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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             72
              (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 9,
                    intitulado Eles já estão entre nós)




                   Os indicadores de sucesso

Destacar-se dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pódio onde
cabem apenas alguns poucos

Malcolm Gladwell (2008) escreveu um livro de quase trezentas páginas,
intitulado Outliers, para chegar à conclusão que “o outlier, no fim das
contas, não está tão a margem assim”. Ou seja, os bem-sucedidos são
frutos de uma constelação particularíssima e imprevisível de fatores, alguns
conhecidos, outros desconhecidos. Como ele próprio escreve, “advogados
celebridades, prodígios da matemática e empresários de software parecem,
à primeira vista, estar fora da experiência comum. Mas não estão. Eles são
produtos da história, da comunidade, das oportunidades e dos legados. Seu
sucesso não é excepcional nem misterioso. Baseia-se em uma rede de
vantagens e heranças, algumas merecidas; outras, não; algumas
conquistadas, outras obtidas por pura sorte – todas, porém, cruciais para
torná-los o que são” (10).

Sim, ele tem razão: nem excepcional, nem misterioso. No entanto, a
combinação ideal, a “fórmula” do sucesso é desconhecida e varia de acordo
com as condições de trajetória, tempo e lugar para cada indivíduo.

      “Os mitos dos melhores e mais brilhantes e do self-made man
      afirmam que, para obtermos o máximo em potencial humano, basta
      identificarmos as pessoas mais promissoras. Olhamos para Bill Gates
      e dizemos, em um espírito de autocongratulação: “Nosso mundo
      permitiu que aquele adolescente de 13 anos se tornasse um
      empresário tremendamente bem-sucedido”. Mas essa é a lição
      errada. O mundo só deixou que uma pessoa de 13 anos tivesse
      acesso a um terminal de tempo compartilhado em 1968. Se um
      milhão de adolescentes tivesse recebido uma oportunidade idêntica,
      quantas outras Microsofts existiriam hoje? Quando compreendemos
      mal ou ignoramos as verdadeiras lições do sucesso, desperdiçamos
      talentos... Agora multiplique esse potencial perdido por cada campo e
      profissão. O mundo poderia ser bem mais rico do que este em que
      nos acomodamos” (11).

No segundo capítulo do livro, Gladwell conta a história de Bill Gates,
sublinhando o fato de que ele foi matriculado em uma escola particular que
criou um clube de informática. Essa escola especial investiu, em 1968, 3 mil
dólares na compra de um terminal de tempo compartilhado ligado a um
mainframe no centro de Seattle. Assim, Gates, quando ainda estava na
oitava série, passou a viver em uma sala de computador (20 a 30 horas por
semana). De sorte que, “quando deixou Harvard após o segundo para criar
sua própria empresa de software, Gates vinha programando sem parar por
sete anos consecutivos... Quantos adolescentes tiveram esse mesmo tipo
de experiência?” É o próprio Bill Gates que responde: “Se existiram 50 em
todo mundo, eu me espantaria. Houve a C-Cubed e o trabalho para a ISI
com a folha de pagamento. Depois a TRW. Tudo isso veio junto. Acredito
que meu envolvimento com a criação de softwares durante a juventude foi
maior do que o de qualquer outra pessoa naquele período, e tudo graças a
uma série incrivelmente favorável de eventos” (12).

Todos os outliers que Gladwell analisou no livro “foram favorecidos por
alguma oportunidade incomum [como, no caso de Gates, estar na escola
Lakeside em 1968]. Golpes de sorte não costumam ser exceção entre



                                     2
bilionários de software, celebridades de rock e astros dos esportes. Pelo
contrário, parecem constituir a regra” (13).

Responsabilizar a sorte não acrescenta muito conhecimento sobre o
fenômeno. Se continuarmos focalizando o indivíduo, a equação não terá
solução. Ou melhor, não conseguiremos nem equacionar o problema (já que
solução mesmo dificilmente haverá), o que poderia acrescentar, aí sim,
algum conhecimento novo. Mas Gladwell erra um pouco o alvo. Não é que
tudo se baseia – como ele diz, falando metaforicamente – “em uma rede de
vantagens e heranças” e sim que tudo depende (muito mais do que
pensamos) de uma rede mesmo, de uma rede social propriamente dita.
Quando ele afirma que o sucesso dos bem-sucedidos não foi criado só por
eles, mas “foi o produto do mundo onde cresceram”, deixa de ver que esse
mundo não é o mundo físico, nem ‘o mundo’ como noção abstrata usada
para designar a totalidade da existência e sim o mundo social, quer dizer, a
rede social a que estão conectados seus outliers. Eis o erro: ver o indivíduo
e não ver a rede; ver a árvore, mas não ver a floresta (e sobretudo não ver
a incrível rede miceliana, o clone fúngico que está por baixo da floresta e
sem a qual ela não poderia existir); ver o organismo vivo, mas não ver o
ecossistema em que ele está inserido. É a estrutura e o metabolismo da
rede social que podem revelar as condições para o papel mais ou menos
relevante assumido, em cada tempo e lugar (ou seja, em cada cluster),
pelos seus nodos.

Em uma sociedade cuja topologia e dinâmica se aproximam, cada vez mais,
das de uma rede distribuída – a chamada sociedade em rede, emergente
nas últimas décadas – isso ficará cada vez mais evidente. Os critérios de
sucesso nesse tipo de sociedade tendem a deixar de ser baseados em
características puramente individuais e em noções competitivo-excludentes
(se destacar dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pódio onde
cabem apenas alguns poucos) para passar a ser função de um corpo e de
um metabolismo coletivos: a própria rede.

Não se trata de coletivos indiferenciados, segundo uma velha perspectiva
coletivista, própria dos condutores de rebanhos (sejam ditadores ou
manipuladores de massas, de direita ou de esquerda, contra os quais os
individualistas têm razão nas críticas que fazem) e sim de arranjos de
pessoas. A pessoa é o indivíduo conectado e que, portanto, não se constitui
apenas como um íon social vagando em um meio gelatinoso e exibindo
orgulhosamente suas características distintivas e sim também como um
entroncamento de fluxos, uma identidade que se forma a partir da interação
com outros indivíduos.




                                     3
É por isso que o tipo de educação que recebemos, para nos destacar dos
semelhantes, é terrivelmente prejudicial em uma sociedade em rede, na
qual estão abertas infinitas possibilidades de polinização mútua e de
fertilização cruzada que impulsionam a inovação e o desenvolvimento
pessoal e coletivo. Essa idéia é desastrosa, porquanto, sob sua influência,
desperdiçamos as potencialidades criativas e inovadoras das múltiplas
parcerias e sinergias que o relacionamento horizontal entre as pessoas
proporciona. Guiados por ela, perdemos talentos, bloqueamos a
dinamização de inusitadas capacidades coletivas, matamos no embrião
futuros gênios e exterminamos o mais precioso recurso para o
desenvolvimento de pessoas e comunidades: o capital social (que é uma
metáfora, construída do ponto de vista dos recursos necessários ao
desenvolvimento, para designar nada mais do que a própria rede social).

Assim, antes de qualquer coisa, tanto a idéia quanto a própria palavra
‘sucesso’ deverão ser abolidas. Trata-se agora, outrossim, de reconhecer
papeis relevantes.




                                    4
Notas

(10) GLADWELL, Malcolm (2008). Fora de série (Outliers). Rio de Janeiro:
Sextante, 2008.

(11) Idem.

(12) Idem-idem.

(13) Idem-ibidem.




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Os indicadores de sucesso em uma sociedade em rede

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 72 (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 9, intitulado Eles já estão entre nós) Os indicadores de sucesso Destacar-se dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pódio onde cabem apenas alguns poucos Malcolm Gladwell (2008) escreveu um livro de quase trezentas páginas, intitulado Outliers, para chegar à conclusão que “o outlier, no fim das contas, não está tão a margem assim”. Ou seja, os bem-sucedidos são frutos de uma constelação particularíssima e imprevisível de fatores, alguns conhecidos, outros desconhecidos. Como ele próprio escreve, “advogados celebridades, prodígios da matemática e empresários de software parecem, à primeira vista, estar fora da experiência comum. Mas não estão. Eles são produtos da história, da comunidade, das oportunidades e dos legados. Seu
  • 2. sucesso não é excepcional nem misterioso. Baseia-se em uma rede de vantagens e heranças, algumas merecidas; outras, não; algumas conquistadas, outras obtidas por pura sorte – todas, porém, cruciais para torná-los o que são” (10). Sim, ele tem razão: nem excepcional, nem misterioso. No entanto, a combinação ideal, a “fórmula” do sucesso é desconhecida e varia de acordo com as condições de trajetória, tempo e lugar para cada indivíduo. “Os mitos dos melhores e mais brilhantes e do self-made man afirmam que, para obtermos o máximo em potencial humano, basta identificarmos as pessoas mais promissoras. Olhamos para Bill Gates e dizemos, em um espírito de autocongratulação: “Nosso mundo permitiu que aquele adolescente de 13 anos se tornasse um empresário tremendamente bem-sucedido”. Mas essa é a lição errada. O mundo só deixou que uma pessoa de 13 anos tivesse acesso a um terminal de tempo compartilhado em 1968. Se um milhão de adolescentes tivesse recebido uma oportunidade idêntica, quantas outras Microsofts existiriam hoje? Quando compreendemos mal ou ignoramos as verdadeiras lições do sucesso, desperdiçamos talentos... Agora multiplique esse potencial perdido por cada campo e profissão. O mundo poderia ser bem mais rico do que este em que nos acomodamos” (11). No segundo capítulo do livro, Gladwell conta a história de Bill Gates, sublinhando o fato de que ele foi matriculado em uma escola particular que criou um clube de informática. Essa escola especial investiu, em 1968, 3 mil dólares na compra de um terminal de tempo compartilhado ligado a um mainframe no centro de Seattle. Assim, Gates, quando ainda estava na oitava série, passou a viver em uma sala de computador (20 a 30 horas por semana). De sorte que, “quando deixou Harvard após o segundo para criar sua própria empresa de software, Gates vinha programando sem parar por sete anos consecutivos... Quantos adolescentes tiveram esse mesmo tipo de experiência?” É o próprio Bill Gates que responde: “Se existiram 50 em todo mundo, eu me espantaria. Houve a C-Cubed e o trabalho para a ISI com a folha de pagamento. Depois a TRW. Tudo isso veio junto. Acredito que meu envolvimento com a criação de softwares durante a juventude foi maior do que o de qualquer outra pessoa naquele período, e tudo graças a uma série incrivelmente favorável de eventos” (12). Todos os outliers que Gladwell analisou no livro “foram favorecidos por alguma oportunidade incomum [como, no caso de Gates, estar na escola Lakeside em 1968]. Golpes de sorte não costumam ser exceção entre 2
  • 3. bilionários de software, celebridades de rock e astros dos esportes. Pelo contrário, parecem constituir a regra” (13). Responsabilizar a sorte não acrescenta muito conhecimento sobre o fenômeno. Se continuarmos focalizando o indivíduo, a equação não terá solução. Ou melhor, não conseguiremos nem equacionar o problema (já que solução mesmo dificilmente haverá), o que poderia acrescentar, aí sim, algum conhecimento novo. Mas Gladwell erra um pouco o alvo. Não é que tudo se baseia – como ele diz, falando metaforicamente – “em uma rede de vantagens e heranças” e sim que tudo depende (muito mais do que pensamos) de uma rede mesmo, de uma rede social propriamente dita. Quando ele afirma que o sucesso dos bem-sucedidos não foi criado só por eles, mas “foi o produto do mundo onde cresceram”, deixa de ver que esse mundo não é o mundo físico, nem ‘o mundo’ como noção abstrata usada para designar a totalidade da existência e sim o mundo social, quer dizer, a rede social a que estão conectados seus outliers. Eis o erro: ver o indivíduo e não ver a rede; ver a árvore, mas não ver a floresta (e sobretudo não ver a incrível rede miceliana, o clone fúngico que está por baixo da floresta e sem a qual ela não poderia existir); ver o organismo vivo, mas não ver o ecossistema em que ele está inserido. É a estrutura e o metabolismo da rede social que podem revelar as condições para o papel mais ou menos relevante assumido, em cada tempo e lugar (ou seja, em cada cluster), pelos seus nodos. Em uma sociedade cuja topologia e dinâmica se aproximam, cada vez mais, das de uma rede distribuída – a chamada sociedade em rede, emergente nas últimas décadas – isso ficará cada vez mais evidente. Os critérios de sucesso nesse tipo de sociedade tendem a deixar de ser baseados em características puramente individuais e em noções competitivo-excludentes (se destacar dos demais, triunfar, vencer na vida, subir ao pódio onde cabem apenas alguns poucos) para passar a ser função de um corpo e de um metabolismo coletivos: a própria rede. Não se trata de coletivos indiferenciados, segundo uma velha perspectiva coletivista, própria dos condutores de rebanhos (sejam ditadores ou manipuladores de massas, de direita ou de esquerda, contra os quais os individualistas têm razão nas críticas que fazem) e sim de arranjos de pessoas. A pessoa é o indivíduo conectado e que, portanto, não se constitui apenas como um íon social vagando em um meio gelatinoso e exibindo orgulhosamente suas características distintivas e sim também como um entroncamento de fluxos, uma identidade que se forma a partir da interação com outros indivíduos. 3
  • 4. É por isso que o tipo de educação que recebemos, para nos destacar dos semelhantes, é terrivelmente prejudicial em uma sociedade em rede, na qual estão abertas infinitas possibilidades de polinização mútua e de fertilização cruzada que impulsionam a inovação e o desenvolvimento pessoal e coletivo. Essa idéia é desastrosa, porquanto, sob sua influência, desperdiçamos as potencialidades criativas e inovadoras das múltiplas parcerias e sinergias que o relacionamento horizontal entre as pessoas proporciona. Guiados por ela, perdemos talentos, bloqueamos a dinamização de inusitadas capacidades coletivas, matamos no embrião futuros gênios e exterminamos o mais precioso recurso para o desenvolvimento de pessoas e comunidades: o capital social (que é uma metáfora, construída do ponto de vista dos recursos necessários ao desenvolvimento, para designar nada mais do que a própria rede social). Assim, antes de qualquer coisa, tanto a idéia quanto a própria palavra ‘sucesso’ deverão ser abolidas. Trata-se agora, outrossim, de reconhecer papeis relevantes. 4
  • 5. Notas (10) GLADWELL, Malcolm (2008). Fora de série (Outliers). Rio de Janeiro: Sextante, 2008. (11) Idem. (12) Idem-idem. (13) Idem-ibidem. 5