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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                            21
              (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 2,
                    intitulado Inumeráveis interworlds)




                            Interworlds

A nova internet – interconnected      networks   –   são   os   incontáveis
interconnected worlds

Começa assim: não uma Internet: miríades de internets. Bem, agora já
está melhorando. Mas, como? Não estamos correndo o risco de perder
todas as referências – e, com isso, o sentido – com esse estilhaçamento?

A preocupação com a fragmentação é uma herança típica de um mundo
pouco-fluzz. A totalidade não está dada, tem que ser consumada. E serão
sempre totalidades, no plural. Eins und Alles.
Que se dane se você não terá mais uma grande narrativa, um esquema
explicativo geral. Não havendo um mundo (único), para que precisamos
disso? Por certo, você fica incomodado com a fragmentação desses
inumeráveis mundos que se fazem e liquefazem. Mas esse seu mal-estar
baumaniano (de Zygmunt Bauman) é pura falta de Pó de Flu (aquele “Floo
Powder” inventado por Ignatia Wildsmith, da série Harry Potter de J. K.
Rowling, usado para conexão à Rede do Flu); ou seja, é falta de interworlds.
Trata-se de referenciar o bem-estar na (fluição da) relação, não na (solidez
da) coisa.

Ainda existem vários obstáculos à uma comunicação, por assim dizer,
“isotropicamente distribuída” (capaz de manter as mesmas propriedades em
todas as direções): a centralização da rede em servidores, provedores,
roteadores, cabos, satélites, torres, mainframes transceptores de ondas
eletromagnéticas, geradores de energia, resfriadores, protocolos de
reconhecimento, trânsito e integração de mensagens; a variedade de
línguas e a falta de tradutores-transdutores universais móveis que operem
em tempo real; a falta de programas de busca inteligente e de criação de
ambientes favoráveis à emergência de conteúdo novo por combinação não-
humana (polinização mútua) de mensagens; a separação entre os
dispositivos tecnológicos e o corpo humano; e a insuficiente interação entre
pessoas e não-pessoas (desde a comunicação com outros seres sencientes
ou coletivamente inteligentes, animados e inanimados, até a parceria
simbiótica com uma variedade de seres vivos).

Para começar: fluzz é obstruído pela centralização das comunicações (pela
difusão centralizada um-para-muitos chamada broadcasting), mas também
pela Internet descentralizada. O grande desafio hoje é construir os
interworlds que são as novas internets. Trata-se de um desafio ao mesmo
tempo social e tecnológico.

Rolou por décadas uma discussão fora de lugar sobre as ameaças da
tecnologia. Muitas pessoas tinham medo de que a tecnologia fosse nos
dominar, nos afastar das outras pessoas, prejudicar nossa saúde física ou
mental ou, até mesmo, inviabilizar a vida humana no planeta.

Mas, em termos sociais, não há nenhum problema com a tecnologia. O
problema é com a tecnologia que introduz artificialmente escassez
centralizando a rede social e ensejando o controle.

Por certo, os sistemas de dominação não teriam podido se manter sem o
controle dos insumos básicos: a terra, a água, os alimentos e as fontes de
energia. Mas a escassez foi introduzida por um tipo determinado de



                                     2
tecnologia urbana, hidráulica e agrícola: sem essa escassez (programada,
em certa medida) de recursos sobrevivenciais, esses sistemas de
dominação não teriam podido se reproduzir.

Assim, durante milênios fomos submetidos a tecnologias que viabilizavam o
controle. Por exemplo, o modelo hidráulico redistribuidor de água em canais
de irrigação, construídos e controlados pela tecnologia faraônica, criava o
perigo ao adensar povoamentos em locais de risco, em uma proporção que
ia muito além daquela exercida pela natural atração das terras mais férteis.
O objetivo era o controle. Se o povo não vivesse sob a ameaça (do perigo),
como poderia ser recompensado pela sua aquiescência, sendo salvo do
perigo? E como poderia ser castigado por sua desobediência à ordem, sendo
abandonado ao perigo? (4)

Agora precisamos de tecnologia para viabilizar e acelerar a distribuição da
rede social. Quanto menor a possibilidade de comando-e-controle, mais-
fluzz será essa tecnologia. Isso vale para tudo: energia e matéria, átomos e
bits. E vale também para a comunicação.

Assim como fluzz é obstruído pela centralização das comunicações e pela
Internet descentralizada, ele também é obstruído por todas as separações:
desde aquelas impostas pela barreira da língua (que separa pessoas que
falam idiomas diferentes), passando pela busca burra (que separa quem
procura de quem gera conhecimento), pelos dispositivos tecnológicos
interativos separados do corpo humano e, inclusive, no limite, pela
separação entre pessoas e não-pessoas.

A barreira da língua é uma das principais remanescências do mundo único
hierárquico. É curioso que, mesmo tendo sido imposto um mundo único,
persistam várias línguas (cerca de 7 mil idiomas). Isso porque o mundo
único não é monocentralizado e sim multicentralizado (ou descentralizado)
em algumas identidades imaginárias (que chamamos de nações, povos ou
culturas sócio-territoriais, dominados hoje por menos de duas centenas de
Estados).

A metáfora bíblica sobre isso é esclarecedora. Na mesma Babel – não em
várias – as pessoas não podiam se comunicar umas com as outras. Não era
um problema de saber interpretar um código, de falar a mesma língua. O
que houve em Babel foi a impossibilidade de um conversar, não porque as
pessoas falassem vários idiomas e sim porque não conseguiam coordenar
mutuamente suas atitudes (o linguagear, na expressão de Maturana, que
pressupõe e exige cooperação) e, desse modo, não se entendiam (sem um
acoplamento estrutural não pode haver comunicação). É a pirâmide (a



                                     3
topologia centralizada da rede social babeliana) que impede esse (assim
como qualquer outro) conversar. Tal problema só tem solução social, não
tecnológica.

A solução para Babel é a rede social distribuída. No entanto, o problema da
remanescência de várias línguas, entendidas como idiomas, como códigos
que podem ser traduzidos, tem solução tecnológica. Dispositivos móveis
com programas de tradução simultânea, capazes de receber e emitir dados
e voz, são partes (por aproximação, assimilação ou simbiose) dessas
interfaces complexas que chamamos de interworlds.

A falta de programas i-based de navegação inteligente, da busca
(semântica) à polinização (criativa, ensejadora de múltiplos significados),
também é um obstáculo à interação entre os mundos. Mas tal desafio pode
ser superado caso não se insista em recriar monstruosos sistemas de
gerenciamento do conhecimento (top down) e em arquivar significados
únicos de modo centralizado (como faz, por exemplo, a Wikipedia).

Repetindo: toda tecnologia é bem-vinda, inclusive aquela que modifica os
corpos humanos, desde que possibilite mais distribuição. Há muito tempo
estamos modificando nossos corpos: tomamos inibidores seletivos da
recaptação da serotonina (e. g., fluoxetina) e da fosfodiesterase-5 (e. g.,
sildenafila), injetamos insulina transgênica, fazemos implantes (dentários,
auditivos e inclusive de chips capazes de devolver a visão), inserimos
nanopartículas para corrigir rugas na pele, usamos próteses de todo tipo e
instalamos órgãos ou partes de órgãos internos artificiais. Por que não
poderíamos inserir em nossos corpos outros dispositivos capazes de ampliar
e acelerar a comunicação?

Pode-se argumentar que não temos como saber se, no longo prazo, tudo
isso prejudicará a saúde. Mas também não temos como atestar isso em
relação à maioria dos medicamentos que tomamos ou das intervenções
médicas que realizamos. Todas essas substâncias e procedimentos, em
certa medida, provocam doenças ou desencadeiam novos padrões de saúde
ou ensejam novos reequilíbrios saúde-doença. Sim, saúde não é ausência
de doenças, mas a estabilidade relativa de um sistema que, se estiver vivo,
estará necessariamente afastado do equilíbrio, convivendo, portanto, com
alterações que convencionamos chamar de doenças (e que só são
chamadas assim do ponto de vista de um padrão de saúde, baseado em
indicadores cujos parâmetros de normalidade são variáveis com época,
lugar, cultura, conhecimento). Só seres inanimados estão livres de doenças
(ainda que as infestações de vírus em seres cibernéticos também possam
vir, coerentemente, a ser encaradas como doenças).



                                    4
Por outro lado, do ponto de vista biológico, já existe a parceria simbiótica
do corpo humano com outros seres vivos. Somos, na verdade, colônias de
bactérias, comunidades de microorganismos. Somos os planetas onde vive
boa parte dos seres vivos. Tal parceria está presente no interior de nossa
unidade vital: a célula nucleada é o resultado da associação com um
procarionte que passou a compor o novo organismo por endossimbiose.

Mas todas as tecnologias que podem apoiar, vamos dizer assim, o
surgimento das múltiplas internets distribuídas, não são, elas próprias, os
interworlds que conectam os mundos em rede aqui chamados de Highly
Connected Worlds. Esses interworlds são sociais – fundamentalmente, são
redes sociais – não dispositivos tecnológicos. Ou seja, no limite, os
interworlds são pessoas.




                                     5
Nota

(4) Cf. FRANCO, Augusto (1998). O Complexo Darth Vader. Slideshare [469 views
em 23/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-complexo-darth-vader>




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Fluzz pilulas 21

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 21 (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 2, intitulado Inumeráveis interworlds) Interworlds A nova internet – interconnected networks – são os incontáveis interconnected worlds Começa assim: não uma Internet: miríades de internets. Bem, agora já está melhorando. Mas, como? Não estamos correndo o risco de perder todas as referências – e, com isso, o sentido – com esse estilhaçamento? A preocupação com a fragmentação é uma herança típica de um mundo pouco-fluzz. A totalidade não está dada, tem que ser consumada. E serão sempre totalidades, no plural. Eins und Alles.
  • 2. Que se dane se você não terá mais uma grande narrativa, um esquema explicativo geral. Não havendo um mundo (único), para que precisamos disso? Por certo, você fica incomodado com a fragmentação desses inumeráveis mundos que se fazem e liquefazem. Mas esse seu mal-estar baumaniano (de Zygmunt Bauman) é pura falta de Pó de Flu (aquele “Floo Powder” inventado por Ignatia Wildsmith, da série Harry Potter de J. K. Rowling, usado para conexão à Rede do Flu); ou seja, é falta de interworlds. Trata-se de referenciar o bem-estar na (fluição da) relação, não na (solidez da) coisa. Ainda existem vários obstáculos à uma comunicação, por assim dizer, “isotropicamente distribuída” (capaz de manter as mesmas propriedades em todas as direções): a centralização da rede em servidores, provedores, roteadores, cabos, satélites, torres, mainframes transceptores de ondas eletromagnéticas, geradores de energia, resfriadores, protocolos de reconhecimento, trânsito e integração de mensagens; a variedade de línguas e a falta de tradutores-transdutores universais móveis que operem em tempo real; a falta de programas de busca inteligente e de criação de ambientes favoráveis à emergência de conteúdo novo por combinação não- humana (polinização mútua) de mensagens; a separação entre os dispositivos tecnológicos e o corpo humano; e a insuficiente interação entre pessoas e não-pessoas (desde a comunicação com outros seres sencientes ou coletivamente inteligentes, animados e inanimados, até a parceria simbiótica com uma variedade de seres vivos). Para começar: fluzz é obstruído pela centralização das comunicações (pela difusão centralizada um-para-muitos chamada broadcasting), mas também pela Internet descentralizada. O grande desafio hoje é construir os interworlds que são as novas internets. Trata-se de um desafio ao mesmo tempo social e tecnológico. Rolou por décadas uma discussão fora de lugar sobre as ameaças da tecnologia. Muitas pessoas tinham medo de que a tecnologia fosse nos dominar, nos afastar das outras pessoas, prejudicar nossa saúde física ou mental ou, até mesmo, inviabilizar a vida humana no planeta. Mas, em termos sociais, não há nenhum problema com a tecnologia. O problema é com a tecnologia que introduz artificialmente escassez centralizando a rede social e ensejando o controle. Por certo, os sistemas de dominação não teriam podido se manter sem o controle dos insumos básicos: a terra, a água, os alimentos e as fontes de energia. Mas a escassez foi introduzida por um tipo determinado de 2
  • 3. tecnologia urbana, hidráulica e agrícola: sem essa escassez (programada, em certa medida) de recursos sobrevivenciais, esses sistemas de dominação não teriam podido se reproduzir. Assim, durante milênios fomos submetidos a tecnologias que viabilizavam o controle. Por exemplo, o modelo hidráulico redistribuidor de água em canais de irrigação, construídos e controlados pela tecnologia faraônica, criava o perigo ao adensar povoamentos em locais de risco, em uma proporção que ia muito além daquela exercida pela natural atração das terras mais férteis. O objetivo era o controle. Se o povo não vivesse sob a ameaça (do perigo), como poderia ser recompensado pela sua aquiescência, sendo salvo do perigo? E como poderia ser castigado por sua desobediência à ordem, sendo abandonado ao perigo? (4) Agora precisamos de tecnologia para viabilizar e acelerar a distribuição da rede social. Quanto menor a possibilidade de comando-e-controle, mais- fluzz será essa tecnologia. Isso vale para tudo: energia e matéria, átomos e bits. E vale também para a comunicação. Assim como fluzz é obstruído pela centralização das comunicações e pela Internet descentralizada, ele também é obstruído por todas as separações: desde aquelas impostas pela barreira da língua (que separa pessoas que falam idiomas diferentes), passando pela busca burra (que separa quem procura de quem gera conhecimento), pelos dispositivos tecnológicos interativos separados do corpo humano e, inclusive, no limite, pela separação entre pessoas e não-pessoas. A barreira da língua é uma das principais remanescências do mundo único hierárquico. É curioso que, mesmo tendo sido imposto um mundo único, persistam várias línguas (cerca de 7 mil idiomas). Isso porque o mundo único não é monocentralizado e sim multicentralizado (ou descentralizado) em algumas identidades imaginárias (que chamamos de nações, povos ou culturas sócio-territoriais, dominados hoje por menos de duas centenas de Estados). A metáfora bíblica sobre isso é esclarecedora. Na mesma Babel – não em várias – as pessoas não podiam se comunicar umas com as outras. Não era um problema de saber interpretar um código, de falar a mesma língua. O que houve em Babel foi a impossibilidade de um conversar, não porque as pessoas falassem vários idiomas e sim porque não conseguiam coordenar mutuamente suas atitudes (o linguagear, na expressão de Maturana, que pressupõe e exige cooperação) e, desse modo, não se entendiam (sem um acoplamento estrutural não pode haver comunicação). É a pirâmide (a 3
  • 4. topologia centralizada da rede social babeliana) que impede esse (assim como qualquer outro) conversar. Tal problema só tem solução social, não tecnológica. A solução para Babel é a rede social distribuída. No entanto, o problema da remanescência de várias línguas, entendidas como idiomas, como códigos que podem ser traduzidos, tem solução tecnológica. Dispositivos móveis com programas de tradução simultânea, capazes de receber e emitir dados e voz, são partes (por aproximação, assimilação ou simbiose) dessas interfaces complexas que chamamos de interworlds. A falta de programas i-based de navegação inteligente, da busca (semântica) à polinização (criativa, ensejadora de múltiplos significados), também é um obstáculo à interação entre os mundos. Mas tal desafio pode ser superado caso não se insista em recriar monstruosos sistemas de gerenciamento do conhecimento (top down) e em arquivar significados únicos de modo centralizado (como faz, por exemplo, a Wikipedia). Repetindo: toda tecnologia é bem-vinda, inclusive aquela que modifica os corpos humanos, desde que possibilite mais distribuição. Há muito tempo estamos modificando nossos corpos: tomamos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (e. g., fluoxetina) e da fosfodiesterase-5 (e. g., sildenafila), injetamos insulina transgênica, fazemos implantes (dentários, auditivos e inclusive de chips capazes de devolver a visão), inserimos nanopartículas para corrigir rugas na pele, usamos próteses de todo tipo e instalamos órgãos ou partes de órgãos internos artificiais. Por que não poderíamos inserir em nossos corpos outros dispositivos capazes de ampliar e acelerar a comunicação? Pode-se argumentar que não temos como saber se, no longo prazo, tudo isso prejudicará a saúde. Mas também não temos como atestar isso em relação à maioria dos medicamentos que tomamos ou das intervenções médicas que realizamos. Todas essas substâncias e procedimentos, em certa medida, provocam doenças ou desencadeiam novos padrões de saúde ou ensejam novos reequilíbrios saúde-doença. Sim, saúde não é ausência de doenças, mas a estabilidade relativa de um sistema que, se estiver vivo, estará necessariamente afastado do equilíbrio, convivendo, portanto, com alterações que convencionamos chamar de doenças (e que só são chamadas assim do ponto de vista de um padrão de saúde, baseado em indicadores cujos parâmetros de normalidade são variáveis com época, lugar, cultura, conhecimento). Só seres inanimados estão livres de doenças (ainda que as infestações de vírus em seres cibernéticos também possam vir, coerentemente, a ser encaradas como doenças). 4
  • 5. Por outro lado, do ponto de vista biológico, já existe a parceria simbiótica do corpo humano com outros seres vivos. Somos, na verdade, colônias de bactérias, comunidades de microorganismos. Somos os planetas onde vive boa parte dos seres vivos. Tal parceria está presente no interior de nossa unidade vital: a célula nucleada é o resultado da associação com um procarionte que passou a compor o novo organismo por endossimbiose. Mas todas as tecnologias que podem apoiar, vamos dizer assim, o surgimento das múltiplas internets distribuídas, não são, elas próprias, os interworlds que conectam os mundos em rede aqui chamados de Highly Connected Worlds. Esses interworlds são sociais – fundamentalmente, são redes sociais – não dispositivos tecnológicos. Ou seja, no limite, os interworlds são pessoas. 5
  • 6. Nota (4) Cf. FRANCO, Augusto (1998). O Complexo Darth Vader. Slideshare [469 views em 23/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/o-complexo-darth-vader> 6