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Isto


 Dizem que finjo ou minto
 Tudo que escrevo. Não.
  Eu simplesmente sinto
   Com a imaginação.
   Não uso o coração.




Tudo o que sonho ou passo,
 O que me falha ou finda,
 É como que um terraço
 Sobre outra coisa ainda.
 Essa coisa é que é linda.




 Por isso escrevo em meio
 Do que não está ao pé,
   Livre do meu enleio,
   Sério do que não é.
   Sentir? Sinta quem lê!

     Fernando Pessoa
Pobre velhamúsica!

Não sei porque agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.




Recordo outro ouvir-te.

Não se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.




Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.




   Fernando Pessoa
Alberto Caeiro



Eu nunca guardei rebanhos,

Mas é como se os guardasse.

Minha alma é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.




Alberto Caeiro
Eu nunca guardei rebanhos

Mas é como se os guardasse.

Minha aula é como um pastor,

Conhece o vento e o sol

E anda pela mão das Estações

A seguir e a olhar.

Toda a paz da Natureza sem gente

Vem sentar-se a meu lado.

Mas seu fico triste como um pôr do Sol

Para a nossa imaginação,

Quando esfria no fundo da planície

E se sente a noite entrada

Como uma borboleta pela janela.




Mas a minha tristeza é sossego

Porque é natural e justa

E é o que deve estar na alma

Quando já pensa que existe

E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
(Alberto Caeiro)(cont)

Com um ruído de chocalhos

Para além da curva da estrada,

Os meus pensamentos são contentes,

Porque se o não soubesse

Em vez de serem contentes e tristes,

Seriam alegres e contentes.




Pensar incomoda como andar à chuva

Quando o vento cresce e parece que chove mais.




Não tenho ambições nem desejos.

Ser poeta não é uma ambição minha

É a minha maneira de estar sozinho.




E se desejo às vezes,

Por imaginar, ser cordeirinho

(ou ser o rebanho todo

Para andar espalhado por toda a encosta

A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol

Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever

Ou passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,

Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,

Sinto um cajado nas mãos

E vejo um recorte de mim

No cimo de um outeiro,

Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias ,

Olhando para o meu rebanho e vendo o meu rebanho,

E sorrindo vagamente como quem não compreendo que diz

E quer fingir que compreende.




Saúdo todos os que me lerem,

Tirando-lhes o chapéu largo

Quando me vêem à minha porta

Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.

Saúdo-os e desejo-lhes sol,

E chuva, quando a chuva é precisa,

E que as suas casa tenham

Ao pé da janela aberta

Uma cadeira predilecta

Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem

Que sou qualquer coisa natural-

Por exemplo ,a árvore antiga

À sombra da qual quando crianças

Se sentavam com um baque, cansados de brincar,

E limpavam o suor da testa quente

Com a manga do bibe riscado.




              Alberto Caeiro
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Sossegadamente fitemos o seu cursoe aprendamos

         Que a vida passa e não estamos de mãos enlaçadas.

                          (Enlacemos as mãos)




             Depois pensemos, crianças adultas,que a vida

            Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,

           Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,

                        Mais longe que os deuses




    Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.

    Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio

    Mais vale saber passar silenciosamente

                      E sem desassossegos grandes.




       Sem amores, nem ódios,nem paixões que levantam a voz,

Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,

Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

             E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente,pensando que podíamos,

Se quiséssemos,trocar beijos e abraços e carícias

Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

      Ouvindo correr o rio e vendo-o.




Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as

No colo, e que o seu perfume suavize o momento-

Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.




Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois

Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,

Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.




E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,

Eunada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.

Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim- à beira rio,

          Pagã triste e com floresno regaço.




               Ricardo Reis
As rosas amo do jardim de Adónis,

Essas vólucres amo,Lídia, rosas,

    Que em o dia que nascem,

    Em esse dia morrem.




A luz para elas é eterna, porque

Nascem nascido já o Sol, e acabam

    Antes que Apolo deixe

    O seu curso visível.




Assim façamos nossa vida um dia,

Inscientes, Lídia, voluntariamente

    Que há noite antes e após

    O pouco que duramos.




…

        Ricardo Reis
Alvaro de Campos

1ª Fase : Fase Decadentista

2º Fase: Fase Futurista

3ª Fase: Fase Abúlica (apatia e inquietação)




Fase decadentista




Opiário

É antes do ópio que a minh’alma doente.

Sentir a vida convalesce e estiola

E eu vou buscar ao ópio que consola

Um Oriente do Oriente.




Esta vida de bordo há-de matar-me.

São dias só de febre na cabeça

E,por mais que procure até que adoeça,

Já não encontro a mola pra adaptar-me.

(…)
Eu, que fui sempre um mau estudante, agora

Não faço mais que ver o navio ir

Pelo canal de Suez a conduzir

A minha vida, cânfora na aurora.




Perdi os dias que já aproveitara.

Trabalhei para ter só o cansaço

Que é hoje em mim uma espécie de braço

Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

(…)

A vida a bordo é uma coisa triste,

Embora a gente se divirta às vezes.

Falo com alemães suecos e ingleses

E a minha mágoa de viver persiste.




Eu acho que não vale a pena ter

Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.

A terra é semelhante e pequenina

E há só uma maneira de viver.
Por isso eu tomo ópio. È um remédio.

 Sou um convalescente do Momento.

 Moro no rés-do-chão do pensamento

E ver passar a Vida faz-me tédio.




Fumo. Canso. Ah, uma terra aonde, enfim,

Muito a leste não fosse o oeste já!

Pra que fui visitar a Índia que há

Se não há Índia senão a alma em mim?

(…)

Álvaro de Campos




Fase futurista




Ode Triunfal



À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica

Tenho febre e escrevo.

Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,

Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r-eterno!

Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria !

Em fúria fora e dentro de mim,

Por todos os meus nervos dissecados fora,

Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto!

Tenho os lábios secos, o´ grandes ruídos modernos,

De vos ouvir demasiadamente de perto

E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso

De expressão de todas as minhas sensações,

Com um excesso contemporâneo de vós, ó máq




(…)




Àlvaro de Campos
Dactilografia

( Fase abúlica )



Traço

Sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,

Firmo o projecto, aqui isolado,

Remoto até de quem eu sou.




Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,




O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Que náusea da vida!

Que abjecção esta regularidade!

Que sinoeste ser assim!




Outrora, quando fui outro,eram castelos e cavaleiros

(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),

Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,

Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,

Eram grandes palmares do SUL, opulentos de verdes,
Outrora.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,

O tic-tac estalado das máquinas de escrever.




Temos todos duas vidas;

A verdadeira, que é a que sonhamos na infância

E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa;

A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,

Que é a prática, a útil,

Aquela em que acabam por nos meter num caixão,

Na outra não há caixões, nem mortes,

Há só ilustrações de infância:

Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;

Grandes páginas de cores

Para recordar mais tarde.

Na outra somos nós,

Na outra vivemos;

Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;

Neste momento, pela náusea, vivo na outra…




Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,

Ergue a voz o tic-tac estalado das máquinas de escrever.
Álvaro de Campos

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  • 1. Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é. Sentir? Sinta quem lê! Fernando Pessoa
  • 2. Pobre velhamúsica! Não sei porque agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te. Não se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora. Fernando Pessoa
  • 3. Alberto Caeiro Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Alberto Caeiro
  • 4. Eu nunca guardei rebanhos Mas é como se os guardasse. Minha aula é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas seu fico triste como um pôr do Sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
  • 5. (Alberto Caeiro)(cont) Com um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes, Porque se o não soubesse Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. Não tenho ambições nem desejos. Ser poeta não é uma ambição minha É a minha maneira de estar sozinho. E se desejo às vezes, Por imaginar, ser cordeirinho (ou ser o rebanho todo Para andar espalhado por toda a encosta A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo), É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
  • 6. E corre um silêncio pela erva fora. Quando me sento a escrever Ou passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, Escrevo versos num papel que está no meu pensamento, Sinto um cajado nas mãos E vejo um recorte de mim No cimo de um outeiro, Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias , Olhando para o meu rebanho e vendo o meu rebanho, E sorrindo vagamente como quem não compreendo que diz E quer fingir que compreende. Saúdo todos os que me lerem, Tirando-lhes o chapéu largo Quando me vêem à minha porta Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. Saúdo-os e desejo-lhes sol, E chuva, quando a chuva é precisa, E que as suas casa tenham Ao pé da janela aberta Uma cadeira predilecta Onde se sentem, lendo os meus versos.
  • 7. E ao lerem os meus versos pensem Que sou qualquer coisa natural- Por exemplo ,a árvore antiga À sombra da qual quando crianças Se sentavam com um baque, cansados de brincar, E limpavam o suor da testa quente Com a manga do bibe riscado. Alberto Caeiro
  • 8. Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu cursoe aprendamos Que a vida passa e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos) Depois pensemos, crianças adultas,que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado, Mais longe que os deuses Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassossegos grandes. Sem amores, nem ódios,nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, E sempre iria ter ao mar.
  • 9. Amemo-nos tranquilamente,pensando que podíamos, Se quiséssemos,trocar beijos e abraços e carícias Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento- Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, Pagãos inocentes da decadência. Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos Nem fomos mais do que crianças. E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, Eunada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim- à beira rio, Pagã triste e com floresno regaço. Ricardo Reis
  • 10. As rosas amo do jardim de Adónis, Essas vólucres amo,Lídia, rosas, Que em o dia que nascem, Em esse dia morrem. A luz para elas é eterna, porque Nascem nascido já o Sol, e acabam Antes que Apolo deixe O seu curso visível. Assim façamos nossa vida um dia, Inscientes, Lídia, voluntariamente Que há noite antes e após O pouco que duramos. … Ricardo Reis
  • 11. Alvaro de Campos 1ª Fase : Fase Decadentista 2º Fase: Fase Futurista 3ª Fase: Fase Abúlica (apatia e inquietação) Fase decadentista Opiário É antes do ópio que a minh’alma doente. Sentir a vida convalesce e estiola E eu vou buscar ao ópio que consola Um Oriente do Oriente. Esta vida de bordo há-de matar-me. São dias só de febre na cabeça E,por mais que procure até que adoeça, Já não encontro a mola pra adaptar-me. (…)
  • 12. Eu, que fui sempre um mau estudante, agora Não faço mais que ver o navio ir Pelo canal de Suez a conduzir A minha vida, cânfora na aurora. Perdi os dias que já aproveitara. Trabalhei para ter só o cansaço Que é hoje em mim uma espécie de braço Que ao meu pescoço me sufoca e ampara. (…) A vida a bordo é uma coisa triste, Embora a gente se divirta às vezes. Falo com alemães suecos e ingleses E a minha mágoa de viver persiste. Eu acho que não vale a pena ter Ido ao Oriente e visto a Índia e a China. A terra é semelhante e pequenina E há só uma maneira de viver.
  • 13. Por isso eu tomo ópio. È um remédio. Sou um convalescente do Momento. Moro no rés-do-chão do pensamento E ver passar a Vida faz-me tédio. Fumo. Canso. Ah, uma terra aonde, enfim, Muito a leste não fosse o oeste já! Pra que fui visitar a Índia que há Se não há Índia senão a alma em mim? (…) Álvaro de Campos Fase futurista Ode Triunfal À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
  • 14. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r-eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria ! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto! Tenho os lábios secos, o´ grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máq (…) Àlvaro de Campos
  • 15. Dactilografia ( Fase abúlica ) Traço Sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano, Firmo o projecto, aqui isolado, Remoto até de quem eu sou. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, O tic-tac estalado das máquinas de escrever. Que náusea da vida! Que abjecção esta regularidade! Que sinoeste ser assim! Outrora, quando fui outro,eram castelos e cavaleiros (Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância), Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho, Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve, Eram grandes palmares do SUL, opulentos de verdes,
  • 16. Outrora. Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, O tic-tac estalado das máquinas de escrever. Temos todos duas vidas; A verdadeira, que é a que sonhamos na infância E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa; A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros, Que é a prática, a útil, Aquela em que acabam por nos meter num caixão, Na outra não há caixões, nem mortes, Há só ilustrações de infância: Grandes livros coloridos, para ver mas não ler; Grandes páginas de cores Para recordar mais tarde. Na outra somos nós, Na outra vivemos; Nesta morremos, que é o que viver quer dizer; Neste momento, pela náusea, vivo na outra… Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro, Ergue a voz o tic-tac estalado das máquinas de escrever.