1) O documento apresenta uma orientação técnica sobre a reescrita de textos ministrada pela professora Lília Santos Abreu-Tardelli. 2) A palestra abordou concepções de gramática, a relação entre gramática, língua, texto e sujeito, e como trabalhar a língua e a reescrita em sala de aula. 3) A orientação técnica foi produzida em 2012 para o evento "Caminhos da Escrita" realizado pela EFAP/SP.
1. Orientação Técnica:
“Caminhos da Escrita”
de 07 a 09 de Novembro de 2012 – EFAP/SP
Tema 2: A reescrita do texto:
a língua em contexto
Profa. Dra. Lília Santos Abreu-Tardelli
2. Objetivos
1. Algumas concepções de gramática
2. Gramática: relação com língua, texto, sujeito
3. Com qual gramática trabalhar em sala de aula?
4. Como trabalhar a língua em sala de aula?
5. A língua em contexto: os efeitos de sentido no
texto
6. A reescrita como parte constituinte do processo
de aprendizagem da escrita e da língua
7. Reflexões finais
3. Algumas concepções de gramática (I)
• A gramática normativa: conjunto sistemático de
normas e regras para bem falar e escrever estabelecido
por especialistas com base no uso da língua consagrado
pelos bons escritores.
• A gramática descritiva: um sistema de noções, de
descrições estruturais, mediante as quais se descrevem
os fatos de uma língua, as categorias, as funções e as
relações que entram em sua construção.
O menino tentou pegar ele de novo para prender ele na gaiola.
• Na prática escolar: a gramática descritiva se transformou
em um instrumento para as prescrições da gramática
normativa.
4. Algumas concepções de gramática (II)
• A gramática internalizada: os princípios e
regras pelos quais se constroem as expressões e
construções da língua do falante; é o saber
linguístico que o falante de uma língua
desenvolve.
• Concepção que reconhece a existência de regras
tanto na modalidade culta quanto na coloquial.
Os dois irmão esperto
*O dois irmão espertos
*O dois irmãos espertos
5. Gramática: relação com língua, texto, sujeito (I)
1) Texto como produto do pensamento
(representação mental).
Língua: representação do pensamento
Leitor/sujeito: captar as intenções do produtor.
Exemplo: o que o autor quis dizer?
2) Texto como produto de codificação de um
produtor e que será decodificado pelo receptor.
Língua: código
Produtor: passivo e decodificador
6. Gramática: relação com língua, texto, sujeito (II)
3) Texto: concepção interacional; texto enquanto
lugar da interação em que os sentidos são
construídos.
Língua, texto e sujeito: os sentidos são construídos
com base nos elementos linguísticos, na forma
como esses elementos se organizam e na
mobilização de saberes.
7. Texto na perspectiva
sociointeracional da linguagem (I)
• Inter-ação entre sujeitos sociais:
Produtor do texto: “projeto de dizer”
Leitor/ouvinte: participação na construção de
sentido, a partir do contexto e de pistas e
sinalizações que o texto lhe oferece.
Produtor e interpretador: estrategistas
(mobilizam uma série de estratégias para a
produção de sentidos).
8. Texto na perspectiva
sociointeracional da linguagem (II)
• 1. O produtor: estratégias de organização textual
e sinalizações textuais orientando o interlocutor
para a construção de (possíveis) sentidos;
• 2. O texto: organizado estrategicamente de uma
forma ou outra para poder delimitar as possíveis
leituras;
• 3. O leitor/ouvinte que vai construir os sentidos
conforme as sinalizações do texto, através da
mobilização do contexto.
9. A gramática na sala de aula
• Concepção de gramática compatível com
concepção de língua, texto, sujeito na
perspectiva sociointeracional.
• Gramática enquanto um estudo das regras e
princípios de construção de uma língua,
considerando o contexto de produção e,
consequentemente, os efeitos de sentidos que
determinadas escolhas linguísticas podem
provocar no leitor/ouvinte.
10. O trabalho com a língua na sala de aula
• Avaliar a realidade linguística dos alunos para
ampliar suas experiências linguísticas.
• Levar o aluno a ter um outro domínio da língua
por razões culturais, sociais e políticas.
• Realizar um trabalho gramatical que ofereça ao
aluno condições de domínio da modalidade culta
necessário para a produção e compreensão de
textos.
11. 1. Quem é o produtor do texto?
2. Quem é o destinatário do texto?
3. Qual o objetivo?
4. Quando ele foi produzido/veiculado?
5. De que modo o texto está linguisticamente
organizado?
6. Que efeitos de sentido o uso dos seguintes elementos
linguísticos podem causar no leitor?
as conjunções e e quando
pronomes possessivos
o substantivo próprio
adjunto adverbial de lugar
7. Que outros aspectos não verbais contribuem para
criar o efeito de sentido do texto?
13. Escolhas linguísticas e efeitos de sentido
A sociedade deve impor limites à autodestruição do ser humano?
Discutir o problema das drogas, patologia que assola todo
o mundo, é como passar por um campo minado, cheio de
preconceitos. Basta ver o critério arbitrário usado pelos
governos, que muitas vezes liberam o consumo de drogas
“leves”, como tabaco e álcool. Indústrias inteiras, construídas
sobre os corpos de seus consumidores.
Entretanto, indústrias necessárias. A proibição nunca
impediu o consumo, como é possível ver no império do crime
criado por Al Capone e no consumo de drogas de Amy
Winehouse. [...]
14. Questão Polêmica: A sociedade deve impor
limites à autodestruição do ser humano?
“Se não há danos para terceiros, o indivíduo deve ser
soberano nas suas ações e na consequência de suas ações”,
foi o que disse o filósofo John Stuart Mill.
De fato, se alguém por livre e espontâneo arbítrio
decide rumar a autodestruição, via drogas ou qualquer
outro meio, quem são terceiros para impedi-lo, enquanto
isso não os envolver? São humanos. Seres racionais com a
capacidade de pensar se a decisão de se autodegradar feita
pela pessoa, é realmente seu desejo, e quais são os motivos
que repercurtiram para sua existência [...].
15. Ficha de avaliação
• Instrumento para ajudar a direcionar o olhar em
relação às escolhas feitas, às construções
sintáticas realizadas e o efeito de sentido no
texto, considerando a situação de comunicação.
• Instrumento para fins de:
a)Auto-avaliação
b)Avaliação pelo par-aluno
c)Avaliação pelo professor
16. Avaliação feita pelos alunos
Mulheres podem ter o mesmo comportamento sexual que os homens?
•Repetição de palavras “homem” e “mulher”
•Boa pesquisa e referência
•Linguagem muito informal
•Boa estratégia de introdução
•Opinião explícita
•Argumentos fracos
•Conclusão coerente
•Tema um pouco “flutuante”
•Boa ortografia e gramática
17. Reflexões finais
• A avaliação da produção textual do aluno não pode ser
em apenas em função de regras não cumpridas e erros
ortográficos, mas deve ser em função das estratégias
usadas ou não usadas para o desenvolvimento da
capacidade de produção textual. A gramática faz parte
dessas estratégias que criam determinados efeitos de
sentido no leitor.
• A reescrita do texto e a leitura do outro são processos
essenciais para o ensino da gramática, uma vez que
possibilita ao aluno perceber os efeitos que as escolhas
lexicais e sintáticas causam no leitor.
18. Bibliografia
BRONCKART, J.-P. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sociodiscursivo. 2. ed. Trad. Anna Rachel Machado e
Péricles Cunha. São Paulo: Educ, 2007.
FRANCHI, C. Mas o que é mesmo “gramática”? [com] Esmeralda Vailati
Negrão & Ana Lúcia Müller. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto,
1997.
______. Desvendando os segredos do texto: São Paulo: Cortez, 2002.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática ensino plural. 5ª ed. São Paulo: Cortez,
2011.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino
de gramática. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
19. Obrigada!
PCNP Ana Cristina Fermino
Direitos Autorais:
Profa. Dra. Lília Santos Abreu-Tardelli
UNESP - campus S. J. do Rio Preto
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
liliabreu@uol.com.br