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Brazilliance Volume 1 | Uma Experiência Inovadora
Por Jorge Mello
Ensaio elaborado especialmente para o projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia,
patrocinado pela Petrobras através da Lei Rouanet
 
 
 
APRESENTAÇÂO
Neste ensaio apresento a trajetória musical de Laurindo Almeida um pouco antes e até um pouco
depois de sua ida aos Estados Unidos em 1947. Ele teve, em função de sua competência, a felicidade de
trabalhar com músicos extraordinários como Stan Kenton e Peter Rugolo, sempre abertos a experiências
inovadoras. Isto permitiu a Laurindo fazer sua própria experiência através da fusão do Jazz com ritmos latino
americanos. Neste sentido o disco Brazilliance vol 1 representa um marco na música instrumental. Suas
afinidades musicais com Radamés Gnattali e Garoto são também abordadas.
1) De malas prontas para os Estados Unidos.
Em março de 1947 o violonista e compositor Laurindo Almeida “arrumou suas malas” e partiu para os
Estados Unidos. O fechamento dos cassinos por decreto assinado pelo então Presidente Eurico Gaspar Dutra
foi uma das grandes razões para que tomasse esta decisão tão drástica. Outra razão não menos importante para
isso foi a vultosa quantia em dinheiro que poderia receber por sua música Aldeia de Roupa Branca (em
parceria com Ubirajara Nesdan), batizada pelos americanos com o nome de Johnny Peddfer e que foi um
grande êxito internacional, sendo gravada por mais de quarenta orquestras norte-americanas, inglesas e sul-
americanas... Vale dizer que tudo isto aconteceu sem que Laurindo visse a cor do dinheiro! A chance de
receber os direitos autorais usurpados era bem grande, o que de fato aconteceu.
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Laurindo era aguardado em Los Angeles por Zezinho
(Zé Carioca), Nestor Amaral, Russo do Pandeiro e
Russinho para formar o conjunto Carioca Boys (Jornal
A Noite em 15/03/1949), que já possuía um ótimo
contrato para apresentações e até filmagens com
Carmen Miranda. Esta viagem, em suas próprias
palavras, “está planejada há muito tempo. Mas tudo
acontece quando tem que acontecer...Aliás esta é a
segunda vez em que eu e Zezinho (Zé Carioca) nos
unimos para atuar fora do Brasil. Foi com ele que, em
1936, percorri vários países da Europa: Portugal,
Espanha, França, Alemanha, Bélgica e Holanda. Agora
vamos concentrar todas as nossas forças no Carioca
Boys”. Para qualquer artista que viajasse para os
Estados Unidos naquela época não poderia faltar a
seguinte pergunta: Você vai se encontrar com Carmen
Miranda? Bem, Laurindo não escapou a tal pergunta e
prontamente respondeu: “Quanto a nossa Carmen, você
sabe que é uma velha amiga minha...Por isso mesmo
estou bastante animado com o empreendimento. Há
muita coisa boa em nossa música para ser levada a
outras terras e vou dedicar-me de corpo e alma a essa
propaganda.”
2) A vida musical de Laurindo Almeida no Brasil, até 1947.
Para entender o porquê desse encontro, devemos retroceder no tempo até o ano de 1935 e acompanhar
a trajetória de Laurindo Almeida, Nestor Amaral e Zezinho. Grande parte destas informações não tinham sido,
até então, divulgadas, mas são fundamentais para o entendimento da vida musical de Laurindo:
Após uma breve temporada na Rádio Cosmos por onde também estava Garoto (Anibal Augusto
Sardinha) no início de 1935, Laurindo excursiona pelo sul do país com Nestor Amaral. Já em 11 de junho eles
se apresentavam na recém inaugurada Rádio Ipanema, na cidade do Rio de Janeiro. Por outro lado Zezinho
(José do Patrocínio Oliveira)-então ídolo de todos os instrumentistas de cordas de S. Paulo- passou a integrar
o cast da poderosa Rádio Mayrink Veiga a partir de 25 de junho daquele ano. Suas histórias se entrelaçam a
partir do ano seguinte, 1936, onde eles participam de caravanas artísticas internacionais incentivadas pelo
Governo Vargas. Com tais caravanas buscava-se a aproximação com países simpatizantes do Nazi-Fascismo.
Desta forma viajou Nestor Amaral com o conjunto regional do qual era líder para uma temporada em Buenos
Aires, iniciada em 16 de abril e que se estendeu até agosto (Diário da Noite,15/04/1936-Revista Fon-
Fon,08/08/1936). Para a capital portenha também foram Carmen e Aurora Miranda, tendo a acompanhá-las
Laurindo, Zezinho e Eugênio Martins. Participaram também desta temporada o Regional de Benedito
Lacerda, Custódio Mesquita, Francisco Alves e Alzirinha Camargo (Revista Fon-Fon, 24/10/1936). Entretanto
a viagem mais interessante foi a do Conjunto Típico Brasileiro liderado por Zezinho e com Laurindo
Almeida(violão), Lauro Paiva (piano), Orací Camargo (saxofone) e Benedito Augusto Lapa (bateria). Eles
partiram do Rio de Janeiro em 16 de abril, com escala em Recife (Diário de Pernambuco, 18/04/1936) e
depois rumaram à Europa a bordo do navio Cuiabá. Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália, França, Espanha e
Portugal foram os países visitados. No excelente documentário “Laurindo Almeida-Muito Prazer” (GNT-
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Telenews)diz-se que eles ficaram fascinados quando presenciaram, em Paris, uma apresentação do duo
Stephan Grappelli/Django Reinhardt, em especial Laurindo e Garoto(!!!). No documentário afirma-se que os
integrantes do conjunto eram Zezinho, Laurindo Almeida, Garoto e Nestor Amaral... Entretanto este último
estava na Argentina enquanto que Garoto ainda estava em São Paulo apresentando-se em duo com o
violonista Aimoré.
Já em setembro encontramos Zezinho, Laurindo, Garoto e Aimoré na Rádio Mayrink Veiga, com os três
últimos integrando o Conjuncto Hawaiano da PRA-9, sob a direção de Gastão Bueno Lobo (Ele foi o
introdutor da guitarra havaiana e do banjo no Brasil). Eles também participavam do regional daquela
emissora, que contava com músicos do porte de Pixinguinha, Tute, Luperce Miranda dentre outros. Em 1937,
com o retorno de Garoto e Aimoré para S. Paulo, Laurindo intensificou sua colaboração musical com Gastão
Bueno Lobo, apresentando-se com ele em programas da Mayrink Veiga. Quando Gastão suicidou em 03 de
junho de 1939, foi encontrado num dos bolsos do seu paletó a partitura de uma música sua em parceria com
Laurindo, com o sugestivo título Se Recordar é Viver( Gastão Bueno Lobo- Artigo escrito por Jorge Mello
em Musica Brasiliensis-daniellathompson.com))...Com Garoto já de volta à Rádio Mayrink Veiga em
novembro de 1938, Laurindo (violão),ele (violão tenor), Mesquita(violino) e Faria(contrabaixo) formaram o
Conjunto Cordas Quentes, que se apresentou com grande êxito em programas naquela emissora até setembro
de 1939. Apesar do grande sucesso alcançado, eles não deixaram nenhum registro fonográfico. No início do
mês de fevereiro de 1939(Revista Fon-Fon, 04/02/1939-Laurindo e Garoto) foi dado grande destaque à estréia
da dupla do Rythmo Syncopado, formada por Garoto, no violão tenor e Laurindo Almeida, no violão de seis
cordas. Esta dupla apresentou-se, com grande sucesso, no microfone da Mayrink até o final de setembro
daquele ano. O violão tenor usado por Garoto, na ocasião, já era o modelo dinâmico fabricado pela Del
Vecchio.
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Em 13 de março, com a volta de Zezinho à Mayrink,
formou-se o trio Garoto, Laurindo e Zezinho (Jornal do
Commércio-19/04/1939-Rádio Mayrink Veiga), que se
apresentou até o final do mês de abril, quando não mais se
viu o nome deste último na programação da emissora. Ele
embarcou para os Estados Unidos, para integrar-se à
Orquestra de Romeu Silva, que se apresentava no Estande
Brasileiro da Feira de Nova York (Última Hora (SP)-
27/12/1954-Zé Carioca inventou a “lata de tomate”). A
última participação de Garoto na Mayrink, naquele ano,
deu-se em 30 de setembro, no Duo do Ritmo Sincopado,
com Laurindo (Jornal do Commércio, 30/09/1939-Rádio
Mayrink Veiga.19.35 as 19.45, Garoto e Laurindo) . De
abril a setembro o duo participou de nove discos, como
acompanhantes, pela Odeon, tendo gravado apenas um
disco solo, pela RCA Victor. Nestes seis meses de intensa
atividade radiofônica, gravaram com Carmen Miranda,
Jararaca e Zé Formiga, Alvarenga e Ranchinho, Henricão e
Carmem Costa, Dorival Caymmi e, por fim, Ary Barroso.
Desde a época das excursões de artistas brasileiros à
Argentina, a cantora Carmen Miranda era considerada a
embaixatriz do samba. Ao abraçar agora a chamada
“política da boa vizinhança” proposta por Roosevelt, o
governo Vargas iria mantê-la na função de principal
divulgadora de nossa música no exterior (Ana Rita
Mendonça – Carmen Miranda foi à Washington, p.57,
ed.Record, 1999). Carmen acabara de regressar de uma
excursão ao interior do Estado de São Paulo com o Bando
da Lua (A Noite – Sabbado, 04/02/1939 – Pelo avião da
Vasp regressaram ontem. Carmen Miranda e o Bando da
Lua, de uma vitoriosa excursão artística ao interior de São Paulo) e, com eles e as Irmãs Pagãs, preparava-se
para estrear no Cassino da Urca naquela sexta feira, 03 de fevereiro de 1939 (Ruy Castro – Carmen, uma
biografia- p.182 – Companhia das Letras, 2005. – Aloysio de Oliveira – De Banda pra Lua, p.64, ed.Record,
1983 – A Noite – Sabbado, 04/02/1939. Constitui um verdadeiro sucesso a estréia, ontem, no Cassino da
Urca, de Carmen Miranda; Irmãs Pagãs e o Bando da Lua). Seria mais um show, não fosse pelo fato do
empresário norte americano Lee Schubert tê-la assistido e gostado muito. Tanto que a convidou para um jantar
a bordo do transatlântico Normandie, onde lhe apresentou uma proposta para atuar nos Estados Unidos, mas
sem levar o Bando da Lua. Carmen rejeitou a proposta, pois não concebia ir sem levar o grupo que a
acompanhava desde 1934. Falavam muito num romance entre Carmen e Aloísio de Oliveira, o líder do Bando,
para justificar sua insistência em levá-los (Carioca nº 207 – 30/09/1939, p.42 – O Romance de Carmen
Miranda). Ficou acertado, finalmente, que o governo brasileiro bancaria as passagens do grupo, em troca de
apresentações no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York, inaugurada em 30 de abril. Como parte
dos agradecimentos Carmen foi a Caxambu no final de abril (Ana Rita Mendonça, op.cit., p.56), acompanhada
do Bando da Lua, Laurindo e Garoto para dar uma audição para o Presidente da República.
Considerado como o melhor conjunto vocal pela crítica especializada e contabilizando dez anos de
uma vitoriosa carreira, incluindo aí algumas temporadas em Buenos Aires com a própria Carmen, isto sem
contar os três discos pela Odeon e os trinta e nove pela RCA Victor, o Bando da Lua tinha vida própria. Ivo
Astolfi e Hélio Jordão Pereira temiam que o Bando se transformasse num mero coadjuvante de uma cantora,
mesmo que esta fosse Carmen Miranda! Razões suficientes para que pensassem em desistir da viagem, às
vésperas do embarque!
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Ruy Castro, em sua biografia de Carmen Miranda (Ruy Castro, op.cit., p.217), conta-nos que já existia
um “plano B” para o caso de se confirmar a desistência dos dois: em seus lugares seguiriam Garoto e
Laurindo Almeida. Entretanto o argumento usado, realçando a grandiosa missão que teriam ao representar a
música brasileira nos Estados Unidos, talvez tenha sido suficientemente forte para vencer as resistências.
Deste modo, embarcaram todos do Bando, a saber: Aloísio de Oliveira (vocal e violão), Ivo Astolfi (violão),
Stênio Osório (cavaquinho), Hélio Jordão Pereira (violão), Osvaldo de Morais Éboli (Vadeco) e Afonso
Osório (ambos na parte rítmica).
Não durou mais que cinco meses a permanência de Ivo Astolfi na terra do Tio Sam. A versão oficial é
que ele, apaixonado e comprometido com uma moça de Porto Alegre, voltou ao Brasil para se casar, o que
aconteceu alguns meses depois (Ruy Castro, op.cit., p.217). Qualquer que seja o motivo, esta ruptura e seu
conseqüente regresso motivou o envio do bilhete que tinha o seguinte teor (Irati Antonio e Regina Pereira,
op.cit., p.43): “Queridíssimo Garoto, espero que você tenha gostado da idéia de vir para cá e aceite-a, pois esta
terra é a melhor do mundo, só estando aqui é que acreditará. Estamos ansiosos que você venha, eu e os
rapazes. Abraços da Carmen”.
Causa estranheza um convite apenas para Garoto quando muitos sabiam, e Carmen ainda mais, que o
Duo do Ritmo Sincopado fazia um enorme sucesso. Se a idéia era aumentar a qualidade da parte instrumental,
onde o Bando não se destacava, o natural seria levar aquela dupla... O porquê da exclusão de Laurindo
persiste como um mistério até os dias de hoje. De acordo com o já citado documentário, ele declarou que não
queria se tornar mais um dos Miranda Boys para ter a sua carreira ofuscada. Este episódio fez com que a
amizade entre Laurindo e Garoto ficasse abalada por um longo tempo e mesmo após o retorno de Garoto ao
Brasil em 1940, eles raramente se encontravam. Razões contratuais e também de natureza racial pesaram
muito na decisão de Garoto em não voltar com Carmen e o Bando da Lua para os Estados Unidos. Em seu
lugar foi Nestor Amaral, não como uma atração à parte, mas sim como integrante do Bando. Laurindo
permaneceu na Rádio Mayrink Veiga participando do regional daquela emissora e executando solos de violão.
Atuava também em cassino assim como vários músicos que buscavam naquele trabalho uma complementação
dos salários nem sempre satisfatórios pagos pelas emissoras de rádio.
3) O início da vitoriosa carreira de Laurindo Almeida nos Estados Unidos.
Já nos Estados Unidos, numa vez em que estava participando de uma reunião na casa de Carmen
Miranda, Laurindo recebeu um telefonema que mudou sua vida: “O diretor musical de um grande estúdio,
durante toda uma tarde, procurava desesperadamente fazer com que violonistas e sua orquestra se adaptassem
a uma harmonização menos comum. Recebo então este telefonema pedindo que comparecesse lá no estúdio...
havia surgido algo, era pegar ou largar! Em menos de quatro horas a gravação estava pronta. A Song Is Born
era o filme” (Laurindo Almeida, um violão que emigrou - Caderno B, Jornal do Brasil-03/12/1967).
Interessante observar (Laurindo Almeida: Dos trilhos de Miracatu às trilhas de Hollywood-
Dissertação de Mestrado apresentada por Alexandre Francischini-Unesp-2008) que a participação de Laurindo
naquele filme se deu como integrante do grupo Samba Kings, que tinha basicamente a mesma formação do
Carioca Boys.
A gravação para aquele filme acabou por introduzir Laurindo de forma definitiva no show-business
norte-americano, passando ele a conviver com grandes nomes do circuito musical como Tommy Dorsey,
Benny Goodman, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald e Stan Kenton. Os três primeiros participaram de forma
destacada naquele filme, enquanto este último estava à frente de um movimento inovador, o Progressive Jazz,
promovendo experiências harmônicas e rítmicas. Kenton então convidou Laurindo para integrar sua orquestra
e este lá ficou de 1947 até 1950, executando sua guitarra de forma peculiar, usando os dedos ao invés de
palheta.
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A composição Lament, autoria de Peter Rugolo( Alexandre Francischini- Unesp-2008), foi executada
por Laurindo Almeida acompanhado pela orquestra de Stan Kenton em sua estréia, naquele país, como solista
de violão. A profundidade de sua interpretação naquela composição nos dá uma medida de sua afinidade com
tais inovações. Podemos perceber com mais nitidez esta afinidade no primeiro álbum de Laurindo lançado nos
Estados Unidos: Concert Creations for Guitar (Capitol-1949). Destacamos o choro Brazilliance, que nos faz
lembrar os choros de Garoto. Outro álbum muito interessante lançado dois anos depois pela Capitol foi
Suenos, onde ele acrescenta ao repertório do disco anterior as seguintes músicas: Saudade (Radamés
Gnattali), Laura (Raskin), Vals de Concerto (Agustin Barrios) e Staniana, composição de Laurindo dedicada
à Stan Kenton.
Laurindo começa com suas tentativas de introduzir a influência polirrítmica da música latino
americana no Jazz. Um integrante da orquestra de Kenton entusiasma-se com a idéia e se associa a Laurindo
neste projeto. Seu nome: Bud Shank.
4) A ousadia em Brazilliance, vol 1.
O resultado desta pesquisa culminou com um Lp muito a frente de seu tempo e realizado com
extrema competência. Isto é o mínimo que se pode dizer sobre Brazilliance vol 1, gravado em Los Angeles
entre 15 e 22 de abril de 1953. Este trabalho reflete uma das primeiras experiências de fusão de ritmos latinos,
predominando o brasileiro, com o jazz. Tendo como solistas o violonista brasileiro Laurindo Almeida e o sax
alto Bud Shank, com Harry Babasin no baixo acústico e Roy Harte na bateria a acompanhá-los, este disco
passou inteiramente desapercebido por nossa crítica musical, até mesmo um longo tempo após o advento da
Bossa Nova (BN). O fato é que este trabalho, assim como o seguinte desta série e gravado cinco anos depois,
possui brilho próprio e independe da existência da BN para afirmar seu valor. Uma questão instigante é se a
recíproca é verdadeira ou não... Muitos apontaram este trabalho como uma antecipação da Bossa Nova, já que
mistura elementos do Jazz com a Música Brasileira. O próprio Laurindo deu declarações contraditórias a esse
respeito. Em entrevista concedida a Silvio Boccanera, então correspondente do Jornal do Brasil, publicada no
Caderno B em 02/06/1977 Laurindo, ao ser perguntado se via muita identificação entre jazz e samba,
declarou: ”Ah, sim. Quando cheguei aqui em 1947 fui percebendo esta identificação e acabei fazendo uma
experiência de samba e jazz juntos, numa gravação de 1952, chamada Laurindo de Almeida com Bud Shank
no Saxofone. Foi isso que mais tarde acabou se chamando Bossa Nova, que é samba com harmonização de
jazz”. Dez anos depois, em entrevista ao Jornal do Brasil, publicada em 24/08/1987 no Caderno B, o repórter
Luciano Trigo perguntou: “Em 1952 o senhor gravou um disco com o saxofonista Bud Shank que, para
muitos, antecipou em 10 anos a Bossa Nova. O senhor se considera um precursor da Bossa Nova?” Laurindo
então respondeu: “Musicalmente o disco era um amálgama do samba e do jazz, muito parecido com a Bossa
Nova, mas não me considero precursor de coisa nenhuma”. Laurindo guardava uma grande mágoa de músicos
e críticos ligados a Bossa Nova por não reconhecerem sua contribuição àquele movimento. Como se deu esta
contribuição? Certamente pelo uso de harmonias modernas, da mesma forma utilizada, por exemplo, por
Garoto e Radamés Gnattali. É provável que a não inclusão de Laurindo nesta vanguarda se deva, talvez em
grande parte, ao desconhecimento quase que total por parte dos músicos e críticos musicais acerca do trabalho
que ele desenvolvia nos Estados Unidos. Este esquecimento pode ser medido através de livros sobre a Bossa
Nova e no mais representativo deles (Chega de Saudade: a história e as histórias da Bossa Nova/ Ruy Castro.-
São Paulo: Companhia das Letras, 1990) encontramos um pequeno comentário acerca de sua participação na
Orquestra de Stan Kenton. Curioso é ter existido no Rio de Janeiro, em 1949, o Stan Kenton Progressive Club
e seus membros venerarem alguns músicos daquela orquestra, mas não o seu talentoso guitarrista, um
brasileiro chamado Laurindo Almeida.
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Ao analisarmos este trabalho percebemos que o mesmo não representou apenas um amálgama do
samba e do jazz!!! Aliás, samba é o que menos se encontra neste disco... na verdade em apenas duas faixas ele
aparece: Inquietação e Terra Seca, ambas de Ary Barroso. A apresentação destes belíssimos temas com
harmonização moderna, dentro da concepção jazzística e depois usando a fusão rítmica com o jazz produz um
resultado esplêndido. Talvez somente nestas duas músicas se apliquem as declarações de Laurindo!
O chorinho Nonô de Romualdo Peixoto é apresentado na forma original, entrando depois um ótimo
improviso de Shank. Blue Baião, tradicional música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é aqui
apresentada numa concepção ainda atual! Para encerrar a parte de composições brasileiras, duas de Laurindo
Almeida: Baa-too-kee, um baião estilizado e bem elaborado e Amor Flamenco, definida pelo próprio título.
Dentre as músicas estrangeiras a que mais se aproxima da concepção da bossa nova é Speak Low, de Kurt
Weill e Ogden Nash. Starway To The Stars de Matt Malneck/Mitchell Parish/ Frank Signorelli e
Noctambulism do baixista Harry Babasin são dois temas lindos, verdadeiramente emocionantes, onde mais
uma vez se destacam os solos de Shank e os fraseados de Laurindo.
Atabaque e Tocata em Ritmo de Samba, dois brilhantes temas de Radamés Gnattali e Carinhoso, de
Pixinguinha, são as melhores do disco, tanto em arranjo quanto em execução! As duas primeiras são aqui
apresentadas pela primeira vez e consolidam a intensa colaboração de Laurindo Almeida com Radamés
Gnattali. Hazardous de Richard Hazard e Acertate Mas de Oswaldo Farres, completam este disco que,
inacreditavelmente, foi gravado em 1953!
5) A primeira visita de Laurindo Almeida ao Rio de Janeiro.
Saudade, música de Radamés gravada por Laurindo em 1951 no Lp Suenos marca o início da
colaboração musical entre eles. Em seguida Radamés gravou (20/08/1952-Continental 16719 a/b), com sua
orquestra, as peças Fantasia Brasileira e Rapsódia Brasileira, ambas em parceria musical com Laurindo.
A título de curiosidade informamos que a Tocata em Ritmo de Samba foi composta originalmente
para violão solo (escrita em 1950) e como tal foi apresentada por Garoto como parte do recital dedicado a
Radamés Gnattali, na Rádio Gazeta de São Paulo em 22 de agosto de 1954. Bem mais tarde o violonista
Raphael Rabello deu a esta música uma interpretação que é considerada por muitos como definitiva.
Entretanto o resultado alcançado por Laurindo e Kenton nesta Tocata é simplesmente extraordinário!
Logo após esta gravação Laurindo voltou pela primeira vez ao Brasil, vindo ao Rio de
Janeiro para rever a família em Braz de Pina. Além disso, era uma ótima oportunidade para intensificar a
produção musical com Radamés, visto que o 78 Rpm com as músicas Fantasia Brasileira e Rapsódia
Brasileira fora lançado em abril. Pretendia também rever velhos amigos como Garoto. “Ceci, o Laurindo
chegou! Vou me encontrar com ele”, disse Garoto a sua esposa. Esse encontro ocorreu na forma de uma
reunião musical na noite de quarta feira, 29 de abril, no apartamento de Radamés Gnattali, em Copacabana.
Além de Garoto, Radamés e Laurindo estavam presentes Pedro Vidal, no contrabaixo, Sivuca e Chiquinho,
nos acordeons. Recordaram os chorinhos de Nazareth e o repertório do Duo do Ritmo Sincopado. O
repertório de Brazilliance foi mostrado por Laurindo, tendo Garoto apresentado suas novas composições para
violão. A versão reduzida do Concertino nº 2 para piano e orquestra, de Radamés Gnattali e dedicado a
Garoto, também foi ali apresentada. Nas palavras do crítico Claribalde Passos, presente à reunião: “Esta noite
inscrever-se-á para sempre no livro de ouro dos momentos inesquecíveis” (Revista Carioca nº 919-Discoteca,
16/05/1953). No dia 1º de maio, estes músicos reuniram-se na casa de Pixinguinha numa tarde de
memoráveis improvisos!!! Dois dias depois eles se reuniram na casa do cunhado de Laurindo para uma
churrascada musical. Esta foi a última vez que Laurindo viu seu velho amigo Garoto.
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Existe um paralelismo entre as trajetórias musicais de Garoto e Laurindo. Além da grande afinidade
musical que eles possuíam, eram autodidatas e faziam incursões pela Música Erudita. Tais incursões foram
sendo acentuadas a partir da segunda metade da década dos anos quarenta do século passado, Garoto
dedicando-se cada vez mais ao violão (muito embora continuasse a tocar com maestria diversos instrumentos
de cordas em programas radiofônicos e em gravações) através, principalmente, dos seus programas exclusivos
de solos na Rádio Nacional. Um pouco antes de rescindir seu contrato com aquela emissora em 18 de junho de
1954, Garoto tinha um programa com o sugestivo nome de Recitais de Violão. Sua apresentação como solista
de violão no Teatro Municipal executando o Concertino nº2 para piano e orquestra composto por Radamés
Gnattali (e dedicado a ele, Garoto) com a Orquestra Sinfônica do Municipal, regida por Eleazar de Carvalho
em 1953 dá uma medida de seu prestígio, principalmente se considerarmos esta como a primeira vez em que
um solista de violão, acompanhado por orquestra, se apresentou naquele teatro! No ano seguinte em São
Paulo Garoto apresentou-se num memorável concerto no Auditório da Rádio Gazeta. Na primeira parte o
Concertino nº 2 com a Orquestra Sinfônica da Rádio Gazeta sob a regência do Maestro Armando Belardi.
Encerrando a primeira parte Garoto apresentou a composição Saudade de Radamés Gnattali. Com o pianista
Fritz Jank, Garoto executou, em 1ª audição, a Suite Popular Brasileira, para piano e violão elétrico na
segunda parte do Concerto. Garoto compôs peças eruditas como Concerto em Ritmo de choro e Concerto
para Flauta e Violão. O primeiro, composto em 1946 e dedicado a Radamés, foi apresentado apenas em
programas da Rádio Nacional enquanto que do segundo, composto em 1953, sabemos apenas o nome (em
anotações no diário de Garoto). Laurindo gravou o Concertino nº2 e Saudade, de Radamés e Nosso Choro,
Choro Triste nº1 e Gracioso, estas de Garoto no Lp Impressões do Brasil (Capitol—1957). Um ano antes
Radamés (gravação de piano no Rio de Janeiro) Ele sempre acalentou o sonho de ir para os Estados Unidos
para ter seu talento reconhecido, já que no Brasil ele tinha que repartir seu tempo entre os inúmeros
instrumentos que tocava em gravações, programas radiofônicos e apresentações em boates, para sobreviver. O
exemplo de Laurindo é uma prova disto! Ele jamais alcançaria a fama e prestígio que obteve se ficasse no
Brasil...Gravar aqui um disco como Concert Creations for Guitar seria algo impensável!!! Laurindo pouco
gravou aqui como solista de violão, sendo muito mais numerosa a sua participação em gravações como
compositor de músicas populares. Podemos supor que no tempo em que atuava na Rádio Mayrink Veiga e em
cassinos, ele paralelamente dedicava-se com afinco ao estudo do repertório erudito, incluindo Bach, Villa-
Lobos, Albeniz, Tárrega e Barrios dentre outros. Só desta forma podemos entender tão espantosa evolução
técnica e interpretativa ao violão, apresentada desde sua estréia nos palcos e discos norteamericanos.
A falta de reconhecimento em seu próprio país foi uma mágoa que Laurindo sempre carregou.
Mesmo nesta primeira visita, sete anos após deixar o Brasil, ele esperava ser convidado para dar um concerto
“No Rio ou em São Paulo. Trouxe até meu violão especial. Desta feita (em 1960) achei que seria inútil trazer
o instrumento, se bem que gostaria de tocar aqui”, como disse ao jornal O Globo. Era mais que justa esta
expectativa, já que ele era considerado pela crítica norte-americana como um dos melhores guitarristas de
jazz, muito bem conceituado também como músico erudito. Laurindo morreu sem obter o reconhecimento que
esperava e merecia em seu próprio país!

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Laurindo Almeida, Brazilliance Vol.1 - por Jorge Mello

  • 1. Brazilliance Volume 1 | Uma Experiência Inovadora Por Jorge Mello Ensaio elaborado especialmente para o projeto Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia, patrocinado pela Petrobras através da Lei Rouanet       APRESENTAÇÂO Neste ensaio apresento a trajetória musical de Laurindo Almeida um pouco antes e até um pouco depois de sua ida aos Estados Unidos em 1947. Ele teve, em função de sua competência, a felicidade de trabalhar com músicos extraordinários como Stan Kenton e Peter Rugolo, sempre abertos a experiências inovadoras. Isto permitiu a Laurindo fazer sua própria experiência através da fusão do Jazz com ritmos latino americanos. Neste sentido o disco Brazilliance vol 1 representa um marco na música instrumental. Suas afinidades musicais com Radamés Gnattali e Garoto são também abordadas. 1) De malas prontas para os Estados Unidos. Em março de 1947 o violonista e compositor Laurindo Almeida “arrumou suas malas” e partiu para os Estados Unidos. O fechamento dos cassinos por decreto assinado pelo então Presidente Eurico Gaspar Dutra foi uma das grandes razões para que tomasse esta decisão tão drástica. Outra razão não menos importante para isso foi a vultosa quantia em dinheiro que poderia receber por sua música Aldeia de Roupa Branca (em parceria com Ubirajara Nesdan), batizada pelos americanos com o nome de Johnny Peddfer e que foi um grande êxito internacional, sendo gravada por mais de quarenta orquestras norte-americanas, inglesas e sul- americanas... Vale dizer que tudo isto aconteceu sem que Laurindo visse a cor do dinheiro! A chance de receber os direitos autorais usurpados era bem grande, o que de fato aconteceu.
  • 2. 2    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Laurindo era aguardado em Los Angeles por Zezinho (Zé Carioca), Nestor Amaral, Russo do Pandeiro e Russinho para formar o conjunto Carioca Boys (Jornal A Noite em 15/03/1949), que já possuía um ótimo contrato para apresentações e até filmagens com Carmen Miranda. Esta viagem, em suas próprias palavras, “está planejada há muito tempo. Mas tudo acontece quando tem que acontecer...Aliás esta é a segunda vez em que eu e Zezinho (Zé Carioca) nos unimos para atuar fora do Brasil. Foi com ele que, em 1936, percorri vários países da Europa: Portugal, Espanha, França, Alemanha, Bélgica e Holanda. Agora vamos concentrar todas as nossas forças no Carioca Boys”. Para qualquer artista que viajasse para os Estados Unidos naquela época não poderia faltar a seguinte pergunta: Você vai se encontrar com Carmen Miranda? Bem, Laurindo não escapou a tal pergunta e prontamente respondeu: “Quanto a nossa Carmen, você sabe que é uma velha amiga minha...Por isso mesmo estou bastante animado com o empreendimento. Há muita coisa boa em nossa música para ser levada a outras terras e vou dedicar-me de corpo e alma a essa propaganda.” 2) A vida musical de Laurindo Almeida no Brasil, até 1947. Para entender o porquê desse encontro, devemos retroceder no tempo até o ano de 1935 e acompanhar a trajetória de Laurindo Almeida, Nestor Amaral e Zezinho. Grande parte destas informações não tinham sido, até então, divulgadas, mas são fundamentais para o entendimento da vida musical de Laurindo: Após uma breve temporada na Rádio Cosmos por onde também estava Garoto (Anibal Augusto Sardinha) no início de 1935, Laurindo excursiona pelo sul do país com Nestor Amaral. Já em 11 de junho eles se apresentavam na recém inaugurada Rádio Ipanema, na cidade do Rio de Janeiro. Por outro lado Zezinho (José do Patrocínio Oliveira)-então ídolo de todos os instrumentistas de cordas de S. Paulo- passou a integrar o cast da poderosa Rádio Mayrink Veiga a partir de 25 de junho daquele ano. Suas histórias se entrelaçam a partir do ano seguinte, 1936, onde eles participam de caravanas artísticas internacionais incentivadas pelo Governo Vargas. Com tais caravanas buscava-se a aproximação com países simpatizantes do Nazi-Fascismo. Desta forma viajou Nestor Amaral com o conjunto regional do qual era líder para uma temporada em Buenos Aires, iniciada em 16 de abril e que se estendeu até agosto (Diário da Noite,15/04/1936-Revista Fon- Fon,08/08/1936). Para a capital portenha também foram Carmen e Aurora Miranda, tendo a acompanhá-las Laurindo, Zezinho e Eugênio Martins. Participaram também desta temporada o Regional de Benedito Lacerda, Custódio Mesquita, Francisco Alves e Alzirinha Camargo (Revista Fon-Fon, 24/10/1936). Entretanto a viagem mais interessante foi a do Conjunto Típico Brasileiro liderado por Zezinho e com Laurindo Almeida(violão), Lauro Paiva (piano), Orací Camargo (saxofone) e Benedito Augusto Lapa (bateria). Eles partiram do Rio de Janeiro em 16 de abril, com escala em Recife (Diário de Pernambuco, 18/04/1936) e depois rumaram à Europa a bordo do navio Cuiabá. Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália, França, Espanha e Portugal foram os países visitados. No excelente documentário “Laurindo Almeida-Muito Prazer” (GNT-
  • 3. 3    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Telenews)diz-se que eles ficaram fascinados quando presenciaram, em Paris, uma apresentação do duo Stephan Grappelli/Django Reinhardt, em especial Laurindo e Garoto(!!!). No documentário afirma-se que os integrantes do conjunto eram Zezinho, Laurindo Almeida, Garoto e Nestor Amaral... Entretanto este último estava na Argentina enquanto que Garoto ainda estava em São Paulo apresentando-se em duo com o violonista Aimoré. Já em setembro encontramos Zezinho, Laurindo, Garoto e Aimoré na Rádio Mayrink Veiga, com os três últimos integrando o Conjuncto Hawaiano da PRA-9, sob a direção de Gastão Bueno Lobo (Ele foi o introdutor da guitarra havaiana e do banjo no Brasil). Eles também participavam do regional daquela emissora, que contava com músicos do porte de Pixinguinha, Tute, Luperce Miranda dentre outros. Em 1937, com o retorno de Garoto e Aimoré para S. Paulo, Laurindo intensificou sua colaboração musical com Gastão Bueno Lobo, apresentando-se com ele em programas da Mayrink Veiga. Quando Gastão suicidou em 03 de junho de 1939, foi encontrado num dos bolsos do seu paletó a partitura de uma música sua em parceria com Laurindo, com o sugestivo título Se Recordar é Viver( Gastão Bueno Lobo- Artigo escrito por Jorge Mello em Musica Brasiliensis-daniellathompson.com))...Com Garoto já de volta à Rádio Mayrink Veiga em novembro de 1938, Laurindo (violão),ele (violão tenor), Mesquita(violino) e Faria(contrabaixo) formaram o Conjunto Cordas Quentes, que se apresentou com grande êxito em programas naquela emissora até setembro de 1939. Apesar do grande sucesso alcançado, eles não deixaram nenhum registro fonográfico. No início do mês de fevereiro de 1939(Revista Fon-Fon, 04/02/1939-Laurindo e Garoto) foi dado grande destaque à estréia da dupla do Rythmo Syncopado, formada por Garoto, no violão tenor e Laurindo Almeida, no violão de seis cordas. Esta dupla apresentou-se, com grande sucesso, no microfone da Mayrink até o final de setembro daquele ano. O violão tenor usado por Garoto, na ocasião, já era o modelo dinâmico fabricado pela Del Vecchio.
  • 4. 4    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Em 13 de março, com a volta de Zezinho à Mayrink, formou-se o trio Garoto, Laurindo e Zezinho (Jornal do Commércio-19/04/1939-Rádio Mayrink Veiga), que se apresentou até o final do mês de abril, quando não mais se viu o nome deste último na programação da emissora. Ele embarcou para os Estados Unidos, para integrar-se à Orquestra de Romeu Silva, que se apresentava no Estande Brasileiro da Feira de Nova York (Última Hora (SP)- 27/12/1954-Zé Carioca inventou a “lata de tomate”). A última participação de Garoto na Mayrink, naquele ano, deu-se em 30 de setembro, no Duo do Ritmo Sincopado, com Laurindo (Jornal do Commércio, 30/09/1939-Rádio Mayrink Veiga.19.35 as 19.45, Garoto e Laurindo) . De abril a setembro o duo participou de nove discos, como acompanhantes, pela Odeon, tendo gravado apenas um disco solo, pela RCA Victor. Nestes seis meses de intensa atividade radiofônica, gravaram com Carmen Miranda, Jararaca e Zé Formiga, Alvarenga e Ranchinho, Henricão e Carmem Costa, Dorival Caymmi e, por fim, Ary Barroso. Desde a época das excursões de artistas brasileiros à Argentina, a cantora Carmen Miranda era considerada a embaixatriz do samba. Ao abraçar agora a chamada “política da boa vizinhança” proposta por Roosevelt, o governo Vargas iria mantê-la na função de principal divulgadora de nossa música no exterior (Ana Rita Mendonça – Carmen Miranda foi à Washington, p.57, ed.Record, 1999). Carmen acabara de regressar de uma excursão ao interior do Estado de São Paulo com o Bando da Lua (A Noite – Sabbado, 04/02/1939 – Pelo avião da Vasp regressaram ontem. Carmen Miranda e o Bando da Lua, de uma vitoriosa excursão artística ao interior de São Paulo) e, com eles e as Irmãs Pagãs, preparava-se para estrear no Cassino da Urca naquela sexta feira, 03 de fevereiro de 1939 (Ruy Castro – Carmen, uma biografia- p.182 – Companhia das Letras, 2005. – Aloysio de Oliveira – De Banda pra Lua, p.64, ed.Record, 1983 – A Noite – Sabbado, 04/02/1939. Constitui um verdadeiro sucesso a estréia, ontem, no Cassino da Urca, de Carmen Miranda; Irmãs Pagãs e o Bando da Lua). Seria mais um show, não fosse pelo fato do empresário norte americano Lee Schubert tê-la assistido e gostado muito. Tanto que a convidou para um jantar a bordo do transatlântico Normandie, onde lhe apresentou uma proposta para atuar nos Estados Unidos, mas sem levar o Bando da Lua. Carmen rejeitou a proposta, pois não concebia ir sem levar o grupo que a acompanhava desde 1934. Falavam muito num romance entre Carmen e Aloísio de Oliveira, o líder do Bando, para justificar sua insistência em levá-los (Carioca nº 207 – 30/09/1939, p.42 – O Romance de Carmen Miranda). Ficou acertado, finalmente, que o governo brasileiro bancaria as passagens do grupo, em troca de apresentações no Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York, inaugurada em 30 de abril. Como parte dos agradecimentos Carmen foi a Caxambu no final de abril (Ana Rita Mendonça, op.cit., p.56), acompanhada do Bando da Lua, Laurindo e Garoto para dar uma audição para o Presidente da República. Considerado como o melhor conjunto vocal pela crítica especializada e contabilizando dez anos de uma vitoriosa carreira, incluindo aí algumas temporadas em Buenos Aires com a própria Carmen, isto sem contar os três discos pela Odeon e os trinta e nove pela RCA Victor, o Bando da Lua tinha vida própria. Ivo Astolfi e Hélio Jordão Pereira temiam que o Bando se transformasse num mero coadjuvante de uma cantora, mesmo que esta fosse Carmen Miranda! Razões suficientes para que pensassem em desistir da viagem, às vésperas do embarque!
  • 5. 5    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Ruy Castro, em sua biografia de Carmen Miranda (Ruy Castro, op.cit., p.217), conta-nos que já existia um “plano B” para o caso de se confirmar a desistência dos dois: em seus lugares seguiriam Garoto e Laurindo Almeida. Entretanto o argumento usado, realçando a grandiosa missão que teriam ao representar a música brasileira nos Estados Unidos, talvez tenha sido suficientemente forte para vencer as resistências. Deste modo, embarcaram todos do Bando, a saber: Aloísio de Oliveira (vocal e violão), Ivo Astolfi (violão), Stênio Osório (cavaquinho), Hélio Jordão Pereira (violão), Osvaldo de Morais Éboli (Vadeco) e Afonso Osório (ambos na parte rítmica). Não durou mais que cinco meses a permanência de Ivo Astolfi na terra do Tio Sam. A versão oficial é que ele, apaixonado e comprometido com uma moça de Porto Alegre, voltou ao Brasil para se casar, o que aconteceu alguns meses depois (Ruy Castro, op.cit., p.217). Qualquer que seja o motivo, esta ruptura e seu conseqüente regresso motivou o envio do bilhete que tinha o seguinte teor (Irati Antonio e Regina Pereira, op.cit., p.43): “Queridíssimo Garoto, espero que você tenha gostado da idéia de vir para cá e aceite-a, pois esta terra é a melhor do mundo, só estando aqui é que acreditará. Estamos ansiosos que você venha, eu e os rapazes. Abraços da Carmen”. Causa estranheza um convite apenas para Garoto quando muitos sabiam, e Carmen ainda mais, que o Duo do Ritmo Sincopado fazia um enorme sucesso. Se a idéia era aumentar a qualidade da parte instrumental, onde o Bando não se destacava, o natural seria levar aquela dupla... O porquê da exclusão de Laurindo persiste como um mistério até os dias de hoje. De acordo com o já citado documentário, ele declarou que não queria se tornar mais um dos Miranda Boys para ter a sua carreira ofuscada. Este episódio fez com que a amizade entre Laurindo e Garoto ficasse abalada por um longo tempo e mesmo após o retorno de Garoto ao Brasil em 1940, eles raramente se encontravam. Razões contratuais e também de natureza racial pesaram muito na decisão de Garoto em não voltar com Carmen e o Bando da Lua para os Estados Unidos. Em seu lugar foi Nestor Amaral, não como uma atração à parte, mas sim como integrante do Bando. Laurindo permaneceu na Rádio Mayrink Veiga participando do regional daquela emissora e executando solos de violão. Atuava também em cassino assim como vários músicos que buscavam naquele trabalho uma complementação dos salários nem sempre satisfatórios pagos pelas emissoras de rádio. 3) O início da vitoriosa carreira de Laurindo Almeida nos Estados Unidos. Já nos Estados Unidos, numa vez em que estava participando de uma reunião na casa de Carmen Miranda, Laurindo recebeu um telefonema que mudou sua vida: “O diretor musical de um grande estúdio, durante toda uma tarde, procurava desesperadamente fazer com que violonistas e sua orquestra se adaptassem a uma harmonização menos comum. Recebo então este telefonema pedindo que comparecesse lá no estúdio... havia surgido algo, era pegar ou largar! Em menos de quatro horas a gravação estava pronta. A Song Is Born era o filme” (Laurindo Almeida, um violão que emigrou - Caderno B, Jornal do Brasil-03/12/1967). Interessante observar (Laurindo Almeida: Dos trilhos de Miracatu às trilhas de Hollywood- Dissertação de Mestrado apresentada por Alexandre Francischini-Unesp-2008) que a participação de Laurindo naquele filme se deu como integrante do grupo Samba Kings, que tinha basicamente a mesma formação do Carioca Boys. A gravação para aquele filme acabou por introduzir Laurindo de forma definitiva no show-business norte-americano, passando ele a conviver com grandes nomes do circuito musical como Tommy Dorsey, Benny Goodman, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald e Stan Kenton. Os três primeiros participaram de forma destacada naquele filme, enquanto este último estava à frente de um movimento inovador, o Progressive Jazz, promovendo experiências harmônicas e rítmicas. Kenton então convidou Laurindo para integrar sua orquestra e este lá ficou de 1947 até 1950, executando sua guitarra de forma peculiar, usando os dedos ao invés de palheta.
  • 6. 6    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    A composição Lament, autoria de Peter Rugolo( Alexandre Francischini- Unesp-2008), foi executada por Laurindo Almeida acompanhado pela orquestra de Stan Kenton em sua estréia, naquele país, como solista de violão. A profundidade de sua interpretação naquela composição nos dá uma medida de sua afinidade com tais inovações. Podemos perceber com mais nitidez esta afinidade no primeiro álbum de Laurindo lançado nos Estados Unidos: Concert Creations for Guitar (Capitol-1949). Destacamos o choro Brazilliance, que nos faz lembrar os choros de Garoto. Outro álbum muito interessante lançado dois anos depois pela Capitol foi Suenos, onde ele acrescenta ao repertório do disco anterior as seguintes músicas: Saudade (Radamés Gnattali), Laura (Raskin), Vals de Concerto (Agustin Barrios) e Staniana, composição de Laurindo dedicada à Stan Kenton. Laurindo começa com suas tentativas de introduzir a influência polirrítmica da música latino americana no Jazz. Um integrante da orquestra de Kenton entusiasma-se com a idéia e se associa a Laurindo neste projeto. Seu nome: Bud Shank. 4) A ousadia em Brazilliance, vol 1. O resultado desta pesquisa culminou com um Lp muito a frente de seu tempo e realizado com extrema competência. Isto é o mínimo que se pode dizer sobre Brazilliance vol 1, gravado em Los Angeles entre 15 e 22 de abril de 1953. Este trabalho reflete uma das primeiras experiências de fusão de ritmos latinos, predominando o brasileiro, com o jazz. Tendo como solistas o violonista brasileiro Laurindo Almeida e o sax alto Bud Shank, com Harry Babasin no baixo acústico e Roy Harte na bateria a acompanhá-los, este disco passou inteiramente desapercebido por nossa crítica musical, até mesmo um longo tempo após o advento da Bossa Nova (BN). O fato é que este trabalho, assim como o seguinte desta série e gravado cinco anos depois, possui brilho próprio e independe da existência da BN para afirmar seu valor. Uma questão instigante é se a recíproca é verdadeira ou não... Muitos apontaram este trabalho como uma antecipação da Bossa Nova, já que mistura elementos do Jazz com a Música Brasileira. O próprio Laurindo deu declarações contraditórias a esse respeito. Em entrevista concedida a Silvio Boccanera, então correspondente do Jornal do Brasil, publicada no Caderno B em 02/06/1977 Laurindo, ao ser perguntado se via muita identificação entre jazz e samba, declarou: ”Ah, sim. Quando cheguei aqui em 1947 fui percebendo esta identificação e acabei fazendo uma experiência de samba e jazz juntos, numa gravação de 1952, chamada Laurindo de Almeida com Bud Shank no Saxofone. Foi isso que mais tarde acabou se chamando Bossa Nova, que é samba com harmonização de jazz”. Dez anos depois, em entrevista ao Jornal do Brasil, publicada em 24/08/1987 no Caderno B, o repórter Luciano Trigo perguntou: “Em 1952 o senhor gravou um disco com o saxofonista Bud Shank que, para muitos, antecipou em 10 anos a Bossa Nova. O senhor se considera um precursor da Bossa Nova?” Laurindo então respondeu: “Musicalmente o disco era um amálgama do samba e do jazz, muito parecido com a Bossa Nova, mas não me considero precursor de coisa nenhuma”. Laurindo guardava uma grande mágoa de músicos e críticos ligados a Bossa Nova por não reconhecerem sua contribuição àquele movimento. Como se deu esta contribuição? Certamente pelo uso de harmonias modernas, da mesma forma utilizada, por exemplo, por Garoto e Radamés Gnattali. É provável que a não inclusão de Laurindo nesta vanguarda se deva, talvez em grande parte, ao desconhecimento quase que total por parte dos músicos e críticos musicais acerca do trabalho que ele desenvolvia nos Estados Unidos. Este esquecimento pode ser medido através de livros sobre a Bossa Nova e no mais representativo deles (Chega de Saudade: a história e as histórias da Bossa Nova/ Ruy Castro.- São Paulo: Companhia das Letras, 1990) encontramos um pequeno comentário acerca de sua participação na Orquestra de Stan Kenton. Curioso é ter existido no Rio de Janeiro, em 1949, o Stan Kenton Progressive Club e seus membros venerarem alguns músicos daquela orquestra, mas não o seu talentoso guitarrista, um brasileiro chamado Laurindo Almeida.
  • 7. 7    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Ao analisarmos este trabalho percebemos que o mesmo não representou apenas um amálgama do samba e do jazz!!! Aliás, samba é o que menos se encontra neste disco... na verdade em apenas duas faixas ele aparece: Inquietação e Terra Seca, ambas de Ary Barroso. A apresentação destes belíssimos temas com harmonização moderna, dentro da concepção jazzística e depois usando a fusão rítmica com o jazz produz um resultado esplêndido. Talvez somente nestas duas músicas se apliquem as declarações de Laurindo! O chorinho Nonô de Romualdo Peixoto é apresentado na forma original, entrando depois um ótimo improviso de Shank. Blue Baião, tradicional música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é aqui apresentada numa concepção ainda atual! Para encerrar a parte de composições brasileiras, duas de Laurindo Almeida: Baa-too-kee, um baião estilizado e bem elaborado e Amor Flamenco, definida pelo próprio título. Dentre as músicas estrangeiras a que mais se aproxima da concepção da bossa nova é Speak Low, de Kurt Weill e Ogden Nash. Starway To The Stars de Matt Malneck/Mitchell Parish/ Frank Signorelli e Noctambulism do baixista Harry Babasin são dois temas lindos, verdadeiramente emocionantes, onde mais uma vez se destacam os solos de Shank e os fraseados de Laurindo. Atabaque e Tocata em Ritmo de Samba, dois brilhantes temas de Radamés Gnattali e Carinhoso, de Pixinguinha, são as melhores do disco, tanto em arranjo quanto em execução! As duas primeiras são aqui apresentadas pela primeira vez e consolidam a intensa colaboração de Laurindo Almeida com Radamés Gnattali. Hazardous de Richard Hazard e Acertate Mas de Oswaldo Farres, completam este disco que, inacreditavelmente, foi gravado em 1953! 5) A primeira visita de Laurindo Almeida ao Rio de Janeiro. Saudade, música de Radamés gravada por Laurindo em 1951 no Lp Suenos marca o início da colaboração musical entre eles. Em seguida Radamés gravou (20/08/1952-Continental 16719 a/b), com sua orquestra, as peças Fantasia Brasileira e Rapsódia Brasileira, ambas em parceria musical com Laurindo. A título de curiosidade informamos que a Tocata em Ritmo de Samba foi composta originalmente para violão solo (escrita em 1950) e como tal foi apresentada por Garoto como parte do recital dedicado a Radamés Gnattali, na Rádio Gazeta de São Paulo em 22 de agosto de 1954. Bem mais tarde o violonista Raphael Rabello deu a esta música uma interpretação que é considerada por muitos como definitiva. Entretanto o resultado alcançado por Laurindo e Kenton nesta Tocata é simplesmente extraordinário! Logo após esta gravação Laurindo voltou pela primeira vez ao Brasil, vindo ao Rio de Janeiro para rever a família em Braz de Pina. Além disso, era uma ótima oportunidade para intensificar a produção musical com Radamés, visto que o 78 Rpm com as músicas Fantasia Brasileira e Rapsódia Brasileira fora lançado em abril. Pretendia também rever velhos amigos como Garoto. “Ceci, o Laurindo chegou! Vou me encontrar com ele”, disse Garoto a sua esposa. Esse encontro ocorreu na forma de uma reunião musical na noite de quarta feira, 29 de abril, no apartamento de Radamés Gnattali, em Copacabana. Além de Garoto, Radamés e Laurindo estavam presentes Pedro Vidal, no contrabaixo, Sivuca e Chiquinho, nos acordeons. Recordaram os chorinhos de Nazareth e o repertório do Duo do Ritmo Sincopado. O repertório de Brazilliance foi mostrado por Laurindo, tendo Garoto apresentado suas novas composições para violão. A versão reduzida do Concertino nº 2 para piano e orquestra, de Radamés Gnattali e dedicado a Garoto, também foi ali apresentada. Nas palavras do crítico Claribalde Passos, presente à reunião: “Esta noite inscrever-se-á para sempre no livro de ouro dos momentos inesquecíveis” (Revista Carioca nº 919-Discoteca, 16/05/1953). No dia 1º de maio, estes músicos reuniram-se na casa de Pixinguinha numa tarde de memoráveis improvisos!!! Dois dias depois eles se reuniram na casa do cunhado de Laurindo para uma churrascada musical. Esta foi a última vez que Laurindo viu seu velho amigo Garoto.
  • 8. 8    Copyright © 2008‐2009 – Jorge Mello – Todos os direitos reservados.    Existe um paralelismo entre as trajetórias musicais de Garoto e Laurindo. Além da grande afinidade musical que eles possuíam, eram autodidatas e faziam incursões pela Música Erudita. Tais incursões foram sendo acentuadas a partir da segunda metade da década dos anos quarenta do século passado, Garoto dedicando-se cada vez mais ao violão (muito embora continuasse a tocar com maestria diversos instrumentos de cordas em programas radiofônicos e em gravações) através, principalmente, dos seus programas exclusivos de solos na Rádio Nacional. Um pouco antes de rescindir seu contrato com aquela emissora em 18 de junho de 1954, Garoto tinha um programa com o sugestivo nome de Recitais de Violão. Sua apresentação como solista de violão no Teatro Municipal executando o Concertino nº2 para piano e orquestra composto por Radamés Gnattali (e dedicado a ele, Garoto) com a Orquestra Sinfônica do Municipal, regida por Eleazar de Carvalho em 1953 dá uma medida de seu prestígio, principalmente se considerarmos esta como a primeira vez em que um solista de violão, acompanhado por orquestra, se apresentou naquele teatro! No ano seguinte em São Paulo Garoto apresentou-se num memorável concerto no Auditório da Rádio Gazeta. Na primeira parte o Concertino nº 2 com a Orquestra Sinfônica da Rádio Gazeta sob a regência do Maestro Armando Belardi. Encerrando a primeira parte Garoto apresentou a composição Saudade de Radamés Gnattali. Com o pianista Fritz Jank, Garoto executou, em 1ª audição, a Suite Popular Brasileira, para piano e violão elétrico na segunda parte do Concerto. Garoto compôs peças eruditas como Concerto em Ritmo de choro e Concerto para Flauta e Violão. O primeiro, composto em 1946 e dedicado a Radamés, foi apresentado apenas em programas da Rádio Nacional enquanto que do segundo, composto em 1953, sabemos apenas o nome (em anotações no diário de Garoto). Laurindo gravou o Concertino nº2 e Saudade, de Radamés e Nosso Choro, Choro Triste nº1 e Gracioso, estas de Garoto no Lp Impressões do Brasil (Capitol—1957). Um ano antes Radamés (gravação de piano no Rio de Janeiro) Ele sempre acalentou o sonho de ir para os Estados Unidos para ter seu talento reconhecido, já que no Brasil ele tinha que repartir seu tempo entre os inúmeros instrumentos que tocava em gravações, programas radiofônicos e apresentações em boates, para sobreviver. O exemplo de Laurindo é uma prova disto! Ele jamais alcançaria a fama e prestígio que obteve se ficasse no Brasil...Gravar aqui um disco como Concert Creations for Guitar seria algo impensável!!! Laurindo pouco gravou aqui como solista de violão, sendo muito mais numerosa a sua participação em gravações como compositor de músicas populares. Podemos supor que no tempo em que atuava na Rádio Mayrink Veiga e em cassinos, ele paralelamente dedicava-se com afinco ao estudo do repertório erudito, incluindo Bach, Villa- Lobos, Albeniz, Tárrega e Barrios dentre outros. Só desta forma podemos entender tão espantosa evolução técnica e interpretativa ao violão, apresentada desde sua estréia nos palcos e discos norteamericanos. A falta de reconhecimento em seu próprio país foi uma mágoa que Laurindo sempre carregou. Mesmo nesta primeira visita, sete anos após deixar o Brasil, ele esperava ser convidado para dar um concerto “No Rio ou em São Paulo. Trouxe até meu violão especial. Desta feita (em 1960) achei que seria inútil trazer o instrumento, se bem que gostaria de tocar aqui”, como disse ao jornal O Globo. Era mais que justa esta expectativa, já que ele era considerado pela crítica norte-americana como um dos melhores guitarristas de jazz, muito bem conceituado também como músico erudito. Laurindo morreu sem obter o reconhecimento que esperava e merecia em seu próprio país!