Cientistas de Campinas estudam substâncias extraídas do urucum como repelente natural contra o mosquito Aedes aegypti. Eles comprovaram a eficiência do óleo de urucum em repelir o inseto, mas ainda precisam determinar a dosagem e tempo de eficácia. Além disso, pesquisam separar frações do óleo para aumentar a eficiência do repelente.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Grupo elabora repelente de urucum
1. Grupo elabora repelente de urucum
COMBATE ||| AO MOSQUITO
Camila Ferreira
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
camila.ferreira@rac.com.br
Substâncias extraídas do óleo
da semente de urucum prome-
tem funcionar como repelente
natural para espantar o Aedes
aegypti, mosquito transmissor
da dengue, chikungunya e do
zika vírus. As amostras estão
sendo analisadas por pesquisa-
dores da Universidade Esta-
dual de Campinas (Unicamp)
e Instituto de Tecnologia de
Alimentos (Ital), que com-
põem um grupo de cientistas
campineiros de diversas áreas
que se uniram para combater
o Aedes. A eficiência para repe-
lir o inseto já está comprovada
de acordo com os especialis-
tas, no entanto, ainda falta de-
tectar a dosagem necessária e
o tempo de eficiência. O resul-
tado pode sair até o fim do pró-
ximo mês.
Segundo um dos envolvi-
dos no estudo, Renato Carva-
lho, do Ital, que estuda o uru-
cum há 30 anos, o fruto já é
usado há muito tempo na “me-
dicina doméstica”, principal-
mente na cultura indígena.
“Nos baseamos em dois arti-
gos científicos publicados nos
últimos dois anos no Exterior,
ambos confirmam a capacida-
de do óleo extraído das semen-
tes de urucum como repelente
do Aedes. Nossa pesquisa bus-
ca separar frações do óleo, reti-
rando os pigmentos e concen-
trando-a para maior eficiência
como repelente. Estamos tra-
balhando em parceria com a
Unicamp e com a Universida-
de Federal de Grande Doura-
do (Mato Grosso do Sul) para
a avaliação desse produto.”
Ainda de acordo com Carva-
lho, a iniciativa partiu após tes-
tes com o pigmento para dei-
xar a gema de ovos com uma
cor mais acentuada. “Nós in-
cluímos algumas substâncias
do urucum na ração de gali-
nhas para que as gemas dos
ovos produzidos por elas saís-
sem com uma cor mais acen-
tuada. Percebemos que próxi-
mo às fezes delas não apare-
ciam mais mosquitos, alguns
até morriam. A partir disso e
com os insumos dos artigos co-
meçamos a estudar a repelên-
cia”, contextualizou.
Para a dermatologista Lilia
Guadanhim, membro da Socie-
dade Brasileita de Dermatolo-
gia (SBD), de uma forma geral,
os repelentes naturais são volá-
teis e, por isso, têm pouca du-
ração e a associação com os
produtos sintéticos acaba sen-
do necessária. “Geralmente,
eles duram menos de 20 minu-
tos e a recomendação é de apli-
cação de hora em hora. Sabe-
mos que o urucum já era usa-
do antes de Cristo como repe-
lente e alguns artigos mostra-
ram resultados apenas prelimi-
nares. Até agora, os óleos que
têm embasamento científico é
o eucalipto-limão e a citrone-
la, mas caem na regra de pou-
ca durabilidade, pois evapo-
ram muito rápido, ainda mais
no Verão”, explica.
Para a médica, não é reco-
mendado o uso isolado dos re-
pelentes naturais e no caso
das gestantes, o principal obje-
tivo acaba sendo a eficácia do
produto. “Os repelentes sintéti-
cos são seguros, basta seguir a
orientação de aplicação de ca-
da marca, sempre evitando as
regiões das mucosas, como na-
rinas e boca”, ressalta. Ainda
de acordo com Lilia, a eficácia
pode cair até 50%, nos dias em
que o termômetro ultrapassar
os 30˚C.
Cuidados
O interessante da atual pesqui-
sa, de acordo com Carvalho, é
que essas substâncias se encon-
tram em frações do óleo que
eram descartadas. O especialis-
ta ainda acredita que o produ-
to terá um preço acessível, já
que o Brasil é um grande pro-
dutor da planta. O pesquisador
reforça, ainda, que não é possí-
vel usar o óleo de urucum que
há no mercado como repelen-
te, pois, além do pigmento for-
te, que mancha a pele, apenas
uma fração dele é que promo-
ve o resultado e para agir preci-
sa estar separada.
Óleos naturais
Uma fórmula de um repelente
com óleos naturais foi aprova-
da pela Agência Nacional de Vi-
gilância Sanitária (Anvisa) e co-
meça a ser comercializado no
Estado de São Paulo a partir de
março. O produto foi criado pe-
lo casal de pesquisadores per-
nambucanos Djalma Marques
(dermatologista) e Fátima Fon-
seca (engenheira química) e,
de acordo com eles, é livre de
aditivos químicos e pode ser
usado tranquilamente por grá-
vidas e crianças. “Há em sua
composição uma mistura de
óleos de alecrim, gabiroba, la-
vanda, citronela, entre outros”,
conta Fátima.
O Biorepely começou a ser
vendido no Nordeste no final
do ano passado e chega às re-
giões Sudeste e Sul em meados
de março, mas pode ser com-
prado via internet, pelo site do
laboratório (Biologicus). “Hoje
ele está esgotado, mas acredita-
mos que nas próximas sema-
nas já tenhamos reposto. Nós
patenteamos o produto em
2009 e começamos a produção
e testes. Todas as matérias pri-
mas são naturais e o veículo é
natural, derivado do azeite de
oliva, sem conservantes quimi-
cos que sejam prejudicias à pe-
le”, destacou a pesquisadora.
Hoje, um pote com 100g do
repelente é vendido a R$ 40,00,
mas o objetivo é tentar bara-
tear o valor, aumentando a pro-
dução. Além do Aedes, o produ-
to promete espantar, também,
os mosquitos transmissores da
malária e da filariose. Segundo
a Anvisa, o produto encontra-
se registrado como repelente
de insetos. A agência não avalia
se o produto é 100% natural,
mas sim sua eficiência e segu-
rança. Para produtos cosméti-
cos não são permitidas alega-
ções de que o produto seja
100% natural. São permitidos
dizeres de rotulagem que atri-
buam propriedades naturais a
determinadas substâncias da
formulação.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) investiga a pos-
sibilidade de que o zika ví-
rus esteja sendo transmitido
em relações sexuais. Em
uma declaração emitida an-
teontem, em Genebra, a en-
tidade ressaltou que novas
pesquisas estão sendo feitas
para determinar a dimensão
do risco. “Zika foi isolado no
sêmen humano e há um ca-
so de possível transmissão
sexual pessoa a pessoa des-
crito”, indicou a OMS. “En-
tretanto, mais evidências
são necessárias para confir-
mar se o contato sexual é
um meio de transmissão do
vírus”, afirmou a entidade.
Outra opção que é estudada
pela OMS é a transmissão
por sangue. “Zika pode ser
transmitido por sangue,
mas esse é um mecanismo
pouco frequente.” O princi-
pal temor da OMS ainda re-
side na possível ligação en-
tre a infecção e a microcefa-
lia, disse a diretora-geral,
Margaret Chan. “Os indícios
são preocupantes”, apon-
tou. Apesar disso, a OMS in-
siste que não há indícios de
transmissão pelo leite mater-
no e apela para que as mães
continuem amamentando.
Um outro estudo desen-
volvido pelo departamento
de entomologia da Funda-
ção Oswaldo Cruz (Fiocruz)
em Pernambuco investiga
se o zika vírus e a febre chi-
kungunya também podem
ser transmitidos pelo mos-
quito Culex, conhecido po-
pularmente como muriçoca
ou pernilongo.
A pesquisa é coordenada
pela pesquisadora Constân-
cia Ayres, do projeto de veto-
res da instituição, e deve ser
concluída em um prazo esti-
mado de três semanas.
“O mosquito principal,
que é considerado vetor, é o
Aedes. O Culex a gente está
testando pela primeira vez,
ninguém nunca testou”, des-
tacou a pesquisadora. Se-
gundo ela, a primeira epide-
mia do zika surgiu na Micro-
nésia e lá não é habitat do
Aedes aegypti. Então, outras
espécies estariam atuando
como vetor. (Agência Esta-
do)
OMS informou que avalia um caso de
possível infecção por relação sexual
Saúde anuncia repelentes no Bolsa Família
Renato Carvalho, do Ital, que estuda o urucum há 30 anos: pesquisa busca separar frações de óleos do fruto e concentrá-las para criar repelente
Cientistas de Campinas comprovam eficácia da substância contra Aedes e trabalham em fórmula
Carlos Sousa Ramos/AAN
Tempo de duração
dos efeitos é um dos
desafios do estudo
O
ministro da Saúde,
Marcelo Castro,
anunciou a
distribuição de repelentes
para aproximadamente
400 mil mulheres
grávidas que fazem parte
do cadastro no Bolsa
Família. A medida tem
como alvo o controle do
surto de microcefalia no
País, que já chegou a
3.893 casos. Apesar disso,
constitui um recuo da
proposta inicial. Castro
ainda deu detalhes sobre
a campanha contra o
Aedes aegypti que o
governo pretende acelerar
depois do Carnaval. O
ministro informou teria
ontem encontro com
representantes de
distribuidores de
repelentes para verificar
quantos produtos estão
disponíveis, para que o
governo compre e
distribua. Em dezembro,
ele havia anunciado a
distribuição de repelentes
para todas as grávidas do
País — que registra 3
milhões de nascimentos/
ano. Caberia ao
laboratório do Exército
fazer a fabricação. No
mesmo dia, porém, o
Exército negou que
tivesse capacidade para
produzir o item em larga
escala.
Após um mês de reuniões
com vários laboratórios,
na semana passada o
ministro veio a público
para admitir que não
seria possível a
distribuição para todas as
gestantes. (Agência
Estado)
Transmissão por sexo e
por pernilongo é investigada
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Campinas, quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
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