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As concepções filosóficas
acerca do corpo
 Ao longo de toda história da Filosofia,
contextualizada pela própria história da
humanidade, o corpo tem sido
apresentado sob diferentes
conceituações e problematizações.
 Já foi considerado como prisão da alma,
fonte de pecados e tentações, máquina,
objeto de poder, objeto de prazer. Todas
essas concepções, ao responderem à
pergunta do que venha a ser o corpo,
deram pistas ao que vem a ser o próprio
ser humano.
Os primeiros estudos
 Apresentavam o corpo na sua dualidade corpo/alma. Essa dualidade não
apresentava somente duas dimensões, mas uma hierarquia em que a alma se
sobrepunha sobre o corpo.
 Sustentando essa visão dualista, Platão afirmava que o corpo era o cárcere
da alma. No corpo, encontra-se, a raiz de todo mal: paixões, loucuras,
patologias e discórdias. O corpo era, para ele, a realidade sensível, enquanto
que a alma era a realidade inteligível.
 A morte seria, portanto, a libertação da alma de seu cárcere, o corpo. Neste
sentido, para Platão, o bom filósofo é aquele que consegue realizar duas
fugas: fuga do corpo e fuga do mundo. A fuga do corpo representa o desejo
do filósofo pela verdadeira vida, a morte do corpo. A fuga do mundo revela-
se no desejo do filósofo em tornar-se virtuoso, viver segundo o espírito, longe
das paixões do mundo.
O corpo na Idade Média
 Na Idade Média, o corpo é compreendido como dimensão de pecado e
que atrapalha a relação com Deus
 Nos conventos e mosteiros, eram comuns as práticas de mortificações e
penitências corporais em que os monges tinham que infligir dores no
próprio corpo para fugir da tentação do desejo carnal. A atividade seria
de aplicar em si mesmo chicotadas; ficar de joelhos em pedras ou objetos
pontiagudos; passar fome durante um tempo significativo; e, em
experiências mais extremas, mutilar de partes do corpo. Todas essas
experiências deveriam provocar sofrimento, visando ao desprezo do
corpo.
O corpo na Idade Moderna
 Principalmente na Filosofia de René Descartes, o corpo passa a ser visto
como uma máquina com leis mecânicas perfeitamente calculáveis.
 A perfeição da máquina apresenta-se tanto em seu conjunto quanto em
suas partes. Essa visão mecanicista do corpo está baseada no método
científico e numa visão matematizada da vida, em que tudo deve ser
calculado e mensurado.
O corpo como
corpo
 Não podemos defini o corpo a partir de um só conceito, assim como
feito até a Idade Moderna. O corpo possui diversificadas dimensões,
assim como funções.
 Os alemães possuem duas palavras para defini-lo: Körper e Lerb. Körper é
utilizada para definir a dimensão física do corpo, sua materialidade e
organicidade, o corpo enquanto corpo mesmo. Lerb refere-se à
dimensão mais intencional do corpo, mais existencial. O corpo, enquanto
condição de humanização e presença do ser humano, a consciência
humana de corpo.
 O corpo humano é um organismo vivo, assim como o dos outros animas que
fazem parte do ecossistema. Mas, diferente dos animais, o ser humano nasce
com seu corpo em construção. Nascemos totalmente dependentes de
cuidados. Funções como falar, caminhar, entre outras que desenvolvemos,
precisam ser aprendidas dentro de tempos específicos. Tempos esses que na
Psicologia do desenvolvimento, chamam-se fases.
 Somos bípedes, nos posicionamos e caminhamos com dois pés. Nossa postura
física é vertical e não horizontal como a maioria dos outros animais. Para a
ciência, essa postura vertical permitiu que o homem desenvolvesse seus
membros superiores, os braços, e favoreceu um olhar e uma relação diferente
com a natureza, o desenvolvimento de habilidades mentais.
Mulher usando burka – o corpo
escondido.
Indígenas:
o corpo
como
parte da
natureza.
Indígena: o
corpo como
símbolo de
escrita e
símbolos.
Preto e Branco: corpos em relação.
Ponto de vista lerb ou existencial do
corpo
 Sabemos que possuímos um corpo ou que somos corpo. Esta consciência
nos permite uma relação diferenciada conosco mesmos.
 Sabemos que nosso corpo é inacabado e essa compreensão de
inacabamento estende-se à nossa própria condição enquanto ser
humano. Neste sentido é que, antropologicamente, afirma-se que o ser
humano possui corpo próprio. Dimensão que, segundo Lima Vaz(1991), é
o lugar fundamental do lugar propriamente humano. Compreender o ser
humano inclui, necessariamente, compreender a sua dimensão corpórea.
 A partir de sua dimensão corpórea, o ser humano é presença no mundo,
mas é realizador, juntamente com os outros, do mundo. Os filósofos
existencialistas (Heidegger, Sartre e outros) distinguem duas formas de
presença do homem de se relacionar com o mundo: estar-aí e ser-aí.
 Estar-aí é uma postura passiva, em que o homem se faz presente, mas
sem uma intenção de intervenção, sem construção da vida e do
universo, sem desejos. A partir da dimensão de ser-aí, o homem se
apresenta ativamente ao mundo e nele intervém.
Definição das funções da
corporeidade humana
 Mundanizante: o corpo humano ocupa uma posição espacial no mundo.
Através do corpo, o ser humano apresenta-se ao mundo e dele faz parte.
 Epistemológica: através do corpo, o homem conhece o mundo e
conhece a si mesmo. É possuidor de autoconsciência.
 Econômica: através do corpo, o homem toma posse dos objetos.
Expande-se aos objetos como prolongamento do próprio corpo.
 Ascética: a partir do corpo, o ser humano exerce domínio de suas ações.
Controla seus hábitos e seus vícios.
Outras características da dimensão
corpórea
 uma das mais presentes é a noção de finitude. O ser humano sabe que se
o seu corpo não for cuidado, ele adoece e pode perecer. A morte faz
parte da consciência humana, ou seja, o ser humano sabe-se finito. Esta
consciência lhe abre para o medo do fim e, ao mesmo tempo, para o
adiamento do mesmo. Mas, mesmo com a morte, o corpo ainda
permanece como sinal de identidade. Uma pessoa só é considerada
morta depois de encontrado seu corpo. Em caso de desaparecimentos
em que se encerram as buscas, ainda resta, nos parentes, a sensação de
que a pessoa não morreu.
 O corpo humano, mais que um organismo de células, tecidos, músculos e
órgãos, é a sua própria forma de relação com o mundo. Mais do que o
aspecto físico, é uma realidade mais profunda. É realidade intencional e
construtora dos desejos e dos amores; das guerras e batalhas; da saúde e
da doença; da vida em sua plenitude e da morte enquanto presença
mundanizante.
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  • 2.  Ao longo de toda história da Filosofia, contextualizada pela própria história da humanidade, o corpo tem sido apresentado sob diferentes conceituações e problematizações.  Já foi considerado como prisão da alma, fonte de pecados e tentações, máquina, objeto de poder, objeto de prazer. Todas essas concepções, ao responderem à pergunta do que venha a ser o corpo, deram pistas ao que vem a ser o próprio ser humano.
  • 3. Os primeiros estudos  Apresentavam o corpo na sua dualidade corpo/alma. Essa dualidade não apresentava somente duas dimensões, mas uma hierarquia em que a alma se sobrepunha sobre o corpo.  Sustentando essa visão dualista, Platão afirmava que o corpo era o cárcere da alma. No corpo, encontra-se, a raiz de todo mal: paixões, loucuras, patologias e discórdias. O corpo era, para ele, a realidade sensível, enquanto que a alma era a realidade inteligível.  A morte seria, portanto, a libertação da alma de seu cárcere, o corpo. Neste sentido, para Platão, o bom filósofo é aquele que consegue realizar duas fugas: fuga do corpo e fuga do mundo. A fuga do corpo representa o desejo do filósofo pela verdadeira vida, a morte do corpo. A fuga do mundo revela- se no desejo do filósofo em tornar-se virtuoso, viver segundo o espírito, longe das paixões do mundo.
  • 4. O corpo na Idade Média  Na Idade Média, o corpo é compreendido como dimensão de pecado e que atrapalha a relação com Deus  Nos conventos e mosteiros, eram comuns as práticas de mortificações e penitências corporais em que os monges tinham que infligir dores no próprio corpo para fugir da tentação do desejo carnal. A atividade seria de aplicar em si mesmo chicotadas; ficar de joelhos em pedras ou objetos pontiagudos; passar fome durante um tempo significativo; e, em experiências mais extremas, mutilar de partes do corpo. Todas essas experiências deveriam provocar sofrimento, visando ao desprezo do corpo.
  • 5. O corpo na Idade Moderna  Principalmente na Filosofia de René Descartes, o corpo passa a ser visto como uma máquina com leis mecânicas perfeitamente calculáveis.  A perfeição da máquina apresenta-se tanto em seu conjunto quanto em suas partes. Essa visão mecanicista do corpo está baseada no método científico e numa visão matematizada da vida, em que tudo deve ser calculado e mensurado.
  • 7.  Não podemos defini o corpo a partir de um só conceito, assim como feito até a Idade Moderna. O corpo possui diversificadas dimensões, assim como funções.  Os alemães possuem duas palavras para defini-lo: Körper e Lerb. Körper é utilizada para definir a dimensão física do corpo, sua materialidade e organicidade, o corpo enquanto corpo mesmo. Lerb refere-se à dimensão mais intencional do corpo, mais existencial. O corpo, enquanto condição de humanização e presença do ser humano, a consciência humana de corpo.
  • 8.  O corpo humano é um organismo vivo, assim como o dos outros animas que fazem parte do ecossistema. Mas, diferente dos animais, o ser humano nasce com seu corpo em construção. Nascemos totalmente dependentes de cuidados. Funções como falar, caminhar, entre outras que desenvolvemos, precisam ser aprendidas dentro de tempos específicos. Tempos esses que na Psicologia do desenvolvimento, chamam-se fases.  Somos bípedes, nos posicionamos e caminhamos com dois pés. Nossa postura física é vertical e não horizontal como a maioria dos outros animais. Para a ciência, essa postura vertical permitiu que o homem desenvolvesse seus membros superiores, os braços, e favoreceu um olhar e uma relação diferente com a natureza, o desenvolvimento de habilidades mentais.
  • 9. Mulher usando burka – o corpo escondido. Indígenas: o corpo como parte da natureza. Indígena: o corpo como símbolo de escrita e símbolos. Preto e Branco: corpos em relação.
  • 10. Ponto de vista lerb ou existencial do corpo  Sabemos que possuímos um corpo ou que somos corpo. Esta consciência nos permite uma relação diferenciada conosco mesmos.  Sabemos que nosso corpo é inacabado e essa compreensão de inacabamento estende-se à nossa própria condição enquanto ser humano. Neste sentido é que, antropologicamente, afirma-se que o ser humano possui corpo próprio. Dimensão que, segundo Lima Vaz(1991), é o lugar fundamental do lugar propriamente humano. Compreender o ser humano inclui, necessariamente, compreender a sua dimensão corpórea.
  • 11.  A partir de sua dimensão corpórea, o ser humano é presença no mundo, mas é realizador, juntamente com os outros, do mundo. Os filósofos existencialistas (Heidegger, Sartre e outros) distinguem duas formas de presença do homem de se relacionar com o mundo: estar-aí e ser-aí.  Estar-aí é uma postura passiva, em que o homem se faz presente, mas sem uma intenção de intervenção, sem construção da vida e do universo, sem desejos. A partir da dimensão de ser-aí, o homem se apresenta ativamente ao mundo e nele intervém.
  • 12. Definição das funções da corporeidade humana  Mundanizante: o corpo humano ocupa uma posição espacial no mundo. Através do corpo, o ser humano apresenta-se ao mundo e dele faz parte.  Epistemológica: através do corpo, o homem conhece o mundo e conhece a si mesmo. É possuidor de autoconsciência.  Econômica: através do corpo, o homem toma posse dos objetos. Expande-se aos objetos como prolongamento do próprio corpo.  Ascética: a partir do corpo, o ser humano exerce domínio de suas ações. Controla seus hábitos e seus vícios.
  • 13. Outras características da dimensão corpórea  uma das mais presentes é a noção de finitude. O ser humano sabe que se o seu corpo não for cuidado, ele adoece e pode perecer. A morte faz parte da consciência humana, ou seja, o ser humano sabe-se finito. Esta consciência lhe abre para o medo do fim e, ao mesmo tempo, para o adiamento do mesmo. Mas, mesmo com a morte, o corpo ainda permanece como sinal de identidade. Uma pessoa só é considerada morta depois de encontrado seu corpo. Em caso de desaparecimentos em que se encerram as buscas, ainda resta, nos parentes, a sensação de que a pessoa não morreu.  O corpo humano, mais que um organismo de células, tecidos, músculos e órgãos, é a sua própria forma de relação com o mundo. Mais do que o aspecto físico, é uma realidade mais profunda. É realidade intencional e construtora dos desejos e dos amores; das guerras e batalhas; da saúde e da doença; da vida em sua plenitude e da morte enquanto presença mundanizante.