O documento discute a introdução do conceito de pulsão na psicanálise por Freud. A pulsão é apresentada como uma força motriz interna que substitui a teoria da sedução externa. Isso estabelece o sujeito não mais como vítima de um trauma externo, mas tendo de lidar com as demandas da própria pulsão. A pulsão opera entre o somático e o psíquico, representando a dimensão do vivo na vida.
CURSO FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE- Aula 3: A pulsão e sua ruptura com a natureza
1. Fundamentos da Psicanálise Tema: A pulsão e sua ruptura com a natureza Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
2. Terminamos nosso último encontro propondo que a grande novidade teórica - com amplas repercussões clínicas - dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidadefoi: a pulsão ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
3. A pulsão é a via conceitual adotada por Freud para, na perspectiva clínica, localizar o sujeito no âmbito do quantum: força, impacto, atividade, irrupção, quantidade, ímpeto, tenacidade. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
4. Ou seja, por meio da pulsão Freud instaura no psíquico uma dimensão essencialmente material e plástica. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
5. Vejamos, pois, alguns detalhes do relevo pulsional ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
6. Trieb é uma palavra derivada do verbo treiben. Treiben significa impelir, conduzir, lançar à frente, ocupar-se de. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
7. Além disso, a palavra trieb se encontra presente em muitos outros termos da língua alemã que, em alguma medida, comportam sentidos próximos ao que o trieb designa na Psicanálise: Triebkraft: força motriz Triebwerk: motor Triebfeder: mola ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
8. O conceito de pulsão terá uma importância considerável para Freud, chegando a ser alçado à condição de conceito fundamental da Psicanálise (mesmo que o próprio Freud tenha constantemente indicado as dificuldades deste conceito). Ao longo do itinerário de Freud podemos verificar que a noção de pulsão promoverá efeitos em cascata no restante da malha conceitual da Psicanálise ... além disso, é em torno da pulsão que serão efetuadas as transformações mais marcantes da Psicanálise. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
9. A pulsão entra em cena em 1905, no ambiente dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade Vale frisar, mais uma vez, que apesar do título desta obra, Freud não está envolvido com a elaboração uma teoria sobre a genitalidade ou a sexologia, porém, sobre a ‘coisa sexual’.
10. Vejamos o locus da Coisa Sexual ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
11. Apresença da pulsão é concomitante ao abandono, por Freud, da chamada ‘teoria da sedução’: A sexualidade, no ambiente da sedução, localizava-se no exterior e era introduzida na cena infantil por um adulto (um adulto perverso). Este encontro, com alguém na posição de desamparo (daí, a referência à criança), funcionava como uma espécie de ‘primeiro motor’. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
12. Era a partir deste motor, deste impulso, que o psíquico era tirado do lugar, sendo daí lançado em uma trajetória bem complexa.
13. Com o abandono desta perspectiva, tudo mudou: à medida em que este motor externo indicava seus limites, a maquinaria psíquica (chamada por Freud de ‘aparelho psíquico’) precisava de uma força motriz interna. O conceito de pulsão é chamado a responder por este lugar.
14. Éprecisamente neste lugar outro que não mais o do trauma ou do encontro que poderia ser evitado ou contornado, que Freud localizará o sujeito: agora, trata-se de uma articulação que não é mais atenuada pela esquiva (aos moldes de um encontro com uma estimulação externa). De agora em diante, a pergunta clínica não é mais ‘como lidar com os efeitos de um trauma externo?’, porém, ‘como responder à pulsão?’
15. Temos, assim, um novo cenário: ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
16. Pulsão como força constante (bem distinta de uma estimulação esporádica e externa) Pulsão como exigência de trabalho
18. A pulsão, vinda com o afastamento da teoria traumática, não é uma exclusão do outro. Mas, o que Freud vai nos propor é que é pelo corpo (pelo vivo) que o outro se apresenta. Freud nomeia este outro de Nebenmensch: o outro humano.
19. Para melhor verificarmos as incidências clínicas do ‘vivo na vida’, é importante ressaltar uma sutil distinção presente em Freud, desde o momento de fundação da pulsão: Seelisch e Psychisch ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
20. Seelisch Pode ser traduzido por “Anímico”; Contrariamente ao psíquico, é a dimensão do que afeta ao sujeito sem passar pelo que Freud nomeia de tópica, instância ou representação; Ou seja: um psíquico sem borda. Psychisch Usualmente é traduzido por “Psíquico”; Trata-se da cena psíquica, na qual o que há é um tratamento do gozo; Ou seja: um psíquico com borda. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
21. Por meio da pulsão, Freud estabelece uma curiosa forma de ‘biologia’ (uma “biologia ampla”) melhor designada por ele de Metapsicologia. Enfim, uma psicologia não mais calcada no primado da consciência, mas no inconsciente. ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
22. Prosseguiremos com o tema: A pulsão e sua aventura Até lá! Acesso a este conteúdo: www.alexandresimoes.com.br ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.