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SÁBADO, 29 DE ABRIL DE 2006




Antropologia
Clássico dos estudos urbanos, de William Foote Whyte, chega ao Brasil

                   Mandamentos do pesquisador
Licia Valladares
Socióloga

        Enfim o leitor brasileiro tem acesso a   aprendiz que conhecia por “ouvir dizer”. Ao
Sociedade de esquina, de William Foote           mesmo tempo em se inseria na localidade e ia
Whyte, um clássico dos estudos urbanos e         redefinindo os objetivos sua pesquisa,
livro que deveria ser obrigatório em todo        tropeçava no convívio com os moradores,
curso de métodos qualitativos e pesquisa         aprendendo a refletir sobre a natureza da
social. Gilberto Velho, autor da apresentação    relação com os informantes. Aos poucos vai
e responsável pela coleção Antropologia          sendo aceito, mas se dá conta de que é fun-
Social, da Jorge Zahar, tomou a iniciativa, de   damental poder contar com um intermediário
traduzir a edição de 1993, comemorativa dos      para realizar sua observação.
50 anos da primeira publicação do livro. A
primorosa tradução inclui os anexos que o               Para além do interesse temático, o
autor foi acrescentando nas várias reedições     livro constitui um verdadeiro guia da
do livro, referentes à pratica do trabalho de    observação participante em sociedades
campo, ao         depoimento de um dos           complexas. Dez “mandamentos” podem ser
personagens e à sua lista de publicações.        depreendidos da leitura do livro.

         Originalmente publicado em 1943, o               l) A observação participante implica,
texto é não só atual pela temática que aborda    necessariamente, um processo longo. Muitas
- a juventude, a organização social das          vezes o pesquisador passa inúmeros meses
gangues e dos bairros pobres - como também       para “negociar” sua entrada na área. Uma
um must para aqueles que fazem trabalho de       fase exploratória é essencial para o desenrolar
campo nas cidades. Trata-se de uma obra          ulterior da pesquisa.
fundamental para os sociólogos urbanos que                O tempo a um pré-requisito para
a cada dia aderem mais aos métodos               estudos que envolvem o comportamento e a
qualitativos e aos estudos de caso, e se         ação de grupos: para se compreender a
interessam pelo tema das redes sociais, da ju-   evolução do comportamento das pessoas é
ventude,      da    política  local   e     da   necessário observá-las por um longo período.
territorialização da pobreza.
                                                          2) O pesquisador não sabe de
        William Foote Whyte, filho de classe     antemão onde está “aterrissando”, caindo
média alta americana, pesquisou nos anos 30      geralmente de “pára-quedas” no território
uma área pobre e degradada da cidade de          pesquisado. Não é esperado pelo grupo,
Boston, onde morava. Conhecido como um           desconhecendo muitas vezes as teias de
dos slums mais perigosos da cidade e sobre o     relações que marcam a hierarquia de poder e
qual circulavam várias ideias estigmatizantes,   a estrutura social local.
o bairro foi pouco a pouco “desbravado” pelo
3) A observação participante supõe a       porquê de um desacerto
interação    pesquisador/pesquisado.      As
informações que obtém dependerão do seu                     10) O pesquisador é, em geral,
comportamento e das relações que                   “cobrado”, sendo esperada uma “devolução”
desenvolve, com o grupo estudando. Sua             dos resultados do seu trabalho. “Para que
transformação em “nativo” não se verificará.       serve esta pesquisa?”. “Que benefícios ela
                                                   trará para o grupo ou para mim?” Mas só uns
        4) Por isso o pesquisador deve             poucos consultam e se servem do resultado
mostrar-se diferente do grupo pesquisado.          final da observação. O que fica são as
Seu papel de pessoa de fora terá de ser            relações de amizade pessoal desenvolvidas ao
reafirmado. Não deve enganar aos outros,           longo do trabalho de campo. Da leitura do
nem a si mesmo.                                    livro fica claro que a observação participante
                                                   não é uma prática simples, mas repleta de
        5) Uma observação, participante não        dilemas teóricos e práticos que cabe ao
se faz sem um intermediário que “abre as           pesquisador gerenciar. A experiência descrita e
portas” e dissipa as dúvidas junto às pessoas      analisada pelo autor, numa linguagem que
da localidade. Com o tempo, de informante-         dispensa o jargão especializado, mostra que a
chave passa a colaborador da pesquisa: é com       observação participante exige, sim, uma cultura-
ele pesquisador esclarece algumas das incertezas   metodológica e teórica; Foote Whyte não vinha de
que peimanecerão ao longo da investigação.         uma formação em antropologia ou sociologia,
Pode mesmo chegar a. influir nas interpretações    mas havia estudado na tradicional e bem
do pesquisador.                                    cotada Universidade de Harvard.

        6) O pesquisador quase sempre                       Outro aspecto importante diz respeito
desconhece a própria imagem junto ao grupo         à atualidade do livro e sua; pertinência para
pesquisado... Seus passos no trabalho de           entender áreas pobres e o mundo popular no
campo são conhecidos e muitas vezes                Brasil de hoje. O diagnóstico oferecido pelo
controlados por membros da população local.        autor se contrapõe à imagem produzida pelo
                                                   senso comum que vê as áreas pobres
        7) A observação participante implica       exclusivamente como problema: degradadas,
saber,ouvir,escutar, ver, fazer uso de todos os    homogêneas, desorganizadas, caóticas e fora
sentidos. É preciso aprender quando                da lei, tendo necessariamente de ser “ajuda-
perguntar e quando não perguntar, assim            das”, uma vez que, “abandonadas à sua
como que perguntas fazer na.hora certa. As         própria sorte nunca se desenvolverão.
entrevistas formais são muitas vezes                 Vistas de dentro, e a partir do olhar arguto
desnecessárias, devendo a coleta de                do cientista social, têm-se outra visão: tais
informações não se restringir às mesmas.           localidades corresponderiam a áreas onde
                                                   coexistem espaços e grupos locais
         8) Desenvolver uma rotina de              diferenciados porém estruturados a partir de
trabalho é fundamental. O pesquisador não          redes de relações sociais. A desorganização
deve recuar frente a um cotidiano que muitas       social não é, portanto a tônica geral - o que
vezes se mostra repetitivo e de dedicação          não quer dizer negar a existência do conflito
intensa. Através das notas e da manutenção         entre os grupos. Foote Whyte não cai assim
do diário de campo, o pesquisador se auto-         nem numa visão miserabilista nem populista
disciplina   a    observar    e       anotar       dos pobres. Insiste na importância da
sistematicamente.                                  sociabilidade que ocorre no espaço público
                                                   do mundo popular - na “sociedade da
         9) O pesquisador aprende com os           esquina”, para usar seu próprio linguajar.
erros que comete durante o trabalho de             Pois é na esquina, no espaço informal que as
campo e deve tirar proveito dos mesmos na          decisões são tomadas, que os grupos se
medida em que os passos em falso fazem             estruturam e que as relações sociais se
parte do aprendizado da pesquisa. Deve             constroem e se destroem.
refletir sobre o porquê de uma recusa, e o
SOCIEDADE DE ESQUINA
                                  (Street Corner Society)
                                  A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada
                                  William Foote Whyte

                                  392pp; 16x23cm; R$54
                                  Tradução: Maria Lúcia de Oliveira
                                  Revisão técnica: Karina Kuschnir
                                  Coleção Antropologia Social
                                  JORGE ZAHAR EDITOR


Em fevereiro de 1937, o então jovem economista William Foote Whyte, com uma bolsa de iniciação
de Harvard, decidiu estudar um bairro italiano pobre de Boston, a que deu o nome de Cornerville.
Um clássico da pesquisa sociológica, o trabalho de Whyte sobre Cornerville tem servido como
modelo para a etnografia urbana há quase 70 anos. Utilizando o método de observação
participante, o autor revela um mundo de intrincadas relações sociais, considerando pessoas e
situações reais. Com seu olhar profundo e detalhista, Whyte mudou a maneira de se compreender a
pobreza e a vida nas grandes cidades.
A versão ora lançada no Brasil é traduzida da edição comemorativa de 50 anos de Sociedade de
esquina. Nela o leitor encontra a obra original enriquecida com os anexos posteriormente
elaborados pelo autor; as respostas que formulou às críticas que recebeu; uma seção sobre
“Cornerville revisitado”, em que segue a carreira de alguns dos personagens principais do livro; um
corajoso comentário que fez do livro meio século depois. De suma importância também é o
depoimento de um dos “rapazes de esquina”, Angelo Orlandella, a respeito do impacto da obra de
Whyte sobre sua vida, incluído igualmente nesta edição.


“Um livro de impressionante atualidade e de alto interesse interdisciplinar. É um exemplo magistral de como
um trabalho de investigação científica pode ser um instrumento precioso para a crítica de estereótipos e
preconceitos.”
                                                                                             Gilberto Velho

Sobre o autor: William Foote Whyte formou-se em economia e fez doutorado em
sociologia/antropologia na Universidade de Chicago, onde passou a lecionar em 1944. Foi diretor de
pesquisa do programa de emprego da Cornell University, presidente da American Sociological
Association e da Society of Applied Anthropology. Escreveu diversos livros, sobretudo sobre
metodologia de pesquisa, como Learning from the Field e Participant Observer. Whyte morreu em
2000.

     Assessoria de Imprensa: Bety Serpa – (21) 2539-8786, 9944-8908, mundipress@msm.com.br




   Editorial: rua México 31 • 20031-144 • Rio de Janeiro, RJ • tel: 2240-0226 • fax: 2262-5123 • e-mail: jze@zahar.com.br

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Sociedade de Esquina - Jornal Do Brasil: Mandamentos do Pesquisador

  • 1. SÁBADO, 29 DE ABRIL DE 2006 Antropologia Clássico dos estudos urbanos, de William Foote Whyte, chega ao Brasil Mandamentos do pesquisador Licia Valladares Socióloga Enfim o leitor brasileiro tem acesso a aprendiz que conhecia por “ouvir dizer”. Ao Sociedade de esquina, de William Foote mesmo tempo em se inseria na localidade e ia Whyte, um clássico dos estudos urbanos e redefinindo os objetivos sua pesquisa, livro que deveria ser obrigatório em todo tropeçava no convívio com os moradores, curso de métodos qualitativos e pesquisa aprendendo a refletir sobre a natureza da social. Gilberto Velho, autor da apresentação relação com os informantes. Aos poucos vai e responsável pela coleção Antropologia sendo aceito, mas se dá conta de que é fun- Social, da Jorge Zahar, tomou a iniciativa, de damental poder contar com um intermediário traduzir a edição de 1993, comemorativa dos para realizar sua observação. 50 anos da primeira publicação do livro. A primorosa tradução inclui os anexos que o Para além do interesse temático, o autor foi acrescentando nas várias reedições livro constitui um verdadeiro guia da do livro, referentes à pratica do trabalho de observação participante em sociedades campo, ao depoimento de um dos complexas. Dez “mandamentos” podem ser personagens e à sua lista de publicações. depreendidos da leitura do livro. Originalmente publicado em 1943, o l) A observação participante implica, texto é não só atual pela temática que aborda necessariamente, um processo longo. Muitas - a juventude, a organização social das vezes o pesquisador passa inúmeros meses gangues e dos bairros pobres - como também para “negociar” sua entrada na área. Uma um must para aqueles que fazem trabalho de fase exploratória é essencial para o desenrolar campo nas cidades. Trata-se de uma obra ulterior da pesquisa. fundamental para os sociólogos urbanos que O tempo a um pré-requisito para a cada dia aderem mais aos métodos estudos que envolvem o comportamento e a qualitativos e aos estudos de caso, e se ação de grupos: para se compreender a interessam pelo tema das redes sociais, da ju- evolução do comportamento das pessoas é ventude, da política local e da necessário observá-las por um longo período. territorialização da pobreza. 2) O pesquisador não sabe de William Foote Whyte, filho de classe antemão onde está “aterrissando”, caindo média alta americana, pesquisou nos anos 30 geralmente de “pára-quedas” no território uma área pobre e degradada da cidade de pesquisado. Não é esperado pelo grupo, Boston, onde morava. Conhecido como um desconhecendo muitas vezes as teias de dos slums mais perigosos da cidade e sobre o relações que marcam a hierarquia de poder e qual circulavam várias ideias estigmatizantes, a estrutura social local. o bairro foi pouco a pouco “desbravado” pelo
  • 2. 3) A observação participante supõe a porquê de um desacerto interação pesquisador/pesquisado. As informações que obtém dependerão do seu 10) O pesquisador é, em geral, comportamento e das relações que “cobrado”, sendo esperada uma “devolução” desenvolve, com o grupo estudando. Sua dos resultados do seu trabalho. “Para que transformação em “nativo” não se verificará. serve esta pesquisa?”. “Que benefícios ela trará para o grupo ou para mim?” Mas só uns 4) Por isso o pesquisador deve poucos consultam e se servem do resultado mostrar-se diferente do grupo pesquisado. final da observação. O que fica são as Seu papel de pessoa de fora terá de ser relações de amizade pessoal desenvolvidas ao reafirmado. Não deve enganar aos outros, longo do trabalho de campo. Da leitura do nem a si mesmo. livro fica claro que a observação participante não é uma prática simples, mas repleta de 5) Uma observação, participante não dilemas teóricos e práticos que cabe ao se faz sem um intermediário que “abre as pesquisador gerenciar. A experiência descrita e portas” e dissipa as dúvidas junto às pessoas analisada pelo autor, numa linguagem que da localidade. Com o tempo, de informante- dispensa o jargão especializado, mostra que a chave passa a colaborador da pesquisa: é com observação participante exige, sim, uma cultura- ele pesquisador esclarece algumas das incertezas metodológica e teórica; Foote Whyte não vinha de que peimanecerão ao longo da investigação. uma formação em antropologia ou sociologia, Pode mesmo chegar a. influir nas interpretações mas havia estudado na tradicional e bem do pesquisador. cotada Universidade de Harvard. 6) O pesquisador quase sempre Outro aspecto importante diz respeito desconhece a própria imagem junto ao grupo à atualidade do livro e sua; pertinência para pesquisado... Seus passos no trabalho de entender áreas pobres e o mundo popular no campo são conhecidos e muitas vezes Brasil de hoje. O diagnóstico oferecido pelo controlados por membros da população local. autor se contrapõe à imagem produzida pelo senso comum que vê as áreas pobres 7) A observação participante implica exclusivamente como problema: degradadas, saber,ouvir,escutar, ver, fazer uso de todos os homogêneas, desorganizadas, caóticas e fora sentidos. É preciso aprender quando da lei, tendo necessariamente de ser “ajuda- perguntar e quando não perguntar, assim das”, uma vez que, “abandonadas à sua como que perguntas fazer na.hora certa. As própria sorte nunca se desenvolverão. entrevistas formais são muitas vezes Vistas de dentro, e a partir do olhar arguto desnecessárias, devendo a coleta de do cientista social, têm-se outra visão: tais informações não se restringir às mesmas. localidades corresponderiam a áreas onde coexistem espaços e grupos locais 8) Desenvolver uma rotina de diferenciados porém estruturados a partir de trabalho é fundamental. O pesquisador não redes de relações sociais. A desorganização deve recuar frente a um cotidiano que muitas social não é, portanto a tônica geral - o que vezes se mostra repetitivo e de dedicação não quer dizer negar a existência do conflito intensa. Através das notas e da manutenção entre os grupos. Foote Whyte não cai assim do diário de campo, o pesquisador se auto- nem numa visão miserabilista nem populista disciplina a observar e anotar dos pobres. Insiste na importância da sistematicamente. sociabilidade que ocorre no espaço público do mundo popular - na “sociedade da 9) O pesquisador aprende com os esquina”, para usar seu próprio linguajar. erros que comete durante o trabalho de Pois é na esquina, no espaço informal que as campo e deve tirar proveito dos mesmos na decisões são tomadas, que os grupos se medida em que os passos em falso fazem estruturam e que as relações sociais se parte do aprendizado da pesquisa. Deve constroem e se destroem. refletir sobre o porquê de uma recusa, e o
  • 3. SOCIEDADE DE ESQUINA (Street Corner Society) A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada William Foote Whyte 392pp; 16x23cm; R$54 Tradução: Maria Lúcia de Oliveira Revisão técnica: Karina Kuschnir Coleção Antropologia Social JORGE ZAHAR EDITOR Em fevereiro de 1937, o então jovem economista William Foote Whyte, com uma bolsa de iniciação de Harvard, decidiu estudar um bairro italiano pobre de Boston, a que deu o nome de Cornerville. Um clássico da pesquisa sociológica, o trabalho de Whyte sobre Cornerville tem servido como modelo para a etnografia urbana há quase 70 anos. Utilizando o método de observação participante, o autor revela um mundo de intrincadas relações sociais, considerando pessoas e situações reais. Com seu olhar profundo e detalhista, Whyte mudou a maneira de se compreender a pobreza e a vida nas grandes cidades. A versão ora lançada no Brasil é traduzida da edição comemorativa de 50 anos de Sociedade de esquina. Nela o leitor encontra a obra original enriquecida com os anexos posteriormente elaborados pelo autor; as respostas que formulou às críticas que recebeu; uma seção sobre “Cornerville revisitado”, em que segue a carreira de alguns dos personagens principais do livro; um corajoso comentário que fez do livro meio século depois. De suma importância também é o depoimento de um dos “rapazes de esquina”, Angelo Orlandella, a respeito do impacto da obra de Whyte sobre sua vida, incluído igualmente nesta edição. “Um livro de impressionante atualidade e de alto interesse interdisciplinar. É um exemplo magistral de como um trabalho de investigação científica pode ser um instrumento precioso para a crítica de estereótipos e preconceitos.” Gilberto Velho Sobre o autor: William Foote Whyte formou-se em economia e fez doutorado em sociologia/antropologia na Universidade de Chicago, onde passou a lecionar em 1944. Foi diretor de pesquisa do programa de emprego da Cornell University, presidente da American Sociological Association e da Society of Applied Anthropology. Escreveu diversos livros, sobretudo sobre metodologia de pesquisa, como Learning from the Field e Participant Observer. Whyte morreu em 2000. Assessoria de Imprensa: Bety Serpa – (21) 2539-8786, 9944-8908, mundipress@msm.com.br Editorial: rua México 31 • 20031-144 • Rio de Janeiro, RJ • tel: 2240-0226 • fax: 2262-5123 • e-mail: jze@zahar.com.br