Carolina descobre que sua melhor amiga Clara está frequentando as noites de poesia na casa de Pedro e está de mãos dadas com Caio, o garoto que Carolina gosta desde a 7a série. Na noite de poesia, Carolina confronta Clara, que nega estar namorando Caio. Mais tarde, Carolina recebe um bilhete de Clara explicando que sua família teve que se mudar de cidade e que antes de ir queria que Caio ficasse com Carolina para amenizar a saudade.
1. Bilhete
E que paranóia é esta de dizer que sou adolescente. Devíamos pular está
parte e ir direto ao ponto de que eu já sou uma mulher, tenho marido e
dinheiro. Pra mim já chega, cansei de crises existenciais, de “você não poder ir
a esta festa Carolina” ou “tire esta roupa, ela não é para a sua idade”.
Cansei de ser a rebelde sem causa, o encosto aqui de casa e a
atrapalhada que não consegue lavar uma louça sem quebrar. Minha vida sou
eu, meu quarto, meu i-pad e minhas redes sociais.
Depois me chamam de ante-social, mais nem olham o meu facebook
para afirmarem com tal certeza. Tenho mais de dois mil amigos, sou a popular
do colégio e cara sou a garota mais desejada da sala, foi o que ouvi numa
conversa no banheiro masculino.
A propósito, eu sou Carolina. Detesto este nome, prefiro que me
chamem de Carol, e para a Clara, a Sofia e a Charlotte sou apenas a C. É isso
mesmo, adoramos Gossip Girl e nos comunicamos apenas pelas iniciais, coisa
de adolescente né! Ai é tão esquisito para querer ser mulher e querer ser
adolescente, TPM me deixa louca e de pernas pro ar.
Andei bisbilhotando nas coisas da C e descobri um bilhete do Caio no seu
caderno com o número do seu celular. Cara todas as minhas amigas sabem,
que desde a 7ª série que eu sou apaixonada por este garoto. Porém não fui
tirar satisfação, fiquei na minha, mas fui investigar a história a fundo. Essa
carioca me paga!
Há vários dias tenha notado que ela anda meio distante, principalmente
nos intervalos. Prefere ficar na sala lendo livros de poesias, do que fofocando
das outras garotas. Ando achando ela romântica de mais. Tudo bem que ela
sempre disse que quer ser jornalista, mais ler poesia no intervalo é de mais,
tipo, fofocar é algo sagrado para nós. Acredita que estes dias ela tomou as
dores de Bethe dizendo que sua roupa estava de acordo com a sua estatura.
Gente a Bethe sempre foi à menina mais feia do colégio, e a mais
cafona. Ela usa blusa cacharrel com jeans e uma botinha preta. É o fim. Esses
dias ela estava conversando com o Caio perto da cantina, e quando fui
perguntar o que ele queria desconversou dizendo que ele queria saber sobre o
trabalho de química. Não sei, ando achando isto tudo muito esquisito.
Charlotte me ligou hoje à tarde dizendo que Clara não vinha para a
nossa festinha do pijama. Na boa, fazemos isto desde que estávamos na 5ª
série, é um ritual sagrado do nosso clã. Ela quebrou a tradição e isso só me deu
mais certeza de que está acontecendo alguma coisa. Logo corri para o telefone
2. e liguei para S contanto a tragédia que tinha acontecido, e ela me disse que
ouviu Clara dizendo para o Pedro, amigo de Caio que ia para a noite de poesias
em sua casa.
Senti-me trocada, inutilizada. C, no trocou por poesias, nerds e toda
aquela boboseira de amor ao qual detestávamos. Era promessa nossa de nunca
nos apaixonarmos, pois, deixaríamos uma as outras. Ela quebrou a nossa
amizade, a noite do pijama e a madrugada de conversa. Não quero mais saber
de Clara e já comuniquei ao restante das meninas de que agora em diante ela
está banida e cortada as relações.
Os dias se seguiram e Clara nem manifestou sobre a nossa ausência,
estava perdidamente apaixonada pelos livros e pelas noites poéticas na casa de
Pedro, que inesperadamente ganhou a presença de Caio que nunca havia se
interessado por poesias.
- Ei Caio! Não vai me convidar para as noites de poesias na casa do
Pedro?
- Olá Carol, não sabia que você também gostava de poesias. Será muito
bem vinda, hoje as 20:00 na casa do Pedro.
Eu nunca gostei de poesia, lembro-me de ter recitado uma na 4ª série
numa apresentação de dias das mães. Logo liguei para as meninas contando a
novidade, isso era apenas um pretexto para eu pegar o lance entre Clara e
Caio.
E pela primeira vez eu não sabia o que usar. Não era uma festa, nem
uma ida a escola, porém não podia me arrumar de qualquer jeito, pois Caio
estaria lá e precisava estar linda e ter todos os olhares para mim.
-Olá Carol, entre tem Coca na mesa, já começaremos a recitação, disse
Pedro todo cordial.
Sentei acanhada numa cadeira em frente à TV, nem Caio nem Clara
tinha chegado ainda, isso era um mau presságio. Fiquei ansiosa e não soube
disfarçar, meus pés tremiam e eu olhava no relógio de cinco em cinco minutos.
A campainha tocou, certamente era um dos dois. Pedro se levantou e foi
abrir a porta quando inesperadamente veio o susto. Caio e Clara de mãos
dadas junto à porta.
Meu mundo desabou. Como ela pode ser tão falsa assim. Traiu a minha
confiança, quebrou um de nossos rituais mais importantes e ainda estava de
chamego com o garoto que eu amava desde a 7ª série.
3. Quando Clara me viu, ela ficou sem reação, tentou esconder que estava
de mãos dadas com Caio, porém era tarde de mais.
- Nossa Carolina, que surpresa em vê-la aqui, nem sabia que gostava de
poesia.
Permaneci calada. E assim fiquei durante toda a noite, em estado de
choque. Ela desviava o olhar de mim, e não se pronunciou sobre o acontecido.
Caio estava lindo como sempre, com aquela camiseta azul marinho e cabelo
todo despenteado. Meu amor por ele era platônico e Clara sabia disso.
-Carol, Carol! Fui acordada do estado de inércia por Pedro dizendo que a
noite já tinha acabado.
Olhei no relógio eram nove e meia. Levantei, peguei minha bolsa e sai
sem me despedir. Vi quando Clara se levantou e foi atrás de mim.
- C, não é o que você esta pensando, somos apenas amigos.
-Amigos? De mãos dadas, faça me rir Ana Clara.
-C, não faça isso comigo, você sabe o tanto que a sua amizade é
importante para mim.
- Importante para você? Tu ficas de namorico com o garoto que eu
sempre amei e vem falar de amizade.
- C, não complique as coisas.
- Pois bem, você terá que escolher ou sou eu ou ele Clara, você escolhe.
Sai sem ao menos olhar para trás, nunca pensei que um dia passaria por
uma situação dessas, não com a minha melhor amiga.
No outro dia quando acordei, tinha um bilhete debaixo da minha porta
com os seguintes dizeres:
“Você não me deixou explicar, estava de mudanças da cidade, minha
família teve que ir embora e antes de ir queria apenas que o Caio ficasse com
você para amenizar a saudades que iria sentir de mim, o por isso de freqüentar
as noites na casa de Pedro e toda aquela poesia. Fui embora C, e Caio vai te
procurar esta tarde para irem tomar um sorvete. Fique bem, fiz o melhor que
pude. Com ternura, Clara.”
José Luís Rezende de Villa.