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Gregório de Matos Guerra
“Boca do Inferno”
Rodrigo Dias
Contexto histórico
Nascido na Bahia, em família abastada,
Gregório estuda Direito em Portugal.
Ao retornar para o Brasil, então com 46
anos, encontra uma situação muito
diferente: além do atraso cultural da
colônia em relação à metrópole,
percebe a decadência social de sua
família (e dos senhores de engenho em
geral), causada pela crise do açúcar.
Por dois anos exerce funções junto à
Igreja como sacerdote,sendo destituído
por levar uma vida “sem modo de
cristão”. Após um período de desterro
na África em 1694, retorna ao Brasil,
morrendo, em Recife, em 1695.
Gregório de Matos (1633 – 1695)
Forma
• Cultismo: jogo de palavras
– Excesso, rebuscamento, inversões sintáticas
• Sonetos
Forma
Temas
• Poesia religiosa
– Culpa e perdão
• Poesia amorosa e erótica/pornográfica
– Idealização da mulher branca x rebaixamento e
objetificação da mulher negra, mulata e/ou
prostituta
• Poesia satírica
– Postura moralista
– Conservadorismo
Temas
Poesia religiosa (jogo de palavras,
culpa e perdão)
A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
Poesia religiosa
Poesia religiosa (jogo de palavras,
culpa e perdão)
A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor
Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade, que encaminha à vaidade,
Vaidade, que todo me há vencido;
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.
Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação pretendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.
Poesia religiosa
O eu lírico utiliza um jogo de palavras,
começando os versos com a palavra final
do verso anterior.
Prestem atenção para a sequência de
ações/estados de espírito: o eu lírico
parte do reconhecimento da ofensa a
Deus, passa pelo arrependimento e
chega ao pedido de misericórdia.
Podemos ver aqui a culpa e o perdão,
temas importantes para o Barroco.
Poesia religiosa (inconstância)
Inconstância dos bens do mundo (ou A instabilidade das cousas no mundo)
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
Poesia religiosa
Percebemos neste poema as dualidades
claro/escuro, vida/morte, que resulta na
contestação do caráter passageiro da
vida.
Também há uma retomada da temática
renascentista da inconstância (tanto dos
sentimentos quanto do mundo).
Poesia amorosa
Retrato / Dona Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara
Isso é ser flor, e Anjo juntamente
Ser Angélica flor, e Anjo florente
Em quem, se não em vós se uniformara?
Quem veria uma flor, que a não cortara
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares
Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Galharda: elegante.
Poesia amorosa
O eu lírico joga com o nome de Dona
Ângela, referindo se a “Anjo” e à flor
conhecida como “Angélica”. Assim, Dona
Ângela “seria angélica flor e anjo
florente” ao mesmo tempo, ou seja:
beleza divina e mundana em uma
mesma pessoa.
No fim do poema, no entanto, há uma
desconstrução da figura angelical, divina,
da amada, acusada de ser uma fonte de
tentação, um anjo que tenta ao invés de
guardar.
Angélica (flor)
(polianthes tuberosa)
Poesia amorosa
Poesia amorosa (carpe diem)
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Discreta, e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:
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O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada.
Poesia amorosa
No poema ao lado percebemos a ideia
de Carpe diem (aproveitar o dia,
aproveitar a vida), principalmente nos
dois tercetos.
Poesia amorosa (erótica)
[...]
O Amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias.
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa, é besta.
Poesia amorosa
Atenção: único poema da seleta que
apresenta o amor carnal!
Poesia satírica
À cidade da Bahia (soneto)
Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
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Tanto negócio, e tanto negociante.
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Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Poesia satírica
Empenhado: endividado.
Trocar: duplo sentido: mudar e trocar.
Abelhuda: intrometida, curiosa.
Brichote: estrangeiro.
O eu lírico lamenta as mudanças sofridas pela
Bahia e o empobrecimento que isso lhe
trouxe. Assim, o comércio é tratado como algo
prejudicial, pois apresenta possibilidade de
ascensão social para os comerciantes em um
contexto em que os senhores de engenho
perdiam força por causa da concorrência com
o açúcar produzido nas Antilhas.
Nos últimos tercetos, o eu lírico acusa a Bahia
por receber, em troca de seu “açúcar
excelente”, bens supérfluos. Por fim, ele
demonstra um desejo de que a Bahia
descartasse o luxo que lhe custava caro e
voltasse a usar capote de algodão, matéria
barata, modesta.
Poesia satírica
Define a sua cidade
De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.
Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
Recopilar: resumir.
Poesia satírica
Questões
(UFRGS/2009) Leia o seguinte soneto de
Gregório de Matos Guerra.
Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa1;
Com sua língua ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa2:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa3:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
Vocabulário:
1. Carepa: caspa, sarna, pereba.
2. Increpa: censura, acusa.
3. Garlopa: instrumento de carpinteiro.
Questões
Considere as seguintes afirmações sobre o soneto lido.
I - De acordo com o primeiro quarteto, quem se pretende mais limpo tem
maior sujeira, mas quem é nobre trata de decepar as pretensões de quem é
vil.
II - No segundo quarteto, há uma receita de ascensão social, em que, por
exemplo, quem tem menos autoridade mais acusa e quem tem riqueza
obtém importância e prestígio.
III - No último terceto, o poeta refere as rimas usadas ao longo do soneto e,
do ponto de vista formal, abandona o decassílabo para lançar mão de versos
de oito sílabas.
Quais estão corretas?
Questões
I - De acordo com o primeiro quarteto, quem se pretende mais limpo tem
maior sujeira, mas quem é nobre trata de decepar as pretensões de quem é
vil.
A parte destacada em azul na afirmativa está correta, conforme o segundo
verso do poema (“quem mais limpo se faz, tem mais carepa” (caspa));
contudo, a parte destacada em vermelho está incorreta. Vejamos o verso ao
qual se refere:
“Com sua língua ao nobre o vil decepa”
Podemos parafrasear a frase da seguinte maneira: “O vil (canalha) decepa ao
nobre com sua língua”.
Questões
II - No segundo quarteto, há uma receita de
ascensão social, em que, por exemplo, quem tem
menos autoridade mais acusa e quem tem riqueza
obtém importância e prestígio.
Alternativa correta.
“Quem menos falar pode, mais increpa [censura]
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa”.
Questões
III - No último terceto, o poeta refere as rimas
usadas ao longo do soneto e, do ponto de vista
formal, abandona o decassílabo para lançar mão
de versos de oito sílabas.
O eu lírico refere as rimas usadas ao longo do
soneto, mas não abandona o verso decassílabo.
Questões
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
Questões
Questões
(UFRGS/2014) Leia o trecho do Sermão pelo
bom sucesso das armas de Portugal contra as de
Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de
Gregório de Matos Guerra a seguir.
Questões
Sermão pelo bom sucesso das armas de
Portugal contra as de Holanda
Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir (responde por ele o mesmo santo, que o
arguiu), porque, se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória
que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar?
O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes com
energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: "Se eu fiz, Senhor,
como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer, como Deus, em me perdoar?"
Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? "Pequei, que mais posso fazer?" E
que fizestes vós, Jó, a Deus, em pecar? – Não lhe fiz pouco; porque lhe dei ocasião a me
perdoar, e perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça
que me fizer; e ele dever-me-á a mim, como ocasião, a glória que alcançar.
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-nos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
I – Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus
mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório
argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto
Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó
seja perdoado.
II – Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do
Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da
misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e
os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar
do perdão.
III- Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a
misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira,
declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório
compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode
pôr a perder a glória de Deus.
Questões
I – Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos
dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do
plural (vós, vos): Gregório argumenta que o Senhor
está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira
dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir
que Jó seja perdoado.
Incorreta, pois Vieira não tenta impedir que Jó seja
perdoado. No trecho citado (“E que fizestes vós...”),
vós refere-se a Jó, e não a Deus.
Questões
II – Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do
Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da
misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os
argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do
perdão.
A segunda afirmação é incorreta, pois o argumento de Vieira vai na
direção oposta, como é exposto na terceira afirmação, a única correta:
III- Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a
misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira,
declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório
compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr
a perder a glória de Deus.
Questões
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas III.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.
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Gregório de Matos: poesia religiosa, amorosa e satírica

  • 1. Gregório de Matos Guerra “Boca do Inferno” Rodrigo Dias
  • 2. Contexto histórico Nascido na Bahia, em família abastada, Gregório estuda Direito em Portugal. Ao retornar para o Brasil, então com 46 anos, encontra uma situação muito diferente: além do atraso cultural da colônia em relação à metrópole, percebe a decadência social de sua família (e dos senhores de engenho em geral), causada pela crise do açúcar. Por dois anos exerce funções junto à Igreja como sacerdote,sendo destituído por levar uma vida “sem modo de cristão”. Após um período de desterro na África em 1694, retorna ao Brasil, morrendo, em Recife, em 1695. Gregório de Matos (1633 – 1695)
  • 3. Forma • Cultismo: jogo de palavras – Excesso, rebuscamento, inversões sintáticas • Sonetos Forma
  • 4. Temas • Poesia religiosa – Culpa e perdão • Poesia amorosa e erótica/pornográfica – Idealização da mulher branca x rebaixamento e objetificação da mulher negra, mulata e/ou prostituta • Poesia satírica – Postura moralista – Conservadorismo Temas
  • 5. Poesia religiosa (jogo de palavras, culpa e perdão) A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade, É verdade, meu Deus, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade. Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me os braços, Abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus. Poesia religiosa
  • 6. Poesia religiosa (jogo de palavras, culpa e perdão) A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade, É verdade, meu Deus, que hei delinquido, Delinquido vos tenho, e ofendido, Ofendido vos tem minha maldade. Maldade, que encaminha à vaidade, Vaidade, que todo me há vencido; Vencido quero ver-me, e arrependido, Arrependido a tanta enormidade. Arrependido estou de coração, De coração vos busco, dai-me os braços, Abraços, que me rendem vossa luz. Luz, que claro me mostra a salvação, A salvação pretendo em tais abraços, Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus. Poesia religiosa O eu lírico utiliza um jogo de palavras, começando os versos com a palavra final do verso anterior. Prestem atenção para a sequência de ações/estados de espírito: o eu lírico parte do reconhecimento da ofensa a Deus, passa pelo arrependimento e chega ao pedido de misericórdia. Podemos ver aqui a culpa e o perdão, temas importantes para o Barroco.
  • 7. Poesia religiosa (inconstância) Inconstância dos bens do mundo (ou A instabilidade das cousas no mundo) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. Poesia religiosa Percebemos neste poema as dualidades claro/escuro, vida/morte, que resulta na contestação do caráter passageiro da vida. Também há uma retomada da temática renascentista da inconstância (tanto dos sentimentos quanto do mundo).
  • 8. Poesia amorosa Retrato / Dona Ângela Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente Ser Angélica flor, e Anjo florente Em quem, se não em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares Fôreis o meu custódio, e minha guarda Livrara eu de diabólicos azares Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Posto que os Anjos nunca dão pesares Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Galharda: elegante. Poesia amorosa O eu lírico joga com o nome de Dona Ângela, referindo se a “Anjo” e à flor conhecida como “Angélica”. Assim, Dona Ângela “seria angélica flor e anjo florente” ao mesmo tempo, ou seja: beleza divina e mundana em uma mesma pessoa. No fim do poema, no entanto, há uma desconstrução da figura angelical, divina, da amada, acusada de ser uma fonte de tentação, um anjo que tenta ao invés de guardar.
  • 10. Poesia amorosa (carpe diem) A Maria dos povos, sua futura esposa Discreta, e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia: Enquanto com gentil descortesia O ar, que fresco Adônis te namora, Te espalha a rica trança voadora, Quando vem passear-te pela fria: Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda a flor sua pisada. Oh, não aguardes, que a madura idade Te converta em flor, essa beleza Em terra, em cinza, em pó, em sobra, em nada. Poesia amorosa No poema ao lado percebemos a ideia de Carpe diem (aproveitar o dia, aproveitar a vida), principalmente nos dois tercetos.
  • 11. Poesia amorosa (erótica) [...] O Amor é finalmente um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias. Uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um reboliço de ancas, quem diz outra coisa, é besta. Poesia amorosa Atenção: único poema da seleta que apresenta o amor carnal!
  • 12. Poesia satírica À cidade da Bahia (soneto) Triste Bahia! Oh quão dessemelhante Estás, e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado Tanto negócio, e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus, que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! Poesia satírica Empenhado: endividado. Trocar: duplo sentido: mudar e trocar. Abelhuda: intrometida, curiosa. Brichote: estrangeiro. O eu lírico lamenta as mudanças sofridas pela Bahia e o empobrecimento que isso lhe trouxe. Assim, o comércio é tratado como algo prejudicial, pois apresenta possibilidade de ascensão social para os comerciantes em um contexto em que os senhores de engenho perdiam força por causa da concorrência com o açúcar produzido nas Antilhas. Nos últimos tercetos, o eu lírico acusa a Bahia por receber, em troca de seu “açúcar excelente”, bens supérfluos. Por fim, ele demonstra um desejo de que a Bahia descartasse o luxo que lhe custava caro e voltasse a usar capote de algodão, matéria barata, modesta.
  • 13. Poesia satírica Define a sua cidade De dois ff se compõe esta cidade a meu ver: um furtar, outro foder. Recopilou-se o direito, e quem o recopilou com dous ff o explicou por estar feito, e bem feito: por bem digesto, e colheito só com dous ff o expõe, e assim quem os olhos põe no trato, que aqui se encerra, há de dizer que esta terra de dous ff se compõe. Se de dous ff composta está a nossa Bahia, errada a ortografia, a grande dano está posta: eu quero fazer aposta e quero um tostão perder, que isso a há de perverter, se o furtar e o foder bem não são os ff que tem esta cidade ao meu ver. Provo a conjetura já, prontamente como um brinco: Bahia tem letras cinco que são B-A-H-I-A: logo ninguém me dirá que dous ff chega a ter, pois nenhum contém sequer, salvo se em boa verdade são os ff da cidade um furtar, outro foder. Recopilar: resumir. Poesia satírica
  • 14. Questões (UFRGS/2009) Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos Guerra. Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa1; Com sua língua ao nobre o vil decepa: O velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa2: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa3: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazo a tripa, E mais não digo, porque a musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. Vocabulário: 1. Carepa: caspa, sarna, pereba. 2. Increpa: censura, acusa. 3. Garlopa: instrumento de carpinteiro. Questões
  • 15. Considere as seguintes afirmações sobre o soneto lido. I - De acordo com o primeiro quarteto, quem se pretende mais limpo tem maior sujeira, mas quem é nobre trata de decepar as pretensões de quem é vil. II - No segundo quarteto, há uma receita de ascensão social, em que, por exemplo, quem tem menos autoridade mais acusa e quem tem riqueza obtém importância e prestígio. III - No último terceto, o poeta refere as rimas usadas ao longo do soneto e, do ponto de vista formal, abandona o decassílabo para lançar mão de versos de oito sílabas. Quais estão corretas? Questões
  • 16. I - De acordo com o primeiro quarteto, quem se pretende mais limpo tem maior sujeira, mas quem é nobre trata de decepar as pretensões de quem é vil. A parte destacada em azul na afirmativa está correta, conforme o segundo verso do poema (“quem mais limpo se faz, tem mais carepa” (caspa)); contudo, a parte destacada em vermelho está incorreta. Vejamos o verso ao qual se refere: “Com sua língua ao nobre o vil decepa” Podemos parafrasear a frase da seguinte maneira: “O vil (canalha) decepa ao nobre com sua língua”. Questões
  • 17. II - No segundo quarteto, há uma receita de ascensão social, em que, por exemplo, quem tem menos autoridade mais acusa e quem tem riqueza obtém importância e prestígio. Alternativa correta. “Quem menos falar pode, mais increpa [censura] Quem dinheiro tiver, pode ser Papa”. Questões
  • 18. III - No último terceto, o poeta refere as rimas usadas ao longo do soneto e, do ponto de vista formal, abandona o decassílabo para lançar mão de versos de oito sílabas. O eu lírico refere as rimas usadas ao longo do soneto, mas não abandona o verso decassílabo. Questões
  • 19. (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e III. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III. Questões
  • 20. Questões (UFRGS/2014) Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir. Questões
  • 21. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir (responde por ele o mesmo santo, que o arguiu), porque, se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: "Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer, como Deus, em me perdoar?" Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? "Pequei, que mais posso fazer?" E que fizestes vós, Jó, a Deus, em pecar? – Não lhe fiz pouco; porque lhe dei ocasião a me perdoar, e perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer; e ele dever-me-á a mim, como ocasião, a glória que alcançar.
  • 22. A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido, Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-nos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida, e já cobrada Glória tal, e prazer tão repentino vos deu, como afirmais na Sacra História: Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.
  • 23. I – Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó seja perdoado. II – Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do perdão. III- Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira, declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr a perder a glória de Deus. Questões
  • 24. I – Tanto Padre Vieira quanto Gregório de Matos dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do plural (vós, vos): Gregório argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós...) para impedir que Jó seja perdoado. Incorreta, pois Vieira não tenta impedir que Jó seja perdoado. No trecho citado (“E que fizestes vós...”), vós refere-se a Jó, e não a Deus. Questões
  • 25. II – Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do perdão. A segunda afirmação é incorreta, pois o argumento de Vieira vai na direção oposta, como é exposto na terceira afirmação, a única correta: III- Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a misericórdia e a glória divinas: assim como Jó, citado por Vieira, declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório compara-se à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr a perder a glória de Deus. Questões
  • 26. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas III. (C) Apenas I e II. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III. Questões