SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
FELIZ ANIVERSÁRIO

                                                      Por Thiago Augusto de Oliveira



- Feliz Aniversário! – disse uma voz muito familiar, atrás de mim, cobrindo meus
olhos como quem espera ser descoberto.

- Leonardo! – exclamei feliz, reconhecendo o dono da voz no mesmo instante -
Obrigado, meu amigo.

E desvencilhando-me de suas suaves mãos, me apertei no calor de seus braços, no mais
caloroso dos abraços.

- Desejo-lhe tudo de bom, moçoilo.

Não pude deixar de sorrir com o desejo dele.

- Obrigado mesmo, de coração, mas... – relutei um pouco antes de falar - Posso
pedir-lhe um presente?

- Qual? – perguntou ele, a curiosidade perfeitamente expressa em sua voz.

        Cheguei bem perto dele, tanto que até podia contar quantos cílios ele tinha
naqueles belos olhos brilhantes, ou mesmo imaginar o gosto de seu hálito. O silêncio
dominou todo o ambiente por um segundo que durou toda a eternidade, mas foi forte o
bastante para sobreviver durante todo aquele instante.

- Seja meu anjo?

  Perguntei na mais suave das expressões, dando ênfase a cada sílaba, e permaneci
olhando o nerd biólogo de boné na minha frente. Sorri pela surpresa em seu rosto.
Então tirei o boné de sua cabeça baguncei seus cabelos.

- Seja aquele que senta no peitoril da minha janela, apenas observando e rindo
das minhas bobagens. Alguém que fará chover estrelas quando eu insistir ver o
céu nublado.

E ainda cheio de inocência e anseio, ainda completamente dominado pela infantilidade
de um rapaz que mais parecia estar fazendo nove ao invés de dezenove anos, eu o
beijou na testa.

- Seja o meu amigo dos dias tempestuosos...

  Surpreendentemente, o silêncio se fez em luz, e conjurou floreios ao redor nós dois.
De repente nossos corações eram de homens adultos e sonhadores. Homens estes que
brincavam com a poesia como quem escreve uma canção, sem se importar se ela terá
rima ou simétrica, já que o sentimento é tão intenso e puro que ela já o faz por si
mesma.

Léo então abriu os lábios e proferiu doces palavras, fazendo marejar meu coração de
jovem poeta sonhador. Escutava cada palavra com atenção, me vendo na mais alta
nuvem do céu e ele em meu encalço, nós dois deitados vendo as estrelas passando,
rindo das bobagens sérias um do outro e das irreverentes cordialidades.
Mas aquele vento foi o mais injusto de todos os temporais. Roubou o perfume dele e o
trouxe pra mim, aumentando ainda mais aquela pequena sintonia que nascia entre nós
dois - pequena sim, mas poderosa. As batidas de nossos corações pulsavam tocando
uma canção familiar. Os olhos de Léo se abriram, tal como o meu coração, fechado por
tanto tempo, mas agora aberto para gravar em entalhes as doces palavras daquele
jovem anjo.

Léo tomou minhas mãos nas suas e apertou-as com suavidade, por mais contraditório
que isso pudesse parecer. Aquele sorriso gentil e cauteloso, como quando uma criança
tem um desejo e quer pedir para os pais, embora não saiba como. Assim, tão de repente
quanto como começara, Léo me abraçou, um verdadeiro anjo verdadeiro, cobrindo
com suas asas, afastando seus medos e dando ênfase ao seu desejo.

  - Posso sim ser seu anjo. Esticarei minhas asas e te envolverei com elas, quando
for preciso te proteger. Levarei-te em divertidos vôos por entre as nuvens, onde
poderá sentir o macio algodão do qual elas são feitas. Irei rir de suas bobagens tão
sérias, e escutarei com atenção tuas sérias brincadeiras.

    O vento soprou por ali e eu pude sentir o perfume dele se espelhar pelo ar
novamente. O estudante de biologia fixava o olhar ao meu, como se estivesse
decorando meu resto. Seus olhos revelavam cores castanhas e escuras, brilhando por
detrás daquelas lentes estreitas e que lhe desenhavam bem o rosto.

        Léo sorriu de forma gentil, um pouco acanhado e mantendo o silêncio. Olhou
para baixo, levemente corado e sem saber o que fazer. Então, num ato repentino, ele
me abraçou de maneira forte e carinhosamente.

 - Sim, serei SEU anjo. Aquele que vai apenas quando dorme e que chega antes
de acordar.

        O abraço dele era confortável, macio e quente. Encostei a cabeça no peito de
Léo, sentindo nitidamente seu coração bater suave e calmo, uma perfeita sintonia com
o meu próprio. Sorri ao perceber o quanto aquilo me deixava feliz.

- E se eu pedir pra não me deixar nunca? E se eu quiser que esteja comigo até
mesmo velando meu sono?

O vento que ainda soprava ao nosso redor enfim parara, deixando apenas a calmaria, já
antes existente no local. De repente tudo ficou mais acentuado e apaixonante. Léo se
afastou de mim lentamente, seus olhos castanhos escuros fitando meu rosto. A
respiração dele era como um sussurro, e Léo mantinha a mão esquerda entrelaçada à
minha, e eu sabia que ele podia sentir meu peito arfar e voltar ao normal, conforme o ar
entrava e saia de meu corpo, levando vida para dentro e devolvendo ao mundo - a
mesma vida que eu encontrava nos olhos dele.

        - Então eu nunca te deixaria. Quando estiver dormindo, estarei contigo, e
mesmo quando entrar no mundo dos sonhos, eu estarei o seu lado, atento. Mesmo
que não me perceba, ali estarei pronto pra surgir quando preciso for. E até
mesmo quando for a minha vez de dormir, e deitar de forma eterna abraçando e
beijando o belo e convidativo sono da morte, a zelar por ti continuarei. Porque
somos algo que o tempo não desgasta e o vento não leva. Amizade consagrada,
bela e singela.
Suas palavras eram tão doces, tão tenras, exatamente aquilo que eu queria
escutar por tanto tempo, palavras que eu tinha deixado de acreditar que alguém
soubesse e, pior, que alguém pudesse dizê-las á mim no ápice de todo o sentimento.
Mas Léo era a verdadeira contradição, quebrando todas as correntes que me prendiam,
me suspendendo com suas asas e com a força de seu coração e me levando até o alto
céu azul.


        Eu senti o chão aos meus pés começar a se desfazer. Logo, todo o cenário tinha
ganhado um branco ofuscante, e pétalas de flores aromatizadas caiam dos céus, como
uma chuva de flores de todas as cores e aromas. Eu apenas o abracei, encostando
minha cabeça em seu peito. Fechei meus olhos e deixei-me envolver. Se aquilo era um
sonho, eu não queria acordar nunca. Nossa inocência, nossa sintonia eram tão perfeitas
que me lembravam as teclas de um piano, tocadas suavemente e produzindo os mais
doces acordes de uma canção de ninar. Um Poeta e um Cientista, criando ali um
universo só deles.

Eu tive medo de estragar o momento. Medo de dizer ou fazer algo precipitado demais,
como eu sempre fazia. Ele estava sendo tão cuidadoso e atencioso comigo e eu, até
então, tinha sido egoísta o bastante para apenas desejá-lo, sem me oferecer a ele, como
queria meu coração.

- O meu coração é um vale, um rio, um oceano. Um lugar onde você pode deitar e
sentir, onde pode mergulhar e descansar tranqüilo de todos os teus medos e
aflições. Meu espírito vela teu sono, guarda tua segurança e canta para que você
durma. Porque nada até então foi mais especial na minha vida do que essa
inocência que você está me ensinando a viver agora. Talvez sejamos amigos,
talvez sejamos mais do que isso, talvez isso seja minha imaginação. Mas eu sou
bobo e apaixonado, e só sei que quero estar perto de você, sempre. Apenas isso.

Olhei-o com suplica de uma criança que deseja que o pai faça por ela aquilo que
ninguém mais pode fazer. Passei meus dedos suavemente por sua orelha, arrumando
seus cabelos por detrás das articulações, deixando meus dedos roçarem suavemente por
seu rosto bonito e jovial, agora o mais novo morador dos meus sonhos e da minha
mente.

- Quero te fazer meu segredo. Quero te fazer meu intento. – continuei, olhando no
fundo dos olhos dele - Quero te fazer meu.

E sem mais nada para dizer ou descrever, até porque eu jamais teria palavras ou
adjetivos para descrever o que passava pelo meu coração naquele momento, eu o
beijei, nos lábios, da forma mais doce que pude.

        Meu coração começou a bater mais rápido, retumbando em meu interior
causando grande eco e agitação. Meus dedos se entrelaçaram ao dele e quando nossos
lábios selaram-se de forma doce e suave, pude sentir todo o seu mel percorrer meu
corpo, espalhando-se por mim. A começar pela minha boca, que bebia diretamente da
fonte tamanha doçura. Quando finalmente nos separamos, com o fim do beijo, e ainda
assim, próximos o suficiente para outra situação como aquela, a expressão dele mudou
como o céu do celeste ao nublado.

       - O que foi? - perguntei.

      - Queria eu também ser inteiramente seu, da forma como se ofereces a
mim. Posso te dar minha amizade, meu amor fraternal e minha companhia em
todas as horas. Mas apenas isso. Minha paixão já percorre por outros calorosos e
doces vales. Não vou te deixar, tampouco te jogarei ao leu e muito menos seria
contigo como um carrasco é com sua vítima. Serei seu anjo da guarda, enviado
para te olhar e guardar, porém um anjo e não o deus do amor em si, que embora
também alado, seja bem diferente. Desculpe-me se não pude ser o que quer ou
esperava, mas não controlo esse pequeno eu que bate dentro de meu peito e que a
outra pessoa pertence. Parte dele é tua. De tua amizade, inocência e gentileza.

        Eu segurei a mão dele levemente, mantendo o segredo do momento entre nós
dois, como um elo que eu queria que jamais pudesse se partir. Mas uma corda quando
muito forçada, uma linha tênue quando tem sua resistência subestimada, todas essas
coisas se partem, pelo menos quando ainda não está forte o bastante para suportar o
rigor de um inverno.

Mais uma vez eu tinha sido precipitado demais. Eu havia ganhado um anjo e queria
mais do que isso. No fim das contas, eu ainda continuava a ser o poeta da cobiça, que
deseja sempre as estrelas que não podia alcançar. Alguém que ama tudo aquilo que não
lhe pertence, mas que espera, ainda assim, ser salvo quando todas as bombas
explodirem. Um poeta que jura amor eterno no primeiro segundo e que tem o tempo
seja ele curto ou longo, como duas facetas do mesmo tamanho. O POETA
ATEMPORAL.

Eu jamais aprenderia a dançar uma música lenta, porque nenhum parceiro de dança
seria paciente o suficiente para tirar minhas mãos da marcha e me fazer deixar o carro
estancar. Ninguém estava na mesma velocidade que eu, um garoto de dezenove anos
que atravessava a era medieval e o iluminismo, as revoluções francesas, inglesas e
industriais, as reformas protestantes e guerras mundiais, todas as explosões do mundo,
tudo isso em um único segundo. Só havia uma paisagem que eu gostava de admirar: os
meus próprios sonhos.

Mas eu não chorei, pelo menos não na frente de Leonardo. Eu tentei sorrir e parecer o
mais natural do mundo, mesmo que já estivesse sentindo meu nível ficar cada vez mais
distante do dele. A luz que brilhava ofuscante em meu peito aos poucos foi perdendo a
intensidade que outrora se comparava ao sol. Aquela era mais uma ocasião onde eu
ofertava meu coração em uma bandeja de prata e, para minha surpresa, eu o tinha
lançado ao vento, mas permanecia ali, com peito aberto e nada a receber.

        Outra vez eu decidira falar, mesmo que não houvesse ninguém disposto a
ouvir. Outra vez eu chegara tarde demais na conquista por um espaço no peito de
alguém. Era a confirmação, a certeza de que tinha nascido para casar-me com a
solidão, a moradora dos corações empobrecidos e que não cobrava aluguel, reservando
ao dono da pensão uma vida de pesadelos: uma vida sem amor.

       Eu passara por aquele momento tantas vezes, mas ainda assim me machucava
com tal intensidade que era forte demais para eu sorrir e dizer "tudo bem, isso
acontece, é normal". Calei minha alma para não abrir minha angustia na frente de
alguém que me queria ver sorrir, alguém que queria ser parte do sorriso sincero que eu
estampei segundos atrás.

       - O sol vai nascer a qualquer minuto. Acho que não é bom que nenhum de
nós permaneça acordado.

Esbocei o sorriso mais amarelo de meu arsenal, como se eu realmente acreditasse que
aquela desculpa teria algum cabimento. De repente, todo o universo construído, as
flores, os cheiros, a intensidade, tudo se dissipou num turbilhão de emoções frustradas,
as minhas emoções, negativas o bastante para me desconectar da magia do momento.
Nem mesmo o vento soprava mais, e eu soube que campos como aqueles só eram
visíveis porque o destino não era tão impiedoso, pelo menos não no dia do meu
aniversário.

       - Obrigado pelo presente. - e deixei minha mão acariciar o rosto dele mais
uma vez, antes de virar lentamente e voltar caminhando pela tortuosa estrada de barro,
sozinho.

A estrada levava à cabana de madeira, onde a porta dos fundos dava acesso a minha
realidade, totalmente diferente do que tinha vivido minutos antes. Eu tinha sonhado
alto demais, e consegui estragar tudo no último segundo, sendo precipitado o bastante
parar querer o mel no primeiro dia de busca. Eu apressei toda a magia, não a descrevi
como gostaria e agora, tinha perdido-a de vez. Eu não podia guardar em mim só
metade de um coração, não. Eu precisava de um coração inteiro, completo, vivo,
pulsante, cuja principal característica fosse a reciprocidade, e isso estava me sendo
negado, até mesmo em minhas próprias fantasias.

        Eu tinha todas as razões do mundo para perder a esperança, mas alguém me
lembrara que não era esse o intuito de viver. O amor não deve vir como uma coisa que
se busca avidamente, mas como uma conseqüência de nosso merecimento, nosso
esforço em buscar as outras virtudes da vida.

“ Posso te dar minha amizade, meu amor fraternal e minha companhia em todas as
horas. Mas apenas isso.” Refleti sobre as palavras de Leonardo e descobri que, por
hora, era o que me basta.

        “A pergunta é... até quando vai durar essa hora?", me perguntei em
pensamento, antes de sumir no último trem que embarcava rumo à realidade, que
chegaria com o sol daquela manhã.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

A última rosa
A última rosaA última rosa
A última rosaJean Souza
 
A última rosa
A última rosaA última rosa
A última rosaJean Souza
 
Revista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoRevista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoActon Lobo
 
Amor inteiro trecho inédito
Amor inteiro trecho inéditoAmor inteiro trecho inédito
Amor inteiro trecho inéditoMaribell_Azevedo
 
Tarde Demais
Tarde DemaisTarde Demais
Tarde Demaismcunha
 
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMASAMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMASKhamia carvalho
 
A confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaA confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaArthur Dellarubia
 
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Telma Costa
 
Desejos obscuros livro II- Fragmentada
Desejos obscuros livro II- FragmentadaDesejos obscuros livro II- Fragmentada
Desejos obscuros livro II- FragmentadaRaquel Alves
 
Estranha Perfeicão_Trecho
Estranha Perfeicão_TrechoEstranha Perfeicão_Trecho
Estranha Perfeicão_TrechoLuhFigueiredos
 

Mais procurados (18)

A última rosa
A última rosaA última rosa
A última rosa
 
A última rosa
A última rosaA última rosa
A última rosa
 
Revista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoRevista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta Edição
 
Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3
 
Despedida de uma alma
Despedida de uma almaDespedida de uma alma
Despedida de uma alma
 
Amor inteiro trecho inédito
Amor inteiro trecho inéditoAmor inteiro trecho inédito
Amor inteiro trecho inédito
 
Olhos estranhos1
Olhos estranhos1Olhos estranhos1
Olhos estranhos1
 
Olhos Estranhos 2
Olhos Estranhos 2Olhos Estranhos 2
Olhos Estranhos 2
 
Tarde Demais
Tarde DemaisTarde Demais
Tarde Demais
 
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOSA MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
A MULHER EM TODOS OS SENTIDOS
 
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMASAMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
AMOR,ALEGRIAS E LAGRIMAS
 
A confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaA confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caduca
 
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
Alysonnoel osimortais06-infinito-130428165846-phpapp02
 
Poemas de amor
Poemas de amorPoemas de amor
Poemas de amor
 
Poemas ppt
Poemas pptPoemas ppt
Poemas ppt
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 
Desejos obscuros livro II- Fragmentada
Desejos obscuros livro II- FragmentadaDesejos obscuros livro II- Fragmentada
Desejos obscuros livro II- Fragmentada
 
Estranha Perfeicão_Trecho
Estranha Perfeicão_TrechoEstranha Perfeicão_Trecho
Estranha Perfeicão_Trecho
 

Semelhante a Feliz AniversáRio

Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsLeonor Costa
 
Redação 9 paráfrase
Redação 9   paráfraseRedação 9   paráfrase
Redação 9 paráfrasenathaliafpaiva
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)guest3bd1a70
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)guest3bd1a70
 
242411996 o-amor-em-poesia
242411996 o-amor-em-poesia242411996 o-amor-em-poesia
242411996 o-amor-em-poesiaRobson Mendes
 
Dia dos namorados
Dia dos namoradosDia dos namorados
Dia dos namoradoscodyL
 
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagens
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagensPOESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagens
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagensTerreza Lima
 
Epopéia do meu amor
Epopéia do meu amorEpopéia do meu amor
Epopéia do meu amorwilkerfilipel
 
Entre a poesia e a solidão
Entre a poesia e a solidãoEntre a poesia e a solidão
Entre a poesia e a solidãojasm953
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Gisele Santos
 
Desejos obscuros livro IV- Alma Azul
Desejos obscuros livro IV- Alma AzulDesejos obscuros livro IV- Alma Azul
Desejos obscuros livro IV- Alma AzulRaquel Alves
 
C:\Fakepath\Projecto Ida
C:\Fakepath\Projecto IdaC:\Fakepath\Projecto Ida
C:\Fakepath\Projecto Idaprapina
 
Visita de um Amigo
Visita de um AmigoVisita de um Amigo
Visita de um AmigoEditora EME
 

Semelhante a Feliz AniversáRio (20)

Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
 
Redação 9 paráfrase
Redação 9   paráfraseRedação 9   paráfrase
Redação 9 paráfrase
 
Menina mulher
Menina mulherMenina mulher
Menina mulher
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
 
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)House Of Night 05 Hunted   Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
House Of Night 05 Hunted Pc Cast E Kristin Cast (Trad)
 
Fragmentos de amor
Fragmentos de amorFragmentos de amor
Fragmentos de amor
 
am
amam
am
 
Cartas de um amor imortal
Cartas de um amor imortalCartas de um amor imortal
Cartas de um amor imortal
 
242411996 o-amor-em-poesia
242411996 o-amor-em-poesia242411996 o-amor-em-poesia
242411996 o-amor-em-poesia
 
Dia dos namorados
Dia dos namoradosDia dos namorados
Dia dos namorados
 
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagens
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagensPOESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagens
POESIAS escrito no site meu lado poético poesias de amor surreal mensagens
 
Epopéia do meu amor
Epopéia do meu amorEpopéia do meu amor
Epopéia do meu amor
 
Entre a poesia e a solidão
Entre a poesia e a solidãoEntre a poesia e a solidão
Entre a poesia e a solidão
 
Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010Calendário Mensal: Julho 2010
Calendário Mensal: Julho 2010
 
Desejos obscuros livro IV- Alma Azul
Desejos obscuros livro IV- Alma AzulDesejos obscuros livro IV- Alma Azul
Desejos obscuros livro IV- Alma Azul
 
POESIAS COM SABOR DE ABRAÇO.pdf
POESIAS COM SABOR DE ABRAÇO.pdfPOESIAS COM SABOR DE ABRAÇO.pdf
POESIAS COM SABOR DE ABRAÇO.pdf
 
C:\Fakepath\Projecto Ida
C:\Fakepath\Projecto IdaC:\Fakepath\Projecto Ida
C:\Fakepath\Projecto Ida
 
Cinzas
CinzasCinzas
Cinzas
 
Visita de um amigo
Visita de um amigoVisita de um amigo
Visita de um amigo
 
Visita de um Amigo
Visita de um AmigoVisita de um Amigo
Visita de um Amigo
 

Feliz AniversáRio

  • 1. FELIZ ANIVERSÁRIO Por Thiago Augusto de Oliveira - Feliz Aniversário! – disse uma voz muito familiar, atrás de mim, cobrindo meus olhos como quem espera ser descoberto. - Leonardo! – exclamei feliz, reconhecendo o dono da voz no mesmo instante - Obrigado, meu amigo. E desvencilhando-me de suas suaves mãos, me apertei no calor de seus braços, no mais caloroso dos abraços. - Desejo-lhe tudo de bom, moçoilo. Não pude deixar de sorrir com o desejo dele. - Obrigado mesmo, de coração, mas... – relutei um pouco antes de falar - Posso pedir-lhe um presente? - Qual? – perguntou ele, a curiosidade perfeitamente expressa em sua voz. Cheguei bem perto dele, tanto que até podia contar quantos cílios ele tinha naqueles belos olhos brilhantes, ou mesmo imaginar o gosto de seu hálito. O silêncio dominou todo o ambiente por um segundo que durou toda a eternidade, mas foi forte o bastante para sobreviver durante todo aquele instante. - Seja meu anjo? Perguntei na mais suave das expressões, dando ênfase a cada sílaba, e permaneci olhando o nerd biólogo de boné na minha frente. Sorri pela surpresa em seu rosto. Então tirei o boné de sua cabeça baguncei seus cabelos. - Seja aquele que senta no peitoril da minha janela, apenas observando e rindo das minhas bobagens. Alguém que fará chover estrelas quando eu insistir ver o céu nublado. E ainda cheio de inocência e anseio, ainda completamente dominado pela infantilidade de um rapaz que mais parecia estar fazendo nove ao invés de dezenove anos, eu o beijou na testa. - Seja o meu amigo dos dias tempestuosos... Surpreendentemente, o silêncio se fez em luz, e conjurou floreios ao redor nós dois. De repente nossos corações eram de homens adultos e sonhadores. Homens estes que brincavam com a poesia como quem escreve uma canção, sem se importar se ela terá rima ou simétrica, já que o sentimento é tão intenso e puro que ela já o faz por si mesma. Léo então abriu os lábios e proferiu doces palavras, fazendo marejar meu coração de jovem poeta sonhador. Escutava cada palavra com atenção, me vendo na mais alta nuvem do céu e ele em meu encalço, nós dois deitados vendo as estrelas passando, rindo das bobagens sérias um do outro e das irreverentes cordialidades.
  • 2. Mas aquele vento foi o mais injusto de todos os temporais. Roubou o perfume dele e o trouxe pra mim, aumentando ainda mais aquela pequena sintonia que nascia entre nós dois - pequena sim, mas poderosa. As batidas de nossos corações pulsavam tocando uma canção familiar. Os olhos de Léo se abriram, tal como o meu coração, fechado por tanto tempo, mas agora aberto para gravar em entalhes as doces palavras daquele jovem anjo. Léo tomou minhas mãos nas suas e apertou-as com suavidade, por mais contraditório que isso pudesse parecer. Aquele sorriso gentil e cauteloso, como quando uma criança tem um desejo e quer pedir para os pais, embora não saiba como. Assim, tão de repente quanto como começara, Léo me abraçou, um verdadeiro anjo verdadeiro, cobrindo com suas asas, afastando seus medos e dando ênfase ao seu desejo. - Posso sim ser seu anjo. Esticarei minhas asas e te envolverei com elas, quando for preciso te proteger. Levarei-te em divertidos vôos por entre as nuvens, onde poderá sentir o macio algodão do qual elas são feitas. Irei rir de suas bobagens tão sérias, e escutarei com atenção tuas sérias brincadeiras. O vento soprou por ali e eu pude sentir o perfume dele se espelhar pelo ar novamente. O estudante de biologia fixava o olhar ao meu, como se estivesse decorando meu resto. Seus olhos revelavam cores castanhas e escuras, brilhando por detrás daquelas lentes estreitas e que lhe desenhavam bem o rosto. Léo sorriu de forma gentil, um pouco acanhado e mantendo o silêncio. Olhou para baixo, levemente corado e sem saber o que fazer. Então, num ato repentino, ele me abraçou de maneira forte e carinhosamente. - Sim, serei SEU anjo. Aquele que vai apenas quando dorme e que chega antes de acordar. O abraço dele era confortável, macio e quente. Encostei a cabeça no peito de Léo, sentindo nitidamente seu coração bater suave e calmo, uma perfeita sintonia com o meu próprio. Sorri ao perceber o quanto aquilo me deixava feliz. - E se eu pedir pra não me deixar nunca? E se eu quiser que esteja comigo até mesmo velando meu sono? O vento que ainda soprava ao nosso redor enfim parara, deixando apenas a calmaria, já antes existente no local. De repente tudo ficou mais acentuado e apaixonante. Léo se afastou de mim lentamente, seus olhos castanhos escuros fitando meu rosto. A respiração dele era como um sussurro, e Léo mantinha a mão esquerda entrelaçada à minha, e eu sabia que ele podia sentir meu peito arfar e voltar ao normal, conforme o ar entrava e saia de meu corpo, levando vida para dentro e devolvendo ao mundo - a mesma vida que eu encontrava nos olhos dele. - Então eu nunca te deixaria. Quando estiver dormindo, estarei contigo, e mesmo quando entrar no mundo dos sonhos, eu estarei o seu lado, atento. Mesmo que não me perceba, ali estarei pronto pra surgir quando preciso for. E até mesmo quando for a minha vez de dormir, e deitar de forma eterna abraçando e beijando o belo e convidativo sono da morte, a zelar por ti continuarei. Porque somos algo que o tempo não desgasta e o vento não leva. Amizade consagrada, bela e singela.
  • 3. Suas palavras eram tão doces, tão tenras, exatamente aquilo que eu queria escutar por tanto tempo, palavras que eu tinha deixado de acreditar que alguém soubesse e, pior, que alguém pudesse dizê-las á mim no ápice de todo o sentimento. Mas Léo era a verdadeira contradição, quebrando todas as correntes que me prendiam, me suspendendo com suas asas e com a força de seu coração e me levando até o alto céu azul. Eu senti o chão aos meus pés começar a se desfazer. Logo, todo o cenário tinha ganhado um branco ofuscante, e pétalas de flores aromatizadas caiam dos céus, como uma chuva de flores de todas as cores e aromas. Eu apenas o abracei, encostando minha cabeça em seu peito. Fechei meus olhos e deixei-me envolver. Se aquilo era um sonho, eu não queria acordar nunca. Nossa inocência, nossa sintonia eram tão perfeitas que me lembravam as teclas de um piano, tocadas suavemente e produzindo os mais doces acordes de uma canção de ninar. Um Poeta e um Cientista, criando ali um universo só deles. Eu tive medo de estragar o momento. Medo de dizer ou fazer algo precipitado demais, como eu sempre fazia. Ele estava sendo tão cuidadoso e atencioso comigo e eu, até então, tinha sido egoísta o bastante para apenas desejá-lo, sem me oferecer a ele, como queria meu coração. - O meu coração é um vale, um rio, um oceano. Um lugar onde você pode deitar e sentir, onde pode mergulhar e descansar tranqüilo de todos os teus medos e aflições. Meu espírito vela teu sono, guarda tua segurança e canta para que você durma. Porque nada até então foi mais especial na minha vida do que essa inocência que você está me ensinando a viver agora. Talvez sejamos amigos, talvez sejamos mais do que isso, talvez isso seja minha imaginação. Mas eu sou bobo e apaixonado, e só sei que quero estar perto de você, sempre. Apenas isso. Olhei-o com suplica de uma criança que deseja que o pai faça por ela aquilo que ninguém mais pode fazer. Passei meus dedos suavemente por sua orelha, arrumando seus cabelos por detrás das articulações, deixando meus dedos roçarem suavemente por seu rosto bonito e jovial, agora o mais novo morador dos meus sonhos e da minha mente. - Quero te fazer meu segredo. Quero te fazer meu intento. – continuei, olhando no fundo dos olhos dele - Quero te fazer meu. E sem mais nada para dizer ou descrever, até porque eu jamais teria palavras ou adjetivos para descrever o que passava pelo meu coração naquele momento, eu o beijei, nos lábios, da forma mais doce que pude. Meu coração começou a bater mais rápido, retumbando em meu interior causando grande eco e agitação. Meus dedos se entrelaçaram ao dele e quando nossos lábios selaram-se de forma doce e suave, pude sentir todo o seu mel percorrer meu corpo, espalhando-se por mim. A começar pela minha boca, que bebia diretamente da fonte tamanha doçura. Quando finalmente nos separamos, com o fim do beijo, e ainda assim, próximos o suficiente para outra situação como aquela, a expressão dele mudou como o céu do celeste ao nublado. - O que foi? - perguntei. - Queria eu também ser inteiramente seu, da forma como se ofereces a mim. Posso te dar minha amizade, meu amor fraternal e minha companhia em
  • 4. todas as horas. Mas apenas isso. Minha paixão já percorre por outros calorosos e doces vales. Não vou te deixar, tampouco te jogarei ao leu e muito menos seria contigo como um carrasco é com sua vítima. Serei seu anjo da guarda, enviado para te olhar e guardar, porém um anjo e não o deus do amor em si, que embora também alado, seja bem diferente. Desculpe-me se não pude ser o que quer ou esperava, mas não controlo esse pequeno eu que bate dentro de meu peito e que a outra pessoa pertence. Parte dele é tua. De tua amizade, inocência e gentileza. Eu segurei a mão dele levemente, mantendo o segredo do momento entre nós dois, como um elo que eu queria que jamais pudesse se partir. Mas uma corda quando muito forçada, uma linha tênue quando tem sua resistência subestimada, todas essas coisas se partem, pelo menos quando ainda não está forte o bastante para suportar o rigor de um inverno. Mais uma vez eu tinha sido precipitado demais. Eu havia ganhado um anjo e queria mais do que isso. No fim das contas, eu ainda continuava a ser o poeta da cobiça, que deseja sempre as estrelas que não podia alcançar. Alguém que ama tudo aquilo que não lhe pertence, mas que espera, ainda assim, ser salvo quando todas as bombas explodirem. Um poeta que jura amor eterno no primeiro segundo e que tem o tempo seja ele curto ou longo, como duas facetas do mesmo tamanho. O POETA ATEMPORAL. Eu jamais aprenderia a dançar uma música lenta, porque nenhum parceiro de dança seria paciente o suficiente para tirar minhas mãos da marcha e me fazer deixar o carro estancar. Ninguém estava na mesma velocidade que eu, um garoto de dezenove anos que atravessava a era medieval e o iluminismo, as revoluções francesas, inglesas e industriais, as reformas protestantes e guerras mundiais, todas as explosões do mundo, tudo isso em um único segundo. Só havia uma paisagem que eu gostava de admirar: os meus próprios sonhos. Mas eu não chorei, pelo menos não na frente de Leonardo. Eu tentei sorrir e parecer o mais natural do mundo, mesmo que já estivesse sentindo meu nível ficar cada vez mais distante do dele. A luz que brilhava ofuscante em meu peito aos poucos foi perdendo a intensidade que outrora se comparava ao sol. Aquela era mais uma ocasião onde eu ofertava meu coração em uma bandeja de prata e, para minha surpresa, eu o tinha lançado ao vento, mas permanecia ali, com peito aberto e nada a receber. Outra vez eu decidira falar, mesmo que não houvesse ninguém disposto a ouvir. Outra vez eu chegara tarde demais na conquista por um espaço no peito de alguém. Era a confirmação, a certeza de que tinha nascido para casar-me com a solidão, a moradora dos corações empobrecidos e que não cobrava aluguel, reservando ao dono da pensão uma vida de pesadelos: uma vida sem amor. Eu passara por aquele momento tantas vezes, mas ainda assim me machucava com tal intensidade que era forte demais para eu sorrir e dizer "tudo bem, isso acontece, é normal". Calei minha alma para não abrir minha angustia na frente de alguém que me queria ver sorrir, alguém que queria ser parte do sorriso sincero que eu estampei segundos atrás. - O sol vai nascer a qualquer minuto. Acho que não é bom que nenhum de nós permaneça acordado. Esbocei o sorriso mais amarelo de meu arsenal, como se eu realmente acreditasse que aquela desculpa teria algum cabimento. De repente, todo o universo construído, as flores, os cheiros, a intensidade, tudo se dissipou num turbilhão de emoções frustradas,
  • 5. as minhas emoções, negativas o bastante para me desconectar da magia do momento. Nem mesmo o vento soprava mais, e eu soube que campos como aqueles só eram visíveis porque o destino não era tão impiedoso, pelo menos não no dia do meu aniversário. - Obrigado pelo presente. - e deixei minha mão acariciar o rosto dele mais uma vez, antes de virar lentamente e voltar caminhando pela tortuosa estrada de barro, sozinho. A estrada levava à cabana de madeira, onde a porta dos fundos dava acesso a minha realidade, totalmente diferente do que tinha vivido minutos antes. Eu tinha sonhado alto demais, e consegui estragar tudo no último segundo, sendo precipitado o bastante parar querer o mel no primeiro dia de busca. Eu apressei toda a magia, não a descrevi como gostaria e agora, tinha perdido-a de vez. Eu não podia guardar em mim só metade de um coração, não. Eu precisava de um coração inteiro, completo, vivo, pulsante, cuja principal característica fosse a reciprocidade, e isso estava me sendo negado, até mesmo em minhas próprias fantasias. Eu tinha todas as razões do mundo para perder a esperança, mas alguém me lembrara que não era esse o intuito de viver. O amor não deve vir como uma coisa que se busca avidamente, mas como uma conseqüência de nosso merecimento, nosso esforço em buscar as outras virtudes da vida. “ Posso te dar minha amizade, meu amor fraternal e minha companhia em todas as horas. Mas apenas isso.” Refleti sobre as palavras de Leonardo e descobri que, por hora, era o que me basta. “A pergunta é... até quando vai durar essa hora?", me perguntei em pensamento, antes de sumir no último trem que embarcava rumo à realidade, que chegaria com o sol daquela manhã.