SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 1
SEGURANÇA SOCIAL quer encafuar 1500 trabalhadores num
edifício repleto de AMIANTO
Há cerca de um ano e meio o Fundo de Estabilização da Segurança Social (uma
reserva para o pagamento da pensões) gerido pelo Instituto de Gestão de Fundos de
Capitalização da Segurança Social (IGFCSS), comprou ao Fundo de Pensões da
CGD, por € 50 milhões, um volumoso edifício, em grande parte devoluto, na esquina
da Avenida de Berna com a Avenida 5 de Outubro, em Lisboa.
Foi declarada pelo governo a concentração ali dos serviços de atendimento da
Segurança Social e outros que vêm ocupando 13 edifícios espalhados pela capital.
Tudo parece um arejado acto de gestão mas… algo de criminoso e que vem sendo
ocultado, retira-lhe todo o brilho.
Sabe-se que não se pode tocar nas paredes do edifício, com um parafuso que seja,
porque foi ali utilizado, na construção, amianto; que, é conhecido, tem propriedades
cancerígenas, sobretudo para quem esteja por perto em parte substancial da sua vida.
E, claro, ninguém nas lideranças da Segurança Social, mormente do Instituto de
Segurança Social (ISS) alguma vez falou no assunto… com desprezo total pela saúde
dos trabalhadores que já deveriam ter sido para lá deslocados em junho último; uma
data que foi adiada para fevereiro próximo.
Curiosamente, entre as deslocações para o edifício contaminado, consta que o
Conselho Diretivo… vá mesmo para lá morar. Num antigo país de marinheiros, os
comandantes do navio em perigo, não se separam da tripulação; ou, são demasiado
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 2
ignorantes para saber o que é o amianto e os danos para a saúde pública que lhe
estão subjacentes.
…
Em outubro de 2010 a CGD vendeu ao Fundo de Pensões da CGD o referido edifício
– já esvaziado - por € 251.8 milhões, revelando uma mais-valia de € 103.7 milhões,
um valor próximo dos lucros do banco público no primeiro semestre daquele ano.
Depois, até recentemente, o edifício continuou desocupado, excepto na parte onde
esteve instalada a Caixa Geral de Aposentações, que gere as pensões dos
funcionários públicos e, que sempre funcionou na órbita da CGD; para além do próprio
Fundo de Pensões da CGD que passou a viver em casa própria.
Em 2017, o mesmo Fundo vende por € 50 milhões um edifício pelo qual pagara €
251.8 M, sete anos antes. Estranho, não?
Numa conjuntura de crescimento dos preços do imobiliário em que qualquer pardieiro
passa a habitação para turistas; quando se evidencia a falta de espaços para
escritórios na parte central da cidade de Lisboa (veja-se a apetência pelos terrenos da
antiga Feira Popular), um edifício projetado por Tomás Taveira e com uma menção
honrosa pela sua qualidade arquitetónica deveria, hoje, valer algo mais do que os €
251.8 milhões da transação de 2010, quando se anunciava o fracasso dos planos de
austeridade – os célebres PEC que vieram a atapetar a chegada da troika. Porque
será, então, que em 2017 o prédio foi vendido pela quinta parte do seu custo em
2010?
Há várias pistas a explorar em tanta estranheza:
 Será que em 2010, a CGD enganou a sua “sucursal” – o Fundo de Pensões dos
trabalhadores do banco público, gerido então por João Eduardo Gamito Faria -
com um valor exagerado do imóvel para lhe permitir encontrar uma origem para
metade dos lucros semestrais do banco?
 Nesse caso, os responsáveis de Fundo de Pensões, em 2010, foram
verdadeiros imbecis ou foram “comprados” pela administração da CGD, com
óbvio prejuízo para os aposentados atuais e futuros do grupo CGD.
 Se o valor da transação efetuada em 2010 foi o correto, o que aconteceu no
edifício para que em sete anos o seu valor corresponda apenas a 1/5 do que foi
considerado em 2010? O que aconteceu para tão enorme desvalorização? Como
diria Fausto “E assim vai Portugal, uns vão bem e muitos mal”.
Tudo indica que na CGD sempre se soube que o edifício estava contaminado pelo
amianto e que não poderia ser vendido no “mercado” pois qualquer avaliador
observaria as caraterísticas do edifício e, na sequência, desistiria da compra; ou
comprá-lo-ia por um valor desinteressante para a CGD, que obrigaria o banco a
registar um vultuoso prejuízo.
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 3
Por isso, a CGD procedeu a uma venda contida na sua órbita de gestão – o Fundo de
Pensões – transitando o imóvel empestado por um valor muito acima do seu valor
comercial, com os futuros prejuízos a cavar fundo nas poupanças dos reformados
atuais e futuros da CGD. Um brilhante acto de gestão…da administração de um Faria
de Oliveira, afeto ao PSD.
Em 2017 surgiu a solução salvadora, na procura do prejuízo mínimo por parte do
Fundo. Uma vez que no mercado imobiliário nunca surgiria um saloio endinheirado
que pagasse o valor que o Fundo de Pensões teria no balanço (mais ou menos os tais
€ 251.8 milhões), haveria de encarar uma venda com prejuízo, como veio a acontecer.
Os trabalhadores da CGD, no ativo ou na reforma, viriam a ver desaparecer (€ 251.8-
50= € 201.8 milhões) do seu pecúlio contabilizado (mas não real) com a venda do
imóvel ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), gerido
pelo Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, (IGFCSS)
cujo presidente é Manuel Baganha.
Afinal, sempre havia o tal saloio endinheirado – o FEFSS – para adquirir o prédio. E,
naturalmente, que a decisão não foi somente do Baganha. Envolveu um Rui Fiolhais,
presidente do ISS que logo iniciou os preparativos para se enfiar, ele e mais 1500
trabalhadores, no edifício contaminado e vender ou evacuar os já referidos 13 locais
ainda afetos os trabalhadores do ISS. A Secretária de Estado Cláudia Joaquim, logo
exultou com as “reduções em comunicações, serviços de limpeza, segurança,
condomínios e manutenção”. Ter-se-á esquecido de referir os negócios que, na boa
tradição corrupta portuguesa, se irão desenvolver com as vendas dos imóveis
devolutos. E claro, nunca referiu o amianto que adorna o requintado edifício e, menos
ainda os enormes riscos para a saúde de todos os irão para lá ser encafuados1. Como
é evidente nada disto é estranho ao ministro Vieira da Silva que assim coloca mais
uma nódoa no currículo; propicia uma panóplia de negócios imobiliários em torno dos
prédios devolutos, a juntar ao seu envolvimento na Raríssimas; o que foi um fait divers
perante a invenção do factor de sustentabilidade, ainda no tempo de Sócrates, que
retirou aos trabalhadores portugueses muitos milhares de anos de direitos na reforma.
A gestão pública, na paróquia lusa, em todo o seu esplendor…
Este e outros textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads
1
Dizemos encafuar porque se pensa reproduzir em grandes espaços abertos a lógica das tradicionais
salas de aula, com os trabalhadores e suas secretárias dispostos em linhas e colunas com o chefe de
frente para controlar a malandragem. Só faltará um retrato, não diremos de Salazar mas do
incontinente ex-leitor de contracapas e uma cruz na parede.

Mais conteúdo relacionado

Mais de GRAZIA TANTA

Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaGRAZIA TANTA
 

Mais de GRAZIA TANTA (20)

Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à solta
 

SEGURANÇA SOCIAL quer encafuar 1500 trabalhadores num edifício repleto de AMIANTO

  • 1. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 1 SEGURANÇA SOCIAL quer encafuar 1500 trabalhadores num edifício repleto de AMIANTO Há cerca de um ano e meio o Fundo de Estabilização da Segurança Social (uma reserva para o pagamento da pensões) gerido pelo Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social (IGFCSS), comprou ao Fundo de Pensões da CGD, por € 50 milhões, um volumoso edifício, em grande parte devoluto, na esquina da Avenida de Berna com a Avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Foi declarada pelo governo a concentração ali dos serviços de atendimento da Segurança Social e outros que vêm ocupando 13 edifícios espalhados pela capital. Tudo parece um arejado acto de gestão mas… algo de criminoso e que vem sendo ocultado, retira-lhe todo o brilho. Sabe-se que não se pode tocar nas paredes do edifício, com um parafuso que seja, porque foi ali utilizado, na construção, amianto; que, é conhecido, tem propriedades cancerígenas, sobretudo para quem esteja por perto em parte substancial da sua vida. E, claro, ninguém nas lideranças da Segurança Social, mormente do Instituto de Segurança Social (ISS) alguma vez falou no assunto… com desprezo total pela saúde dos trabalhadores que já deveriam ter sido para lá deslocados em junho último; uma data que foi adiada para fevereiro próximo. Curiosamente, entre as deslocações para o edifício contaminado, consta que o Conselho Diretivo… vá mesmo para lá morar. Num antigo país de marinheiros, os comandantes do navio em perigo, não se separam da tripulação; ou, são demasiado
  • 2. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 2 ignorantes para saber o que é o amianto e os danos para a saúde pública que lhe estão subjacentes. … Em outubro de 2010 a CGD vendeu ao Fundo de Pensões da CGD o referido edifício – já esvaziado - por € 251.8 milhões, revelando uma mais-valia de € 103.7 milhões, um valor próximo dos lucros do banco público no primeiro semestre daquele ano. Depois, até recentemente, o edifício continuou desocupado, excepto na parte onde esteve instalada a Caixa Geral de Aposentações, que gere as pensões dos funcionários públicos e, que sempre funcionou na órbita da CGD; para além do próprio Fundo de Pensões da CGD que passou a viver em casa própria. Em 2017, o mesmo Fundo vende por € 50 milhões um edifício pelo qual pagara € 251.8 M, sete anos antes. Estranho, não? Numa conjuntura de crescimento dos preços do imobiliário em que qualquer pardieiro passa a habitação para turistas; quando se evidencia a falta de espaços para escritórios na parte central da cidade de Lisboa (veja-se a apetência pelos terrenos da antiga Feira Popular), um edifício projetado por Tomás Taveira e com uma menção honrosa pela sua qualidade arquitetónica deveria, hoje, valer algo mais do que os € 251.8 milhões da transação de 2010, quando se anunciava o fracasso dos planos de austeridade – os célebres PEC que vieram a atapetar a chegada da troika. Porque será, então, que em 2017 o prédio foi vendido pela quinta parte do seu custo em 2010? Há várias pistas a explorar em tanta estranheza:  Será que em 2010, a CGD enganou a sua “sucursal” – o Fundo de Pensões dos trabalhadores do banco público, gerido então por João Eduardo Gamito Faria - com um valor exagerado do imóvel para lhe permitir encontrar uma origem para metade dos lucros semestrais do banco?  Nesse caso, os responsáveis de Fundo de Pensões, em 2010, foram verdadeiros imbecis ou foram “comprados” pela administração da CGD, com óbvio prejuízo para os aposentados atuais e futuros do grupo CGD.  Se o valor da transação efetuada em 2010 foi o correto, o que aconteceu no edifício para que em sete anos o seu valor corresponda apenas a 1/5 do que foi considerado em 2010? O que aconteceu para tão enorme desvalorização? Como diria Fausto “E assim vai Portugal, uns vão bem e muitos mal”. Tudo indica que na CGD sempre se soube que o edifício estava contaminado pelo amianto e que não poderia ser vendido no “mercado” pois qualquer avaliador observaria as caraterísticas do edifício e, na sequência, desistiria da compra; ou comprá-lo-ia por um valor desinteressante para a CGD, que obrigaria o banco a registar um vultuoso prejuízo.
  • 3. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 3 Por isso, a CGD procedeu a uma venda contida na sua órbita de gestão – o Fundo de Pensões – transitando o imóvel empestado por um valor muito acima do seu valor comercial, com os futuros prejuízos a cavar fundo nas poupanças dos reformados atuais e futuros da CGD. Um brilhante acto de gestão…da administração de um Faria de Oliveira, afeto ao PSD. Em 2017 surgiu a solução salvadora, na procura do prejuízo mínimo por parte do Fundo. Uma vez que no mercado imobiliário nunca surgiria um saloio endinheirado que pagasse o valor que o Fundo de Pensões teria no balanço (mais ou menos os tais € 251.8 milhões), haveria de encarar uma venda com prejuízo, como veio a acontecer. Os trabalhadores da CGD, no ativo ou na reforma, viriam a ver desaparecer (€ 251.8- 50= € 201.8 milhões) do seu pecúlio contabilizado (mas não real) com a venda do imóvel ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), gerido pelo Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, (IGFCSS) cujo presidente é Manuel Baganha. Afinal, sempre havia o tal saloio endinheirado – o FEFSS – para adquirir o prédio. E, naturalmente, que a decisão não foi somente do Baganha. Envolveu um Rui Fiolhais, presidente do ISS que logo iniciou os preparativos para se enfiar, ele e mais 1500 trabalhadores, no edifício contaminado e vender ou evacuar os já referidos 13 locais ainda afetos os trabalhadores do ISS. A Secretária de Estado Cláudia Joaquim, logo exultou com as “reduções em comunicações, serviços de limpeza, segurança, condomínios e manutenção”. Ter-se-á esquecido de referir os negócios que, na boa tradição corrupta portuguesa, se irão desenvolver com as vendas dos imóveis devolutos. E claro, nunca referiu o amianto que adorna o requintado edifício e, menos ainda os enormes riscos para a saúde de todos os irão para lá ser encafuados1. Como é evidente nada disto é estranho ao ministro Vieira da Silva que assim coloca mais uma nódoa no currículo; propicia uma panóplia de negócios imobiliários em torno dos prédios devolutos, a juntar ao seu envolvimento na Raríssimas; o que foi um fait divers perante a invenção do factor de sustentabilidade, ainda no tempo de Sócrates, que retirou aos trabalhadores portugueses muitos milhares de anos de direitos na reforma. A gestão pública, na paróquia lusa, em todo o seu esplendor… Este e outros textos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents https://pt.scribd.com/uploads 1 Dizemos encafuar porque se pensa reproduzir em grandes espaços abertos a lógica das tradicionais salas de aula, com os trabalhadores e suas secretárias dispostos em linhas e colunas com o chefe de frente para controlar a malandragem. Só faltará um retrato, não diremos de Salazar mas do incontinente ex-leitor de contracapas e uma cruz na parede.