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BOLSA DE FUTUROS                                                                                               ESPECIAL
PRIMEIRA LEITURA — 16



A folia discursiva do

vovô do ultraliberalismo
Milton Friedman, paradigma do pensamento ultraliberal, evidencia, perto dos 91 anos,
que parte da enorme reputação que ainda o acompanha está na coerência de sua
pregação. O economista — que jamais diria "E se mudei? E daí?" — manda um recado ao
governo Lula na entrevista exclusiva concedida à Primeira Leitura. Das críticas ao
keynesianismo à liberação total de todas as drogas, eis mais algumas boas provocações de
um liberal que gosta do Estado cada vez menor. Por Carlos Haag




  DA LIBERDADE ESSENCIAL À CONSTRUÇÃO POLÍTICA: acima à esq., o quadro Três Nus na Floresta, de Ernst Ludwig Kirschner.
      Liberdade no tema e na apreensão da realidade registrada pelo pintor expressionista. Acima, Milton Friedman (à esq.)
   acompanhado da mulher, Rose, é aplaudido pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na homenagem que lhe foi
  prestada pelo governo americano por ocasião de seus 90 anos. Concorde-se ou não com o seu pensamento, a idade lhe trouxe
                                                      ainda mais clareza



Sim, ele é um radical: "O FMI deveria ser abolido. Veja esse empréstimo imenso feito ao Brasil no ano
passado, um absurdo. Acho que o seu país precisa solucionar sozinho os seus problemas. O Brasil não será
beneficiado por uma ajuda que permitirá ao país apenas adiar a solução de suas mazelas econômicas.
Financiar gastos internos com moedas estrangeiras é uma péssima política para vocês. Isso ocorreu na
Argentina e foi a receita do desastre", assegura o economista e Nobel (1976) Milton Friedman à Primeira
Leitura, em entrevista concedida no mês passado.

Autonomia de bancos centrais? "Por mim, nem existiria esse monstro chamado banco central. Há anos sou
favorável a que se substitua o banco central, em qualquer nação, por um computador. Ele imprimiria um
número específico de cédulas de dinheiro. O mesmo montante, ano a ano, mantendo a quantidade monetária
crescendo lenta e sempre constantemente." De arrancar lágrimas da senadora Heloísa Helena, não? Ainda
que por motivos certamente diferentes.

Mais: "A inflação é sempre e em toda parte culpa dos BCs". O nonagenário também não comporia com
Antonio Palocci, mesmo neste momento em que o PT adere ao "realismo". Não soaria bem aos seus ouvidos a
declaração taxativa do ministro da Fazenda em entrevista à Primeira Leitura de abril: "Para evitar um
constrangimento maior na economia, nos parece mais adequado praticar uma política fiscal muito severa,
pois isso nos permite fazer uma política monetária menos restritiva". O velhinho puxaria as orelhas do médico
pela escolha do remédio.

INFLAÇÃO E KEYNESIANISMO




    REFERÊNCIAS DO NÃO E DO SIM: acima à esquerda, desenho reproduz John Maynard Keynes, o grande antípoda teórico do
  pensamento essencial de Milton Friedman. Na contestação a Keynes, o economista ultraliberal leu em novas bases até mesmo o
  crash de 1929 da Bolsa de Valores (foto do dia da quebradeira abaixo). Também acima, a imagem de Thomas Jefferson, um dos
   presidentes admirados por Friedman. Uma das frases de Jefferson tornou-se divisa do pensamento conservador americano: "O
                                           governo é melhor quando governa o mínimo"

"Nos anos 50, acredite você, a ortodoxia keynesiana dava pouca atenção à questão monetária, à quantidade
de dinheiro. Para eles, era a política fiscal que importava. Há 40 anos, em Capitalismo e Liberdade, eu já
argumentava que a ênfase, antes essencialmente fiscal dos governos, deveria se tornar essencialmente
monetária. Muitos afirmam que, por causa disso, eu fui o economista vencedor do século 20. Recuso-me a
comentar isso, mas não posso negar que o mercado ganhou importância e, agora, é visto como o termômetro
adequado para a economia", afirma. "Não digo: eu acertei. Foram os fatos que geraram as mudanças, e
essas mudanças ocorreram na direção apontada por mim."

Nascido em 1912 — faz 91 anos no mês que vem —, em Nova York, Friedman foi, até se aposentar, em
1977, a alma do chamado grupo da Universidade de Chicago, que reunia defensores ferrenhos do liberalismo
econômico, todos polêmicos pela sua adoração quase incondicional do capitalismo e dos mercados. Seu
trabalho inicial, de 1957, A Theory of the Consumption Function, foi o primeiro ataque feito a Keynes: nele, o
economista prega que as pessoas e as empresas não mudam o seu consumo em função da renda, mas que o
consumo anual é função dos ganhos esperados ao longo de suas vidas.

Em Capitalismo e Liberdade, ele levou a economia para o cotidiano, narrando suas idéias, as mais diversas,
que tratavam tanto da criação de um exército só de voluntários para as nações quanto das taxas flutuantes
de câmbio e vouchers para educação formal. Em Studies in the Quantity Theory of Money, avisava que, no
curto prazo, a expansão da oferta monetária gerava empregos e aumentava a renda; no longo prazo, no
entanto, tal expansão levava ao aumento dos preços (inflação), que corroía a renda. Logo, diminuições na
oferta de dinheiro teriam efeito contrário. Ou seja, desagradáveis no curto prazo, mas positivas no longo.

Na contramão das tendências dos anos 60, que idolatravam o ideário keynesiano, Friedman atacou o
medalhão com a contundência que seus colegas de "monetarismo" (a visão de que a estabilidade no
crescimento da oferta de dinheiro é crucial como instrumento econômico de controle da inflação e da
recessão), Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, não tiveram e apanhou muito por isso. "Se agora minhas
idéias são um senso comum, quando elas foram publicadas, destoavam tanto da corrente geral que nenhum
grande jornal ou revista da época — The New York Times, Chicago Tribune, Time ou Newsweek — ousou
publicar uma resenha de Capitalismo e Liberdade", lembra. Aliás, em 1965, quem estava na capa da Time, 20
anos depois da sua morte, era John Maynard Keynes.

CAPITALISMO E CRISE



                                                       Economistas ou pré-economistas como Adam Smith,
                                                       David Ricardo e John Stuart Mill (sem mencionar o
                                                       grande ídolo de Friedman, o presidente americano
                                                       Thomas Jefferson, para quem, "o governo é melhor
                                                       quando governa o mínimo"), em geral, viam o Estado
                                                       como um mero provedor de paz e de meios para o
                                                       mercado funcionar. Veio, entretanto, a Grande
                                                       Depressão, e o mercado livre se transformou num
                                                       vilão que deveria ser controlado pelo governo para
                                                       evitar novas tragédias.

                                                       "Isso é uma velha mania que, volta e meia, torna a
                                                       rondar a sociedade. Os governos incentivam o
                                                       preconceito contra as empresas, corroborando,
                                                       implicitamente, a idéia de que os executivos são uma
                                                       classe constituída por criminosos", observa o
                                                       economista. "Temos uma sociedade dinâmica, em que
                                                       as pessoas são incentivadas a correr esses riscos,
mas os governos parecem desejosos de desencorajar cada vez mais os interessados em entrar nesse jogo
arriscado. Todos os CEOs estão sob suspeita, e isso é péssimo", avalia. "Isso desestimula os
empreendedores."

Defensor polêmico da liberdade em todos os campos, o vetusto economista é, por exemplo, a favor da
liberação de todo e qualquer tipo de droga, alegando que a proibição apenas dá lucro aos traficantes e vai de
encontro às liberdades individuais. Friedman é especialmente amigo dos mercados, sempre tentando fazer
com que a opinião pública se torne favorável a soluções laissez-faire para problemas econômicos. Daí suas
desavenças com as idéias keynesianas, que preconizam que os governos podem aliviar os ciclos econômicos
aumentando o déficit do Estado, para estimular demanda nos momentos de baixa, e aumentando as taxas de
juros para reduzir demanda, quando a inflação põe a cabeça para fora da caverna. O debate soa familiar,
não?

Friedman combateu essa visão de um "governo
benevolente que age em nome e para o bem da                      "O sistema funciona com
sociedade" com instrumental matemático e estatístico.           lucros e prejuízos, e esses
Segundo ele, os consumidores não mudavam seus
hábitos de consumo instantaneamente em função de
                                                              últimos são tão importantes
variações na sua renda disponível. Chegou a contestar           quanto os primeiros. Para
uma visão, sagrada para a história econômica, das reais      que tenhamos uma sociedade
razões da Grande Depressão, lida então como uma falha
do capitalismo. Em Uma História Monetária dos Estados
                                                                    dinâmica, as pessoas
Unidos, escrito com Anna Schwartz, afirmou que a culpa             têm de assumir riscos"
do massacre econômico era do Federal Reserve System
(que ainda não tinha um board central, como hoje), que teria sido responsável pela queda de um terço da
quantidade de dinheiro em circulação entre 1929 e 1933, o que teria causado o desemprego intenso, a queda
dos preços e o crescimento econômico negativo.

Assim, segundo Friedman, estava — e, ainda segundo ele, está — na hora de retornar ao mercado livre. E
quando as empresas falham? "Casos como a Enron e outras fraudes são as exceções que confirmam a minha
regra. O que mudou foi a retórica, não os fatos. Empresas fraudulentas sempre existiram e, em geral, são
desmascaradas pelo próprio mercado", diz. "Os exemplos mais recentes, como Enron ou Worldcom, tiveram
suas mazelas expostas pelo mercado, não pelo governo. Houve grande queda nos valores de mercado de
suas ações, e essa foi punição dada pelo mercado aos maus empresários", acredita.
"O sistema funciona com lucros e prejuízos, e esses
                                                        últimos são tão importantes quanto os primeiros. Para
                                                        que tenhamos uma sociedade dinâmica, as pessoas
                                                        têm de assumir riscos. Alguns rendem frutos, outros
                                                        não. O fato de que certas empresas entrem em falência
                                                        e outras prosperem mostra como o sistema está
                                                        saudável e funciona", avalia Friedman.

                                                    Ele, entretanto, não é um crente ingênuo no capital,
                                                    como o tacham seus detratores. "Acredito, apesar do
                                                    meu otimismo, que exista um impulso suicida na
                                                    comunidade de negócios. Há uma crença burra de que
                                                    quem está a favor do mercado livre está a favor de
                                                    tudo o que os agentes desse mercado fazem. Não
                                                    defendo isso. Há, por exemplo, organizações
                                                    individuais e homens de negócio que, em suas ações,
                                                    acabam minando o mercado livre", diz. "Todo mundo
                                                    se acha especialista em economia, e essa é uma área
em que se erra muito. O que mais me impressiona nela é que, na maioria das vezes, o que é verdade em
casos individuais não é verdade para a comunidade do mundo dos negócios."


CAPITALISMO E CRISE


Entre as suas bandeiras está, por exemplo, o sistema
de voucher de pagamentos escolares para pais, a fim
de que eles possam pagar para escolher se preferem
seus filhos em escolas particulares ou do governo.
"Daí minha crítica às empresas que, quando querem
agradar à comunidade, investem em escolas do
Estado apenas. Isso restringe a liberdade de escolha.
O governo não pode dizer em que escola meus filhos
vão estudar e não pode me dizer o que posso ou não
colocar na boca, assim como não me diz que idéias
posso ter na minha mente."

Liberdade também para as drogas. "Todas deveriam
ser legalizadas. As pessoas têm de ser
responsabilizadas pelo seu mau uso, assim como
fazemos com o álcool. Ninguém é preso porque
bebeu, mas quando causa um acidente por estar
bêbado, certo? Toda luta contra as drogas só produziu
corrupção e violação de direitos. E não impediu
ninguém de usá-las. Se elas fossem legalizadas,           A ERVA: imagem estilizada da maconha, símbolo da liberação
acredite, não haveria mais cartel na Colômbia e                                   das drogas
haveria menos males na vida das pessoas. Elas iriam
às farmácias comprá-las. Essa diferença entre drogas
legais e ilegais é totalmente arbitrária", acredita.


RECADOS AO BRASIL


Um visionário? Friedman, em 1962, já antevia os problemas das previdências sociais de vários países,
afirmando que a compra de um plano de aposentadoria, seja de seguradores privados ou públicos, deveria
ser um ato voluntário, não uma aquisição compulsória de um plano do sistema previdenciário social dos
governos. Problemas mais do que atuais. "Daí, meu conselho ao governo brasileiro: gastos reduzidos,
proteção garantida à propriedade privada e menor intervenção possível no mercado, permitindo que ele
funcione e possibilitando que as pessoas se dediquem à atividade de sua preferência."
Sobre a inflação, a recomendação do mestre de Chicago: "Ninguém discordará de mim quando digo que toda
inflação é acompanhada por um aumento rápido na quantidade de dinheiro e que toda deflação reflete uma
queda monetária abrupta. É sempre uma doença monetária. Não se enganem sobre isso." Palocci, parece,
aprendeu direitinho.

                                                                                      FECHAR JANELA

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Friedman e as drogas PDF

  • 1. BOLSA DE FUTUROS ESPECIAL PRIMEIRA LEITURA — 16 A folia discursiva do vovô do ultraliberalismo Milton Friedman, paradigma do pensamento ultraliberal, evidencia, perto dos 91 anos, que parte da enorme reputação que ainda o acompanha está na coerência de sua pregação. O economista — que jamais diria "E se mudei? E daí?" — manda um recado ao governo Lula na entrevista exclusiva concedida à Primeira Leitura. Das críticas ao keynesianismo à liberação total de todas as drogas, eis mais algumas boas provocações de um liberal que gosta do Estado cada vez menor. Por Carlos Haag DA LIBERDADE ESSENCIAL À CONSTRUÇÃO POLÍTICA: acima à esq., o quadro Três Nus na Floresta, de Ernst Ludwig Kirschner. Liberdade no tema e na apreensão da realidade registrada pelo pintor expressionista. Acima, Milton Friedman (à esq.) acompanhado da mulher, Rose, é aplaudido pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, na homenagem que lhe foi prestada pelo governo americano por ocasião de seus 90 anos. Concorde-se ou não com o seu pensamento, a idade lhe trouxe ainda mais clareza Sim, ele é um radical: "O FMI deveria ser abolido. Veja esse empréstimo imenso feito ao Brasil no ano passado, um absurdo. Acho que o seu país precisa solucionar sozinho os seus problemas. O Brasil não será beneficiado por uma ajuda que permitirá ao país apenas adiar a solução de suas mazelas econômicas. Financiar gastos internos com moedas estrangeiras é uma péssima política para vocês. Isso ocorreu na Argentina e foi a receita do desastre", assegura o economista e Nobel (1976) Milton Friedman à Primeira Leitura, em entrevista concedida no mês passado. Autonomia de bancos centrais? "Por mim, nem existiria esse monstro chamado banco central. Há anos sou favorável a que se substitua o banco central, em qualquer nação, por um computador. Ele imprimiria um número específico de cédulas de dinheiro. O mesmo montante, ano a ano, mantendo a quantidade monetária crescendo lenta e sempre constantemente." De arrancar lágrimas da senadora Heloísa Helena, não? Ainda que por motivos certamente diferentes. Mais: "A inflação é sempre e em toda parte culpa dos BCs". O nonagenário também não comporia com Antonio Palocci, mesmo neste momento em que o PT adere ao "realismo". Não soaria bem aos seus ouvidos a declaração taxativa do ministro da Fazenda em entrevista à Primeira Leitura de abril: "Para evitar um constrangimento maior na economia, nos parece mais adequado praticar uma política fiscal muito severa,
  • 2. pois isso nos permite fazer uma política monetária menos restritiva". O velhinho puxaria as orelhas do médico pela escolha do remédio. INFLAÇÃO E KEYNESIANISMO REFERÊNCIAS DO NÃO E DO SIM: acima à esquerda, desenho reproduz John Maynard Keynes, o grande antípoda teórico do pensamento essencial de Milton Friedman. Na contestação a Keynes, o economista ultraliberal leu em novas bases até mesmo o crash de 1929 da Bolsa de Valores (foto do dia da quebradeira abaixo). Também acima, a imagem de Thomas Jefferson, um dos presidentes admirados por Friedman. Uma das frases de Jefferson tornou-se divisa do pensamento conservador americano: "O governo é melhor quando governa o mínimo" "Nos anos 50, acredite você, a ortodoxia keynesiana dava pouca atenção à questão monetária, à quantidade de dinheiro. Para eles, era a política fiscal que importava. Há 40 anos, em Capitalismo e Liberdade, eu já argumentava que a ênfase, antes essencialmente fiscal dos governos, deveria se tornar essencialmente monetária. Muitos afirmam que, por causa disso, eu fui o economista vencedor do século 20. Recuso-me a comentar isso, mas não posso negar que o mercado ganhou importância e, agora, é visto como o termômetro adequado para a economia", afirma. "Não digo: eu acertei. Foram os fatos que geraram as mudanças, e essas mudanças ocorreram na direção apontada por mim." Nascido em 1912 — faz 91 anos no mês que vem —, em Nova York, Friedman foi, até se aposentar, em 1977, a alma do chamado grupo da Universidade de Chicago, que reunia defensores ferrenhos do liberalismo econômico, todos polêmicos pela sua adoração quase incondicional do capitalismo e dos mercados. Seu trabalho inicial, de 1957, A Theory of the Consumption Function, foi o primeiro ataque feito a Keynes: nele, o economista prega que as pessoas e as empresas não mudam o seu consumo em função da renda, mas que o consumo anual é função dos ganhos esperados ao longo de suas vidas. Em Capitalismo e Liberdade, ele levou a economia para o cotidiano, narrando suas idéias, as mais diversas, que tratavam tanto da criação de um exército só de voluntários para as nações quanto das taxas flutuantes de câmbio e vouchers para educação formal. Em Studies in the Quantity Theory of Money, avisava que, no curto prazo, a expansão da oferta monetária gerava empregos e aumentava a renda; no longo prazo, no entanto, tal expansão levava ao aumento dos preços (inflação), que corroía a renda. Logo, diminuições na oferta de dinheiro teriam efeito contrário. Ou seja, desagradáveis no curto prazo, mas positivas no longo. Na contramão das tendências dos anos 60, que idolatravam o ideário keynesiano, Friedman atacou o medalhão com a contundência que seus colegas de "monetarismo" (a visão de que a estabilidade no crescimento da oferta de dinheiro é crucial como instrumento econômico de controle da inflação e da recessão), Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, não tiveram e apanhou muito por isso. "Se agora minhas idéias são um senso comum, quando elas foram publicadas, destoavam tanto da corrente geral que nenhum grande jornal ou revista da época — The New York Times, Chicago Tribune, Time ou Newsweek — ousou
  • 3. publicar uma resenha de Capitalismo e Liberdade", lembra. Aliás, em 1965, quem estava na capa da Time, 20 anos depois da sua morte, era John Maynard Keynes. CAPITALISMO E CRISE Economistas ou pré-economistas como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill (sem mencionar o grande ídolo de Friedman, o presidente americano Thomas Jefferson, para quem, "o governo é melhor quando governa o mínimo"), em geral, viam o Estado como um mero provedor de paz e de meios para o mercado funcionar. Veio, entretanto, a Grande Depressão, e o mercado livre se transformou num vilão que deveria ser controlado pelo governo para evitar novas tragédias. "Isso é uma velha mania que, volta e meia, torna a rondar a sociedade. Os governos incentivam o preconceito contra as empresas, corroborando, implicitamente, a idéia de que os executivos são uma classe constituída por criminosos", observa o economista. "Temos uma sociedade dinâmica, em que as pessoas são incentivadas a correr esses riscos, mas os governos parecem desejosos de desencorajar cada vez mais os interessados em entrar nesse jogo arriscado. Todos os CEOs estão sob suspeita, e isso é péssimo", avalia. "Isso desestimula os empreendedores." Defensor polêmico da liberdade em todos os campos, o vetusto economista é, por exemplo, a favor da liberação de todo e qualquer tipo de droga, alegando que a proibição apenas dá lucro aos traficantes e vai de encontro às liberdades individuais. Friedman é especialmente amigo dos mercados, sempre tentando fazer com que a opinião pública se torne favorável a soluções laissez-faire para problemas econômicos. Daí suas desavenças com as idéias keynesianas, que preconizam que os governos podem aliviar os ciclos econômicos aumentando o déficit do Estado, para estimular demanda nos momentos de baixa, e aumentando as taxas de juros para reduzir demanda, quando a inflação põe a cabeça para fora da caverna. O debate soa familiar, não? Friedman combateu essa visão de um "governo benevolente que age em nome e para o bem da "O sistema funciona com sociedade" com instrumental matemático e estatístico. lucros e prejuízos, e esses Segundo ele, os consumidores não mudavam seus hábitos de consumo instantaneamente em função de últimos são tão importantes variações na sua renda disponível. Chegou a contestar quanto os primeiros. Para uma visão, sagrada para a história econômica, das reais que tenhamos uma sociedade razões da Grande Depressão, lida então como uma falha do capitalismo. Em Uma História Monetária dos Estados dinâmica, as pessoas Unidos, escrito com Anna Schwartz, afirmou que a culpa têm de assumir riscos" do massacre econômico era do Federal Reserve System (que ainda não tinha um board central, como hoje), que teria sido responsável pela queda de um terço da quantidade de dinheiro em circulação entre 1929 e 1933, o que teria causado o desemprego intenso, a queda dos preços e o crescimento econômico negativo. Assim, segundo Friedman, estava — e, ainda segundo ele, está — na hora de retornar ao mercado livre. E quando as empresas falham? "Casos como a Enron e outras fraudes são as exceções que confirmam a minha regra. O que mudou foi a retórica, não os fatos. Empresas fraudulentas sempre existiram e, em geral, são desmascaradas pelo próprio mercado", diz. "Os exemplos mais recentes, como Enron ou Worldcom, tiveram suas mazelas expostas pelo mercado, não pelo governo. Houve grande queda nos valores de mercado de suas ações, e essa foi punição dada pelo mercado aos maus empresários", acredita.
  • 4. "O sistema funciona com lucros e prejuízos, e esses últimos são tão importantes quanto os primeiros. Para que tenhamos uma sociedade dinâmica, as pessoas têm de assumir riscos. Alguns rendem frutos, outros não. O fato de que certas empresas entrem em falência e outras prosperem mostra como o sistema está saudável e funciona", avalia Friedman. Ele, entretanto, não é um crente ingênuo no capital, como o tacham seus detratores. "Acredito, apesar do meu otimismo, que exista um impulso suicida na comunidade de negócios. Há uma crença burra de que quem está a favor do mercado livre está a favor de tudo o que os agentes desse mercado fazem. Não defendo isso. Há, por exemplo, organizações individuais e homens de negócio que, em suas ações, acabam minando o mercado livre", diz. "Todo mundo se acha especialista em economia, e essa é uma área em que se erra muito. O que mais me impressiona nela é que, na maioria das vezes, o que é verdade em casos individuais não é verdade para a comunidade do mundo dos negócios." CAPITALISMO E CRISE Entre as suas bandeiras está, por exemplo, o sistema de voucher de pagamentos escolares para pais, a fim de que eles possam pagar para escolher se preferem seus filhos em escolas particulares ou do governo. "Daí minha crítica às empresas que, quando querem agradar à comunidade, investem em escolas do Estado apenas. Isso restringe a liberdade de escolha. O governo não pode dizer em que escola meus filhos vão estudar e não pode me dizer o que posso ou não colocar na boca, assim como não me diz que idéias posso ter na minha mente." Liberdade também para as drogas. "Todas deveriam ser legalizadas. As pessoas têm de ser responsabilizadas pelo seu mau uso, assim como fazemos com o álcool. Ninguém é preso porque bebeu, mas quando causa um acidente por estar bêbado, certo? Toda luta contra as drogas só produziu corrupção e violação de direitos. E não impediu ninguém de usá-las. Se elas fossem legalizadas, A ERVA: imagem estilizada da maconha, símbolo da liberação acredite, não haveria mais cartel na Colômbia e das drogas haveria menos males na vida das pessoas. Elas iriam às farmácias comprá-las. Essa diferença entre drogas legais e ilegais é totalmente arbitrária", acredita. RECADOS AO BRASIL Um visionário? Friedman, em 1962, já antevia os problemas das previdências sociais de vários países, afirmando que a compra de um plano de aposentadoria, seja de seguradores privados ou públicos, deveria ser um ato voluntário, não uma aquisição compulsória de um plano do sistema previdenciário social dos governos. Problemas mais do que atuais. "Daí, meu conselho ao governo brasileiro: gastos reduzidos, proteção garantida à propriedade privada e menor intervenção possível no mercado, permitindo que ele funcione e possibilitando que as pessoas se dediquem à atividade de sua preferência."
  • 5. Sobre a inflação, a recomendação do mestre de Chicago: "Ninguém discordará de mim quando digo que toda inflação é acompanhada por um aumento rápido na quantidade de dinheiro e que toda deflação reflete uma queda monetária abrupta. É sempre uma doença monetária. Não se enganem sobre isso." Palocci, parece, aprendeu direitinho. FECHAR JANELA