O documento discute a ansiedade face a testes em estudantes, definindo o conceito, fatores determinantes e efeitos no desempenho escolar. Aborda também estratégias para controlar a ansiedade, como avaliações menos ameaçadoras e reforço positivo por professores. Finalmente, apresenta o Questionário de Ansiedade Face a Testes para medir os níveis de ansiedade em estudantes.
1. UNIVERSIDADE DO MINHO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIA EDUCATIVA
Seminário: Psicologia da Educação
Docente: Professor Doutor Pedro Rosário
Ansiedade Face a Testes
Um guia para docentes e pais
Grupo de Trabalho:
Anabela Gomes de Jesus
António Manuel Leitão Macedo Varela
Eliana Santana Lisbôa
Gláucia Helena Sales Teixeira 05 de Junho 2009
Ansiedade Face a Testes – Um guia para docentes e pais. 1
2. 1. INTRODUÇÃO
Esta apresentação destina-se a Docentes e Encarregados de
Educação/Pais.
Pretende-se que os destinatários sejam capazes de:
Compreender o conceito de ansiedade face aos testes e os factores que a
determinam;
Compreender de que forma a ansiedade face aos testes afecta a realização
escolar;
Relacionar a ansiedade face aos testes e a auto-regulação;
Conhecer medidas capazes de ajudar a controlar a ansiedade face aos testes;
Conhecer um instrumento capaz de avaliar a ansiedade.
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3. 2. Ansiedade – Visão histórica
Séc. XIX, dá
Hutcheson, Séc . XVIII, ênfase à
explica individualização.
Movimento acerca do conceito de medo.
Humanista
Idade Média
domínio religioso
No início do século XX, Sigmund Freud
(1936) propõe a distinção entre ansiedade
Civilização grega até a
Idade Moderna
objectiva e ansiedade neurótica
apresentando a ansiedade como mediadora
da psicopatologia em geral
Ansiedade Face a Testes – Um guia para docentes e pais. 3
4. 3. O Conceito de Ansiedade
Origem da palavra: do latim anxietatis que significa
preocupação e é definida como um sentimento de ânsia
ou angústia;
Odrizola (2001) entende a ansiedade como uma
emoção que sobrevém quando a pessoa se sente em
perigo perante uma ameaça real ou imaginária não
sendo mais do que uma resposta normal e adaptativa
do organismo que se prepara para reagir a essa
situação de ameaça.
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5. 4. Ansiedade Face aos Testes (AFT)
“Ansiedade face aos Testes” (AFT) é um construto não
consensual tendo em conta a sua
multidimensionalidade: cognitiva, emocional, afectiva e
comportamental (Sarason, 1980).
Spielberger e Vagg (1995), como uma situação
específica de traço da personalidade que se traduz na
disposição individual para reagir com estados de
ansiedade de forma mais intensa e frequente, com
cognições de preocupações, pensamentos e situações
percepcionadas como ameaçadoras, irrelevantes, que
interferem com a atenção, concentração e realização de
testes.
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6. 4.1. Factores determinantes distais
São de ordem orgânica e ambiental. O seu impacto
é, sobretudo, determinante nos primeiros anos de vida
modelando a AFT como um padrão de reacção privilegiado nas
situações avaliativas.
4.2. Factores determinantes proximais
São aqueles que configuram as características da situação
directamente responsáveis pelas reacções de ansiedade em
contexto avaliativo. (Zeidner, 1998 apud Magalhães 2007, p.37).
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7. O desenvolvimento da ansiedade face aos testes
é, assim, moldado constantemente por uma configuração única
de factores (directos e indirectos)
constitucionais, familiares, sociais, educacionais e experiências
que interagem entre si e se influenciam mutuamente.
(Magalhães, 2007: p. 35)
Experiências anteriores de sucesso e
Distais insucesso;
(influência indirecta) Socialização nos primeiros anos de vida, etc.
Ansiedade
Face aos
Testes
Competitividade;
Proximais
As primeiras percepções das questões
(influência directa)
incluídas nas tarefas a realizar, etc.
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8. 5. Compreensão do Construto
Distinções importantes: Traço e Estado
Traço: característica da personalidade de percepcionar determinadas
situação de avaliação como perigosas ou ameaçadoras.
Estado: conjunto de emoções transitórias de reacção a situações vistas
como ameaçadoras. (Rosário et al, 2004)
Fenómeno bidimensional: componente cognitiva e afectiva
Cognitiva (preocupação): pensamentos sobre os efeitos de um possível
insucesso e dúvidas sobre a competência do próprio.
Afectivo (emocionalidade): reacções fisiológicas que advém do stresse
da situação de avaliação e percepção destas reacções.
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9. Fontaine (1990 apud Magalhães, 2007, p. 18) refere a
distinção entre ansiedade facilitadora e debilitante o que
questiona a relação linear, monótona e negativa entre a
Ansiedade face aos Testes e o rendimento académico, isto
é, à medida que a ansiedade aumenta, o nível de
realização escolar desce. Assim sendo, a literatura sugere
a possibilidade de uma relação não linear entre a
Ansiedade face aos Testes e a realização escolar mas sim
curvilinear.
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10. Assim, uma abordagem ao conceito, pode ser:
“(…) disposição individual para reagir com estados de ansiedade
de forma mais intensa e frequente com cognições de
preocupação, pensamentos irrelevantes que interferem com a
atenção e concentração e realização de testes.” (Spielberg e
Vagg, 1995, p. 13-14 apud Rosário et al 2004, p.16)
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11. 6. AFT e realização escolar
Actualmente os alunos confrontam-se com situações de
grande pressão;
Adaptação a novos professores e colegas;
Aprendizagem de novos saberes em constante
actualização;
Reorganização curriculares e exigentes situações de
avaliação (15% a 20% atinge os estudantes universitários).
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12. À medida que se avança no sistema escolar, assiste-se a uma
redução da vontade de estudar e da qualidade das realizações
escolares dos alunos e alunas, bem como um aumento da Ansiedade
face aos Testes (Rosário, 2004 apud Magalhães, 2007, p. 17).
Um estudo realizado por Cruz (1987), com 320 alunos e alunas
portugueses do 7.º ano ao 11.º ano de escolaridade permitiu verificar
a elevada incidência de pessoas que estudam com altos níveis de
ansiedade.
Elevados níveis de AFT exercem efeito negativo na realização
escolar, tais como: tarefas complexas e com limite de tempo para as
concluir (Hagtvet e Hunstad, 1987).
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13. 7. AFT e variáveis pessoais e familiares
Os estudos sugerem que:
a AFT diminui com o aumento do nível de estudo dos
pais e das mães; o que poderá estar relacionado com o
acompanhamento educativo dos filhos;
os estereótipos do género, masculino e feminino, no
processo de socialização são factores condicionantes.
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14. 8. AFT e Auto-regulação
A pesquisa sugere:
níveis mais elevados de auto -eficácia estão
globalmente associados a níveis mais baixos de AFT
níveis moderados de AFT motivam os alunos para um
estudo mais efectivo
a tensão pode ser positiva se os testes são encarados
como um desafio e não uma ameaça. (Rosário et al,
2004).
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15. Efeitos negativos da AFT:
Pensamentos de preocupação com:
• inadequações de si próprio;
• perigos potenciais;
• competências de confronto,
Estão associados a:
• estabelecimento de objectivos e selecção de estratégias desadequadas;
• sentimentos de baixa auto-estima;
• pensamentos irracionais ou enviesados.
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16. 9. Auto-regulação
Segundo Rosário (2004, p. 37) apud Rosário (2008),
“a auto-regulação é um processo activo no qual os
sujeitos estabelecem os objectivos que norteiam a sua
aprendizagem tentando monitorizar, regular e controlar
as suas cognições, motivação e comportamentos com
o intuito de os alcançar”.
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17. O processo abrange três grandes fases:
1ª Prévia – estabelecimento de objectivos em face dos resultados pretendidos;
planear as actividades e seleccionar as estratégias.
crenças auto-motivacionais (pensamentos de preocupação com o self).
2ª Controlo-volitivo – o sujeito desenvolve um conjunto de atitudes e
comportamentos que permitem simultaneamente organizar o
trabalho e controlar os seus progressos e retrocessos face a um
dada referência.
3ª Auto-reflexão – inclui dois processos auto-reflexivos:
o auto-julgamento que se refere à auto-avaliação que o sujeito faz de si
próprio;
a auto-reacção que se refere à comparação da informação auto-
monitorizada com um critério ou objectivo previamente definido.
(Rosário et al 2004, p. 18).
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18. 10. Algumas medidas de controlo de AFT
Adoptar práticas de avaliação menos ameaçadoras e desgastante para os
estudantes;
Os professores devem reforçar positivamente os esforços dos estudantes
relacionados com a sua performance intelectual, comportamentos e
desenvolvimento pessoal e social;
Preparação dos alunos para lidar com a pressão inerente às classificações
competitivas através de programas de confronto nos testes;
Individualização do ambiente de aprendizagem;
Desenvolver aprendizagem significativas e contextualizadas contribuindo
para a criação de ambientes educativos promotores de uma auto-regulação
proficiente da aprendizagem para uma maior qualidade de ensino.
(Rosário, 2004, p. 23 e 24)
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19. 11. Questionário QAT ROSÁRIO, P., & SOARES, S. (2004)
O que é?
O questionário de Ansiedade face aos Testes (QAT) permite determinar os
níveis de ansiedade dos alunos face aos testes.
Teoria
A teoria base sobre a qual o QAT foi elaborado é a do traço-
estado, proposta por Spielberger e Vagg (1995).
Dimensões avaliadas
Como vimos, AFT é um fenómeno bidimensional, que inclui duas
componentes: a cognitiva e a afectiva. No QAT a dimensão cognitiva
corresponde a “Pensamentos em competição” e a afectiva corresponde à
“Tensão”.
Destinatários
Alunos dos 2.º e 3.º Ciclos do Ensino Básico.
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20. Exemplo de aplicação do QAT
O QAT foi aplicado a uma turma do 11.º ano de escolaridade. A leitura dos resultados
deve ter em consideração o facto deste questionário ser válido para alunos do 2.º e
3.º Ciclos. [Constrangimento].
O QAT foi aplicado no início de uma aula de 90 minutos, às 10h e os alunos
encontravam-se distribuídos em mesas individuais.
A amostra é constituída por 28 alunos, 15 (53,6%) dos quais são rapazes e 13
(46.4%) são raparigas (gráfico 1). A idade dos alunos varia entre os 16 e 18 anos
(53,6% com 16 anos, 42.9 com 17 anos e 3.9% com 18 anos) (gráfico 2)
Gráfico 2
Gráfico 1
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21. Resultados da aplicação do QAT
Os resultados da aplicação foram os seguintes (tabela 1 e gráfico 3):
Desvio
Itens Mínimo Máximo Média Assimetria Curtose
padrão
1 2 5 3,18 1,020 ,292 -1,058
2 1 5 2,39 1,197 ,412 -,869
3 1 5 2,71 ,976 ,631 ,717
4 1 5 3,21 1,067 ,131 -,502
5 1 5 2,25 1,266 ,789 -,325
6 1 5 2,18 1,219 ,955 ,207
7 1 5 2,04 1,453 1,105 -,283
8 1 5 3,11 ,994 -,228 ,216
9 1 5 3,25 1,175 -,231 -,781
10 1 5 2,46 1,290 ,586 -,480
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22. 3.50
3.21 3.25
3.18
3.11
3.00
2.71
2.46
Média de cada item
2.50 2.39
2.25
2.18
2.04
2.00
1.50
1.00
.50
.00
Item 1 Item 2 Item 3 Item 4 Item 5 Item 6 Item 7 Item 8 Item 9 Item 10
Itens do QAT
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23. Resultados do QAT
Os dados obtidos pelo QAT foram tratados com recursos ao SPSS (versão
17), tendo-se realizado a análise descritiva de todas as variáveis e a análise de
frequências da variável género e idade.
A dimensão “Pensamentos em competição” é avaliada pelos itens 2, 4, 6, 8 e 10 e a
dimensão “Tensão” pelos itens 1, 3, 5, 7 e 9. Os níveis de AFT são dados pelo
somatório das pontuações obtidas nas duas dimensões.
A AFT variou entre 16 e 49 pontos, com uma média de 26,8 pontos e um desvio
padrão de 8,06.
A componente “Tensão” variou entre 6 e 25 pontos, com uma média de 13,4 pontos e
um desvio padrão de 4,7.
A componente “Pensamento em competição” variou entre 7 e 24, com uma média
13,4 e um desvio padrão de 3,84.
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24. QAT – Aplicação em Excel
Por forma a permitir a qualquer Docente
ou Encarregado de Educação a
determinação dos níveis de ansiedade
de um aluno/filho, foi construída uma
folha de cálculo em Excel.
O preenchimento dos itens permite
obter, no final, o valor da ansiedade, bem
como as contribuições das duas
componentes consideradas (Tensão e
Pensamento em Competição).
Após a utilização da folha de
cálculo, deve-se proceder à limpeza de
todos os campos antes de uma nova
utilização.
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25. Referências
• MAGALHÃES, Andreia Carla Fonseca (2007). Ansiedade face aos testes, género e rendimento
académico: um estudo no Ensino Básico. Mestrado em Psicologia Escolar, Universidade do Minho.
Tese de Mestrado. Portugal: Universidade do Minho. Disponível em: http://www.guia-
psiedu.com/publicacoes/documentos/2007_ansiedade_face_testes_andreia_magalhaes.pdf.
Acedido em : 25/05/09.
• ROSÁRIO, P., & SOARES, S. (2003). Ansiedade face aos testes e realização escolar no Ensino
Básico Português. Revista Galego–Portuguesa de Psicoloxia e Educación, 8 (10), 870–886.
Disponível em: http://www.guia-
psiedu.com/publicacoes/documentos/2003_ansiedade_face_testes_epb.pdf. Acedido em: 20/03/09.
• ROSÁRIO, P., & SOARES, S. (2004). Questionário de Ansiedade face aos Testes (Q.A.T). In M. M.
Gonçalves, M.R. Simões, L. S. Almeida & C. Machado (Eds.), Avaliação Psicológica. Instrumentos
validados para a população portuguesa Volume II (pp. 39 – 51). Coimbra: Quarteto.
• ROSÁRIO, P., SALGADO, A., NÚÑEZ, J. C., GONZÁLEZ-PIENDA, J., & VALLE, A. (2008).
Ansiedad ante los exámenes: relación con variables personales y familiares. Psicothema, 20, 4, 563-
570. http://www.guia-psiedu.com/publicacoes/documentos/2008_ansiedad_psyc.pdf. Acedido em:
29/05/09.
• ROSÁRIO, P., SIMÃO, A., CHALETA, E. & GRÁCIO; L.(2008). Auto - regular o aprender em sala de
aula. In Abrahão, M.(org), Professores e Alunos: aprendizagens significativas em comunidades de
práticas educativas (pp.115-132). Porto Alegre: ediPUCRS. Disponível em: http://www.guia-
psiedu.com/publicacoes/documentos/2008_ar_aprender_sala_aula_edipucrs.pdf. Acedido em:
29/05/09.
• ROSÁRIO, P., SOARES, S., NÚNEZ, J. C., GONZÁLEZ–PIENDA, J., & SIMÕES, F. (2004).
Ansiedade face aos testes e auto–regulação da aprendizagem: variáveis emocionais no aprender.
Psicologia e Educação. III (1), 15–26. Disponível em: http://www.guia-
psiedu.com/publicacoes/documentos/2004_ansiedade_testes_ara_pe.pdf. Acedido em: 05/04/09.
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