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Pausa
Moacyr Scliar
O professor pergunta para os alunos “O que essa imagem significa
para você?”
• A partir do título fazer o levantamento prévio com os alunos do
vocabulário “pausa”.
• Fazer a discussão do tema levando em consideração os
conhecimentos prévios do aluno ( o professor anota tudo na lousa).
• Depois apresenta a música, as imagens e o poema a seguir
continuando a reflexão sobre o tema
Todo mês de maio na maior - Guilherme Arantes
Não é caro o que eu queria
uma pausa pra pensar
colocar o corpo e a cabeça em dia
pra melhor recomeçar
O outono na fazenda
toda tarde cochilar
com o cheiro luxuoso
de um fogão de lenha
perfumando todo o ar
Meu cavalo pelo vale
vento no canavial
sol na pele
avermelhando a nossa cara-pálida
da cidade
...eu, você e só
todo mês de maio
na maior...
Pausa
Uma pausa na pausa do tempo...
é acordar em movimento
é uma investida no sentimento
é deixar a vida ao sabor do vento
é desenhar no arco-íris uma cor
diferente..
Annay Silvestre
Então o educador apresenta
finalmente o texto “Pausa” de Moacyr
Scliar
• A partir cada parágrafo o professor faz a parada
e inferência para localizar itens de informação
explícita distribuídos ao longo do texto (
confirmação ou retificações das antecipações ou
expectativas de sentido criados antes ou durante
a leitura)
Às sete horas o despertador tocou. Samuel
saltou da cama, correu para o banheiro, fez a
barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem
ruído. Estava na cozinha, preparando
sanduíches, quando a mulher apareceu,
bocejando:
- Vais sair de novo, Samuel? Fez que sim com
a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva;
mas as sobrancelhas eram espessas, a barba,
embora recém feita, deixava ainda no rosto uma
sombra azulada. O conjunto era uma máscara
escura.
- Todos os domingos tu sais cedo - observou
a mulher com azedume na voz.
- Temos muito trabalho no escritório – disse
o marido, secamente. Ela olhou os sanduíches: -
Por que não vens almoçar?
- Já te disse: muito trabalho. Não há tempo.
Levo um lanche. A mulher coçava a axila
esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel
pegou o chapéu:
- Volto de noite. As ruas ainda estavam úmidas
de cerração. Samuel tirou o carro da garagem.
Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os
guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o
pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou
apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar
a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e
entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro
no balcão, acordando um homenzinho que dormia
sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente.
Esfregando os olhos, pôs-se de pé.
- Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho
bom este, não é? - Estou com pressa, seu Raul! – atalhou
Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. –
estendeu a chave. Samuel subiu quatro lanços de uma
escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas
mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com
curiosidade.
- Aqui, meu bem! - uma gritou e riu: um cacarejo
curto. Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a
porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de
casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia
cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas
esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem,
deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o
cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e
os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama
comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou
os dedos no papel de embrulho, deitou-se e
fechou os olhos.
Dormir. Em pouco dormia. Lá embaixo a
cidade começava a mover-se: os automóveis
buzinando, as jornaleiras gritando, os sons
longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou
um círculo luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma
planície imensa, perseguido por um índio montado a
cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No
planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale
entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e
resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma
dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os
olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo
com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de
suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito
soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel
saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se.
Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa poltrona, o gerente lia uma
revista. - Já vai, seu Isidoro?
- Já – disse Samuel, entregando a chave.
Pagou, conferiu o troco em silêncio. - Até
domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
- Não sei se virei – respondeu Samuel,
olhando pela porta; a noite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre –
observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais guiava lentamente. Parou
um instante, ficou olhando os guindastes
recortados contra o céu avermelhado. Depois,
seguiu. Para casa.
• O professor relê o texto para a classe =
construção do sentido global do texto
• Os alunos recontam o texto.
• O professor pede que transformem o texto em
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Hagaquê
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  • 2. O professor pergunta para os alunos “O que essa imagem significa para você?”
  • 3. • A partir do título fazer o levantamento prévio com os alunos do vocabulário “pausa”. • Fazer a discussão do tema levando em consideração os conhecimentos prévios do aluno ( o professor anota tudo na lousa). • Depois apresenta a música, as imagens e o poema a seguir continuando a reflexão sobre o tema
  • 4. Todo mês de maio na maior - Guilherme Arantes Não é caro o que eu queria uma pausa pra pensar colocar o corpo e a cabeça em dia pra melhor recomeçar O outono na fazenda toda tarde cochilar com o cheiro luxuoso de um fogão de lenha perfumando todo o ar Meu cavalo pelo vale vento no canavial sol na pele avermelhando a nossa cara-pálida da cidade ...eu, você e só todo mês de maio na maior...
  • 5.
  • 6. Pausa Uma pausa na pausa do tempo... é acordar em movimento é uma investida no sentimento é deixar a vida ao sabor do vento é desenhar no arco-íris uma cor diferente.. Annay Silvestre
  • 7. Então o educador apresenta finalmente o texto “Pausa” de Moacyr Scliar • A partir cada parágrafo o professor faz a parada e inferência para localizar itens de informação explícita distribuídos ao longo do texto ( confirmação ou retificações das antecipações ou expectativas de sentido criados antes ou durante a leitura)
  • 8. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando: - Vais sair de novo, Samuel? Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
  • 9. - Todos os domingos tu sais cedo - observou a mulher com azedume na voz. - Temos muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente. Ela olhou os sanduíches: - Por que não vens almoçar? - Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche. A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
  • 10. - Volto de noite. As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé.
  • 11. - Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? - Estou com pressa, seu Raul! – atalhou Samuel. - Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. – estendeu a chave. Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade. - Aqui, meu bem! - uma gritou e riu: um cacarejo curto. Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave. Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
  • 12. Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se e fechou os olhos. Dormir. Em pouco dormia. Lá embaixo a cidade começava a mover-se: os automóveis buzinando, as jornaleiras gritando, os sons longínquos.
  • 13. Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
  • 14. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista. - Já vai, seu Isidoro? - Já – disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio. - Até domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente. - Não sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
  • 15. - O senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo. Samuel saiu. Ao longo do cais guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
  • 16. • O professor relê o texto para a classe = construção do sentido global do texto
  • 17. • Os alunos recontam o texto.
  • 18. • O professor pede que transformem o texto em uma história em quadrinhos, usando o programa Hagaquê
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