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                                                                                 Machado de Assis




                                                     O que é ler

         Levando em consideração as contradições presentes na sociedade brasileira, eu diria que 
 ler é , numa primeira instância , possuir elementos de combate à alienação e ignorância.Para ser 
 compreendida , esta definição deve levar em conta a própria estrutura subjacente à sociedade 
 brasileira , ou seja ,a dicotomia das classes sociais,mantida pela ideologia(ou visão de mundo) 
 da classe que está no poder. Dominar o mecanismo da leitura e ter acesso àqueles livros que 
 falam criticamente e a respeito da estrutura hierárquica ,ditatorial e discriminatória , da estrutura 
 ; enfim , injusta da nossa sociedade é ser capaz de detectar aqueles aspectos que , através das 
 manobras   ideológicas   servem   para   alienar   ,   massificar   e   forçar   o   povo   a   permanecer   na 
 ignorância.Dessa   forma   ,   a   pessoa   que   sabe   ler   e   executa   essa   prática   social   em   diferentes 
 momentos de sua vida tem a possibilidade de desmascarar os ocultamentos feitos e impostos 
 pela classe dominante ,posicionar­se frente a eles e lutar contra eles.
             Mais   especificamente,   o   ato   de   ler   se   constitui   num   instrumento   de   luta   contra   a 
 dominação. Sabemos que o acesso à escrita(ao livro) em nossa sociedade aparece como um 
 privilégio de classe , comprovado historicamente. A manipulação do povo ocorre através de uma 
 real  contradição: ao mesmo tempo em que se prega o valor do livro e da leitura , tenta­se 
 esconder o fato de que as condições de produção não são tão concretas assim. E eu sempre tenho 
 dito que a existência de um volumoso número de analfabetos , a inexistência de bibliotecas 
 populares   ,   a   ausência   de   uma   política   para   a   promoção   da   leitura   ...são   ,   em   verdade   , 
 fenômenos muitos bem “calculados” pelo poder dominante ,isto porque uma pessoa letrada ,que 
 possui a capacidade de penetrar nos horizontes colocados em livros e similares, é capaz de 
 colher subsídios para posicionar­se frente aos problemas sociais. A presença de leitores críticos 
 sem dúvida incomodaria bastante a política da ignorância e da alienação , estabelecida pelos 
 regimes ditatoriais e disseminada através dos aparelhos ideológicos do Estado.
            Temos de considerar ainda que estamos vivendo numa sociedade letrada. Isto quer dizer 
 que os veículos escritos são necessários à própria sobrevivência e atualização dos homens nesse 
 tipo de sociedade. E se as etapas evolutivas da civilização garantem à sociedade a condição ou 
 categoria   de   “letrada”   ,   isto   quer   dizer   a   formação   de   leitores   se   coloca   como   uma 
responsabilidade do Estado. Assim , “ler” é um direito de todos os cidadãos; direito este que 
decorre das próprias formas pelas quais os homens se comunicam nas sociedades letradas. A 
presença   de   analfabetos(iletrados)   no   Brasil   não   nasce   por   acaso   ou   porque   os   indivíduos 
optaram por não­ler; o problema é que as autoridades não estão interessadas em desenvolver o 
gosto pela leitura junto a todos os segmentos da população.
           Verifiquem que estou tentando conceber a leitura a partir de considerações sociais e em 
função das contradições presentes na realidade brasileira. Uma concepção que fugisse àquilo que 
o povo concretamente sente e vive seria utópica e , ao mesmo tempo banalizante. Recuperando , 
pois , a nossa concepção temos que ler é um direito de todos e ,ao mesmo tempo,um instrumento 
de combate à alienação e ignorância.Caracterizo estes aspectos de definição como decorrentes 
de uma vertente política , segundo os fatos que podemos perceber na realidade brasileira.
           Seguindo uma vertente educacional , tentando levantar os aspectos relacionados com o 
ensino –aprendizagem da leitura(seja na escola ou biblioteca) ,num outro trabalho...eu tentei 
caracterizar a leitura como crítica. A leitura crítica é condição para a educação libertadora ,é 
condição   para   a   verdadeira   ação   cultural   que   deve   ser   implementada   nas   escolas(e 
bibliotecas)>A explicitação deste tipo de leitura , que está longe de ser mecânica(isto é ,não 
geradora   de   novos   significados),   será   aqui   feita   através   da   caracterização   do   conjunto   de 
exigências   com   o   qual   o   leitor   crítico   se   defronta   ao   confrontar   um   texto   escrito   ,   ou 
seja ,constatar,cotejar e transformar.
           É   importante   dizer   que   as   exigências   não   são   aqui   estabelecidas   em   termos   de 
habilidades segmentadas. Dentro dada perspectiva pedagógica de cunho positivista , é muito 
comum   o   retalhamento   dos   atos   da   consciência   para   fins   de   operacionalização   e 
quantificação.Uma  visão   humanista   da   leitura   ,  como   esta   que  pretendo   delinear   ,  foge   aos 
padrões do pragmatismo e de outras ortodoxias pedagógicas.O ato crítico de ler aparece como 
uma   constelação   de   atos   da   consciência   do   leitor   ,   que   são   acionados   durante   o   Encontro 
significativo   desse   leitor   com   uma   mensagem   escrita   ,   ou   seja,   quando   esse   leitor   se   situa 
concreta e criticamente no ato de ler.É este situar­se (isto é , estar presente com e na mensagem) 
que garante o caráter libertador, do ato de ler – o leitor se conscientiza de que o exercício de sua 
consciência   sobre   o   material   escrito   não   visa   o   simples   reter,   memorizar   ou   reproduzir 
literalmente o conteúdo da mensagem indiciada pelos caracteres escritos mas principalmente o 
compreender e o criticar.

       A   constatação   do   significado   de   um   documento   escrito   nada   mais   é   do   que   uma 
compreensão   primeira   dos   conteúdos   pretendidos.   O   leitor   crítico,   movido   por   sua 
intencionalidade em direção a um horizonte de realidade, desvela o significado pretendido pelo 
autor   da   mensagem,   mas   não   permanece   nesse   primeiro   nível,   ele   reage,   questiona, 
problematiza, aprecia com criticidade. Como empreendedor de um PROJETO, acionado pela 
dinâmica de um processo, o leitor­crítico necessariamente se faz ouvir. A criticidade faz com 
que   o   leitor   não   só   compreenda   as   ideias   veiculadas   por   um   autor,   mas   leva­o   também   a 
posicionar­se diante delas, dando início ao COTEJO, à REFLEXÃO das ideias projetadas na 
trajetória feita durante o ato de constatação.

      Através dos atos de decodificar e refletir (implícitos na constatação e cotejo/reflexão), 
novos horizontes se abrem para o leitor, pois ele inevitavelmente experiência outras alternativas 
de ser e existir em sociedade. Mas, o pleno desenvolvimento de novas alternativas somente pode 
ser conseguido na TRANSFORMAÇÃO, isto é, na ação sobre o conteúdo do conhecimento, 
extraído do documento selecionado para ler.

      Caracterizar a práxis da leitura em termos do complexo “CONSTATAÇÃO, REFLEXÃO 
e   TRANSFORMAÇÃO”,   por   parte   do   leitor,   nada   mais   é   do   que   excluir   qualquer   aspecto 
opressor   de   uma   mensagem   escrita   (ou   do   uso   que   comumente   se   faz   dela   em   escolas, 
bibliotecas, etc...); é, ao contrário, colocar a mensagem escrita em termos de uma possibilidade 
para a reflexão, questionamento e recriação do real.

      A leitura se efetuada dentro de moldes críticos, sempre leva à produção ou construção de 
um outro texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre é gerador 
de expressão: o desvelamento do próprio SER do leitor, levando­o a participar do destino na 
sociedade o qual ele pertence. Assim, esse tipo de leitura é muito mais do que um simples 
processo de apropriação. E reprodução de significados; essa leitura deve ser caracterizada como 
um   PROJETO,   pois   concretiza­se   numa   proposta   pensada   e   executada   pelo   ser­no­mundo, 
dirigida ao outro.

       POR QUE LER?

       Uma resposta à questão “Por que ler” leva­nos à região das razões ou motivos subjacentes 
à leitura. Muitos autores de reconhecida competência, apresentam classificações ou taxionomias 
dos motivos geradores de leitura. Prefiro, nesta minha exposição, discorrer um pouco sobre os 
motivos   para   as   minhas   próprias   leituras,   dentro   no   meu   cotidiano   de   vida.   Dessa   forma, 
evitaremos   o   academicismo   geralmente   resultante   da   apropriação   de   outros   referenciais   e 
tornaremos a nossa discussão um ouço mais íntima e mais propícia ao diálogo e ao debate.

      Eu   colocaria   às   várias   leituras   que   comumente   faço   em   três   categorias   básicas: 
informação,   conhecimento   e   prazer.   Não   são   categorias   estanques   à   medida   em   que   um 
propósito pré­estabelecido para um determinado tipo de leitura pode modificar­se no transcorrer 
dessa mesma leitura, conforme o teor do próprio material escrito com o qual entro em confronto 
ou, ainda conforme, as minhas disposições pessoais.

       A leitura informacional me mantém atualizado acerca dos acontecimentos que ocorrem ao 
meu redor. Com o objetivo de acompanhar os fatos do meu contexto e de outros contextos, dirijo 
a   minha   consciência,   habitualmente,   para   aqueles   veículos   escritos   (diários,   semanários   ou 
mensários) que funcionam como difusores rápidos de informações. É assim que todas ou quase 
todas   as   manhãs,  eu  pego  os   jornais  deixados  na  porta  do meu  apartamento ou  as   revistas 
entregues semanalmente a fim de analisar a evolução dos fatos sociais. Esse tipo de leitura me 
transforma numa pessoa preocupada com a dinâmica do dia­a­dia das “coisas” e me permite a 
coleta de ideias para um posicionamento crítico diante da evolução dos fatos.

      A   leitura   de   conhecimento   está   diretamente   relacionada   com   os   meus   processos   de 
pesquisa e estudo. Enquanto uma pessoa que optou por uma profissão e que, por isso mesmo, 
tem determinadas responsabilidade sociais a cumprir, o estudo permanente daqueles conteúdos 
circunscritos à minha área de atuação na sociedade coloca­se como fundamental. Dessa forma, 
dentro da minha cotidianidade, existe sempre um espaço de tempo em que a minha consciência 
busca aqueles escritos que se referem aos problemas culturais da sociedade brasileira e, mais 
especificamente, à problemática da leitura. E mesmo quando não me sobra tempo para esse tipo 
de leitura, devido a outros compromissos ou impedimentos, a sede de conhecimento e de livros 
se avoluma dentro de mim.

       A leitura de prazer estético conduz à poesia e a outros gêneros literários. Os horizontes 
propostos   pela   literatura   são   ilimitados   e   suas   interpretações,   dada   a   polissemia   da   palavra 
literária, infinitas. A convivência com textos literários, a motivação da busca de bons autores, 
em muito alimenta a minha consciência e me permite chegar a conhecimento os mais diversos. E 
é exatamente este tipo de leitura o mais prejudicado no ambiente escolar devido às próprias 
 distorções   existentes   no   nosso   sistema   de   ensino.   Ao   invés   do   prazer,   levantam­se   o 
 autoritarismo da obrigação, do tempo pré­determinado para a leitura, da ficha de leitura, da 
 interpretação pré­fixada a ser convergentemente reproduzida (como se isso fosse possível!) pelo 
 aluno­leitor e outros mecanismos que levam ao desgosto pela leitura e à morte paulatina dos 
 leitores.

       Gostaria que vocês percebessem que os três motivos ou propósitos básicos de leitura aqui 
 estabelecidos (informação, conhecimento e prazer estético) estão amarrados à natureza social do 
 ato de ler. É importante ressaltar, retomando Paulo Freire, que o texto a ser lido e criticamente 
 analisado por um leitor é sempre um trampolim para a compreensão mais profunda e objetiva do 
 contexto   humano.   Dessa  forma   e  levando  em  consideração  que  qualquer   tipo  de  linguagem 
 sempre   possui   um   referência   de   mundo/realidade,   ser   leitor   é   ser   capaz   de   aprender   os 
 referências   inscritos   num   texto,   o   que   significa   dizer   compreender   a   dinâmica   do   real   e 
 compreender­se como um ser que participa dessa dinâmica.

        Agora, já encerrando as minhas colocações e aguardando o início do debate, relembro que 
 todos   os   seres   humanos   possuem   um   potencial   inato   (biológico   e   psíquico)   para   ler   e 
 compreender qualquer tipo de linguagem. Ocorre que numa sociedade como a nossa onde a 
 injustiça é  reproduzida de  época para  época, esse potencial não é plenamente desenvolvido. 
 Consequentemente, a frase de Monteiro Lobato – “a um país se forja com homens e livros” – 
 ainda permanece como um grito parado no ar, esperando pro uma transformação radical na 
 estrutura de nossa sociedade.

          SILVA, Ezequiel Theodoro da
          Leitura na Escola e na Biblioteca, 3ª Ed. , Campinas, S.P.
          Papirus, 1991


          Disciplina ­ Letramento e a diversidade do gênero discursivo
          Data ­05 /05 /2007
          Luiz Moretto

        Ver   a  língua  de  um  ponto  de  vista  discursivo significa  ir  além  dos  horizontes  dados   pela 
gramática. Nos discursos produzidos pelo homem está toda a sua história, aquilo que foi dito e foi 
silenciado (que podemos recuperar pelas marcas e pistas deixadas) como: as relações de interação, 
de intercâmbio, de oposição ou polêmicas e, antagonismos estabelecidos. Enfim, as relações de 
poder, de dominação, de alianças, de silenciamentos. 
       Portanto, qual seria a importância do indivíduo em compreender a língua como discurso? Em 
que isso poderia contribuir para tornar os indivíduos em cidadãos críticos? Aliás, você acha que 
uma nação precisa de cidadãos críticos? Que relação tudo isso tem com o ato de ler e escrever?
          Espera­se que os estudantes   adquiram a capacidade de discutir e aplicar conhecimentos 
teóricos obtidos ao longo do curso (ou das disciplinas), e expor suas ideias sobre determinado tema, 
de forma clara e convincente. Para tal, o aluno  deve utilizar­se do discurso  e dos gêneros aceitos 
para uso dentro deste discurso (tanto oral como na modalidade escrita: o artigo de jornal, a resenha, 
o  relatório,   carta, poesia, narração, descrição,   dissertação, crônica,   paródia, resumo, paráfrase, 
humor,  etc. )  
       
  Adota-se uma visão de discurso como prática social, defendida pela Análise crítica do
discurso. Uma premissa básica é que a linguagem é uma forma de ação social. Primeiro:
que a linguagem é parte da sociedade, e não algo externo a ela. Segundo: que a
linguagem é um processo social. E terceiro: que a linguagem é um processo socialmente
condicionado por outros elementos (não-linguísticos) da sociedade. A linguagem é parte
da sociedade; os fenômenos linguísticos são sociais de um tipo especial; e os fenômenos
sociais são (em parte) fenômenos lingusticos.
      
        Os fenômenos linguísticos são sociais na medida em que, sempre que alguém fala
ou ouve ou escreve ou lê, essas ações são feitas de forma socialmente condicionadas e
provocam efeitos sociais. Por outro lado, os fenômenos sociais são linguísticos na medida
em que as atividades linguísticas que ocorrem em contextos sociais não é um mero reflexo
ou expressão de processos e práticas sociais, na verdade elas são partes desses processos
e práticas.
      
       Os analistas críticos do discurso acreditam que práticas sociais e práticas discursivas
se apoiam mutuamente, i.e., a linguagem é tanto fonte quanto receptora de processos
discursivos, sociais e ideológicos mais amplos. Devido a esta inter-relação entre discurso e
sociedade, as instituições sociais dependem profundamente da linguagem. Assim sendo, o
indivíduo passa a dialogar consigo mesmo, com o ambiente e o mundo, tornando-se um
cidadão crítico ou passivo quando agir sem interação.
      
        Portanto, o  letramento por meio do discurso faz com que o indivíduo observe a
diversidade de gêneros; cujos textos, além de apresentarem uma estrutura linguística,
contém a extralinguística . Assim, qualquer pedagogia de letramento tem que se
preocupar não apenas com as formalidades do funcionamento dos textos, mas também
com a realidade social viva dos textos em uso. “O que um texto faz é resultado do fim
para o qual ele é utilizado”.


          Dessa forma, as causas das diferenças entre os textos podem ser encontradas em
suas funções sociais específicas. Nessa perspectiva, os gêneros são vistos como processos
sociais. Os textos assumem padrões estruturais relativamente previsíveis de acordo com
padrões de interação social dentro de determinada cultura. Em outras palavras, a
padronização textual se combina com a padronização social na forma de gêneros. “Os
gêneros são intervenções textuais na sociedade; e a sociedade em si nada seria sem a
linguagem com seus padrões previsíveis”.
       O processo de desenvolver a familiaridade dos alunos com o texto é, por um lado,
linguístico, passando da oralidade para formas de letramento que progressivamente se
distanciam da gramática da fala. Por outro lado, esse processo é também epistemológico
(estudo crítico dos métodos empregados nas ciências). Conforme os alunos são
introduzidos no discurso e nos [distintos] campos de conhecimento das disciplinas
escolares; também, eles se afastam do senso comum e se aproximam de um tipo de
senso não-comum – o senso não-comum que transmite conhecimentos técnicos e
especializados, e que possui formas próprias de criar significados no mundo.

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O que é ler: análise de Machado de Assis

  • 1.                                                                                  Machado de Assis O que é ler  Levando em consideração as contradições presentes na sociedade brasileira, eu diria que  ler é , numa primeira instância , possuir elementos de combate à alienação e ignorância.Para ser  compreendida , esta definição deve levar em conta a própria estrutura subjacente à sociedade  brasileira , ou seja ,a dicotomia das classes sociais,mantida pela ideologia(ou visão de mundo)  da classe que está no poder. Dominar o mecanismo da leitura e ter acesso àqueles livros que  falam criticamente e a respeito da estrutura hierárquica ,ditatorial e discriminatória , da estrutura  ; enfim , injusta da nossa sociedade é ser capaz de detectar aqueles aspectos que , através das  manobras   ideológicas   servem   para   alienar   ,   massificar   e   forçar   o   povo   a   permanecer   na  ignorância.Dessa   forma   ,   a   pessoa   que   sabe   ler   e   executa   essa   prática   social   em   diferentes  momentos de sua vida tem a possibilidade de desmascarar os ocultamentos feitos e impostos  pela classe dominante ,posicionar­se frente a eles e lutar contra eles.      Mais   especificamente,   o   ato   de   ler   se   constitui   num   instrumento   de   luta   contra   a  dominação. Sabemos que o acesso à escrita(ao livro) em nossa sociedade aparece como um  privilégio de classe , comprovado historicamente. A manipulação do povo ocorre através de uma  real  contradição: ao mesmo tempo em que se prega o valor do livro e da leitura , tenta­se  esconder o fato de que as condições de produção não são tão concretas assim. E eu sempre tenho  dito que a existência de um volumoso número de analfabetos , a inexistência de bibliotecas  populares   ,   a   ausência   de   uma   política   para   a   promoção   da   leitura   ...são   ,   em   verdade   ,  fenômenos muitos bem “calculados” pelo poder dominante ,isto porque uma pessoa letrada ,que  possui a capacidade de penetrar nos horizontes colocados em livros e similares, é capaz de  colher subsídios para posicionar­se frente aos problemas sociais. A presença de leitores críticos  sem dúvida incomodaria bastante a política da ignorância e da alienação , estabelecida pelos  regimes ditatoriais e disseminada através dos aparelhos ideológicos do Estado.     Temos de considerar ainda que estamos vivendo numa sociedade letrada. Isto quer dizer  que os veículos escritos são necessários à própria sobrevivência e atualização dos homens nesse  tipo de sociedade. E se as etapas evolutivas da civilização garantem à sociedade a condição ou  categoria   de   “letrada”   ,   isto   quer   dizer   a   formação   de   leitores   se   coloca   como   uma 
  • 2. responsabilidade do Estado. Assim , “ler” é um direito de todos os cidadãos; direito este que  decorre das próprias formas pelas quais os homens se comunicam nas sociedades letradas. A  presença   de   analfabetos(iletrados)   no   Brasil   não   nasce   por   acaso   ou   porque   os   indivíduos  optaram por não­ler; o problema é que as autoridades não estão interessadas em desenvolver o  gosto pela leitura junto a todos os segmentos da população.     Verifiquem que estou tentando conceber a leitura a partir de considerações sociais e em  função das contradições presentes na realidade brasileira. Uma concepção que fugisse àquilo que  o povo concretamente sente e vive seria utópica e , ao mesmo tempo banalizante. Recuperando ,  pois , a nossa concepção temos que ler é um direito de todos e ,ao mesmo tempo,um instrumento  de combate à alienação e ignorância.Caracterizo estes aspectos de definição como decorrentes  de uma vertente política , segundo os fatos que podemos perceber na realidade brasileira.     Seguindo uma vertente educacional , tentando levantar os aspectos relacionados com o  ensino –aprendizagem da leitura(seja na escola ou biblioteca) ,num outro trabalho...eu tentei  caracterizar a leitura como crítica. A leitura crítica é condição para a educação libertadora ,é  condição   para   a   verdadeira   ação   cultural   que   deve   ser   implementada   nas   escolas(e  bibliotecas)>A explicitação deste tipo de leitura , que está longe de ser mecânica(isto é ,não  geradora   de   novos   significados),   será   aqui   feita   através   da   caracterização   do   conjunto   de  exigências   com   o   qual   o   leitor   crítico   se   defronta   ao   confrontar   um   texto   escrito   ,   ou  seja ,constatar,cotejar e transformar.     É   importante   dizer   que   as   exigências   não   são   aqui   estabelecidas   em   termos   de  habilidades segmentadas. Dentro dada perspectiva pedagógica de cunho positivista , é muito  comum   o   retalhamento   dos   atos   da   consciência   para   fins   de   operacionalização   e  quantificação.Uma  visão   humanista   da   leitura   ,  como   esta   que  pretendo   delinear   ,  foge   aos  padrões do pragmatismo e de outras ortodoxias pedagógicas.O ato crítico de ler aparece como  uma   constelação   de   atos   da   consciência   do   leitor   ,   que   são   acionados   durante   o   Encontro  significativo   desse   leitor   com   uma   mensagem   escrita   ,   ou   seja,   quando   esse   leitor   se   situa  concreta e criticamente no ato de ler.É este situar­se (isto é , estar presente com e na mensagem)  que garante o caráter libertador, do ato de ler – o leitor se conscientiza de que o exercício de sua  consciência   sobre   o   material   escrito   não   visa   o   simples   reter,   memorizar   ou   reproduzir  literalmente o conteúdo da mensagem indiciada pelos caracteres escritos mas principalmente o  compreender e o criticar. A   constatação   do   significado   de   um   documento   escrito   nada   mais   é   do   que   uma  compreensão   primeira   dos   conteúdos   pretendidos.   O   leitor   crítico,   movido   por   sua  intencionalidade em direção a um horizonte de realidade, desvela o significado pretendido pelo  autor   da   mensagem,   mas   não   permanece   nesse   primeiro   nível,   ele   reage,   questiona,  problematiza, aprecia com criticidade. Como empreendedor de um PROJETO, acionado pela  dinâmica de um processo, o leitor­crítico necessariamente se faz ouvir. A criticidade faz com  que   o   leitor   não   só   compreenda   as   ideias   veiculadas   por   um   autor,   mas   leva­o   também   a  posicionar­se diante delas, dando início ao COTEJO, à REFLEXÃO das ideias projetadas na  trajetória feita durante o ato de constatação. Através dos atos de decodificar e refletir (implícitos na constatação e cotejo/reflexão),  novos horizontes se abrem para o leitor, pois ele inevitavelmente experiência outras alternativas  de ser e existir em sociedade. Mas, o pleno desenvolvimento de novas alternativas somente pode  ser conseguido na TRANSFORMAÇÃO, isto é, na ação sobre o conteúdo do conhecimento,  extraído do documento selecionado para ler. Caracterizar a práxis da leitura em termos do complexo “CONSTATAÇÃO, REFLEXÃO  e   TRANSFORMAÇÃO”,   por   parte   do   leitor,   nada   mais   é   do   que   excluir   qualquer   aspecto 
  • 3. opressor   de   uma   mensagem   escrita   (ou   do   uso   que   comumente   se   faz   dela   em   escolas,  bibliotecas, etc...); é, ao contrário, colocar a mensagem escrita em termos de uma possibilidade  para a reflexão, questionamento e recriação do real. A leitura se efetuada dentro de moldes críticos, sempre leva à produção ou construção de  um outro texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre é gerador  de expressão: o desvelamento do próprio SER do leitor, levando­o a participar do destino na  sociedade o qual ele pertence. Assim, esse tipo de leitura é muito mais do que um simples  processo de apropriação. E reprodução de significados; essa leitura deve ser caracterizada como  um   PROJETO,   pois   concretiza­se   numa   proposta   pensada   e   executada   pelo   ser­no­mundo,  dirigida ao outro. POR QUE LER? Uma resposta à questão “Por que ler” leva­nos à região das razões ou motivos subjacentes  à leitura. Muitos autores de reconhecida competência, apresentam classificações ou taxionomias  dos motivos geradores de leitura. Prefiro, nesta minha exposição, discorrer um pouco sobre os  motivos   para   as   minhas   próprias   leituras,   dentro   no   meu   cotidiano   de   vida.   Dessa   forma,  evitaremos   o   academicismo   geralmente   resultante   da   apropriação   de   outros   referenciais   e  tornaremos a nossa discussão um ouço mais íntima e mais propícia ao diálogo e ao debate. Eu   colocaria   às   várias   leituras   que   comumente   faço   em   três   categorias   básicas:  informação,   conhecimento   e   prazer.   Não   são   categorias   estanques   à   medida   em   que   um  propósito pré­estabelecido para um determinado tipo de leitura pode modificar­se no transcorrer  dessa mesma leitura, conforme o teor do próprio material escrito com o qual entro em confronto  ou, ainda conforme, as minhas disposições pessoais. A leitura informacional me mantém atualizado acerca dos acontecimentos que ocorrem ao  meu redor. Com o objetivo de acompanhar os fatos do meu contexto e de outros contextos, dirijo  a   minha   consciência,   habitualmente,   para   aqueles   veículos   escritos   (diários,   semanários   ou  mensários) que funcionam como difusores rápidos de informações. É assim que todas ou quase  todas   as   manhãs,  eu  pego  os   jornais  deixados  na  porta  do meu  apartamento ou  as   revistas  entregues semanalmente a fim de analisar a evolução dos fatos sociais. Esse tipo de leitura me  transforma numa pessoa preocupada com a dinâmica do dia­a­dia das “coisas” e me permite a  coleta de ideias para um posicionamento crítico diante da evolução dos fatos. A   leitura   de   conhecimento   está   diretamente   relacionada   com   os   meus   processos   de  pesquisa e estudo. Enquanto uma pessoa que optou por uma profissão e que, por isso mesmo,  tem determinadas responsabilidade sociais a cumprir, o estudo permanente daqueles conteúdos  circunscritos à minha área de atuação na sociedade coloca­se como fundamental. Dessa forma,  dentro da minha cotidianidade, existe sempre um espaço de tempo em que a minha consciência  busca aqueles escritos que se referem aos problemas culturais da sociedade brasileira e, mais  especificamente, à problemática da leitura. E mesmo quando não me sobra tempo para esse tipo  de leitura, devido a outros compromissos ou impedimentos, a sede de conhecimento e de livros  se avoluma dentro de mim. A leitura de prazer estético conduz à poesia e a outros gêneros literários. Os horizontes  propostos   pela   literatura   são   ilimitados   e   suas   interpretações,   dada   a   polissemia   da   palavra  literária, infinitas. A convivência com textos literários, a motivação da busca de bons autores,  em muito alimenta a minha consciência e me permite chegar a conhecimento os mais diversos. E 
  • 4. é exatamente este tipo de leitura o mais prejudicado no ambiente escolar devido às próprias  distorções   existentes   no   nosso   sistema   de   ensino.   Ao   invés   do   prazer,   levantam­se   o  autoritarismo da obrigação, do tempo pré­determinado para a leitura, da ficha de leitura, da  interpretação pré­fixada a ser convergentemente reproduzida (como se isso fosse possível!) pelo  aluno­leitor e outros mecanismos que levam ao desgosto pela leitura e à morte paulatina dos  leitores. Gostaria que vocês percebessem que os três motivos ou propósitos básicos de leitura aqui  estabelecidos (informação, conhecimento e prazer estético) estão amarrados à natureza social do  ato de ler. É importante ressaltar, retomando Paulo Freire, que o texto a ser lido e criticamente  analisado por um leitor é sempre um trampolim para a compreensão mais profunda e objetiva do  contexto   humano.   Dessa  forma   e  levando  em  consideração  que  qualquer   tipo  de  linguagem  sempre   possui   um   referência   de   mundo/realidade,   ser   leitor   é   ser   capaz   de   aprender   os  referências   inscritos   num   texto,   o   que   significa   dizer   compreender   a   dinâmica   do   real   e  compreender­se como um ser que participa dessa dinâmica. Agora, já encerrando as minhas colocações e aguardando o início do debate, relembro que  todos   os   seres   humanos   possuem   um   potencial   inato   (biológico   e   psíquico)   para   ler   e  compreender qualquer tipo de linguagem. Ocorre que numa sociedade como a nossa onde a  injustiça é  reproduzida de  época para  época, esse potencial não é plenamente desenvolvido.  Consequentemente, a frase de Monteiro Lobato – “a um país se forja com homens e livros” –  ainda permanece como um grito parado no ar, esperando pro uma transformação radical na  estrutura de nossa sociedade. SILVA, Ezequiel Theodoro da Leitura na Escola e na Biblioteca, 3ª Ed. , Campinas, S.P. Papirus, 1991 Disciplina ­ Letramento e a diversidade do gênero discursivo Data ­05 /05 /2007 Luiz Moretto         Ver   a  língua  de  um  ponto  de  vista  discursivo significa  ir  além  dos  horizontes  dados   pela  gramática. Nos discursos produzidos pelo homem está toda a sua história, aquilo que foi dito e foi  silenciado (que podemos recuperar pelas marcas e pistas deixadas) como: as relações de interação,  de intercâmbio, de oposição ou polêmicas e, antagonismos estabelecidos. Enfim, as relações de  poder, de dominação, de alianças, de silenciamentos.         Portanto, qual seria a importância do indivíduo em compreender a língua como discurso? Em  que isso poderia contribuir para tornar os indivíduos em cidadãos críticos? Aliás, você acha que  uma nação precisa de cidadãos críticos? Que relação tudo isso tem com o ato de ler e escrever?     Espera­se que os estudantes   adquiram a capacidade de discutir e aplicar conhecimentos  teóricos obtidos ao longo do curso (ou das disciplinas), e expor suas ideias sobre determinado tema,  de forma clara e convincente. Para tal, o aluno  deve utilizar­se do discurso  e dos gêneros aceitos  para uso dentro deste discurso (tanto oral como na modalidade escrita: o artigo de jornal, a resenha,  o  relatório,   carta, poesia, narração, descrição,   dissertação, crônica,   paródia, resumo, paráfrase,  humor,  etc. )     
  • 5.   Adota-se uma visão de discurso como prática social, defendida pela Análise crítica do discurso. Uma premissa básica é que a linguagem é uma forma de ação social. Primeiro: que a linguagem é parte da sociedade, e não algo externo a ela. Segundo: que a linguagem é um processo social. E terceiro: que a linguagem é um processo socialmente condicionado por outros elementos (não-linguísticos) da sociedade. A linguagem é parte da sociedade; os fenômenos linguísticos são sociais de um tipo especial; e os fenômenos sociais são (em parte) fenômenos lingusticos.       Os fenômenos linguísticos são sociais na medida em que, sempre que alguém fala ou ouve ou escreve ou lê, essas ações são feitas de forma socialmente condicionadas e provocam efeitos sociais. Por outro lado, os fenômenos sociais são linguísticos na medida em que as atividades linguísticas que ocorrem em contextos sociais não é um mero reflexo ou expressão de processos e práticas sociais, na verdade elas são partes desses processos e práticas.      Os analistas críticos do discurso acreditam que práticas sociais e práticas discursivas se apoiam mutuamente, i.e., a linguagem é tanto fonte quanto receptora de processos discursivos, sociais e ideológicos mais amplos. Devido a esta inter-relação entre discurso e sociedade, as instituições sociais dependem profundamente da linguagem. Assim sendo, o indivíduo passa a dialogar consigo mesmo, com o ambiente e o mundo, tornando-se um cidadão crítico ou passivo quando agir sem interação.       Portanto, o  letramento por meio do discurso faz com que o indivíduo observe a diversidade de gêneros; cujos textos, além de apresentarem uma estrutura linguística, contém a extralinguística . Assim, qualquer pedagogia de letramento tem que se preocupar não apenas com as formalidades do funcionamento dos textos, mas também com a realidade social viva dos textos em uso. “O que um texto faz é resultado do fim para o qual ele é utilizado”.   Dessa forma, as causas das diferenças entre os textos podem ser encontradas em suas funções sociais específicas. Nessa perspectiva, os gêneros são vistos como processos sociais. Os textos assumem padrões estruturais relativamente previsíveis de acordo com padrões de interação social dentro de determinada cultura. Em outras palavras, a padronização textual se combina com a padronização social na forma de gêneros. “Os gêneros são intervenções textuais na sociedade; e a sociedade em si nada seria sem a linguagem com seus padrões previsíveis”.        O processo de desenvolver a familiaridade dos alunos com o texto é, por um lado, linguístico, passando da oralidade para formas de letramento que progressivamente se distanciam da gramática da fala. Por outro lado, esse processo é também epistemológico (estudo crítico dos métodos empregados nas ciências). Conforme os alunos são introduzidos no discurso e nos [distintos] campos de conhecimento das disciplinas escolares; também, eles se afastam do senso comum e se aproximam de um tipo de senso não-comum – o senso não-comum que transmite conhecimentos técnicos e especializados, e que possui formas próprias de criar significados no mundo.