureola-
do de luz, “Ramatis”, segundo afirma o médium psicógrafo Her-
cílio Maes (p. 3).
Eis algumas lorotas mirabolantes de Ramatis sobre uma
supercivilização humana em Marte:
PERGUNTA: Marte é habitado?
RAMATIS: “É um dos mundos enunciados por Jesus quando Ele
disse: há muitas moradas na casa de meu Pai. Vive lá uma huma-
nidade mais evoluída do que a terrestre.” (p. 17.)
“[Em Marte] cultivam-se flores que além do perfume exsudam
luz, que no lusco-fusco crepuscular vão brilhando mais e mais, até
se transformarem em verdadeiras lâmpadas vivas.” (p. 199.)
“OscinemasemMarteprojetamosfilmesatravésderaiosinvisíveis
emumaterceiradimensãoperfeita,alémdoexcelentesomestereofôni-
co. Os espectadores (que podem assisti-los mesmo em casa) são en-
volvidos pelo clima e pelos perfumes dos locais filmados!” (p. 146.)
“Otamanhoouenvergaduradasespaçonaves(...) proporciona-lhes
o comprimento de quinhentos metros e a altura de trinta metros, e
atingemavelocidadedeummilhãodequilômetrosporhora!”(p.322.)
“Os lagos com os fundos marchetados de lâminas precio-
sas de topázio, ametista, esmeralda e rubi, transformam sua
água límpida em fulgurações de nuances irisadas contribuin-
do para que os estádios fiquem emoldurados num panorama
deslumbrante” (p. 144.)
29. 28
E D M A R . B A R C E L L O S
“Aavedocantoespiritual(umpássarodeaspectoangélicoemis-
terioso(...)executasentidapáginamusicaldesonoridadealgoreligiosa.
São frases tecidas de sons graves e solenes.”(p.193.)
“Todas as religiões em Marte são reencarnacionistas (...). Antes do
desencarne, os mais desenvolvidos costumam combinar com os futu-
ros pais a nova reencarnação em vista. Fazem um relatório completo
da existência transcorrida, fixando os acontecimentos que possam for-
mar um elo coerente no futuro. Desse relatório, entregam uma cópia
para o Departamento de Controle Reencarnatório e outra cópia para
aqueles que lhes servirão de progenitores no breve retorno.” (p.291.)
Observação: o suposto Ramatis não foi capaz de prever o
surgimento dos computadores e a extraordinária eficiência do
sistema de informática, que já funciona maravilhosamente em
nosso “pobre e atrasado” planeta Terra. Se houvesse vislum-
brado isso, não descreveria um modo tão arcaico de transmis-
são de relatos ao “Departamento de Controle Reencarnató-
rio” e aos “futuros progenitores” do planeta Marte.
É uma melancólica decepção constatarmos que homens
sérios como Francisco Cândido Xavier, Carlos Toledo Rizzini,
Gabriel Delanne,6
Hercílio Maes e Allan Kardec, embora bem-
intencionados, escreveram e publicaram as petas dos falsos es-
píritos de luz. E o pior: tais espíritos se contradizem frontal-
mente sobre as imposturas apresentadas, e os “médiuns” ainda
as aceitam como verdades cristalinas! Por exemplo:
Ramatis revelou a Hercílio Maes, como já vimos acima, que
Marte seria muito superior à Terra.
6
DELANNE, Gabriel. “Não muito longe de nós, o planeta Júpiter oferece-
nos o exemplo de condições de habitabilidade preferíveis às nossas.” O
fenômeno espírita. 3. ed. rev. FEB, 1977. p. 214.
31. 30
E D M A R . B A R C E L L O S
Uma sonda espacial da NASA, a Pathfinder, fotografou e
analisou recentemente (em 1997) o solo daquele planeta, e
constatou serem falsas todas as informações dos supostos
“espíritos de luz”.
A ciência comprovou que Marte não tem flores, não tem
cinemas, não tem lagos com pedras preciosas, não tem aves que can-
tam melodias religiosas, não tem Departamento de Controle Reencar-
natório, não tem astronaves que voam a um milhão de quilômetros por
hora, não tem gente, nem seres vivos. A mesma coisa se conclui
decisivamente sobre os planetas Vênus e Júpiter.
E lembrar que nossos amigos espíritas deixam de acreditar
na Bíblia para crer nesses “espíritos”!
Decepcionante paradoxo
É lamentável que, justamente agora que os equívocos do
espiritismo estão sendo desmascaradas pelos dados concretos e
irrefutáveis de análises e fotografias científicas, alguém que co-
nhece a Palavra de Deus, um pastor, escreva e uma pastora tradu-
za e recomende a leitura de revelações espúrias bafejadas por
um espírito loroteiro que diz ter subido ao céu numa carrua-
gem de ouro dirigida por dois anjos motoristas.
Aos irmãos vitimados por esses erros expressamos e repe-
timos o receio do apóstolo Paulo:
“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua
astúcia, assim também sejam corrompidos os vossos sentidos e se
apartemdasimplicidadequeháemCristo.Porque,sealguémforpre-
gar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro
32. 31
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes,
com razão o sofrereis (2 Co 11.4 ARC)”. “Na realidade, porém, não
existeoutroevangelho.Hásomentepessoasqueestãosemeandocon-
fusão entre vocês e querem deturpar o evangelho de Cristo. Maldito
aquelequeanunciaravocêsumevangelhodiferentedaquelequeanun-
ciamos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu. Já dis-
semosanteseagorarepetimos:malditosejaquemanunciarumevan-
gelho diferente daquele que vocês receberam”(Gl1.6-9).
2. Judaizantes modernos
A “guarda do sábado” e outras “velhas inovações” estão
sendo pretexto para o surgimento de novas “denominações”,
agravando assim o já inflacionado número de “igrejas
evangélicas”.
As decepcionantes “revelações adventistas” de William
Miller, soerguidas por seus adeptos, Hiran Edson, Joseph Bates
e Ellen White, estão sendo renovadas, plagiadas, ampliadas e
difundidas pela TV.
Como nem todos conhecem a origem do adventismo do
sétimo dia, daremos abaixo um breve histórico do caso que,
de tão bizarro, passou a figurar no “Grande Livro do Maravi-
lhoso e do Fantástico”.
William Miller, em princípios do século XIX, deduziu que
as 2.300 tardes e manhãs de que fala Daniel: “E ele me disse:
até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será
purificado” (Dn 8:14), corresponderiam a 2.300 anos.
Comparando essa conclusão com o que está escrito em
Mt 21.1-13: “(...) E entrou Jesus no templo de Deus, e expul-
sou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou
33. 32
E D M A R . B A R C E L L O S
as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pom-
bas. E disse-lhes: Está escrito: a minha casa será chamada
casa de oração. Mas vós a tendes convertido em covil de
ladrões (...)” (que se refere à entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém, seguida da purificação do Templo), Miller come-
çou a anunciar, desde 1818, que a segunda vinda (o Advento)
de Cristo dar-se-ia no dia 21 de março de 1843. (Daí provém
o nome Adventismo).
Naquele dia, marcado com antecipação de 25 anos, mi-
lhares de fiéis aguardaram ansiosamente a segunda vinda
de Cristo.
A 13 de novembro de 1833 (faltando ainda 10 anos para o
“glorioso dia”), houve uma “chuva de meteoritos” na Cali-
fórnia. Ellen White afirma ter sido “o mais maravilhoso es-
petáculo de estrelas cadentes que os homens jamais presen-
ciaram”9
e concluiu: “Ainda uma vez, milhares de pessoas se
persuadiram de que era chegado o Dia do Juízo”.
Esse fato e a firme atitude dos fiéis, que doavam pro-
priedades, reconciliavam-se com os desafetos, perdoavam
dívidas, levou centenas de pessoas a se “converterem” e,
vestidas de branco, aguardarem em praças públicas o gran-
de evento. Mas Jesus não veio no dia 21.3.1843, marcado
por Miller! Ele então refez seus cálculos e remarcou a
data para o dia 21 de março do ano seguinte. Jesus tam-
bém não veio.
Nova data foi assinalada para o grande evento: 22 de outu-
bro de 1844. Falhou mais uma vez.
9
WHITE, Ellen Gould. Vida de Jesus. São Paulo: Casa Publicadora
Brasileira, 1982. p. 227.
34. 33
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Miller, decepcionado e arrependido, pediu perdão aos que
enganara involuntariamente e voltou à sua antiga Igreja,
reconhecendo que esquecera este versículo: “Mas, daquele
Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu,
nem o Filho, senão o Pai” (Mc 13.32).
Ainda hoje os adventistas tentam explicar essa malograda
previsão nos seus livros e periódicos, sob o título: O equívoco de
Miller.10
Esses artigos pouco ou nada acrescentam a uma fá-
bula absurda que alguns renitentes adeptos de Miller engen-
draram para explicar o vexatório insucesso profético.
HIRAN EDSON “teve uma revelação” de que Cristo, naquela
data, realmente saiu do céu, mas para purificar o Santuário do céu,
e não o da terra.
JOSEPH BATES (que já era sabadeador), e ELLEN WHITE, a
profetisa que “viu o 4.º mandamento resplandecendo no
céu, com letras de ouro”, a ele se uniram e foram os conti-
nuadores do movimento adventista iniciado por Miller. Este,
porém, não acompanhou o movimento que iniciara, pois
não concordou com a utopia extravagante da “purificação
do santuário celestial”, que mais parecia um “remendo de
pano novo em pano velho”.
Assim, nasceu o Adventismo do Sétimo Dia.11
Somente para esclarecer a alguém que ainda tenha dúvidas
sobre o assunto é que procuramos refutar tais doutrinas nes-
te livro. Não cremos, porém, que Jesus deixe de salvar quem
10
WHITE, Ellen Gould. O grande conflito. 28. ed. 1983. p. 409-417.
11
Heresiologia. 2. ed. EETAD. p. 111-112. Leia também: Heresias saba-
tistas, de Alcides Nogueira; A questão do sábado, de Thomas P. Guimarães;
e O Sabatismo à luz da Palavra de Deus, de A. Pitrowsky, que dizem o
mesmo.
35. 34
E D M A R . B A R C E L L O S
o aceita como único e suficiente Salvador só porque não
come carne de porco e não toma café, ou porque pretenda
guardar o sábado, ou ficar dormindo na sepultura até o dia
da ressurreição, ou porque crê que Jesus saiu do céu para
purificar o santuário celeste, ou, ainda, porque pensa que o
“castigo eterno” não é eterno, ou que o bode emissário é
tipo de satanás, e não de Cristo. Essas diferenças teológicas
são, a nosso ver, inócuas para a salvação de quem quer que
seja, como disse Paulo:
“Aceitem entre vocês quem é fraco na fé sem criticar as opiniões
dessa pessoa. Por exemplo, algumas pessoas crêem que podem
comer de tudo, mas quem é fraco na fé come somente verduras e
legumes. Quem come de tudo não deve desprezar quem não faz
isso, e quem só come verduras e legumes não deve condenar quem
come de tudo, pois Deus o aceitou. Quem é você para julgar o
escravo de alguém? Se ele vai vencer ou fracassar, isso é da conta
do dono dele. E ele vai vencer porque o Senhor pode fazê-lo vencer.
Algumas pessoas pensam que certos dias são mais importantes
do que outros, enquanto outras pessoas pensam que todos os dias
são iguais. Cada um deve estar bem firme nas suas opiniões”
(Rm 14.1-5, BLH).
“Se,pois,estaismortoscomCristoquantoaosrudimentosdomundo,
porquevoscarregamaindadeordenanças,taiscomo:nãotoques,não
proves,nãomanuseies?”(Cl2.20-21).
“(...) Comotornaisoutravezaessesrudimentosfracosepobres,aos
quaisdenovoquereisservir?Guardaisdias(...)”(Gl4:9.)
36. 35
II – As divisões do tempoII – As divisões do tempo
Cremos que sejam proveitosas algumas considerações so-
bre as maneiras de dividirmos o tempo antes de analisarmos
a “questão do sábado”.
O calendário
Esta palavra, calendário, vem do latim calendae, primeiro
dia do mês romano, em que as contas deveriam ser pagas.
Daí o nome calendarium (livro de registros onde eram anota-
das as contas a pagar).
O calendário foi inventado pelos egípcios, mais ou menos
há 4.000 a.C.
No calendário judaico, este ano de 2000 corresponde ao
ano de 5.760.
Nocalendáriomuçulmano, 2000correspondeaoanode1419.
(Eles contam os anos a partir de 16 de julho de 622, a data da
fuga de Maomé de Meca para Medina, chamada Hégira).
O calendário vigente no tempo de Cristo era o Juliano,
estabelecido por Júlio César no ano 46 a.C.
Curiosidades: O ano de 1582 foi o menor ano da história,
com apenas 355 dias.
Houve uma supressão de dez dias naquele ano, quando o
dia 4 de outubro (quinta-feira) passou a ser o dia 15 de outubro
(sexta-feira), para que se corrigisse um excesso de tempo
37. 36
E D M A R . B A R C E L L O S
acumulado em relação ao “ano solar”, provocando uma
séria defasagem nos tempos das quatro estações: inverno,
primavera, verão e outono.
Essa modificação foi decretada pelo papa Gregório XIII,
donde provém o nome: Calendário Gregoriano, hoje adotado
quase universalmente.
Por causa dessa mudança, os adventistas e outros saba-
deadores estão guardando realmente a sexta-feira, que o
papa transformou em sábado; e os outros cristãos estão
comemorando a ressurreição do Senhor no sábado, que
atualmente é um domingo, como determinou o papa
Gregório XIII.
No ano 525, um monge chamado Dionísio Exíguo fez um
calendário a pedido do imperador Justiniano. Algum tempo
depois, constatou-se ter Dionísio cometido um erro de cál-
culo em cerca de cinco anos. Daí, chegou-se à conclusão de
que Jesus nascera no ano 748 do calendário romano, e não
em 753, cinco anos antes do que se pensava, isto é: Jesus
nasceu no ano 4, 5 ou 6 antes de Cristo!
São malogradas, portanto, as especulações que se fazem
sobre a passagem do segundo milênio, pois já estamos no
terceiro milênio do nascimento de Cristo há muito tempo.
Vejamos, agora, alguns dados sobre segundo, minuto, hora,
dia, semana, etc.
O segundo: unidade de medida de tempo no Sistema In-
ternacional, igual à duração de 9 192 631 770 vezes o período
de determinada radiação emitida, no seu estado fundamen-
tal, por um dos isótopos do césio (o nuclídeo Césio 133).
O minuto: do latim Minutu = miúdo, diminuído, divide-se
em 60 segundos.
38. 37
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
A hora: 24.ª parte de um dia, composta de 60 minutos.
O dia: corresponde a uma volta que a Terra perfaz em
torno do seu eixo.
O mês: espaço de tempo que, originalmente, media-se a
partir da volta da Lua em torno da Terra; hoje emprega-se o
mês de calendário. Os meses de calendário têm exatamente
28, 29, 30 ou 31 dias.
O ano: relacionado com o Sol, em torno do qual gira a
Terra em trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas, apro-
ximadamente.
O repouso periódico: nem sempre, nem em todos os luga-
res, o descanso periódico foi de sete em sete dias. Na África
ocidental, havia intervalos de quatro dias; na América Central,
de cinco dias; na antiga Assíria, de seis dias. Os romanos anti-
gos repousavam de oito em oito dias; e os incas, de dez em dez.
A semana: o nome vem do latim septimana, sete manhãs.
De origem semita, está relacionada aos sete astros que os an-
tigos povos da Mesopotâmia consideravam como deuses. O
primeiro dia da semana era dedicado ao Sol, o segundo à Lua,
o terceiro a Marte, o quarto a Mercúrio, o quinto a Júpiter, o
sexto a Vênus, o sétimo a Saturno. Até hoje algumas línguas
adotam esses nomes, conforme a tabela abaixo:
Latim Inglês Francês Espanhol
Die Solis Sunday Dimanche Domingo
Die Lunae Monday Lundi Lunes
Die Martis Tuesday Mardi Martes
Die Mercurii Wednesday Mercredi Miercoles
Die Jovis Thursday Jeudi Jueves
Die Veneris Friday Vendredi Viernes
Die Saturni Saturday Samedi Sábado
39.
40. 39
III – O Sábado JudaicoIII – O Sábado Judaico
“PorquetelembrarásquefosteservonaterradoEgitoequeoSenhor,
teu Deus, te tirou dali; com mão forte e braço estendido; pelo que o
Senhor,teuDeus,teordenouqueguardassesodiadoSábado”(Dt5.15).
“Sábado” não significa sétimo dia, como pensam alguns. A
palavra sábado é originada do hebraico: hbs – shabath e sig-
nifica dar pausa, desistir, cessar, descansar.12
Depois do pecado do homem, a criação do mundo já não
era motivo de alegria, nem de descanso para o Criador. O
repouso de Deus fora perturbado! Não havia mais razão para
qualquer comemoração no dia de sábado!
Disse Deus a Adão: “Maldita é a terra por tua causa” (Gn
3,17).
Disse Jesus: “Meu pai trabalha até agora e eu trabalho
também” (Jo 5,17).
Afirmou João: “O mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5.1).
Declarou Paulo:
“Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e
suporta angústias até agora (...) na esperança de que a própria cria-
çãoseráredimidadocativeirodacorrupção”(Rm8.20-22).
12
R. Laird Harris, G. L. Archer, Jr. Bruce K. Waltke. Dicionário de
Teologia do A.T. (Hebraico), 2323. p. 1520.
41. 40
E D M A R . B A R C E L L O S
Por causa do pecado, o homem agora precisa trabalhar e
afadigar-se, para se alimentar e viver: “Maldita é a terra por
tua causa: em fadigas obterás dela o sustento durante os dias
de tua vida. No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até
que te tornes à terra” (Gn 3.17-19).
O sábado já não era mais um dia de alegria... Deus, po-
rém, na sua misericórdia, o manteve como um dia de repou-
so, necessário não só para os homens, mas também para os
animais, pois Deus não precisa de repouso, como está escri-
to: “Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR,
o Criador dos confins da terra, nem se cansa, nem se fatiga?”
(Is 40:28).
Foi, portanto, a necessidade física dos homens e dos ani-
mais e não uma carência espiritual de Deus ou dos homens
que ocasionou a instituição do sábado, segundo declarou o
próprio Deus:
“Seis dias farás os teus negócios; mas, ao sétimo dia, des-
cansarás; para que descanse o teu boi e o teu jumento; e para
que tome alento o filho da tua escrava e o estrangeiro”. “Mas o
sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhu-
ma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu
servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem
animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas
portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu”
(Êx 23.12; Dt 5.14).
Disse Jesus: “O sábado foi estabelecido por causa do ho-
mem” (Mc 2.27).
42. 41
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Na escravidão, os israelitas não tinham sábado
Por quatro séculos os isrelistas foram escravos no Egito
como lembrou Estevão, o primeiro mártir:
“E falou Deus assim: Que a sua descendência seria peregrina
em terra alheia, e a sujeitariam à escravidão e a maltratariam por
quatrocentos anos” (At 7.6).
Durante esse período, eles não tinham dia de repouso, não
podiam guardar o sábado. Quando pediram ao rei um dia
para cessar os trabalhos, a fim de oferecerem sacrifícios ao
Senhor, o Faraó lhes respondeu:
“Vós sois ociosos, estais ociosos; por isso dizeis: Vamos, sacrifi-
quemos ao Senhor”.
“Agrave-se o serviço sobre estes homens, para que se ocupem
nele,enãoconfiemempalavrasmentirosas” (Êx5.17,18).
Por intermédio de Moisés, Jeová Jiré13
libertou Israel e, ainda
no deserto, restabeleceu o sábado do sétimo dia para o seu
repouso, além de outorga-lhes várias leis sobre a conduta
individual e sobre o culto judaico.
No Monte Sinai, foi firmado um pacto entre o Senhor Deus e o
povo de Israel.
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardar-
des o meu concerto (...).”
13
“Jeová Jiré” significa “Deus proverá”.
43. 42
E D M A R . B A R C E L L O S
“ConsideraiqueoSenhorvosdeuosábado;porisso,ele,nosexto
dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém
saia do seu lugar no sétimo dia. Assim descansou o povo no sétimo
dia” (Êx 16.1-31.18).
“OSenhor,nossoDeus,fezconoscoconcerto,emHorebe.Nãofoi
comnossospaisquefezoSenhoresteconcerto,foiconosco,quehoje
aqui estamos vivos” (Dt 5.2, 3).
“Então, todo o povo respondeu a uma voz e disse: Tudo o que o
Senhor tem falado faremos” (Êx 19.5-8).
Uma indelével relíquia selando esse concerto da lei foi en-
tregue a Moisés: Duas tábuas de pedra!
O único documento manuscrito pelo próprio Deus: os Dez Manda-
mentos (Êx 31:18).
Moisés certamente antegozava o júbilo dos seus liderados ao
receberem esse tesouro de inestimável valor. Porém, ao descer
do Monte Sinai, viu seu povo numa orgia carnavalesca, adoran-
do um bezerro de ouro. Sua repulsa foi tal que arbitrou não
serem os israelitas dignos de receber o “relicário do Decálogo”
e, num gesto arrebatado de indignação, quebrou as mais precio-
sas pedras jamais escritas neste mundo:
“E aconteceu que, chegando ele ao arraial e vendo o bezerro e as
danças, acendeu-se o furor de Moisés, e arremessou as tábuas
das suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte” (Êx 32.19).
O pecado de Israel no deserto repetia, agora, o fracasso de
Adão e Eva no jardim do Éden.
Novo “desgosto” para o Criador:
44. 43
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“Então, disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; porque o teu
povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu e depressa se des-
viou do caminho que lhe havia eu ordenado; fez para si um
bezerro fundido, e o adorou (...), e diz: São estes, ó Israel, os
teus deuses, que te tiraram da terra do Egito. Disse mais o
Senhor: Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles
o meu furor, e eu os consuma” (Êx 32.7-14).
Moisés, porém, intercedeu pelo povo. Deus o atendeu e
deu-lhes outras tábuas da lei (Dt5.6-22).14
Essas novas tábuas, no entanto, não mais mencionam a
criação do mundo como a razão da instituição do sábado.
Deus, agora, relaciona a bênção do repouso semanal, com
a libertação de Israel do jugo do Egito.
Sábado: um sinal identificador do povo de Israel
“Tu, pois, fala aos filhos de Israel, dizendo: Certamente guar-
dareis meus sábados, porquanto isso é um sinal entre mim e vós
nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que
vos santifica” (Êx 31.13).
O motivo alegado por Deus para que os israelitas tivessem
seu sábado, isto é, o seu repouso como data festiva, está bem
definido nas segundas tábuas de pedra da lei:
“PorquetelembrarásquefosteservonaterradoEgitoequeoSenhor,
teuDeus,tetiroudali;commãoforteebraçoestendido;peloqueoSenhor,
teu Deus, te ordenou que guardasses o dia do Sábado” (Dt 5.15).
14
“Deuteronômio” significa “segunda lei”. Do grego: δευτερος + νοµος,
(deuteros + nomos) = segunda lei.
45. 44
E D M A R . B A R C E L L O S
Por que teria Deus dado outro motivo, outra razão para
que os israelitas guardassem o sábado, e não mais mencio-
nou a criação do mundo?
Relembremos: no festival de idolatria do “bezerro de ouro”,
em que os israelitas diziam: “São estes, ó Israel, os teus deuses,
que te tiraram da terra do Egito”. Deus ameaçou destruí-los, mas
não o fez, mediante a intercessão de Moisés. Doravante, porém,
Israel deveria lembrar, a cada sábado, que foi Deus-Jeová quem os
libertou da escravidão e lhes restabeleceu o dia de descanso que
eles não tinham no Egito (Êx 32.8-14), e não o bezerro de ouro
de Arão, como alguns israelitas andavam dizendo.
O sábado tornou-se, a partir desse evento, um dia festivo
nacional, um sinal entre Israel e seu Deus Libertador! Para os ju-
deus, portanto, o dia de descanso, o sábado, tem de ser o séti-
mo dia da semana, e não outro.
Esse preceito cerimonial torna o judaísmo diferente
das religiões dos povos pagãos que cultuam a Lua na 2.ª
feira, Marte na 3.ª feira, Mercúrio na 4.ª feira, Júpiter na
5.ª feira e Vênus na 6.ª feira, assim como os maometanos;
e os cristãos, cujo dia de culto é o domingo, o dia da
ressurreição do Senhor Jesus.
“Guardarão,pois,osábado osfilhosdeIsrael,celebrando-onassuas
geraçõescomopactoperpétuo”(Êx31.16).
“Guardareis os meus sábados, pois é sinal entre mim e vós, nas
vossas gerações” (Êx 31.13).
Para os povos que nunca foram escravos na terra do Egito,
o sábado do sétimo dia é um dia comum.
46. 45
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Os sinais identificadores da Igreja de Cristo
Deus-Jeová estabeleceu a circuncisão, os dias de festa e o sá-
bado como sinais perpétuos identificadores do povo de Israel.
Deus-Elohim estabeleceu o arco-íris como sinal perpétuo
entre Ele e todo ser vivente sobre a terra. “Eis que estabeleço o
meu pacto (...). Porei nas nuvens o meu arco (...). Este é o
sinal perpétuo que estabeleço entre mim e todo ser vivente
sobre a terra” (Gn 9.9, 13, 16 e 17).
(Obs.: o único pacto perpétuo entre Deus e toda a huma-
nidade não é o sábado, é o “arco-íris”!)
O Deus Encarnado, Jesus Cristo, também estabeleceu sinais
que haveriam de caracterizar a sua Igreja, durante sua permanência
aqui na Terra; não foram dias de festa, nem circuncisão, nem o
sábado, nem cerimônia alguma característica do Antigo Concerto,
nem mesmo os sinais que precederão a sua segunda vinda. Foram
manifestações do Espírito Santo, inéditas em toda a história da
humanidade.
“Estes sinais seguirão os que crerem:em meu nome expulsarão
os demônios; falarão novas línguas;15
pegarão em serpentes; e, se
beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos
sobre os enfermos e estes ficarão curados” (Mc 16.17, 18).
Lamentamos que algumas Igrejas Evangélicas não possuam,
não busquem, não aceitem e até critiquem esses sinais pro-
metidos por Jesus.
15
Sugerimos ao leitor a busca de maiores conhecimentos sobre es-
sas “novas línguas” no livro Que quer isto dizer? de Carl Brumback. Ed
Livros Evangélicos, 1960. Caixa postal: 1165 Rio de Janeiro.
47. 46
E D M A R . B A R C E L L O S
16
Quando alguma tradução diz que Deus nos castiga (p. ex.: “Eu
repreendo e castigo a todos quantos amo” (Ap 3.19), usa o sentido eti-
mológico do verbo castigar (do latim castus = puro, irrepreensível, leal
+ agere = fazer, agilizar), que expressa o ato de tornar puro, disciplinar,
educar, e não punição ou vingança. Vide ARA e B. Jerusalém.
Segundo afirmam os Evangelhos, eles não só acompanha-
ram os crentes primitivos, como devem acompanhar a Igreja
de Cristo até “quando vier o que é perfeito” (1 Co 13.8-10):
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guar-
dartodasascoisasquevostenhoordenado.Eeisqueestouconvosco
todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.19, 20).
“E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperan-
do com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se
seguiram. Amém” (Mc 16.20).
“Estes sinais seguirão os que crerem” (Mc 16.17).
(Se os sinais seguirão, ainda hoje devemos buscá-los.)
O sábado: um tipo de Cristo
Mesmo quando nos disciplina,16
Deus nos mostra “uma
luz no fim do túnel”, e sua misericórdia se manifesta por
meio de promessas que demonstram o quanto Ele nos ama!
“Porque o Senhor não rejeitará para sempre. Pois, ainda que
entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das
suas misericórdias. Porque não aflige nem entristece de bom grado
os filhos dos homens” (Lm 3.31-33).
48. 47
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Por exemplo: na própria repreensão ao casal delituoso no
Éden, está contida a promessa de que a “semente da mulher
esmagaria a cabeça da serpente” (Gn 3.15), como “uma luz
no fim do túnel”.
Assim, também, na nova edição do decálogo, em meio às
terríficas ameaças próprias da lei, por exemplo:
“Porquenãochegastesaomontepalpável,acesoemfogo,eàescu-
ridão,eàstrevas,eàtempestade,eaoclangordatrombeta,eaosom
de palavras tais que, quantos o ouviram, suplicaram que não se lhes
falasse mais, porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se
atéumanimaltocaromonte,seráapedrejado.Etãoterríveleraavisão,
queMoisésdisse:Estoutodoassombradoetremendo”(Hb12.18-21).
Deus anunciou, na motivação do quarto mandamento, a
figura do Libertador de Israel; e, nessa figura, vemos, também,
a promessa do Redentor de toda a humanidade:
“Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e queo
Senhor teu Deus te tirou dali com mão poderosa e braço esten-
dido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia
de sábado” (Dt 5.15).
Esse repouso, o sábado, é um tipo de Cristo, como disse
Paulo: “Portanto, ninguém vos julgue (...) por causa dos dias
de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras
das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.16, 17).
“Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso (sábado) não
falaria, posteriormente, a respeito de outro dia. Portanto, resta
49. 48
E D M A R . B A R C E L L O S
ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.8, 9), esse
repouso é Jesus!
“Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos
aliviarei” (...) “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para
a vossa alma” (Mt 11.28, 29).
Isto é o mesmo que dizer: achareis sábado para a vossa
alma, pois descanso em hebraico é sábado.
O árduo plano de Deus para nossa salvação
Para compreendermos como e por que Jesus, os apóstolos
e a Igreja adotaram o primeiro dia da semana como o dia das
suas reuniões, devemos lembrar o trabalho intenso de Deus
para nos salvar.
Quando Deus criou o mundo, não fez sacrifício algum.
Pelo contrário, houve até festa nos céus.
“Quando ele lançava os fundamentos da terra, as estrelas
da manhã cantavam e todos os filhos de Deus bradavam de
júbilo”; “E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”
(Jó 38.4-7; Gn 1.31.)
Mas para salvar o mundo que se havia perdido, o próprio
Criador sacrificou-se na pessoa de seu Filho Jesus Cristo. Não
foram apenas “seis dias”, seis “períodos geológicos” ou seis
“dispensações” os milênios do trabalho de Deus para nos salvar.
50. 49
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
1.º Esse trabalho começou na eternidade: “O Cordeiro
morto desde a fundação dos séculos” (Ap 13.8).
2.º Foi anunciado no Éden como a “semente da mulher”
(Gn 3.15).
3.º Continuou nos pactos com Noé, Abraão, Isaque, Jacó:
“Eabençoareiosqueteabençoaremeamaldiçoareiosqueteamal-
diçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3).
4.º Acompanhou e protegeu seu povo no deserto:
“Ebeberamtodosdeumamesmabebidaespiritual,porquebebiam
da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1 Co 10.4).
5.º Deus, assim, levantou um povo monoteísta, uma nação
orientada por profetas e da qual nasceria o Salvador. Porém
seus profetas foram desprezados perseguidos e mortos:
“Agora, pois, porquanto fazeis todas isto, diz o Senhor, e eu vos
falei, madrugando e falando, e não ouvistes, chamei-vos, e não res-
pondestes” (Jr 7.13; 44.4).
“(...) Os filhos de Israel deixaram o teu concerto, derribaram os
teus altares e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e
buscam a minha vida para ma tirarem” (1 Rs 19.10).
“A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram
osqueanteriormenteanunciaramavindadoJusto,doqualvósagora
fostestraidoresehomicidas”(At7.52).
51. 50
E D M A R . B A R C E L L O S
6.º Deus então usou um recurso insólito para nos salvar:
Fez-se homem na pessoa de Jesus Cristo e veio, Ele mesmo,
ao mundo para “Buscar e salvar o que se havia perdido” (pois
o homem, por si mesmo, não se poderia salvar):
“Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para
eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus,
porque para Deus todas as coisas são possíveis” (Lc 19.10;
Mc 10.27).
Foram mais de 30 anos de tristezas, humilhações e dor, o
ministério terrestre do “Deus-homem”.
“Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei con-
vosco? Até quando vos sofrerei?” (Mt 17.17), deplorava Je-
sus, ante as misérrimas conseqüências do pecado, ao descer
do “Monte da Transfiguração”.
O profeta Isaías anteviu as humilhações e os sofrimentos
do Messias e os descreveu com tanta exatidão que alguns
até pensaram que seus relatos foram escritos depois de Cristo
ter vindo ao mundo.
“Como um cordeiro, foi levado ao matadouro (...). Deram-lhe a
sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte (...). Mas ele
foi ferido pelas nossas transgressões, moído pelas nossas iniqüi-
dades (...). O castigo que nos traz a paz estava sobre ele (...).
Derramou a sua alma na morte, foi contado com os transgressores,
mas levou sobre si os pecados de muitos, e pelos transgressores
intercede” (Is 53.1-13).
52. 51
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Jamais poderemos ter uma idéia real da angústia que Jesus
sentiu no Getsemani, quando até suou gotas de sangue17
para
levar avante o plano divino.
As vítimas picadas por cobras venenosas geralmente san-
gram pelas mucosas da boca, dos olhos, dos ouvidos, etc.
(Do sangue dos cavalos que foram inoculados com o ve-
neno de serpentes mas resistiram, e não morreram, os
cientistas retiram o soro antiofídico que livra da morte as
vítimas de cobras venenosas. Do sangue de Jesus, que re-
sistiu às “picadas” (tentações) de satanás e não pecou (1
Pd 2.22), Deus retirou o infalível antídoto contra o vene-
no do pecado).
“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado”; “O sangue de Jesus Cristo,
seu Filho, nos purifica de todo pecado” (Jo 1.14; 1 Jo 1.7).
Que misterioso e aparente absurdo – “Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão inson-
dáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!”
(Rm 11.33) – Jesus, o bendito Filho de Deus, ser desam-
parado por seu próprio Pai. O leitor já imaginou a decep-
ção de um Filho obediente ao ser desamparado por seu
Pai na hora da morte? E a dor de um pai ao ver seu filho
dileto morrendo sob os mais cruéis sofrimentos e, por
amor a outros filhos (desobedientes), abandoná-lo à sa-
nha de seus cruéis algozes?
17
Lc 22.41-44.
53. 52
E D M A R . B A R C E L L O S
“E, perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo:Eli,
Eli, lemá sabactâni, isto é, Deus meu, Deus meu, por que me de-
samparaste?” (Mt 27.46); “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-semaldiçãopornós,porqueestáescrito:Malditotodoaquele
que for pendurado no madeiro” (Gl 3.13); “Porquanto, o que era im-
possível à lei (...). Deus, enviando o seu Filho em semelhança da
carnedopecado,condenouopecadonacarne”(Rm8.3);“Deusofez
pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça
de Deus” (2 Co 5.21).
7.º O trabalho de Deus continuará até a restauração final
de todas as coisas.
“Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também” (Jo 5,
17); “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o ta-
bernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e
eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será
o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não
haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque
já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.3, 4).
Realmente, a salvação deste mundo foi bem mais laborio-
sa e muito mais sofrida que a sua criação. Por isso é que Davi,
por duas vezes, fez esta declaração paradoxal, de que Deus, o
Onipotente, é sofredor:
“Senhor,tuésumDeuscheiodecompaixão,sofredor,egrandeem
benignidade” (Sl 86.15).
54. 53
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
“PiedosoebenignoéoSenhor,sofredoredegrandemisericórdia.”
(Sl 145.8).
O declínio do sábado judaico
“É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30),
Essa humílima declaração acerca de Jesus aflorava dos lá-
bios do maior de todos os profetas.
Se o sábado pudesse falar, também diria sobre o do-
mingo o mesmo que João Batista disse sobre Jesus: “Con-
vém que ele cresça e que eu diminua”, pois, sendo um dia
de descanso para o corpo, era também um tipo, uma som-
bra ou figura de Jesus, o verdadeiro descanso para nossas
almas (Mt 11.28, 29).
É por isso que não encontramos nos Evangelhos, nos Atos
e nas Epístolas nenhuma recomendação para a guarda do sá-
bado, nenhuma promessa para quem o observa e nenhuma
advertência, repreensão ou ameaça para quem o viola.
A vinda de Cristo a este mundo marcou o ocaso do sá-
bado, bem como o das “luas novas”, dos “dias de festa” e
de todas as outras cerimônias do judaísmo, para todo e
qualquer cristão.
Como estava previsto, Jesus morreu na cruz entre malfei-
tores. A natureza ficou enlutada, as trevas cobriram a terra,
os discípulos, tristes e envergonhados, não ousavam sequer
fitar os olhos de alguém (Lc 24.13-31).
Ó sexta-feira fatídica, ó sábado de tristeza e dor! Satanás
estava alegre – e a Igreja em prantos.
55. 54
E D M A R . B A R C E L L O S
opse de sabbaton te
epiphoskouse eis
mian sabbaton
TraduçãoTransliteração
Imaginemos, só por um instante, que Jesus não tivesse
ressuscitado. Ficaria na sepultura como qualquer mortal, e
tudo continuaria perdido, como diz o apóstolo Paulo:
“Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé e ainda permaneceis
em vossos pecados”; “seríamos os mais miseráveis de todos os
homens” (1 Co 15.17, 19).
Mas o sábado passou, como predisse o profeta Oséias:
“Farei cessar todo seu gozo, as suas festas, as suas luas novas,
e os seus sábados” (Os 2.11).
Passou, como escreveram os evangelistas: “E, passado o
sábado, Maria Madalena e a outra Maria foram ao sepulcro
(...)” (Mc 16.1).
O sábado passou, não apenas como um dia que é sucedido
pelo dia seguinte, mas como o dia mais importante da semana,
que cedeu lugar a outro dia mais importante ainda.
“No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da
semana” (Mt 28.1).
O texto grego de Mateus traz este versículo no plural:
“No fim dos sábados, quando já despontava o primeiro dia
da semana” (Mt 28.1). (Os grifos são nossos.)
No fim dos sábados,
quando já despontava
o primeiro dia da
semana (Mt 28.1).
οψε δε σαββατων τη
επιϕϖσκουση εις
µιαν σαββατων
Texto grego
56. 55
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Aníbal Pereira dos Reis propõe esta tradução:
“Quando os sábados se acabaram, ao amanhecer o primeiro dia
da semana”.18
É clara a antítese dos sábados que cessaram com o primei-
ro dia da semana, que surgia.
Este plural, “sábados”, tanto pode ser alusivo aos “fe-
riados” daquela horrenda semana, como também pode ser
uma declaração de que o sábado anterior ao domingo da
ressurreição foi o último dos sábados do sétimo dia a
vigorar para os cristãos.
João, escrevendo, já no final do primeiro século, também se
refere ao sábado como coisa do passado:
“Osjudeus,pois,paraque,nosábado,nãoficassemoscorposna
cruz, visto que era a preparação (pois era grande o dia de sábado),
rogaram a Pilatos (...)” (Jo 19.31). (ARC)
Reconhecendo a cessação da vigência do sábado para os
cristãos, é que Paulo nos instrui:
“Ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa
dos dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são som-
bras das coisas futuras; mas o corpo é de Cristo” (Cl 2.16, 17).
18
REIS, Aníbal Pereira dos. A guarda do sábado. Edições Caminho de
Damasco. s.d. p. 140.
57. 56
E D M A R . B A R C E L L O S
E afirma que:
“Guardar dias, meses, tempos e anos são rudimentos fracos e
miseráveis” (Gl 4.9, 10, Bíblia de Jerusalém).
Caracteres cerimoniais do sábado
“Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos
os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria men-
te” (Rm 14.5).
O texto de Mt 12.1-8, repetido em Mc 2.23-28 e Lc
6.1-5, confirma ser a guarda do sábado um mandamento
cerimonial. Nele, Jesus não só comparou o sábado a ou-
tros mandamentos cerimoniais, mas também inocentou
seus discípulos quando estes o transgrediram. Analise-
mo-lo, versículo por versículo:
Versículo 1. “Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em
um sábado, e os seus discípulos tendo fome, começaram a
colher espigas e a comer.” (A partir daqui, após cada versícu-
lo, faremos um breve comentário.)
Versículo 2. “E os fariseus vendo isso, disseram-lhe: Eis
que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num
sábado.” (Aqui, os fariseus acusaram os discípulos de esta-
rem violando o sábado. Jesus não discutiu se era lícito ou
não o que os discípulos faziam com a sua aprovação. Ape-
nas admitiu o fato.)
Versículo 3. “Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que
fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?”
58. 57
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
(Aqui, Jesus defende os seus discípulos, citando um exem-
plo histórico do maior herói do povo de Israel.)
Versículo 4. “Como entrou na Casa de Deus e comeu os
pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos
que com ele estavam, mas só aos sacerdotes?” (Aqui, Jesus
comparou a quebra do sábado com a quebra de um preceito
cerimonial, cometida por Davi, ao comer ilicitamente os pães
da proposição.) (1 Sm 21.1-6).
Versículo 5. “Ou não tendes lido na lei que, aos sábados,
os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem cul-
pa?” (Aqui, Jesus justificou os seus discípulos, alegando que
os sacerdotes também violavam o sábado no templo e ficavam
sem culpa.)
Versículo 6. “Pois eu vos digo que está aqui quem é maior
do que o templo.” (Aqui, Jesus proclamou-se maior do que
o templo, como a ensinar: “Se os sacerdotes violam o sába-
do e ficam sem culpa pelo simples fato de estarem no tem-
plo, quanto mais ficará sem culpa quem está comigo, que
sou maior do que o templo”.)
Versículo 7. “Mas, se vós soubésseis o que significa: Miseri-
córdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.”
(Aqui, Jesus censurou os fariseus por não terem misericórdia,
e condenarem seus discípulos, aos quais declarou inocentes.)
Observação: Inocente significa inofensivo, sem malícia, sem
culpa, e não ignorante, como pensam alguns (inocentes, vem
do latim, non nocere = não fazer mal, não ser nocivo).
Versículo 8. “Porque o Filho do Homem até do sábado é
Senhor.” (Aqui, Jesus apresentou-se como “Senhor até do
sábado”, lembrando aos fariseus que o dia que elesidolatravam
59. 58
E D M A R . B A R C E L L O S
era, apenas, um servo, um tipo a seu serviço, e não uma auto-
ridade a quem devesse estar subordinado.)
Lembremos que nenhum mandamento moral poderia ser
quebrado no templo, ou em qualquer lugar, sob qualquer pre-
texto. Mas os preceitos cerimoniais o foram, por Jesus e pe-
los apóstolos.
Guardar o sábado do sétimo dia, circuncidar os filhos no
oitavo dia, celebrar a páscoa e as luas novas são procedimen-
tos que podem distinguir o judeu do cristão, do islamita, ou
dos adoradores do Sol. Mas não furtar, não matar, não adul-
terar, honrar os pais, adorar só a Deus, são deveres de todo
ser humano!
Paulo jamais diria: “Um, acha que pode furtar, outro acha
que não pode; cada um esteja tranqüilo em sua convicção”.
Como disse: “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro
julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente segu-
ro em sua própria mente” (Rm 14.5).
João jamais poderia dizer: “Por isso os judeus ainda mais
procuravam matá-lo, porque (Jesus) não só mentia, mas tam-
bém dizia que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se igual
a Deus”. Mas disse:
“Por isso os judeus ainda mais procuravam matá-lo, por-
que não só quebrantava o sábado (sábado, no singular), mas
também dizia que Deus era o seu próprio Pai, fazendo-se igual
a Deus” (Jo 5.18).
Jesus tampouco poderia dizer: “Ou não tendes lido, na lei,
que, aos sábados, os sacerdotes no templo adoram imagens e
ficam sem culpa?” Mas Ele disse: “Ou não tendes lido, na lei,
60. 59
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado,
e ficam sem culpa?” (Mt 12.5).
Os exemplos acima demonstram com a segurança e o
apoio irrefutável da Palavra de Deus que violar o sábado
não é igual a violar um mandamento moral. Concluímos,
portanto, que a guarda do sábado do sétimo dia é um
mandamento cerimonial, assim como a circuncisão, os
sacrifícios de animais, as luas novas e as festas anuais do
judaísmo, que eram “sombras” ou tipos do Messias, que
é Jesus Cristo.
Alegam os adventistas que os “sábados” citados não
são sábados semanais, pois “sábados”, no plural, são os
dias das festas anuais de Israel.19
No entanto, citam os
mesmos “sábados”, no plural, como exemplos de que
devemos guardá-los, como o faz Guilherme Stein Filho
em seu livro O sábbado.20
“Cada um temerá a sua mãe e a seu pai e guardará os meus
sábados. Eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lv 19.30).
“E também lhes dei os meus sábados, para que servissem de
sinal entre mim e eles, para que soubessem que eu sou o SENHOR
que os santifica” (Ez 20.12).
É fácil perceber o engano desse ensino. Basta ler com aten-
ção o versículo citado: “E farei cessar todo o seu gozo, as
19
STEIN, Guilherme Filho. O sábbado. São Paulo: Ed. Sociedade
Internacional de Tratados no Brazil, 1919. p. 104.
20
STEIN, Guilherme Filho. Op. cit., p. 94.
61. 60
E D M A R . B A R C E L L O S
suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as
suas festividades” (Os 2.11).
Deus anunciou o fim das cerimônias e rituais judaicos
numa ordem decrescente de importância:
Cerimônias anuais: páscoa, pentecostes, pães, festa das trom-
betas, etc. (suas festas);
Cerimônias mensais: as cerimônias das luas novas (suas luas
novas); e, por último,
Cerimônias semanais: os sábados (seus sábados).
Os dias de festa já tinham sido mencionados no início da
profecia (“E farei cessar todo o seu gozo, as suas festas”).
Mas para que ninguém pensasse que os sábados eram os
mesmos dias de festa, Deus repetiu: “farei cessar (...) os seus
sábados e todas as suas festividades”. Estes detalhes compro-
vam que os sábados do texto citado não são as festivida-
des, nem os dias de festa, que também cessaram. São
realmente os sábados semanais que cessaram, como já foi
demonstrado, porque eram sombras do corpo de Cristo.
(Agora, que já temos Jesus, o corpo, não mais precisamos
seguir a sombra.)
Essa forma de citar os eventos cerimoniais em ordem cres-
cente ou decrescente de sua importância é comum nas Escri-
turas, como lemos na carta que Salomão escreveu a Hirão, rei
de Tiro:
“Eis que estou para edificar uma casa ao nome do Senhor meu
Deus, para Lhe consagrar, para queimar perante Ele incenso
aromático, e para a apresentação contínua do pão da proposição,
para os holocaustos da manhã e da tarde (solenidades diárias), nos
62. 61
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
sábados(solenidadessemanais)enasluasnovas(solenidadesmen-
sais)enasfestividades(solenidadesanuais)doSenhornossoDeus;o
que é obrigação perpétua de Israel” (2 Cr 2, 4).
63.
64. 63
IV – Lei, Lei Moral, LeiIV – Lei, Lei Moral, Lei
Cerimonial, Lei de DeusCerimonial, Lei de Deus
e Lei de Moisése Lei de Moisés
1. Lei
A palavra hebraica hrwt “torah” (lei) ocorre 221 ve-
zes no Antigo Testamento e sua correspondente grega
νοµος, nómos, 197 vezes no Novo Testamento. Lato sensu,
essa palavra insinua (no seu sentido literal: mete no seio)
um significado mais abrangente do que simplesmente lei.
Ela dá-nos a idéia de “ensino, norma de conduta, instru-
ção divina”.
O Livro da Lei, “torah”, para os judeus, compõe-se, prin-
cipalmente, dos cinco primeiros livros da Bíblia atribuídos a
Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronô-
mio, denominados de Pentateuco (cinco tomos).
Quando a Bíblia menciona Lei, Lei do Senhor, Lei de
Moisés, não se refere apenas à lei moral ou à lei cerimonial, mas
a uma verdadeira “constituição” que deveria orientar e re-
ger não só a conduta das pessoas e as cerimônias religiosas,
mas também a organização política da nação de Israel em
seus aspectos cíveis, militares, agrários e comerciais, como
as que temos a seguir:
65. 64
E D M A R . B A R C E L L O S
“E, quando venderdes alguma coisa ou a comprardes do vosso
próximo, ninguém oprima a seu irmão. Conforme a multidão dos
anos, aumentarás o seu preço; e, conforme a diminuição dos anos,
abaixarás o seu preço.”
“Estaéaleidoholocausto,edaofertademanjares,edaexpiação.”
“Esta é a lei de toda a praga da lepra e da tinha.”
“Esta é a lei dos ciúmes: Quando a mulher, em poder de seu ma-
rido, se desviar e for contaminada (...).”
“Quando te achegares a alguma cidade a combatê-la, apre-
goar-lhe-ás a paz. E será que se te responder em paz e te abrir,
todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá.
Porém, das cidades destas nações, que o Senhor, teu Deus, te
dá em herança, nenhuma coisa deixarás com vida”.
(Lv 7.37; 14.54; 25.1-43; Nm 5.29; Dt 20.12 e 14.25)
Vários textos no Novo Testamento usam a palavra lei,
referindo-se a todo o Antigo Testamento, por exemplo:
“Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre”
(Jo 12.34). “Está escrito na lei: Por gente doutras línguas e por
outros lábios, falarei a este povo” (1 Co 14.21).
Os textos citados estão nos Salmos e nos livros históri-
cos e proféticos (2 Sm 7.12, 16; Sl 110.4; Is 9.6).
66. 65
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
2. Lei Moral
Dizem alguns que Lei Moral é a que foi escrita nas tábuas
de pedra (os Dez Mandamentos) e Lei Cerimonial é aquela
que está fora das tábuas de pedra. Tal definição nos parece
inadequada e casuística.
Lei Moral é um conjunto de valores absolutos, isto é, fixos,
eternos e perfeitos, impostos ao homem por uma forçasuperior,
Deus, e revelados na sua Palavra Escrita, a Bíblia Sagrada.
São princípios universais, válidos para qualquer pessoa, em
qualquer lugar, e não se alteram com o passar do tempo. Até
mesmo os gentios receberam de Deus um senso ético que se
manifesta por meio de suas consciências, como afirma Paulo:
“Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmen-
te as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são
lei (...), os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração,
testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos,
quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2.14, 15).
Encontramos mandamentos morais por toda a Bíblia, tan-
to nas tábuas de pedra, como fora delas. Por exemplo: Jesus
declarou que os dois maiores mandamentos são estes:
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de todo o teu entendimento. Este é o primeiro e grande man-
damento” (Mt 22.37-40, citando Dt 6.5). “E o segundo é semelhan-
te a ele: Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.31, citan-
do Lv 19.6-8).
67. 66
E D M A R . B A R C E L L O S
Alguns legalistas dizem que os mandamentos citados são
apenas o resumo do Decálogo, e não outros mandamentos.
Enganam-se. Jesus declarou: “Este é o primeiro e grande
mandamento”, não no sentido cronológico, pois muitos ou-
tros mandamentos já haviam sido dados antes, e sim no senti-
do de importância, como lemos: “Qual é o principal de todos
os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é (...)”, etc.
Realmente, nenhum dos mandamentos litografados fala
sobre amar a Deus ou ao próximo. O que mais se aproxima
de amar é: “Honrarás teu pai e tua mãe (...)”.
Os mandamentos citados estão fora das tábuas de pedra,
em meio a mandamentos cerimoniais, como estes: “não co-
mer restos dos sacrifícios no terceiro dia; não juntar animais
e sementes de diferentes espécies; não adulterar com escra-
vas casadas; sacrificar carneiros, bodes” (Lv 19.18-25).
Por outro lado, na lei das tábuas de pedra, temos um pre-
ceito cerimonial que é o de observar o sábado no sétimo dia
da semana. (Um mandamento moral exigiria, quando mui-
to, observar um dia de repouso, isto é, um sábado, a cada
sete dias. Mas que este dia seja o primeiro, o terceiro ou o
sexto da semana, já não é mais uma questão moral, e sim
um dos preceitos cerimoniais que diferenciam o culto judai-
co do culto das outras religiões.)
Para melhor compreensão deste argumento, lembremos a
lei do dízimo do gado e do rebanho:
“No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, de tudo o
que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor. Não se
investigará entre o bom e o mau, nem o trocará” (Lv 27.32, 33).
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O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Expliquemos como se dizimava o gado: “Tudo o que pas-
sar debaixo da vara (...)”.
O pastor marcava os animais, fazendo-os passar por um
corredor estreito, onde os contava um a um. O décimo que
passasse debaixo da vara era marcado como dízimo ao Se-
nhor. Tinha de ser aquele e nenhum outro. Esse sistema evitaria a
escolha fraudulenta de animais doentes ou defeituosos para
dizimar.
Porém, atualmente, já não adotamos esse critério para
devolver o dízimo do Senhor. O importante é devolver-
mos um real em cada dez, mesmo que este não seja o déci-
mo que estejamos recebendo. Simplesmente fazemos um
cheque no valor da décima parte do que recebemos e o
entregamos na Igreja. Não é assim que você faz? Se ainda
não o faz, comece a fazê-lo e será abençoado. Ou alguém
ainda conta: um real, dois reais, três, quatro, nove... e, quando
chega aos dez reais, o separa para iniciar nova contagem:
um real, dois reais...?
Assim também era o descanso semanal. Tinha de ser, para
os judeus, no sétimo dia da semana e em nenhum outro.
Mas para nós, os cristãos, o apóstolo Paulo esclareceu: “Um
faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os
dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria
mente” (Rm 14.5).
Fosse a guarda do sábado um mandamento moral, Pau-
lo certamente não poderia dizer nem muito menos ensi-
nar por escrito essa norma de conduta. Por exemplo: po-
deria ele dizer: “Um faz diferença entre adulterar, e não
adulterar, mas outro julga iguais esses dois procedimen-
tos. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria
69. 68
E D M A R . B A R C E L L O S
mente”? Se Paulo ensinasse isso, estaria apoiando a imo-
ralidade.
3. Lei Cerimonial
Lei cerimonial é aquela que impõe e disciplina as cerimô-
nias e rituais do culto (judaico, no caso), assim como a cir-
cuncisão, a páscoa, o pentecostes, as primícias, as luas novas
e o sábado.
Tais mandamentos tinham uma vigência temporária, pois
essa lei de caráter transitório apresentava os tipos, sombras
e figuras que se cumpririam na pessoa, nos atos e nos ensi-
nos de Jesus.
“Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros e não a imagem
real das coisas (...)” (Hb 10.1) “Tudo isto lhes sobreveio como figu-
ras, e estão escritas para aviso nosso a quem são já chegados os
fins dos séculos” (1 Co 10.11).
Os mandamentos cerimoniais tornaram-se obsoletos por-
que em Jesus se cumpriram as figuras, os tipos ou as “som-
bras” que aquelas cerimônias representavam.
O cordeiro da Páscoa era a figura do “Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo” (Jo 1.20).
As luas novas que anunciavam um novo mês, simboliza-
vam as boas novas do Evangelho (Is 60.2).
O sábado, descanso para o corpo, era sombra de Cristo, o
descanso para nossas almas:
70. 69
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
“Vinde a mim os que estais cansados e oprimidos e encontrareis
descanso para vossas almas” (Mt 11.28, 29).
NoNovoTestamentohebraico,poderíamosler:“Vindeamim
(...) e encontrareis sábado para vossas almas”, pois sábado é des-
canso no hebraico. “Portanto resta um repouso (sabbatismov =
sabbatismos) para o povo de Deus” (Hb 4.9).
Os mandamentos cerimoniais são válidos e obrigatórios
apenas para o exercício do culto judaico. Sempre estão acom-
panhados das expressões: aliança perpétua, sinal perpétuo,
mandamento perpétuo, estatuto, ou concerto perpétuo, en-
tre mim e vós, nas vossas gerações.
A Bíblia não fala que não matar, não roubar ou amar a
Deus sejam sinal perpétuo, mandamento perpétuo, estatu-
to perpétuo, ou concerto perpétuo, porque estes são man-
damentos morais e não podem servir como sinal entre Deus
e os judeus, nem entre Deus e qualquer povo, porque são
obrigatórios para todos os povos.
As conotações de sinal perpétuo, mandamento perpétuo,
estatuto perpétuo ou concerto perpétuo caracterizam apenas
os mandamentos cerimoniais, como a circuncisão, as festas
judaicas, os calções de linho para os sacerdotes, a guarda do
sábado, como veremos a seguir:
Circuncisão: “E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e
isto será por sinal da aliança entre mim e a tua descendência
depois de ti: Que todo homem entre vós será circuncidado (...) e
estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua”
(Gn 17.11-13).
71. 70
E D M A R . B A R C E L L O S
Festas judaicas: “E para oferecerem os holocaustos do Senhor,
aos sábados, nas luas novas, e nas solenidades” (1 Cr 23:31).
“Oferecereis um bode, e dois cordeiros de um ano por sacrifício pa-
cífico. Estatuto perpétuo é pelas vossas gerações” (Lv 23.19, 31).
Calçõesdelinho:“Faze-lhes,também,calçõesdelinho,paraco-
brirem a carne nua; irão dos lombos até as coxas. Isto será estatuto
perpétuo” (Êx 28.42, 43).
Aguardadosábado:“Guardarão,pois,osábadoosfilhosdeIsrael,
celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua” (Êx 31.16).
4. Lei de Deus, Lei de Moisés
A interpretação que fazem alguns de que “Lei de Deus”
ou “Lei do Senhor” se refere aos Dez Mandamentos e que
“Lei de Moisés” é a “Lei Cerimonial” também não é corre-
ta. Tanto a Lei de Deus é chamada Lei de Moisés, como a
Lei de Moisés é também chamada Lei de Deus. Leiamos
como exemplo:
“Conforme está escrito na Lei de Moisés, conforme o Senhor deu
ordem, dizendo (...)” (2 Rs 14.6).
“Este Esdras era hábil na Lei de Moisés que o Senhor Deus tinha
dado (...) porque Esdras tinha preparado o seu coração para bus-
car a Lei do Senhor (...) Esdras, escriba da Lei do Deus dos céus”
(Ed 7.6, 10, 12).
72. 71
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
“Quandosecompletaramosdiasparaapurificaçãodeles,segun-
doaLeideMoisés,levaram-noaJerusalém,conformeestáescritona
LeidoSenhor”(Lc22.23).
Jesus se referiu aos livros históricos e até aos salmos cha-
mando-os de lei: “Não tendes lido na vossa lei que, aos sába-
dos, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem
culpa?” (Mt 12.5).
Filipe dizia a Natanael: “Encontramos aquele de quem
Moisés escreveu na Lei” (Jo 1.45).
5. A Lei como uma “dispensação”
Dispensação (do latim “dispenso”, distribuir administrar, re-
partir): “Um período de tempo durante o qual Deus se relaciona
com a humanidade de uma maneira específica” (Scofield).
Geralmente os teólogos dividem esses “períodos” em sete
etapas, tais como: I. Inocência; II. Consciência; III. Governo
humano; IV. Promessa; V. Lei, Graça; VII. Reino. Alguns in-
serem a “Grande Tribulação” entre a “Dispensação da Graça”
e a “Dispensação do Reino”. Vejamos um exemplo dos dife-
rentes modos de Deus relacionar-se com a humanidade:
No Éden, Deus falava diretamente com o homem. No
tempo de Moisés, por intermédio do próprio Moisés, e de
Cristo até hoje, pela Sua Palavra e pelo Seu Espírito.
É exatamente nesse sentido “dispensacional” que Paulo
escreveu.
“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitima-
mente, sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os
73. 72
E D M A R . B A R C E L L O S
injustoseobstinados,paraosímpiosepecadores,paraosprofanose
irreligiosos,paraosparricidasematricidas,paraoshomicidas,para
os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de homens,
para os mentirosos, para os perjuros e para o que for contrário à sã
doutrina” (1 Timóteo 1.8-10 ARC).
Jesus e os apóstolos afirmam que nós, os membros do cor-
po de Cristo, não estamos sob o jugo da lei; que a lei vigorou
de Moisés até João, o Batista:
“A lei e os profetas vigoraram até João” (Lc 16.16).
“A Lei foi dada por meio de Moisés; mas a graça e a verdade nos
vieram por Jesus Cristo” (Jo 1.17).
“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a
Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio
a fé, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.24, 25).
“Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem
exata das coisas, nunca (...) pode aperfeiçoar os que a eles se che-
gam [pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou] e desta sorte é introduzi-
da uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus”; “Dizendo
Novaaliança,envelheceuaprimeira.Ora,oquefoitornadovelho,ese
envelhece, perto está de acabar”(Hb 10.1; 7.19; 8.13).
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas orde-
nanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do
meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.14); “Na sua carne desfez a
inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em orde-
nanças (...) Fazendo a paz” (Ef 2.15).
74. 73
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Tiago ensina claramente que: “Qualquer que guardar toda
a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”.
(Tg 2.10.)
Jesus falou para os fariseus acusadores da mulher adúltera:
“Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que
atire pedra contra ela” (Jo 8.7). Isto mostra que todos eles,
como nós, somos pecadores.
Pedro, embora também tivesse tendências legalistas como
as de Tiago, reconhecia a impossibilidade de cumprir-se
satisfatoriamente a lei, quando disse:
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos
discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos supor-
tar?” (At 15.10).
Paulo, ainda que tenha sido zeloso fariseu, concorda ple-
namente com Pedro, quando escreve:
“Cristonosresgatoudamaldiçãodalei,fazendo-semaldiçãopornós;
porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”;
“Todosaqueles,pois,quesãodasobrasdaleiestãodebaixodamaldição;
porqueestáescrito:Malditotodoaquelequenãopermaneceremtodasas
coisasqueestãoescritasnolivrodalei,parafazê-las”(Gl3.10,13).“Por
issonenhumacarneserájustificadadiantedelepelasobrasdalei,porque
pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
João, o discípulo do amor, adverte: “Se dissermos que não
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verda-
de em nós” (1 Jo 1.8).
Compareadiferençaentreessesdoisregimesdispensacionais:
75. 74
E D M A R . B A R C E L L O S
6. A Lei e a Graça
21
21
Síntese de um artigo do livro Leituras cristãs, miscelânea de escri-
tos evangélicos destinados à edificação do povo de Deus, v. 16, p. 45-
54. HOWES, George. Lisboa, 1915.
22
Santimônia 1. Modo ou aparência de santo. 2. Ironia sobre devo-
ções religiosas, falsa santidade.
A GRAÇA
Deus convidando e prometendo (Mt 11.28-30)
Ministério do perdão e salvação (Lc 23.41-47)
O pastor morre pela ovelha (Jo 3 16; e 10.11)
É a misericórdia de deus dando-nos o que não
merecemos (Ef 2.7-9)
Misericórdia é a graça de Deus não nos dando o
que merecemos (Lm 3.22)
Três erros a evitar:
a) O crente deve viver sem lei ou qualquer regra
(Rm 8.2; Jd 4)
b) O crente precisa guardar a lei para permane-
cer na graça (Gl 2.16; 3.21-25)
c) Ritualismo, farisaísmo e santimônia.22
(At
15.1, 10, 28, 29; Cl 2.18-23; 2Ts 2.2; Mt 23.25)
Sua regra de conduta (Ef 2.1-10; 4.1, 2, 5)
Diferença entre nascer de novo e guardar a lei:
(Ez 36.25-27; Tg 2.10)
O amor faz-nos obedecer prazerosamente (Jo
14.23; Hc 3.17-19)
A LEI
Deus proibindo exigindo e ameaçando
(Dt. 28.15-45)
Ministério condenação e da morte (2Co 3.6,7)
Ovelha morre pelo pastor (Gn 2.17; Nm
15.32,34)
Ordenada por causa das transgressões (1Tm 1.9)
Para que todo o mundo seja condenado
(Rm 3.19)
É santa, justa e boa, mas não é da fé (Rm
7.12,14; Gl 3.12)
A ninguém justifica (Rm 3.20; Gl 3.11; At
13.39; Gl 2.11, 21)
Nada aperfeiçoou (Hb 7.19)
Não vigora para o crente (Gl 3.23-25; Rm 6
14.15; 1Tm 1.8-11)
O crente está morto para a lei (Gl 2.19)
Porque a letra mata, mas o espírito vivifica
(2Co 3.6-8)
O cumprimento da lei numa palavra: que
pertence à graça – amor (Gl 5.14)
76. 75
V – AnomiaV – Anomia2323
x Legalismox Legalismo
O cristão verdadeiro, embora não esteja mais sob a “dispen-
sação da lei”, vive, todavia, sob uma lei que denota mais apuro,
mais pureza, mais primor do que a própria lei do Decálogo.
Lei da Fé, Lei de Cristo, Lei do Espírito de Vida ou
Lei da Liberdade
Lei da fé
“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras?
Não; mas pela lei da fé. – Concluímos, pois, que o homem é justifi-
cado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.27).
Lei de Cristo
“Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a Lei de
Cristo” (Gl 6:2).
“Escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em
tábuasdepedra,masnastábuasdecarnedonossocoração”(2Co3.3).
23
Anomia ou anomianismo é a “doutrina” que prega a ausência de
leis, de normas ou de regras de organização.
77. 76
E D M A R . B A R C E L L O S
Lei do Espírito de Vida
“PorqueaLeidoEspíritodeVida,emCristoJesus,melivroudaleido
pecadoedamorte”(Rm8.2).
(A Lei dos Dez Mandamentos gravada em tábuas de pedra
é chamada ministério da morte.)
“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio
em glória (...)” (2 Co 3.7).
Lei da Liberdade
“Assimfalai,eassimprocedei,comodevendoserjulgadospelaLei
da Liberdade” (Tg 2.12).
Realmente, não estamos sem lei. Alguns crentes, argumen-
tando contra o culto das imagens, dizem para os católicos:
Está escrito no 2.º mandamento:
“Nãofarásparatiimagemdeesculturanemfiguraalguma (...)”.
E para um adventista, dizem:
“Nósnãoestamosmaisdebaixodalei,masdebaixodaGraça”.
Não achamos correta essa maneira de argumentar. Então os
mandamentos só valem quando queremos reprovar os católi-
cos, mas não valem também para nós, os crentes?
Precisamos compreender e saber explicar que não guarda-
mos o sábado do sétimo dia porque este é um mandamento
cerimonial que, embora estivesse nas tábuas de pedra (que
Paulo chama de ministério da morte), jamais foi repetido,
homologado ou recomendado por Jesus ou pelos apóstolos.
78. 77
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
Porém, os mandamentos morais, todos eles, foram cumpridos,
repetidos e confirmados por Jesus e seus apóstolos. Por quê?
Porque amar a Deus e ao próximo, não matar, não mentir,
honrar pai e mãe, não cultuar imagens, não adulterar, são
deveres não só dos judeus, mas também dos brasileiros, dos
ingleses, dos espanhóis, sejam eles religiosos ou ateus, cató-
licos ou evangélicos, budistas ou maometanos, de qualquer
idade ou sexo, em qualquer lugar, em qualquer tempo.
Nota importante: Para Jesus, não pecar ainda é pouco. O
cristão deve evitar até os pensamentos pecaminosos:
“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.
Eu, porém, vos digo que, qualquer que atentar numa mulher
para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”
(Mt 5.27, 28).
Tiago compreendeu muito bem o alcance dessa declara-
ção de Jesus e deu-nos o sinistro roteiro da concupiscência
ao pecado e à morte, quando escreveu:
“Cada um é tentado pela própria cobiça. Depois, havendo a con-
cupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consu-
mado, gera a morte” (Tg 1.14, 15).
Este aprimoramento moral, espiritual e santificador (de não
ter desejo de pecar) só é possível quando realmente nos sub-
metemos à ação do Espírito Santo. Por isso é que Paulo nos
exorta:
79. 78
E D M A R . B A R C E L L O S
“Rogo-vos,pois,irmãos,pelacompaixãodeDeus,queapresenteis
os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. E não
vosconformeiscomestemundo,mastransformai-vospelarenovação
davossamente,paraqueexperimenteisqualsejaaboa,agradávele
perfeita vontade de Deus” (Rm 12.1, 2).
Se alguém cumpre a primeira condição desse versículo, go-
zará certamente do privilégio de degustar a “boa, agradável, e
perfeita vontade de Deus”.
Porém, se alguém quer viver em conformidade com o mun-
do, jamais saberá como a vontade de Deus é tão “boa,
agradável, e perfeita”.
É promessa divina:
“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um Espíri-
to novo” (...) “E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que an-
deis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos” (Ez 36.26, 27).
Essa promessa se cumpre quando nos “convertemos” ou
“nascemos de novo” (Jo 3.5-8).
Nesse momento, o Espírito Santo implanta em nós os ca-
racteres da divindade, que poderíamos chamar de “cromos-
somos de Deus”.
Esses cromossomos de Deus irão desenvolvendo-se, para
formar em nós a “imagem de Cristo”, assim como uma criança se
vai formando no ventre materno.
“Elenostemdadograndíssimasepreciosaspromessas,paraque
por elas fiqueis participantes da natureza divina” (2 Pd 1.4).
80. 79
O . S Á B A D O . J U D A I C O . E . O . D O M I N G O . C R I S T Ã O
“Mastodosnós(...)refletindocomoumespelhoaglóriadoSenhor,
somos transfigurados nessa mesma imagem cada vez mais resplan-
decentepelaaçãodoSenhor,oEspírito”(2Co3.18,BíbliadeJerusalém).
“A vereda dos justos é como a luz da aurora (...) vai brilhando
mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).
Porém nenhuma glória nos cabe!
“PorqueDeuséoqueoperaemvóstantooquerercomooefetuar,
segundo a sua boa-vontade”; “Mas, quando aprouve a Deus reve-
lar seu Filho em mim” (Fp 2.3; Gl 1.15, 16).
Quando nos convertemos, recebemos uma nova mente: “(...) a
mente de Cristo”; “Mas nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16).
Ela é que torna possível a transformação (metamorfose)
que nos foi destinada desde a eternidade: “Os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho” (Rm 8.29).
Paulo compara essa santificação progressiva a uma verda-
deira gestação espiritual: “Meus Filhinhos, por quem de novo
sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”
(Gl 4.19).
A esse regime de vida na Graça de Nosso Senhor Jesus
Cristo podemos chamar de: Lei de Cristo.