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Análise sacramentológica da <br />Prece de Consagração de um Altar<br />Cleiton Robson do Nascimento<br />O altar cristão nasce e tem origem na mesa da ceia do Senhor com os seus discípulos. É a mesa preparada na “sala de cima”, lugar nobre, que aconchega, onde o Senhor vive com os seus discípulos um momento de intimidade, de partilha, de refeição, de despedida. Esta ceia, segundo explicito pedido do Senhor deverá ser perpetuada e repetida pelos seus: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24b). <br />O objetivo da presente pesquisa é discorrer, analisando sacramentologicamente o sentido da “prece de consagração de um altar”; para tanto, será apresentado um pequeno esboço histórico do ‘altar’, até se chegar à análise da prece, propriamente dita. <br />Como parte de um ‘sacramental’, O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a sagrada liturgia diz a respeito dos sacramentos e sacramentais:<br />“Os sacramentos estão ordenados à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e, enfim, a prestar culto a Deus; como sinais, têm também a função de instruir. Não só supõem a fé, mas também a alimentam, fortificam e exprimem por meio de palavras e coisas, razão pela qual se chamam sacramentos da fé. Conferem a graça, a cuja frutuosa recepção a celebração dos mesmos otimamente dispõe os fiéis, bem como a honrar a Deus do modo devido e a praticar a caridade. Por este motivo, interessa muito que os fiéis compreendam facilmente os sinais sacramentais e recebam com a maior freqüência possível os sacramentos que foram instituídos para alimentar a vida cristã. A santa mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são, à imitação dos sacramentos, sinais sagrados que significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, e se obtêm pela oração da Igreja. Por meio deles dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e santificam-se as várias circunstâncias da vida. Portanto, a liturgia dos sacramentos e sacramentais faz com que a graça divina, que deriva do Mistério pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, onde vão buscar a sua eficácia todos os sacramentos e sacramentais, santifique todos os passos da vida dos fiéis que os recebem com a devida disposição. A ela se deve também que não deixe de poder ser orientado para a santificação dos homens e para o louvor de Deus o bom uso das coisas materiais.”  <br />Neste mesmo sentido, é importante e válido entender o que significa ‘sinal’, entendê-lo como ‘mostração’. O ser humano está em uma constante busca de realização. Porém, esta realização se tornou, na verdade, uma forma de gratificação do eu de cada um; muitas vezes, até de maneira inconsciente. Mas, em sua raiz, a busca do homem é a busca por querer ser divino, ser como Deus. Neste caminhar, o cristão pode radicalizar o seu batismo, abraçando a Vida Religiosa Consagrada. Claro que não compete apenas aos religiosos serem radicais em seu batismo; antes, eles fazem uma convocação a todos para serem também filhos de Deus e serem como Ele é. E ser como o Pai do Céu é, é ser como Jesus Cristo: gratuito! Na verdade, o íntimo mais íntimo nosso é a Trindade!<br />Por isso que, como Jesus Cristo, devemos buscar reconduzir cada coisa, cada um ao seu próprio-original. Daí, tudo o que Jesus fazia eram tão somente sinais, símbolos, apontamentos da grandeza da Trindade que habitava n’Ele e d’Ele fazia parte. E Jesus é o arquétipo per-feito para cada um de nós. É como se dissesse: “Você também pode realizar milagres e prodígios...” Exemplo claro dessa fala são dos discípulos de Jesus e todos os santos que nos precederam na vida da fé. Daí os seus atos e até mesmo os “milagres” realizados serem “mostrações” da grandeza de Deus que estava neles - da força e elã original que já possuíam e que é uma convocação a cada um de nós a chegarmos também, à consumação de realização de uma vida completamente unida à Trindade, como sendo uma verdadeira “imagem e semelhança” sua; isto é, a santidade: sinal claro, visível do “Deus Invisível”, que em nós tem morada, de modo que quem nos olhe, veja não a nós, mas a Trindade e sua grandeza e beleza. Assim, podemos ser co-criadores, co-redentores e co-santificadores da humanidade, mostrando claramente o “Deus-Amor”. <br />Frédéric Van de Meer, patrólogo e arqueólogo, num livro sobre “Santo Agostinho, pastor de almas”, assim fala do altar e da eucaristia celebrada por Santo Agostinho na principal basílica da cidade. (Nesta época as basílicas tinham na ábside a cátedra e o altar era colocado mais perto da assembléia); Agostinho desce os degraus que separam a cadeira que está situada na ábside e dirige-se ao altar colocado mais no centro da nave sob o olhar atento dos fiéis.<br />“... Cálices e pratos com o pão são colocados sobre o altar: são as únicas coisas presentes sobre a mesa, sobre a toalha branca, e o brilho do ouro puro resplandece sobre o candor do linho. O silêncio é absoluto. Inúmeras luzes brilham nos lampadários. Agostinho avança até o altar, e de pé, sozinho dentro do espaço circundado, diante da pequena mesa revestida de branco, estende ainda uma vez as mãos.”<br />                  <br />Deste texto percebemos que o altar não era [e não é] grande. Que há um respeito seja com relação ao lugar que está circundado talvez pelo cibório ou elementos no piso que definiam o espaço do altar, mas, sobretudo, no silêncio das pessoas. Mais à frente, escreve também ele, afirmando que o clima é festivo, pascal: as luzes brilhando as toalhas brancas... Do piso do altar Van de Meer diz:<br />“O Altar se ergue esbelto e imaculado sobre um campo de cores azuis, verdes e brancas. Sobre a mesa não há nem flores nem velas. Nada além da toalha branca sobre ele: ‘ele espera’, aguarda”. <br />Outra fonte ainda nos dá um sentido histórico mais completo acerca da natureza do altar, para podermos adentrar no que diz respeito à sua consagração. Refere-se a um ‘tratado geral’ sobre a liturgia romana e que conta o aspecto histórico da utilização do altar.<br />Os sacrifícios foram celebrados, desde a sua origem, em cima de pequenos cômoros, ordinariamente construídos de pedra e elevados acima do nível da terra a uma certa altura. Eram os altares.  O Sacrifício da Nova Lei não pode ser celebrado senão no altar. E como o Sacrifício é o ato principal do culto, assim, o altar deve ser quanto ao lugar, matéria, forma e ornamentação, o ponto de convergência não só das linhas e massas arquitetônicas da igreja, mas também da atenção consciente e devota dos fiéis.<br />O Sacrifício eucarístico deve consumar-se por uma refeição. É, pois, natural que seja celebrado numa mesa. De resto, foi numa mesa, no cenáculo, que Jesus Cristo o instituiu. Tal parece ter sido o altar primitivo, sustentado por quatro colunas, erguidas nas quatro extremidades, a que por vezes se ajuntava uma quinta coluna ao centro, em forma de cofre de relíquias.<br />A veneração para com os mártires, que uniram num Sacrifício comum seus sofrimentos aos de Jesus, sugeriu a celebração do Santo Sacrifício sobre os seus corpos rubros de sangue. A mesa transformou-se em túmulo. <br />Quando sobre o túmulo de um mártir, aberto numa cripta subterrânea, se construía uma basílica, o altar elevava-se ao nível da igreja, mas sobre a ossada, em forma de cubo inteiramente maciço. Foi esta forma de altar que substituiu nos séculos seguintes, embora sofrendo gradualmente sensíveis modificações.<br />Até o século IX, o altar, separado dos fiéis por alguns degraus e por uma balaustrada pouco elevada, era um lugar santo e isolado, mas visível a todos, foco onde se concentrava o culto dos fiéis e donde irradiavam todas as graças. Aparecia uma nudez cheia de simplicidade. Era verdadeiramente a pedra do Sacrifício e a mesa da comunhão.<br />Neste mesmo século introduziu-se lentamente o costume de depor as relíquias dos santos no altar, onde até então eram colocados durante a Missa o Evangelho que a fé identificava com Jesus, e a matéria do Sacrifício. E como muitas das relíquias eram insignes, pois muitas igrejas possuíam os corpos inteiros dos seus santos patronos, foi preciso recuar a urna volumosa que as continha.<br />Isso tornou necessárias novas modificações. O altar trocou a forma cúbica pela oblonga; saiu do centro do edifício e foi encostar-se no fundo do presbitério, onde a parede veio a servir de ponto de apoio à urna e suas ornamentações cada vez mais desenvolvidas e que vieram a formar o retábulo. A partir do século XIV as urnas foram separadas do altar para facilitar a sua veneração pelos fiéis. Esta modificação provocou o desenvolvimento desses grandes retábulos, que cresceram e subiram a ponto de cobrir todo o muro a que estava arrimado o altar.<br />A 2ª edição típica do Missal Romano, aprovado para o Brasil, em 1991, na Instrução Geral, diz dos números 259 a 267 a normatização à luz do Concílio Vaticano II:<br />259. O altar, em que se torna presente sob os sinais sacramentais o sacrifício da cruz, é também a mesa do Senhor, na qual o povo de Deus é chamado a participar quando é convocado para a Missa; o altar é também o centro da ação de graças que se realiza pela Eucaristia.<br />260. A celebração da Eucaristia em lugar destinado ao culto; deve ser feita num altar fixo ou móvel; fora do lugar sagrado, porém, sobretudo quando é celebrada de modo ocasional, pode-se usar uma mesa apropriada, sempre com toalha e corporal.<br />261. Chama-se altar fixo quando é construído de tal forma que esteja unido ao pavimento e não possa ser removido; móvel quando pode ser removido.<br />262. Na igreja haja normalmente um altar fixo e dedicado, construído afastado da parede, a fim de ser facilmente circundado e nele se possa celebrar de frente para o povo. Ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos fiéis.<br />263. Segundo tradicional e significativo costume da Igreja, a mesa do altar fixo seja de pedra, e mesmo de pedra natural. Contudo, pode-se também usar outro material digno, sólido e esmeradamente trabalhado, a juízo da Conferência Episcopal. Os pés ou a base de sustentação da mesa podem ser feitos de qualquer material, contanto que digno e sólido.<br />264. O altar móvel pode ser construído de qualquer material nobre e sólido, condizente com o uso litúrgico e de acordo com as tradições e costumes das diversas regiões.<br />265. Tanto os altares fixos como os altares móveis são dedicados conforme o rito descrito nos livros litúrgicos; os altares móveis, porém, poderão receber apenas a bênção.<br />266. Mantenha-se o uso de depositar sob o altar a ser dedicado relíquias de santos, ainda que não sejam mártires. Cuide-se, porém, de verificar a autenticidade de tais relíquias.<br />267. Outros altares sejam em pequeno número e, nas igrejas novas, colocados em capelas separadas de certa forma da nave da igreja.<br />A partir deste breve histórico, podemos ver de forma muito rápida a oração de dedicação do altar e sentir como o altar não é um objeto, mas alguém... que só percebemos se nos deixamos conduzir para dentro do mistério que nele se celebra. Mas antes alguns elementos importantes destacados já na introdução do Ritual:<br />I. Natureza e dignidade do altar<br />1 - Cristo é apresentado como a vítima, o sacerdote, o altar do seu sacrifício (retoma a carta aos Hebreus 1,3).<br />2 - Diz que “Cristo, Cabeça e Mestre é o verdadeiro altar; seus membros e discípulos são também altares espirituais, oferecendo a Deus uma vida santa...” e cita diversos padres da igreja.<br />  <br />3 - O altar é mesa do sacrifício e do banquete... santificou a mesa em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa. Por conseguinte o altar é a mesa do sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor, realiza aquilo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória...<br /> <br />4 - O altar, sinal de Cristo: O altar cristão por sua natureza é a mesa própria para o sacrifício e o banquete pascal; mesa onde o sacrifício da cruz se perpetua, até a vinda de Cristo. Mesa onde os filhos da igreja se congregam para dar graças e para receber o Corpo e Sangue de Cristo. Portanto, em todas as igrejas o altar é “o centro das ações de graças oferecidas pela Eucaristia, para o qual de algum modo todos os ritos da igreja convergem”.<br />5 - O altar honra dos mártires: A dignidade do altar está toda inteira em ser ele a mesa do Senhor. Não são os corpos dos mártires que honram o altar, mas muito ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos mártires... Neste item fala-se das relíquias, sua colocação e diz-se ainda que o testemunho dado pelos mártires possui força espiritual e que suas relíquias, postas debaixo do altar expressam de modo total e íntegro.<br />II. A Ereção do Altar<br />Do número 6 ao 11 temos algumas orientações: distinção entre altar fixo e móvel, o altar único e a possibilidade de um altar na capela do Santíssimo para celebrações com pequenos grupos, a centralidade do altar, o material empregado na construção do altar e a dedicação que se faz dele somente a Deus e não aos santos, e  como se deve ter cuidado com as relíquias: quanto ao tamanho, sua veracidade e colocação debaixo do altar.<br />Aquilo que o ritual diz na introdução vai ser explicitado pela prece da dedicação do altar  – cume desta pesquisa. A partir desta prece entendemos a sua importância e a sua centralidade no espaço de celebração.<br />Prece de dedicação de um Altar“Na liturgia da dedicação, o altar é visto e descrito como símbolo de Cristo até ser identificado como sendo o próprio Cristo” Ferraro, p. 271.Nós vos agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes com inefável bondade decidido que, superadas as várias figuras, se realizasse em Cristo o mistério do altar.(1 Tm 3,16) (Ef 1, 9-10) (1Cor 2,7) (Col 1,26-27) (Col 2,2-3).Noé, segundo pai do gênero humano, baixadas as águas do dilúvio, ergueu um altar e vos ofereceu um  sacrifício, que aceitastes, qual suave perfume, renovando com o ser humano a aliança de amor.Anamnese(Gn 8,20-21) (Ex 29,18) (Ex 29,25) (Lv 1,9-10) (Ef 5,2)“Como o sacrifício, o altar tem um profundo significado religioso: é o símbolo da presença divina e o sinal da comunicação entre Deus e o povo”. (Ferraro p. 245)Abraão, nosso pai na fé, aderindo de todo coração à vossa palavra, ergueu um altar, para oferecer-vos um sacrifício agradável, não poupando seu amado filho Isaac.(Gn 22,2) (Gn 22,3-8) (Gn 22,9-10) (Hb 11,17-19) (Rm 8,32).“Os diversos altares construídos por Abraão não são locais para o sacrifício mas locais memoriais da promessa de Deus”. (Gn 12, 7-8) (Gn 13,18)Também Moisés, mediador da antiga Lei, edificou um altar que, aspergido com o sangue do cordeiro, prefigurava misticamente o altar da cruz.(Ex 24,3-8) (Ex 24,1-2.9-11) (Hb 9,19-20) (Ef 2,13) (Col 2,14)“O altar edificado por Moisés para a celebração do sacrifício que selava a aliança entre Deus e o povo eleito é sinal profético do altar da cruz, no qual o sangue derramado pelo Cristo selou a nova e definitiva aliança entre Deus e a humanidade. “(Ferraro, p. 250)Todas essas figuras Cristo as levou à realidade pelo mistério pascal. Ele, sacerdote e vítima, suspenso na árvore da cruz, entregou-se como oblação pura a vós, ó Pai, para assim apagar todos os pecados e estabelecer a nova e eterna aliança convosco.“O Mistério significado pelos altares antigos tem a sua perfeita realização no Mistério Pascal de Cristo”. (Ferraro p. 251). (Hb 9,14) (Hb 9,26.28) (Hb 10,12-14) (Ef 5,25) (Mc 14,24) (Lc 22,20).Por isso, nós vos rogamos, Senhor, derramai a plenitude da vossa bênção celeste sobre este altar, erguido na casa do vosso povo; que se torne para sempre dedicado ao sacrifício de Cristo e seja a mesa do Senhor, junto da qual vosso povo se renove no banquete divino.Santificação do Altar“O pedido de santificação do altar é uma implícita invocação do Espírito Santo, autor da santificação; o Espírito Santo comunica ao altar a santidade divina e santificado é dedicado a Deus e reservado a Ele para o culto tornando-se ara do sacrifício e mesa do banquete...” (p. 254).Seja-nos esta pedra polida símbolo de Cristo, (se o altar não for de pedra, mas de outra matéria se diz:) Seja-nos este altar símbolo de Cristo, de cujo lado ferido correram água e sangue, os sacramentos que fazem nascer a Igreja.Altar sinal de CristoPedra, Sangue e Água. (1Pd 2,4-8) (Cor 10,1.4) (Jo 19,34) (Ex 17,5-6) (Nm 20,11) (Sl 77,15-16) (Sl 104,41) (Jo 7,37-38).Seja este altar a mesa festiva, para onde os convivas de Cristo acorram alegres e, colocando em vossas mãos cuidados e trabalhos, se reanimem com novo vigor para a retomada do caminho.Altar mesa do banquete festivo(Mt 26,26-28) (Mc 14,22-24) (Lc 22,19-20) (Jo 6,56)  (1Cor 10,21) (Lc 22,29-30) (Mt 11,28) (1Re 19,18)Seja o lugar de íntima comunhão e de paz convosco, em que, alimentados com o Corpo e o Sangue de vosso Filho, imbuídos do vosso Espírito, cresçam no amor.Lugar da íntima comunhão com o Pai(At 2,42) (Cor 13, 13) (Rm 5,5)Seja fonte de unidade da Igreja e concórdia dos irmãos e irmãs; reunidos os fiéis junto dele, bebam o espírito da mútua caridade.Fonte de unidade da Igreja(Jo 11,51-52) (Jo 17,11) (1Cor 10,17) (1 Cor 12,12-13.20) (Ef 4,1.3-6)Na LG se diz que “Com o sacramento do pão eucarístico se representa e efetua a unidade dos fiéis”. (LG 3)Seja o centro do nosso louvor e da ação de graças, até chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos, onde com Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos oferecemos o perene sacrifício de louvor.Seja centro do louvor(At 2,46-47) (Jo 12,28; 13,31-32; 17,1.4-5) (Jo 6,11) (Mt 14,19;15,35) (Mc 6,41;8,6) (Lc 9,16)Ação de graças na instituição da Eucaristia (Lc 22,19-20) (Mt 26,29) (Mc 14,22-25) (1Cor 11,23-25).<br />A oração inicia evocando três altares do antigo testamento: o altar de Noé, de Abraão, de Moisés. Estes altares eram figuras proféticas (tipos) daquilo que se realizaria em Cristo, na sua páscoa. Ele, na cruz, se oferece ao Pai (Isaac), para destruir os pecados do mundo (Noé), e estabelecer uma nova aliança (Moisés).<br />Na oração, no momento epiclético, se roga ao senhor para que o altar seja:<br /> Lugar dedicado ao sacrifício de Cristo.<br /> Mesa do Senhor onde o povo se renove no banquete divino.<br /> Símbolo de Cristo, de cujo lado aberto correu sangue e água, sacramentos que fazem nascer a igreja.<br /> Mesa festiva para a qual acorrem alegres os convivas.<br /> Lugar de íntima comunhão e de paz..., imbuídos pelo Espírito, cresçamos no amor.   <br /> Fonte de unidade da igreja.<br /> Seja o centro do louvor e da gratidão.<br />Este texto condensa tudo o que podemos dizer do altar. Não é uma mesa qualquer, traz presente para a assembléia o Cristo pascal, como é apresentado no do prefácio V da Páscoa: “Confiante entregou em vossas mãos seu espírito [...], revelando-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro”.<br />Eis porque o altar é único, não podemos ter outros. A ele reverenciamos com o beijo. É o símbolo eminente de Cristo. Nada se lhe sobrepõe e muito menos escondê-lo com excesso de toalhas, flores, cadeiras colocadas à sua frente. <br />Na liturgia maronita no final da celebração o altar é saudado assim: “Fica em paz, santo altar do Senhor. Eu já não sei se voltarei a ti. O Senhor me conceda de ver-te na assembléia dos primogênitos que estão no céu; nesta aliança coloco a minha esperança. Fica em paz, altar santo e propiciador... Fica em Paz, santo altar, mesa de vida, e suplica por mim ao Senhor Jesus Cristo, para que eu não cesse de pensar em ti”.<br />É evidente que o autor se refere ao altar não como a um móvel, mas uma pessoa: pessoa querida, com a qual deseja se encontrar: Jesus Cristo!<br />Têm-se ainda, as ações rituais que mereceriam ser analisadas, pois trazem uma riqueza muito grande: a aspersão, a unção, a incensação, o revestimento e iluminação.<br />“A unção do altar com o crisma expressa a dignidade e a missão de Cristo, o ungido do Pai por obra do Espírito Santo, como sumo sacerdote da nova aliança; a queima do incenso sobre o altar significa que o sacrifício de Cristo, chega a Deus Pai como agradável perfume; a iluminação do altar mostra Cristo como luz que ilumina todos os povos e a sua Igreja”.<br />Santo Agostinho, comentando o salmo 44,8 diz: “Quem é o ungido de Deus? Deus, é o ungido por Deus; quando ouves dizer o ungido, compreendes que é Cristo. Porque Cristo deriva de Crisma; este nome Cristo significa unção... Deus é ungido por Deus com qual óleo, senão o óleo espiritual? De fato o óleo visível está no símbolo, o óleo invisível no sacramento, o óleo espiritual está no íntimo. Deus foi ungido por nós e enviado a nós; e o mesmo Deus para ser ungido torna-se homem, mas era homem de tal forma que era Deus, e era Deus que não subestimou ser homem: verdadeiro homem verdadeiro Deus [...] É Deus-Homem e, portanto, Deus ungido, porque é homem Deus tornou-se Cristo”. <br />   <br />“O Espírito Santo tem, no sacrifício de Cristo a mesma função que tinha o fogo nos sacrifícios antigos... Somente o Espírito eterno de Deus, o Espírito Santo, tem o poder de realizar a verdadeira transformação que torna a vítima agradável e Deus e instrumento eficaz de salvação”. <br />Nas antigas basílicas cristãs havia um elemento arquitetônico construído sobre o altar que enfatizava a ação do Espírito, o cibório, que nós conhecemos como baldaquino. Não precisamos fazer hoje a mesma coisa, mas, as luzes sobre o altar, as velas que são colocadas ao redor, ou até uma abertura zenital podem restituir às nossas igrejas esta riqueza simbólica. Com isso, pode-se afirmar que Jesus Cristo é a luz que ilumina os olhos da nossa fé e os habilita a vê-lo e conhecê-lo e nele ver e reconhecer o Pai: “Quem me viu, viu o Pai”. (Jo 14,9)”. <br /> <br />“Na verdade , ó Pai, Deus eterno e todo poderoso,<br /> é nosso dever dar-vos graças, é nossa salvação dar-vos glória,<br /> em todo tempo e lugar, por Cristo Senhor nosso.<br /> Sacerdote de verdade, fez-se verdadeira vítima,<br /> e ordenou-nos celebrar sempre o memorial do sacrifício<br /> que vos ofereceu na ara da cruz.<br /> Por isso, Senhor, vosso povo ergueu este altar, que,<br /> com alegria, vos dedicamos.<br /> Aqui é o lugar privilegiado onde sempre se oferece,<br /> no mistério, o sacrifício de Cristo,<br /> donde sobe a vós o louvor perfeito e surge nossa redenção.<br />                        Aqui a mesa do Senhor é preparada, e junto dela vossos filhos,<br />                        refeitos pelo corpo de Cristo, se congregam na Igreja una e santa.<br />                        Aqui vossos fiéis haurem vosso Espírito dos rios que jorram da pedra espiritual,<br />                        O Cristo, por quem eles se tornam oblação santa, altar vivo”.<br />      <br />No texto, por duas vezes aparece a palavra “altar”. Na primeira fala do altar propriamente dito, e na segunda fala dos fiéis que da mesa preparada haurem o Espírito e tornam-se oblação santa, altar vivo.<br />Pode-se assim concluir que o sinal permanente e vivo que o Senhor nos deixou é, de fato, uma re-cordação, como reza o Catecismo da Igreja Católica:<br />“A missão de Cristo e do Espírito Santo, que, na liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza e comunica o Mistério da salvação, prolonga-se no coração de quem reza. Os Padres espirituais comparam às vezes o coração a um altar. A oração interioriza e assimila a Liturgia durante e após sua celebração. Mesmo quando é vivida ‘no segredo’ (Mt 6,6), a oração é sempre oração da Igreja, comunhão com a Santíssima Trindade.”<br />Portanto, “o altar representa o Corpo [de Cristo] e o Corpo de Cristo está sobre o altar”. Em forma de oração, podemos pedir que as nossas orações “sejam elevadas à presença de Deus, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue de Cristo, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.”<br />
Prece de consagração de um altar
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Prece de consagração de um altar

  • 1. Análise sacramentológica da <br />Prece de Consagração de um Altar<br />Cleiton Robson do Nascimento<br />O altar cristão nasce e tem origem na mesa da ceia do Senhor com os seus discípulos. É a mesa preparada na “sala de cima”, lugar nobre, que aconchega, onde o Senhor vive com os seus discípulos um momento de intimidade, de partilha, de refeição, de despedida. Esta ceia, segundo explicito pedido do Senhor deverá ser perpetuada e repetida pelos seus: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24b). <br />O objetivo da presente pesquisa é discorrer, analisando sacramentologicamente o sentido da “prece de consagração de um altar”; para tanto, será apresentado um pequeno esboço histórico do ‘altar’, até se chegar à análise da prece, propriamente dita. <br />Como parte de um ‘sacramental’, O Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a sagrada liturgia diz a respeito dos sacramentos e sacramentais:<br />“Os sacramentos estão ordenados à santificação dos homens, à edificação do Corpo de Cristo e, enfim, a prestar culto a Deus; como sinais, têm também a função de instruir. Não só supõem a fé, mas também a alimentam, fortificam e exprimem por meio de palavras e coisas, razão pela qual se chamam sacramentos da fé. Conferem a graça, a cuja frutuosa recepção a celebração dos mesmos otimamente dispõe os fiéis, bem como a honrar a Deus do modo devido e a praticar a caridade. Por este motivo, interessa muito que os fiéis compreendam facilmente os sinais sacramentais e recebam com a maior freqüência possível os sacramentos que foram instituídos para alimentar a vida cristã. A santa mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são, à imitação dos sacramentos, sinais sagrados que significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, e se obtêm pela oração da Igreja. Por meio deles dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e santificam-se as várias circunstâncias da vida. Portanto, a liturgia dos sacramentos e sacramentais faz com que a graça divina, que deriva do Mistério pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, onde vão buscar a sua eficácia todos os sacramentos e sacramentais, santifique todos os passos da vida dos fiéis que os recebem com a devida disposição. A ela se deve também que não deixe de poder ser orientado para a santificação dos homens e para o louvor de Deus o bom uso das coisas materiais.” <br />Neste mesmo sentido, é importante e válido entender o que significa ‘sinal’, entendê-lo como ‘mostração’. O ser humano está em uma constante busca de realização. Porém, esta realização se tornou, na verdade, uma forma de gratificação do eu de cada um; muitas vezes, até de maneira inconsciente. Mas, em sua raiz, a busca do homem é a busca por querer ser divino, ser como Deus. Neste caminhar, o cristão pode radicalizar o seu batismo, abraçando a Vida Religiosa Consagrada. Claro que não compete apenas aos religiosos serem radicais em seu batismo; antes, eles fazem uma convocação a todos para serem também filhos de Deus e serem como Ele é. E ser como o Pai do Céu é, é ser como Jesus Cristo: gratuito! Na verdade, o íntimo mais íntimo nosso é a Trindade!<br />Por isso que, como Jesus Cristo, devemos buscar reconduzir cada coisa, cada um ao seu próprio-original. Daí, tudo o que Jesus fazia eram tão somente sinais, símbolos, apontamentos da grandeza da Trindade que habitava n’Ele e d’Ele fazia parte. E Jesus é o arquétipo per-feito para cada um de nós. É como se dissesse: “Você também pode realizar milagres e prodígios...” Exemplo claro dessa fala são dos discípulos de Jesus e todos os santos que nos precederam na vida da fé. Daí os seus atos e até mesmo os “milagres” realizados serem “mostrações” da grandeza de Deus que estava neles - da força e elã original que já possuíam e que é uma convocação a cada um de nós a chegarmos também, à consumação de realização de uma vida completamente unida à Trindade, como sendo uma verdadeira “imagem e semelhança” sua; isto é, a santidade: sinal claro, visível do “Deus Invisível”, que em nós tem morada, de modo que quem nos olhe, veja não a nós, mas a Trindade e sua grandeza e beleza. Assim, podemos ser co-criadores, co-redentores e co-santificadores da humanidade, mostrando claramente o “Deus-Amor”. <br />Frédéric Van de Meer, patrólogo e arqueólogo, num livro sobre “Santo Agostinho, pastor de almas”, assim fala do altar e da eucaristia celebrada por Santo Agostinho na principal basílica da cidade. (Nesta época as basílicas tinham na ábside a cátedra e o altar era colocado mais perto da assembléia); Agostinho desce os degraus que separam a cadeira que está situada na ábside e dirige-se ao altar colocado mais no centro da nave sob o olhar atento dos fiéis.<br />“... Cálices e pratos com o pão são colocados sobre o altar: são as únicas coisas presentes sobre a mesa, sobre a toalha branca, e o brilho do ouro puro resplandece sobre o candor do linho. O silêncio é absoluto. Inúmeras luzes brilham nos lampadários. Agostinho avança até o altar, e de pé, sozinho dentro do espaço circundado, diante da pequena mesa revestida de branco, estende ainda uma vez as mãos.”<br /> <br />Deste texto percebemos que o altar não era [e não é] grande. Que há um respeito seja com relação ao lugar que está circundado talvez pelo cibório ou elementos no piso que definiam o espaço do altar, mas, sobretudo, no silêncio das pessoas. Mais à frente, escreve também ele, afirmando que o clima é festivo, pascal: as luzes brilhando as toalhas brancas... Do piso do altar Van de Meer diz:<br />“O Altar se ergue esbelto e imaculado sobre um campo de cores azuis, verdes e brancas. Sobre a mesa não há nem flores nem velas. Nada além da toalha branca sobre ele: ‘ele espera’, aguarda”. <br />Outra fonte ainda nos dá um sentido histórico mais completo acerca da natureza do altar, para podermos adentrar no que diz respeito à sua consagração. Refere-se a um ‘tratado geral’ sobre a liturgia romana e que conta o aspecto histórico da utilização do altar.<br />Os sacrifícios foram celebrados, desde a sua origem, em cima de pequenos cômoros, ordinariamente construídos de pedra e elevados acima do nível da terra a uma certa altura. Eram os altares. O Sacrifício da Nova Lei não pode ser celebrado senão no altar. E como o Sacrifício é o ato principal do culto, assim, o altar deve ser quanto ao lugar, matéria, forma e ornamentação, o ponto de convergência não só das linhas e massas arquitetônicas da igreja, mas também da atenção consciente e devota dos fiéis.<br />O Sacrifício eucarístico deve consumar-se por uma refeição. É, pois, natural que seja celebrado numa mesa. De resto, foi numa mesa, no cenáculo, que Jesus Cristo o instituiu. Tal parece ter sido o altar primitivo, sustentado por quatro colunas, erguidas nas quatro extremidades, a que por vezes se ajuntava uma quinta coluna ao centro, em forma de cofre de relíquias.<br />A veneração para com os mártires, que uniram num Sacrifício comum seus sofrimentos aos de Jesus, sugeriu a celebração do Santo Sacrifício sobre os seus corpos rubros de sangue. A mesa transformou-se em túmulo. <br />Quando sobre o túmulo de um mártir, aberto numa cripta subterrânea, se construía uma basílica, o altar elevava-se ao nível da igreja, mas sobre a ossada, em forma de cubo inteiramente maciço. Foi esta forma de altar que substituiu nos séculos seguintes, embora sofrendo gradualmente sensíveis modificações.<br />Até o século IX, o altar, separado dos fiéis por alguns degraus e por uma balaustrada pouco elevada, era um lugar santo e isolado, mas visível a todos, foco onde se concentrava o culto dos fiéis e donde irradiavam todas as graças. Aparecia uma nudez cheia de simplicidade. Era verdadeiramente a pedra do Sacrifício e a mesa da comunhão.<br />Neste mesmo século introduziu-se lentamente o costume de depor as relíquias dos santos no altar, onde até então eram colocados durante a Missa o Evangelho que a fé identificava com Jesus, e a matéria do Sacrifício. E como muitas das relíquias eram insignes, pois muitas igrejas possuíam os corpos inteiros dos seus santos patronos, foi preciso recuar a urna volumosa que as continha.<br />Isso tornou necessárias novas modificações. O altar trocou a forma cúbica pela oblonga; saiu do centro do edifício e foi encostar-se no fundo do presbitério, onde a parede veio a servir de ponto de apoio à urna e suas ornamentações cada vez mais desenvolvidas e que vieram a formar o retábulo. A partir do século XIV as urnas foram separadas do altar para facilitar a sua veneração pelos fiéis. Esta modificação provocou o desenvolvimento desses grandes retábulos, que cresceram e subiram a ponto de cobrir todo o muro a que estava arrimado o altar.<br />A 2ª edição típica do Missal Romano, aprovado para o Brasil, em 1991, na Instrução Geral, diz dos números 259 a 267 a normatização à luz do Concílio Vaticano II:<br />259. O altar, em que se torna presente sob os sinais sacramentais o sacrifício da cruz, é também a mesa do Senhor, na qual o povo de Deus é chamado a participar quando é convocado para a Missa; o altar é também o centro da ação de graças que se realiza pela Eucaristia.<br />260. A celebração da Eucaristia em lugar destinado ao culto; deve ser feita num altar fixo ou móvel; fora do lugar sagrado, porém, sobretudo quando é celebrada de modo ocasional, pode-se usar uma mesa apropriada, sempre com toalha e corporal.<br />261. Chama-se altar fixo quando é construído de tal forma que esteja unido ao pavimento e não possa ser removido; móvel quando pode ser removido.<br />262. Na igreja haja normalmente um altar fixo e dedicado, construído afastado da parede, a fim de ser facilmente circundado e nele se possa celebrar de frente para o povo. Ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos fiéis.<br />263. Segundo tradicional e significativo costume da Igreja, a mesa do altar fixo seja de pedra, e mesmo de pedra natural. Contudo, pode-se também usar outro material digno, sólido e esmeradamente trabalhado, a juízo da Conferência Episcopal. Os pés ou a base de sustentação da mesa podem ser feitos de qualquer material, contanto que digno e sólido.<br />264. O altar móvel pode ser construído de qualquer material nobre e sólido, condizente com o uso litúrgico e de acordo com as tradições e costumes das diversas regiões.<br />265. Tanto os altares fixos como os altares móveis são dedicados conforme o rito descrito nos livros litúrgicos; os altares móveis, porém, poderão receber apenas a bênção.<br />266. Mantenha-se o uso de depositar sob o altar a ser dedicado relíquias de santos, ainda que não sejam mártires. Cuide-se, porém, de verificar a autenticidade de tais relíquias.<br />267. Outros altares sejam em pequeno número e, nas igrejas novas, colocados em capelas separadas de certa forma da nave da igreja.<br />A partir deste breve histórico, podemos ver de forma muito rápida a oração de dedicação do altar e sentir como o altar não é um objeto, mas alguém... que só percebemos se nos deixamos conduzir para dentro do mistério que nele se celebra. Mas antes alguns elementos importantes destacados já na introdução do Ritual:<br />I. Natureza e dignidade do altar<br />1 - Cristo é apresentado como a vítima, o sacerdote, o altar do seu sacrifício (retoma a carta aos Hebreus 1,3).<br />2 - Diz que “Cristo, Cabeça e Mestre é o verdadeiro altar; seus membros e discípulos são também altares espirituais, oferecendo a Deus uma vida santa...” e cita diversos padres da igreja.<br /> <br />3 - O altar é mesa do sacrifício e do banquete... santificou a mesa em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa. Por conseguinte o altar é a mesa do sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor, realiza aquilo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória...<br /> <br />4 - O altar, sinal de Cristo: O altar cristão por sua natureza é a mesa própria para o sacrifício e o banquete pascal; mesa onde o sacrifício da cruz se perpetua, até a vinda de Cristo. Mesa onde os filhos da igreja se congregam para dar graças e para receber o Corpo e Sangue de Cristo. Portanto, em todas as igrejas o altar é “o centro das ações de graças oferecidas pela Eucaristia, para o qual de algum modo todos os ritos da igreja convergem”.<br />5 - O altar honra dos mártires: A dignidade do altar está toda inteira em ser ele a mesa do Senhor. Não são os corpos dos mártires que honram o altar, mas muito ao contrário: é o altar que nobilita o sepulcro dos mártires... Neste item fala-se das relíquias, sua colocação e diz-se ainda que o testemunho dado pelos mártires possui força espiritual e que suas relíquias, postas debaixo do altar expressam de modo total e íntegro.<br />II. A Ereção do Altar<br />Do número 6 ao 11 temos algumas orientações: distinção entre altar fixo e móvel, o altar único e a possibilidade de um altar na capela do Santíssimo para celebrações com pequenos grupos, a centralidade do altar, o material empregado na construção do altar e a dedicação que se faz dele somente a Deus e não aos santos, e como se deve ter cuidado com as relíquias: quanto ao tamanho, sua veracidade e colocação debaixo do altar.<br />Aquilo que o ritual diz na introdução vai ser explicitado pela prece da dedicação do altar – cume desta pesquisa. A partir desta prece entendemos a sua importância e a sua centralidade no espaço de celebração.<br />Prece de dedicação de um Altar“Na liturgia da dedicação, o altar é visto e descrito como símbolo de Cristo até ser identificado como sendo o próprio Cristo” Ferraro, p. 271.Nós vos agradecemos, Senhor, e vos bendizemos, por terdes com inefável bondade decidido que, superadas as várias figuras, se realizasse em Cristo o mistério do altar.(1 Tm 3,16) (Ef 1, 9-10) (1Cor 2,7) (Col 1,26-27) (Col 2,2-3).Noé, segundo pai do gênero humano, baixadas as águas do dilúvio, ergueu um altar e vos ofereceu um sacrifício, que aceitastes, qual suave perfume, renovando com o ser humano a aliança de amor.Anamnese(Gn 8,20-21) (Ex 29,18) (Ex 29,25) (Lv 1,9-10) (Ef 5,2)“Como o sacrifício, o altar tem um profundo significado religioso: é o símbolo da presença divina e o sinal da comunicação entre Deus e o povo”. (Ferraro p. 245)Abraão, nosso pai na fé, aderindo de todo coração à vossa palavra, ergueu um altar, para oferecer-vos um sacrifício agradável, não poupando seu amado filho Isaac.(Gn 22,2) (Gn 22,3-8) (Gn 22,9-10) (Hb 11,17-19) (Rm 8,32).“Os diversos altares construídos por Abraão não são locais para o sacrifício mas locais memoriais da promessa de Deus”. (Gn 12, 7-8) (Gn 13,18)Também Moisés, mediador da antiga Lei, edificou um altar que, aspergido com o sangue do cordeiro, prefigurava misticamente o altar da cruz.(Ex 24,3-8) (Ex 24,1-2.9-11) (Hb 9,19-20) (Ef 2,13) (Col 2,14)“O altar edificado por Moisés para a celebração do sacrifício que selava a aliança entre Deus e o povo eleito é sinal profético do altar da cruz, no qual o sangue derramado pelo Cristo selou a nova e definitiva aliança entre Deus e a humanidade. “(Ferraro, p. 250)Todas essas figuras Cristo as levou à realidade pelo mistério pascal. Ele, sacerdote e vítima, suspenso na árvore da cruz, entregou-se como oblação pura a vós, ó Pai, para assim apagar todos os pecados e estabelecer a nova e eterna aliança convosco.“O Mistério significado pelos altares antigos tem a sua perfeita realização no Mistério Pascal de Cristo”. (Ferraro p. 251). (Hb 9,14) (Hb 9,26.28) (Hb 10,12-14) (Ef 5,25) (Mc 14,24) (Lc 22,20).Por isso, nós vos rogamos, Senhor, derramai a plenitude da vossa bênção celeste sobre este altar, erguido na casa do vosso povo; que se torne para sempre dedicado ao sacrifício de Cristo e seja a mesa do Senhor, junto da qual vosso povo se renove no banquete divino.Santificação do Altar“O pedido de santificação do altar é uma implícita invocação do Espírito Santo, autor da santificação; o Espírito Santo comunica ao altar a santidade divina e santificado é dedicado a Deus e reservado a Ele para o culto tornando-se ara do sacrifício e mesa do banquete...” (p. 254).Seja-nos esta pedra polida símbolo de Cristo, (se o altar não for de pedra, mas de outra matéria se diz:) Seja-nos este altar símbolo de Cristo, de cujo lado ferido correram água e sangue, os sacramentos que fazem nascer a Igreja.Altar sinal de CristoPedra, Sangue e Água. (1Pd 2,4-8) (Cor 10,1.4) (Jo 19,34) (Ex 17,5-6) (Nm 20,11) (Sl 77,15-16) (Sl 104,41) (Jo 7,37-38).Seja este altar a mesa festiva, para onde os convivas de Cristo acorram alegres e, colocando em vossas mãos cuidados e trabalhos, se reanimem com novo vigor para a retomada do caminho.Altar mesa do banquete festivo(Mt 26,26-28) (Mc 14,22-24) (Lc 22,19-20) (Jo 6,56) (1Cor 10,21) (Lc 22,29-30) (Mt 11,28) (1Re 19,18)Seja o lugar de íntima comunhão e de paz convosco, em que, alimentados com o Corpo e o Sangue de vosso Filho, imbuídos do vosso Espírito, cresçam no amor.Lugar da íntima comunhão com o Pai(At 2,42) (Cor 13, 13) (Rm 5,5)Seja fonte de unidade da Igreja e concórdia dos irmãos e irmãs; reunidos os fiéis junto dele, bebam o espírito da mútua caridade.Fonte de unidade da Igreja(Jo 11,51-52) (Jo 17,11) (1Cor 10,17) (1 Cor 12,12-13.20) (Ef 4,1.3-6)Na LG se diz que “Com o sacramento do pão eucarístico se representa e efetua a unidade dos fiéis”. (LG 3)Seja o centro do nosso louvor e da ação de graças, até chegarmos jubilosos aos tabernáculos eternos, onde com Cristo, Sumo Pontífice e Altar vivo, vos oferecemos o perene sacrifício de louvor.Seja centro do louvor(At 2,46-47) (Jo 12,28; 13,31-32; 17,1.4-5) (Jo 6,11) (Mt 14,19;15,35) (Mc 6,41;8,6) (Lc 9,16)Ação de graças na instituição da Eucaristia (Lc 22,19-20) (Mt 26,29) (Mc 14,22-25) (1Cor 11,23-25).<br />A oração inicia evocando três altares do antigo testamento: o altar de Noé, de Abraão, de Moisés. Estes altares eram figuras proféticas (tipos) daquilo que se realizaria em Cristo, na sua páscoa. Ele, na cruz, se oferece ao Pai (Isaac), para destruir os pecados do mundo (Noé), e estabelecer uma nova aliança (Moisés).<br />Na oração, no momento epiclético, se roga ao senhor para que o altar seja:<br /> Lugar dedicado ao sacrifício de Cristo.<br /> Mesa do Senhor onde o povo se renove no banquete divino.<br /> Símbolo de Cristo, de cujo lado aberto correu sangue e água, sacramentos que fazem nascer a igreja.<br /> Mesa festiva para a qual acorrem alegres os convivas.<br /> Lugar de íntima comunhão e de paz..., imbuídos pelo Espírito, cresçamos no amor. <br /> Fonte de unidade da igreja.<br /> Seja o centro do louvor e da gratidão.<br />Este texto condensa tudo o que podemos dizer do altar. Não é uma mesa qualquer, traz presente para a assembléia o Cristo pascal, como é apresentado no do prefácio V da Páscoa: “Confiante entregou em vossas mãos seu espírito [...], revelando-se, ao mesmo tempo, sacerdote, altar e cordeiro”.<br />Eis porque o altar é único, não podemos ter outros. A ele reverenciamos com o beijo. É o símbolo eminente de Cristo. Nada se lhe sobrepõe e muito menos escondê-lo com excesso de toalhas, flores, cadeiras colocadas à sua frente. <br />Na liturgia maronita no final da celebração o altar é saudado assim: “Fica em paz, santo altar do Senhor. Eu já não sei se voltarei a ti. O Senhor me conceda de ver-te na assembléia dos primogênitos que estão no céu; nesta aliança coloco a minha esperança. Fica em paz, altar santo e propiciador... Fica em Paz, santo altar, mesa de vida, e suplica por mim ao Senhor Jesus Cristo, para que eu não cesse de pensar em ti”.<br />É evidente que o autor se refere ao altar não como a um móvel, mas uma pessoa: pessoa querida, com a qual deseja se encontrar: Jesus Cristo!<br />Têm-se ainda, as ações rituais que mereceriam ser analisadas, pois trazem uma riqueza muito grande: a aspersão, a unção, a incensação, o revestimento e iluminação.<br />“A unção do altar com o crisma expressa a dignidade e a missão de Cristo, o ungido do Pai por obra do Espírito Santo, como sumo sacerdote da nova aliança; a queima do incenso sobre o altar significa que o sacrifício de Cristo, chega a Deus Pai como agradável perfume; a iluminação do altar mostra Cristo como luz que ilumina todos os povos e a sua Igreja”.<br />Santo Agostinho, comentando o salmo 44,8 diz: “Quem é o ungido de Deus? Deus, é o ungido por Deus; quando ouves dizer o ungido, compreendes que é Cristo. Porque Cristo deriva de Crisma; este nome Cristo significa unção... Deus é ungido por Deus com qual óleo, senão o óleo espiritual? De fato o óleo visível está no símbolo, o óleo invisível no sacramento, o óleo espiritual está no íntimo. Deus foi ungido por nós e enviado a nós; e o mesmo Deus para ser ungido torna-se homem, mas era homem de tal forma que era Deus, e era Deus que não subestimou ser homem: verdadeiro homem verdadeiro Deus [...] É Deus-Homem e, portanto, Deus ungido, porque é homem Deus tornou-se Cristo”. <br /> <br />“O Espírito Santo tem, no sacrifício de Cristo a mesma função que tinha o fogo nos sacrifícios antigos... Somente o Espírito eterno de Deus, o Espírito Santo, tem o poder de realizar a verdadeira transformação que torna a vítima agradável e Deus e instrumento eficaz de salvação”. <br />Nas antigas basílicas cristãs havia um elemento arquitetônico construído sobre o altar que enfatizava a ação do Espírito, o cibório, que nós conhecemos como baldaquino. Não precisamos fazer hoje a mesma coisa, mas, as luzes sobre o altar, as velas que são colocadas ao redor, ou até uma abertura zenital podem restituir às nossas igrejas esta riqueza simbólica. Com isso, pode-se afirmar que Jesus Cristo é a luz que ilumina os olhos da nossa fé e os habilita a vê-lo e conhecê-lo e nele ver e reconhecer o Pai: “Quem me viu, viu o Pai”. (Jo 14,9)”. <br /> <br />“Na verdade , ó Pai, Deus eterno e todo poderoso,<br /> é nosso dever dar-vos graças, é nossa salvação dar-vos glória,<br /> em todo tempo e lugar, por Cristo Senhor nosso.<br /> Sacerdote de verdade, fez-se verdadeira vítima,<br /> e ordenou-nos celebrar sempre o memorial do sacrifício<br /> que vos ofereceu na ara da cruz.<br /> Por isso, Senhor, vosso povo ergueu este altar, que,<br /> com alegria, vos dedicamos.<br /> Aqui é o lugar privilegiado onde sempre se oferece,<br /> no mistério, o sacrifício de Cristo,<br /> donde sobe a vós o louvor perfeito e surge nossa redenção.<br /> Aqui a mesa do Senhor é preparada, e junto dela vossos filhos,<br /> refeitos pelo corpo de Cristo, se congregam na Igreja una e santa.<br /> Aqui vossos fiéis haurem vosso Espírito dos rios que jorram da pedra espiritual,<br /> O Cristo, por quem eles se tornam oblação santa, altar vivo”.<br /> <br />No texto, por duas vezes aparece a palavra “altar”. Na primeira fala do altar propriamente dito, e na segunda fala dos fiéis que da mesa preparada haurem o Espírito e tornam-se oblação santa, altar vivo.<br />Pode-se assim concluir que o sinal permanente e vivo que o Senhor nos deixou é, de fato, uma re-cordação, como reza o Catecismo da Igreja Católica:<br />“A missão de Cristo e do Espírito Santo, que, na liturgia sacramental da Igreja, anuncia, atualiza e comunica o Mistério da salvação, prolonga-se no coração de quem reza. Os Padres espirituais comparam às vezes o coração a um altar. A oração interioriza e assimila a Liturgia durante e após sua celebração. Mesmo quando é vivida ‘no segredo’ (Mt 6,6), a oração é sempre oração da Igreja, comunhão com a Santíssima Trindade.”<br />Portanto, “o altar representa o Corpo [de Cristo] e o Corpo de Cristo está sobre o altar”. Em forma de oração, podemos pedir que as nossas orações “sejam elevadas à presença de Deus, para que, ao participarmos deste altar, recebendo o Corpo e o Sangue de Cristo, sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu.”<br />