1. A SOCIOLOGIA DE ÉMILE DURKHEIM1
Durkheim (1858-1917) é um dos fundadores da sociologia. Émile Durkheim
(1858-1917) integra o grupo de cientistas sociais considerados fundadores da
sociologia. Em 1893 ele publicou sua tese de doutoramento, intitulada De la
Division du Travail Social, estudo em que aborda a interação social entre os
indivíduos que integram uma coletividade maior: a sociedade.
Fatos sociais
Em 1895, Durkheim publica o estudo denominado "As Regras do Método
Sociológico", em que define o objeto por excelência da sociologia: os fatos
sociais. Fato social é tudo o que é coletivo, exterior ao indivíduo e coercitivo.
Durkheim demonstra que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e
faz cada indivíduo em particular. Ele atribui três características que caracterizam os fatos sociais:
• Primeira: coercitividade, que pode ser entendido como a força que exercem sobre os
indivíduos obrigando-os através do constrangimento a se conformarem com as regras,
normas e valores sociais vigentes;
• Segunda: exterioridade, que pode ser entendida como a existência de um fenômeno social
que atua sobre os indivíduos, mas independe das vontades individuais;
• Terceira: generalidade, que pode ser entendida como a manifestação de um fenômeno que
permeia toda a sociedade.
O suicídio2, por exemplo, a primeira vista pode ser encarado como um fenômeno individual, mas a
constatação da sua regularidade ao longo do tempo (de acordo com os dados estatísticos) fez com
que Durkheim o concebesse como um fenômeno social, mas propriamente um fato social, que é
explicado pelo autor como uma crise moral da sociedade.
A divisão do trabalho social
Trata-se de um tema central no pensamento sociológico de Durkheim, cujo principal interesse é
desvelar os fatores que possibilitam a coesão (unidade, estabilidade) e a permanência (ou
continuidade) das relações sociais ao longo do tempo e de gerações. Dentro da perspectiva
sociológica durkheimiana, a existência de uma sociedade só é possível a partir de um determinado
grau de consenso entre seus membros constituintes: os indivíduos. Segundo Durkheim, esse
consenso se assenta em diferentes tipos de solidariedade social.
Solidariedade mecânica
Em De la Division du Travail Social, Durkheim esclarece que a existência de uma sociedade, bem
como a própria coesão social, está baseada num grau de consenso entre os indivíduos e que ele
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http://educacao.uol.com.br/sociologia/durkheim1.jhtm (acesso em 26/04/2009)
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Nesse livro, Durkheim, analisa a influência das religiões sobre o suicido. Graças ao exame de dados estatísticos que se referem principalmente à
taxa de suicídio de diferentes populações européias de religião protestante ou católica, chega à conclusão de que, quanto mais fraca é a coesão
religiosa, mais forte é a tendência para o suicídio. De fato, uma religião fortemente integrada como o catolicismo, cujos fiéis partilham numerosas
práticas e crenças comuns, protege-os mais do suicídio do que uma religião fracamente integrada como o protestantismo, que dá grande
importância ao livre exame.
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2. designa de solidariedade. De acordo com o autor, há dois tipos de solidariedade: a mecânica e a
orgânica.
A solidariedade mecânica prevalece naquelas sociedades ditas "primitivas" ou "arcaicas", ou seja,
em agrupamentos humanos de tipo tribal formado por clãs. Nestas sociedades, os indivíduos que a
integram compartilham das mesmas noções e valores sociais tanto no que se refere às crenças
religiosas como em relação aos interesses materiais necessários a subsistência do grupo, essa
correspondência de valores assegura a coesão social.
Solidariedade orgânica
De modo distinto, existe a solidariedade orgânica que é a do tipo que predomina nas sociedades
ditas "modernas" ou "complexas" do ponto de vista da maior diferenciação individual e social (o
conceito deve ser aplicado às sociedades capitalistas). Além de não compartilharem dos mesmos
valores e crenças sociais, os interesses individuais são bastante distintos e a consciência de cada
indivíduo é mais acentuada.
A divisão econômica do trabalho social é mais desenvolvida e complexa e se expressa nas
diferentes profissões e variedade das atividades industriais. Durkheim emprega alguns conceitos das
ciências naturais, em particular da biologia (muito em uso na época em que ele começou seus
estudos sociológicos) com objetivo de fazer uma comparação entre a diferenciação crescente sobre
a qual se assenta a solidariedade orgânica.
Durkheim concebe as sociedades complexas como grandes organismos vivos, onde os órgãos são
diferentes entre si (que neste caso corresponde à divisão do trabalho), mas todos dependem um do
outro para o bom funcionamento do ser vivo. A crescente divisão social do trabalho faz aumentar
também o grau de interdependência entre os indivíduos.
Para garantir a coesão social, portanto, onde predomina a solidariedade orgânica, a coesão social
não está assentada em crenças e valores sociais, religiosos, na tradição ou nos costumes
compartilhados, mas nos códigos e regras de conduta que estabelecem direitos e deveres e se
expressam em normas jurídicas: isto é, o direito.
A consciência coletiva e fatos sociais
Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a existência de uma sociedade e a coesão social que
assegura sua continuidade só se torna possível quando os indivíduos se adaptam ao processo de
socialização, ou seja, quando são capazes de assimilar valores, hábitos e costumes que definem a
maneira de ser e de agir característicos do grupo social a qual pertencem.
A consciência coletiva constitui o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos
membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria". A
consciência coletiva é capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem de acordo
com as regras de conduta prevalecentes.
A consciência coletiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de
nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste
pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem
ser explicados a partir da coletividade e não o contrário.
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