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Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual: os desafios técnicos, culturais e
linguísticos na tradução de gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais
na legendagem do sitcom The Middle
Aline Carolina dos Santos Mehedin1
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar as legendas do sitcom The Middle
com o intuito de observar os desafios de cunho técnico, cultural e linguístico que os
tradutores devem transpor, e observar se é possível manter a naturalidade, a oralidade
e o teor de humor nas traduções de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais. A
metodologia situa-se nos estudos descritivos de tradução de Campos (1987) e Rónai
(2012) e em duas teorias de tradução; a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson
(1987), e a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Complementam a análise, os estudos
de tradução audiovisual, pautados nas pesquisas de Diáz e Remael (2007); e também
os estudos da Tradução de Humor, de Rosas (2002), e a Teoria da Superioridade, de
Hobbes (1840). Foram analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas ou
convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada de The Middle,
com o objetivo de verificar principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade
foram mantidos nas legendas em português e quais foram os processos mais utilizados
pelos tradutores nas legendas. As amostras revelaram que os três processos mais
utilizados na tradução de legendas com gírias, expressões idiomáticas e expressões
convencionais neste sitcom foram a explicitação, a substituição e a transposição e que
foi possível manter a naturalidade e a oralidade nas legendas e o teor do humor,
através do conhecimento linguístico, cultural e também criatividade por parte do tradutor
para encontrar as melhores soluções para as dificuldades no projeto.
Palavras-chave: Desafios da legendagem de sitcoms. Tradução de humor.
Conhecimento cultural e linguístico. Gírias, expressões idiomáticas, expressões
convencionais.
1
Professora particular de Língua Inglesa, Tradutora e Revisora dos pares ING <>BPOR. E-mail:
amconsultoriaingles.aline@gmail.com.
2
Introdução
Neste artigo, será apresentada a análise de legendas coletadas do sitcom
americano The Middle, sendo essas amostras focadas em gírias, expressões
idiomáticas e expressões convencionais. Os principais objetivos desta análise serão
observar os possíveis desafios técnicos, culturais e linguísticos neste tipo de projeto de
legendagem; observar os processos de tradução escolhidos pelos tradutores em cada
legenda, e; constatar se o tradutor foi bem sucedido na questão de manter a
naturalidade e a oralidade das falas dos personagens, respeitando aspectos como
cultura e humor.
O suporte teórico da presente análise será pautado primeiramente nos estudos
descritivos de tradução, como os de Campos (1987) e Rónai (2012) e em duas teorias
de tradução: a Teoria da Relevância, através de estudos de Sperber e Wilson (1987), e
a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Como a pesquisa será focada em
legendagem, complementam a análise os estudos de tradução audiovisual, pautados
nas pesquisas de Diáz e Remael (2007), principalmente. Na questão referente ao
humor, a pesquisa será complementada também pelos estudos da Tradução de Humor,
de Rosas (2002), e pela Teoria da Superioridade, de Hobbes (1840).
Serão analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas e expressões
convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada do sitcom The
Middle, ressaltando que a análise será meramente descritiva, observando
principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade foram mantidos nas legendas
em português.
Os desafios técnicos, culturais e linguísticos
A legendagem é um campo da tradução que vem crescendo exponencialmente
no mundo todo. Com o avanço das tecnologias computacionais, de satélite, cabos de
3
fibra ótica, mais pessoas estão tendo acesso a programas internacionais e, por essa
razão, a figura do tradutor de material audiovisual vem sendo cada vez mais
requisitada. Há vários desafios no que concerne a profissão de tradutor audiovisual que
serão explorados nas seções a seguir.
Tradução e Legendagem
Antes de tudo, é importante que se defina o que é tradução, tradução audiovisual
e legendagem para que o presente artigo fique bem posicionado e compreendido. A
definição de tradução no dicionário Larousse da língua portuguesa (2009, p. 811) é "ato
ou efeito de traduzir". Geir Campos, no livro O que é tradução? (1987, p. 7),
complementa:
Enquanto ato, leva o tempo que o tradutor emprega no seu trabalho; como
efeito, é o que resulta desse trabalho. O verbo traduzir vem do verbo latino
TRADUCERE, que significa conduzir ou fazer passar de um lado para o outro,
algo como atravessar.
Outra definição de tradução é a do ensaísta inglês John Cunnison Catford (apud
Campos, 1987, p.11) que disse que “tradução é a substituição de material textual de
uma língua por material textual equivalente em outra língua”. Embora não tão
claramente, está subentendida na opinião de Calford, quando se refere a “material
textual”, que não são meramente palavras substituídas de uma língua para outra, mas
existe toda uma questão semântica envolvida, que deve ser posta em primeiro plano e,
só desta forma é que se conseguirá atingir o objetivo específico da tradução e é
também marcante em sua citação a palavra "equivalente" o que nos traz à tona a
discussão se é possível fazer uma tradução realmente fiel ao texto ou se ela sempre
será uma cópia em outra língua de um texto. Nesta questão, Paulo Rónai, em seu livro
Escola de Tradutores, expõe seu ponto de vista:
A fidelidade alcança-se muito menos pela tradução lateral do que por uma
substituição contínua. A arte do tradutor consiste justamente em saber quando
pode verter e quando deve procurar equivalências. (2012, p. 24)
4
Pensando nesta questão da equivalência em tradução que Catford e Rónai
levantaram em suas definições, as duas teorias de tradução nas quais este trabalho foi
baseado foram a Teoria da Relevância e a Teoria do Escopo (ou Skopostheorie).
A Teoria da Relevância é uma teoria da área da Pragmática e foi proposta por
Dan Sperber e Deirdre Wilson. É uma teoria que considera as inferências implícitas na
comunicação e argumenta que o ouvinte/o leitor/o público irá buscar por significado em
qualquer situação que envolva comunicação e, assim que encontrar o significado que
faça jus às suas expectativas de relevância, irá parar a busca e o processamento por
mais significado. Essa não é uma teoria da Linguística em sentido estrito, pois permeia
entre as áreas da Cognição e da Comunicação. Para Sperber e Wilson, a cognição
humana tem uma forte tendência a sempre buscar a relevância na comunicação.
Segundo Sperber e Wilson, em artigo publicado em 1987 num periódico da
Universidade de Cambridge, p.465:
A cognição humana objetiva o melhoramento da quantidade, qualidade e
organização do conhecimento do indivíduo. Para alcançar esse objetivo do
modo mais eficiente possível, o indivíduo precisa, a todo momento, tentar
disponibilizar seus recursos de processamento à informação mais relevante. [...]
à informação que tem maior probabilidade de gerar o maior aumento de
conhecimento com o menor esforço de processamento. (tradução nossa).
A segunda teoria na qual o presente artigo foi baseado é a Teoria do Escopo.
Skopos em grego significa propósito e esse é o principal fundamento dessa teoria, que
é um conceito do campo dos estudos de tradução e argumenta que a tradução é uma
atividade com um propósito final e que se aplica a qualquer projeto de tradução. Essa
teoria foi estabelecida pelo linguista alemão Hans Vermeer e defende que a tradução e
a interpretação devem, acima de tudo, levar em consideração a função da mensagem,
tanto no texto fonte quanto no texto meta. Para Vermeer, traduzir significa produzir um
texto meta numa situação meta com um propósito meta para uma audiência meta, ou
seja, a função da mensagem deve ser passada até o receptor final, custe o que custar
em termos de linguagem. Para Vermeer, "[...] os textos meta variam dependendo do
escopo que se pretende alcançar"; e a tradução "é uma ação que é determinada por
5
sua finalidade (está em função da sua finalidade). Em tradução, vale dizer que o fim
justifica os meios". (Vermeer, 1996, p.84 apud Rosas, 2002, p.47).
A Teoria do Escopo serve de base, principalmente, para estudos que envolvam
tradução e cultura. Nas palavras de Vermeer:
A língua meta, o translatum, é direcionada à cultura meta, e é essa que define
sua adequação. É por isso que os textos fonte e meta podem diferenciar-se um
do outro consideravelmente, não somente na formulação e na distribuição do
conteúdo, mas também em relação aos objetivos que são buscados em cada
um, e são nesses objetivos que a organização do conteúdo é, de fato,
determinada". (Vermeer, 2000, p.229 - tradução nossa).
A área de tradução é muito abrangente e ampla e compreende vários ramos. A
tradução audiovisual é um conjunto de práticas de tradução de filmes, séries,
programas de TV, novelas, documentários, palestras, desenhos, tanto projetados para
o cinema quanto para a televisão ou distribuição em VHS, DVD ou Blue-Ray. Nessa
área o tradutor pode contribuir de duas formas: fazendo tradução para legendagem ou
para dublagem. O presente artigo discute os desafios que permeiam o trabalho do
tradutor de material audiovisual no que diz respeito à naturalidade e às adequações
necessárias nos materiais traduzidos para a legendagem, que é assim definida por Diáz
e Remael em seu livro Audiovisual Translation: Subtitling, de 2007:
A legendagem pode ser definida como uma prática de tradução que consiste
em apresentar um texto escrito, geralmente na parte inferior da tela, que
objetiva recontar o diálogo original dos falantes, assim como os elementos
discursivos que aparecem na imagem (cartas, inscrições, grafite, sinalizações,
etc.) e a informação que está contida na trilha sonora (canções e outras vozes).
(tradução nossa).
No campo da legendagem, há vários detalhes técnicos que podem dificultar o
trabalho do tradutor, entre eles o equilíbrio entre a imagem, o tempo de fala e o texto
escrito traduzido, ou seja, para que se obtenha o sincronismo na legendação, é
necessário que se observe o tempo de apresentação do material a ser traduzido, o
tempo de entrada e retirada da legenda e o tempo de leitura do telespectador. Sabine
Gorovitz, em sua dissertação de mestrado sobre legendagem, expõe essa questão:
6
Além desses obstáculos (de linguagem), trata-se de uma redução significativa
dos elementos semânticos. O tradutor, pelas limitações técnicas impostas, deve
resumir e sintetizar ao máximo o diálogo, tentando produzir uma mensagem
curta e clara e tendo unidade semântica. Essas restrições são condicionadas
pelas necessidades do olho físico em relação ao tempo de leitura. Assim, a
mensagem deve estar contida em, no máximo, duas linhas de até 56
caracteres. (2006, p.65)
O tradutor de material audiovisual para legendagem também tem um outro
dificultador que é a questão de prazos. Tradutores que trabalham para estúdios
grandes de cinema e de televisão muitas vezes têm que trabalhar com prazos muito
curtos e, além da tradução em si, precisam fazer as marcações dos tempos das
legendas e, para isso, precisam aprender a trabalhar com softwares bem específicos.
Nas seções a seguir, o artigo trata de outros desafios no trabalho de legendagem, mais
especificamente a questão da tradução de humor e o conhecimento da cultura fonte e
da cultura meta.
Cultura e Humor
Existem várias definições do que vem a ser cultura; uma delas é que cultura
engloba estilos de vida, costumes, hábitos, crenças, línguas e valores de certa
comunidade, cidade, país ou região. Vermeer (apud Nikolic, 2011) definiu cultura como
"a totalidade de normas, convenções e opiniões que determinam o comportamento dos
membros de uma sociedade e todos os resultados deste comportamento" (tradução
nossa). Para tradutores se faz extremamente necessário ter muito conhecimento sobre
a cultura fonte e também sobre a cultura meta para que o texto a ser transmitido não
esteja correto somente em termos linguísticos, mas que faça sentido também no que se
refere ao mundo em torno da língua meta, levando-se em consideração aspectos
regionais, culturais, entre outros.
Um destes aspectos que pode variar de cultura para cultura é a questão do
humor. O humor é algo difícil de ser definido por ser algo subjetivo: o que pode ser
engraçado para uma pessoa talvez não o seja para outra e o humor está intimamente
7
conectado com questões culturais, entre outras coisas. Existem várias teorias do
humor, provenientes das áreas de Filosofia, Psicologia e também da Linguística. A
teoria de humor utilizada para poder definir o que é engraçado e poder limitar a análise
dos dados levantados nesta pesquisa foi a Teoria da Superioridade.
A Teoria da Superioridade é uma das mais antigas teorias do humor e começou
a ser delineada por Platão e Aristóteles, que em seus estudos e escritos enfatizaram os
sentimentos mais agressivos que acabavam alimentando o humor. No entanto, a Teoria
da Superioridade costuma ser associada ao filósofo do século XVII, Thomas Hobbes,
que defende que o humor consiste na expressão de superioridade em relação ao objeto
do nosso riso. Em seu livro Treatise on Human Nature, de 1840, Hobbes expõe:
Os homens riem perante as dificuldades e as indecências, nas quais não se
espera encontrar graça ou gozação...Os homens também riem das fraquezas
dos outros...Devo, por isso, concluir que a paixão relacionada ao riso nada mais
é do que uma sensação de glória repentina proveniente do repentino
entendimento de que possuímos alguma distinção ou eminência em nós
mesmos em comparação com a fraqueza dos outros, ou de nós mesmos, num
momento anterior de nossas vidas. Por isso, os homens riem de seus erros e
besteiras de seus passados quando lembram delas; mesmo trazendo junto com
as memórias uma certa desonra pelos erros cometidos. (Hobbes apud Gruner,
2000, p.13 - tradução nossa)
Segundo Hobbes, o humor elege sempre alguma vítima ou aponta para algum
defeito alheio, como é o caso de muitas piadas e anedotas. Mesmo quando o humor,
como frequentemente acontece, funciona como uma espécie de denúncia social ou
política, estará expressando superioridade moral, intelectual ou de outro tipo. O
presente artigo baseia-se nesta teoria e, consequentemente, na sua definição de humor
e na sua avaliação do que é engraçado pelo fato do objeto da análise ser um sitcom,
que explora o humor de uma maneira bastante peculiar, crítica e estereotipada.
Sitcom é a forma abreviada de situation comedy, comédia de situação, em
português. Essas séries exploram situações do cotidiano de um determinado grupo de
pessoas, de uma determinada classe social ou num determinado contexto e o humor
proveniente destas séries está intimamente relacionado com a cultura do ambiente
onde a série se passa e há uma grande exploração de certos estereótipos de tal
ambiente e de tal cultura e sempre que se explora estereótipos são inevitáveis as
8
relações de superioridade ou, simplesmente, de diferenças entre uns personagens em
comparação com outros ou com os próprios telespectadores.
Rosas, em seu livro Tradução de Humor (2002, p.23), cita a linguista Nancy
Niedzielsky, que estuda as relações entre linguística e cultura, para explicar o senso de
humor.
O senso de humor depende de vários fatores sociais e mesmo individuais. Vez
que cada comunidade cultural organiza seu próprio sistema de valores,
costumes e comportamentos de modo distinto do de qualquer outra
comunidade, as normas e incongruências humorísticas variam de cultura para
cultura. Na verdade, a percepção e a expressão do humor são determinadas
pela lógica coletiva de uma dada comunidade e pela lógica particular, dela
derivada, que possui cada membro dessa comunidade. (Niedzielsky, 1989,
apud Rosas, 2002, p. 23)
Sitcoms são uma das expressões mais puras da cultura de um determinado lugar
e por isso se tornam um desafio para tradutores de legendas, pois além das
dificuldades e desafios técnicos do ofício, precisam decodificar o humor de certa cultura
e transferi-lo para uma outra cultura, fazendo o que for possível para que o senso de
humor seja preservado e que o conteúdo continue fazendo sentido. Isso condiz
perfeitamente com o que Rónai diz em seu livro Escola de Tradutores (2012, p.25):
"para ser fiel, o tradutor, além do indispensável conhecimento dos dois idiomas, precisa,
sobretudo, de imaginação". No entanto, a questão da fidelidade fica um tanto confusa
quando se trata de questões culturais, pois nem sempre existe a possibilidade de
manter-se completamente fiel ao texto, pois o que foi escrito ou dito originalmente talvez
não venha a fazer sentido para o leitor, ou no caso de material audiovisual, o
expectador; muitas vezes em um único projeto audiovisual poderá ocorrer tanto a
domesticação de termos quanto a estrangeirização. Assim explicam Diáz e Remael,
(apud Nikolic, 2011):
Não se trata somente de domesticação ou estrangeirização. Muitas vezes
acontecerá a domesticação de termos e ocorrerá também muitas vezes a
estrangeiração, ambos os processos num mesmo projeto de legendagem. Tudo
dependerá do tom, do escopo ou da função da tradução, e também de toda a
ação da qual o tradutor faz parte.
9
Diáz e Remael, em seu livro, Audiovisual Translation (2007, p. 202-207),
explicam que o tradutor de legendagem sempre terá que fazer escolhas e que há vários
processos que podem ocorrer em legendagem que serão pautados em questões
linguísticas, mas principalmente culturais. Esses processos são: 1) empréstimo, 2)
decalque, 3) explicitação, 4) substituição, 5) transposição, 6) recriação lexical, 7)
compensação e 8) omissão.
O empréstimo ocorre em uma situação na qual o texto ou frase fonte são
incorporados na língua meta porque a tradução não é possível e as duas línguas
utilizam a mesma palavra. O decalque é a tradução literal de uma palavra ou frase da
língua fonte para a língua meta. A explicitação ocorre quando o legendador tenta fazer
com que o texto fonte fique mais acessível, mais mastigado, para o espectador; isso
acontece através de uma especificação ou generalização. A substituição é uma forma
de explicitação e acontece muito em legendagem, principalmente por causa das
restrições de espaço e tempo das legendas. A transposição acontece quando um
conceito cultural de uma cultura é substituído pelo conceito cultural de outra. A
recriação lexical ou invenção de neologismos é usada na língua meta quando os
falantes da língua fonte também criam palavras. A compensação acontece quando o
tradutor, para não perder algo, tem de acrescentar palavras na tradução para a língua
meta ou fazer alguma alteração. E, finalmente, a omissão, que nada mais é do que o
corte de palavras na hora da tradução; sendo bastante criticada, porém inevitável em
muitos casos, novamente por causa de restrições relacionadas a tempo e espaço de
legendas ou porque não há nada na língua meta que possa equivaler em sentido.
Todos esses processos foram observados e estudados na análise dos dados.
Língua, Oralidade e Naturalidade
É fato que um tradutor necessita conhecer muito bem todas as línguas com as
quais trabalha. O conhecimento da língua fonte permite que ele compreenda o texto a
ser traduzido, com todas as suas particularidades e o conhecimento da língua meta é
10
fundamental para que a mensagem seja transmitida de forma correta e que faça sentido
para os leitores/espectadores do material traduzido. No entanto, há uma categoria
especial de frases e palavras que podem complicar o trabalho do tradutor/legendador,
pois não dependem somente do conhecimento linguístico do tradutor. Essa é a
categoria das gírias, ditados populares, expressões convencionais e expressões
idiomáticas que, além do conhecimento linguístico, requer do tradutor também um
grande conhecimento cultural, tanto da cultura fonte quanto da cultura meta, pois nas
situações em que se usam essas expressões raramente existe a possibilidade de se
fazer uma tradução ipisis literis, ou seja, ao pé da letra, e é o conhecimento cultural do
tradutor e também a sua capacidade de imaginação e adaptação que poderão garantir
maior naturalidade na tradução, principalmente de legendas. Campos expõe a grande
importância do conhecimento cultural para que o trabalho do tradutor seja bem
realizado:
Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para
outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de
conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos
ampliando e aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se
destine o seu trabalho. (Campos, 1987, p.27)
E quando relacionamos língua e cultura, não é somente uma questão de dialetos
e sotaques, mas também de convencionalidades na fala das pessoas de certo lugar e
de expressões e gírias que só fazem sentido naquele lugar. O tradutor, quando depara
com gírias e expressões convencionais ou idiomáticas, muitas vezes tem que transcriar
o sentido do diálogo, já que nem sempre, na verdade, muito raramente, haverá
equivalência de uma língua para outra e de uma cultura para outra nestes casos.
Gírias, ditos populares, expressões convencionais e idiomáticas são como uma
identidade de certo grupo, algo que traz unidade a um certo grupo de pessoas, ou uma
certa classe, ou de um lugar específico e o tradutor precisa estar muito atento a esse
tipo de identidade cultural. Segundo Ferreira, 1986, citado por Tagnin em seu livro
Expressões Idiomáticas e Convencionais:
Quando nos referimos ao 'jeito que a gente diz' estamos, na verdade, falando
de convenção, ou seja, daquilo que é aceito de comum acordo. As convenções
11
linguísticas são os 'jeitos' aceitos pela comunidade que fala determinada língua.
Assim, podemos chamar de convencionalidade ao aspecto que caracteriza a
forma peculiar de expressão numa dada língua. (Ferreira apud Tagnin, 1989,
p.11)
Quando se pensa em língua e cultura na tradução para legendas, há ainda mais
um detalhe técnico ao qual o tradutor deve prestar atenção: a questão da oralidade e
naturalidade. Um dos desafios é o fato de o tradutor legendador estar transformando
um texto que é falado, que naturalmente é acompanhado de diferentes entonações,
tons diferentes de voz, inflexões que podem trazer pressupostos e significados
subentendidos e também ocorrências intraduzíveis que podem significar algo como
hesitações, gaguejos, etc.; num texto escrito, que deve ser claro, conciso e que possa
ser lido e interpretado facilmente e rapidamente pelo espectador. Gorovitz coloca bem
essa questão ao dizer que "a legendagem, submetida a imposições técnicas, é um texto
'deficiente'; [...] e constitui uma transposição de linguagem oral, com todos os elementos
que ela carrega, para uma expressão econômica e restrita." (2006, p.10)
Como dito anteriormente, o tradutor de legendas, especificamente de seriados
de comédia, tem muitos desafios a serem contornados e vencidos num projeto deste
tipo. Ele deve estar muito consciente sobre o material com o qual trabalhará, ter um
bom entendimento linguístico e cultural a respeito do cenário de fundo e dos
personagens envolvidos no seriado, qual a relação de humor e cultura existente no
seriado e sempre procurar as melhores soluções possíveis em termos de transmissão
da mensagem, da construção/reconstrução do humor e da manutenção da naturalidade
no discurso. A seguir veremos como os legendadores do seriado The Middle
contornaram estes desafios.
Análise dos dados
O objeto de estudo para este trabalho foi a primeira temporada do seriado The
Middle, exibido legendado no Brasil pelo canal de televisão a cabo Warner Channel. O
seriado se passa na pequena cidade fictícia de Orson, em Indiana, nos Estados Unidos
12
e retrata o dia a dia da família Heck, formada por Frankie e Mike Heck e seus filhos Axl,
Sue e Brick. O humor no seriado é bem sutil, mas expressa de forma crítica e irônica o
estilo de vida, economia, crenças, visões políticas, preconceitos e certos estereótipos
da sociedade americana. Segundo os produtores, o nome The Middle foi escolhido para
representar o meio, pois a família mora no meio do nada, são de classe média e
Frankie e Heck estão na meia idade. Para entender o humor crítico do seriado, é
importante conhecer os personagens e o que eles representam, assim como o lugar
que serve como pano de fundo para tudo.
Frankie Heck, interpretada pela atriz Patricia Heaton, é a personagem central do
seriado e aparece como narradora em várias partes do programa. Ela é esposa e mãe
dedicada e para ela não existe nada mais importante do que sua família, mesmo que
quase sempre ela tenha que colocar-se em segundo plano para cuidar deles. Frankie
iniciou os estudos na faculdade, mas não os concluiu e trabalha como vendedora na
Ehlert Motors, uma concessionária de automóveis, cujo dono é extremamente machista
e preconceituoso. Seu marido, Mike Heck, interpretado por Neil Flynn, é conhecido por
sua extrema honestidade e estabilidade emocional. Mike trabalha como gerente de uma
mineradora e é um pai e marido compreensível e dedicado. Parece ser meio ríspido,
mas ama sua família incondicionalmente.
Frankie e Mike são pais de Axl, Sue e Brick. Axl Heck, interpretado por Charlie
McDermott, é o filho adolescente mais velho de Frankie e Mike e passa o dia todo em
casa só de cueca samba canção. É extremamente sarcástico, preguiçoso, narcisista e
egoísta em relação aos irmãos. No entanto, de vez em quando, mostra que no fundo
tem um bom coração. Axl não gosta de estudar, só quer saber de namorar e jogar
basquetebol, tem uma banda e aparentemente teve o seu nome escolhido por causa de
Axl Rose.
Sue Heck, interpretada por Eden Sher, a filha do meio, também adolescente, é
uma garota de personalidade genuína, extremamente otimista e persistente, o que
muitas vezes faz com que vire motivo de piada, principalmente por parte de seu irmão
mais velho. Embora ela sempre esteja tentando se esforçar em todos os sentidos, é
simplesmente ignorada por professores e colegas, como se fosse invisível na escola.
13
Ela se veste de maneira bem peculiar e usa aparelhos dentários e vive tentando fazer
parte de todos os grupos e clubes da escola, não desiste nunca.
Finalmente, o filho mais novo, Brick Heck, interpretado por Atticus Shaffer, é
simplesmente apaixonado por livros, passa o dia todo lendo e tem uma mania de repetir
sempre a última palavra que fala, num sussurro. Tem memória fotográfica, é o garoto
mais inteligente da classe, mas se distrai muito facilmente e vive postergando suas
tarefas. No seriado, fica meio subentendido que Brick sofre da Síndrome de Asperger,
pois não lida muito bem com situações em que tem que socializar com outras crianças
e adultos e tem muita dificuldade para fazer amigos.
Os cinco personagens principais e mais alguns extras moram na pacata cidade
fictícia chamada Orson, no estado de Indiana, que segundo eles mesmos, fica no meio
do nada e não tem nada de interessante, exceto pela maior vaca de poliuterano do
mundo, uma escultura que fica na entrada da cidade.
Para a análise, foram assistidos todos os episódios e foram coletadas de cada
episódio algumas amostras contendo gírias, expressões idiomáticas e quaisquer outros
tipos de frases que pudessem oferecer uma dificuldade maior ao legendador em
relação às línguas, à cultura e ao tipo de humor apresentado no seriado. Essas frases
foram analisadas com o objetivo de levantar quais foram os processos utilizados e as
soluções que o legendador adotou e se foi possível manter o humor, a oralidade e a
naturalidade do texto na tradução para as legendas em português. Para não tornar o
artigo tão extenso, foram transcritas aqui apenas as falas analisadas, sem o diálogo
inteiro de onde foram tiradas.
1 - Episódio Piloto (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Julie Anne
Robinson)
1- Brick is a very quirky child. Brick é um garoto muito peculiar. Decalque
2 - Get out of town! Pare com isso! Explicitação
3 - You think you're some sort of a
big shot just 'cause you play ball?
Você acha que é o cara só porque
joga basquete?
Transposição
4 - All kids are screwed up. Todas crianças são estragadas. Decalque
5- I was at the end of my rope. Eu já estava sem saco. Transposição
14
2 - Episódio Líder de Torcida (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por
Lee Shallat Chemel)
6 - If someone's gonna dash her
hopes [...]
Se tem alguém que pode acabar
com as esperanças dela [...]
Decalque
7 - Dork! Idiota! Decalque
8 - Knock it off! Parem com isso! Explicitação
9 - I'm not gonna sugarcoat it. Eu não vou amenizar a situação. Substituição
3 - Episódio A Comemoração Adiada (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Gail Mancuso)
10 - Those days, they called it
foosball.
Hoje em dia, é o que se chama de
totó.
Transposição (totó é falado
em apenas algumas regiões
do Brasil).
11 - My daughter was telling me
about her first big crush.
Minha filha estava falando sobre a
primeira atração por um garoto.
Explicitação
4 - Episódio A Viagem (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat
Chemel)
12 - [...] to buy crap they don't
want or need.
[...] para comprar porcarias que
ele não precisam.
Decalque
13 - Sue was driven. She was
driven by Mike all over Indiana.
Sue era levada. Ela era levada
por Mike por toda Indiana.
Compensação
14 - I really thought I nailed the
Sue thing.
Eu achei que mandei muito
bem no caso da Sue.
Transposição
15 - But I stood my ground and
explained the situation.
Mas eu não recuei e expliquei a
situação.
Substituição
16 - If we don't hear before then,
we'll step in.
Se nós não soubermos de nada,
então interferimos.
Decalque
17 - There's this new boy in my
class who eats his boogers.
Há um garoto novo na minha
sala que come meleca.
Transposição
18 - [...] she's found some other
poor sucker she can torment.
[...] ela encontrou outro idiota
para incomodar.
Explicitação
5 - Episódio O Festival (Escrito por Alex Reid e dirigido por Ken Whittingham)
19 - Lawnmower races are lame. Corridas de cortador de grama
são caretas.
Transposição
20 - Oh, mom, are you going to
the booster club thing at school
on Friday?
Ah, mãe, você vai no clube de
apoio na escola na sexta?
Substituição
21 - I just feel like I've slacked
off.
Eu acho que acabei relaxando. Explicitação
22 - He's gonna suck! Ele vai se sair mal! Explicitação
23 - The block party was finally
here, and my worries were
melting away.
O festival finalmente chegou e
minhas preocupações
acabaram.
Explicitação
24 - In Orson, Indiana, that's
some serious trash-talking.
Em Orson, Indiana, isso é
provocação séria.
Substituição
25 - And when you get the E quando você tem a chance de Explicitação
15
chance to give me a little shout-
out, what do you do?
me dar um pouco de
reconhecimento, o que faz?
6 - Episódio A Porta da Frente (Escrito por Russ Woody e dirigido por Michael Spiller)
26 - [...] to carry the torch for all
the lady-kind and [...]
[...] para dar o exemplo a todas
as mulheres e [...]
Explicitação
27 - Over the next few days, I
tried every sales trick in the
book.
Nos dias seguintes, usei todos os
truques de venda que conhecia.
Substituição
28 - The third time's the charm. A terceira tentativa é a que
vale.
Explicitação
7 - Episódio O Arranhão (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por
Wendey Stanzler e Alex Reid)
29 - [...] you can see we're just
your average family.
[...] você vê que somos uma
família típica.
Transposição
30 - We have a teenage son that
is a huge pain in the butt.
Temos um filho adolescente que
é uma grande amolação.
Explicitação
31 - And at that moment, it
dawned on us [...]
Naquele momento, ficou claro
para nós [...]
Explicitação
32 - Well, if this whole thing
goes south, [...]
Bem, se isso tudo der errado
[...]
Explicitação
33 - Any scorned woman would
kill for this chance!
Qualquer mulher passada para
trás mataria por essa chance!
Transposição
34 - I tried to be as mellow as
Mike,[...]
Tentei ser tão madura quanto
Mike, [...]
Decalque
35 - [...] but the truth is, I was a
basket case.
[...], mas na verdade, eu não
sabia o que fazer.
Explicitação
36 - [...] it came in handy. [...] foi bem conveniente. Explicitação
8 - Episódio Ação de Graças (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Michael Spiller)
37 - She just totally freaked out
on me!
Ela teve um ataque! Substituição
38 - Oh, I am not dragging my
butt through another corn maze.
Oh, eu não vou me arrastar por
mais um labirinto no milharal.
Decalque
39 - [...] 'cause Big Mike's kind of
a hoarder.
[...] porque o pai de Mike é o que
se pode chamar de
acumulador.
Explicitação
40 - That's why we're gonna
pick up the slack [...]
É por isso que vamos pôr a mão
na massa [...]
Transposição (não tão exata,
pois a expressão significa "tirar
o atraso")
41 - But if you're on the fence,
don't fire me.
Mas se você estiver em dúvida,
não me demita.
Explicitação
9 - Episódio Irmãos (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Barnet Kellman)
42 - [...] really bugged the hell [...] realmente me incomodou. Substituição
16
out of me.
43 - After all the crap that had
been thrown at me that night [...]
Depois da noite difícil que tive
[...]
Substituição
44 - I didn't really put my finger
on why till I got home.
Não entendi muito bem o
porquê até chegar em casa.
Explicitação
45 - And then it hit me. E então a ficha caiu. Transposição
46 - All the women in our family
get a little loopy toward the end.
Todas as mulheres em minha
família acabam ficando meio
doidas.
Explicitação
47 - [...] a little ahead of
schedule?
[...] um pouco antes da hora? Substituição
48 - Mike knew he was gonna
have to bite the bullet.
Mike sabia que teria que criar
coragem.
Explicitação
10 - Natal (Escrito por Roy Brown e dirigido por Barnet Kellman)
49 - It's worth a shot. Vale a pena tentar. Transposição
50 - [...] trying to get him out of
his funk.
[...] tentando animá-lo. Substiuição
51 - I'm here busting my butt
getting Christmas together, [...]
Estou aqui me esforçando para
fazer o nosso Natal, [...]
Explicitação
52 - [...], I gotta bounce. [...] tenho que ir. Explicitação
53 - Don't get me wrong. Não me leve à mal. Transposição
11 - O Jeans (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Jamie Babbit)
54 - [...] but one thing doesn't
change: teenagers suck.
[...] uma coisa nunca muda:
adolescentes são um saco.
Transposição
55 - Okay, against all
judgement, you can watch Doris.
Ok, apesar de tudo, você pode
tomar conta da Doris.
Substituição
56- See if she buys it. Vamos ver se ela acredita. Explicitação
57 - And Sue was over the
moon with her new jeans.
E Sue estava encantada com
sua nova calça jeans.
Substituição
58 - Well, you are no picnic to
live with either!
Bem, você não é moleza! Transposição
59 - Well, the joke's on her, [...] Azar o dela, [...] Transposição
60 - You totally rock! Você é demais! Transposição
12 - A Vizinhança (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat
Chemel)
61 - You know, it's time to take a
stand.
Você sabe que já é hora de
tomar uma atitude.
Explicitação
62 - [...] nicely played, little man. [...] boa sacada, garoto. Transposição
13 - A Entrevista (Escrito por Vijal Patel e Dirigido por Ken Whittingham)
63 - So Mike picked himself up. Mike sacodiu a poeira. Transposição
17
14 - A Gritaria (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Elliot Hegarty)
64 - Maybe we should call that
one a write-off.
Talvez devemos deixá-lo de
lado.
Explicitação
65 - Am I talking for my own
health here?
Estou gastando meu latim à
toa?
Transposição
66 - Okay, the point is, we've
gotten into a bad pattern.
Acontece que entramos num
ciclo ruim.
Substituição
67 - Cut yourself some slack. Seja paciente consigo mesma. Explicitação
68 - [...] and what happened is, is
that it's a load of crap.
[...] o que acontece é que isso
tudo é uma grande bobagem.
Explicitação
15 - Dia dos Namorados (Escritos por Bruce Rasmussen e dirigido por Chris Koch)
* Nada significativo foi encontrado neste episódio.
16 - O Concurso (Escrito por Eileen Heisler e DeAnn Heline e dirigido por Ken
Whittingham)
69 - But I had a lot on my plate! Havia muita coisa acontecendo. Explicitação
70 - It's not a big deal! Não é importante! Substituição
17 - O Rompimento (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Wendey Stanzler)
71 - [...] chipping in and doing
what we can for the common
good.
[...] contribuindo e fazendo o
que podemos para o bem
comum.
Decalque
72 - [...] we have a proud history
of lending a helping hand;
[...] nós temos um histórico de
ajudar uns aos outros.
Explicitação
73 - [...] we have what I like to
call my sucker list,
[...] temos o que chamamos de
lista de otários.
Substiuição
74 - It's just that she's so...
Going places...
É que ela vai alcançar muitas
coisas...
Substiuição
75 - [...] and doesn't seem
to want to go anywhere.
[...] e ele não vai conseguir
nada.
Substituição
76 - Way to go, Mike. Muito bem, Mike. Transposição
77 - Are you nuts? Você está louca? Explicitação
18 - A Casa Divertida (Escrito por Roy Brown e dirigido por Chris Koch)
78 - [...] and they were called
gold diggers,
[...] e elas eram chamadas de
caça-dinheiro,
Substituição
79 - You think I should make my
move while she's still
hammered?
Você acha que devo agir, mesmo
ela estando bêbada?
Explicitação
80 - Bear with us. She's
in training.
Aguente firme. Ela está
aprendendo.
Transposição
81 - I'm at work dealing with this
nut bag [...]
Estou no trabalho lidando com
esta louca [...]
Explicitação
82 - You are crackers, lady. Você é maluca, moça. Explicitação
18
19 - Os Últimos Quatro (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Alex Reid)
83 - She thinks I have trouble
fitting in.
Ela acha que eu não consigo me
misturar.
Substituição
84 - Well, then maybe you should
just suck it up and go.
Então, talvez só resta a você
conformar-se e ir.
Explicitação
85 - All signs are clear that he is
coming.
Tudo indica que ele vai. Explicitação
86 - So just leave it alone! Então deixa quieto! Transposição
87 - Pull yourself together. Comporte-se! Substituição
88 - We got away with it. Nós escapamos dessa. Explicitação
20 - TV ou Não TV (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Lee Shallat Chemel)
89 - Cut to the chase. Seja direto. Substituição
90 - Mr. Seifried, we're not cut
out for the playground.
Mr. Seifried, nós não fomos
feitos para brincar no parque.
Transposição
91 - [...] 'cause I thought we
agreed to spin the wheel.
[...] porque achei que tínhamos
combinado de arriscar.
Substituição
21 - Preocupação (Escrito por Bruce Rasmussen e dirigido por Lee Shallat Chemel)
92 - Food, drinks, games, the
whole shebang.
Comida, bebida, e tudo mais. Substituição
93 - Yeah, right. Até parece! Transposição
94 - Whose greatest pearls of
wisdom are "shake it off" and
"man up."
Cujas grandes pérolas de
sabedoria são "relaxa" e "deixa
de ser fresco."
Explicitação e Transposição
95 - She would not be jerkin'
you around like this.
Ela não brincaria assim com os
seus sentimentos.
Transposição
96 - Mom, I didn't tell you I'm
back with Morgan, 'cause I knew
you'd flip out.
Mãe, eu não te contei que voltei
com a Morgan, porque sabia que
você ficaria louca.
Explicitação
97 - So could we just drop it? Podemos encerrar este caso? Transposição
98 - And with no scholarship, he
can kiss college good-bye.
E sem bolsa de estudos, ele
pode desistir da faculdade.
Substituição
22 - Dia das Mães (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Barnet
Kellman)
99 - Stop goofing around! Parem de brincadeira! Transposição
100 - Never mind. Deixa pra lá. Transposição
101 - Ship's pretty much sailed
on that one.
A vaca já foi para o brejo. Transposição
102 - I could finally catch a
break.
Pude finalmente ter uma folga. Explicitação
103 - It doesn't always live up
to the hype.
Não faz jus às expectativas. Transposição
19
23 - Sinais (Escrito por Eileen Heisler and DeAnn Heline e dirigido por Jamie Babbit)
104 - I make the chitchat. Eu jogo conversa fora. Transposição
105 - That's a lot of hassle. Dá muito trabalho. Explicitação
106 - The odd squad pageant. A apresentação dos
esquisitos.
Explicitação
107 - Most of us take for
granted.
Coisas que a maioria de nós
considera praxe.
Transposição
108 - You wanna go down this
road?
Você quer mesmo falar sobre
isso?
Explicitação
109 - But it was kind of a pain to
have to drive her.
Era um saco ter de levá-la. Transposição
110 - Attaboy! Bom garoto! Transposição
111 - The Heck barbecue was in
full swing.
O churrasco dos Heck estava a
todo vapor.
Transposição
112 - Yeah, Mike and Brick were
never gonna be social
butterflies.
Sim, Mike e Brick nunca seriam
os reis da festa.
Transposição
24 - Regras Comuns (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Wendey
Stanzler)
113 - I just can't seem to place
her face.
Não consigo ligar o nome à
pessoa.
Transposição
114 - And stay positive in the
face of all odds.
E pensar positivamente apesar
de tudo.
Explicitação
Com a análise concluída, é possível observar que foram utilizados principalmente
os processos de transposição, explicitação e substituição e que em todas as legendas
analisadas foram mantidas a naturalidade e a oralidade e que o teor de humor foi
preservado.
Conclusão
Após assistir a todos os episódios e acompanhar as legendas em inglês e a
tradução das mesmas para o português, conclui-se que o tradutor, ou tradutores,
buscou aproximar-se ao máximo do que poderia ser natural em nossa língua e cultura,
com clareza e habilidade e sem perder o toque de oralidade nas falas dos personagens
e conseguindo também transmitir o humor sutil e mais crítico presente na série The
Middle.
20
Pela própria natureza das amostras (gírias, expressões idiomáticas e expressões
convencionais) já era de se esperar que houvesse poucos decalques, já que quase
nunca o significado destas expressões pode ser literal. Das 115 amostras em negrito, o
tradutor, ou tradutores, pôde usar decalque apenas 9 vezes. Nas outras amostras, há
43 usos de explicitação, pois muitas vezes o tradutor precisa explicar um pouco o que o
personagem quis dizer com outras palavras e quando isso não é possível por questões
de limitação de espaço da legenda e tempo, o tradutor opta pela substituição, presente
nas amostras 24 vezes. Ou seja, ele explica, mas de uma forma um pouco mais
concisa, substituindo toda a explicação por uma palavra ou expressão equivalente mais
fácil ou mais curta. Apenas em 38 amostras, foi feita a transposição, trazendo as
expressões para a nossa cultura ao fazer uso de gírias e expressões idiomáticas ou
convencionais na Língua Portuguesa. Só houve um caso de compensação, pois
nenhuma das outras técnicas faria jus ao texto em inglês, portanto o tradutor teve que
ser extremamente criativo e adaptar o texto (amostra 13) para dar conta do humor e do
significado naquela frase.
Comprova-se com esta pesquisa que tradutores, além de um conhecimento
extenso de sua língua materna e de sua língua estrangeira de trabalho, devem também
ter um grande interesse e conhecimento na cultura que envolve o projeto que está
executando. Além disso, por limitações técnicas, de prazo e também da própria língua
portuguesa, o tradutor para legendagem há de ser muito criativo, pois muitas vezes terá
que procurar vários caminhos até encontrar a solução adequada, que corresponda ao
sentido do texto original, e que mantenha a naturalidade e a oralidade das falas dos
personagens e a carga humorística, especificamente no caso das sitcoms.
21
Orality and Naturality in Audiovisual Translation: the technical, cultural and linguistic
challenges in the translation of slangs, idiomatic expressions and conventional
expressions in the subtitling of the sitcom The Middle
Abstract:
This article aims at analyzing the subtitles of the sitcom The Middle with the
purpose of observing the technical, cultural and linguistic challenges translators have to
overcome and observe if it is possible to maintain the naturality and the orality and the
humoristic tone in the translation of slangs, idiomatic or conventional expressions. The
methodology is based on the descriptive studies of translation by Campos (1987) and by
Rónai (2012) and on two translation theories; the Relevance Theory, by Sperber e
Wilson (1987) and the Skopos Theory, by Vermeer (1996). The analysis is
complemented by the audiovisual translation studies, based on research made by Diáz
e Remael (2007); as well as by the studies in Humor Translation by Rosas (2002) and
the Superiority Theory, by Hobbes (1840). Samples containing slangs, idiomatic or
conventional expressions were collected from all the episodes in the first season of The
Middle with the objective to verify if the humor, the orality and the naturality were kept in
the subtitles in Portuguese and verify what were the processes more often used by the
translators in the subtitles. The subtitles revealed that the three processes that were
more often used in the subtitles containing slangs, idiomatic or conventional expressions
were the explicitation, the substitution and the transposition and that it was possible to
maintain the naturality and the orality in the subtitles as well as the humoristic tone, but
the translator needed to have great linguistic and cultural knowledge and had to be
creative in order to find the best ways to overcome the difficulties in the project.
Keywords: The challenges of subtitling sitcoms. Translating Humor. Cultural and
Linguistic Knowledge. Slangs, idiomatic expressions, conventional expressions.
22
Referências Bibliográficas:
ALVES, Fábio; MAGALHÃES, Célia; PAGANO, Adriana. Traduzir com Autonomia:
Estratégias para o Tradutor em Formação. São Paulo: Editora Contexto, 2000. 159p.
CAMPOS, Geir. O que é tradução. 2 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. 87p.
CARVALHO, Laiz Barbosa de. Minidicionário Larousse da Língua Portuguesa. 3 ed.
São Paulo: Editora Larousse do Brasil, 2009. 866p.
CLAIRE, Elizabeth. Student's Introduction to American Humor. 3rd ed. Virgínia
(USA): Eardley Publications, 2012. Kindle Edition.
DIÁZ, Jorge; REMAEL, Aline. Audiovisual Translation: Subtitling. New York (USA):
Routlegde, 2007. Kindle Edition.
GOROVITZ, Sabine. Os labirintos da Tradução: A Legendagem Cinematográfica e a
Construção do Imaginário. Brasília: Editora UnB, 2006. 78p.
GRUNER, Charles. The Game of Humor: A Comprehensive Theory of Why We Laugh.
New Brunswick (USA): Transaction Publishers, 2000.
NIKOLIC, Kristjian. Dissertation: The Perception of Culture through Subtitles.
Zagreb (Croatia), Universitat Wien, 2011. Kindle Edition.
RÓNAI, Paulo. Escola de Tradutores. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio,
2012. 190p.
ROSAS, Marta. Tradução de Humor: Transcriando Piadas. Rio de Janeiro: Editora
Lucerna, 2002. 122p.
SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Précis of Relevance: Communication and Cognition.
Behavioral and Brain Sciences Journal. Cambridge (UK), Volume 10, 1987.
TAGNIN, Stella Ortweiler. Expressões Idiomáticas e Convencionais. São Paulo:
Editora Ática, 1989. 88p.
23
THE Middle 1ª Temporada. Criação de Eileen Heisler e DeAnn Heline. Warner Bros.
Estados Unidos da América, 2009. AMZ Mídia Industrial. Manaus, AM, 2013. DVD
(5h15m), colorido, legendado.
VERMEER, Hans Joseph. Skopos and Comission in Translational Action. In:
CHESTERMAN, Andrew (Ed.). Readings in Translation Theory. Helsink (Finland): Oy
Finn Lectura Ab, 1989. p.173 - 87.
______ . Skopos and Commission in Translational Action. In: VENUTI, Lawrence (Ed.).
The Translation Studies Reader. New York (USA) Routledge, 2000. p. 221–32.

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Aline - Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual versão final do TCC

  • 1. Oralidade e Naturalidade na Tradução Audiovisual: os desafios técnicos, culturais e linguísticos na tradução de gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais na legendagem do sitcom The Middle Aline Carolina dos Santos Mehedin1 Resumo O presente artigo tem por objetivo analisar as legendas do sitcom The Middle com o intuito de observar os desafios de cunho técnico, cultural e linguístico que os tradutores devem transpor, e observar se é possível manter a naturalidade, a oralidade e o teor de humor nas traduções de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais. A metodologia situa-se nos estudos descritivos de tradução de Campos (1987) e Rónai (2012) e em duas teorias de tradução; a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (1987), e a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Complementam a análise, os estudos de tradução audiovisual, pautados nas pesquisas de Diáz e Remael (2007); e também os estudos da Tradução de Humor, de Rosas (2002), e a Teoria da Superioridade, de Hobbes (1840). Foram analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas ou convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada de The Middle, com o objetivo de verificar principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade foram mantidos nas legendas em português e quais foram os processos mais utilizados pelos tradutores nas legendas. As amostras revelaram que os três processos mais utilizados na tradução de legendas com gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais neste sitcom foram a explicitação, a substituição e a transposição e que foi possível manter a naturalidade e a oralidade nas legendas e o teor do humor, através do conhecimento linguístico, cultural e também criatividade por parte do tradutor para encontrar as melhores soluções para as dificuldades no projeto. Palavras-chave: Desafios da legendagem de sitcoms. Tradução de humor. Conhecimento cultural e linguístico. Gírias, expressões idiomáticas, expressões convencionais. 1 Professora particular de Língua Inglesa, Tradutora e Revisora dos pares ING <>BPOR. E-mail: amconsultoriaingles.aline@gmail.com.
  • 2. 2 Introdução Neste artigo, será apresentada a análise de legendas coletadas do sitcom americano The Middle, sendo essas amostras focadas em gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais. Os principais objetivos desta análise serão observar os possíveis desafios técnicos, culturais e linguísticos neste tipo de projeto de legendagem; observar os processos de tradução escolhidos pelos tradutores em cada legenda, e; constatar se o tradutor foi bem sucedido na questão de manter a naturalidade e a oralidade das falas dos personagens, respeitando aspectos como cultura e humor. O suporte teórico da presente análise será pautado primeiramente nos estudos descritivos de tradução, como os de Campos (1987) e Rónai (2012) e em duas teorias de tradução: a Teoria da Relevância, através de estudos de Sperber e Wilson (1987), e a Teoria do Escopo, de Vermeer (1996). Como a pesquisa será focada em legendagem, complementam a análise os estudos de tradução audiovisual, pautados nas pesquisas de Diáz e Remael (2007), principalmente. Na questão referente ao humor, a pesquisa será complementada também pelos estudos da Tradução de Humor, de Rosas (2002), e pela Teoria da Superioridade, de Hobbes (1840). Serão analisadas amostras de gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais coletadas de todos os episódios da primeira temporada do sitcom The Middle, ressaltando que a análise será meramente descritiva, observando principalmente se o humor, a oralidade e a naturalidade foram mantidos nas legendas em português. Os desafios técnicos, culturais e linguísticos A legendagem é um campo da tradução que vem crescendo exponencialmente no mundo todo. Com o avanço das tecnologias computacionais, de satélite, cabos de
  • 3. 3 fibra ótica, mais pessoas estão tendo acesso a programas internacionais e, por essa razão, a figura do tradutor de material audiovisual vem sendo cada vez mais requisitada. Há vários desafios no que concerne a profissão de tradutor audiovisual que serão explorados nas seções a seguir. Tradução e Legendagem Antes de tudo, é importante que se defina o que é tradução, tradução audiovisual e legendagem para que o presente artigo fique bem posicionado e compreendido. A definição de tradução no dicionário Larousse da língua portuguesa (2009, p. 811) é "ato ou efeito de traduzir". Geir Campos, no livro O que é tradução? (1987, p. 7), complementa: Enquanto ato, leva o tempo que o tradutor emprega no seu trabalho; como efeito, é o que resulta desse trabalho. O verbo traduzir vem do verbo latino TRADUCERE, que significa conduzir ou fazer passar de um lado para o outro, algo como atravessar. Outra definição de tradução é a do ensaísta inglês John Cunnison Catford (apud Campos, 1987, p.11) que disse que “tradução é a substituição de material textual de uma língua por material textual equivalente em outra língua”. Embora não tão claramente, está subentendida na opinião de Calford, quando se refere a “material textual”, que não são meramente palavras substituídas de uma língua para outra, mas existe toda uma questão semântica envolvida, que deve ser posta em primeiro plano e, só desta forma é que se conseguirá atingir o objetivo específico da tradução e é também marcante em sua citação a palavra "equivalente" o que nos traz à tona a discussão se é possível fazer uma tradução realmente fiel ao texto ou se ela sempre será uma cópia em outra língua de um texto. Nesta questão, Paulo Rónai, em seu livro Escola de Tradutores, expõe seu ponto de vista: A fidelidade alcança-se muito menos pela tradução lateral do que por uma substituição contínua. A arte do tradutor consiste justamente em saber quando pode verter e quando deve procurar equivalências. (2012, p. 24)
  • 4. 4 Pensando nesta questão da equivalência em tradução que Catford e Rónai levantaram em suas definições, as duas teorias de tradução nas quais este trabalho foi baseado foram a Teoria da Relevância e a Teoria do Escopo (ou Skopostheorie). A Teoria da Relevância é uma teoria da área da Pragmática e foi proposta por Dan Sperber e Deirdre Wilson. É uma teoria que considera as inferências implícitas na comunicação e argumenta que o ouvinte/o leitor/o público irá buscar por significado em qualquer situação que envolva comunicação e, assim que encontrar o significado que faça jus às suas expectativas de relevância, irá parar a busca e o processamento por mais significado. Essa não é uma teoria da Linguística em sentido estrito, pois permeia entre as áreas da Cognição e da Comunicação. Para Sperber e Wilson, a cognição humana tem uma forte tendência a sempre buscar a relevância na comunicação. Segundo Sperber e Wilson, em artigo publicado em 1987 num periódico da Universidade de Cambridge, p.465: A cognição humana objetiva o melhoramento da quantidade, qualidade e organização do conhecimento do indivíduo. Para alcançar esse objetivo do modo mais eficiente possível, o indivíduo precisa, a todo momento, tentar disponibilizar seus recursos de processamento à informação mais relevante. [...] à informação que tem maior probabilidade de gerar o maior aumento de conhecimento com o menor esforço de processamento. (tradução nossa). A segunda teoria na qual o presente artigo foi baseado é a Teoria do Escopo. Skopos em grego significa propósito e esse é o principal fundamento dessa teoria, que é um conceito do campo dos estudos de tradução e argumenta que a tradução é uma atividade com um propósito final e que se aplica a qualquer projeto de tradução. Essa teoria foi estabelecida pelo linguista alemão Hans Vermeer e defende que a tradução e a interpretação devem, acima de tudo, levar em consideração a função da mensagem, tanto no texto fonte quanto no texto meta. Para Vermeer, traduzir significa produzir um texto meta numa situação meta com um propósito meta para uma audiência meta, ou seja, a função da mensagem deve ser passada até o receptor final, custe o que custar em termos de linguagem. Para Vermeer, "[...] os textos meta variam dependendo do escopo que se pretende alcançar"; e a tradução "é uma ação que é determinada por
  • 5. 5 sua finalidade (está em função da sua finalidade). Em tradução, vale dizer que o fim justifica os meios". (Vermeer, 1996, p.84 apud Rosas, 2002, p.47). A Teoria do Escopo serve de base, principalmente, para estudos que envolvam tradução e cultura. Nas palavras de Vermeer: A língua meta, o translatum, é direcionada à cultura meta, e é essa que define sua adequação. É por isso que os textos fonte e meta podem diferenciar-se um do outro consideravelmente, não somente na formulação e na distribuição do conteúdo, mas também em relação aos objetivos que são buscados em cada um, e são nesses objetivos que a organização do conteúdo é, de fato, determinada". (Vermeer, 2000, p.229 - tradução nossa). A área de tradução é muito abrangente e ampla e compreende vários ramos. A tradução audiovisual é um conjunto de práticas de tradução de filmes, séries, programas de TV, novelas, documentários, palestras, desenhos, tanto projetados para o cinema quanto para a televisão ou distribuição em VHS, DVD ou Blue-Ray. Nessa área o tradutor pode contribuir de duas formas: fazendo tradução para legendagem ou para dublagem. O presente artigo discute os desafios que permeiam o trabalho do tradutor de material audiovisual no que diz respeito à naturalidade e às adequações necessárias nos materiais traduzidos para a legendagem, que é assim definida por Diáz e Remael em seu livro Audiovisual Translation: Subtitling, de 2007: A legendagem pode ser definida como uma prática de tradução que consiste em apresentar um texto escrito, geralmente na parte inferior da tela, que objetiva recontar o diálogo original dos falantes, assim como os elementos discursivos que aparecem na imagem (cartas, inscrições, grafite, sinalizações, etc.) e a informação que está contida na trilha sonora (canções e outras vozes). (tradução nossa). No campo da legendagem, há vários detalhes técnicos que podem dificultar o trabalho do tradutor, entre eles o equilíbrio entre a imagem, o tempo de fala e o texto escrito traduzido, ou seja, para que se obtenha o sincronismo na legendação, é necessário que se observe o tempo de apresentação do material a ser traduzido, o tempo de entrada e retirada da legenda e o tempo de leitura do telespectador. Sabine Gorovitz, em sua dissertação de mestrado sobre legendagem, expõe essa questão:
  • 6. 6 Além desses obstáculos (de linguagem), trata-se de uma redução significativa dos elementos semânticos. O tradutor, pelas limitações técnicas impostas, deve resumir e sintetizar ao máximo o diálogo, tentando produzir uma mensagem curta e clara e tendo unidade semântica. Essas restrições são condicionadas pelas necessidades do olho físico em relação ao tempo de leitura. Assim, a mensagem deve estar contida em, no máximo, duas linhas de até 56 caracteres. (2006, p.65) O tradutor de material audiovisual para legendagem também tem um outro dificultador que é a questão de prazos. Tradutores que trabalham para estúdios grandes de cinema e de televisão muitas vezes têm que trabalhar com prazos muito curtos e, além da tradução em si, precisam fazer as marcações dos tempos das legendas e, para isso, precisam aprender a trabalhar com softwares bem específicos. Nas seções a seguir, o artigo trata de outros desafios no trabalho de legendagem, mais especificamente a questão da tradução de humor e o conhecimento da cultura fonte e da cultura meta. Cultura e Humor Existem várias definições do que vem a ser cultura; uma delas é que cultura engloba estilos de vida, costumes, hábitos, crenças, línguas e valores de certa comunidade, cidade, país ou região. Vermeer (apud Nikolic, 2011) definiu cultura como "a totalidade de normas, convenções e opiniões que determinam o comportamento dos membros de uma sociedade e todos os resultados deste comportamento" (tradução nossa). Para tradutores se faz extremamente necessário ter muito conhecimento sobre a cultura fonte e também sobre a cultura meta para que o texto a ser transmitido não esteja correto somente em termos linguísticos, mas que faça sentido também no que se refere ao mundo em torno da língua meta, levando-se em consideração aspectos regionais, culturais, entre outros. Um destes aspectos que pode variar de cultura para cultura é a questão do humor. O humor é algo difícil de ser definido por ser algo subjetivo: o que pode ser engraçado para uma pessoa talvez não o seja para outra e o humor está intimamente
  • 7. 7 conectado com questões culturais, entre outras coisas. Existem várias teorias do humor, provenientes das áreas de Filosofia, Psicologia e também da Linguística. A teoria de humor utilizada para poder definir o que é engraçado e poder limitar a análise dos dados levantados nesta pesquisa foi a Teoria da Superioridade. A Teoria da Superioridade é uma das mais antigas teorias do humor e começou a ser delineada por Platão e Aristóteles, que em seus estudos e escritos enfatizaram os sentimentos mais agressivos que acabavam alimentando o humor. No entanto, a Teoria da Superioridade costuma ser associada ao filósofo do século XVII, Thomas Hobbes, que defende que o humor consiste na expressão de superioridade em relação ao objeto do nosso riso. Em seu livro Treatise on Human Nature, de 1840, Hobbes expõe: Os homens riem perante as dificuldades e as indecências, nas quais não se espera encontrar graça ou gozação...Os homens também riem das fraquezas dos outros...Devo, por isso, concluir que a paixão relacionada ao riso nada mais é do que uma sensação de glória repentina proveniente do repentino entendimento de que possuímos alguma distinção ou eminência em nós mesmos em comparação com a fraqueza dos outros, ou de nós mesmos, num momento anterior de nossas vidas. Por isso, os homens riem de seus erros e besteiras de seus passados quando lembram delas; mesmo trazendo junto com as memórias uma certa desonra pelos erros cometidos. (Hobbes apud Gruner, 2000, p.13 - tradução nossa) Segundo Hobbes, o humor elege sempre alguma vítima ou aponta para algum defeito alheio, como é o caso de muitas piadas e anedotas. Mesmo quando o humor, como frequentemente acontece, funciona como uma espécie de denúncia social ou política, estará expressando superioridade moral, intelectual ou de outro tipo. O presente artigo baseia-se nesta teoria e, consequentemente, na sua definição de humor e na sua avaliação do que é engraçado pelo fato do objeto da análise ser um sitcom, que explora o humor de uma maneira bastante peculiar, crítica e estereotipada. Sitcom é a forma abreviada de situation comedy, comédia de situação, em português. Essas séries exploram situações do cotidiano de um determinado grupo de pessoas, de uma determinada classe social ou num determinado contexto e o humor proveniente destas séries está intimamente relacionado com a cultura do ambiente onde a série se passa e há uma grande exploração de certos estereótipos de tal ambiente e de tal cultura e sempre que se explora estereótipos são inevitáveis as
  • 8. 8 relações de superioridade ou, simplesmente, de diferenças entre uns personagens em comparação com outros ou com os próprios telespectadores. Rosas, em seu livro Tradução de Humor (2002, p.23), cita a linguista Nancy Niedzielsky, que estuda as relações entre linguística e cultura, para explicar o senso de humor. O senso de humor depende de vários fatores sociais e mesmo individuais. Vez que cada comunidade cultural organiza seu próprio sistema de valores, costumes e comportamentos de modo distinto do de qualquer outra comunidade, as normas e incongruências humorísticas variam de cultura para cultura. Na verdade, a percepção e a expressão do humor são determinadas pela lógica coletiva de uma dada comunidade e pela lógica particular, dela derivada, que possui cada membro dessa comunidade. (Niedzielsky, 1989, apud Rosas, 2002, p. 23) Sitcoms são uma das expressões mais puras da cultura de um determinado lugar e por isso se tornam um desafio para tradutores de legendas, pois além das dificuldades e desafios técnicos do ofício, precisam decodificar o humor de certa cultura e transferi-lo para uma outra cultura, fazendo o que for possível para que o senso de humor seja preservado e que o conteúdo continue fazendo sentido. Isso condiz perfeitamente com o que Rónai diz em seu livro Escola de Tradutores (2012, p.25): "para ser fiel, o tradutor, além do indispensável conhecimento dos dois idiomas, precisa, sobretudo, de imaginação". No entanto, a questão da fidelidade fica um tanto confusa quando se trata de questões culturais, pois nem sempre existe a possibilidade de manter-se completamente fiel ao texto, pois o que foi escrito ou dito originalmente talvez não venha a fazer sentido para o leitor, ou no caso de material audiovisual, o expectador; muitas vezes em um único projeto audiovisual poderá ocorrer tanto a domesticação de termos quanto a estrangeirização. Assim explicam Diáz e Remael, (apud Nikolic, 2011): Não se trata somente de domesticação ou estrangeirização. Muitas vezes acontecerá a domesticação de termos e ocorrerá também muitas vezes a estrangeiração, ambos os processos num mesmo projeto de legendagem. Tudo dependerá do tom, do escopo ou da função da tradução, e também de toda a ação da qual o tradutor faz parte.
  • 9. 9 Diáz e Remael, em seu livro, Audiovisual Translation (2007, p. 202-207), explicam que o tradutor de legendagem sempre terá que fazer escolhas e que há vários processos que podem ocorrer em legendagem que serão pautados em questões linguísticas, mas principalmente culturais. Esses processos são: 1) empréstimo, 2) decalque, 3) explicitação, 4) substituição, 5) transposição, 6) recriação lexical, 7) compensação e 8) omissão. O empréstimo ocorre em uma situação na qual o texto ou frase fonte são incorporados na língua meta porque a tradução não é possível e as duas línguas utilizam a mesma palavra. O decalque é a tradução literal de uma palavra ou frase da língua fonte para a língua meta. A explicitação ocorre quando o legendador tenta fazer com que o texto fonte fique mais acessível, mais mastigado, para o espectador; isso acontece através de uma especificação ou generalização. A substituição é uma forma de explicitação e acontece muito em legendagem, principalmente por causa das restrições de espaço e tempo das legendas. A transposição acontece quando um conceito cultural de uma cultura é substituído pelo conceito cultural de outra. A recriação lexical ou invenção de neologismos é usada na língua meta quando os falantes da língua fonte também criam palavras. A compensação acontece quando o tradutor, para não perder algo, tem de acrescentar palavras na tradução para a língua meta ou fazer alguma alteração. E, finalmente, a omissão, que nada mais é do que o corte de palavras na hora da tradução; sendo bastante criticada, porém inevitável em muitos casos, novamente por causa de restrições relacionadas a tempo e espaço de legendas ou porque não há nada na língua meta que possa equivaler em sentido. Todos esses processos foram observados e estudados na análise dos dados. Língua, Oralidade e Naturalidade É fato que um tradutor necessita conhecer muito bem todas as línguas com as quais trabalha. O conhecimento da língua fonte permite que ele compreenda o texto a ser traduzido, com todas as suas particularidades e o conhecimento da língua meta é
  • 10. 10 fundamental para que a mensagem seja transmitida de forma correta e que faça sentido para os leitores/espectadores do material traduzido. No entanto, há uma categoria especial de frases e palavras que podem complicar o trabalho do tradutor/legendador, pois não dependem somente do conhecimento linguístico do tradutor. Essa é a categoria das gírias, ditados populares, expressões convencionais e expressões idiomáticas que, além do conhecimento linguístico, requer do tradutor também um grande conhecimento cultural, tanto da cultura fonte quanto da cultura meta, pois nas situações em que se usam essas expressões raramente existe a possibilidade de se fazer uma tradução ipisis literis, ou seja, ao pé da letra, e é o conhecimento cultural do tradutor e também a sua capacidade de imaginação e adaptação que poderão garantir maior naturalidade na tradução, principalmente de legendas. Campos expõe a grande importância do conhecimento cultural para que o trabalho do tradutor seja bem realizado: Não se traduz, afinal, de uma língua para outra, e sim de uma cultura para outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando e aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se destine o seu trabalho. (Campos, 1987, p.27) E quando relacionamos língua e cultura, não é somente uma questão de dialetos e sotaques, mas também de convencionalidades na fala das pessoas de certo lugar e de expressões e gírias que só fazem sentido naquele lugar. O tradutor, quando depara com gírias e expressões convencionais ou idiomáticas, muitas vezes tem que transcriar o sentido do diálogo, já que nem sempre, na verdade, muito raramente, haverá equivalência de uma língua para outra e de uma cultura para outra nestes casos. Gírias, ditos populares, expressões convencionais e idiomáticas são como uma identidade de certo grupo, algo que traz unidade a um certo grupo de pessoas, ou uma certa classe, ou de um lugar específico e o tradutor precisa estar muito atento a esse tipo de identidade cultural. Segundo Ferreira, 1986, citado por Tagnin em seu livro Expressões Idiomáticas e Convencionais: Quando nos referimos ao 'jeito que a gente diz' estamos, na verdade, falando de convenção, ou seja, daquilo que é aceito de comum acordo. As convenções
  • 11. 11 linguísticas são os 'jeitos' aceitos pela comunidade que fala determinada língua. Assim, podemos chamar de convencionalidade ao aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressão numa dada língua. (Ferreira apud Tagnin, 1989, p.11) Quando se pensa em língua e cultura na tradução para legendas, há ainda mais um detalhe técnico ao qual o tradutor deve prestar atenção: a questão da oralidade e naturalidade. Um dos desafios é o fato de o tradutor legendador estar transformando um texto que é falado, que naturalmente é acompanhado de diferentes entonações, tons diferentes de voz, inflexões que podem trazer pressupostos e significados subentendidos e também ocorrências intraduzíveis que podem significar algo como hesitações, gaguejos, etc.; num texto escrito, que deve ser claro, conciso e que possa ser lido e interpretado facilmente e rapidamente pelo espectador. Gorovitz coloca bem essa questão ao dizer que "a legendagem, submetida a imposições técnicas, é um texto 'deficiente'; [...] e constitui uma transposição de linguagem oral, com todos os elementos que ela carrega, para uma expressão econômica e restrita." (2006, p.10) Como dito anteriormente, o tradutor de legendas, especificamente de seriados de comédia, tem muitos desafios a serem contornados e vencidos num projeto deste tipo. Ele deve estar muito consciente sobre o material com o qual trabalhará, ter um bom entendimento linguístico e cultural a respeito do cenário de fundo e dos personagens envolvidos no seriado, qual a relação de humor e cultura existente no seriado e sempre procurar as melhores soluções possíveis em termos de transmissão da mensagem, da construção/reconstrução do humor e da manutenção da naturalidade no discurso. A seguir veremos como os legendadores do seriado The Middle contornaram estes desafios. Análise dos dados O objeto de estudo para este trabalho foi a primeira temporada do seriado The Middle, exibido legendado no Brasil pelo canal de televisão a cabo Warner Channel. O seriado se passa na pequena cidade fictícia de Orson, em Indiana, nos Estados Unidos
  • 12. 12 e retrata o dia a dia da família Heck, formada por Frankie e Mike Heck e seus filhos Axl, Sue e Brick. O humor no seriado é bem sutil, mas expressa de forma crítica e irônica o estilo de vida, economia, crenças, visões políticas, preconceitos e certos estereótipos da sociedade americana. Segundo os produtores, o nome The Middle foi escolhido para representar o meio, pois a família mora no meio do nada, são de classe média e Frankie e Heck estão na meia idade. Para entender o humor crítico do seriado, é importante conhecer os personagens e o que eles representam, assim como o lugar que serve como pano de fundo para tudo. Frankie Heck, interpretada pela atriz Patricia Heaton, é a personagem central do seriado e aparece como narradora em várias partes do programa. Ela é esposa e mãe dedicada e para ela não existe nada mais importante do que sua família, mesmo que quase sempre ela tenha que colocar-se em segundo plano para cuidar deles. Frankie iniciou os estudos na faculdade, mas não os concluiu e trabalha como vendedora na Ehlert Motors, uma concessionária de automóveis, cujo dono é extremamente machista e preconceituoso. Seu marido, Mike Heck, interpretado por Neil Flynn, é conhecido por sua extrema honestidade e estabilidade emocional. Mike trabalha como gerente de uma mineradora e é um pai e marido compreensível e dedicado. Parece ser meio ríspido, mas ama sua família incondicionalmente. Frankie e Mike são pais de Axl, Sue e Brick. Axl Heck, interpretado por Charlie McDermott, é o filho adolescente mais velho de Frankie e Mike e passa o dia todo em casa só de cueca samba canção. É extremamente sarcástico, preguiçoso, narcisista e egoísta em relação aos irmãos. No entanto, de vez em quando, mostra que no fundo tem um bom coração. Axl não gosta de estudar, só quer saber de namorar e jogar basquetebol, tem uma banda e aparentemente teve o seu nome escolhido por causa de Axl Rose. Sue Heck, interpretada por Eden Sher, a filha do meio, também adolescente, é uma garota de personalidade genuína, extremamente otimista e persistente, o que muitas vezes faz com que vire motivo de piada, principalmente por parte de seu irmão mais velho. Embora ela sempre esteja tentando se esforçar em todos os sentidos, é simplesmente ignorada por professores e colegas, como se fosse invisível na escola.
  • 13. 13 Ela se veste de maneira bem peculiar e usa aparelhos dentários e vive tentando fazer parte de todos os grupos e clubes da escola, não desiste nunca. Finalmente, o filho mais novo, Brick Heck, interpretado por Atticus Shaffer, é simplesmente apaixonado por livros, passa o dia todo lendo e tem uma mania de repetir sempre a última palavra que fala, num sussurro. Tem memória fotográfica, é o garoto mais inteligente da classe, mas se distrai muito facilmente e vive postergando suas tarefas. No seriado, fica meio subentendido que Brick sofre da Síndrome de Asperger, pois não lida muito bem com situações em que tem que socializar com outras crianças e adultos e tem muita dificuldade para fazer amigos. Os cinco personagens principais e mais alguns extras moram na pacata cidade fictícia chamada Orson, no estado de Indiana, que segundo eles mesmos, fica no meio do nada e não tem nada de interessante, exceto pela maior vaca de poliuterano do mundo, uma escultura que fica na entrada da cidade. Para a análise, foram assistidos todos os episódios e foram coletadas de cada episódio algumas amostras contendo gírias, expressões idiomáticas e quaisquer outros tipos de frases que pudessem oferecer uma dificuldade maior ao legendador em relação às línguas, à cultura e ao tipo de humor apresentado no seriado. Essas frases foram analisadas com o objetivo de levantar quais foram os processos utilizados e as soluções que o legendador adotou e se foi possível manter o humor, a oralidade e a naturalidade do texto na tradução para as legendas em português. Para não tornar o artigo tão extenso, foram transcritas aqui apenas as falas analisadas, sem o diálogo inteiro de onde foram tiradas. 1 - Episódio Piloto (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Julie Anne Robinson) 1- Brick is a very quirky child. Brick é um garoto muito peculiar. Decalque 2 - Get out of town! Pare com isso! Explicitação 3 - You think you're some sort of a big shot just 'cause you play ball? Você acha que é o cara só porque joga basquete? Transposição 4 - All kids are screwed up. Todas crianças são estragadas. Decalque 5- I was at the end of my rope. Eu já estava sem saco. Transposição
  • 14. 14 2 - Episódio Líder de Torcida (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Lee Shallat Chemel) 6 - If someone's gonna dash her hopes [...] Se tem alguém que pode acabar com as esperanças dela [...] Decalque 7 - Dork! Idiota! Decalque 8 - Knock it off! Parem com isso! Explicitação 9 - I'm not gonna sugarcoat it. Eu não vou amenizar a situação. Substituição 3 - Episódio A Comemoração Adiada (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Gail Mancuso) 10 - Those days, they called it foosball. Hoje em dia, é o que se chama de totó. Transposição (totó é falado em apenas algumas regiões do Brasil). 11 - My daughter was telling me about her first big crush. Minha filha estava falando sobre a primeira atração por um garoto. Explicitação 4 - Episódio A Viagem (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat Chemel) 12 - [...] to buy crap they don't want or need. [...] para comprar porcarias que ele não precisam. Decalque 13 - Sue was driven. She was driven by Mike all over Indiana. Sue era levada. Ela era levada por Mike por toda Indiana. Compensação 14 - I really thought I nailed the Sue thing. Eu achei que mandei muito bem no caso da Sue. Transposição 15 - But I stood my ground and explained the situation. Mas eu não recuei e expliquei a situação. Substituição 16 - If we don't hear before then, we'll step in. Se nós não soubermos de nada, então interferimos. Decalque 17 - There's this new boy in my class who eats his boogers. Há um garoto novo na minha sala que come meleca. Transposição 18 - [...] she's found some other poor sucker she can torment. [...] ela encontrou outro idiota para incomodar. Explicitação 5 - Episódio O Festival (Escrito por Alex Reid e dirigido por Ken Whittingham) 19 - Lawnmower races are lame. Corridas de cortador de grama são caretas. Transposição 20 - Oh, mom, are you going to the booster club thing at school on Friday? Ah, mãe, você vai no clube de apoio na escola na sexta? Substituição 21 - I just feel like I've slacked off. Eu acho que acabei relaxando. Explicitação 22 - He's gonna suck! Ele vai se sair mal! Explicitação 23 - The block party was finally here, and my worries were melting away. O festival finalmente chegou e minhas preocupações acabaram. Explicitação 24 - In Orson, Indiana, that's some serious trash-talking. Em Orson, Indiana, isso é provocação séria. Substituição 25 - And when you get the E quando você tem a chance de Explicitação
  • 15. 15 chance to give me a little shout- out, what do you do? me dar um pouco de reconhecimento, o que faz? 6 - Episódio A Porta da Frente (Escrito por Russ Woody e dirigido por Michael Spiller) 26 - [...] to carry the torch for all the lady-kind and [...] [...] para dar o exemplo a todas as mulheres e [...] Explicitação 27 - Over the next few days, I tried every sales trick in the book. Nos dias seguintes, usei todos os truques de venda que conhecia. Substituição 28 - The third time's the charm. A terceira tentativa é a que vale. Explicitação 7 - Episódio O Arranhão (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Wendey Stanzler e Alex Reid) 29 - [...] you can see we're just your average family. [...] você vê que somos uma família típica. Transposição 30 - We have a teenage son that is a huge pain in the butt. Temos um filho adolescente que é uma grande amolação. Explicitação 31 - And at that moment, it dawned on us [...] Naquele momento, ficou claro para nós [...] Explicitação 32 - Well, if this whole thing goes south, [...] Bem, se isso tudo der errado [...] Explicitação 33 - Any scorned woman would kill for this chance! Qualquer mulher passada para trás mataria por essa chance! Transposição 34 - I tried to be as mellow as Mike,[...] Tentei ser tão madura quanto Mike, [...] Decalque 35 - [...] but the truth is, I was a basket case. [...], mas na verdade, eu não sabia o que fazer. Explicitação 36 - [...] it came in handy. [...] foi bem conveniente. Explicitação 8 - Episódio Ação de Graças (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Michael Spiller) 37 - She just totally freaked out on me! Ela teve um ataque! Substituição 38 - Oh, I am not dragging my butt through another corn maze. Oh, eu não vou me arrastar por mais um labirinto no milharal. Decalque 39 - [...] 'cause Big Mike's kind of a hoarder. [...] porque o pai de Mike é o que se pode chamar de acumulador. Explicitação 40 - That's why we're gonna pick up the slack [...] É por isso que vamos pôr a mão na massa [...] Transposição (não tão exata, pois a expressão significa "tirar o atraso") 41 - But if you're on the fence, don't fire me. Mas se você estiver em dúvida, não me demita. Explicitação 9 - Episódio Irmãos (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Barnet Kellman) 42 - [...] really bugged the hell [...] realmente me incomodou. Substituição
  • 16. 16 out of me. 43 - After all the crap that had been thrown at me that night [...] Depois da noite difícil que tive [...] Substituição 44 - I didn't really put my finger on why till I got home. Não entendi muito bem o porquê até chegar em casa. Explicitação 45 - And then it hit me. E então a ficha caiu. Transposição 46 - All the women in our family get a little loopy toward the end. Todas as mulheres em minha família acabam ficando meio doidas. Explicitação 47 - [...] a little ahead of schedule? [...] um pouco antes da hora? Substituição 48 - Mike knew he was gonna have to bite the bullet. Mike sabia que teria que criar coragem. Explicitação 10 - Natal (Escrito por Roy Brown e dirigido por Barnet Kellman) 49 - It's worth a shot. Vale a pena tentar. Transposição 50 - [...] trying to get him out of his funk. [...] tentando animá-lo. Substiuição 51 - I'm here busting my butt getting Christmas together, [...] Estou aqui me esforçando para fazer o nosso Natal, [...] Explicitação 52 - [...], I gotta bounce. [...] tenho que ir. Explicitação 53 - Don't get me wrong. Não me leve à mal. Transposição 11 - O Jeans (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Jamie Babbit) 54 - [...] but one thing doesn't change: teenagers suck. [...] uma coisa nunca muda: adolescentes são um saco. Transposição 55 - Okay, against all judgement, you can watch Doris. Ok, apesar de tudo, você pode tomar conta da Doris. Substituição 56- See if she buys it. Vamos ver se ela acredita. Explicitação 57 - And Sue was over the moon with her new jeans. E Sue estava encantada com sua nova calça jeans. Substituição 58 - Well, you are no picnic to live with either! Bem, você não é moleza! Transposição 59 - Well, the joke's on her, [...] Azar o dela, [...] Transposição 60 - You totally rock! Você é demais! Transposição 12 - A Vizinhança (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Lee Shallat Chemel) 61 - You know, it's time to take a stand. Você sabe que já é hora de tomar uma atitude. Explicitação 62 - [...] nicely played, little man. [...] boa sacada, garoto. Transposição 13 - A Entrevista (Escrito por Vijal Patel e Dirigido por Ken Whittingham) 63 - So Mike picked himself up. Mike sacodiu a poeira. Transposição
  • 17. 17 14 - A Gritaria (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Elliot Hegarty) 64 - Maybe we should call that one a write-off. Talvez devemos deixá-lo de lado. Explicitação 65 - Am I talking for my own health here? Estou gastando meu latim à toa? Transposição 66 - Okay, the point is, we've gotten into a bad pattern. Acontece que entramos num ciclo ruim. Substituição 67 - Cut yourself some slack. Seja paciente consigo mesma. Explicitação 68 - [...] and what happened is, is that it's a load of crap. [...] o que acontece é que isso tudo é uma grande bobagem. Explicitação 15 - Dia dos Namorados (Escritos por Bruce Rasmussen e dirigido por Chris Koch) * Nada significativo foi encontrado neste episódio. 16 - O Concurso (Escrito por Eileen Heisler e DeAnn Heline e dirigido por Ken Whittingham) 69 - But I had a lot on my plate! Havia muita coisa acontecendo. Explicitação 70 - It's not a big deal! Não é importante! Substituição 17 - O Rompimento (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Wendey Stanzler) 71 - [...] chipping in and doing what we can for the common good. [...] contribuindo e fazendo o que podemos para o bem comum. Decalque 72 - [...] we have a proud history of lending a helping hand; [...] nós temos um histórico de ajudar uns aos outros. Explicitação 73 - [...] we have what I like to call my sucker list, [...] temos o que chamamos de lista de otários. Substiuição 74 - It's just that she's so... Going places... É que ela vai alcançar muitas coisas... Substiuição 75 - [...] and doesn't seem to want to go anywhere. [...] e ele não vai conseguir nada. Substituição 76 - Way to go, Mike. Muito bem, Mike. Transposição 77 - Are you nuts? Você está louca? Explicitação 18 - A Casa Divertida (Escrito por Roy Brown e dirigido por Chris Koch) 78 - [...] and they were called gold diggers, [...] e elas eram chamadas de caça-dinheiro, Substituição 79 - You think I should make my move while she's still hammered? Você acha que devo agir, mesmo ela estando bêbada? Explicitação 80 - Bear with us. She's in training. Aguente firme. Ela está aprendendo. Transposição 81 - I'm at work dealing with this nut bag [...] Estou no trabalho lidando com esta louca [...] Explicitação 82 - You are crackers, lady. Você é maluca, moça. Explicitação
  • 18. 18 19 - Os Últimos Quatro (Escrito por Rob Ulin e dirigido por Alex Reid) 83 - She thinks I have trouble fitting in. Ela acha que eu não consigo me misturar. Substituição 84 - Well, then maybe you should just suck it up and go. Então, talvez só resta a você conformar-se e ir. Explicitação 85 - All signs are clear that he is coming. Tudo indica que ele vai. Explicitação 86 - So just leave it alone! Então deixa quieto! Transposição 87 - Pull yourself together. Comporte-se! Substituição 88 - We got away with it. Nós escapamos dessa. Explicitação 20 - TV ou Não TV (Escrito por Vijal Patel e dirigido por Lee Shallat Chemel) 89 - Cut to the chase. Seja direto. Substituição 90 - Mr. Seifried, we're not cut out for the playground. Mr. Seifried, nós não fomos feitos para brincar no parque. Transposição 91 - [...] 'cause I thought we agreed to spin the wheel. [...] porque achei que tínhamos combinado de arriscar. Substituição 21 - Preocupação (Escrito por Bruce Rasmussen e dirigido por Lee Shallat Chemel) 92 - Food, drinks, games, the whole shebang. Comida, bebida, e tudo mais. Substituição 93 - Yeah, right. Até parece! Transposição 94 - Whose greatest pearls of wisdom are "shake it off" and "man up." Cujas grandes pérolas de sabedoria são "relaxa" e "deixa de ser fresco." Explicitação e Transposição 95 - She would not be jerkin' you around like this. Ela não brincaria assim com os seus sentimentos. Transposição 96 - Mom, I didn't tell you I'm back with Morgan, 'cause I knew you'd flip out. Mãe, eu não te contei que voltei com a Morgan, porque sabia que você ficaria louca. Explicitação 97 - So could we just drop it? Podemos encerrar este caso? Transposição 98 - And with no scholarship, he can kiss college good-bye. E sem bolsa de estudos, ele pode desistir da faculdade. Substituição 22 - Dia das Mães (Escrito por Jana Hunter e Mitch Hunter e dirigido por Barnet Kellman) 99 - Stop goofing around! Parem de brincadeira! Transposição 100 - Never mind. Deixa pra lá. Transposição 101 - Ship's pretty much sailed on that one. A vaca já foi para o brejo. Transposição 102 - I could finally catch a break. Pude finalmente ter uma folga. Explicitação 103 - It doesn't always live up to the hype. Não faz jus às expectativas. Transposição
  • 19. 19 23 - Sinais (Escrito por Eileen Heisler and DeAnn Heline e dirigido por Jamie Babbit) 104 - I make the chitchat. Eu jogo conversa fora. Transposição 105 - That's a lot of hassle. Dá muito trabalho. Explicitação 106 - The odd squad pageant. A apresentação dos esquisitos. Explicitação 107 - Most of us take for granted. Coisas que a maioria de nós considera praxe. Transposição 108 - You wanna go down this road? Você quer mesmo falar sobre isso? Explicitação 109 - But it was kind of a pain to have to drive her. Era um saco ter de levá-la. Transposição 110 - Attaboy! Bom garoto! Transposição 111 - The Heck barbecue was in full swing. O churrasco dos Heck estava a todo vapor. Transposição 112 - Yeah, Mike and Brick were never gonna be social butterflies. Sim, Mike e Brick nunca seriam os reis da festa. Transposição 24 - Regras Comuns (Escrito por DeAnn Heline e Eileen Heisler e dirigido por Wendey Stanzler) 113 - I just can't seem to place her face. Não consigo ligar o nome à pessoa. Transposição 114 - And stay positive in the face of all odds. E pensar positivamente apesar de tudo. Explicitação Com a análise concluída, é possível observar que foram utilizados principalmente os processos de transposição, explicitação e substituição e que em todas as legendas analisadas foram mantidas a naturalidade e a oralidade e que o teor de humor foi preservado. Conclusão Após assistir a todos os episódios e acompanhar as legendas em inglês e a tradução das mesmas para o português, conclui-se que o tradutor, ou tradutores, buscou aproximar-se ao máximo do que poderia ser natural em nossa língua e cultura, com clareza e habilidade e sem perder o toque de oralidade nas falas dos personagens e conseguindo também transmitir o humor sutil e mais crítico presente na série The Middle.
  • 20. 20 Pela própria natureza das amostras (gírias, expressões idiomáticas e expressões convencionais) já era de se esperar que houvesse poucos decalques, já que quase nunca o significado destas expressões pode ser literal. Das 115 amostras em negrito, o tradutor, ou tradutores, pôde usar decalque apenas 9 vezes. Nas outras amostras, há 43 usos de explicitação, pois muitas vezes o tradutor precisa explicar um pouco o que o personagem quis dizer com outras palavras e quando isso não é possível por questões de limitação de espaço da legenda e tempo, o tradutor opta pela substituição, presente nas amostras 24 vezes. Ou seja, ele explica, mas de uma forma um pouco mais concisa, substituindo toda a explicação por uma palavra ou expressão equivalente mais fácil ou mais curta. Apenas em 38 amostras, foi feita a transposição, trazendo as expressões para a nossa cultura ao fazer uso de gírias e expressões idiomáticas ou convencionais na Língua Portuguesa. Só houve um caso de compensação, pois nenhuma das outras técnicas faria jus ao texto em inglês, portanto o tradutor teve que ser extremamente criativo e adaptar o texto (amostra 13) para dar conta do humor e do significado naquela frase. Comprova-se com esta pesquisa que tradutores, além de um conhecimento extenso de sua língua materna e de sua língua estrangeira de trabalho, devem também ter um grande interesse e conhecimento na cultura que envolve o projeto que está executando. Além disso, por limitações técnicas, de prazo e também da própria língua portuguesa, o tradutor para legendagem há de ser muito criativo, pois muitas vezes terá que procurar vários caminhos até encontrar a solução adequada, que corresponda ao sentido do texto original, e que mantenha a naturalidade e a oralidade das falas dos personagens e a carga humorística, especificamente no caso das sitcoms.
  • 21. 21 Orality and Naturality in Audiovisual Translation: the technical, cultural and linguistic challenges in the translation of slangs, idiomatic expressions and conventional expressions in the subtitling of the sitcom The Middle Abstract: This article aims at analyzing the subtitles of the sitcom The Middle with the purpose of observing the technical, cultural and linguistic challenges translators have to overcome and observe if it is possible to maintain the naturality and the orality and the humoristic tone in the translation of slangs, idiomatic or conventional expressions. The methodology is based on the descriptive studies of translation by Campos (1987) and by Rónai (2012) and on two translation theories; the Relevance Theory, by Sperber e Wilson (1987) and the Skopos Theory, by Vermeer (1996). The analysis is complemented by the audiovisual translation studies, based on research made by Diáz e Remael (2007); as well as by the studies in Humor Translation by Rosas (2002) and the Superiority Theory, by Hobbes (1840). Samples containing slangs, idiomatic or conventional expressions were collected from all the episodes in the first season of The Middle with the objective to verify if the humor, the orality and the naturality were kept in the subtitles in Portuguese and verify what were the processes more often used by the translators in the subtitles. The subtitles revealed that the three processes that were more often used in the subtitles containing slangs, idiomatic or conventional expressions were the explicitation, the substitution and the transposition and that it was possible to maintain the naturality and the orality in the subtitles as well as the humoristic tone, but the translator needed to have great linguistic and cultural knowledge and had to be creative in order to find the best ways to overcome the difficulties in the project. Keywords: The challenges of subtitling sitcoms. Translating Humor. Cultural and Linguistic Knowledge. Slangs, idiomatic expressions, conventional expressions.
  • 22. 22 Referências Bibliográficas: ALVES, Fábio; MAGALHÃES, Célia; PAGANO, Adriana. Traduzir com Autonomia: Estratégias para o Tradutor em Formação. São Paulo: Editora Contexto, 2000. 159p. CAMPOS, Geir. O que é tradução. 2 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987. 87p. CARVALHO, Laiz Barbosa de. Minidicionário Larousse da Língua Portuguesa. 3 ed. São Paulo: Editora Larousse do Brasil, 2009. 866p. CLAIRE, Elizabeth. Student's Introduction to American Humor. 3rd ed. Virgínia (USA): Eardley Publications, 2012. Kindle Edition. DIÁZ, Jorge; REMAEL, Aline. Audiovisual Translation: Subtitling. New York (USA): Routlegde, 2007. Kindle Edition. GOROVITZ, Sabine. Os labirintos da Tradução: A Legendagem Cinematográfica e a Construção do Imaginário. Brasília: Editora UnB, 2006. 78p. GRUNER, Charles. The Game of Humor: A Comprehensive Theory of Why We Laugh. New Brunswick (USA): Transaction Publishers, 2000. NIKOLIC, Kristjian. Dissertation: The Perception of Culture through Subtitles. Zagreb (Croatia), Universitat Wien, 2011. Kindle Edition. RÓNAI, Paulo. Escola de Tradutores. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 2012. 190p. ROSAS, Marta. Tradução de Humor: Transcriando Piadas. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002. 122p. SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Précis of Relevance: Communication and Cognition. Behavioral and Brain Sciences Journal. Cambridge (UK), Volume 10, 1987. TAGNIN, Stella Ortweiler. Expressões Idiomáticas e Convencionais. São Paulo: Editora Ática, 1989. 88p.
  • 23. 23 THE Middle 1ª Temporada. Criação de Eileen Heisler e DeAnn Heline. Warner Bros. Estados Unidos da América, 2009. AMZ Mídia Industrial. Manaus, AM, 2013. DVD (5h15m), colorido, legendado. VERMEER, Hans Joseph. Skopos and Comission in Translational Action. In: CHESTERMAN, Andrew (Ed.). Readings in Translation Theory. Helsink (Finland): Oy Finn Lectura Ab, 1989. p.173 - 87. ______ . Skopos and Commission in Translational Action. In: VENUTI, Lawrence (Ed.). The Translation Studies Reader. New York (USA) Routledge, 2000. p. 221–32.