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Introdução
Se os computadores revolucionaram a segunda metade do século XX, a robótica promete alterar a
maneira como viveremos no século 21. Robôs modificaram o modo de fabricar carros e outros bens de
consumo ao otimizar e acelerar a linha de montagem. Possuímos até cortadores de grama e animais de
estimação robóticos. E os robôs possibilitaram que conhecêssemos locais que os humanos ainda não
são capazes de visitar sozinhos, como outros planetas e as profundezas do oceano.
Nas próximas décadas, veremos robôs com inteligência artificial capazes de se assemelhar à dos
homens que os criaram. Virtualmente, eles podem até se tornar conscientes de si mesmos e do mundo,
como também de fazer as mesmas coisas que os humanos.Quando falamos sobre o futuro falamos
sobre robôs fazendo as tarefas humanas, mas o futuro da cirurgia robótica já chegou. Estamos
realmente prontos para que máquinas substituam os médicos na sala de operação?
Neste artigo, você aprenderá sobre robôs cirúrgicos que foram ou podem ser aprovados para o uso
nas salas de cirurgia. Também conheceremos as vantagens e benefícios que a cirurgia robótica terá
sobre os métodos cirúrgicos convencionais.

 Robôs cirúrgicos

A primeira geração de robôs cirúrgicos já está sendo instalada em diversas salas de cirurgia ao redor do
mundo. Eles não são verdadeiros robôs autônomos, que realizam
cirurgias sozinhos, mas fornecem ajuda mecânica aos cirurgiões.
Essas máquinas ainda requerem um médico para manuseá-las e
fornecer instruções. O controle remoto e a ativação por voz são os
métodos pelos quais esses robôs cirúrgicos são controlados.
A robótica está sendo introduzida na medicina porque permite
maior controle e precisão dos instrumentos cirúrgicos, com
procedimentos minimamente invasivos. Até agora, essas máquinas
foram usadas para posicionar um endoscópio, efetuar cirurgias da
vesícula biliar e corrigir refluxo gastroesofágico e azia. A meta
principal do campo da cirurgia robótica é projetar um robô que
possa ser usado para efetuar cirurgias de coração sem abertura da Tipos de instrumentos usados
caixa torácica. De acordo com um fabricante, dispositivos robóticos pelo Sistema Cirúrgico da
poderiam ser usados em mais de 3,5 milhões de procedimentos                    Vinci
médicos por ano somente nos Estados Unidos. Eis três robôs
cirúrgicos que foram desenvolvidos recentemente:
  •    Sistema Cirúrgico da Vinci
  •    Sistema Cirúrgico Robótico ZEUS
  •    Sistema Robótico AESOP
Em julho de 2000, a Food and Drug Administration (FDA), órgão federal americano que estabelece
normas para a indústria alimentícia e de remédios aprovou o Sistema Cirúrgico da Vinci, tornando-o o
primeiro sistema robótico com uso permitido em salas de cirurgia nos Estados Unidos. Desenvolvido
pela Intuitive Surgical (em inglês) a um custo de US$ 1 milhão, o sistema da Vinci usa uma tecnologia
que permite ao cirurgião chegar mais perto do alvo do que a visão humana permitiria, trabalhando em
uma escala menor do que a cirurgia convencional permite. O sistema da Vinci consiste de dois
componentes principais:
   • um console de visualização e controle
   • uma unidade de braço cirúrgico
Usando o da Vinci para uma cirurgia de vesícula biliar, 3 incisões (de diâmetro inferior ao de um lápis)
são feitas no abdômen do paciente e permitem a inserção de 3 hastes de aço inoxidável. As hastes são
mantidas no local por três braços robóticos. Uma das hastes é equipada com uma câmera, ao passo
que as outras duas são equipadas com instrumentos cirúrgicos capazes de dissecar e suturar o tecido
da vesícula biliar. Ao contrário da cirurgia convencional, esses instrumentos não são tocados
diretamente pelas mãos do médico.
Foto cedida pela Intuitive Surgical
                  A visão do cirurgião ao utilizar o Sistema Cirúrgico da Vinci

Há poucos metros da mesa de operação, no console de controle, o cirurgião olha no visor para
examinar as imagens em 3D enviadas pela câmera no interior do paciente. As imagens mostram o local
da cirurgia e os dois instrumentos cirúrgicos instalados nas extremidades de duas das hastes. Controles
similares a joysticks localizados logo abaixo da tela são usados pelo cirurgião para manipular os
instrumentos cirúrgicos. Cada vez que um dos joysticks é movido, um computador envia um sinal
eletrônico para um dos instrumentos, que é movimentado em sincronia com os movimentos das mãos
do cirurgião.
Outro sistema robótico que está prestes a ser aprovado pela FDA é o Sistema ZEUS, fabricado pela
Computer Motion (a um custo de US$ 750 mil), que já está disponível na Europa. Entretanto, ambos os
sistemas, da Vinci e ZEUS, precisam receber aprovação governamental para cada procedimento em
que serão utilizados. O ZEUS possui uma configuração similar à do sistema da Vinci: possui uma
estação de trabalho computadorizada, uma tela de vídeo e controles manuais usados para mover os
instrumentos cirúrgicos instalados na mesa. Enquanto o sistema ZEUS ainda não foi liberado para uso
nos Estados Unidos não ser para testes clínicos, os médicos alemães já usam o sistema para realizar
cirurgias de ponte de safena.
O sistema ZEUS utiliza a assistência do Sistema Robótico AESOP (sigla em inglês para Sistema
Endoscópico Automatizado para Posicionamento Ideal). Lançado pela Computer Motion em 1994, o
AESOP foi o primeiro robô a ser liberado pela FDA para assistência de cirurgias em salas de operação.
O AESOP é mais simples do que os sistemas da Vinci e ZEUS. Trata-se de um braço mecânico usado
pelo médico para posicionar o endoscópio (câmera cirúrgica inserida no paciente). Pedais ou um
software ativado por voz permitem que o médico posicione a câmera, deixando suas mãos livres para
prosseguir com a operação.

 Vantagens da cirurgia robótica
Nas salas de cirurgia atuais, é possível encontrar dois ou três cirurgiões, um anestesista e muitos
enfermeiros, até mesmo na mais simples das cirurgias. A maioria das cirurgias requer aproximadamente
uma dúzia de pessoas na sala. Com toda a automação, os robôs cirúrgicos possivelmente eliminarão a
necessidade de algumas dessas pessoas. No futuro, talvez a cirurgia requeira somente um cirurgião,
um anestesista e um ou dois enfermeiros. Nessa sala de cirurgia, o médico sentará em um console de
computador, dentro ou fora da sala de cirurgia, usando o robô cirúrgico para efetuar aquilo que
antigamente exigia uma equipe bem maior.
O uso de um console de computador para efetuar operações a distância, abre a perspectiva da
telecirurgia, em que um médico efetuaria uma cirurgia delicada a quilômetros de distância do paciente.
Se o médico não precisar ficar de pé ao lado do paciente e puder controlar remotamente os braços
robóticos em uma estação computadorizada a alguns metros do paciente, a próxima etapa seria realizar
a cirurgia a partir de locais muito mais afastados. Se fosse possível usar o console de computador para
mover os braços robóticos em tempo real, um médico situado na Califórnia poderia operar um paciente
em Nova Iorque. Um grande obstáculo para a telecirurgia é a demora entre o movimento das mãos do
médico e a resposta dos braços robóticos a esses movimentos. Por isso, por enquanto o médico precisa
estar na sala junto com o paciente para que os sistemas robóticos reajam instantaneamente aos
movimentos de suas mãos.
Manter menos pessoas na sala de cirurgia e permitir que os médicos tenham a capacidade de operar
um paciente a longa distância pode diminuir o custo das cirurgias. Além da redução de custo, a cirurgia
robótica possui diversas outras vantagens sobre a cirurgia convencional, incluindo o aumento da
precisão e redução do trauma para o paciente. Por exemplo, a cirurgia de ponte de safena, atualmente,
exige que o peito do paciente seja "serrado" e aberto por meio de uma incisão de mais de 30 cm de
comprimento. No entanto, com os sistemas da Vinci ou ZEUS será possível operar o coração por meio
de três pequenas incisões no peito, cada uma com cerca de 1 cm de diâmetro. Como o cirurgião faria
estas incisões menores em vez de uma longa por toda a extensão do peito, o paciente experimentaria
menos dores e sangramento, levando a uma recuperação mais rápida.
A robótica também diminui a fadiga que os médicos experimentam durante as cirurgias, que podem
durar várias horas. Os cirurgiões podem ficar exaustos durante essas longas cirurgias e, como
resultado, sofrer tremores nas mãos. Mesmo as mãos firmes do médico mais experiente não podem se
igualar às do robô cirúrgico. O sistema da Vinci foi programado para ignorar os tremores da mão do
médico e manter o braço mecânico estável.
Embora os robôs cirúrgicos ofereçam algumas vantagens, ainda estamos longe do dia em que robôs
farão operações sem intervenção humana. No entanto, com os avanços na potência dos computadores
e na inteligência artificial, pode ser que, ainda neste século, um robô seja projetado com capacidade
para localizar anormalidades no corpo humano, analisá-las e operá-las, corrigindo-as sem qualquer
orientação humana.

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  • 2. Foto cedida pela Intuitive Surgical A visão do cirurgião ao utilizar o Sistema Cirúrgico da Vinci Há poucos metros da mesa de operação, no console de controle, o cirurgião olha no visor para examinar as imagens em 3D enviadas pela câmera no interior do paciente. As imagens mostram o local da cirurgia e os dois instrumentos cirúrgicos instalados nas extremidades de duas das hastes. Controles similares a joysticks localizados logo abaixo da tela são usados pelo cirurgião para manipular os instrumentos cirúrgicos. Cada vez que um dos joysticks é movido, um computador envia um sinal eletrônico para um dos instrumentos, que é movimentado em sincronia com os movimentos das mãos do cirurgião. Outro sistema robótico que está prestes a ser aprovado pela FDA é o Sistema ZEUS, fabricado pela Computer Motion (a um custo de US$ 750 mil), que já está disponível na Europa. Entretanto, ambos os sistemas, da Vinci e ZEUS, precisam receber aprovação governamental para cada procedimento em que serão utilizados. O ZEUS possui uma configuração similar à do sistema da Vinci: possui uma estação de trabalho computadorizada, uma tela de vídeo e controles manuais usados para mover os instrumentos cirúrgicos instalados na mesa. Enquanto o sistema ZEUS ainda não foi liberado para uso nos Estados Unidos não ser para testes clínicos, os médicos alemães já usam o sistema para realizar cirurgias de ponte de safena. O sistema ZEUS utiliza a assistência do Sistema Robótico AESOP (sigla em inglês para Sistema Endoscópico Automatizado para Posicionamento Ideal). Lançado pela Computer Motion em 1994, o AESOP foi o primeiro robô a ser liberado pela FDA para assistência de cirurgias em salas de operação. O AESOP é mais simples do que os sistemas da Vinci e ZEUS. Trata-se de um braço mecânico usado pelo médico para posicionar o endoscópio (câmera cirúrgica inserida no paciente). Pedais ou um software ativado por voz permitem que o médico posicione a câmera, deixando suas mãos livres para prosseguir com a operação. Vantagens da cirurgia robótica Nas salas de cirurgia atuais, é possível encontrar dois ou três cirurgiões, um anestesista e muitos enfermeiros, até mesmo na mais simples das cirurgias. A maioria das cirurgias requer aproximadamente uma dúzia de pessoas na sala. Com toda a automação, os robôs cirúrgicos possivelmente eliminarão a necessidade de algumas dessas pessoas. No futuro, talvez a cirurgia requeira somente um cirurgião, um anestesista e um ou dois enfermeiros. Nessa sala de cirurgia, o médico sentará em um console de computador, dentro ou fora da sala de cirurgia, usando o robô cirúrgico para efetuar aquilo que antigamente exigia uma equipe bem maior.
  • 3. O uso de um console de computador para efetuar operações a distância, abre a perspectiva da telecirurgia, em que um médico efetuaria uma cirurgia delicada a quilômetros de distância do paciente. Se o médico não precisar ficar de pé ao lado do paciente e puder controlar remotamente os braços robóticos em uma estação computadorizada a alguns metros do paciente, a próxima etapa seria realizar a cirurgia a partir de locais muito mais afastados. Se fosse possível usar o console de computador para mover os braços robóticos em tempo real, um médico situado na Califórnia poderia operar um paciente em Nova Iorque. Um grande obstáculo para a telecirurgia é a demora entre o movimento das mãos do médico e a resposta dos braços robóticos a esses movimentos. Por isso, por enquanto o médico precisa estar na sala junto com o paciente para que os sistemas robóticos reajam instantaneamente aos movimentos de suas mãos. Manter menos pessoas na sala de cirurgia e permitir que os médicos tenham a capacidade de operar um paciente a longa distância pode diminuir o custo das cirurgias. Além da redução de custo, a cirurgia robótica possui diversas outras vantagens sobre a cirurgia convencional, incluindo o aumento da precisão e redução do trauma para o paciente. Por exemplo, a cirurgia de ponte de safena, atualmente, exige que o peito do paciente seja "serrado" e aberto por meio de uma incisão de mais de 30 cm de comprimento. No entanto, com os sistemas da Vinci ou ZEUS será possível operar o coração por meio de três pequenas incisões no peito, cada uma com cerca de 1 cm de diâmetro. Como o cirurgião faria estas incisões menores em vez de uma longa por toda a extensão do peito, o paciente experimentaria menos dores e sangramento, levando a uma recuperação mais rápida. A robótica também diminui a fadiga que os médicos experimentam durante as cirurgias, que podem durar várias horas. Os cirurgiões podem ficar exaustos durante essas longas cirurgias e, como resultado, sofrer tremores nas mãos. Mesmo as mãos firmes do médico mais experiente não podem se igualar às do robô cirúrgico. O sistema da Vinci foi programado para ignorar os tremores da mão do médico e manter o braço mecânico estável. Embora os robôs cirúrgicos ofereçam algumas vantagens, ainda estamos longe do dia em que robôs farão operações sem intervenção humana. No entanto, com os avanços na potência dos computadores e na inteligência artificial, pode ser que, ainda neste século, um robô seja projetado com capacidade para localizar anormalidades no corpo humano, analisá-las e operá-las, corrigindo-as sem qualquer orientação humana.