Uma adequada selecção dos casos, acompanhada de protocolos clínicos e técnicos adequados, são imperativos essenciais para o sucesso da zircónia na reabilitação protética implanto-suportada. Artigo da equipa médica da GSD Academy.
Amamentação: motricidade oral e repercussões sistêmicas - TCC
Pilares de zircónia em reabilitações implanto-suportadas: evidência científica
1. Dentistry
EDIÇÃO PORTUGUESA
28 Clínica
www.dentistry.pt
Pilares de zircónia em reabilitações
implanto-suportadas: evidência científica
Uma adequada selecção dos casos, acompanhada de protocolos clínicos e técnicos adequados, são imperativos essenciais para o sucesso da zircónia na
reabilitação protética implanto-suportada. Artigo da equipa médica da GSD Academy.
N
a actualidade, a estética em Medicina Dentária
tem vindo a tornar-se imperativa no âmbito da
reabilitação oral devido à crescente exigência
por parte dos pacientes. Desta forma, assiste-se a um
constante desenvolvimento de novos materiais e técnicas
restauradoras.
Os pilares de titânio têm sido considerados, ao longo
dos anos, a escolha ideal em reabilitações protéticas
implanto-suportadas, devido às suas excelentes proprie-
dades mecânicas e longevidade clínica já demonstradas
na literatura científica. Um dos maiores inconvenientes
deste tipo de pilares é a descoloração acinzentada da mu-
cosa peri-implantar associada ao risco de aparecimento,
na região cervical, de um halo escuro correspondente à
cor metálica do pilar, principalmente na presença de um
biótipo fino, linha de sorriso alta e recessões gengivais,
nomeadamente em regiões antero-superiores.
Outra desvantagem inerente a este tipo de pilares é a
possibilidade de corrosão por correntes galvânicas ca-
Dra.Mariana Ribeiro.
Médica Dentista. Colaboradora Figuras1a 4: As vantagens da utilização de elementos protéticos de zircónia ou de cerâmica tinha como objetivo minimizar as
da GSD Academy. desvantagens estéticas das estruturas de titânio
www.gsd-academy.com.
pazes de originar microfracturas e peri-implantites com A zircónia parcialmente estabilizada com ítria (Y-TZP)
Dr. Gonçalo Seguro Dias. Médico perda da osteointegração do implante. Com o intuito de é a combinação mais utilizada por garantir melhores
Dentista. Assistente de Cirurgia superar estas limitações, surgem os pilares de zircónio propriedades mecânicas (maior tenacidade e dureza). A
e Medicina Oral da FMDUL. como uma alternativa viável aos pilares metálicos nas re- fase tetragonal (T), na zircónia parcialmente estabiliza-
Responsável Científico da GSD abilitações protéticas implanto-suportadas em zonas on- da, é estável à temperatura ambiente. No entanto, sob
Academy. www.gsd-academy.com. de a estética assume um papel essencial (Figuras 1 a 4). um estado de tensão, ocorre a transformação dessa fase
Apesar das suas excelentes propriedades estéticas e de em fase monoclínica (M), acompanhada de um aumen-
Dra. Ana Luísa Silva. Médico biocompatibilidade, as cerâmicas dentárias são um ma- to de volume em cerca de 3-4 por cento. Esta expan-
Dentista. Assistente de Dentisteria terial friável e, portanto, com menor resistência a forças são volumétrica gera forças compressivas que ao com-
da FMDUL. www.gsd-academy. de tracção. Assim, a necessidade de melhores proprieda- primirem a fenda, na região de stress da superfície da
com. des mecânicas levou à introdução da zircónia no fabrico zircónia, opõem-se à sua propagação. Este fenómeno,
de pilares por ser o biomaterial cerâmico com a maior por ser acompanhado de um aumento da resistência do
Dra. Maria Teresa Casaca. Médica
resistência à fractura. A zircónia (ZrO2) é um cristal poli- material, designa-se por tenacificação e explica a elevada
Dentista. Pós-graduada em Prótese
mórfico que possui três formas cristalinas: monoclínica, resistência à fractura da zircónia. Uma grande vantagem
sobre Implantes, UB.
www.gsd-academy.com. tetragonal e cúbica, dependendo da adição de agentes associada a este aspecto é o facto de permitir uma redu-
estabilizadores como cálcio, magnésio, ítria e céria. ção substancial na espessura das subestruturas.
2. Dentistry
EDIÇÃO PORTUGUESA
EDIÇÃO PORTUGUESA
Clínica 16
29
www.dentistry.pt
Figuras 5 a 8: Reabilitação com coroa zircónio-cerâmica
aparafusada em região posterior. Diferentes estudos têm
demonstrado taxas de sobrevivência semelhantes entre estru-
turas de zircónia e de titânio mesmo em regiões posteriores
ração clínica dos pilares de zircónia não prejudica a sua
resistência à fractura. No entanto, avaliar o contorno das
paredes axiais do pilar, de modo a proporcionar uma
espessura uniforme da cerâmica de cobertura, é funda-
mental para melhorar a resistência mecânica do conjun-
to e reduzir ao máximo a probabilidade de “chipping”
Outro mecanismo descrito é o envelhecimento deste tipo brevivência de 100% de pilares de zircónia em reabili- da cerâmica. Este fenómeno deve-se ao estabelecimento
de cerâmica. O stress mecânico e o próprio polimento tações unitárias anteriores e na região dos pré-molares. de stress residual na interface núcleo protético-cerâmica
das estruturas são responsáveis por uma lenta e espon- Além disso, num recente ensaio clínico randomizado, de cobertura e ocorre em coroas livres de metal confec-
tânea transformação da fase T-M dos grãos mais super- compararam-se pilares de titânio e pilares de zircónia cionadas sobre pilares de zircónia, não se observando o
ficiais, causando degradação superficial por aumento da em reabilitações unitárias em regiões posteriores e regis- mesmo em casos de coroas metalo-cerâmicas sobre pila-
rugosidade e formação de microfendas. A exposição pro- taram-se taxas de sobrevivência de 100 por cento para res de titânio. Mais estudos são necessários para esclare-
longada à humidade acelera também o envelhecimento. estes últimos, após três anos (Figuras 5 a 8). cer o comportamento da cerâmica de cobertura relativa-
Em condições intra-orais, a água ao penetrar nessas mi- No que respeita à resistência à fractura, estudos in vivo mente aos pilares de zircónia.
crofendas aumenta as suas dimensões e provoca perda mostram que os pilares de zircónia quando sujeitos a for- A desadaptação na interface implante/pilar tem vindo a
da resistência mecânica e da estabilidade dimensional da ças estáticas de compressão e mastigatórias apresentam ser descrita como um factor relevante no que respeita à
zircónia a longo prazo, apesar de se manter dentro dos um comportamento semelhante aos pilares de titânio, transferência de stress, resposta biológica dos tecidos pe-
valores clinicamente aceitáveis. resistindo a valores de carga incisais bastante superiores ri-implantares e complicações protéticas. O ajuste entre
Até à data, o desempenho clínico da zircónia tem sido ao valor considerado máximo para esta região (370N). o hexágono externo da cabeça do implante e o hexágono
bastante promissor. Vários estudos relatam taxas de so- Um estudo de Adatia e cols. demonstrou que a prepa- interno do pilar deve permitir movimentos rotacionais
Figuras 9 a 14: As excelentes propriedades mecânicas e estéticas das estruturas zircónio-cerâmicas tornam este tipo de reabilitações uma opção muito válida para qualquer tipo de reabilitação