SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 28
Baixar para ler offline
Os Kyriakós
   Livro 1 ― Apolo
© 2010 by Anne Marie Scoss

Capa: Anne Marie Scoss


  Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, sem a
                autorização por escrito da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança
        com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Marie Scoss




Os Kyriakós
  Livro 1 ― Apolo




    1ª Edição (2010)
Para os @migos e amigos; acreditaram mais em mim do que eu
                              mesma. Esse livro é para vocês!

         Agradeço também a minha família, por aturar minha
   compulsão em escrever, a querida Bianca, pelo trabalho de
     revisão e as sugestões, às “vozes”, pela inspiração, e aos
grandes sucessos musicais (nacionais ou internacionais); trilha
                                                sonora perfeita
Enquanto dormimos
     a dor que não se dissimula
caia gota a gota sobre nosso coração
até que, em meio ao nosso desespero
       e contra nossa vontade
      apenas pela graça divina
           vem a sabedoria

         - Ésquilo, poeta grego
Os Kiryakós - Apolo




                                          Capítulo Um




L      aura Kyriakós olhou as explicações contidas na bula
       do teste de gravidez vendido nas farmácias. Leu
atentamente as informações e analisou o resultado do
teste.
       Positivo. Estava grávida!
       Há cerca de dois meses ficara muito doente, devido
a uma virose. Seu médico prescrevera um tratamento a
base de antibióticos, alertando para o fato de que alguns
deles poderiam comprometer o efeito da pílula
anticoncepcional, já ciente de que este era seu método
contraceptivo. Recomendara inclusive que, caso não
desejasse ainda iniciar uma família, adotasse outras
opções contraceptivas.
       Apesar de sempre desejar uma família grande,
nunca chegara a conversar com Apolo, seu marido, sobre
o assunto. E, por fim, juntando esse oculto desejo ao fato


                          ~ 11 ~
Os Kiryakós - Apolo

de estar doente demais para pensar em trazer à baila esse
tema, acabara esquecendo-o completamente.
      Após o período crítico da doença, no qual seu
esposo esteve mais do que carinhoso e atencioso ―
chegando até a cancelar várias viagens agendadas,
puderam retornar lentamente o convívio amoroso. Como
ainda estava na última etapa do tratamento ... voilá!
      Bebê a bordo!
      Mas lembrar do marido e nas viagens de negócio
que ele realizava também trouxe um laivo de tristeza em
seus olhos castanhos. As ausências dele estavam cada vez
mais freqüentes. Mesmo depois de um ano casados, após
um início tão idílico, nunca imaginou sentir tamanha
solidão.
      Tentava justificá-lo, pensando que, aos 35 anos,
Apolo Kyriakós conduzia com pulso firme os negócios do
Grupo Kyriakós em vários países. Pertenciam ao grupo,
desde indústrias têxteis, canais de TV e rádio até bancos,
entre outros negócios que Laura nem imaginava. E
quando precisou assumir todos os negócios da família,
devido ao falecimento inesperado do pai, Apolo contava
com 25 anos e era recém formado em Administração.
      Nas raríssimas vezes em que seu marido tocou no
assunto, deixou entrever que fora extremamente difícil
para ele enfrentar a perda do pai naquela idade.
Entretanto, como precisou também assumir a
responsabilidade pela mãe e seus irmãos gêmeos, que na
época estavam com 16 anos, bem como dos negócios,
tivera que relegar o sofrimento a um canto obscuro, pois

                          ~ 12 ~
Os Kiryakós - Apolo

somente assim poderia sobreviver em meio a tantas
mudanças e obrigações.
      Laura conheceu Apolo quando sua turma da
faculdade de Letras visitava a Editora Minerva, outra
empresa pertencente ao Grupo Kyriakós. Seu curso estava
nas fases finais, faltando apenas dois semestres e naquele
mês a visita fazia parte da grade curricular.
      Qual não foi a surpresa da professora e dos
acadêmicos ao serem recebidos pelo próprio magnata,
que por encontrar-se na empresa decidira conduzir
pessoalmente a visita.
      Apolo havia sido maravilhoso. Encantou a todos,
mostrando o processo para editar e publicar os livros e
revistas sob o encargo da Editora Minerva... e não havia
tirado os olhos de cima de Laura durante a visita inteira, o
que a deixou muito constrangida.
      Apesar de sua compleição grande e robusta, Apolo
movia-se com agilidade e elegância. Com seus 1,90 de
altura, era extremamente forte. Mas tarde, quando se
conheceram melhor, descobrira que ele mantinha sua
musculatura invejável nadando diariamente na piscina de
sua mansão, no Brasil. Além disso, seus cabelos negros e
olhos azuis era um complemento maravilhoso para o
conjunto harmonioso de sua face belamente cinzelada.
      Laura era uma jovem de 24 anos, e considerava-se
simples e sem grandes atrativos. De tez clara, olhos
castanhos e longos cabelos castanho- claros, media 1,60
de altura e vivia lutando contra a balança.



                           ~ 13 ~
Os Kiryakós - Apolo

       Seu guarda roupa consistia em calças jeans e
camisetas de algodão coloridas. Afinal, além de ser um
traje básico e relativamente barato, ninguém reparava que
ia as aulas utilizando a mesma calça durante a semana
toda!
       Órfã de pai e mãe, fora criada por uma tia viúva e
sem filhos, irmã de sua mãe, que não ficara nada feliz em
assumir os cuidados por uma garotinha de 5 anos. Na
frente de todos, era a mãe ideal, mas, na intimidade da
casa simples que moravam, tratava Laura com desprezo e
indiferença.
       Desse modo, somente anos depois, sem o auxilio ou
apoio da tia, Laura começara a faculdade devido as
dificuldades que tinha para pagar as mensalidades. Em
função disso precisara trancar o curso várias vezes para
poder trabalhar também no horário do curso e juntar o
valor para concluir mais alguns meses dele. Durante o dia
trabalhava em uma pequena livraria e a noite, como babá.
       Voltando ao presente, Laura jogou no lixo do
banheiro os materiais descartáveis do teste de gravidez e
rapidamente terminou de arrumar-se. Ia oferecer um
jantar para seus cunhados Ártemis e Perseu e precisava
verificar o andamento dos preparativos.
       Tinha um carinho muito especial pelos cunhados,
que retribuíam tratando-a como a uma irmã. Por esse
motivo queria que o jantar fosse especial, pois seria uma
singela homenagem a Ártemis, que estava retornando de
um curso de especialização que realizara por dois meses
em Londres, e a Perseu, que fora até a Grécia vistoriar as

                          ~ 14 ~
Os Kiryakós - Apolo

plantações de oliveiras da família. Além disso, seria,
também, uma ótima oportunidade para participar a todos
à novidade! ― pensou ansiosa pelo momento.
      Enquanto descia a escadaria, anotou mentalmente
um lembrete para mais tarde conversar em particular com
Ártemis. Sendo médica, poderia lhe orientar quais
cuidados precisaria tomar de agora em diante, para que
sua gravidez fosse a mais saudável possível.
      Quando chegou ao térreo, tomou o corredor e foi
em direção ao salão principal da mansão, onde sabia que
os convidados seriam conduzidos quando chegassem.
Caminhando calmamente pelo salão, verificou que estava
tudo organizado, bem como a sala de jantar. Arina, a
governanta, como sempre fora a eficiência e discrição em
pessoa. Era muito feliz por contar com seu apoio.
      Trocando um dos vasos de flores de lugar,
arranjando-o em uma posição melhor, Laura pensou, com
certo peso na consciência, que estava feliz com a ausência
da sogra, Atena. Ela estava na Grécia, em visita aos
parentes.
      Atena Kyriakós nunca aprovou a escolha de Laura
como companheira de seu filho mais velho e, em cada
oportunidade que teve, seja entre o seio da família, seja
entre amigos próximos, fez questão de deixar isso bem
claro. O resultado era sempre um ambiente pesado e
hostil, quando estava presente.
      Isto entristecia muito Laura. Antes de conhecê-la,
cultivara o sonho secreto de que ela seria a mãe que não
tivera. Fizera vários esforços para agradar Atena,

                          ~ 15 ~
Os Kiryakós - Apolo

buscando desenvolver uma relação afável e cheia de
cumplicidade.      Entretanto     fora   sistemática    e
dolorosamente rechaçada em cada tentativa, até que
entendeu que só faria a sogra feliz no dia em Apolo se
divorciasse dela.
      E isso Laura não permitiria.
      Outro aspecto que a deixava sem chão, era o fato de
Apolo não apoiá-la nesses momentos de tensão e
confronto. Ele alegava que não podia tomar partido, pois
era apenas ciúme e insegurança por parte de ambas. Ora,
não se tratava disso apenas, mas também da falta de
respeito e de consideração da sogra para com ela! E essa
atitude de Apolo, ou falta dela, machucava Laura.
      Machucava muito.
      Respirando fundo, tentou afastar essas lembranças
desagradáveis de sua mente. Afinal hoje era um dia
especial e havia muito a se comemorar!




                          ~ 16 ~
Capítulo Dois




O       jantar fora um sucesso!
       Ártemis e Perseu se alfinetando o tempo inteiro ―
como de costume por sinal, fizeram da noite uma gostosa
confraternização.
      No final, após apreciarem a sobremesa de ambrosia,
Apolo convidou-os para uma taça de porto na biblioteca,
que foi aceito num clima de festividade.
      A biblioteca era um ambiente muito agradável.
Geralmente, nas noites em que não tinham compromisso
social ou Apolo não estava viajando, Laura e o marido se
reuniam lá para conversarem um pouco ou apenas
apreciar a companhia um do outro por alguns momentos.
Claro que isso acontecia com mais freqüência no inicio do
casamento, pois atualmente Apolo parecia evitar a
companhia da esposa.
       Quando chegaram à biblioteca, Cirilo, o mordomo,
já servia o saboroso e encorpado líquido em pequenas
taças para todos.
                          ~ 17 ~
― Cirilo, por favor, você poderia me servir um suco
de maçã? Vou dispensar o porto. ― pediu Laura, ao
mesmo tempo em que todos se acomodavam nas
poltronas confortáveis, colocadas em frente a uma lareira
de pedra, muito aconchegantes.
      ― Pois não kyría. ― atendeu o criado com todo o
respeito. Em seguida, serviu um copo longo para Laura,
contendo o saboroso sumo.
      ― Por que você não quer uma taça de porto, agápi
mou? Você sempre adorou! ― estranhou Apolo.
      ― Eu sei, querido, mas de agora em diante devo
evitar ― falou Laura em tom misterioso ao mesmo tempo
em que recebia o suco do mordomo e agradecia.
      Os olhos de Perseu e Ártemis brilharam quando
disseram juntos:
      ― O que você está escondendo? ― indagaram,
caindo na risada.
      Apolo, que não estava entendendo nada, ficou logo
preocupado e disse:
      ― Você está novamente doente? Por que não me
falou? ― continuou nervoso ― Eu sabia! Você levantou
muito rápido do repouso que o médico recomendou,
quando pegou aquela virose forte!
      ― Acalme-se, Apolo. ― tranqüilizou Laura ― Não é
nada relacionado com a virose. E seria impossível ela ter
retornado, pois você e Arina fizeram um bom trabalho.
Faltou apenas me amarrarem na cama, enquanto
convalescia! ― exclamou rindo muito ao se lembrar dos
cuidados exagerados do marido.


                          ~ 18 ~
Depois de uma pausa, quando tentou fazer um
certo suspense, sem muito sucesso, uma vez que o sorriso
brincava em seus lábios. Finalmente Laura confessou,
animada:
      ― Eu estou grávida! Apolo, nós vamos ter um bebê!
― falou muito emocionada.
      Enquanto Perseu e Ártemis deram vivas de alegria e
apressaram-se a cumprimentar o casal pelo momento
jubiloso, Apolo permanecia sentado, estático, na poltrona,
olhando Laura fixamente.
      Tentando compreender a reação que a noticia
originou, Laura continuou rapidamente:
      ― Eu sei que nunca conversamos sobre o assunto.
Até imaginei que você não falaria nada enquanto eu não
me formasse, mas está etapa já concluí. Estou trabalhando
na Editora e, apesar de você não gostar de me ver em um
cargo mais simples, estou gostando muito. ― falou
ansiosa e continuou toda atrapalhada ― Bom, eu estava
tomando pílula anticoncepcional, mas pelo que o médico
me avisou, os antibióticos podem ter anulado o efeito
dela.
      Apolo não dizia nada. Isto estava deixando Laura
agoniada, principalmente ao ver a expressão do marido,
cuja fisionomia estava transtornada. Ele aparentava não
escutar nem enxergar a alegria dos irmãos frente a
chegada do primeiro sobrinho.
      ― Gostaria que vocês me deixassem sozinho com
Laura. ― falou Apolo em tom baixo.




                          ~ 19 ~
Percebendo que os irmãos não ouviram seu
comando devido a algazarra, repetiu a sentença entre
dentes, subindo o tom.
      O comando silenciou todos. Mesmo não
compreendendo a atitude atípica de Apolo, Ártemis e
Perseu se afastaram de Laura, preparando-se para
deixarem a biblioteca.
      Enquanto esperava os irmãos saírem da sala, Apolo
se dirigiu silenciosamente à grande janela que ficava no
lado oposto de onde estavam acomodados. Ficou lá, de
costas para Laura, com o corpo um pouco inclinado, as
mãos segurando o parapeito da janela.
      A primeira pessoa que saíra da paralisia que
acometera a todos, para atender ao pedido do irmão mais
velho, fora Ártemis. Ela se aproximou mais de Laura,
abraçando-a forte. Considerava Laura muito mais do que
uma cunhada. Encontrara nela uma amiga muito querida,
uma irmã. E em nome de todos esses sentimentos falou
junto ao seu ouvido, tentando animá-la ao mesmo tempo
em que procurava tranqüilizar o próprio coração:
      ― Ele deve estar assustado com a novidade. Logo
ele cairá em si e verá a confusão tola que está armando.
      ― Espero que sim, querida! Mas algo em meu
íntimo me diz que esta situação está apenas começando!
― estabeleceu Laura com voz enfraquecida, retribuindo o
abraço forte.
      Assim que a irmã se afastou, Perseu, que aguardava
ao lado sua vez de despedir-se de Laura, abraçou-a
também.


                         ~ 20 ~
― Calma, Laura. Nós vamos dormir essa noite aqui
na mansão. Se você precisar de nós, por favor nos chame,
ok?
       ― Obrigada, meus queridos. ― respondeu Laura
muito agradecida pelo apoio de ambos.
       Apolo escutou o murmúrio da despedida, mas não
respondeu aos cumprimentos dos irmãos.
       Estava perplexo.
       Estarrecido.
       Angustiado.
       Quando ouviu o ruído da porta fechando,
endireitou o corpo. Virou lentamente em direção a Laura
e perguntou, tentando se controlar:
       ― De quem é esse filho, Laura?
       Laura, concentrada em analisar a linguagem
corporal de Apolo, cada vez mais preocupada com sua
atitude, quase não escutou a pergunta. E quando escutou,
não acreditou no que ouviu.
       ― O quê? ― exclamou aparvalhada.
       ― Você ouviu muito bem o que eu perguntei. ―
disse Apolo com os lábios crispados de raiva,
caminhando em direção de Laura. ― Quem é o pai dessa
criança? ― gritou exaltado.
       ― Apolo, por Deus! Que tipo de pergunta é essa? É
claro que você é o pai dessa criança! O que está
acontecendo com você? ― questionou Laura, sem
entender nada.
       ― Então me esclareça uma coisa, cara esposa. ―
ironizou Apolo ― Como um homem estéril pode ter um
filho?

                         ~ 21 ~
Laura ficou atordoada, para não dizer chocada, com
o que Apolo estava dizendo.
       Estéril?
       Como?
       ― Que história é essa, Apolo? Como você pode ser
estéril, quando estou grávida? E por que você nunca me
contou sobre essa suposta suspeita?
       ― Infelizmente para você, não é uma suspeita.
Alguns meses após nosso casamento, precisei de um
documento que estava armazenado no cofre da biblioteca,
atrás do Monet que você tanto ama. Ao tentar localizá-lo
me deparei com um papel relativamente antigo, cujo
timbre pertencia a um laboratório de exames clínicos.
       Percebi nele meu nome e dados técnicos, mas nunca
o havia visto antes. Como Ártemis estava viajando em um
dos seus cursos de estudo, não pude mostrar para ela que
leria tranqüilamente aquele resultado médico. Assim,
marquei uma consulta com Dr. Aleixo, o médico da
família, e apresentei o papel pedindo esclarecimentos. ―
Apolo fez uma pausa, respirando fundo, depois
continuou com os olhos parecendo dois profundos lagos
gelados ― Dr Aleixo tentou me explicar da forma mais
delicada que pode, mas penso que seja um pouco
complicado, quando se informa alguém que é estéril. ―
ironizou.
       Fez mais uma pausa, como se estivesse ordenando
seus pensamentos. Em seguida continuou, praticamente
cuspindo as palavras. ― Dr Aleixo disse que, quando
pequeno, contrai caxumba. Como ela não foi devidamente
cuidada, ocorreu o que chamam de caxumba recolhida.

                          ~ 22 ~
Isso para meninos é muito perigoso, segundo o doutor.
Exames foram feitos embora eu nunca soubesse do
resultado até aquele momento. ― finalizou ― E o fato de
você estar grávida, nessa situação, minha cara, para mim
é muito clara. ― voltou a falar. A raiva impregnando cada
palavra.
      ― Apolo, isso só pode ser um mal entendido... ―
tentou falar Laura, sendo bruscamente interrompida.
      ― Sim. Um enorme mal entendido que você
cometeu ao me trair e achar que eu nunca saberia,
assumindo assim o seu bastardo como se fosse meu filho!
― gritou enfurecido.
      Laura sentiu como se houvesse levado uma
bofetada. Nunca imaginara que um momento que deveria
ser alegre e auspicioso se transformaria num pesadelo.
      ― Apolo ― Laura tentou chamar a razão ―
precisamos conversar com calma. Só pode ser um engano.
Alguém está mentindo para você!
      – É claro que há engano e mentira no meio disso
tudo! ― Apolo interrompeu novamente Laura, agarrando-
lhe os braços com força, ignorando a expressão
angustiada que lia em sua fisionomia. ― Você cometeu o
engano de tentar me enganar, mentir para mim. Mas
chega! Você vai embora desta casa, da minha vida! Vá
para quinto dos infernos, mas eu quero você fora daqui,
está me ouvindo? ― sentenciou Apolo entre dentes,
dando um chacoalhão em Laura para reforçar a ordem,
sem nenhuma compaixão.
      Laura, trêmula com toda a situação, sentiu uma
onda de náusea e alguns pontos pretos na vista. Respirou

                          ~ 23 ~
fundo, rezando para que o mal-estar passasse. Sentia-se
em meio a um pesadelo interminável.
      Percebendo que Apolo estava completamente
transtornado e não lhe daria ouvidos, nem voltaria atrás
em sua decisão, decidiu não levar adiante a discussão.
Sua náusea parecia aumentar a cada momento, além de
sentir-se sem forças para fazê-lo voltar a razão.
      ― Muito bem. Eu vou embora. Mas você está
contribuindo para aumentar esse terrível erro, Apolo. E
quem está fazendo essa brincadeira cruel será descoberto,
mais cedo ou mais tarde e pagará muito caro!
      Apolo, que voltara a ficar de costas para Laura
como se a simples visão dela o ofendesse, não seu deu ao
trabalho de responder.
      Laura ergueu-se lentamente da poltrona. Sem notar,
colocou sobre a mesa de canto o copo com o suco
esquecido e caminhou um tanto trôpega em direção a
porta. Colocara as mãos sobre o próprio ventre, numa
tentativa inconsciente de proteger seu bebê.
       Não se lembrava exatamente de como chegara até a
escada, mas mesmo assim subiu por ela. Cada passada
era extremamente penosa, sentindo como se seu corpo
pesasse uma tonelada.
      Já no alto da escadaria, caminhou em direção dos
quartos.
      Ao entrar na suíte que ocupava com o marido, uma
onda de emoção a envolveu.
      Podia vê-los recém-casados adentrando no quarto
pela primeira vez, com ela no colo de Apolo ralhando e
rindo, pedindo para descer, pois era muito pesada.

                          ~ 24 ~
Escutar a forte risada dele em resposta a esse
comentário, dizendo para não se preocupar, uma vez que
casara com um homem forte.
      Podia enxergá-los deitados na cama, fazendo amor.
Apolo acordando-a com um delicioso beijo, para depois
lhe apresentar uma bandeja delicadamente preparada
para que os dois tomassem café na cama. E outras tantas
lembranças desse ano que viveram juntos!
      Não podia acreditar. Não podia estar tudo acabado!
      Sentiu que a náusea aumentava, obrigando-a a
correr para o banheiro da suíte. Apenas teve tempo de
erguer a tampa do bacio sanitário e cair de ajoelhar, antes
de vomitar todo o jantar. Quando não tinha mais o que
por para fora puxou a descarga, levantou-se e, com as
pernas sem muita firmeza, foi até a pia para lavar o rosto
várias vezes com a água fria da torneira. Alcançou a
toalha pendurada ao lado e enxugou o rosto e as mãos.
      Ao abaixar a toalha, viu o próprio reflexo no
espelho colocado na parede, acima da pia. Quem era
aquela mulher pálida e de olhos vazios?
      Sacudindo a cabeça, tentando não pensar em mais
nada que não fosse sair daquela casa, Laura soltou a
toalha sobre a pia e voltou ao quarto. Lá, interfonou para
Cirilo, pedindo que providenciasse um táxi. Depois
encontrou sua velha bolsa de náilon guardada no fundo
do guarda-roupa. Pegou-a e deixou-a sobre a cama,
enquanto separava algumas peças de roupas para levar.
      Apesar de não ter ouvido nenhum ruído, sentiu que
não estava mais sozinha no quarto. Virando-se, encontrou
Apolo com as mãos apoiadas em cada lado do marco da

                          ~ 25 ~
porta ― como quem precisa de apoio para manter-se em
pé ― pálido ao extremo, olhando fixamente para a bolsa
velha e desbotada.
       ― Laura ― fez uma pausa tentando encontrar as
palavras certas. Por fim, olhando-a nos olhos, continuou
― se você disser a verdade, se você disser o nome do
homem com que me traiu, eu prometo que vou lutar para
perdoá-la. ― começou a falar Apolo, em um tom
moderadamente controlado.
       ― Como posso fazer isso? Não posso lhe dar algo
que não existe! ― exaltou-se Laura. ― Ora, você é um
imbecil que não veria a verdade nem que ela estivesse na
sua frente e contivesse uma placa em letras de néon
laranja fosforescente escrito “VERDADE”! ― gritou.
       ― Cuidado com o que você fala ― ameaçou Apolo.
       ― Não, Apolo, cuidado você com o que fala. Eu
estou cansada, com náuseas, magoada, ferida! Nunca
pensei que isso um dia aconteceria comigo. O homem
com quem casei, que prometeu me amar na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, e todo o blábláblá que
acompanha, é uma verdadeira fraude, pois no primeiro
obstáculo me chuta, sem me ouvir!
       ― Penso que você está invertendo os papeis, minha
cara. Não esqueça que você está grávida, mas eu sou
estéril!
       ― Não há a menor possibilidade de você ser estéril
Apolo, por dois motivos muito simples. Estou grávida e
nunca estive com outro homem em toda a minha vida
além de você! ― parou de falar, tentando se acalmar.
Olhando para o rosto do marido, Laura compreendeu que

                          ~ 26 ~
não chegara nem perto de convencê-lo quanto sua
inocência. Respirando fundo, resolveu encerrar logo a
discussão: ― Vejo que apesar de tudo o que falei, você não
mudou de opinião. Muito bem. Chega! Já estou saindo.
      Pegando a bolsa de náilon, jogou as roupas que
separara de qualquer jeito. Com o canto dos olhos notou
que Apolo se afastou da porta, posicionando-se do outro
lado da cama de casal.
      Parecia ironia ter aquele móvel agora os separando
― pensou Laura. Um local que simbolizou não apenas a
união dos seus corpos, mas também alguns dos
momentos mais ternos de seu casamento.
      Decidida a tentar, por hora, bloquear um
pouquinho só que fosse do sofrimento que sentia, colocou
a alça da bolsa no ombro e se dirigiu à porta da suíte.
Quando saía do quarto, ainda escutou Apolo dizer, em
tom cruel e cortante:
      ― Deixe seu endereço com Kostopoulos, o
advogado. Nosso contato será todo por intermédio dele,
que providenciara o encaminhamento e a papelada para
dar entrada com o processo de divórcio. Quero me ver
livre de você o mais rápido possível, para esquecer tudo
isso o quanto antes.
      E tencionando feri-la tanto quanto se sentia ferido,
continuou:
       ― E depois vou procurar junto à comunidade grega
uma esbelta e elegante mulher para ser minha
companheira de verdade, como minha mãe sempre me
aconselhou a fazer. Uma grega que não atribui a cada
comentário feito, o peso da perseguição e conspiração.

                          ~ 27 ~
Nem fique se lamuriando, insegura, a cada divergência
que ocorre ou tendo chiliques de ciúmes. E, claro, ela
entenderá valor da honra e da fidelidade. ― desfechou,
sem piedade, Apolo.
      Laura sentiu que seu coração parou uma batida.
Uma dor profunda corroeu-lhe a alma e depois a partiu
ao meio. Seus olhos encheram-se de um imenso pesar ao
assimilar tudo o que perdiam e nunca mais poderiam
resgatar. Infelizmente, neste momento, não havia mais
nada que Laura pudesse fazer. Precisava pensar em seu
bebê. ― raciocinou em meio às ondas de dor e amargura.
      Então, sem dizer uma só palavra nem olhar para
trás, continuou caminhando até a saída... a saída do
quarto...da casa...de uma vida.




                        ~ 28 ~

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Mais procurados (19)

Yemanjá
YemanjáYemanjá
Yemanjá
 
Mitologia dos orixás
Mitologia dos orixásMitologia dos orixás
Mitologia dos orixás
 
O ultimo Ato - Volume 3
O ultimo Ato - Volume 3O ultimo Ato - Volume 3
O ultimo Ato - Volume 3
 
Gabriel o pensador
Gabriel o pensadorGabriel o pensador
Gabriel o pensador
 
Filhos de oxalá
Filhos de oxaláFilhos de oxalá
Filhos de oxalá
 
Ogum
Ogum Ogum
Ogum
 
Nanã
NanãNanã
Nanã
 
FELIX ARAUJO - ou o martirio de um lider...
FELIX ARAUJO - ou o martirio de um lider...FELIX ARAUJO - ou o martirio de um lider...
FELIX ARAUJO - ou o martirio de um lider...
 
Sol da minha vida
Sol da minha vidaSol da minha vida
Sol da minha vida
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
 
Estórias com sabor a nordeste
Estórias com  sabor a nordesteEstórias com  sabor a nordeste
Estórias com sabor a nordeste
 
E o sol voltou a brilhar
E o sol voltou a brilharE o sol voltou a brilhar
E o sol voltou a brilhar
 
Eurípedes Barsanulfo - o educador e médium
Eurípedes Barsanulfo -  o educador e médiumEurípedes Barsanulfo -  o educador e médium
Eurípedes Barsanulfo - o educador e médium
 
Palestra 03 eurípedes o homem e a missão
Palestra 03 eurípedes o homem e a missãoPalestra 03 eurípedes o homem e a missão
Palestra 03 eurípedes o homem e a missão
 
80507841 ebos-para-todos-os-fins
80507841 ebos-para-todos-os-fins80507841 ebos-para-todos-os-fins
80507841 ebos-para-todos-os-fins
 
Ciclo II 2011
Ciclo II 2011Ciclo II 2011
Ciclo II 2011
 
Os grandes vultos do espiritismo
Os grandes vultos do espiritismoOs grandes vultos do espiritismo
Os grandes vultos do espiritismo
 
Memorial sebastiana maria de oliveira
Memorial sebastiana maria de oliveiraMemorial sebastiana maria de oliveira
Memorial sebastiana maria de oliveira
 
Cartas para madame austen edição 01 março de 2013
Cartas para madame austen edição 01 março de 2013Cartas para madame austen edição 01 março de 2013
Cartas para madame austen edição 01 março de 2013
 

Semelhante a Os Kyriakós: Apolo - Cap. I e II

Inquietos - Luiz Delgado.pdf
Inquietos - Luiz Delgado.pdfInquietos - Luiz Delgado.pdf
Inquietos - Luiz Delgado.pdfValniksonViana
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos Atenienses
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos AteniensesSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos Atenienses
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos AteniensesRicardo Azevedo
 
Livro 100 ANOS SALGUEIRO
Livro 100 ANOS SALGUEIROLivro 100 ANOS SALGUEIRO
Livro 100 ANOS SALGUEIRORonan Salgueiro
 
58859307 666-ebos
58859307 666-ebos58859307 666-ebos
58859307 666-ebosAndré Ap
 
Sementes do amor divino
Sementes do amor divinoSementes do amor divino
Sementes do amor divinorenatamaraujo
 
A magia das formas pensamento dolores ashcroft nowicki e j. h. brennan
A magia das formas pensamento  dolores ashcroft nowicki e j. h. brennanA magia das formas pensamento  dolores ashcroft nowicki e j. h. brennan
A magia das formas pensamento dolores ashcroft nowicki e j. h. brennanTsara de Alta Magia
 
As confissoes das irmas sulliva natalie standifor
As confissoes das irmas sulliva   natalie standiforAs confissoes das irmas sulliva   natalie standifor
As confissoes das irmas sulliva natalie standiforgabriellaferreira17morais
 
O cadaver atras do biombo agatha christie
O cadaver atras do biombo   agatha christieO cadaver atras do biombo   agatha christie
O cadaver atras do biombo agatha christiepauloweimann
 
Uma viagem espiritual nicholas sparks e billy mills
Uma viagem espiritual   nicholas sparks e billy millsUma viagem espiritual   nicholas sparks e billy mills
Uma viagem espiritual nicholas sparks e billy millsBruna Cardozo
 
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)Regina Freitas
 
16934717 Espiritismo Infantil Historia 44
16934717 Espiritismo Infantil Historia 4416934717 Espiritismo Infantil Historia 44
16934717 Espiritismo Infantil Historia 44Ana Cristina Freitas
 
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítuloA Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítuloEditora Belas-Letras
 
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptx
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptxA Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptx
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptxEmma406338
 
Eliphas levi biografia
Eliphas levi   biografiaEliphas levi   biografia
Eliphas levi biografiaMarcus Marcus
 

Semelhante a Os Kyriakós: Apolo - Cap. I e II (20)

Em abril, livros mil
Em abril, livros milEm abril, livros mil
Em abril, livros mil
 
Inquietos - Luiz Delgado.pdf
Inquietos - Luiz Delgado.pdfInquietos - Luiz Delgado.pdf
Inquietos - Luiz Delgado.pdf
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos Atenienses
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos AteniensesSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos Atenienses
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 114 - Novos Atenienses
 
Livro 100 ANOS SALGUEIRO
Livro 100 ANOS SALGUEIROLivro 100 ANOS SALGUEIRO
Livro 100 ANOS SALGUEIRO
 
E a vida continua...
E a vida continua...E a vida continua...
E a vida continua...
 
58859307 666-ebos
58859307 666-ebos58859307 666-ebos
58859307 666-ebos
 
Sementes do amor divino
Sementes do amor divinoSementes do amor divino
Sementes do amor divino
 
A magia das formas pensamento dolores ashcroft nowicki e j. h. brennan
A magia das formas pensamento  dolores ashcroft nowicki e j. h. brennanA magia das formas pensamento  dolores ashcroft nowicki e j. h. brennan
A magia das formas pensamento dolores ashcroft nowicki e j. h. brennan
 
As confissoes das irmas sulliva natalie standifor
As confissoes das irmas sulliva   natalie standiforAs confissoes das irmas sulliva   natalie standifor
As confissoes das irmas sulliva natalie standifor
 
O cadaver atras do biombo agatha christie
O cadaver atras do biombo   agatha christieO cadaver atras do biombo   agatha christie
O cadaver atras do biombo agatha christie
 
Livro Digital
Livro DigitalLivro Digital
Livro Digital
 
A Moreninha.docx
A Moreninha.docxA Moreninha.docx
A Moreninha.docx
 
Uma viagem espiritual nicholas sparks e billy mills
Uma viagem espiritual   nicholas sparks e billy millsUma viagem espiritual   nicholas sparks e billy mills
Uma viagem espiritual nicholas sparks e billy mills
 
Abik
AbikAbik
Abik
 
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)
46578542 tratado-dos-256-odus-de-ifa-brasil (1)
 
16934717 Espiritismo Infantil Historia 44
16934717 Espiritismo Infantil Historia 4416934717 Espiritismo Infantil Historia 44
16934717 Espiritismo Infantil Historia 44
 
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítuloA Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
 
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptx
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptxA Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptx
A Moreninhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.pptx
 
Gaivota 180 web
Gaivota 180 webGaivota 180 web
Gaivota 180 web
 
Eliphas levi biografia
Eliphas levi   biografiaEliphas levi   biografia
Eliphas levi biografia
 

Último

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOMarcosViniciusLemesL
 
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfIedaGoethe
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdfJorge Andrade
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBAline Santana
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISVitor Vieira Vasconcelos
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024Sandra Pratas
 
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxfabiolalopesmartins1
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfPastor Robson Colaço
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarIedaGoethe
 

Último (20)

activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANOInvestimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
Investimentos. EDUCAÇÃO FINANCEIRA 8º ANO
 
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdfcartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
cartilha-pdi-plano-de-desenvolvimento-individual-do-estudante.pdf
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
02. Informática - Windows 10 apostila completa.pdf
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO3_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASBCRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
CRÔNICAS DE UMA TURMA - TURMA DE 9ºANO - EASB
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGISPrática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
 
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
HORA DO CONTO4_BECRE D. CARLOS I_2023_2024
 
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptxA experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
A experiência amorosa e a reflexão sobre o Amor.pptx
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdfO Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
O Universo Cuckold - Compartilhando a Esposas Com Amigo.pdf
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogarCaixa jogo da onça. para imprimir e jogar
Caixa jogo da onça. para imprimir e jogar
 

Os Kyriakós: Apolo - Cap. I e II

  • 1.
  • 2. Os Kyriakós Livro 1 ― Apolo
  • 3. © 2010 by Anne Marie Scoss Capa: Anne Marie Scoss Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, sem a autorização por escrito da autora. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
  • 4.
  • 5. Marie Scoss Os Kyriakós Livro 1 ― Apolo 1ª Edição (2010)
  • 6.
  • 7. Para os @migos e amigos; acreditaram mais em mim do que eu mesma. Esse livro é para vocês! Agradeço também a minha família, por aturar minha compulsão em escrever, a querida Bianca, pelo trabalho de revisão e as sugestões, às “vozes”, pela inspiração, e aos grandes sucessos musicais (nacionais ou internacionais); trilha sonora perfeita
  • 8.
  • 9. Enquanto dormimos a dor que não se dissimula caia gota a gota sobre nosso coração até que, em meio ao nosso desespero e contra nossa vontade apenas pela graça divina vem a sabedoria - Ésquilo, poeta grego
  • 10.
  • 11. Os Kiryakós - Apolo Capítulo Um L aura Kyriakós olhou as explicações contidas na bula do teste de gravidez vendido nas farmácias. Leu atentamente as informações e analisou o resultado do teste. Positivo. Estava grávida! Há cerca de dois meses ficara muito doente, devido a uma virose. Seu médico prescrevera um tratamento a base de antibióticos, alertando para o fato de que alguns deles poderiam comprometer o efeito da pílula anticoncepcional, já ciente de que este era seu método contraceptivo. Recomendara inclusive que, caso não desejasse ainda iniciar uma família, adotasse outras opções contraceptivas. Apesar de sempre desejar uma família grande, nunca chegara a conversar com Apolo, seu marido, sobre o assunto. E, por fim, juntando esse oculto desejo ao fato ~ 11 ~
  • 12. Os Kiryakós - Apolo de estar doente demais para pensar em trazer à baila esse tema, acabara esquecendo-o completamente. Após o período crítico da doença, no qual seu esposo esteve mais do que carinhoso e atencioso ― chegando até a cancelar várias viagens agendadas, puderam retornar lentamente o convívio amoroso. Como ainda estava na última etapa do tratamento ... voilá! Bebê a bordo! Mas lembrar do marido e nas viagens de negócio que ele realizava também trouxe um laivo de tristeza em seus olhos castanhos. As ausências dele estavam cada vez mais freqüentes. Mesmo depois de um ano casados, após um início tão idílico, nunca imaginou sentir tamanha solidão. Tentava justificá-lo, pensando que, aos 35 anos, Apolo Kyriakós conduzia com pulso firme os negócios do Grupo Kyriakós em vários países. Pertenciam ao grupo, desde indústrias têxteis, canais de TV e rádio até bancos, entre outros negócios que Laura nem imaginava. E quando precisou assumir todos os negócios da família, devido ao falecimento inesperado do pai, Apolo contava com 25 anos e era recém formado em Administração. Nas raríssimas vezes em que seu marido tocou no assunto, deixou entrever que fora extremamente difícil para ele enfrentar a perda do pai naquela idade. Entretanto, como precisou também assumir a responsabilidade pela mãe e seus irmãos gêmeos, que na época estavam com 16 anos, bem como dos negócios, tivera que relegar o sofrimento a um canto obscuro, pois ~ 12 ~
  • 13. Os Kiryakós - Apolo somente assim poderia sobreviver em meio a tantas mudanças e obrigações. Laura conheceu Apolo quando sua turma da faculdade de Letras visitava a Editora Minerva, outra empresa pertencente ao Grupo Kyriakós. Seu curso estava nas fases finais, faltando apenas dois semestres e naquele mês a visita fazia parte da grade curricular. Qual não foi a surpresa da professora e dos acadêmicos ao serem recebidos pelo próprio magnata, que por encontrar-se na empresa decidira conduzir pessoalmente a visita. Apolo havia sido maravilhoso. Encantou a todos, mostrando o processo para editar e publicar os livros e revistas sob o encargo da Editora Minerva... e não havia tirado os olhos de cima de Laura durante a visita inteira, o que a deixou muito constrangida. Apesar de sua compleição grande e robusta, Apolo movia-se com agilidade e elegância. Com seus 1,90 de altura, era extremamente forte. Mas tarde, quando se conheceram melhor, descobrira que ele mantinha sua musculatura invejável nadando diariamente na piscina de sua mansão, no Brasil. Além disso, seus cabelos negros e olhos azuis era um complemento maravilhoso para o conjunto harmonioso de sua face belamente cinzelada. Laura era uma jovem de 24 anos, e considerava-se simples e sem grandes atrativos. De tez clara, olhos castanhos e longos cabelos castanho- claros, media 1,60 de altura e vivia lutando contra a balança. ~ 13 ~
  • 14. Os Kiryakós - Apolo Seu guarda roupa consistia em calças jeans e camisetas de algodão coloridas. Afinal, além de ser um traje básico e relativamente barato, ninguém reparava que ia as aulas utilizando a mesma calça durante a semana toda! Órfã de pai e mãe, fora criada por uma tia viúva e sem filhos, irmã de sua mãe, que não ficara nada feliz em assumir os cuidados por uma garotinha de 5 anos. Na frente de todos, era a mãe ideal, mas, na intimidade da casa simples que moravam, tratava Laura com desprezo e indiferença. Desse modo, somente anos depois, sem o auxilio ou apoio da tia, Laura começara a faculdade devido as dificuldades que tinha para pagar as mensalidades. Em função disso precisara trancar o curso várias vezes para poder trabalhar também no horário do curso e juntar o valor para concluir mais alguns meses dele. Durante o dia trabalhava em uma pequena livraria e a noite, como babá. Voltando ao presente, Laura jogou no lixo do banheiro os materiais descartáveis do teste de gravidez e rapidamente terminou de arrumar-se. Ia oferecer um jantar para seus cunhados Ártemis e Perseu e precisava verificar o andamento dos preparativos. Tinha um carinho muito especial pelos cunhados, que retribuíam tratando-a como a uma irmã. Por esse motivo queria que o jantar fosse especial, pois seria uma singela homenagem a Ártemis, que estava retornando de um curso de especialização que realizara por dois meses em Londres, e a Perseu, que fora até a Grécia vistoriar as ~ 14 ~
  • 15. Os Kiryakós - Apolo plantações de oliveiras da família. Além disso, seria, também, uma ótima oportunidade para participar a todos à novidade! ― pensou ansiosa pelo momento. Enquanto descia a escadaria, anotou mentalmente um lembrete para mais tarde conversar em particular com Ártemis. Sendo médica, poderia lhe orientar quais cuidados precisaria tomar de agora em diante, para que sua gravidez fosse a mais saudável possível. Quando chegou ao térreo, tomou o corredor e foi em direção ao salão principal da mansão, onde sabia que os convidados seriam conduzidos quando chegassem. Caminhando calmamente pelo salão, verificou que estava tudo organizado, bem como a sala de jantar. Arina, a governanta, como sempre fora a eficiência e discrição em pessoa. Era muito feliz por contar com seu apoio. Trocando um dos vasos de flores de lugar, arranjando-o em uma posição melhor, Laura pensou, com certo peso na consciência, que estava feliz com a ausência da sogra, Atena. Ela estava na Grécia, em visita aos parentes. Atena Kyriakós nunca aprovou a escolha de Laura como companheira de seu filho mais velho e, em cada oportunidade que teve, seja entre o seio da família, seja entre amigos próximos, fez questão de deixar isso bem claro. O resultado era sempre um ambiente pesado e hostil, quando estava presente. Isto entristecia muito Laura. Antes de conhecê-la, cultivara o sonho secreto de que ela seria a mãe que não tivera. Fizera vários esforços para agradar Atena, ~ 15 ~
  • 16. Os Kiryakós - Apolo buscando desenvolver uma relação afável e cheia de cumplicidade. Entretanto fora sistemática e dolorosamente rechaçada em cada tentativa, até que entendeu que só faria a sogra feliz no dia em Apolo se divorciasse dela. E isso Laura não permitiria. Outro aspecto que a deixava sem chão, era o fato de Apolo não apoiá-la nesses momentos de tensão e confronto. Ele alegava que não podia tomar partido, pois era apenas ciúme e insegurança por parte de ambas. Ora, não se tratava disso apenas, mas também da falta de respeito e de consideração da sogra para com ela! E essa atitude de Apolo, ou falta dela, machucava Laura. Machucava muito. Respirando fundo, tentou afastar essas lembranças desagradáveis de sua mente. Afinal hoje era um dia especial e havia muito a se comemorar! ~ 16 ~
  • 17. Capítulo Dois O jantar fora um sucesso! Ártemis e Perseu se alfinetando o tempo inteiro ― como de costume por sinal, fizeram da noite uma gostosa confraternização. No final, após apreciarem a sobremesa de ambrosia, Apolo convidou-os para uma taça de porto na biblioteca, que foi aceito num clima de festividade. A biblioteca era um ambiente muito agradável. Geralmente, nas noites em que não tinham compromisso social ou Apolo não estava viajando, Laura e o marido se reuniam lá para conversarem um pouco ou apenas apreciar a companhia um do outro por alguns momentos. Claro que isso acontecia com mais freqüência no inicio do casamento, pois atualmente Apolo parecia evitar a companhia da esposa. Quando chegaram à biblioteca, Cirilo, o mordomo, já servia o saboroso e encorpado líquido em pequenas taças para todos. ~ 17 ~
  • 18. ― Cirilo, por favor, você poderia me servir um suco de maçã? Vou dispensar o porto. ― pediu Laura, ao mesmo tempo em que todos se acomodavam nas poltronas confortáveis, colocadas em frente a uma lareira de pedra, muito aconchegantes. ― Pois não kyría. ― atendeu o criado com todo o respeito. Em seguida, serviu um copo longo para Laura, contendo o saboroso sumo. ― Por que você não quer uma taça de porto, agápi mou? Você sempre adorou! ― estranhou Apolo. ― Eu sei, querido, mas de agora em diante devo evitar ― falou Laura em tom misterioso ao mesmo tempo em que recebia o suco do mordomo e agradecia. Os olhos de Perseu e Ártemis brilharam quando disseram juntos: ― O que você está escondendo? ― indagaram, caindo na risada. Apolo, que não estava entendendo nada, ficou logo preocupado e disse: ― Você está novamente doente? Por que não me falou? ― continuou nervoso ― Eu sabia! Você levantou muito rápido do repouso que o médico recomendou, quando pegou aquela virose forte! ― Acalme-se, Apolo. ― tranqüilizou Laura ― Não é nada relacionado com a virose. E seria impossível ela ter retornado, pois você e Arina fizeram um bom trabalho. Faltou apenas me amarrarem na cama, enquanto convalescia! ― exclamou rindo muito ao se lembrar dos cuidados exagerados do marido. ~ 18 ~
  • 19. Depois de uma pausa, quando tentou fazer um certo suspense, sem muito sucesso, uma vez que o sorriso brincava em seus lábios. Finalmente Laura confessou, animada: ― Eu estou grávida! Apolo, nós vamos ter um bebê! ― falou muito emocionada. Enquanto Perseu e Ártemis deram vivas de alegria e apressaram-se a cumprimentar o casal pelo momento jubiloso, Apolo permanecia sentado, estático, na poltrona, olhando Laura fixamente. Tentando compreender a reação que a noticia originou, Laura continuou rapidamente: ― Eu sei que nunca conversamos sobre o assunto. Até imaginei que você não falaria nada enquanto eu não me formasse, mas está etapa já concluí. Estou trabalhando na Editora e, apesar de você não gostar de me ver em um cargo mais simples, estou gostando muito. ― falou ansiosa e continuou toda atrapalhada ― Bom, eu estava tomando pílula anticoncepcional, mas pelo que o médico me avisou, os antibióticos podem ter anulado o efeito dela. Apolo não dizia nada. Isto estava deixando Laura agoniada, principalmente ao ver a expressão do marido, cuja fisionomia estava transtornada. Ele aparentava não escutar nem enxergar a alegria dos irmãos frente a chegada do primeiro sobrinho. ― Gostaria que vocês me deixassem sozinho com Laura. ― falou Apolo em tom baixo. ~ 19 ~
  • 20. Percebendo que os irmãos não ouviram seu comando devido a algazarra, repetiu a sentença entre dentes, subindo o tom. O comando silenciou todos. Mesmo não compreendendo a atitude atípica de Apolo, Ártemis e Perseu se afastaram de Laura, preparando-se para deixarem a biblioteca. Enquanto esperava os irmãos saírem da sala, Apolo se dirigiu silenciosamente à grande janela que ficava no lado oposto de onde estavam acomodados. Ficou lá, de costas para Laura, com o corpo um pouco inclinado, as mãos segurando o parapeito da janela. A primeira pessoa que saíra da paralisia que acometera a todos, para atender ao pedido do irmão mais velho, fora Ártemis. Ela se aproximou mais de Laura, abraçando-a forte. Considerava Laura muito mais do que uma cunhada. Encontrara nela uma amiga muito querida, uma irmã. E em nome de todos esses sentimentos falou junto ao seu ouvido, tentando animá-la ao mesmo tempo em que procurava tranqüilizar o próprio coração: ― Ele deve estar assustado com a novidade. Logo ele cairá em si e verá a confusão tola que está armando. ― Espero que sim, querida! Mas algo em meu íntimo me diz que esta situação está apenas começando! ― estabeleceu Laura com voz enfraquecida, retribuindo o abraço forte. Assim que a irmã se afastou, Perseu, que aguardava ao lado sua vez de despedir-se de Laura, abraçou-a também. ~ 20 ~
  • 21. ― Calma, Laura. Nós vamos dormir essa noite aqui na mansão. Se você precisar de nós, por favor nos chame, ok? ― Obrigada, meus queridos. ― respondeu Laura muito agradecida pelo apoio de ambos. Apolo escutou o murmúrio da despedida, mas não respondeu aos cumprimentos dos irmãos. Estava perplexo. Estarrecido. Angustiado. Quando ouviu o ruído da porta fechando, endireitou o corpo. Virou lentamente em direção a Laura e perguntou, tentando se controlar: ― De quem é esse filho, Laura? Laura, concentrada em analisar a linguagem corporal de Apolo, cada vez mais preocupada com sua atitude, quase não escutou a pergunta. E quando escutou, não acreditou no que ouviu. ― O quê? ― exclamou aparvalhada. ― Você ouviu muito bem o que eu perguntei. ― disse Apolo com os lábios crispados de raiva, caminhando em direção de Laura. ― Quem é o pai dessa criança? ― gritou exaltado. ― Apolo, por Deus! Que tipo de pergunta é essa? É claro que você é o pai dessa criança! O que está acontecendo com você? ― questionou Laura, sem entender nada. ― Então me esclareça uma coisa, cara esposa. ― ironizou Apolo ― Como um homem estéril pode ter um filho? ~ 21 ~
  • 22. Laura ficou atordoada, para não dizer chocada, com o que Apolo estava dizendo. Estéril? Como? ― Que história é essa, Apolo? Como você pode ser estéril, quando estou grávida? E por que você nunca me contou sobre essa suposta suspeita? ― Infelizmente para você, não é uma suspeita. Alguns meses após nosso casamento, precisei de um documento que estava armazenado no cofre da biblioteca, atrás do Monet que você tanto ama. Ao tentar localizá-lo me deparei com um papel relativamente antigo, cujo timbre pertencia a um laboratório de exames clínicos. Percebi nele meu nome e dados técnicos, mas nunca o havia visto antes. Como Ártemis estava viajando em um dos seus cursos de estudo, não pude mostrar para ela que leria tranqüilamente aquele resultado médico. Assim, marquei uma consulta com Dr. Aleixo, o médico da família, e apresentei o papel pedindo esclarecimentos. ― Apolo fez uma pausa, respirando fundo, depois continuou com os olhos parecendo dois profundos lagos gelados ― Dr Aleixo tentou me explicar da forma mais delicada que pode, mas penso que seja um pouco complicado, quando se informa alguém que é estéril. ― ironizou. Fez mais uma pausa, como se estivesse ordenando seus pensamentos. Em seguida continuou, praticamente cuspindo as palavras. ― Dr Aleixo disse que, quando pequeno, contrai caxumba. Como ela não foi devidamente cuidada, ocorreu o que chamam de caxumba recolhida. ~ 22 ~
  • 23. Isso para meninos é muito perigoso, segundo o doutor. Exames foram feitos embora eu nunca soubesse do resultado até aquele momento. ― finalizou ― E o fato de você estar grávida, nessa situação, minha cara, para mim é muito clara. ― voltou a falar. A raiva impregnando cada palavra. ― Apolo, isso só pode ser um mal entendido... ― tentou falar Laura, sendo bruscamente interrompida. ― Sim. Um enorme mal entendido que você cometeu ao me trair e achar que eu nunca saberia, assumindo assim o seu bastardo como se fosse meu filho! ― gritou enfurecido. Laura sentiu como se houvesse levado uma bofetada. Nunca imaginara que um momento que deveria ser alegre e auspicioso se transformaria num pesadelo. ― Apolo ― Laura tentou chamar a razão ― precisamos conversar com calma. Só pode ser um engano. Alguém está mentindo para você! – É claro que há engano e mentira no meio disso tudo! ― Apolo interrompeu novamente Laura, agarrando- lhe os braços com força, ignorando a expressão angustiada que lia em sua fisionomia. ― Você cometeu o engano de tentar me enganar, mentir para mim. Mas chega! Você vai embora desta casa, da minha vida! Vá para quinto dos infernos, mas eu quero você fora daqui, está me ouvindo? ― sentenciou Apolo entre dentes, dando um chacoalhão em Laura para reforçar a ordem, sem nenhuma compaixão. Laura, trêmula com toda a situação, sentiu uma onda de náusea e alguns pontos pretos na vista. Respirou ~ 23 ~
  • 24. fundo, rezando para que o mal-estar passasse. Sentia-se em meio a um pesadelo interminável. Percebendo que Apolo estava completamente transtornado e não lhe daria ouvidos, nem voltaria atrás em sua decisão, decidiu não levar adiante a discussão. Sua náusea parecia aumentar a cada momento, além de sentir-se sem forças para fazê-lo voltar a razão. ― Muito bem. Eu vou embora. Mas você está contribuindo para aumentar esse terrível erro, Apolo. E quem está fazendo essa brincadeira cruel será descoberto, mais cedo ou mais tarde e pagará muito caro! Apolo, que voltara a ficar de costas para Laura como se a simples visão dela o ofendesse, não seu deu ao trabalho de responder. Laura ergueu-se lentamente da poltrona. Sem notar, colocou sobre a mesa de canto o copo com o suco esquecido e caminhou um tanto trôpega em direção a porta. Colocara as mãos sobre o próprio ventre, numa tentativa inconsciente de proteger seu bebê. Não se lembrava exatamente de como chegara até a escada, mas mesmo assim subiu por ela. Cada passada era extremamente penosa, sentindo como se seu corpo pesasse uma tonelada. Já no alto da escadaria, caminhou em direção dos quartos. Ao entrar na suíte que ocupava com o marido, uma onda de emoção a envolveu. Podia vê-los recém-casados adentrando no quarto pela primeira vez, com ela no colo de Apolo ralhando e rindo, pedindo para descer, pois era muito pesada. ~ 24 ~
  • 25. Escutar a forte risada dele em resposta a esse comentário, dizendo para não se preocupar, uma vez que casara com um homem forte. Podia enxergá-los deitados na cama, fazendo amor. Apolo acordando-a com um delicioso beijo, para depois lhe apresentar uma bandeja delicadamente preparada para que os dois tomassem café na cama. E outras tantas lembranças desse ano que viveram juntos! Não podia acreditar. Não podia estar tudo acabado! Sentiu que a náusea aumentava, obrigando-a a correr para o banheiro da suíte. Apenas teve tempo de erguer a tampa do bacio sanitário e cair de ajoelhar, antes de vomitar todo o jantar. Quando não tinha mais o que por para fora puxou a descarga, levantou-se e, com as pernas sem muita firmeza, foi até a pia para lavar o rosto várias vezes com a água fria da torneira. Alcançou a toalha pendurada ao lado e enxugou o rosto e as mãos. Ao abaixar a toalha, viu o próprio reflexo no espelho colocado na parede, acima da pia. Quem era aquela mulher pálida e de olhos vazios? Sacudindo a cabeça, tentando não pensar em mais nada que não fosse sair daquela casa, Laura soltou a toalha sobre a pia e voltou ao quarto. Lá, interfonou para Cirilo, pedindo que providenciasse um táxi. Depois encontrou sua velha bolsa de náilon guardada no fundo do guarda-roupa. Pegou-a e deixou-a sobre a cama, enquanto separava algumas peças de roupas para levar. Apesar de não ter ouvido nenhum ruído, sentiu que não estava mais sozinha no quarto. Virando-se, encontrou Apolo com as mãos apoiadas em cada lado do marco da ~ 25 ~
  • 26. porta ― como quem precisa de apoio para manter-se em pé ― pálido ao extremo, olhando fixamente para a bolsa velha e desbotada. ― Laura ― fez uma pausa tentando encontrar as palavras certas. Por fim, olhando-a nos olhos, continuou ― se você disser a verdade, se você disser o nome do homem com que me traiu, eu prometo que vou lutar para perdoá-la. ― começou a falar Apolo, em um tom moderadamente controlado. ― Como posso fazer isso? Não posso lhe dar algo que não existe! ― exaltou-se Laura. ― Ora, você é um imbecil que não veria a verdade nem que ela estivesse na sua frente e contivesse uma placa em letras de néon laranja fosforescente escrito “VERDADE”! ― gritou. ― Cuidado com o que você fala ― ameaçou Apolo. ― Não, Apolo, cuidado você com o que fala. Eu estou cansada, com náuseas, magoada, ferida! Nunca pensei que isso um dia aconteceria comigo. O homem com quem casei, que prometeu me amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, e todo o blábláblá que acompanha, é uma verdadeira fraude, pois no primeiro obstáculo me chuta, sem me ouvir! ― Penso que você está invertendo os papeis, minha cara. Não esqueça que você está grávida, mas eu sou estéril! ― Não há a menor possibilidade de você ser estéril Apolo, por dois motivos muito simples. Estou grávida e nunca estive com outro homem em toda a minha vida além de você! ― parou de falar, tentando se acalmar. Olhando para o rosto do marido, Laura compreendeu que ~ 26 ~
  • 27. não chegara nem perto de convencê-lo quanto sua inocência. Respirando fundo, resolveu encerrar logo a discussão: ― Vejo que apesar de tudo o que falei, você não mudou de opinião. Muito bem. Chega! Já estou saindo. Pegando a bolsa de náilon, jogou as roupas que separara de qualquer jeito. Com o canto dos olhos notou que Apolo se afastou da porta, posicionando-se do outro lado da cama de casal. Parecia ironia ter aquele móvel agora os separando ― pensou Laura. Um local que simbolizou não apenas a união dos seus corpos, mas também alguns dos momentos mais ternos de seu casamento. Decidida a tentar, por hora, bloquear um pouquinho só que fosse do sofrimento que sentia, colocou a alça da bolsa no ombro e se dirigiu à porta da suíte. Quando saía do quarto, ainda escutou Apolo dizer, em tom cruel e cortante: ― Deixe seu endereço com Kostopoulos, o advogado. Nosso contato será todo por intermédio dele, que providenciara o encaminhamento e a papelada para dar entrada com o processo de divórcio. Quero me ver livre de você o mais rápido possível, para esquecer tudo isso o quanto antes. E tencionando feri-la tanto quanto se sentia ferido, continuou: ― E depois vou procurar junto à comunidade grega uma esbelta e elegante mulher para ser minha companheira de verdade, como minha mãe sempre me aconselhou a fazer. Uma grega que não atribui a cada comentário feito, o peso da perseguição e conspiração. ~ 27 ~
  • 28. Nem fique se lamuriando, insegura, a cada divergência que ocorre ou tendo chiliques de ciúmes. E, claro, ela entenderá valor da honra e da fidelidade. ― desfechou, sem piedade, Apolo. Laura sentiu que seu coração parou uma batida. Uma dor profunda corroeu-lhe a alma e depois a partiu ao meio. Seus olhos encheram-se de um imenso pesar ao assimilar tudo o que perdiam e nunca mais poderiam resgatar. Infelizmente, neste momento, não havia mais nada que Laura pudesse fazer. Precisava pensar em seu bebê. ― raciocinou em meio às ondas de dor e amargura. Então, sem dizer uma só palavra nem olhar para trás, continuou caminhando até a saída... a saída do quarto...da casa...de uma vida. ~ 28 ~