1) A dinâmica familiar desempenha um papel importante no desenvolvimento e manutenção da obesidade, especialmente na infância, quando a criança depende mais dos cuidados parentais.
2) Estudos mostram que famílias com crianças obesas tendem a ter mães dominantes, pais desinteressados, conflitos frequentes e dificuldade em lidar com diferenças.
3) Na obesidade adulta, rigidez familiar, superproteção, evitação do conflito e dificuldade de individuação também são
1. WWW.OBESIDADEEMAGRECIMENTO.BLOGSPOT.COM.BR
CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA SISTÊMICA PARA O ESTUDO DA OBESIDADE
Por Anderson Cardeal¹ e Psicóloga Daniela Souza²
Atualmente, existem diversos estudos que abordam o ambiente familiar de pessoas com
transtornos alimentares, porém a literatura aponta uma escassez de estudos que relacionem o
funcionamento familiar, obesidade e Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Este tema é
muito importante para o tratamento da obesidade ao identificar tanto as causas e manutenções do ganho
de peso, como apontar as dificuldades de adesão terapêutica desses indivíduos. Pode-se citar a dissertação
de mestrado de Ana Flávia Otto, publicado em 2009, na qual, juntamente com a Doutora Maria Alexina
Ribeiro, investigaram a dinâmica familiar de pessoas com obesidade grave a partir do arcabouço teórico da
Abordagem Sistêmica. O estudo realizou pesquisa tanto quantitativa como qualitativa, apresentando dois
interessantes estudos de caso.
Otto & Ribeiro (2009) destacaram diversas pesquisas sobre o tema. Em uma delas, abordou a
percepção de crianças obesas em relação aos seus pais: “as mães eram apontadas como dominadoras e os
pais como passivos e sem envolvimento”. Em outra citação, afirmaram que em muitas famílias com crianças
obesas é dada ênfase à lealdade da criança ao sistema familiar à custa da sua própria autonomia e falou
também da dificuldade que essas famílias têm no processo de individuação e em lidar com as diferenças. Em
outro estudo, referido pelas autoras, abordaram as percepções de famílias com obesidade infantil e famílias
com peso eutrófico: nas famílias de obesos ocorriam mais conflitos e os membros eram menos interessados
em atividades sociais e culturais, além de serem mais dependentes e menos suportivos.
Pode-se destacar a importância atribuída à dinâmica familiar no estudo da obesidade,
atribuindo como uma das causas e manutenção da obesidade a disfunção desse sistema. Na obesidade
infantil, esse aspecto citado torna-se mais claro, já que nessa fase do desenvolvimento, a criança ainda
depende dos cuidados parentais, com a sua independência ainda em formação, tendendo a lealdade ao seu
sistema familiar.
Obesidade infantil: Nesse estágio da vida, destacamos as seguintes situações consideradas influentes na
obesidade: Mães apontadas como dominadoras e excessivamente protetoras e pais passivos e sem
envolvimento no assunto; Ênfase à lealdade da criança ao sistema; Dificuldade no processo de individuação
e em lidar com as diferenças, dificultando assim o contato com novos sistemas; Recorrência de conflitos,
menos interesse em atividades sociais e culturais; Relação fusionada entre a mãe e os filhos (Otto & Ribeiro,
2009).
Já na obesidade adulta, a questão é o quanto esse individuo conseguiu se desenvolver e
conquistar a sua independência. É importante investigar, qual a estratégia utilizada para construir a sua
individuação e dar continuidade a um novo ciclo de vida, apesar da dinâmica familiar poder se apresentar de
forma disfuncional. Isso permitirá um crescimento emocionalmente saudável e próspero. Caso contrário os
resultados poderão ter consequências danosas, conforme apresentado no texto em questão.
Obesidade adulta: Já nessa fase, observamos nas dinâmicas familiares: Rigidez; superproteção; evitação do
conflito, isolamento social, assertividade e raiva inibidas, baixa expressão de sentimentos, triangulação.
Como exemplo, pode-se citar o 1° estudo de caso sobre a Família Oliveira: Trata-se da família
de Carlos Oliveira, 38 anos, taxista, paciente com obesidade que está se preparando para a cirurgia bariátrica
no Hospital Universitário de Brasília. O grupo familiar é composto por: Carlos, sua mãe D. Lila, seus 8 irmãos,
4 cunhadas, 2 cunhados e 15 sobrinhos.
¹ Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Contato: anderson.cardeal@gmail.com
² Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico
da obesidade.
Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br
Contato: daniela.souzao@yahoo.com.br
2. WWW.OBESIDADEEMAGRECIMENTO.BLOGSPOT.COM.BR
Essa família apresenta um histórico de doenças relacionadas à obesidade. Nas quatro gerações
ocorre obesidade, hipertensão arterial, diabetes, hipotireoidismo cardiopatia. A história da obesidade na
família nos revela uma característica transgeracional desse sintoma. Familiares tanto da mãe quanto do pai
de Carlos são obesos e apresentam doenças associadas. Esse sintoma na família (obesidade), tem o papel de
manter a estabilidade emocional da família através das gerações.
Na família todos os filhos obesos desenvolveram o sintoma após os 20 anos. Nos homens
relacionados ao sedentarismo e na mulher ligação com a gestação. A família tem dificuldade de adaptação
ao ciclo de vida, pois, estando no estágio “tardio de vida”, não conseguiram concluir a fase anterior
“lançando os filhos e seguindo em frente”. Essa dificuldade com os ciclos de vida interferem na busca do
individuo da sua autonomia e diferenciação da família de origem.
A família de Carlos organiza-se de forma a dificultar a saída de seus filhos de casa. A mãe D.
Lila, mantém todo o sistema sob o seu domínio. Três filhos adultos permanecem morando com a mãe, o que
demonstra a dificuldade de se afastar da família de origem e assumir uma vida mais autônoma.
A maior característica do sistema de relações da família Oliveira é a aglutinação, na qual suas
fronteiras internas são difusas e as fronteiras externas são rígidas. Sua comunicação é abundante e confusa,
com todos falando ao mesmo tempo, sem respeitar o espaço do outro. Os membros começam a engordar
quando iniciam as suas vidas laborais, após os casamentos, além dos filhos (agravante para as mulheres),
existindo também a ampliação dos sistemas de convivência. Essa família encontra-se no “estado tardio da
vida”, na qual a matriarca é centralizadora, cuidadora e superprotetora. A família não consegue se adaptar
ao estágio do ciclo da vida “lançando os filhos e seguindo em frente”. É necessário estabelecer contornos
nas relações para que essas sejam saudáveis e duradouras e que as interferências sejam mínimas, ou seja, as
fronteiras devem ser nítidas e não difusas ou rígidas.
Otto & Ribeiro (2009) nos convida a pensar na obesidade de forma diferente, sem
desconsiderar o que já foi aprendido até hoje pela medicina e demais áreas da saúde. As autoras abordam a
importância multiprofissional no tratamento à pacientes obesos, com um foco novo paradigmático,
indicando a importância do estudo das relações familiares e as repercussões em cada membro desse
sistema.
O texto esclarece a necessidade de observar os indivíduos nos seus sistemas diversos, e, a
partir disso, construir mudanças que preferencialmente permitirá a cada membro um processo saudável de
individuação. Processo esse que a psicologia sistêmica considera extremamente importante para o
desenvolvimento do indivíduo.
Texto base para produção:
OTTO, A. F. N. ; RIBEIRO, M. A. . Obesidade e Transtorno da Compulsão Alimentar (TCAP): um estudo sobre a
dinâmica familiar do paciente 2009 (Artigo publicado no Repositório da Biblioteca da Universidade Católica
de Brasília).
¹ Graduando em Psicologia (9° semestre); Estagiando em um núcleo de tratamento clínico e cirúrgico da obesidade.
Contato: anderson.cardeal@gmail.com
² Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico
da obesidade.
Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br
Contato: daniela.souzao@yahoo.com.br