Capacitação dos profissionais de saúde. Literacia em saúde e competências de comunicação dos profissionais de saúde. O modelo de comunicação em saúde ACP
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Saúde
Capacitação dos profissionais de saúde. Literacia em saúde e competências de comunicação dos profissionais de saúde. O modelo de comunicação em saúde ACP. Revista Nephos, 21(1), 25-28.
Vaz de Almeida, C. (2019).
Similar a Capacitação dos profissionais de saúde. Literacia em saúde e competências de comunicação dos profissionais de saúde. O modelo de comunicação em saúde ACP(20)
Capacitação dos profissionais de saúde. Literacia em saúde e competências de comunicação dos profissionais de saúde. O modelo de comunicação em saúde ACP
NEPHRO'S
Autores: Cristina Vaz de Almeida
Diretora da Pós-Graduação em Literacia em Saúde do ISPA. Doutoranda em Ciências da Comunicação,
ISCSP
RESUMO
A comunicação é assumida como a "necessidade da hora" (Ranjan, Kumari & Chakrawarty, 2015, p. 1) e a "chave
para um amanhã mais saudável" (Ratzan, 1994), possibilitando respostas para enfrentar e resolver problemas
ao nível da comunicação no contexto da saúde: os europeus têm baixos níveis de alfabetização em saúde
(HLS-EU, 2012). O Modelo ACP - ASSERTIVIDADE - CLAREZA - POSITIVIDADE - tem sido utilizado pelos mais
de 600 profissionais de saúde que frequentaram, desde 2012, as formações pós-graduadas do ISPAem "Co-
municação e Literacia em Saúde, assim como por aqueles profissionais de saúde que usufruíram da formação
intensiva desta área em meio hospitalar (Nacional) e na ARS Algarve e Évora. Estas formações sobre Literacia
em Saúde e Comunicação têm sido ministradas pela autora, com resultados positivos evidenciados em focus
group, entrevistas aprofundadas com profissionais de saúde e questionários de satisfação aplicados ao longo
dos anos em que o modelo é trabalhado.
Palavras-chave: capacitação,comunicação, competências em saúde, literacia em saúde,adesão terapêutica, Relaçãotera-
pêutica
INTRODUÇÃO
A melhoria das competências de comunicação dos pro-
fissionais da saúde junto dos pacientes, promove uma
melhor compreensão das orientações em saúde e dos
níveis de literacia em saúde do paciente. Este melhor
entendimento das instruções em saúde permite uma
melhoria da adesão e da relação terapêutica.
A literacia em saúde é um constructo dinâmico em
evolução, que pela sua própria dinâmica, relaciona-
-se com o desenvolvimento das competências dos
indivíduos para melhor acederem, usarem, avaliarem
e compreenderem o sistema de saúde, por forma a
tomarem decisões fundamentadas para manterem a
sua saúde (Sorensen et aI., 2012).
Figura 1:A tomada de decisões em saúde
Fonte: Da autora, baseado em Sorensen et. aI. 2012
NEPHRO'S IVolume XXII N° 1 12S
NEPHRO'S
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241 Volume XXII N° 1 I NEPHRO'S
NEPHRO'S
Os dados do Questionário Europeu de Literacia (HLS-
EU-PT,2014), composto por 47 questões integrando os
domínios dos cuidados de saúde, promoção da saúde e
prevenção da doença, com 4 níveis de processamento
da informação nas vertentes do acesso, compreensão,
avaliação e utilização da informação em saúde, de-
monstram que as pessoas na Europa têm níveis baixos
de literacia em saúde. Foi avaliado que em Portugal,
61% da população inquirida apresenta um nível de
literacia geral em saúde problemático ou inadequado,
situando-se a média dos 9 países em 49,2% (Pedro et
al.,2016; Saboga-Nunes 2014). E por isso um nível de
compreensão baixo da informação em saúde.
Resulta da própria definição de literacia em saúde dada
pela Organização Mundial da Saúde (1998), que esta
relação culmina nas "decisões fundamentadas e na
gestão da saúde por parte da pessoa, através de um
processo de acesso, uso e compreensão e avaliação da
informação em saúde, que gera resultados em saúde': Para
que estes resultados sejam eficientes, os conteúdos de
informação, disponibilizados pelo emissor, o profissional
(através da linguagem verbal e não-verbal), devem ser
entendíveis pelo recetor, o paciente, de forma clara e
acessível (Silverman et aI., 2013, p. 20).
Existem dados (Haes et aI., 1995) que apontam que, após
sair da consulta, o paciente recorda 50% ou menos da
informação que lhe foi dada. Há várias referências sobre
a necessidade do uso da linguagem clara, também refe-
rida como plain language, (Otal et aI. 2012; Stableford e
Mettger, 2007; Van't Jagt et aI. 2016; Howard, Jacobson
e Kripalani, 2013) e ás competências de comunicação
(Silverman, Krutz e Draper, 2013; Van't Jagt et aI., 2016;
Wyer e Shrum, 2015), de uma forma generalizada
A relação terapêutica, com as componentes das com-
petências e da comunicação do profissional, são a
base para que os resultados da qualidade em saúde
sejam efetivos.
Tanto mais que a comunicação usada pelo profissional
e outras questões biopsicossociais relacionadas com
o perfil dos recetores, tais como, pessoas com baixos
estratos socioeconómicos, minorias étnicas, idosos,
indivíduos com incapacidades cognitivas, com doenças
crónicas, baixos nível de escolaridade, ou habilidades
pobres em literacia, podem afetar, de forma adversa, a
compreensão do paciente sobre o seu estado de saúde,
assim como a sua adesão terapêutica (Cega la, 1995;
Kripalani, S., Bentgtzen, R., Henderson, L., Jacobson,T.,
2008; Chinn, D., A, McCarthy, c., 2012).
Ea comunicação, sendo uma competência central dos
profissionais (Williams et aI., 2002), muitas vezes não é
compreendida pelos pacientes.
Para Wiemann (1977), a gestão da interação inclui a
261 Volume XXII N° 1 I NEPHRO'S
iniciação e fecho do encontro, o tempo de fala e o con-
trolo dos tópicos sendo que uma gestão da interação
satisfatória compreende a habilidade de manter estes
requisitos de forma a que a conversa seja satisfatória
para ambos os intervenientes. (p.199). Ainda segundo
este autor, um comunicador competente é aquele que é
orientado para o outro, que mantém ao mesmo tempo
os seus objetivos interpessoais: é empático, possui e
dá suporte ao seu interlocutor, é tranquilo enquanto
interage com o outro. (p. 211). A forma como o comu-
nicador gera as interações contribui para as perceções
do outro interveniente (p. 211). É a competência comu-
nicativa que permite á pessoa de uma forma prática e
real, estabelecer a sua identidade social.
Tendo em conta a importância da relação terapêutica
porque central nos resultados positivos que se desejam
para o paciente, foi estruturado pela autora o Modelo
ACP - Assertividade, Clareza e Positividade.
o MODELO DE COMUNICAÇÃO EM SAUDE ACP:
ASSERTIVIDADE, CLAREZA, POSITIVIDADE
Os modelos são definidos como estruturas de símbo-
los e regras que são desenhados para corresponder
a pontos relevantes de uma existente estrutura ou
processo (Deutsch, 1952, p. 356).
Com o Modelo ACP - Assertividade, Clareza e Posi-
tividade, desenvolvido por Vaz de Almeida (Vaz de
Almeida, 2014, 2016; Belim & Vaz de Almeida, 2018) os
profissionais das áreas da saúde ficam mais habilitados
a comunicar e a estimular os seus destinatários para
uma melhor compreensão e tomada de decisão.
O Modelo ACP consiste no uso agregado e interdepen-
dente de um conjunto de habilidades e de competên-
cias de comunicação que integram a Assertividade, a
Clareza de linguagem e a Positividade pelo profissional
de saúde. Este Modelo de Comunicação em saúde
permite que o profissional de saúde escolha de uma
forma imediata um modelo na relação terapêutica,
conseguindo ficar dotado de maiores competências
para apoiar o paciente na compreensão das instruções
em saúde, e para que este também tome decisões
acertadas em saúde.
Este Modelo foi testado e comprovado nos seus efeitos
por um conjunto vasto de centenas de profissionais de
saúde que beneficiaram entre 2012 e 2018, da formação
avançada no ISPAem Literacia em Saúde, assim como
da Pós Graduação em Literacia em Saúde: Modelos,
Estratégias e Intervenção (2017/2018), de formações
em contexto hospitalar em Portugal, assim como evi-
denciado por 5 foeus qroup de profissionais de saúde
de várias áreas profissionais (médicos, enfermeiros,
terapeutas, higienistas orais, entre outros).
Os grupos foram unânimes quanto à importância do
desenvolvimento das competências de comunicação
dos profissionais da saúde para uma melhoria da lite-
racia em saúde dos pacientes. Estas competências de
comunicação envolvem a linguagem verbal e não-verbal,
as atitudes e comportamentos que devem gerar mais
confiança ao paciente e que permitirão uma maior adesão
terapêutica, assim como uma consolidação positiva da
Figura 2 - As bases do Modelo ACP
NEPHRO
relação terapêutica. Uma comunicação mais eficien e,
desenvolvida através de uma postura assertiva, atravFs
de uma linguagem claras e positiva, poderá conduzi a
uma melhor compreensão do recetor/paciente e, per
sua vez, aos melhores resultados em saúde, individuais
e societais (meso e macro). I
O Modelo de competências de comunicação ACP permite
o desenvolvimento de uma relação terapêutica mais
harmoniosa e eficaz, com o aumento da consciênci e
consequentemente da compreensão do paciente, ~a
memorização e motivação para tomar decisões m~is
acertadas sobre a sua saúde ou de quem dele depende.
ASSERTIVIDADE
CLAREZA
I
Fonte 2 : Da autora. Vertentes do Modelo ACP
NEPHRO'S I Volume XXII N° 1 27
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