O discurso do corpo: Expressões corporais e comportamentais no discurso político
1. Faculdade Estácio de Sá de Vitória
Cursos de Publicidade e Propaganda / Jornalismo
ARTIGO CIENTIFICO
Projeto Integrador do sétimo período de comunicação social
O DISCURSO DO CORPO: EXPRESSÕES CORPORAIS E
COMPORTAMENTAIS NO DISCURSO POLÍTICO
Vitória
Maio de 2012
1
2. Resumo
O presente artigo estuda as expressões corporais e comportamentais no discurso
político a partir de dois personagens do universo político brasileiro: o deputado
Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca e o senador Cristovam Buarque. A
escolha dos personagens se deu com o objetivo de colocar, lado a lado, a análise
das expressões corporais e comportamentais de um político eleito pelo eleitorado
situado nos extratos com menor escolaridade da população brasileira (Tiririca) e
de outro cujos eleitores se situam, em sua grande maioria, nos extratos mais
intelectualizados do eleitorado (Buarque). Ao abordar essas duas diferentes e
extremas situações, o estudo busca retratar os distintos discursos adotados pelos
políticos no Brasil.
Palavras-chave: Discurso do corpo. Comportamento político. Tiririca. Cristovam
Buarque.
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3. 1 INTRODUÇÃO
A leitura das atitudes e pensamentos expressos no comportamento das pessoas
foi o primeiro sistema de comunicação usado pelo ser humano, muito antes do
desenvolvimento da linguagem oral. A expressão corporal nasceu no momento em
que o ser humano surgiu no universo, quando aprendeu a se comunicar usando o
corpo através dos gestos, da postura.
Os políticos compreendem perfeitamente que a política é uma questão de
aparência, razão pela qual a maioria deles recorre a consultores de linguagem
corporal para ajudá-los a criar a imagem de sinceros, honestos e responsáveis,
mesmo que não sejam. A maioria das pessoas acredita que a fala é ainda a nossa
principal forma de comunicação. Em termos evolucionários, a fala só passou a
fazer parte do nosso repertório de comunicação muito tempo depois do gestual,
sendo usada fundamentalmente para transmitir fatos e dados.
2 HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE CRISTOVAM BUARQUE
Poucos políticos no Brasil podem ser tão associados a uma bandeira política como
o senador Cristovam Buarque: a da educação. Engenheiro com doutorado em
Economia, o pernambucano fez do ensino o tema central de sua vida pública, que
começou em 1985 quando se tornou o primeiro reitor eleito da UnB (Universidade
de Brasília) após o período de ditadura militar (1964-1985).
Nascido em Recife (PE), em 1944, Cristovam se formou em 1966 pela Escola de
Engenharia do Recife, da Universidade Federal de Pernambuco. Participou do
movimento estudantil e, em seguida, militou na AP (Ação Popular), organização
clandestina de esquerda que lutava contra a ditadura. Com o aumento da tensão
política no Brasil após o AI-51, optou pelo auto-exílio na França.
Engenheiro com doutorado em economia, Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
é filho de um casal de classe média baixa, cujos pais trabalhavam em uma
1
O Ato Institucional nº 5, que entrou em vigor em 13/12/1968, suspendeu várias garantias constitucionais e
ampliou os poderes do Presidente da República
3
4. tecelagem. Quando adolescente Cristovam ajudava a vender panos e a fazer a
contabilidade comercial dos negócios da família. Quando estudante, trabalhava
ministrando aulas particulares de física e matemática, especialidade que o fez
optar pelo curso de Engenharia Mecânica, aproveitando o bom desenvolvimento
do país nos anos 1950 e 1960.
Na escola, seu espelho era Celso Furtado, o criador da Sudene, intelectual que
propunha unir o crescimento econômico e a inclusão social por meio da ação do
Estado.
Durante seu doutorado, trabalhou para sobreviver com sua esposa, Gladys. Após
a conclusão do curso, trabalhou no BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) até 1979, quando retornou ao Brasil e se tornou professor da
UnB. Em meio seus estudos e o período na UnB, escreveu cerca de 20 livros e
desenvolveu a tese de que existia uma “apartheid social” no Brasil, com os pobres
destinados a serem sempre pobres devido à falta de acesso ao estudo e a
oportunidades, cenário que só seria revertido com o investimento maciço em
educação.
No Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), chefiou equipes de
elaboração de projetos financiados pela instituição em toda a América Latina. No
BID, consolidou a certeza de que o liberalismo econômico não é suficiente para
enfrentar a pobreza e incluir os necessitados e que o Estado tem que investir em
áreas-chave para que isso aconteça. Com insistência e repetição levanta, desde
então, a bandeira da educação.
Em 1979, voltou ao Brasil para dar aulas no Departamento de Economia da
Universidade de Brasília.
2.1 CRISTOVAM REITOR (1985-1989)
De 1970, quando foi para Paris, a 1979, quando voltou ao Brasil, Cristovam
concluiu o doutorado na Sorbonne e trabalhou seis anos no Banco Interamericano
de Desenvolviemnto (BID), onde chefiou equipes de elaboração de projetos
4
5. financiados pela instituição em toda a América Latina. No BID, consolidou a
certeza de que o liberalismo econômico não é suficiente para enfrentar a pobreza
e incluir os necessitados e que o Estado tem que investir em áreas-chave para
que isso aconteça.
Em 1979, voltou ao Brasil para dar aulas no Departamento de Economia da
Universidade de Brasília, a convite de Edmar Bacha, o economista que criou a
expressão Belíndia para designar o contraste econômico e social existente no
país, em que convive riqueza igual à da Bélgica com uma miséria indiana. Na
UnB, onde a democracia foi retomada antes que o mesmo fenômeno ocorresse no
resto do país, Cristovam acabou protagonizando evento histórico ao ser o primeiro
reitor eleito da instituição. Isso em plenos estertores do regime militar.
Sua administração à frente da universidade fez com que a UnB se tornasse uma
referência nas discussões acadêmicas e políticas nacionais e mundiais dos anos
1980. Construiu o equivalente a 40% de tudo o que tinha sido feito antes. Abriu o
campus para a sociedade e pela primeira vez deu voz a movimentos sociais que
depois viriam a se consolidar no cenário nacional - como os seringueiros liderados
por Chico Mendes na Amazônia.
Desde 1979, Cristovam é professor da Universidade de Brasília (UnB). Na
universidade, a democracia foi retomada antes que o mesmo fenômeno ocorresse
no resto do país.
Também foi na UnB que ele estabeleceu as linhas gerais de seu pensamento
sobre o desenvolvimento econômico e inclusão social, presentes nos 20 livros que
escreveu e que podem ser resumidos em algumas expressões. Uma delas, a
“apartação”, como classifica a verdadeira apartheid social existente no país, com
os pobres sofrendo com a falta de estudo e oportunidades. Outras, a igualdade de
oportunidades - que só é possível com investimentos maciços em educação -, e o
choque de ética no capitalismo - que inclui o componente ético no sistema
econômico como essencial para a redução das desigualdades.
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6. Foi na UnB, em 1986, que Cristovam projetou as linhas gerais da Bolsa-Escola,
programa que ganhou o mundo e consiste em fazer o Estado pagar às famílias
pobres para manterem seus filhos nas escolas, uma evolução de projetos de
renda mínima, vinculados à assistência social. Cristovam ocupou a reitoria da UnB
de 1985 a 1989. Saiu de lá diretamente para o governo do Distrito Federal, onde
implantou a Bolsa-Escola e dezenas de outros programas sociais que fugiam à
lógica da esquerda corporativista e da direita assistencialista.
2.2 CRISTOVAM GOVERNADOR (1995-1999)
Filiado ao PT, foi o candidato do partido ao governo do DF após a atuação como
reitor, sendo eleito para o mandato 1995-1999. Durante o seu governo,
implantou a Bolsa-Escola, programa de assistência social que remunerava os pais
mediante a manutenção dos filhos na escola. Candidato à reeleição foi derrotado
por Joaquim Roriz.
O projeto bolsa-escola, implementado no Distrito Federal durante o governo
Cristovam Buarque, foi premiado no Brasil e no exterior. Apesar de ter obtido 58%
de aprovação (notas ótimo e bom) em pesquisa do instituto Datafolha realizada ao
6
7. final de seu mandato – tendo sido classificado como o quarto governador de
estado mais popular à época – não conseguiu a reeleição.
Seu governo (1995-1998) foi bem avaliado por 80% da população. Além da Bolsa-
Escola, Cristovam propiciou outra revolução no Distrito Federal ao promover
campanha educativa e repressiva que reduziu em 40% as mortes no trânsito e fez
com que o Distrito Federal passasse a ser - e é até hoje - a única unidade da
federação em que os motoristas param na faixa para a passagem de pedestres.
Durante seu governo, vários projetos sociais foram realizados com sucesso:
Bolsa-escola, Poupança-escola, Saúde em casa, Mala do livro, BRB Trabalho,
Temporadas populares, Paz no trânsito.
2.3 CRISTOVAM MINISTRO (2003-2004)
Nomeado como Ministro da Educação em janeiro de 2003, pelo então presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o principal objetivo do atual Senador Cristovam Buarque
era abolir o analfabetismo do país. Durante seu mandato, que foi interrompido
intempestivamente, foram alfabetizados mais de três milhões de brasileirinhos em
apenas um ano.
Cristovam Buarque defendia a educação como o caminho para o desenvolvimento
e a justiça social. Iniciou projetos como a “Escola Ideal”, implantado em 29
cidades. Tal projeto mantinha os alunos em aula durante 6h por dia. Sua idéia era
fazer uma revolução na educação de base.
Além desses, Buarque também sugeriu que fosse criado o programa “Primeiro
Emprego” para os jovens que se tornassem alfabetizadores. Também anunciou a
ampliação de alunos beneficiados pelo FIES (Programa de Financiamento
Estudantil); o projeto de lei que definia o piso salarial dos professores; a pretensão
de dobrar o número de alunos matriculados nas universidades, com investimento
no ensino a distância; e a distribuição de kit de uniforme escolar aos alunos do
ensino fundamental.
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8. Cristovam Buarque foi demitido do cargo no dia 23 de janeiro de 2004 pelo ex-
presidente Lula.
Após o constrangimento causado pela demissão do cargo de ministro, Cristovam
saiu do PT e ingressou no PDT, onde foi candidato à Presidência da República em
2006, tendo como tema central da campanha, mais uma vez, a educação. Ficou
em quarto lugar, com pouco mais de 2% dos votos. Nos últimos quatro anos de
seu mandato no Senado continuou centrando sua atuação na área do ensino.
2.4 CRISTOVAM SENADOR (2003-2010 e 2010-2018)
No Senado Federal, é chamado por seus pares como senador da educação, tendo
em vista sua defesa intransigente da educação como o caminho para o
desenvolvimento e a justiça.
Cristovam já presidiu a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional,
Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, Comissão de Direitos
Humanos e Legislação Participativa e Comissão de Educação, Cultura e Esportes.
A mais recente lei, de autoria de Cristovam, sancionada foi a de nº 12.533, que
institui o Dia Nacional de Conscientização sobre mudanças Climáticas, a ser
comemorado todo dia 16 de março.
Segundo o site do Senado “a lei é histórica e fará com que, naquela data, as
escolas possam promover atos, eventos, debates e mobilização relacionados à
proteção dos ecossistemas brasileiros”.
2.5 O DISCURSO POLÍTICO DE CRISTOVAM BUARQUE
O discurso persuasivo, que expressa assuntos para impressionar ouvintes com
forte apelo emocional, é um método conhecido. Este conceito já era discutido
desde o século IV A.C. A arte retórica do grego (rhetoriké) é uma antiga obra do
filósofo Aristóteles, que é muito utilizada nos atuais dias pelos mais conceituados
membros da sociedade.
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9. Muitos se encaixam no perfil, palestrantes-motivacionais, pastores evangélicos, e
nosso objeto de estudo, os políticos.
Neste contexto, os discursos políticos são manifestações de uma sociedade que,
mesmo estando em constantes mudanças e crescimentos intelectuais, tem como
bases do conhecimento as primárias.
O Senador gerou debates, e sua retórica apelativa sempre foi voltada à inclusão
social, e luta contra pobreza em todo o mundo.
2.5.1 Discursos de Cristovam
A intenção de promover uma “Revolução na Educação” é uma idéia que segue
pensamentos de importantes intelectuais brasileiros como Anísio Teixeira, Darcy
Ribeiro e Paulo Freire.
[...] É hora de investir em educação. Não um pouquinho. Nada de
gambiarra. Precisamos superar os conservadorismos e corporativismos.
É hora de uma revolução na educação. Hora de uma mobilização
nacional efetiva e responsável. A juventude precisa se encantar com o
magistério, com as escolas sendo centros de cultura e tecnologia. O
Brasil somente será um país de oportunidades se a educação for o
caminho do desenvolvimento. É por isso que precisamos de uma
Revolução na Educação. (Entrevista ao Correio Brasiliense –
04/02/2012).
O Senador Cristovam Buarque é participativo também em outras políticas
públicas, e seu discurso é sempre muito democrático. Trata-se de discurso
projetado para colocar em evidência o tema em questão, independente das
políticas do jogo de interesse e de sua postura como candidato.
[...] Ao longo de toda a nossa história, os nossos ricos abandonaram a
educação do povo, desviaram os recursos para criar a riqueza que seria
só deles, e ficaram pobres: contratam trabalhadores com baixa
produtividade, Investem em modernos equipamentos e não encontra
quem os saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que não sabem
ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem construir
um novo país que beneficie a todos. (A Pobreza da Riqueza - Cristovam
Buarque).
Como maiores defensores do ensino de qualidade e valorização do professor no
país, o senador Cristovam Buarque anda nada satisfeito - e há muito tempo - com
9
10. a política educacional brasileira. Disse que o Brasil só sente vergonha quando o
futebol vai mal.
Recentemente, ele sugeriu o impeachment para governadores e prefeitos que não
pagam o piso salarial aos seus professores. O senador luta por uma nova carreira
no magistério com salários mais altos e maior rigor na avaliação dos professores.
2.5.2 O defensor da Amazônia
Durante o State of the World Forum (Fórum Mundial), o discurso, feito por
Buarque, deixou nítida a sua opinião a respeito da Amazônia e de todos os
patrimônios históricos culturais e ambientais quanto à internacionalização do
mundo.
Como convidado de especial participação por sua linha humanista discutiu o
Estado do Mundo no ano 2000, defendeu o universalismo de maneira critica,
sensata e justa
Alguns fatores comportamentais marcaram o discurso de Buarque, visto que
apesar de demonstrada tranqüilidade ao falar sobre um assunto, embasando-se
na corrente humanista universalista, que tem como um dos principais valores a
internacionalização, ele não perde o nacionalismo e, com um sorriso que conota
ironia, ele segue a sua linha de pensamento, e aceita a “proposta” de
internacionalização a Amazônia, desde que o mundo também aceite
internacionalizar o que é de todos – como, por exemplo, o Louvre, e outros
patrimônios culturais.
2.6 O DISCURSO DO CORPO DE CRISTOVAM BAURQUE
A linguagem corporal é uma das formas de comunicação não verbal e é composta
pelos movimentos gestuais e de postura.
As expressões faciais são um dos pontos mais importantes dessa forma de
comunicação. Ela tem a capacidade de revelar as verdadeiras emoções e
10
11. pensamentos de uma pessoa. Fazer uma coisa e expressar outra, acaba deixando
o receptor da mensagem confuso, e a mensagem sem veracidade.
Segundo Allan e Barbara Pease, em seu livro Desvendando os Segredos da
Linguagem Corporal, “o antropólogo Ray Birdwhistel pioneiro do estudo da
comunicação não-verbal, afirma que, em média, o indivíduo emite de 10 a 11
minutos de palavras por dia em sentenças com duração média de apenas 2,5
segundos e estimou também que somos capazes de fazer e reconhecer cerca de
250 mil expressões faciais”.
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, mais conhecido como Cristovam Buarque,
é um dos políticos que utilizam muito bem seu gestual. Com uma oratória firme,
clara, amparada pela sua excelente formação intelectual, permitiu que ele traçasse
a sua carreira pública com constância e firmeza.
A sua figura pública sempre passou respeito e seriedade. É da “turma antiga” de
políticos brasileiros, com credibilidade junto à população. São muito poucos com
esse perfil hoje no Brasil; logo, a sua postura ajuda muito o seu trabalho.
2.7 O VESTUÁRIO DE CRISTOVAM
Cristovam se apresenta com roupas apropriadas, sóbrias e até mesmo simples
para a sua atual posição, sem ostentar a sua cultura e caráter humanista e o fato
de ser respeitado mundialmente.
O uso de terno e gravata passa uma imagem de eficácia na ação e uma pretensão
de conhecimento.
Analisando fotos e discursos do senador Cristovam Buarque, é possível concluir
que ele usa na maior parte do cotidiano, ternos escuros – cinza ou marrom – com
gravatas coloridas. A camisa de baixo é sempre branca ou azul. Por isto, muitas
vezes, várias pessoas envolvidas na esfera política utilizam tal cor. O azul sugere
tranqüilidade lealdade e honestidade., expressando, este conjunto do corpo, a
representação do que deveria ser um político.
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12. 3 HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DO DEPUTADO FEDERAL TIRIRICA
Nascido em 1º de maio de 1965, cearense de Itapipoca, Francisco Everardo
Oliveira Silva, o palhaço Tiririca é cantor, compositor e humorista. Aos oito anos
começou a trabalhar no circo em sua terra natal, e o apelido ganhou da própria
mãe que o considerava muito abusado2. Em 1996, depois de experimentar o
sucesso regional de suas músicas, lançou pela gravadora Sony seu CD de estreia
que puxado pelo hit “Florentina” superou a marca de 1,5 milhões de cópias
vendidas. O sucesso foi tanto que neste mesmo ano Tiririca bateu recorde de
audiência em programas de TV que antes pertencia ao grupo “Mamonas
Assassinas”.
Uma das faixas deste mesmo CD lhe rendeu um processo por racismo; a canção
„Veja os cabelos dela‟ chegou a ser temporariamente proibida de ser executada
em rádios e os discos foram apreendidos, mas ao final do processo Tiririca foi
absolvido.
Em 2010, Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, adentrou no cenário político
lançando sua candidatura ao cargo de deputado federal pelo Partido da República
(PR) no estado de São Paulo. Com pouco, ou nada, de um tom formal esperado
de qualquer candidatura, o personagem Tiririca, e não o cidadão Everardo Silva,
foi às ruas e ao horário eleitoral gratuito em busca de votos. O sucesso
instantâneo da candidatura e os polêmicos elementos simbólicos que ela
evidenciou na cena política brasileira fizeram de Tiririca a figura mais visibilizada
do pleito, pelo menos entre os concorrentes parlamentares.
A sua candidatura provocou risos e indignação desde que sua campanha eleitoral
começou na TV. Com o slogan "Vote Tiririca, pior que tá, não fica", ele foi às urnas
para tentar uma vaga como deputado federal. As expressões de Tiririca criticaram
governo, seus bordões expressaram a indignação com os políticos e sem fazer
2
Termo cearense usado para afirmar que uma pessoa é mal humorada, ignorante ou ríspida.
12
13. nenhum tipo de promessa, lotou as urnas e foi eleito o Deputado federal, sendo o
candidato mais votado.
Tiririca foi o campeão de votos nas eleições e recebeu nas urnas a confiança de
mais de um milhão de eleitores. Em seu tempo de propaganda no horário nobre
na TV, o Partido da República (PR) exibiu duas, entre sete produzidas,
mensagens de Tiririca. Nas inserções, Tiririca se posiciona contra o nepotismo e
incentiva as crianças a irem à escola.
3.1 PROBLEMATIZAÇÃO DO DISCURSO
Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, abordou em sua atuação enquanto
candidato, sobretudo na TV, algumas das principais deficiências e desafios da
política nacional. “Você sabe o que faz um deputado federal? Na realidade, eu
também não sei. Mas vote em mim que eu te conto”, disse Tiririca polemizando
sobre o nível de esclarecimento dos eleitores acerca das funções parlamentares.
“Ôh candidato lindo!”, disse Tiririca sobre a relevância da estética na construção
das imagens dos produtos eleitorais. “Se você não votar em mim, eu vou
morreeeeer!”, disse Tiririca tocando na preciosidade da sobrevivência eleitoral
para os políticos.
“Oi gente, eu resolvi apelar, hoje vou mostrar minha família, porque família na
televisão dá voto...” disse Tiririca expondo na TV um casal de atores que
encenaram o papel de seus pais, num momento da eleição onde as candidaturas
presidenciais e a governador de São Paulo utilizavam-se de parentes dos
candidatos para reforçar positivamente suas imagens ou a fim de criar crises
contras adversários. Em um momento em que estouraram casos como a quebra
de sigilo da filha de José Serra (PSDB) e as denúncias de favorecimento ilícito ao
filho da ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra.
“Eu não sei contar, mas eu conto com você” disse Tiririca ironizando sobre a
acusação de que era analfabeto. “Vote em Tiririca, pior do que tá não fica!”, disse
Tiririca em tom de promessa sobre sua atuação e demarcando uma critica à
13
14. situação política atual. “Chegando lá, eu vou dar nomes aos bois, sobrenome às
vacas e apelidos aos bezerros”, disse Tiririca satirizando o anonimato recorrente
da corrupção. “Gente, eu construí muitas escolas. Eu era ajudante de pedreiro.”
ironizou Tiririca sobre a tradicional estratégia dos “serviços prestados” utilizada
pelos candidatos, inclusive, os legislativos.
“Eu quero ajudar os mais necessitados, inclusive a minha família...” disse Tiririca
ironizando sobre as formas de discursos que se remetem aos pobres. Em outra
peça publicitária Tiririca até começa a fazer um discurso, mas em seguida se
“enrola” com as palavras e não diz “coisa com coisa” 3, verbaliza sons aleatórios,
como se construísse uma fala montada, plástica, na tentativa de deixar claro que
está enganando o interlocutor.
O discurso de Tiririca também subverte ao mobilizar regularmente uma categoria
pejorativa, o Abestado4, em sua fala, para se referir tanto a si quanto aos eleitores.
Ainda assim conseguiu obter um resultado positivo, mesmo estando num cenário
em que seus concorrentes se esforçaram no sentido inverso. É interessante
pensar essa questão, sobretudo porque no universo político há uma mística em
torno do eleitorado, onde qualquer ofensa a esse público pode oferecer risco ao
candidato e a sua carreira.
Essa breve observação das frases de Tiririca em sua propaganda eleitoral sugere
também o aprofundamento de uma tendência discursiva, na medida em que a
preocupação central é a de simplificar a fala para tornar mais fácil o entendimento
dos problemas mais gerais da política brasileira. Esta tendência vem sendo ainda
pouco explorada sendo, portanto, necessária uma análise mais aprofundada
desses discursos políticos, sobretudo, se os compreendermos como estratégias
bastante efetivas de persuasão (CHARAUDEAU, 2008; MAINGNEAU, 2008).
Segundo Charaudeau (2008), a política na sociedade contemporânea não se faz
sem a linguagem, pois é pela circulação da palavra no espaço público que a
3
Expressão utilizada frequentemente. Significa que um conjunto de ideais não faz sentido.
4
Termo utilizado no Ceará para designar pessoas lentas, enganáveis, deslocadas, lesadas.
14
15. política se realiza. A ação e o discurso político estão intrinsecamente ligados,
constatação que justifica o estudo da política pelo discurso.
4 CONCLUSÕES
A linguagem corporal visa mostrar as características que os movimentos não
verbais, incluindo os corporais, passam aos demais. A oratória é uma arte que
requer treinamentos, inclusive na colocação da voz e a linguagem corporal mostra
o que determinado tipo de timbre de voz passa ao ouvinte.
Os políticos se sairiam melhor se, além da oratória, estudassem linguagem
corporal de forma independente, pois nos cursos de oratória sempre falam em
linguagem corporal, todavia que os palestrantes não conhecem com profundidade
o tema. Vale ressaltar a importância da oratória, pois sem ela o político não
sobrevive e com a linguagem corporal ele tem a ferramenta ideal para utilizar tanto
nos seus discursos como nas atividades do cotidiano.
Após análise das discussões que foram apresentadas do Senador Cristovam
Buarque, o processo de desenvolvimento do político e sua personalidade não
foram alterados devido à sua carreira e seu processo intelectual.
Confirmados pela sua postura comportamental e linguagem corporal, Cristovam
Buarque transmite na sua aparência o que realmente pensa e pratica.
Ao abordar esse distinto intelectual-político retratado nesse artigo, se chega à
conclusão que, seu eleitorado no Brasil, está nos extratos mais escolarizados do
eleitorado brasileiro.
Entre os municípios maiores houve relação positiva entre colégios eleitorais
menos alfabetizados e mais pobres e o candidato Tiririca. Por um lado, os mais
escolarizados, ao contrário dos municípios menores, não apoiaram a candidatura.
Quanto aos menos escolarizados, pode-se alimentar uma perspectiva promissora
de representação.
15
16. É possível que a maior informação e a divulgação da candidatura Tiririca possa ter
fomentado uma resposta entre os menos escolarizados que, ao perceberem a
possibilidade de vitória do candidato, resolveram votar em busca de maior
representação. Esta perspectiva não corrobora com as perspectivas do voto de
protesto, possivelmente precipitadas, pois nem os mais escolarizados teriam
apoiado a candidatura como os menos escolarizados poderiam estar em busca de
um representante que se assemelhasse a eles.
O presente artigo permite concluir que não se pode identificar na maciça votação
do candidato Tiririca um voto apenas de protesto. Municípios maiores mais
desenvolvidos tenderam a votar menos no candidato, sendo seus melhores
desempenhos entre os municípios mais pobres e menos desenvolvidos, o que
pode estar a apontar maior identificação do eleitor pouco escolarizado com o
candidato. Já os municípios menores podem mostrar uma crítica dos mais ricos e
escolarizados, e um silêncio dos mais pobres e menos educados. Há a questão
incontornável da identificação segura do voto no candidato e o status de renda e
educação do eleitor, devido ao voto secreto.
Como conclusão geral, entendemos que o quadro de cultura política e voto trazido
pelos candidatos é bastante complexo, enseja novas perguntas e, sobretudo
afasta causas únicas e explicações de senso comum sobre a relação entre voto e
variáveis culturais. Além de ser um grande desafio para os novos profissionais de
comunicação.
16
17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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