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Figueirêdo SS et al.
Radiol Bras 2005;38(2):141–150 141
intestinos anterior e posterior terminam em
fundo cego. A extremidade cranial do in-
testino anterior está separada do estomó-
dio pela membrana bucofaríngea e o intes-
tino posterior termina na cloaca, fechada
pela membrana cloacal(1)
..
Um trato alimentar completamente fun-
cional em recém-natos corresponde a um
complexo sistema orgânico que se desen-
volve do tubo digestivo primitivo a partir
de uma complicada, porém ordenada se-
qüência de eventos que se estende desde
o período embrionário até o nascimento.
Um completo entendimento sobre o desen-
volvimento normal do trato gastrintestinal
é útil na compreensão das suas anomalias
congênitas(2)
.
Um amplo espectro de anomalias con-
gênitas do trato gastrintestinal é causa sig-
nificativa de morbidade no grupo pediátri-
co. Estas anormalidades incluem distúrbios
obstrutivos completos ou parciais (atresia/
estenose), anomalias de rotação e fixação,
bem como duplicações e compressões ex-
trínsecas. Entre as causas obstrutivas des-
tacamos as atresias, cuja apresentação clí-
nica é variável com a topografia acometi-
da, a qual deve ser determinada principal-
mente em estudos por métodos de imagem.
ATRESIA DO TRATO GASTRINTESTINAL: AVALIAÇÃO
POR MÉTODOS DE IMAGEM*
Sizenildo da Silva Figueirêdo1
, Luiza Helena Vilela Ribeiro2
, Bruno Barcelos da Nóbrega1
,
Marlos Augusto Bittencourt Costa3
, Galba Leite Oliveira4
, Edward Esteves5
, Soraya Silveira
Monteiro6
, Henrique Manoel Lederman7
Um amplo espectro de anomalias congênitas pode afetar qualquer nível do trato gastrintestinal, do esôfago
ao ânus. A atresia é uma importante causa de obstrução gastrintestinal, com alta taxa de morbidade em
recém-natos. Há diversos mecanismos patológicos possíveis para explicar esta malformação e duas expli-
cações clássicas de sua gênese são um defeito de recanalização do tubo intestinal ou uma interrupção no
suprimento sanguíneo durante a vida intra-uterina. Os autores fazem uma revisão da literatura com ensaio
iconográfico dos achados de imagem em crianças com atresia do trato gastrintestinal.
Unitermos: Atresia; Crianças; Pediatria; Imagem.
Atresia of the gastrointestinal tract: imaging evaluation.
A wide spectrum of congenital anomalies may affect the gastrointestinal tract at any level from the esopha-
gus to the anus. Atresia is an important cause of gastrointestinal obstruction with high morbidity rate in
neonates. Different pathogenetic mechanisms could cause this malformation and the two classical expla-
nations are: a defect of recanalization of the intestinal tube or an interruption of blood supply during intrau-
terine life. The authors present a literature review with an iconographic essay of imaging findings in children
with gastrointestinal atresia.
Key words: Atresia; Children; Pediatrics; Imaging.
Resumo
Abstract
* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por
Imagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista
de Medicina (Unifesp/EPM), São Paulo, SP.
1. Médicos Especializandos do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Unifesp/EPM, Membros Titulares do Colégio
Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
2. Mestranda do Curso de Pós-graduação do Departamento
de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM, Membro Titular do
CBR.
3. Médico Especializando do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Unifesp/EPM.
4. Médica Especializanda do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo.
5. Professor Assistente do Departamento de Cirurgia e Urolo-
gia Pediátrica da Universidade Federal de Goiás (UFG).
6. Médica Radiologista da Disciplina de Diagnóstico por Ima-
gem em Pediatria do Departamento de Diagnóstico por Imagem
da Unifesp/EPM.
7. Chefe da Disciplina de Diagnóstico por Imagem em Pedia-
tria do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/
EPM.
Endereço para correspondência: Dr. Bruno Barcelos da Nó-
brega. Alameda Ribeirão Preto, 551, ap. 14, Bela Vista. São
Paulo, SP, 01331- 001. E-mail: brunoradiol@hotmail.com
Recebido para publicação em 3/3/2004. Aceito, após revi-
são, em 14/4/2004.
Em neonatos saudáveis, o ar geralmen-
te pode ser observado no estômago poucos
minutos após o nascimento, e com três ho-
ras o intestino delgado comumente está re-
pleto de gás. Após oito a nove horas, neo-
natos saudáveis apresentam gás no sigmói-
de. O diagnóstico de obstrução é baseado
em interrupções desta disposição de ga-
ses(3)
. Deve-se enfatizar que retardo na pas-
sagem de gás pelo interior do intestino
neonatal pode ser decorrente de parto trau-
mático, septicemia, hipoglicemia ou dano
encefálico(3)
.
As indicações para aplicação de cada
modalidade de imagem e a ordem na qual
serão realizadas devem ser cuidadosamen-
te analisadas para evitar exames desneces-
sários(2)
. A radiografia é o mais valioso
meio de determinar se obstruções estão
presentes. Este método é freqüentemente
diagnóstico e, caso não seja, poderá ser útil
na determinação do próximo procedimen-
to diagnóstico a ser utilizado(3)
.
Este artigo tem por finalidade descrever
e ilustrar os achados de imagem presentes
nos casos de atresias em vários níveis do
trato gastrintestinal e discutir os principais
aspectos referentes à sua embriogênese,
quadro clínico e anomalias associadas.
Artigo de Revisão
INTRODUÇÃO
O tubo digestivo primitivo consiste em
duas partes: o intestino anterior, dentro da
flexura cefálica e dorsal ao coração, e o
intestino posterior, dentro da flexura cau-
dal. Entre ambos encontra-se a larga aber-
tura do saco vitelino, gradualmente estrei-
tada e reduzida a um pequeno forame que
conduz ao ducto vitelino. A princípio os
Radiol Bras 2005;38(2):141–150142
Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem
ATRESIA ESOFÁGICA
Atresia esofágica com ou sem fístula
traqueoesofágica é um complexo de ano-
malias congênitas caracterizadas pela for-
mação incompleta do esôfago com ou sem
comunicação anormal entre este e a tra-
quéia(2)
. Ocorre com uma incidência de um
caso entre 3.000 nascidos vivos(4)
e é mais
comum em brancos e no sexo masculino.
Apresenta maior incidência em gêmeos e
esta eleva-se com o aumento da idade ma-
terna e com a primiparidade. Também está
freqüentemente associada a anomalias cro-
mossômicas(5)
.
Acredita-se que seja uma anomalia da
formação e da separação do intestino an-
terior primitivo em traquéia e esôfago(2)
.
Durante a quarta ou quinta semana de
desenvolvimento embriológico, estes ór-
gãos constituem um tubo único que pos-
teriormente divide-se em duas estruturas,
devido à formação de um septo na parede
do intestino primitivo(2,6)
. Uma falha na
formação do esôfago tubular (vacuolização
do estágio sólido) e/ou uma separação in-
completa das porções do intestino anterior,
neste período, resultam em atresia e/ou
fístula traqueoesofágica(6,7)
.
Os sintomas estão relacionados ao tipo
de atresia, que pode estar ou não associado
a fístulas. Geralmente é suspeitada quan-
do há poliidrâmnio, dificuldade em deglu-
tir saliva e leite, aspiração durante as pri-
meiras alimentações e falha na tentativa de
passar a sonda gástrica(2)
. Nestes pacientes,
a sonda pára tipicamente após a introdu-
ção de 10 a 12 cm, sendo que a distância
normal até a região cárdica de uma crian-
ça normal é de aproximadamente 17 cm(6)
.
Tosse e cianose (que se acentuam com a
alimentação) podem estar presentes(6)
, bem
como pneumonia por aspiração, especial-
mente nos lobos superiores(7)
.
Classicamente, o neonato com atresia
esofagiana apresenta copiosa quantidade
de bolhas de muco, esbranquiçadas e re-
gulares na boca e às vezes nas narinas(6)
.
Se há fístula traqueoesofágica distal,
ocorrerá distensão gasosa do abdome e este
será escavado, se não houver fístula(6)
. A
ausência de gás no abdome de um recém-
nato com atresia esofagiana nem sempre
descarta uma fístula distal e também pode
decorrer de uma ou mais atresias no seg-
mento distal ou um alto grau de estenose
neste segmento(8,9)
. Nas fístulas em H, se
o segmento comunicante é longo ou oblí-
quo, os sintomas respiratórios podem ser
mínimos e esta condição pode não ser des-
coberta por muitos anos(6)
.
Existem inúmeras variações anatômicas
da atresia de esôfago, sendo que até 1976
cerca de 96 subtipos já tinham sido descri-
tos, e outros foram descritos desde então.
Os principais tipos de atresia e suas fre-
qüências são(2,6)
(Figura 1):
Tipo A: atresia pura do esôfago, sem
fístulas (8% a 10%);
Tipo B: atresia do esôfago com fístula
entre o segmento esofágico proximal e a
traquéia (0,9% a 1%);
Tipo C: atresia do esôfago com fístula
entre a traquéia ou brônquio principal e o
segmento distal do esôfago (53% a 84%);
Tipo D: atresia de esôfago com fístula
entre a traquéia e tanto com o segmento
proximal quanto com o distal do esôfago
(2,1% a 3%);
Tipo E: fístula em “H” traqueoesofági-
ca sem atresia do esôfago (4% a 10%).
Conforme citado, o tipo C é expressi-
vamente mais freqüente(2,6)
(Figura 2). O
segmento proximal em fundo cego geral-
mente é hipertrofiado e dilatado, secundá-
rio aos esforços fetais para deglutir o líqui-
do amniótico(6)
e a fístula freqüentemente
ocorre próximo à traquéia(6)
. A segunda
mais comum é a atresia pura sem fístula tra-
Figura 1. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia esofagiana. A, atresia sem fistula; B, atresia com
fístula proximal; C, atresia com fístula distal; D, atresia com fístulas proximal e distal; E, fístula traqueoeso-
fágica em H (sem atresia) (adaptado da referência 35).
Figura 2. Atresia esofagiana tipo C. A: Radiografia simples em incidência frontal evidencia meio de con-
traste retido na bolsa esofagiana proximal em fundo cego, sem extravasamento para o trato respiratório (seta).
Há gás no trato gastrintestinal. B: Em perfil também nota-se uma bolha gástrica proeminente.
A B
A B C D E
’
Figueirêdo SS et al.
Radiol Bras 2005;38(2):141–150 143
queoesofágica (tipo A), cujo segmento dis-
tal remanescente é usualmente subdesen-
volvido(6)
(Figuras 3 e 4).
À ecografia pré-natal, a atresia esofa-
giana pode ser sugerida pela presença de
uma combinação de poliidrâmnio, reduzi-
da quantidade de líquido intraluminal no
intestino fetal e não visualização do estô-
mago(2,6,10,11)
. Uma bolsa proximal disten-
dida do esôfago atrésico pode ser visível(7)
.
O diagnóstico radiológico é baseado
nos achados de radiografias de tórax em
incidências frontais e em perfil, que reve-
lam a extremidade proximal do esôfago em
fundo cego distendida com ar(2)
. A avalia-
ção radiográfica deve sempre incluir o ab-
dome para comprovar a presença ou não
de ar no trato gastrintestinal (indício de fís-
tula distal)(2,6)
.
Nos tipos A e B há completa ausência
de gás no estômago e no restante do trato
gastrintestinal; entretanto, nos tipos C e D,
estes comumente aparecem distendidos
com ar. Podem ser confirmados pela intro-
dução de um cateter com contraste radio-
paco até o nível da atresia. A sonda vai se
curvar ao chegar no fundo cego(2)
.
Estudos contrastados raramente são
necessários para confirmar o diagnóstico(6)
,
porém, quando se suspeita do tipo E (fís-
tula na forma H, sem atresia), a investiga-
Figura 3. Atresia esofagiana tipo A. A: Radiografia simples em incidência frontal revela ausência de gás no
trato gastrintestinal, sugerindo inexistência de fístula distal. B: Em perfil também não é possível a identifica-
ção da bolsa esofagiana proximal.
A B Figura 4. Atresia esofagiana tipo A. Incidência frontal
mostra meio de contraste iodado acumulado na bol-
sa esofagiana proximal em fundo cego e sem extra-
vasamento para a árvore traqueobrônquica (seta).
Nota-se ausência de gás no trato gastrintestinal.
Figura 5. Fístula em H. Radiografia localizada da transição cérvico-torácica mostra comunicação traqueo-
esofágica (seta) por meio da passagem de contraste iodado para a traquéia (contorno de seta).
ção radiológica é direcionada para a de-
monstração da fístula, que tipicamente se
orienta superiormente a partir do esôfago
à traquéia. Contraste não-iônico hidrosso-
lúvel é preferível nestes casos, mas uma
pequena quantidade de bário diluído pode
ser usada, se necessário(2)
(Figura 5).
Deve ser feita a injeção do contraste por
meio de uma fina sonda com o paciente em
decúbito lateral. Depois de três ou quatro
’
’
_
Radiol Bras 2005;38(2):141–150144
Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem
injeções neste nível, traciona-se a sonda
em 1 cm e repetem-se as injeções (deve ser
feito este procedimento até o nível da fa-
ringe). As fístulas traqueoesofágicas nem
sempre estão abertas, sendo necessários, às
vezes, a deglutição ou movimentos respi-
ratórios para a sua melhor identificação(12)
.
Os exames de imagem também são úteis
para o diagnóstico de lesões associadas que
são comuns em crianças com atresia de
esôfago. Defeitos da linha mediana são os
mais freqüentes. As anomalias cardíacas
são observadas em cerca de um quarto des-
sas crianças, sendo as mais comuns o de-
feito de septo interventricular, um ducto ar-
terioso patente e a tetralogia de Fallot(6,7)
.
As anomalias do trato gastrintestinal
estão associadas em 16% dos casos de atre-
sia de esôfago, consistindo em ânus imper-
furado, atresia de duodeno, má-rotação e
estenose congênita do esôfago distal (este
último ocorre em 8% dos casos)(6)
. Defei-
tos no sistema músculo-esquelético tam-
bém são comuns e incluem anomalias de
corpo vertebral e defeitos de costelas e
extremidades(6)
.
Malformações do trato geniturinário,
como anormalidades ureterais, hipospádia,
rim em ferradura e agenesia renal também
podem ocorrer(6)
. Aproximadamente 10%
das crianças com atresia de esôfago têm a
síndrome VACTERL (acrônimo corres-
pondente a defeitos nas Vértebras, malfor-
mações Anorretais, defeitos Cardíacos, fís-
tula Traqueo-Esofágica, anomalias Renais
e dos membros - Limbs)(2,6,7)
.
ATRESIA GÁSTRICA
Atresia gástrica corresponde à completa
obstrução da saída do estômago. É condi-
ção bastante rara e representa menos de
1% de todas as obstruções intestinais con-
gênitas, estando limitada à região antro-
pilórica(2,13–15)
. A sua incidência é estima-
da em um caso para 100.000 nascidos vi-
vos(2,13,16)
e acredita-se que seja decorrente
de uma interrupção no desenvolvimento
do órgão entre a quinta e a 12ª semana de
vida intra-uterina, por falha no processo de
recanalização(14)
.
Pode ocorrer como uma condição iso-
lada ou associada a outras anormalidades.
A mais comum é a epidermólise bolhosa
(uma rara doença autossômica recessiva
afetando pele e mucosas)(13,15)
. Também
pode estar associada à síndrome de atre-
sias intestinais múltiplas. Esta associação
é rara e de origem familial, sendo de trans-
missão autossômica recessiva(13)
.
Regurgitação e vômitos não biliosos são
observados nas primeiros horas pós-nasci-
mento(2,13,17)
, configurando sinais de obs-
trução.
A atresia gástrica pode ser classificada
em três variações anatômicas(13,15,16)
:
Tipo A: correspondente a um diafragma
(membrana) pré-pilórico (57%);
Tipo B: atresia sem intervalo entre os
segmentos. Corresponde a um cordão fi-
broso sólido na região do canal pilórico
(34%);
Tipo C: atresia com intervalo. Consti-
tui num piloro atrésico com um intervalo
entre estômago e duodeno (9%).
Em cinco casos descritos por Al-Salem
et al.(15)
, quatro apresentavam atresia piló-
rica sem intervalo (tipo B) e apenas um
possuía um diafragma pilórico duplo (tipo
A), distintamente dos dados da literatura.
À ecografia pré-natal, freqüentemente
observam-se poliidrâmnio e estômago fe-
tal distendido(13)
. A ultra-sonografia do re-
cém-nato confirma a distensão gástrica e
demonstra piloro anormal obliterado, com
paredes finas, e duodeno normal. Pode
demonstrar diretamente a anormalidade
pilórica, avalia a anatomia regional e revela
lesões associadas(13)
.
A radiografia simples do abdome reve-
la expressiva distensão do estômago (pro-
ximal à obstrução) e ausência de gás no in-
testino delgado e no cólon, resultando na
imagem de uma “única bolha gasosa”(2,3,
13,16)
. Em ortostatismo, nível hidroaéreo
pode ser evidente e seu principal diagnós-
tico diferencial dever ser feito com este-
nose hipertrófica do piloro (Figura 6).
O estudo contrastado é geralmente des-
necessário para o diagnóstico(2,13)
. Quan-
do realizado, envidencia-se ausência da
passagem do contraste pelo local de atre-
sia, não contrastando o duodeno(13)
. Deve-
mos enfatizar que este estudo também pode
causar aspiração do meio de contraste e
não exclui outras causas de obstrução.
Em um caso publicado por Bass(16)
ha-
via atresia pilórica associada a atresia duo-
denal, dilatação cística do duodeno, múl-
tiplas atresias jejunoileais (tipos I e II) e
cólon quase inexistente. As alças delgadas
distais estavam preenchidas por material
calcificado que se assemelha a “massa de
vidraceiro”. À radiografia aparecem como
alças intestinais preenchidas por tênue e
uniforme calcificação, semelhante a um
“estudo contrastado”. Este é um achado
patognomônico de atresias intestinais múl-
tiplas(16)
e está presente na maioria destes
casos(15)
.
ATRESIA DUODENAL
Atresia é a causa mais importante de
obstrução duodenal e provavelmente seja
decorrente de falência na recanalização
duodenal, aproximadamente entre a nona
e a 11ª semanas de gestação(2,18,19)
. Tem in-
cidência estimada de um caso entre 7.500
a 10.000 nascidos vivos(4,7)
.
Diferentemente dos casos de atresia de
jejuno e do íleo, a atresia duodenal pare-
ce não estar relacionada a acidentes vascu-
lares intra-uterinos(2,3)
. Uma das principais
diferenças entre atresia duodenal e outras
atresias mais distais é a óbvia complexi-
dade da má formação duodenal, sua alta
Figura 6. Radiografia simples em incidência frontal
e em ortostatismo revela bolha gástrica com nível
hidroaéreo e sem gás no resto do trato gastrintesti-
nal (sinal da bolha única) (seta). Apesar de sugesti-
vo de atresia gástrica, trata-se de um caso de signi-
ficativa estenose hipertrófica de piloro.
’
Figueirêdo SS et al.
Radiol Bras 2005;38(2):141–150 145
incidência na síndrome de Down (trissomia
do 21) e múltiplas anomalias sistêmicas as-
sociadas(20)
.
Estas anomalias associadas incluem
má-rotação do intestino delgado, cardio-
patia congênita, ânus imperfurado, atresia
do intestino delgado, atresia biliar, pân-
creas anular e anomalias renais(2)
. Malfor-
mação cardíaca congênita é a mais impor-
tante, sendo encontrada em aproximada-
mente 20% dos bebês com atresia duode-
nal(3,19)
. Defeitos do coxim endocárdico e
do canal atrioventricular são vistas em 80%
das crianças com síndrome de Down(20)
.
Vecchia et al.(18)
, ao estudarem 138 ca-
sos de atresia duodenal, evidenciaram as
seguintes associações: prematuridade
(46%), poliidrâmnio (33%), síndrome de
Down (24%), pâncreas anular (33%), má-
rotação intestinal (28%) e veia porta pré-
duodenal (7%). Outras anomalias foram
menos freqüentes.
A apresentação clínica é caracterizada
por vômitos após a primeira alimentação,
aumentando progressivamente. Os vômi-
tos são geralmente biliosos, pois a obstru-
ção, em dois terços dos casos, localiza-se
abaixo da ampola hepatopancreática(2,3,7)
.
Devido a este nível da obstrução, comu-
mente não se observa distensão abdomi-
nal(19)
, porém ocasionalmente o epigástrio
aparece distendido, resultante da dilatação
gástrica(19)
.
A mais útil classificação de atresia duo-
denal a divide em três tipos(19)
:
Tipo I: diafragma (membrana) mucoso.
A camada muscular está intacta nestes ca-
sos. A porção do duodeno proximal à atre-
sia está dilatada e a porção distal está es-
treitada;
Tipo II: há um cordão fibroso interpos-
to às extremidades do doudeno atrésico;
Tipo III: há completa separação das ex-
tremidades do duodeno atrésico. Comu-
mente associada a anomalias ductais bilia-
res incomuns.
A maioria dos casos de atresia é diag-
nosticada durante os sete e oito meses de
vida intra-uterina(19)
.O diagnóstico pré-na-
tal deve ser suspeitado quando for eviden-
ciado poliidrâmnio em conjunção a uma
“dupla bolha”, preenchida por líquido no
abdome fetal(2,4,19)
. O poliidrâmnio é ob-
servado em cerca se 100% dos casos no ter-
ceiro trimestre(7)
.
O achado radiográfico clássico é o “si-
nal da dupla bolha” (Figura 7), estando a
maior bolha no lado esquerdo (estômago)
e a outra, menor, à direita (duodeno pro-
ximal)(2,3,19)
. Este sinal é diagnóstico de
obstrução, mas não necessariamente de
atresia(20)
. Ausência de ar além da segun-
da bolha é geralmente diagnóstico de atre-
sia e neonatos, mostrando forte evidência
de completa obstrução duodenal; raramen-
te necessitam de outras avaliações radio-
gráficas(18)
.
O estudo contrastado não fornece infor-
mação adicional alguma e há risco poten-
cial de aspiração de bário. Tal estudo mos-
tra opacificação apenas do estômago e do
duodeno(2,19)
(Figura 8). Vômitos freqüen-
tes podem resultar em ausência de ar no
segmento obstruído(2)
. Nesses casos, pe-
quena quantidade de ar pode ser injetada
pela sonda nasogástrica para confirmar o
diagnóstico(2)
.
À ecografia abdominal do recém-nato
podemos observar duodeno finalizando em
fundo cego e peristalse gástrica aumenta-
da (peristaltismo de luta) (Figura 9).
O diagnóstico diferencial deve ser feito
com pâncreas anular, bandas peritoneais,
duplicação intestinal, cisto de colédoco e
incisura angular proeminente causando
bidissecção do estômago(7)
.
A sobrevivência de bebês com atresia
de duodeno tem gradualmente aumentado
nos últimos anos, sendo que essa taxa está
por volta de 95% na série avaliada por
Grosfeld e Rescorla(19)
. Causas comuns de
morte em bebês com atresia duodenal são
prematuridade com doença pulmonar ou
associada a anomalias graves, particular-
mente lesões cardíacas(20)
.
Figura 7. Atresia duodenal. A: Radiografia simples revela distensão gástrica e duodenal, bem como ausên-
cia de gás no restante do trato gastrintestinal (sinal da dupla bolha) (setas). B: Dois níveis hidroaéreos ad-
jacentes são vistos quando em ortostatismo (setas).
Figura 8. Seriografia do trato gastrintestinal supe-
rior em incidência frontal revela distensão acentua-
da do estômago e do duodeno, o qual finaliza em
fundo cego, configurando um padrão “em dupla bo-
lha” (seta).
A B
’
’
’
’
’
Radiol Bras 2005;38(2):141–150146
Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem
ATRESIA INTESTINAL
(JEJUNOILEAL)
Atresia é a mais comum causa de obs-
trução intestinal congênita e corresponde
a cerca de um terço de todos os casos de
obstrução intestinal nos recém-natos(20)
.
Estima-se que seja duas vezes mais comum
que atresia esofagiana e hérnia hiatal dia-
fragmática. A distribuição é quase igual
entre os sexos(18,20)
e a incidência é de um
entre 5.000 nascidos vivos(4)
.
Opostamente à atresia duodenal, pa-
cientes com atresia jejunoileal apresentam
poucos defeitos congênitos em outros sis-
temas(21)
. Combinações de atresia de alças
delgadas e colônicas são raras. Aproxima-
damente 20% das atresias jejunais são
múltiplas(3)
.
Considera-se que as atresias jejunais e
ileais sejam resultantes de falha de recana-
lização do estágio sólido do tubo intesti-
nal ou de insulto vascular durante o desen-
volvimento dessas estruturas(4)
.
Em estudo realizado por Heij et al.(22)
,
observaram-se algumas diferenças entre as
atresias jejunais e ileais. Esses autores en-
contraram, nos casos de atresia jejunal,
uma incidência em ascenção, menor dura-
ção de gestação e menor peso ao nascimen-
to, bem como maior incidência em gêmeos
bivitelinos. Também houve mais casos de
atresias múltiplas e maior mortalidade no
grupo jejunal(22,23)
.
Bebês com atresia jejunal proximal ini-
ciam vômitos biliosos logo após o nasci-
mento, enquanto aqueles com atresia mais
distal podem não apresentar vômitos até
várias horas ou dias pós-natal(20)
.
Acentuada distensão abdominal é ób-
via em 80% dos bebês com obstrução dis-
tal ao jejuno, e peristalse ativa de alças dis-
tendidas pode ser visível. Esta distensão
grave pode estar associada a desconforto
respiratório, por elevação do diafragma(20)
.
É importante enfatizar que os bebês
com abdome escavado ou de aspecto nor-
mal com vômitos biliosos após o parto tam-
bém devem ser considerados como porta-
dores de obstrução duodenal e jejunal pro-
ximal até que se prove o contrário(20)
. O
número de alças dilatadas aumenta quan-
to mais distal for a atresia, porém ocasio-
nalmente o segmento mais dilatado está
preenchido por líquido ou há um vólvulo,
dificultando a identificação do segmento
mais dilatado(3,20)
.
A classificação sugerida por Grosfeld et
al.(24)
é uma boa opção para representar os
vários tipos de atresia (Figura 10):
Tipo I: diafragma intraluminal em con-
tigüidade com as camadas musculares dos
segmentos distal e proximal;
Tipo II: atresia com um segmento em
forma de cordão fibroso entre as extremi-
dades em fundo cego do intestino;
Tipo IIIa: atresia com completa separa-
ção das extremidades em fundo cego asso-
ciada a defeito (“gap”) mesentérico em
forma de V;
Tipo IIIb: atresia com extenso defeito
mesentérico. O intestino distal enrola-se
em torno dos vasos mesentéricos, dando
um aspecto em “casca de maçã”. Este seg-
mento distal é curto e de pequeno calibre;
Tipo IV: atresia múltipla do intestino
delgado.
À ecografia pré-natal, a atresia intesti-
nal é caracterizada por alças delgadas di-
latadas formando tipicamente um aspecto
de “tripla ou quádrupla bolha”. Estas apa-
recem como áreas sonolucentes em toma-
das axiais do abdome. As estruturas colô-
nicas estão normais(4)
.
Poliidrâmnio ocorre em aproximada-
mente metade dos recém-nascidos com
atresia duodenal e jejunal proximal, no
entanto, é pouco observado em bebês nas-
cidos com atresia ileal e colônica(20)
. Além
de sua aplicação no diagnóstico de atre-
sias intestinais altas, a ecografia fornece in-
formação sobre anomalias cardíacas e do
sistema nervoso central(20,25)
. A chamada
síndrome de má-rotação de múltiplos ór-
gãos, que compreende situs inversus par-
cial, atresia duodenal e hérnia de Bochda-
leck à direita, também pode ser diagnosti-
cada pela ultra-sonografia(20)
.
Portanto, o diagnóstico pré-natal obti-
do na maior parte dos casos de atresia je-
junoileal tem fornecido uma melhora no
acompanhamento clínico da gestante e
Figura 10. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia intestinal. I, membrana
mucosa; II, cordão fibroso no intervalo; IIIa, com “gap” mesentérico em V; IIIb,
atresia em “casca de maçã”; IV, atresias múltiplas (adaptado da referência 18).
Figura 9. Atresia duodenal. Ecografia do hipocôndrio direito de paciente com
atresia duodenal revela líquido no interior do arco duodenal proximal, que ter-
mina em fundo cego (setas). À avaliação foram evidenciadas ondas peristálti-
cas vigorosas a montante deste ponto.
’
’
Figueirêdo SS et al.
Radiol Bras 2005;38(2):141–150 147
melhor suporte ao neonato, incluso na re-
solução de anomalias associadas(20)
.
À radiografia, estas atresias são carac-
terizadas pela presença de alças intestinais
delgadas dilatadas, freqüentemente asso-
ciadas a níveis hidroaéreos(25)
. Não há gás
na porção inferior do abdome nas atresias
jejunais(3)
. O aumento do conteúdo abdo-
minal é refletido em flancos distendidos e
hemicúpulas diafragmáticas elevadas(3)
. O
“sinal do segmento intestinal bulboso”,
representado por uma alça dilatada ime-
diatamente proximal ao local da atresia
(devido à impactação prolongada do con-
teúdo intestinal) com terminação curvilí-
nea pode ser evidente em alguns casos(7)
(Figuras 11, 12 e 13).
Nas atresias ileais a perfuração pode
ocorrer in utero e resultar em peritonite
meconial, com ou sem formação de cisto
meconial(3)
. Este tipo de perfuração intes-
tinal pré-natal ocorre mais freqüentemen-
te nas atresias ileais e provavelmente está
relacionada à maior complacência e ao
melhor suprimento vascular jejunais com-
parativamente ao íleo(22,23)
. A presença de
calcificações intraperitoneais é indicativa
de peritonite meconial(18)
.
O enema opaco geralmente revela “mi-
crocólon” (por desuso durante a vida in-
tra-uterina), mostra que a obstrução está
limitada ao intestino delgado e pode mos-
trar porções de mecônio nos casos de sín-
drome do tampão meconial. Também re-
vela o posicionamento do ceco, alertando
para possíveis anomalias de fixação e ro-
tação intestinais associadas(18)
(Figura 14).
ATRESIA COLÔNICA
Atresia colônica é causa rara de obstru-
ção intestinal neonatal e constitui 1,8% a
15% de todas as atresias intestinais(26–29)
.
Apresenta incidência de um em 66.000
nascidos vivos(4)
. Há predominância no
sexo masculino(17,18,30)
, e correlação gené-
tica tem sido observada(17)
. Ocasionalmen-
te pode ocorrer em associação com atresia
múltipla de alças delgadas(26,27)
, porém
múltiplas atresias de cólon são raras(20)
.
Insulto vascular no intestino fetal devi-
do a vólvulo, intussuscepção, hérnia inter-
na ou estrangulamento de gastrosquise/
onfalocele por defeito abdominal estreito
tem sido universalmente aceito como a
Figura 11. Radiografias simples em incidência frontal de pacientes com atresia jejunal proximal revelam o
sinal da tripla bolha. A: Nota-se um grande segmento distendido por gás e terminado em fundo cego (seta).
B: Em outro caso, a presença de sonda nasogástrica impediu distensão extrema do segmento imediata-
mente proximal à atresia (seta).
Figura 12. Atresia jejunal distal. A: Radiografia simples em incidência frontal mostra acentuada distensão
gasosa de alças intestinais delgadas e ausência de gás no reto (padrão obstrutivo). B: Há muitas alças dis-
tendidas com níveis hidroaéreos neste segundo caso.
principal causa de todos os tipos de atre-
sia intestinal e colônica(17,18,27,31)
.
O tipo de atresia colônica também pode
ser indicado pela classificação das atresias
intestinais prosposta por Grosfeld et al.(24)
:
Tipo I: representa atresia mucosa (mem-
branosa) com parede intestinal e mesenté-
rio intactos;
Tipo II: possui extremidades em fundo
cego separadas por um cordão fibroso;
Tipo IIIa: contém extremidades em fun-
do cego separadas por um defeito mesoco-
lônico em V;
Tipo IIIb: atresia em casca de maçã;
Tipo IV: com múltiplas atresias.
A atresia tipo IIIa é a mais freqüente
(80%), seguida pelos tipos I e II(17,18,30,32)
.
As atresias tipo IIIa são geralmente obser-
vadas próximas à flexura esplênica(17,18,
30,32)
, enquanto as atresias tipo I ocorrem
A B
A B
’
’
Radiol Bras 2005;38(2):141–150148
Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem
em qualquer nível colônico(17)
. Devido à
freqüente associação das atresias tipo I com
múltiplas atresias do intestino delgado,
torna-se necessária uma cuidadosa avalia-
ção de todo o trato gastrintestinal(17)
.
Em estudo desenvolvido por Karnak et
al.(17)
, avaliando 14 casos de atresia colô-
nica, os tipos encontrados foram: IIIa em
nove casos, I em seis casos e II em três ca-
sos(17)
. As atresias do tipo IIIa localizavam-
se proximais à flexura esplênica (ascenden-
te ou transverso) em oito casos e no sigmói-
de em um caso. As atresias do tipo I foram
observadas em várias localizações (do ceco
ao sigmóide) e as do tipo II eram proximais
à flexura hepática.
Entre as raras anomalias associadas, a
gastrosquise e as atresias intestinais múlti-
plas são as mais comuns e ocorrem em 10%
e 22% dos casos, respectivamente(3,17)
.
Crianças com atresia colônica mostram
típicas características clínicas de obstrução
intestinal baixa: distensão de alças, vômi-
tos e falha na eliminação meconial(18,26,27)
.
O vômito geralmente é bilioso, porém pode
ser inicialmente claro ou também estar
presente em pacientes com obstrução pro-
ximal associada localizada acima da papila
maior do duodeno(26)
.
Embora o ultra-som pré-natal possa
revelar um diagnóstico sugestivo de obstru-
ção intestinal, sua capacidade para excluir
má formação colônica é limitada(17,18,33)
.
Alças delgadas dilatadas poderão ser vis-
tas à ecografia; porém, uma notável quan-
tidade de casos desta atresia permanece
não dectectada por este método(18)
.
Radiografias simples mostram múltiplas
alças intestinais distendidas com níveis
hidroaéreos(17,26–28)
, e freqüentemente há
um segmento grosseiramente ectasiado,
correspondente ao cólon proximal dilata-
do, que pode apresentar um padrão mo-
teado de gás e fezes(17,28)
. Este segmento di-
latado, se mantido por uma valva ileocecal
competente, o deixa sujeito a rupturas(3)
.
Deve-se enfatizar que uma radiografia
sugerindo obstrução alta (proximal) não
torna o enema desnecessário, bem como
um enema demonstrando atresia colônica
não exclui a possibilidade de atresias pro-
ximais associadas, seja no cólon ou intes-
tino delgado(17)
. Também a ausência de al-
ças intestinais delgadas dilatadas não des-
carta obstrução colônica, nos casos de vál-
vula ileocecal competente(27)
.
O enema baritado demonstra microcó-
lon finalizado em fundo cego(26,27)
e, assim,
a localização do segmento distal atrési-
co(3,17)
. Em casos de diagnóstico tardio,
pode haver pneumoperitônio causado pela
perfuração de segmento dilatado proximal
ao nível atrésico(26,27)
.
Doença de Hirschsprung, síndrome do
tampão meconial e íleo meconial também
causam obstrução simulando atresia ileal
ou colônica(20)
. Felizmente, uma distinção
pode ser efetuada com enema na maioria
dos casos e o diagnóstico diferencial em
recém-natos com obstrução intestinal bai-
xa pode ser esclarecida(20)
.
ATRESIA RETAL
Atresia é uma anomalia anorretal extre-
mamente rara, correspondendo a 1,5% a
2% das malformações neste nível(34)
. A ra-
zão masculino:feminino é de 7:3(35,36)
.
Figura 13. Atresia ileal. A: Radiografia simples evidencia acentuada distensão de alças delgadas. B: Em outro paciente, 12 horas após a utilização de meio de
contraste iodado, evidencia-se acúmulo do contraste nas alças distendidas, sem passagem para os cólons. C: O enema opaco revela microcólon (por desuso
durante a vida intra-uterina) (setas).
A B C
’
’
Figura 14. Enema opaco revela atresia ileal com
microcólon associado a vício de rotação. O ceco
encontra-se próximo à linha mediana e ao nível da
vértebra L3. Nota-se alça adjacente bastante disten-
dida por gás (sinal do segmento intestinal bulboso)
(seta).
’
Figueirêdo SS et al.
Radiol Bras 2005;38(2):141–150 149
A sua exata patogênese é desconheci-
da, mas a maioria dos autores postula que
seja anomalia adquirida decorrente de
trombose intravascular secundária a infec-
ção intra-uterina(34,36,37)
.
As anomalias anorretais estão associa-
das a malformações de vértebras, rins, esô-
fago ou traquéia em quase 40% dos casos.
Estas podem fazer parte da síndrome VAC-
TERL(35)
e, portanto, também devem ser
investigadas.
Na atresia retal o ânus está aberto, po-
rém um segmento variável do reto (proxi-
mal ao ânus) é atrésico e não associado a
fístulas(35)
. Apesar do ânus ser bem desen-
volvido, também termina em fundo cego
1,5 a 3 cm cranial à margem anal. O saco
retal em fundo cego geralmente acaba pró-
ximo ou dentro do diafragma pélvico(38)
.
Geralmente não há comunicação fistu-
losa com o trato urinário, nem há fixação
à uretra ou bexiga(37,38)
. Usualmente os
componentes esfincterianos são anatomi-
camente desenvolvidos em seus níveis ha-
bituais(37,38)
e os feixes puborretais circun-
dam o saco retal ou há uma banda fibrosa
interposta neste ponto(36)
.
Dorairajan(36)
classificou casos de atre-
sia retal em quatro tipos:
Tipo 1: atresia com curto intervalo (< 2
cm), com ou sem banda fibrosa interposta
(mais comum);
Tipo 2: atresia com longo intervalo;
Tipo 3: atresia tipo diafragmático (mem-
branoso);
Tipo 4: estenose retal com comprimento
variável do segmento estenótico (não cons-
titui atresia verdadeira).
Radiologicamente, a identificação da
chamada linha M é usada para classificar
lesões como altas, intermediárias ou bai-
xas, dependendo do posicionamento da
bolsa retal proximal. Esta linha passa ho-
rizontalmente na junção do terço inferior
com os dois terços superiores do ísquio e
representa o nível do músculo puborre-
tal(35)
. Uma aparência normal do ânus e do
períneo pode retardar o diagnóstico até
que massiva distensão abdominal ocorra(38)
(Figuras 15 e 16).
A ecografia é útil para delinear a distân-
cia do saco retal até o períneo. Distância
inferior a 10 mm indica baixa posição, que
pode ser seguramente tratada com anoplas-
tia perineal simples. Distância superior a
15 mm indica lesão que requer abordagem
com colostomia associada(35)
, porém esta
análise pela ecografia é limitada.
A tomografia computadorizada e a res-
sonância magnética são modalidades de
escolha, nestes casos, porque podem aju-
dar a determinar a presença dos músculos
puborretais e do esfíncter externo, bem
como topografar o saco retal e anomalias
vertebrais associadas(35,39)
.
CONCLUSÃO
Acreditamos que uma anamnese bem
direcionada, associada a diagnósticos pre-
coces ou forte evidência de atresia em eco-
grafias pré-natais, servirá de subsídio va-
lioso na abordagem pós-natal imediata,
mantendo baixas taxas de mortalidade e
morbidade, conseguidas atualmente.
A maioria dos casos de atresias altas
(esofágica, gástrica, duodenal e jejunal
proximal) é discernível à radiografia sim-
ples, e estudos contrastados geralmente
são desnecessários. Nos casos de obstru-
ção distal há muitas alças dilatadas e a dis-
tensão abdominal é marcante, tornando os
estudos contrastados necessários para di-
ferenciar atresias ileais e colônicas de ou-
tras causas de obstrução. Outros métodos
de imagem (ultra-sonografia, tomografia
computadorizada, ressonância magnética)
têm aplicações muito específicas em alguns
casos de atresia do trato gastrintestinal,
sendo ocasionalmente utilizados.
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trointestinal obstruction. Radiol Clin North Am
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Figura 15. Atresia retal. Radiografia do abdome em
perfil demonstra bolsa retal proximal em fundo cego
preenchida por gás (seta). Um marcador metálico si-
naliza a topografia anal.
Figura 16. Colonogramas distais em perfil mostram atresia retal. A: Bolsa retal proximal (seta) preenchida
por meio de contraste, distando cerca de 4 cm da borda anal, sinalizada por marcador metálico. B: Outro
caso revela a bolsa proximal bastante distendida, retendo o meio de contraste e distando cerca de 1 cm do
ânus (seta).
A B
’
’
’
Radiol Bras 2005;38(2):141–150150
Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem
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  • 1. Figueirêdo SS et al. Radiol Bras 2005;38(2):141–150 141 intestinos anterior e posterior terminam em fundo cego. A extremidade cranial do in- testino anterior está separada do estomó- dio pela membrana bucofaríngea e o intes- tino posterior termina na cloaca, fechada pela membrana cloacal(1) .. Um trato alimentar completamente fun- cional em recém-natos corresponde a um complexo sistema orgânico que se desen- volve do tubo digestivo primitivo a partir de uma complicada, porém ordenada se- qüência de eventos que se estende desde o período embrionário até o nascimento. Um completo entendimento sobre o desen- volvimento normal do trato gastrintestinal é útil na compreensão das suas anomalias congênitas(2) . Um amplo espectro de anomalias con- gênitas do trato gastrintestinal é causa sig- nificativa de morbidade no grupo pediátri- co. Estas anormalidades incluem distúrbios obstrutivos completos ou parciais (atresia/ estenose), anomalias de rotação e fixação, bem como duplicações e compressões ex- trínsecas. Entre as causas obstrutivas des- tacamos as atresias, cuja apresentação clí- nica é variável com a topografia acometi- da, a qual deve ser determinada principal- mente em estudos por métodos de imagem. ATRESIA DO TRATO GASTRINTESTINAL: AVALIAÇÃO POR MÉTODOS DE IMAGEM* Sizenildo da Silva Figueirêdo1 , Luiza Helena Vilela Ribeiro2 , Bruno Barcelos da Nóbrega1 , Marlos Augusto Bittencourt Costa3 , Galba Leite Oliveira4 , Edward Esteves5 , Soraya Silveira Monteiro6 , Henrique Manoel Lederman7 Um amplo espectro de anomalias congênitas pode afetar qualquer nível do trato gastrintestinal, do esôfago ao ânus. A atresia é uma importante causa de obstrução gastrintestinal, com alta taxa de morbidade em recém-natos. Há diversos mecanismos patológicos possíveis para explicar esta malformação e duas expli- cações clássicas de sua gênese são um defeito de recanalização do tubo intestinal ou uma interrupção no suprimento sanguíneo durante a vida intra-uterina. Os autores fazem uma revisão da literatura com ensaio iconográfico dos achados de imagem em crianças com atresia do trato gastrintestinal. Unitermos: Atresia; Crianças; Pediatria; Imagem. Atresia of the gastrointestinal tract: imaging evaluation. A wide spectrum of congenital anomalies may affect the gastrointestinal tract at any level from the esopha- gus to the anus. Atresia is an important cause of gastrointestinal obstruction with high morbidity rate in neonates. Different pathogenetic mechanisms could cause this malformation and the two classical expla- nations are: a defect of recanalization of the intestinal tube or an interruption of blood supply during intrau- terine life. The authors present a literature review with an iconographic essay of imaging findings in children with gastrointestinal atresia. Key words: Atresia; Children; Pediatrics; Imaging. Resumo Abstract * Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM), São Paulo, SP. 1. Médicos Especializandos do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM, Membros Titulares do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR). 2. Mestranda do Curso de Pós-graduação do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM, Membro Titular do CBR. 3. Médico Especializando do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM. 4. Médica Especializanda do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. 5. Professor Assistente do Departamento de Cirurgia e Urolo- gia Pediátrica da Universidade Federal de Goiás (UFG). 6. Médica Radiologista da Disciplina de Diagnóstico por Ima- gem em Pediatria do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM. 7. Chefe da Disciplina de Diagnóstico por Imagem em Pedia- tria do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/ EPM. Endereço para correspondência: Dr. Bruno Barcelos da Nó- brega. Alameda Ribeirão Preto, 551, ap. 14, Bela Vista. São Paulo, SP, 01331- 001. E-mail: brunoradiol@hotmail.com Recebido para publicação em 3/3/2004. Aceito, após revi- são, em 14/4/2004. Em neonatos saudáveis, o ar geralmen- te pode ser observado no estômago poucos minutos após o nascimento, e com três ho- ras o intestino delgado comumente está re- pleto de gás. Após oito a nove horas, neo- natos saudáveis apresentam gás no sigmói- de. O diagnóstico de obstrução é baseado em interrupções desta disposição de ga- ses(3) . Deve-se enfatizar que retardo na pas- sagem de gás pelo interior do intestino neonatal pode ser decorrente de parto trau- mático, septicemia, hipoglicemia ou dano encefálico(3) . As indicações para aplicação de cada modalidade de imagem e a ordem na qual serão realizadas devem ser cuidadosamen- te analisadas para evitar exames desneces- sários(2) . A radiografia é o mais valioso meio de determinar se obstruções estão presentes. Este método é freqüentemente diagnóstico e, caso não seja, poderá ser útil na determinação do próximo procedimen- to diagnóstico a ser utilizado(3) . Este artigo tem por finalidade descrever e ilustrar os achados de imagem presentes nos casos de atresias em vários níveis do trato gastrintestinal e discutir os principais aspectos referentes à sua embriogênese, quadro clínico e anomalias associadas. Artigo de Revisão INTRODUÇÃO O tubo digestivo primitivo consiste em duas partes: o intestino anterior, dentro da flexura cefálica e dorsal ao coração, e o intestino posterior, dentro da flexura cau- dal. Entre ambos encontra-se a larga aber- tura do saco vitelino, gradualmente estrei- tada e reduzida a um pequeno forame que conduz ao ducto vitelino. A princípio os
  • 2. Radiol Bras 2005;38(2):141–150142 Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem ATRESIA ESOFÁGICA Atresia esofágica com ou sem fístula traqueoesofágica é um complexo de ano- malias congênitas caracterizadas pela for- mação incompleta do esôfago com ou sem comunicação anormal entre este e a tra- quéia(2) . Ocorre com uma incidência de um caso entre 3.000 nascidos vivos(4) e é mais comum em brancos e no sexo masculino. Apresenta maior incidência em gêmeos e esta eleva-se com o aumento da idade ma- terna e com a primiparidade. Também está freqüentemente associada a anomalias cro- mossômicas(5) . Acredita-se que seja uma anomalia da formação e da separação do intestino an- terior primitivo em traquéia e esôfago(2) . Durante a quarta ou quinta semana de desenvolvimento embriológico, estes ór- gãos constituem um tubo único que pos- teriormente divide-se em duas estruturas, devido à formação de um septo na parede do intestino primitivo(2,6) . Uma falha na formação do esôfago tubular (vacuolização do estágio sólido) e/ou uma separação in- completa das porções do intestino anterior, neste período, resultam em atresia e/ou fístula traqueoesofágica(6,7) . Os sintomas estão relacionados ao tipo de atresia, que pode estar ou não associado a fístulas. Geralmente é suspeitada quan- do há poliidrâmnio, dificuldade em deglu- tir saliva e leite, aspiração durante as pri- meiras alimentações e falha na tentativa de passar a sonda gástrica(2) . Nestes pacientes, a sonda pára tipicamente após a introdu- ção de 10 a 12 cm, sendo que a distância normal até a região cárdica de uma crian- ça normal é de aproximadamente 17 cm(6) . Tosse e cianose (que se acentuam com a alimentação) podem estar presentes(6) , bem como pneumonia por aspiração, especial- mente nos lobos superiores(7) . Classicamente, o neonato com atresia esofagiana apresenta copiosa quantidade de bolhas de muco, esbranquiçadas e re- gulares na boca e às vezes nas narinas(6) . Se há fístula traqueoesofágica distal, ocorrerá distensão gasosa do abdome e este será escavado, se não houver fístula(6) . A ausência de gás no abdome de um recém- nato com atresia esofagiana nem sempre descarta uma fístula distal e também pode decorrer de uma ou mais atresias no seg- mento distal ou um alto grau de estenose neste segmento(8,9) . Nas fístulas em H, se o segmento comunicante é longo ou oblí- quo, os sintomas respiratórios podem ser mínimos e esta condição pode não ser des- coberta por muitos anos(6) . Existem inúmeras variações anatômicas da atresia de esôfago, sendo que até 1976 cerca de 96 subtipos já tinham sido descri- tos, e outros foram descritos desde então. Os principais tipos de atresia e suas fre- qüências são(2,6) (Figura 1): Tipo A: atresia pura do esôfago, sem fístulas (8% a 10%); Tipo B: atresia do esôfago com fístula entre o segmento esofágico proximal e a traquéia (0,9% a 1%); Tipo C: atresia do esôfago com fístula entre a traquéia ou brônquio principal e o segmento distal do esôfago (53% a 84%); Tipo D: atresia de esôfago com fístula entre a traquéia e tanto com o segmento proximal quanto com o distal do esôfago (2,1% a 3%); Tipo E: fístula em “H” traqueoesofági- ca sem atresia do esôfago (4% a 10%). Conforme citado, o tipo C é expressi- vamente mais freqüente(2,6) (Figura 2). O segmento proximal em fundo cego geral- mente é hipertrofiado e dilatado, secundá- rio aos esforços fetais para deglutir o líqui- do amniótico(6) e a fístula freqüentemente ocorre próximo à traquéia(6) . A segunda mais comum é a atresia pura sem fístula tra- Figura 1. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia esofagiana. A, atresia sem fistula; B, atresia com fístula proximal; C, atresia com fístula distal; D, atresia com fístulas proximal e distal; E, fístula traqueoeso- fágica em H (sem atresia) (adaptado da referência 35). Figura 2. Atresia esofagiana tipo C. A: Radiografia simples em incidência frontal evidencia meio de con- traste retido na bolsa esofagiana proximal em fundo cego, sem extravasamento para o trato respiratório (seta). Há gás no trato gastrintestinal. B: Em perfil também nota-se uma bolha gástrica proeminente. A B A B C D E ’
  • 3. Figueirêdo SS et al. Radiol Bras 2005;38(2):141–150 143 queoesofágica (tipo A), cujo segmento dis- tal remanescente é usualmente subdesen- volvido(6) (Figuras 3 e 4). À ecografia pré-natal, a atresia esofa- giana pode ser sugerida pela presença de uma combinação de poliidrâmnio, reduzi- da quantidade de líquido intraluminal no intestino fetal e não visualização do estô- mago(2,6,10,11) . Uma bolsa proximal disten- dida do esôfago atrésico pode ser visível(7) . O diagnóstico radiológico é baseado nos achados de radiografias de tórax em incidências frontais e em perfil, que reve- lam a extremidade proximal do esôfago em fundo cego distendida com ar(2) . A avalia- ção radiográfica deve sempre incluir o ab- dome para comprovar a presença ou não de ar no trato gastrintestinal (indício de fís- tula distal)(2,6) . Nos tipos A e B há completa ausência de gás no estômago e no restante do trato gastrintestinal; entretanto, nos tipos C e D, estes comumente aparecem distendidos com ar. Podem ser confirmados pela intro- dução de um cateter com contraste radio- paco até o nível da atresia. A sonda vai se curvar ao chegar no fundo cego(2) . Estudos contrastados raramente são necessários para confirmar o diagnóstico(6) , porém, quando se suspeita do tipo E (fís- tula na forma H, sem atresia), a investiga- Figura 3. Atresia esofagiana tipo A. A: Radiografia simples em incidência frontal revela ausência de gás no trato gastrintestinal, sugerindo inexistência de fístula distal. B: Em perfil também não é possível a identifica- ção da bolsa esofagiana proximal. A B Figura 4. Atresia esofagiana tipo A. Incidência frontal mostra meio de contraste iodado acumulado na bol- sa esofagiana proximal em fundo cego e sem extra- vasamento para a árvore traqueobrônquica (seta). Nota-se ausência de gás no trato gastrintestinal. Figura 5. Fístula em H. Radiografia localizada da transição cérvico-torácica mostra comunicação traqueo- esofágica (seta) por meio da passagem de contraste iodado para a traquéia (contorno de seta). ção radiológica é direcionada para a de- monstração da fístula, que tipicamente se orienta superiormente a partir do esôfago à traquéia. Contraste não-iônico hidrosso- lúvel é preferível nestes casos, mas uma pequena quantidade de bário diluído pode ser usada, se necessário(2) (Figura 5). Deve ser feita a injeção do contraste por meio de uma fina sonda com o paciente em decúbito lateral. Depois de três ou quatro ’ ’ _
  • 4. Radiol Bras 2005;38(2):141–150144 Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem injeções neste nível, traciona-se a sonda em 1 cm e repetem-se as injeções (deve ser feito este procedimento até o nível da fa- ringe). As fístulas traqueoesofágicas nem sempre estão abertas, sendo necessários, às vezes, a deglutição ou movimentos respi- ratórios para a sua melhor identificação(12) . Os exames de imagem também são úteis para o diagnóstico de lesões associadas que são comuns em crianças com atresia de esôfago. Defeitos da linha mediana são os mais freqüentes. As anomalias cardíacas são observadas em cerca de um quarto des- sas crianças, sendo as mais comuns o de- feito de septo interventricular, um ducto ar- terioso patente e a tetralogia de Fallot(6,7) . As anomalias do trato gastrintestinal estão associadas em 16% dos casos de atre- sia de esôfago, consistindo em ânus imper- furado, atresia de duodeno, má-rotação e estenose congênita do esôfago distal (este último ocorre em 8% dos casos)(6) . Defei- tos no sistema músculo-esquelético tam- bém são comuns e incluem anomalias de corpo vertebral e defeitos de costelas e extremidades(6) . Malformações do trato geniturinário, como anormalidades ureterais, hipospádia, rim em ferradura e agenesia renal também podem ocorrer(6) . Aproximadamente 10% das crianças com atresia de esôfago têm a síndrome VACTERL (acrônimo corres- pondente a defeitos nas Vértebras, malfor- mações Anorretais, defeitos Cardíacos, fís- tula Traqueo-Esofágica, anomalias Renais e dos membros - Limbs)(2,6,7) . ATRESIA GÁSTRICA Atresia gástrica corresponde à completa obstrução da saída do estômago. É condi- ção bastante rara e representa menos de 1% de todas as obstruções intestinais con- gênitas, estando limitada à região antro- pilórica(2,13–15) . A sua incidência é estima- da em um caso para 100.000 nascidos vi- vos(2,13,16) e acredita-se que seja decorrente de uma interrupção no desenvolvimento do órgão entre a quinta e a 12ª semana de vida intra-uterina, por falha no processo de recanalização(14) . Pode ocorrer como uma condição iso- lada ou associada a outras anormalidades. A mais comum é a epidermólise bolhosa (uma rara doença autossômica recessiva afetando pele e mucosas)(13,15) . Também pode estar associada à síndrome de atre- sias intestinais múltiplas. Esta associação é rara e de origem familial, sendo de trans- missão autossômica recessiva(13) . Regurgitação e vômitos não biliosos são observados nas primeiros horas pós-nasci- mento(2,13,17) , configurando sinais de obs- trução. A atresia gástrica pode ser classificada em três variações anatômicas(13,15,16) : Tipo A: correspondente a um diafragma (membrana) pré-pilórico (57%); Tipo B: atresia sem intervalo entre os segmentos. Corresponde a um cordão fi- broso sólido na região do canal pilórico (34%); Tipo C: atresia com intervalo. Consti- tui num piloro atrésico com um intervalo entre estômago e duodeno (9%). Em cinco casos descritos por Al-Salem et al.(15) , quatro apresentavam atresia piló- rica sem intervalo (tipo B) e apenas um possuía um diafragma pilórico duplo (tipo A), distintamente dos dados da literatura. À ecografia pré-natal, freqüentemente observam-se poliidrâmnio e estômago fe- tal distendido(13) . A ultra-sonografia do re- cém-nato confirma a distensão gástrica e demonstra piloro anormal obliterado, com paredes finas, e duodeno normal. Pode demonstrar diretamente a anormalidade pilórica, avalia a anatomia regional e revela lesões associadas(13) . A radiografia simples do abdome reve- la expressiva distensão do estômago (pro- ximal à obstrução) e ausência de gás no in- testino delgado e no cólon, resultando na imagem de uma “única bolha gasosa”(2,3, 13,16) . Em ortostatismo, nível hidroaéreo pode ser evidente e seu principal diagnós- tico diferencial dever ser feito com este- nose hipertrófica do piloro (Figura 6). O estudo contrastado é geralmente des- necessário para o diagnóstico(2,13) . Quan- do realizado, envidencia-se ausência da passagem do contraste pelo local de atre- sia, não contrastando o duodeno(13) . Deve- mos enfatizar que este estudo também pode causar aspiração do meio de contraste e não exclui outras causas de obstrução. Em um caso publicado por Bass(16) ha- via atresia pilórica associada a atresia duo- denal, dilatação cística do duodeno, múl- tiplas atresias jejunoileais (tipos I e II) e cólon quase inexistente. As alças delgadas distais estavam preenchidas por material calcificado que se assemelha a “massa de vidraceiro”. À radiografia aparecem como alças intestinais preenchidas por tênue e uniforme calcificação, semelhante a um “estudo contrastado”. Este é um achado patognomônico de atresias intestinais múl- tiplas(16) e está presente na maioria destes casos(15) . ATRESIA DUODENAL Atresia é a causa mais importante de obstrução duodenal e provavelmente seja decorrente de falência na recanalização duodenal, aproximadamente entre a nona e a 11ª semanas de gestação(2,18,19) . Tem in- cidência estimada de um caso entre 7.500 a 10.000 nascidos vivos(4,7) . Diferentemente dos casos de atresia de jejuno e do íleo, a atresia duodenal pare- ce não estar relacionada a acidentes vascu- lares intra-uterinos(2,3) . Uma das principais diferenças entre atresia duodenal e outras atresias mais distais é a óbvia complexi- dade da má formação duodenal, sua alta Figura 6. Radiografia simples em incidência frontal e em ortostatismo revela bolha gástrica com nível hidroaéreo e sem gás no resto do trato gastrintesti- nal (sinal da bolha única) (seta). Apesar de sugesti- vo de atresia gástrica, trata-se de um caso de signi- ficativa estenose hipertrófica de piloro. ’
  • 5. Figueirêdo SS et al. Radiol Bras 2005;38(2):141–150 145 incidência na síndrome de Down (trissomia do 21) e múltiplas anomalias sistêmicas as- sociadas(20) . Estas anomalias associadas incluem má-rotação do intestino delgado, cardio- patia congênita, ânus imperfurado, atresia do intestino delgado, atresia biliar, pân- creas anular e anomalias renais(2) . Malfor- mação cardíaca congênita é a mais impor- tante, sendo encontrada em aproximada- mente 20% dos bebês com atresia duode- nal(3,19) . Defeitos do coxim endocárdico e do canal atrioventricular são vistas em 80% das crianças com síndrome de Down(20) . Vecchia et al.(18) , ao estudarem 138 ca- sos de atresia duodenal, evidenciaram as seguintes associações: prematuridade (46%), poliidrâmnio (33%), síndrome de Down (24%), pâncreas anular (33%), má- rotação intestinal (28%) e veia porta pré- duodenal (7%). Outras anomalias foram menos freqüentes. A apresentação clínica é caracterizada por vômitos após a primeira alimentação, aumentando progressivamente. Os vômi- tos são geralmente biliosos, pois a obstru- ção, em dois terços dos casos, localiza-se abaixo da ampola hepatopancreática(2,3,7) . Devido a este nível da obstrução, comu- mente não se observa distensão abdomi- nal(19) , porém ocasionalmente o epigástrio aparece distendido, resultante da dilatação gástrica(19) . A mais útil classificação de atresia duo- denal a divide em três tipos(19) : Tipo I: diafragma (membrana) mucoso. A camada muscular está intacta nestes ca- sos. A porção do duodeno proximal à atre- sia está dilatada e a porção distal está es- treitada; Tipo II: há um cordão fibroso interpos- to às extremidades do doudeno atrésico; Tipo III: há completa separação das ex- tremidades do duodeno atrésico. Comu- mente associada a anomalias ductais bilia- res incomuns. A maioria dos casos de atresia é diag- nosticada durante os sete e oito meses de vida intra-uterina(19) .O diagnóstico pré-na- tal deve ser suspeitado quando for eviden- ciado poliidrâmnio em conjunção a uma “dupla bolha”, preenchida por líquido no abdome fetal(2,4,19) . O poliidrâmnio é ob- servado em cerca se 100% dos casos no ter- ceiro trimestre(7) . O achado radiográfico clássico é o “si- nal da dupla bolha” (Figura 7), estando a maior bolha no lado esquerdo (estômago) e a outra, menor, à direita (duodeno pro- ximal)(2,3,19) . Este sinal é diagnóstico de obstrução, mas não necessariamente de atresia(20) . Ausência de ar além da segun- da bolha é geralmente diagnóstico de atre- sia e neonatos, mostrando forte evidência de completa obstrução duodenal; raramen- te necessitam de outras avaliações radio- gráficas(18) . O estudo contrastado não fornece infor- mação adicional alguma e há risco poten- cial de aspiração de bário. Tal estudo mos- tra opacificação apenas do estômago e do duodeno(2,19) (Figura 8). Vômitos freqüen- tes podem resultar em ausência de ar no segmento obstruído(2) . Nesses casos, pe- quena quantidade de ar pode ser injetada pela sonda nasogástrica para confirmar o diagnóstico(2) . À ecografia abdominal do recém-nato podemos observar duodeno finalizando em fundo cego e peristalse gástrica aumenta- da (peristaltismo de luta) (Figura 9). O diagnóstico diferencial deve ser feito com pâncreas anular, bandas peritoneais, duplicação intestinal, cisto de colédoco e incisura angular proeminente causando bidissecção do estômago(7) . A sobrevivência de bebês com atresia de duodeno tem gradualmente aumentado nos últimos anos, sendo que essa taxa está por volta de 95% na série avaliada por Grosfeld e Rescorla(19) . Causas comuns de morte em bebês com atresia duodenal são prematuridade com doença pulmonar ou associada a anomalias graves, particular- mente lesões cardíacas(20) . Figura 7. Atresia duodenal. A: Radiografia simples revela distensão gástrica e duodenal, bem como ausên- cia de gás no restante do trato gastrintestinal (sinal da dupla bolha) (setas). B: Dois níveis hidroaéreos ad- jacentes são vistos quando em ortostatismo (setas). Figura 8. Seriografia do trato gastrintestinal supe- rior em incidência frontal revela distensão acentua- da do estômago e do duodeno, o qual finaliza em fundo cego, configurando um padrão “em dupla bo- lha” (seta). A B ’ ’ ’ ’ ’
  • 6. Radiol Bras 2005;38(2):141–150146 Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem ATRESIA INTESTINAL (JEJUNOILEAL) Atresia é a mais comum causa de obs- trução intestinal congênita e corresponde a cerca de um terço de todos os casos de obstrução intestinal nos recém-natos(20) . Estima-se que seja duas vezes mais comum que atresia esofagiana e hérnia hiatal dia- fragmática. A distribuição é quase igual entre os sexos(18,20) e a incidência é de um entre 5.000 nascidos vivos(4) . Opostamente à atresia duodenal, pa- cientes com atresia jejunoileal apresentam poucos defeitos congênitos em outros sis- temas(21) . Combinações de atresia de alças delgadas e colônicas são raras. Aproxima- damente 20% das atresias jejunais são múltiplas(3) . Considera-se que as atresias jejunais e ileais sejam resultantes de falha de recana- lização do estágio sólido do tubo intesti- nal ou de insulto vascular durante o desen- volvimento dessas estruturas(4) . Em estudo realizado por Heij et al.(22) , observaram-se algumas diferenças entre as atresias jejunais e ileais. Esses autores en- contraram, nos casos de atresia jejunal, uma incidência em ascenção, menor dura- ção de gestação e menor peso ao nascimen- to, bem como maior incidência em gêmeos bivitelinos. Também houve mais casos de atresias múltiplas e maior mortalidade no grupo jejunal(22,23) . Bebês com atresia jejunal proximal ini- ciam vômitos biliosos logo após o nasci- mento, enquanto aqueles com atresia mais distal podem não apresentar vômitos até várias horas ou dias pós-natal(20) . Acentuada distensão abdominal é ób- via em 80% dos bebês com obstrução dis- tal ao jejuno, e peristalse ativa de alças dis- tendidas pode ser visível. Esta distensão grave pode estar associada a desconforto respiratório, por elevação do diafragma(20) . É importante enfatizar que os bebês com abdome escavado ou de aspecto nor- mal com vômitos biliosos após o parto tam- bém devem ser considerados como porta- dores de obstrução duodenal e jejunal pro- ximal até que se prove o contrário(20) . O número de alças dilatadas aumenta quan- to mais distal for a atresia, porém ocasio- nalmente o segmento mais dilatado está preenchido por líquido ou há um vólvulo, dificultando a identificação do segmento mais dilatado(3,20) . A classificação sugerida por Grosfeld et al.(24) é uma boa opção para representar os vários tipos de atresia (Figura 10): Tipo I: diafragma intraluminal em con- tigüidade com as camadas musculares dos segmentos distal e proximal; Tipo II: atresia com um segmento em forma de cordão fibroso entre as extremi- dades em fundo cego do intestino; Tipo IIIa: atresia com completa separa- ção das extremidades em fundo cego asso- ciada a defeito (“gap”) mesentérico em forma de V; Tipo IIIb: atresia com extenso defeito mesentérico. O intestino distal enrola-se em torno dos vasos mesentéricos, dando um aspecto em “casca de maçã”. Este seg- mento distal é curto e de pequeno calibre; Tipo IV: atresia múltipla do intestino delgado. À ecografia pré-natal, a atresia intesti- nal é caracterizada por alças delgadas di- latadas formando tipicamente um aspecto de “tripla ou quádrupla bolha”. Estas apa- recem como áreas sonolucentes em toma- das axiais do abdome. As estruturas colô- nicas estão normais(4) . Poliidrâmnio ocorre em aproximada- mente metade dos recém-nascidos com atresia duodenal e jejunal proximal, no entanto, é pouco observado em bebês nas- cidos com atresia ileal e colônica(20) . Além de sua aplicação no diagnóstico de atre- sias intestinais altas, a ecografia fornece in- formação sobre anomalias cardíacas e do sistema nervoso central(20,25) . A chamada síndrome de má-rotação de múltiplos ór- gãos, que compreende situs inversus par- cial, atresia duodenal e hérnia de Bochda- leck à direita, também pode ser diagnosti- cada pela ultra-sonografia(20) . Portanto, o diagnóstico pré-natal obti- do na maior parte dos casos de atresia je- junoileal tem fornecido uma melhora no acompanhamento clínico da gestante e Figura 10. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia intestinal. I, membrana mucosa; II, cordão fibroso no intervalo; IIIa, com “gap” mesentérico em V; IIIb, atresia em “casca de maçã”; IV, atresias múltiplas (adaptado da referência 18). Figura 9. Atresia duodenal. Ecografia do hipocôndrio direito de paciente com atresia duodenal revela líquido no interior do arco duodenal proximal, que ter- mina em fundo cego (setas). À avaliação foram evidenciadas ondas peristálti- cas vigorosas a montante deste ponto. ’ ’
  • 7. Figueirêdo SS et al. Radiol Bras 2005;38(2):141–150 147 melhor suporte ao neonato, incluso na re- solução de anomalias associadas(20) . À radiografia, estas atresias são carac- terizadas pela presença de alças intestinais delgadas dilatadas, freqüentemente asso- ciadas a níveis hidroaéreos(25) . Não há gás na porção inferior do abdome nas atresias jejunais(3) . O aumento do conteúdo abdo- minal é refletido em flancos distendidos e hemicúpulas diafragmáticas elevadas(3) . O “sinal do segmento intestinal bulboso”, representado por uma alça dilatada ime- diatamente proximal ao local da atresia (devido à impactação prolongada do con- teúdo intestinal) com terminação curvilí- nea pode ser evidente em alguns casos(7) (Figuras 11, 12 e 13). Nas atresias ileais a perfuração pode ocorrer in utero e resultar em peritonite meconial, com ou sem formação de cisto meconial(3) . Este tipo de perfuração intes- tinal pré-natal ocorre mais freqüentemen- te nas atresias ileais e provavelmente está relacionada à maior complacência e ao melhor suprimento vascular jejunais com- parativamente ao íleo(22,23) . A presença de calcificações intraperitoneais é indicativa de peritonite meconial(18) . O enema opaco geralmente revela “mi- crocólon” (por desuso durante a vida in- tra-uterina), mostra que a obstrução está limitada ao intestino delgado e pode mos- trar porções de mecônio nos casos de sín- drome do tampão meconial. Também re- vela o posicionamento do ceco, alertando para possíveis anomalias de fixação e ro- tação intestinais associadas(18) (Figura 14). ATRESIA COLÔNICA Atresia colônica é causa rara de obstru- ção intestinal neonatal e constitui 1,8% a 15% de todas as atresias intestinais(26–29) . Apresenta incidência de um em 66.000 nascidos vivos(4) . Há predominância no sexo masculino(17,18,30) , e correlação gené- tica tem sido observada(17) . Ocasionalmen- te pode ocorrer em associação com atresia múltipla de alças delgadas(26,27) , porém múltiplas atresias de cólon são raras(20) . Insulto vascular no intestino fetal devi- do a vólvulo, intussuscepção, hérnia inter- na ou estrangulamento de gastrosquise/ onfalocele por defeito abdominal estreito tem sido universalmente aceito como a Figura 11. Radiografias simples em incidência frontal de pacientes com atresia jejunal proximal revelam o sinal da tripla bolha. A: Nota-se um grande segmento distendido por gás e terminado em fundo cego (seta). B: Em outro caso, a presença de sonda nasogástrica impediu distensão extrema do segmento imediata- mente proximal à atresia (seta). Figura 12. Atresia jejunal distal. A: Radiografia simples em incidência frontal mostra acentuada distensão gasosa de alças intestinais delgadas e ausência de gás no reto (padrão obstrutivo). B: Há muitas alças dis- tendidas com níveis hidroaéreos neste segundo caso. principal causa de todos os tipos de atre- sia intestinal e colônica(17,18,27,31) . O tipo de atresia colônica também pode ser indicado pela classificação das atresias intestinais prosposta por Grosfeld et al.(24) : Tipo I: representa atresia mucosa (mem- branosa) com parede intestinal e mesenté- rio intactos; Tipo II: possui extremidades em fundo cego separadas por um cordão fibroso; Tipo IIIa: contém extremidades em fun- do cego separadas por um defeito mesoco- lônico em V; Tipo IIIb: atresia em casca de maçã; Tipo IV: com múltiplas atresias. A atresia tipo IIIa é a mais freqüente (80%), seguida pelos tipos I e II(17,18,30,32) . As atresias tipo IIIa são geralmente obser- vadas próximas à flexura esplênica(17,18, 30,32) , enquanto as atresias tipo I ocorrem A B A B ’ ’
  • 8. Radiol Bras 2005;38(2):141–150148 Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem em qualquer nível colônico(17) . Devido à freqüente associação das atresias tipo I com múltiplas atresias do intestino delgado, torna-se necessária uma cuidadosa avalia- ção de todo o trato gastrintestinal(17) . Em estudo desenvolvido por Karnak et al.(17) , avaliando 14 casos de atresia colô- nica, os tipos encontrados foram: IIIa em nove casos, I em seis casos e II em três ca- sos(17) . As atresias do tipo IIIa localizavam- se proximais à flexura esplênica (ascenden- te ou transverso) em oito casos e no sigmói- de em um caso. As atresias do tipo I foram observadas em várias localizações (do ceco ao sigmóide) e as do tipo II eram proximais à flexura hepática. Entre as raras anomalias associadas, a gastrosquise e as atresias intestinais múlti- plas são as mais comuns e ocorrem em 10% e 22% dos casos, respectivamente(3,17) . Crianças com atresia colônica mostram típicas características clínicas de obstrução intestinal baixa: distensão de alças, vômi- tos e falha na eliminação meconial(18,26,27) . O vômito geralmente é bilioso, porém pode ser inicialmente claro ou também estar presente em pacientes com obstrução pro- ximal associada localizada acima da papila maior do duodeno(26) . Embora o ultra-som pré-natal possa revelar um diagnóstico sugestivo de obstru- ção intestinal, sua capacidade para excluir má formação colônica é limitada(17,18,33) . Alças delgadas dilatadas poderão ser vis- tas à ecografia; porém, uma notável quan- tidade de casos desta atresia permanece não dectectada por este método(18) . Radiografias simples mostram múltiplas alças intestinais distendidas com níveis hidroaéreos(17,26–28) , e freqüentemente há um segmento grosseiramente ectasiado, correspondente ao cólon proximal dilata- do, que pode apresentar um padrão mo- teado de gás e fezes(17,28) . Este segmento di- latado, se mantido por uma valva ileocecal competente, o deixa sujeito a rupturas(3) . Deve-se enfatizar que uma radiografia sugerindo obstrução alta (proximal) não torna o enema desnecessário, bem como um enema demonstrando atresia colônica não exclui a possibilidade de atresias pro- ximais associadas, seja no cólon ou intes- tino delgado(17) . Também a ausência de al- ças intestinais delgadas dilatadas não des- carta obstrução colônica, nos casos de vál- vula ileocecal competente(27) . O enema baritado demonstra microcó- lon finalizado em fundo cego(26,27) e, assim, a localização do segmento distal atrési- co(3,17) . Em casos de diagnóstico tardio, pode haver pneumoperitônio causado pela perfuração de segmento dilatado proximal ao nível atrésico(26,27) . Doença de Hirschsprung, síndrome do tampão meconial e íleo meconial também causam obstrução simulando atresia ileal ou colônica(20) . Felizmente, uma distinção pode ser efetuada com enema na maioria dos casos e o diagnóstico diferencial em recém-natos com obstrução intestinal bai- xa pode ser esclarecida(20) . ATRESIA RETAL Atresia é uma anomalia anorretal extre- mamente rara, correspondendo a 1,5% a 2% das malformações neste nível(34) . A ra- zão masculino:feminino é de 7:3(35,36) . Figura 13. Atresia ileal. A: Radiografia simples evidencia acentuada distensão de alças delgadas. B: Em outro paciente, 12 horas após a utilização de meio de contraste iodado, evidencia-se acúmulo do contraste nas alças distendidas, sem passagem para os cólons. C: O enema opaco revela microcólon (por desuso durante a vida intra-uterina) (setas). A B C ’ ’ Figura 14. Enema opaco revela atresia ileal com microcólon associado a vício de rotação. O ceco encontra-se próximo à linha mediana e ao nível da vértebra L3. Nota-se alça adjacente bastante disten- dida por gás (sinal do segmento intestinal bulboso) (seta). ’
  • 9. Figueirêdo SS et al. Radiol Bras 2005;38(2):141–150 149 A sua exata patogênese é desconheci- da, mas a maioria dos autores postula que seja anomalia adquirida decorrente de trombose intravascular secundária a infec- ção intra-uterina(34,36,37) . As anomalias anorretais estão associa- das a malformações de vértebras, rins, esô- fago ou traquéia em quase 40% dos casos. Estas podem fazer parte da síndrome VAC- TERL(35) e, portanto, também devem ser investigadas. Na atresia retal o ânus está aberto, po- rém um segmento variável do reto (proxi- mal ao ânus) é atrésico e não associado a fístulas(35) . Apesar do ânus ser bem desen- volvido, também termina em fundo cego 1,5 a 3 cm cranial à margem anal. O saco retal em fundo cego geralmente acaba pró- ximo ou dentro do diafragma pélvico(38) . Geralmente não há comunicação fistu- losa com o trato urinário, nem há fixação à uretra ou bexiga(37,38) . Usualmente os componentes esfincterianos são anatomi- camente desenvolvidos em seus níveis ha- bituais(37,38) e os feixes puborretais circun- dam o saco retal ou há uma banda fibrosa interposta neste ponto(36) . Dorairajan(36) classificou casos de atre- sia retal em quatro tipos: Tipo 1: atresia com curto intervalo (< 2 cm), com ou sem banda fibrosa interposta (mais comum); Tipo 2: atresia com longo intervalo; Tipo 3: atresia tipo diafragmático (mem- branoso); Tipo 4: estenose retal com comprimento variável do segmento estenótico (não cons- titui atresia verdadeira). Radiologicamente, a identificação da chamada linha M é usada para classificar lesões como altas, intermediárias ou bai- xas, dependendo do posicionamento da bolsa retal proximal. Esta linha passa ho- rizontalmente na junção do terço inferior com os dois terços superiores do ísquio e representa o nível do músculo puborre- tal(35) . Uma aparência normal do ânus e do períneo pode retardar o diagnóstico até que massiva distensão abdominal ocorra(38) (Figuras 15 e 16). A ecografia é útil para delinear a distân- cia do saco retal até o períneo. Distância inferior a 10 mm indica baixa posição, que pode ser seguramente tratada com anoplas- tia perineal simples. Distância superior a 15 mm indica lesão que requer abordagem com colostomia associada(35) , porém esta análise pela ecografia é limitada. A tomografia computadorizada e a res- sonância magnética são modalidades de escolha, nestes casos, porque podem aju- dar a determinar a presença dos músculos puborretais e do esfíncter externo, bem como topografar o saco retal e anomalias vertebrais associadas(35,39) . CONCLUSÃO Acreditamos que uma anamnese bem direcionada, associada a diagnósticos pre- coces ou forte evidência de atresia em eco- grafias pré-natais, servirá de subsídio va- lioso na abordagem pós-natal imediata, mantendo baixas taxas de mortalidade e morbidade, conseguidas atualmente. A maioria dos casos de atresias altas (esofágica, gástrica, duodenal e jejunal proximal) é discernível à radiografia sim- ples, e estudos contrastados geralmente são desnecessários. Nos casos de obstru- ção distal há muitas alças dilatadas e a dis- tensão abdominal é marcante, tornando os estudos contrastados necessários para di- ferenciar atresias ileais e colônicas de ou- tras causas de obstrução. Outros métodos de imagem (ultra-sonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética) têm aplicações muito específicas em alguns casos de atresia do trato gastrintestinal, sendo ocasionalmente utilizados. REFERÊNCIAS 1. GrayH.Osistemadigestivo. In:GossCM,ed.Ana- tomia. 29ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988:945–1034. 2. Berrocal T, Torres I, Gutiérrez J, Prieto C, del Hoyo ML, Lamas M. Congenital anomalies of the upper gastrointestinal tract. RadioGraphics 1999;19: 855–72. 3. Hernanz-Schulman M. Imaging of neonatal gas- trointestinal obstruction. Radiol Clin North Am 1999;37:1163–86. Figura 15. Atresia retal. Radiografia do abdome em perfil demonstra bolsa retal proximal em fundo cego preenchida por gás (seta). Um marcador metálico si- naliza a topografia anal. Figura 16. Colonogramas distais em perfil mostram atresia retal. A: Bolsa retal proximal (seta) preenchida por meio de contraste, distando cerca de 4 cm da borda anal, sinalizada por marcador metálico. B: Outro caso revela a bolsa proximal bastante distendida, retendo o meio de contraste e distando cerca de 1 cm do ânus (seta). A B ’ ’ ’
  • 10. Radiol Bras 2005;38(2):141–150150 Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem 4. Balakumar K. Antenatal diagnosis of bowel atre- sia. Indian Pediatr 1992;29:1579–82. 5. Harris J, Källén B, Robert E. Descriptive epidemi- ology of alimentary tract atresia. Teratology 1995; 52:15–29. 6. Clark DC. Esophageal atresia and tracheoesoph- ageal fistula. Am Fam Physician 1999;59:910–6. 7. Dähnert W. Radiologia – manual de revisão. 3ª ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. 8. SinhaCK,GangopadhyayAN,SahooSP,GopalSC, GuptaDK,SharmaSP.Anewvariantofesophageal atresia with tracheoesophageal fistula and duode- nal atresia: a diagnostic dilemma. Pediatr Surg Int 1997;12:186–7. 9. Goh DW, Brereton RJ, Spitz L. Esophageal atresia with obstructed tracheoesophageal fistula and gasless abdomen. J Pediatr Surg 1991;26:160–2. 10. Vijayaraghavan SB. Antenatal diagnosis of esoph- ageal atresia with tracheoesophageal fistula. J Ul- trasound Med 1996;15:417–9. 11. Stringer MD, McKenna KM, Goldstein RB, Filly RA, Adzick NS, Harrison MR. Prenatal diagnosis of esophageal atresia. J Pediatr Surg 1995;30: 1258–63. 12. Cumming WA. Esophageal atresia and tracheoe- sophageal fistula. Radiol Clin North Am 1975;13: 277–95. 13. Tomá P, Mengozzi E, Dell’Acqua A, Mattioli G, Pieroni G, Fabrizzi G. Pyloric atresia: report of two cases (one associated with epidermolysis bullosa andoneassociatedwithmultipleintestinalatresias). Pediatr Radiol 2002;32:552–5. 14. Sencan A, Mir E, Karaca I, Günsar C, Sencan A, Topçu K. Pyloric atresia associated with multiple intestinal atresias and pylorocholedochal fistula. J Pediatr Surg 2002;37:1223–4. 15. Al-Salem A, Nawaz A, Matta H, Jacobsz A. Con- genital pyloric atresia: the spectrum. Int Surg 2002;87:147–51. 16. Bass J. Pyloric atresia associated with multiple in- testinal atresias and immune deficiency. J Pediatr Surg 2002;37:941–2. 17. Karnak I, Ciftci AO, Senocak ME, Tanyel FC, Büyükpamukçu N. Colonic atresia: surgical man- agement and outcome. Pediatr Surg Int 2001;17: 631–5. 18. Della Vecchia LK, Grosfeld JL, West KW, Rescorla FJ, Scherer LR, Engum SA. Intestinal atresia and stenosis: a 25-year experience with 277 cases. Arch Surg 1998;133:490–7. 19. Grosfeld JL, Rescorla FJ. Duodenal atresia and stenosis: reassessment of treatment and outcome based on antenatal diagnosis, pathologic variance, and long-term follow-up. World J Surg 1993;17: 301–9. 20. Toulokian RJ. Diagnosis and treatment of jejuno- ileal atresia. World J Surg 1993;17:310–7. 21. Sato S, Nishijima E, Muraji T, Tsugawa C, Kimura K. Jejunoileal atresia: a 27-year experience. J Pediatr Surg 1998;33:1633–5. 22. Heij HA, Moorman-Voestermans CGM, Vos A. Atresia of jejunun and ileum: is it the same disease? J Pediatr Surg 1990;25:635–7. 23. Moorman-Voestermans CGM, Heij HA, Vos A. Je- junal atresia in twins. J Pediatr Surg 1990;25: 638–9. 24. GrosfeldJL,BallantineTVN,ShoemakerR.Opera- tive management of intestinal atresia and stenosis based on pathologic findings. J Pediatr Surg 1979; 14:368–75. 25. Toulokian RJ, Hobbins JC. Maternal ultrasonogra- phyintheantenataldiagnosisofsurgicalllycorrect- able fetal abnormalities. J Pediatr Surg 1980;15: 373–7. 26. Kwodelka J, Králová M, Preis J. Unusual radiologi- cal presentation of colonic atresia: a case report. Eur J Surg 1993;159:633–4. 27. WintersWD,WeinbergerE,HatchEI.Atresiaofthe colon in neonates: radiographic findings. AJR 1992;159:1273–6. 28. Powell RW, Raffensperger JG. Congenital colonic atresia. J Pediatr Surg 1982;17:166–70. 29. OldhamKT.Atresia,stenosisandotherobstructions of the colon. In: O’Neill JA Jr, Rowe MI, Grosfeld JL, Fonkalsrud EW, Coran AG, eds. Pediatric sur- gery. St. Louis: Mosby Year Book, 1998:1361–8. 30. Pohlson EC, Hatch EI Jr, Glick PL, Tapper D. Indi- vidualized management of colonic atresia. Am J Surg 1988;155:690–2. 31. Santulli TV, Blanc WA. Congenital atresia of the intestine: pathogenesis and treatment. Ann Surg 1961;154:939–48. 32. Boles ET Jr, Vassy LE, Ralston M. Atresia of the colon. J Pediatr Surg 1976;11:69–75. 33. Pasto ME, Deiling JM, O’Hara AE, Rifkin MD, Goldberg BB. Neonatal colonic atresia: ultrasound findings. Pediatr Radiol 1984;14:346–8. 34. GangopadhyayAN,SinhaCK,SahooSP.Combined rectal atresia and rectal stenosis. Pediatr Surg Int 1997;12:605–6. 35. Berrocal T, Lamas M, Gutiérrez J, Torres I, Prieto C,delHoyoML.Congenitalanomaliesofthesmall intestine, colon, and rectum. RadioGraphics 1999; 19:1219–36. 36. Dorairajan T. Anorectal atresia. In: Stephen FD, Smith ED, Paul NW, eds. Anorectal malformations in children: update 1988. New York: Liss, 1988: 105–10. 37. Magnus RV. Rectal atresia as distinguished from rectal agenesis. J Pediatr Surg 1968;3:593–8. 38. Zia-w-MirajAhamadM,BreretonRJ,HuskissonL. Rectal atresia and stenosis. J Pediatr Surg 1995;30: 1546–50. 39. Sachs TM, Applebaum H, Touran T, Taber P, Darakjian A, Colleti P. Use of MRI in evaluation of anorectal anomalies. J Pediatr Surg 1990;25: 817–21.