1. Parasitologia aplicada à Odontologia
(celular desligado/modo silencioso?)
Gerhard Wunderlich, Dep. de Parasitologia, ICB2, sala 7
Site do curso http://lineu.icb.usp.br/~gwunder/teachcourse.htm
BMP209
3. - Proteger-se contra organismos eventualmente
patogénicos vindos do paciente
- Proteger o paciente contra a involuntária transmissão de
organismos patogénicos
- Evitar contato com parasitas em condições precárias de
trabalho
- Reconhecer infecções parasitárias na hora do tratamento
odontológico em condições precárias e eventualmente
encaminhar o paciente para o tratamento adequado
(notificação compulsória)
- Ser um professional de saúde completo/encontrar seu
lado cientista?
5. Datas e programa do curso 2013
http://lineu.icb.usp.br/~gwunder/teachcourse.htm
6. Estrutura da aula
• aula teórica incl. apresentação dos alunos
• gincana final sobre parasitas e seus ciclos de vida (aula prática)
Avaliação
6 miniexames a partir da próxima aula* 70%
Apresentação seminários dos alunos 20%
Participação na aula prática (gincana
com roteiro) 10%
Tolerância 15 min após o início da prova, a aula começa as 8.30
com a provinha
7. 1. Toxoplasma gondii, ciclo de vida e patogênese com foco para
imunodeprimidos
2. Trypanosoma brucei e tripanossomiase africana
3. Ainda um problema? Incidência de Schistoma mansoni no Nordeste
4. Diphyllobothrium latum
5. Mansonella ozzardi, um nematóide manso?
6. Onchocerca volvulus e a cegueira do rio
7. Ectoparasitas: Piolho e Sarna
8. Montando consultório de campo em São Gabriel da Cachoeira-AM: O
que você leva na mochila?
Temas dos seminários dos estudantes (apresentação
nas datas indicadas no site)
8. Conceitos da Parasitologia
Associações de espécies diferentes
Motivos de trofismoMotivos ecológicos
Mutualismo Forese
(“Inquilinismo”)
Parasitismo Comensalismo Simbiose
14. Vetor: transmite parasitas
(também outros micróbios, virus etc.)
Hospedeiro definitivo : Hospedeiro que alberga as
fases sexuadas do parasita
(onde ocorre formação do
zígoto)
Hospedeiro intermediário: Hospedeiro que alberga as
fases assexuadas
Definições importantes
Monoxénico/heteroxénico: Parasita acomete apenas
uma espécie/várias
espécies
15. Zoonose: Infecção que pode ser transmitida para o ser humano onde
existe outro hospedeiro principal (um animal)
• Malária (falciparum) não é zoonose embora seja transmitida por
mosquitos (não existe outro hospedeiro viável/importante para os
plasmódios que infectam humanos, exceção P. knowlesi)
• Febre amarela é zoonose, porque existem outros hospedeiros que
albergam a grande maioria de vírus circulante (capivaras, ratos etc.)
Definições importantes
Infecção versus infestação:
Infecção: O organismo invasor é capaz de se replicar no
organismo invadido
Infestação: O organismo invasor não consegue se reproduzir no
organismo invadido
Monogenético/digenético: Parasita tem um modo de reprodução
(sexuada ou assexuada)/dois modos
(alternando sexuado com assexuado
de reprodução).
18. David Ussery: Comparative Microbial Genomics, www.cbs.dtu.dk 2002
Os organismos desta
aula são muito estranhos
em termos evolutivos
19. Protozooses intestinais e cavitárias
Amebas
Giardia
Trichomonas
Isospora belli
Cryptosporidium parvum
20. Agentes etiológicos
reino filo subfilo classe ordem subordem gênero e espécie
Protozoa
Sarcomastigophora
Sarcodina
Rhizopoda
Amoebina
Entamoeba spec.
Mastigophora
Zoomastigophora
Kinetoplastida
Diplomonadida
Giardia lamblia/intestinalis
Trichomonadida
Trichomonas spec.
Apicomplexa
Coccidida
Eimeriina
Isospora belli
Cryptosporidium
parvum
22. • Detectado e descrito pela primeira vez em 1875
por Fedor Losch como agente causador de diarréia
em um camponês russo
• Em 1919, descrição de três amebas que infectaram
humanos: E. histolytica, E. coli, E. gingivalis
• Em 1925, Emile Brumpt postula que existem duas
espécies de E. histolytica, uma patológica, a outra
um simples comensal inofensivo
• Somente em 1978, está confirmada a existência de
E. dispar , morfológicamente não distingüível
de E. histolytica
Histórico
23. • Anaeróbios facultativos, alimentam-se de bactérias, leucócitos ou
hemácias (por fagocitose)
• Não possuem mitocôndrias, Golgi ou reticulo endoplasmático,
locomoção através de pseudopódios
• Projeto genoma no Instituto Sanger (E.h. 24 MB em 14
cromossomos, tetraplóide 4n, múltiplos minicirculos extracromos-
somais)
• Parasita extracelular. E. histolytica pode aderir à membrana
plasmática das células do hospedeiro, citotoxicidade depende de
contato
• Reprodução assexuada por fissão binária (dentro do hospedeiro) no
lumen intestinal ou em lesões
• Mundialmente distribuído, preferencialmente em países tropicais
• 3a
mais importante doença parasitária em número de óbitos no
mundo! (40.000-110.000 óbitos/ano, somente por E. histolytica)
• 1% da população mundial está infectada
Entamoeba espécies
25. Ingestão do cistos
Desencistamento
no intestino delgado
Ciclo patogênico na
parede intestinal
fígado
pulmão
pele
cérebro
Intestino grosso
Cistos INFECCIOSOS
Fezes formadas
Fezes pastosas e formadas
Fezes diarréicas
Transmissão de Amebas
(exceto E. gingivalis )
Um indivíduo infectado libera até
45 milhões de cistos por dia!
26.
27. - formas assintomáticas (90%?)
- formas sintomáticas (diarréia)
- Amebíase intestinal: disentérica, colites não disentéricas,
amebomas, apendicite amebiana. Seqüelas: perfuração, peritonite,
hemorragia, invaginação, colites pós-disentéricas, estenoses
- Amebíase extra-intestinal
- Amebiase hepática: aguda não supurativa (não forma pus),
abscesso hepático, (pode levar a ruptura, sepsis, e propagação
para outros órgãos)
- Amebíase cutânea
- Amebíase em outros órgãos: pulmão, cérebro, baço, rim etc.
Patologia da infecção com E. histolytica
31. 2. Diagnóstico de Amebas
• Entamoeba histolytica
---------------------------
• E. dispar
• E. coli
• E. hartmannii
• E. polecki
---------------------------
• E. gingivalis
Patogénico
em geral não patogénico
(comensal)
patogenia não confirmada
ou inexistente
(não forma cistos)
No caso de diarréias, sempre excluir também outras fontes
comuns dos sintomas (Escherichia coli enteropatológicas,
Rotavirus)
32. A. Purificação de formas de ameba
(também eficiente para ovos de Schistosoma, cistos de Giardia, Coccideos etc.)
ZnCl2
NaCl
Microscopia
WC
35. Discriminação de Entamoeba histolytica
versus Entamoeba hartmanni
rofozoítas
E. histolytica E. hartmanni
imensões: 12-20 µm 5-8 µm
ovimentação: ativa ativa
pós coloração
om hematoxilina
amanho núcleo 3-4 µm 2-2,5 µm
ariossomo punctiforme, central ou punctiforme, central ou
excêntrico excêntrico
istos
xame fresco: diámetro 10-15 µm 5-8 µm
oloração com lugol
manho dos 4 núcleos 1/2-1/3 do cisto 1/3-1/4 do cisto
icogênio intensamente corado difuso e levemente cor
oloração com hematoxilina
úcleo (cistos uninucleados) 3,5-4,2 µm 2-2,8 µm
úcleos (com cistos 2-4 núcleos) maiores menores
icogênio Um único vacúolo vários vacúolos
36. C. Outros métodos
A partir de material de
• sangue/fezes:
Imunoensaios (ELISA), detectam se existem anticorpos contra lectinas
específicas de E. histolytica
• fezes:
Métodos moleculares (PCR com oligonucleotídeos que amplificam
genes específicos)
37. Tratamento (seguindo Markell & Voge)
Amebiasis assintomática (apenas cistos nas fezes) : Furamid (3x por dia, 500
mg)
Paromomicina (tratamento opcional)
Amebiasis assintomática (trofozoítas + cistos nas fezes): Iodoquinol (3x por dia 650 mg,
20 dias) ou
Metronidazol (3x por dia 750 mg,
10 dias)
Colite amébica : Cloroquina, 2x por dia 250 mg,
14-20 dias plus Metronidazol
Diarréia amébica aguda : Emetin-HCl, 1mg/kg (max. 65 mg)
ou
Dehydroemetin 1,5 mg/kg i.m./s.c.
depois segue colite amébica
Abscesso hepático amébico : Metronidazol plus Dehydroemetin
por 10 dias.
Tratamento novo: Nitazoxanida (combate formas
invadidas e luminais e helmintos)
38. Glicose 2 Piruvato Acetato + Etanol
NADPH2 + ADP + Pi ATP + 2 CO2 + H2
Metronidazol Metronidazol
inativo ativo
Como funciona Metronidazol?
Replicação
DNA do
parasita
39. Prevenção
• Estrita higiene no manuseio de alimentos, evitar acesso
de atrópodos á comida
• Tratamento d´água potável: Global: Saneamento básico
Individual: Ferver água ou
tratar com Iodo/filtrar
• Tratamento de assintomáticos
40. Entamoeba gingivalis
• Não é patogênica (comensal)
• não forma cistos, transmissão ocorre via oral
0
20
40
60
80
100
120
pacientes controles
pacientes total
pacientes com E.
gingivalis
Ocorrência de E. gingivalis de pacientes com patologias
odontológicas ou no grupo controle ---> diferença estatísticamente
não significativa
42. Giardia lamblia (doença: Giardíase)
- Filo Sarcomastigophora, subfilo mastigophora, ordem Diplomonadina
- possui 4 pares de flagelos
- ocorre da forma de trofozoítas (forma
replicativa) e cistos (forma infecciosa)
-Sem mitocôndrias, metabolismo anaeróbio
facultativo
- lado dorsal e ventral diferente,
possui um “attachment disc” central
- distribuído mundialmente
- Tetraplóide, Genoma extremamente compacto: 1,2* 107
Bp
45. Adere na parede do intestino delgado/duodeno
(amebas no intestino grosso)
Giardia lamblia
46. O disco central permite a interação com
a parede do intestino
microvilosidades
47.
48. Interação parasita-hospedeiro
“Attachment“ de Giardia depende de beta-tubulina,
localizado no disco ventral e de “giardinas“, e proteinas
glicosiladas que interagem com as microvilosidades
A maciça aderência de Giardia
parece o fator de patogenidade
(má-absorpção de nutrientes)
49. • Giardia pode infectar varias vezes repetidas apesar de existirem anticorpos
contra a superfície de Giardia (IgA no epitélio intestinal)
• Após o encistamento e desencistamento, o antígeno principal na
superfície muda (Variação antigênica)
Variação antigênica
Trofozoita Cisto Trofozoita
50. A doença e os sintomas
- prazo pré-patente: 8-10 dias, 10 a 36 dias até a
detecção de Giardia nas fezes
- diarréia moderada, flatulência, anorexia, dores
abdominais agudas, síndrome de má-absorbção
ou sem sintomas
- Grupo de risco: crianças em creches
51. - Identificação por microscopia de fezes ou do conteúdo duodenal
- Coloração com Lugol (muitos parasitas) ou corar cistos com
ou iodo 4%
ou hematoxilina
ou Polivinil álcool
- Se não encontrar em várias amostras: lavagem duodenal e
novo exame microscópico deste material
- ELISA com fezes, detectando antígenos específicos de Giardia
- Imunofluorescência usando anticorpos monoclonais contra
Giardia
- PCR
Diagnose da Giardíase
52. Tratamento
- Metronidazol 3x 250 mg por dia, 5 dias
- Existe tratamento de dose única: Secnidazol (2 g em dose única)
“Deprozol”
- Outros possíveis tratamentos são com Mebendazol e Albendazol
(Benzimidazóis)
Prevenção
Vide Amebas, mas o tratamento d’água tem que ser mais eficiente
já que cistos de Giardia passam por filtragens comuns e são muito mais
resistentes à seca e ao cloro
54. • filo Sarcomastigophora, classe Zoomastigophorea, família
Trichomonadidae, gênero Trichomonas
• 4 espécies infectam humanos, os mais importantes são T.
vaginalis e T. tenax
• Possui flagelos, não forma cistos
• Habitat limitado: aparelho urogenital ou cavidade bucal
• anaeróbicos facultativos: ciclo de Krebs incompleto, liberação de
hidrogênio (análogo a amebas!)
Trichomonas
55. Trichomonas vaginalis e tenax: Morfologia
Trichomonas vaginalis T. tenax
AX: Axóstilo
PG: Golgi e corpo basal
CO: Costa
RF: membrana ondulada
AF: Flagelos anteriores livres
HY: Hidrogenossomos
PB: Filamento parabasal
N: Núcleo
(5-30 µm) (6-10 µm)
56. Ciclo de vida de Trichomonas vaginalis
O organismo não forma cistos!
57.
58. - percebidos e contraidos em geral por mulheres sexualmente
ativas, homens são transmissores (transmissão por contato
sexual)
- causa vaginite, caracterizada por corrimento fluido abundante de
cor amarelo-esverdeada, bolhose e fétido, especialmente na fase
pós-menstrual, homens normalmente sem sintomas
- irritação vulvo-vaginal
- pH vaginal alcalino, provocando mudanças na microflora da vagina
(Candidíase)
- facilita infecção por bactérias e virus oportunistas
Sintomas da infecção com T. vaginalis
59. Patologia da infecção com Trichomonas vaginalis
Trichomonas adere, secreta fatores que causam a desintegração
tecidual (cell detaching factor, cysteine proteases) e o organismo se
nutre da debris celular
epitélio
60. Diagnose de Trichomonas vaginalis
- Esfregaços do fluido vaginal ou da uretra, microscopia
- Cultivo do parasita em meio Diamond, microscopia
- Imunodetecção por ELISA, imunofluorescência,
agglutinação com latex e por hibridação com sondas
específicas para DNA de Trichomonas
61. Tratamento
• Metronidazol: 10 dias 250 mg 3x por dia
OU
• Dose única de 2 g Secnidazol
Casos de resistência são frequentemente descritos!
62. Trichomonas tenax
• Encontrado na flora bucal onde não parece causar
patologia
• Muito raramente associado a infecções pulmonares
ou das brônquias
Terapia é desnecessária.
63. Isospora belli
- detectado em 1860 em microvilosidades de pessoas,
confirmado 1870 por Eimer
- Oocistos detectados em fezes por Raillet e Lucet (1890),
depois oocistos e esporos descrito por Wenyon (1915)
- Infecção mais encontrada sob pobres condições
higiênicas ou em homens homossexuais, importante
oportunista no AIDS: Isosporíase
- Ciclo de vida monoxênico, parasita intracelular: células
epiteliais do intestino delgado
64. Cryptosporidium parvum
- Detectado somente em 1976, Zoonose (apesar de
existirem aparentemente duas ssp. associadas
com infecções em humanos ou animais
domésticos)
- Parasita muito parecido com Isospora belli, porém,
infecta qualquer célula epitelial
68. A Isosporíase: Sintomas
• Comum: Assintomático
• Deformação ou atrofia de microvilosidades do epitélio
• Edema na submucosa, eosinofilia, inflamação
• Em imunocompetentes: dias ou até semanas de
diarréia, fezes aquosas, febre baixa, dores abdominais
• Em aidéticos: Crônico
Tratamento
• Indicado para aidéticos: Trimetoprim/sulfometoxazol
• Alternativamente: Metronidazol e Quinacrina
69. Cryptosporidíase : Sintomas
• Diarréia por 2 semanas, raro: desconforto abdominal
anorexia, febre, náusea, perda de peso
• AIDS: Todos o sintomas acima, porém, mais severo.
O paciente pode correr risco de vida, Cryptosporidium
encontrado em vários fluidos do corpo: saliva, no
endotélio pulmonar, no ducto vesicular alta taxa de
autoinfecção
• Associado: síndrome de má-absorpção
Tratamento: Paromomicina 3x 500 mg/dia por 2 semanas
70. Literatura:
Ferreira, Foronda e Schumaker: Fundamentos Biológicos da
Parasitologia Humana (Manole)
Markell´s and Voge´s Medical Parasitology
L. Rey: Parasitologia
J. Dönges: Parasitologie
Site da UCLA: Parasite course
(http://164.67.60.203/parasite_course-old/default.asp?)
Imagens de I. belli: http://www.cdfound.to.it/HTML/iso1.htm
Google: Pictures of cutaneous amebiasis
Samuel Stanley Jr.: Amoebiasis, Lancet 361, 1025 ff.