A semente germinará - Autor: Bruno Bertacini Gonzaga
(Vestibular Unicamp / 99).
Ilusões..., descobertas..., renascimento. Crianças na escala evolutiva, o Brasil e seu
povo, após quinhentos anos de inconstâncias de identidade étnica-cultural, procuram
desenhar sua bandeira retirando as manchas passadistas e fixando-a em firme solo.
Trabalho árduo! As manchas, matizadas durante sua formação, originaram uma nação
singular, mas, incondicionalmente submissa.
O Brasil analogamente aos outros países da América Latina, África e Ásia, foi
concebido como território lucrativo para as potências europeias satisfazerem seu ideal
mercantilista. Na ânsia capitalista ignoraram a população nativa indígena aniquilandoos; trouxeram escravos africanos para a tortura em território estranho; estabeleceram-se
de forma autoritária no solo virginal.
Neste enorme caldeirão étnico implantado bruscamente por mãos absolutistas e
composto por uma massa torturada, o resultado foi inevitável: a criação de uma nova
raça sem identidade cultural, originalidade e presa a interesses externos.
É importante lembrar ainda que, após a saga portuguesa, holandesa, inglesa em solo
brasileiro subtraindo suas riquezas naturais (Pau-Brasil, metais preciosos) e explorando
o trabalho humano, criou-se espaço para outra forma de dominação, igualmente nociva,
intensificando a “crise existencial” brasileira: a dominação cultural, principalmente
norte-americana.
Entretanto, às vésperas de atingir sua puberdade, a nação busca suas raízes para
estabelecer-se no cenário mundial. Antigos concertos históricos induzidos pelos
exploradores estão desfacelando-se, resgatando da ilusão a juvenil população. O Brasil
não foi descoberto; foi arquitetado. Norte-americanos não são cordiais; são
dominadores. Políticos não são representantes dos indivíduos; são parasitas.
Nesta busca, portanto, percebe-se que os brasileiros não são reflexos de seus
colonizadores, mas sim uma mistura étnica e cultural inigualável. É inevitável, porém,
que os resquícios do passado interfiram na sociedade assemelhando-a às “pátrias-mãe”,
bipolarizando-a entre poderosos e oprimidos no ambiente interno e externo. O
importante é que, ao final das descobertas ou redescobertas o Brasil concluirá que não é
o fruto do passado, mas a semente do amanhã.
Vocabulário:
Desfacelar: desmanchar;
Resquícios: restos, fragmentos;
Bipolarizar: divisão em torno de dois interesses.
Esse texto acima está escrito com ideias claras e coesas, facilmente compreendidas pelo
leitor.
Dividindo nas partes que compõem uma redação bem redigida ou elaborada, veremos a
seguir todo o processo de um texto:
ESTRUTURA E SEQUÊNCIA LÓGICA DE
FRASES E PARÁGRAFOS:
1)
Primeiramente, é necessário definir o que vem a ser estrutura, sequência lógica e
parágrafo.
Estrutura→ nada mais é do que o desenvolvimento do texto; o conteúdo que se
baseia em um tema qualquer, em que, cada uma das ideias está relacionada uma
a outra, formando um todo de sentido.
Sequência Lógica→ são exatamente essas ideias bem estruturadas que vão
levar ao leitor compreender o sentido do texto; ou seja, o que se pretende
transmitir. Por isso, não pode haver ideias ambíguas (duplo sentido) e nem
contraditórias (expressando oposição) do que já fora declarado no texto; também
não pode conter frases inacabadas, incompletas ou sem sentido.
Parágrafo→ é cada unidade de informação construída ou formada no texto, a
partir de um tópico frasal (ideia central ou principal do parágrafo – é a “puxada
do assunto”).
Então, até aqui, vamos analisar os tópicos frasais dos parágrafos:
O texto de Bruno possui 6 parágrafos, ou seja, seis blocos de ideias. Todas elas
seguindo uma sequência de pensamento.
No 1º parágrafo, o autor do texto inicia-o com três palavras-chaves que fornecem uma
visão abrangente do país, nesse caso, o Brasil, relacionando-o com o processo de
colonização, ou seja, o passado de sua identidade.
No 2º parágrafo, Bruno faz uma comparação do Brasil com outros países e explica o
porquê, explanando, de forma também abrangente, como fora o processo de colonização
e suas consequências.
No 3º parágrafo, ele cita ser o seu país herdeiro de etnias diferentes, embora, também,
submisso a interesses capitalistas de outros países.
No 4º parágrafo, através de uma crítica fortemente embasada tanto no passado quanto
no presente, o autor reitera o que lhe incomoda no seu país, visto ser ainda influenciado
por decisões e culturas externas, principalmente vindas dos Estados Unidos.
No 5º parágrafo, ele argumenta que o país está crescendo constantemente, desejoso de
se afirmar no contexto mundial, porém, continuando permissivo diante da exploração
que não só advém do poder externo, mas de seus próprios governantes.
No 6º parágrafo, Bruno, de uma maneira muito esclarecedora no que diz respeito ao
tema escolhido (A semente germinará), além de um olhar positivo para o futuro de seu
país, conclui que a sua nação pode até se perceber às vezes parte de outras, confundirse, mas que no fim, reconhecerá seu valor.
Logo, notamos que as ideias contidas na redação de Bruno fazem sentido e podem ser
compreendidas por quem as leem, já que formam frases interligadas.
E as frases são sentenças que transmitem algum sentido, mesmo que seja vago, como
por exemplo, as três primeiras palavras do primeiro parágrafo. Depois que são
desenvolvidas, passam a orações, que contêm sempre verbos e seus complementos.
Note também como os sinais de pontuação são bem colocados, atribuindo ao texto um
tom, uma inflexão de voz (entoação), nuances. No início, as reticências servem para
exprimir que o pensamento está sendo estruturado. Já no 3º parágrafo, os doispontos preveem uma explicação, uma descrição daquilo que se afirmou. E o uso
dos parênteses, no 4º parágrafo, incluem termos para exemplificar a ideia anterior.
Importante é também saber que nos parágrafos existem dois tipos de coerências: a
interna e a entre parágrafos ou externa. Mas, antes, vamos entender o que é Coerência:
é a lógica das ideias do texto; é a sequência clara de informações.
Agora sim, vamos aprender sobre os dois tipos de coerências.
1) Interna→ ocorre entre as frases. É quando estas se conectam, se ligam,
muitas vezes, pelos termos de referência. Estes são os pronomes, sinônimos ou
expressões equivalentes. Que tal retirarmos um exemplo do texto acima?
Prestem atenção! Logo no 1º parágrafo, no trecho: “... desenhar sua bandeira retirando
as manchas passadistas e fixando-a em firme solo”. Vemos aí que depois do verbo fixar
que está flexionado, aparece um “a”, este funciona como pronome oblíquo; ou seja, ele
pode ser substituído pelo pronome “ela”, referindo-se à bandeira brasileira.
No penúltimo parágrafo, no trecho: “... a nação busca...”, a palavra é uma
expressão equivalente a Brasil, de país, portanto, um elemento de referência no texto,
para que não se repita a mesma palavra (Brasil).
Deu pra entender? Espero que sim!
2) Entre parágrafos ou externa→ ocorre quando há união entre o que já foi
abordado e o que vem em sequência (o dado e o novo). Os elementos são
apresentados e retomados no texto. Isso se dá pela coesão. O que é a Coesão? É
quando cada parte do texto forma o todo (sentido), onde as ideias concordam
umas com as outras, estabelecendo a coerência. Os elementos de coesão mais
usados, a fim de deixarem o texto preciso, objetivo, limpo, são divididos em:
Anafóricos ou de retomada: é quando uma expressão, palavra ou frase é
retomada no texto, mais ou menos parecido com o que vimos anteriormente. Os
pronomes e palavras semelhantes, por exemplo, são também elementos de
coesão.
Catafóricos: é quando se antecipa alguma palavra ou ideia que ainda vai
aparecer na frase. Por exemplo: Não deixe de fazer isto: Vá tomar vacina contra
a gripe. O pronome demonstrativo “isto” é um elemento de coesão catafórico,
pois antecipa a frase que vem depois.
A coesão por elipse (figura de linguagem) ocorre quando há supressão (omissão) de
uma palavra ou expressão no texto, embora facilmente percebida dentro do contexto. No
5º parágrafo, por exemplo, dá pra perceber facilmente uma leve supressão da palavra
“Brasil”, no trecho: “... O Brasil não foi descoberto; * foi arquitetado.” E nos seguintes
também ocorrem pequenas supressões.
A coesão lexical ocorre quando a intenção é evitar repetições; usam-se sinônimos ou
expressões equivalentes. Por exemplo: Pelé faz parte da comissão técnica da Fifa. O
Rei do Futebol tem prestígio internacional. O termo destacado é uma expressão que
equivale ao Pelé, pois o identifica facilmente.
As conjunções e locuções conjuntivas são também elementos de coesão, porque ligam
uma oração a outra, estabelecendo relações de natureza lógica que, dentre tantas, podem
ser de: oposição; concessão; conclusão e etc. No texto de Bruno aparecem várias. No 1º
parágrafo, na penúltima linha: “... mas incondicionalmente submissa.” (oposição); no 5º
parágrafo, na primeira linha: “Entretanto...” (concessão); no 6º parágrafo, primeira
linha: “Nesta busca, portanto,...” (conclusão). Outros conectores ou elementos de
coesão são os sinais de pontuação e as expressões: “Além de”; “Aliás”; “Por outro
lado”, e etc.
Além de tudo isso que já abordamos até aqui, há também outro fator importantíssimo
para que uma redação seja bem apresentada. São os aspectos estéticos do texto, dentre
eles, a letra legível, o alinhamento das frases (correspondência das ideias) e a ausência
de rasuras ou borrões.