1. NO RASTO DOS DINOSSÁURIOS NA REGIÃO DE
SESIMBRA - 2
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Em 1996 descobrimos, na baía dos
lagosteiros e quando nos dirigíamos
para a base dos estratos da pedra
da mua, uma nova jazida com
pegadas tridáctilas, que atribuímos
a teropodes, pese embora a sua má
preservação – esta amostra
encontra-se impressa em arenitos
do início do Cretácico (Valangiano).
A camada estava coberta por terra e
arbustos e foram as grandes
chuvadas do início desse ano que a
colocaram à vista.
As pistas da jazida da pedreira do avelino, descoberta por Telles Antunes em
1976, encontram-se impressas em calcários que se depositaram durante o
Kimmeridgiano final (Jurássico superior), cuja análise permitiu inferir uma
deposição em água doce num ambiente lacustre parálico situado perto do mar.
Na pedreira do Zé Galo (Ribeira do Cavalo), foram descobertos 4 níveis com
pegadas. A descoberta original ocorreu em 1989 e deveu-se a Miguel Ramalho.
Situava-se num estrato calcário inclinado cerca de 80º para norte e mostrava pegadas
de teropodes bem conservadas e em grande número, muitas formando pistas, datado
do Jurássico final (Oxfordiano – Kimmeridgiano inferior). Uma só pista foi atribuída a um
sauropode (Lockley e colegas 1992).
Em 9 de Março de 1995 aconteceu o que já se esperava há
muito – a lage ruíu e as pegadas ficaram reduzidas a um
amontado de escombros, sobretudo devido aos efeitos dos
sucessivos rebentamentos levados a cabo na pedreira de José
Galo.
A partir do mapa publicado por Lockley e colegas (1994), podemos inferir que pelo
menos sete pistas de teropodes apresentariam uma disposição sub-paralela,
representando mais um dos escassos exemplos conhecidos de pistas paralelas e com
a mesma direcção produzidas por vários teropodes – comportamento gregário (Sa -
pista de sauropode dominada pelas impressões de mãos).
A seta assinala a maior das pegadas tridátilas encontrada até essa
altura para o Jurássico – cerca de 70 cm de comprimento,
representando um teropode com uma altura de anca rondando os 3 m!
Esquema de pegada
tridáctila de maiores
dimensões.
Originalmente, Lockley
e colegas. (1996)
incluíram este enorme
exemplar em
Megalosauripus
lusitanicum. Mais tarde,
tendo deixado «cair»
esta icnoespécie, foi
incluído em ?
Megalosauripus sp.
(Lockley e colegas
2000).
Esquema da única pista de sauropode identificada no
nível que colapsou da pedreira da Ribeira do Cavalo,
dominada pelas impressões das mãos e de mão
esquerda, sendo bem visíveis as impressões dos unguais
dos dígitos, situação muito rara no registo mundial
(Lockley e colegas 1992).
Pista referida com o número 6 por Lockley e colegas. (1994) (escala:
1 m).
Esta pista revela também um nítido padrão de coxeamento, com
passos alternadamente curtos e longos, como inferimos a partir do
esquema publicado e de fotos tiradas na altura.
Uma pista descoberta e descrita por Dantas e colegas (1994) na jazida da praia
do cavalo foi também incluída por Lockley e colegas (2000) em Megalosauripus,
embora a idade do estrato onde surge impressa seja ainda controversa (segundo
Ramalho 1971, estes sedimentos terão sido depositados no início do Portlandiano;
Lockley e colegas (2000) sugerem uma idade do Kimmeridgiano).
Esquema da pista encontrada na jazida da praia do cavalo, Jurássico superior,
provavelmente Portlandiano, (Cabo Espichel). Em dez passos consecutivos, o
comprimento do passo direito - esquerdo é de 0,86, 0,93, 0,85 e 0,83 do comprimento do
passo esquerdo - direito. O passo médio é de 193 cm, com um passo curto médio de 180
cm e um passo longo médio de 206 cm. Assim, a razão entre passo curto e passo longo
é de 0,87. O padrão da pista sugere que o teropode teria qualquer lesão no lado
esquerdo, já que na sua progressão este é sempre o passo mais curto..
Lockley, M e Santos, V. (1993) descreveram as várias pistas de
sauropodes identificadas no nível principal, todas do tipo estreito
(«narrow-guage) e incluídas em Parabrontopodus.
A pista 1 revela a passagem de
um sauropode de dimensões
reduzidas, com comprimento das
pegadas dos pés de 30. As
impressões das mãos são, como
é típico das pistas de sauropodes,
ainda mais reduzidas e com uma
forma quase de ferradura, com
largura (cerca de 26 cm ) superior
ao comprimento (16 cm). Com
cerca de 1,2 - 1,5m de altura de
anca ,representa o mais pequeno
autor sauropode de uma pista
conhecida na Europa (Lockley, M
e Meyer, C. 1999).
A pista 4 é dominada pelas impressões das mãos, em que as pegadas
dos pés, enormes (comprimento rondando 100 cm, implicando um
quadrúpede mais de 4 m de altura de anca), são praticamente
indistintas. Trata-se portanto de mais um exemplo reforçando a hipótese
de que as pistas de sauropodes dominadas por mãos são comuns e não
implicam uma locomoção aquática, debaixo de grande altura de água,
como foi proposto por Bird, que as interpretou como comportamento de
animais que nadavam. "Pegadas de mãos e de pés «enterravam-se» a
diferentes profundidades, dependendo de factores muito variados, como
a condição do substrato, a distribuição do peso sobre as duas cinturas e
a diferença de dimensões (heteropodia) entre mãos e pés" (Lockley, M e
Meyer, C. 1999).
Sauropode nadando, segundo Bird, R
(1944), interpretando uma pista de
sauropode dominada pelas impressões
das mãos.