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1
Abordagem clínica e epidemiológica do ofidismo no município de Alegre (ES)
Lauro Freitas da Silva1
, Silvio Antonio Fragoso Filho1
, Teresa Cristina Ferreira da Silva2
1
Autor, acadêmico do 8º Período do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Alegre – FAFIA-ES.
2
Professora orientadora. Enfermeira Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem pela
Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ. Professora do Curso de Bacharelado em Enfermagem da FAFIA-
ES. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Alegre – ES.
RESUMO - O ofidismo constitui o envenenamento provocado pela ação de toxinas de serpentes que pode levar
a alterações locais e sistêmicas. Considera-se problema importante de saúde pública devido a incidência,
gravidade e sequela provocada na vítima. Diante da gravidade dos problemas gerados por esses acidentes e, da
necessidade de uma assistência de enfermagem imediata, sistematizada, proporcionando uma rápida recuperação
dos acometidos o estudo buscou de forma descritiva, com coleta de dados no Sistema de Informação de Agravos
de Notificação, conhecer a magnitude do ofidismo no município de Alegre - ES, no período de 2001 a 2008,
correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos à implementação da assistência de enfermagem. Os
resultados sugerem que o perfil epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece
atenção do sistema de saúde em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159 acidentes
ofídicos provocados em 97,5% por Bothrops, com predomínio em maio. Além da importância médica e
epidemiológica, envolve questões sociais e econômicas, pois atinge indivíduos jovens e do sexo masculino, que
representam a população economicamente ativa, sendo 88% da amostra constituída de homens, 73,3% na faixa
etária de 20 a 59 anos e 20,1% não tem qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas
nacionais. Foram considerados casos leves 65,8% da amostra, 95% evoluíram para cura e dos 155 acidentes
botrópicos encontrados 85,2% tiveram o primeiro atendimento em até 3 horas. As questões apontadas e os
resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática clínica baseada em evidências científicas, além
de identificar o papel do enfermeiro frente ao cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento
fundamental no direcionamento de toda a assistência livre de riscos e sequelas.
Palavras-chave: Ofidismo. Acidente. Enfermeiro.
ABSTRACT - The ophidism constitutes the poisoning provoked for the toxin action of serpents that can take the
local and systematic alterations. Considers an important problem of public health had the provoked incidence,
gravity and sequels in the victims. Ahead of the gravity of the problems generated for these accidents and, of the
necessity of an assistance of immediate, systemize nursing, providing a fast recovery of assailing the study it
searched of descriptive form, with collection of data in the System of Information of Offence and Notification
(SINAN) to know the magnitude of the ophidism in the city of Alegre/ES, in the period of 2001 the 2008,
correlating the aspects epidemiologists and physicians to the implementation of the nursing assistance. The
results suggest that the profile presented epidemiologist and physician configures in fact an event that deserves
attention of the system of public health in face of the occurrence in every month of the year, totalizing 159
provoked ophidious accidents in 97,5% for Bothrops, with predominance in May. Beyond the medical
importance and epidemiologist, it involves social and economic questions, therefore it reaches young individuals
e of the masculine sex, that represent the active population economically, being 88% of the consisting sample of
man, 73.3% between 20 the 59 years and 20.1% was illiterate people. Similarity with the national casuistcs was
verified. Light cases had been considered 65.8% of the sample, 95% had evolved for cure and of the 155
bothropic accidents found 85.2% they had had the first attendance in up to 3 hours. The pointed questions and
the results of the study signal how much to the utility for the practical clinic based on scientific evidences,
beyond identifying to the paper of the nurse front to the care with the victim of ophidious accident as element
basic in the aiming of all the free assistance of risks and sequels.
Key Words: Ophidism. Accident. Nurse.
INTRODUÇÃO
O ofidismo caracteriza o estado de envenenamento provocado pela ação de toxinas, através de
aparelho inoculador de serpentes, podendo determinar alterações sistêmicas e na região da
picada1
.
Os acidentes denominados ofídicos constituem, dentre os acidentes por animais peçonhentos,
o de maior importância médica em virtude de sua grande frequência e gravidade2
. Assim,
2
podemos destacar os acidentes ofídicos como um importante problema de saúde pública,
especialmente em regiões tropicais do mundo3
.
A média anual no país desde os trabalhos de Vital Brazil, é de cerca de vinte mil acidentes
ofídicos por ano, com um perfil que se mantém inalterado nos últimos cem anos. Na maioria
dos acidentes identificados, 90,5%, a serpente envolvida é Bothrops representada pela
jararaca, jararacuçu e caiçara4
.
A sazonalidade é característica marcante, em geral, relacionada a fatores climáticos e aumento
da atividade humana nos trabalhos no campo que determina um predomínio de incidência nos
meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária de 15 a 49
anos25,16
.
Podemos compreender o ofidismo como um desafio dado as implicações para o sistema
circulatório e a coagulação. As complicações sistêmicas como choque e insuficiência renal
aguda podem ocorrer, assim como as complicações locais podem acompanhar a evolução das
lesões, sendo a gangrena a mais temida complicação para a extremidade, a qual habitualmente
resulta de acidentes graves7
.
Como consequência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação
específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1
. É
necessário, pois, analisar que o diagnóstico do tipo de serpente causador do acidente é feito,
na maioria dos casos, com base nas manifestações clínicas que o paciente apresenta no
momento do atendimento, uma vez que nem sempre é possível a identificação do animal8
.
A soroterapia deve ser realizada o mais rapidamente possível e o número de ampolas depende
do tipo e da gravidade do acidente, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de
manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno1
.
No atendimento a vítima de acidente ofídico é preciso minimizar os riscos de complicações,
sendo imperativa a realização de ações sistematizadas que vão desde o atendimento
emergencial até a assistência hospitalar9
. A partir desta colocação, surge à necessidade de
conhecer o perfil do ofidismo, e qual o tipo de cuidado o acidentado necessita, possibilitando
uma melhor adequação da assistência de enfermagem.
O estudo foi realizado na forma descritiva com coleta de informações na base de dados do
Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) nos meses de setembro de 2008 a
fevereiro de 2009. Sendo assim, estabelecemos como objetivo geral do estudo conhecer a
magnitude do ofidismo no município de Alegre- ES, no período de 2001 a 2008,
correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos do agravo à implementação da
assistência de enfermagem.
A partir deste direcionamento central da pesquisa buscamos através dos objetivos específicos
delinear no estudo o número de acidentes ofídicos no município de Alegre de 2001 a 2008,
segundo sexo, idade, escolaridade, tipo de serpente agressora, tempo de início do
atendimento, evolução do caso, mês de ocorrência e identificar o papel do enfermeiro frente
ao cuidado com a vítima de acidente ofídico.
Desta forma, reafirmamos o compromisso do enfermeiro de atuar na promoção, prevenção,
recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos
e legais.
METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa descritiva de natureza quantitativa com coleta de dados secundários no
SINAN, realizada no período de setembro de 2008 a fevereiro de 2009. As pesquisas
3
descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada
população ou fenômeno10
. Para tanto é necessário o estabelecimento de relações entre
variáveis obtidas através da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados11
. No
Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional. Dados
secundários como os do SINAN podem ser usados em um estudo descritivo para monitorar a
qualidade da assistência prestada aos indivíduos12
.
Como parte da investigação o estudo partiu de uma fundamentação teórica prévia utilizando a
pesquisa bibliográfica que busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas
do passado sobre determinado assunto, tema ou problema13
.
O local para o estudo foi o município de Alegre localizado ao sul do estado de Espírito Santo,
situado a 196 km da capital. Apresenta características climáticas que variam de quente e
chuvoso no verão e seco no inverno e conta com uma população residente de 31.714
habitantes14
.
Embora os dados do SINAN sejam de domínio público, divulgados em página do Ministério
da Saúde na guia do sinanweb/tabnet, o levantamento de dados foi realizado somente após
assinatura do termo de consentimento pelo gestor municipal evidenciando que a pesquisa
conta com o benefício de adquirir fundamentação para investir em mecanismos de redução
das complicações e no aperfeiçoamento da assistência de enfermagem adequada às
necessidades específicas da clientela afetada pelo ofidismo. Os dados foram apurados no
SINAN, disponível na rede internacional de computadores e na Secretaria Municipal de Saúde
e Saneamento de Alegre nas fichas de notificação de acidentes por animais peçonhentos do
SINAN, de tal maneira que nenhum dos resultados referiu um indivíduo nominal, tampouco
implicou quaisquer prejuízos para as pessoas ou instituições envolvidas. No estudo foram
utilizadas as variáveis disponíveis na base de dados.
Utilizando-se aplicativo eletrônico as variáveis analisadas foram dispostas, para melhor
visualização, em tabelas e ou gráficos demonstrando a magnitude do ofidismo em Alegre de
2001 a 2008 quanto ao número de acidentes; segundo sexo, idade e escolaridade da vítima,
além do tipo de serpente agressora, mês de ocorrência, tempo de início do atendimento e
evolução do caso.
CONCEITOS EM OFIDISMO
Descreve-se como acidente um acontecimento fortuito que surge quer no estado hígido, quer
no decurso de uma doença, causando lesões orgânicas ou agravando outras já existentes.
Acidente peçonhento é o estado mórbido ou o agravo clínico determinado pela inoculação de
peçonha num organismo por um animal15
. Os acidentes causados pelas mordidas de cobra são
denominados ofídicos2
. Considera-se o acidente ofídico ou ofidismo como o acidente causado
por serpente peçonhenta ou não-peçonhenta16
.
É comum identificar-se o acidente ofídico como lesões provocadas por picada de cobra
venenosa, podendo ocasionar graves lesões de pele e lesões renais15
o conceito de ofidismo
seguido no presente estudo é o sugerido como a intoxicação por veneno de serpente17
. De fato
o ofidismo constitui um dos acidentes por animais peçonhentos. E como envenenamento
provocado pela ação de toxinas, através de aparelho inoculador de serpentes pode levar a
alterações locais e sistêmicas1
.
MAGNITUDE DO OFIDISMO
Os acidentes por animais peçonhentos constituem um sério problema de saúde pública, tanto
pelo número de casos registrados, quanto pela gravidade apresentada, quando não são
convenientemente tratados, podendo conduzir à morte ou a seqüelas capazes de gerar
4
incapacidade temporária ou definitiva para o trabalho e para as atividades habituais de
lazer18,19
.
A magnitude do ofidismo transcende a importância médica e epidemiológica, pois o problema
atinge algumas questões sociais e econômicas, uma vez que acomete indivíduos jovens e do
sexo masculino, que representam a população economicamente ativa do país20
. Desde a
década de 70, quando começaram a ser implantados os centros de controle de intoxicação ou
centro de informação toxicológica, tem sido observados que os acidentes por animais
peçonhentos representam a segunda causa de atendimento, somente superados pelas
intoxicações medicamentosas, sendo que os acidentes com ofídicos botrópicos representam
90% das notificações21
. “[...] os acidentes ofídicos são mais comuns do que aparentam e
ocorrem amplamente em muitas regiões do globo terrestre”7
. Embora relativamente
negligenciados, acidentes humanos provocados por picadas de serpentes são um sério
problema médico-hospitalar e social uma vez que a maior parte das regiões onde há esse tipo
de acidente corresponde às nações subdesenvolvidas e os acidentes ocorrem em sua maioria,
em áreas rurais remotas onde os dados epidemiológicos são geralmente escassos e
subestimam a verdadeira situação22
.
A Organização Mundial de Saúde calcula que ocorram no mundo 1.250.000 a 1.665.000
acidentes por serpentes peçonhentas por ano, com 30.000 a 40.000 mortes20
. A letalidade
geral no país de 0,4% é considerada baixa por Brasil (2005), entretanto ocorrem por ano,
entre 19.000 a 20.000 acidentes ofídicos com aproximadamente 115 óbitos no Brasil23
.
CONTEXTO DEMOGRÁFICO E EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL
É importante considerar que o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos foi
realizado por Vital Brazil em 1901, quando levantou o número de óbitos por picadas de
serpentes peçonhentas no estado de São Paulo, registrando 63, 88 e 104 óbitos em 1897, 1899
e 1900, respectivamente4
. Vital Brazil é tão atual que, em 1909, baseado apenas nos óbitos
registrados pelo estado de São Paulo e em uma letalidade de 25%, estimou em 19.200 o
número de acidentes ofídicos para todo o Brasil, número este muito próximo dos cerca de
20.000 acidentes ofídicos notificados anualmente no país4
.
O número de notificações de ofidismo vem aumentando ano a ano e revela o registro de
25.478 acidentes em 2003, correspondendo à incidência de 15 casos por 100 mil habitantes. E
ocorre significativa variação por região, o que demonstra a tabela 1, evidenciando o
coeficiente de incidência nas diferentes regiões do país destacando os coeficientes mais
elevados nas regiões norte e centro-oeste, enquanto a região sudeste registra o menor
coeficiente, 9,51
.
O ofidismo constitui, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o de maior interesse
médico, pela frequência e gravidade e ocorre em todo o país, porém a distribuição por gênero
de serpente peçonhenta indica predomínio do acidente botrópico. Os acidentes por serpentes
não-peçonhentas são relativamente freqüentes, porém não determinam acidentes graves e, por
isso, são considerados de menor importância médica1
.
A sazonalidade do ofidismo demonstra uma relação com os fatores climáticos e a maior
frequência com que os homens realizam atividades no campo, o que determina um incremento
de incidência nos meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária
de 15 a 49 anos24
. A distribuição mensal em 2003 dos acidentes ofídicos, por macrorregião do
país revela que na maioria dos estados corresponde ao período de janeiro a abril1
.
Generalizando a discussão a epidemiologia dos acidentes ofídicos aponta para um perfil que
se mantém inalterado ao longo dos últimos 100 anos no Brasil4
.
5
CARACTERÍSTICAS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS
GÊNEROS DE SERPENTES NO BRASIL
Das 2.500 espécies de serpentes conhecidas em todo o mundo, 250 são encontradas no Brasil,
destas, 70 são consideradas peçonhentas e pertencem as famílias Viperidae e Elapidae. A
família Viperidae é responsável pela maioria dos casos de ofidismo registrados no Brasil. Os
gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis representam os viperídeos brasileiros21
. As serpentes
do gênero Bothrops são representadas pela conhecida jararaca, Crotalus pela cascavel,
Lachesis pela surucucu25
.
A presença de fosseta loreal, órgão termorregulador localizado entre o olho e a narina indica
com segurança que a serpente é peçonhenta e é encontrada nos gêneros Bothrops, Crotalus e
Lachesis. Como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus das corais verdadeiras,
representante da família Elapidae, não possui fosseta loreal. Todas as serpentes peçonhentas
são providas de dentes inoculadores bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior
do maxilar1,5.
As cobras venenosas também podem ser identificadas através do tipo de cauda,
tendo a Bothrops cauda lisa, a Crotalus cauda com chocalho e a Lachesis cauda com escamas
eriçadas5
.
As serpentes venenosas são mais freqüentes nos campos, em terrenos cultivados e nos
cerrados do que nas matas. Concentram-se mais nas plantações abandonadas ou pouco
freqüentadas e nos pastos. Tem hábitos noturnos, durante o dia ficam em esconderijos como
em buracos de tatu, ocos de árvores, covas de raízes, montes de lenha e casa de cupim. Em
geral não se movimentam muito nem se locomovem rapidamente, atacam quando alguém
delas se aproxima ou quando são tocadas ou pisadas26
.
GÊNERO BOTHROPS
O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes peçonhentas, com mais
de 60 espécies encontradas em todo o território brasileiro1
. Esse gênero é o causador do
acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país5
. São conhecidas popularmente
por: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo,
patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações. Estas serpentes habitam
principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos
como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores
(paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou
crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas,
desferindo botes sem produzir ruídos5
.
A Bothrops jararaca é das mais agressivas, reage prontamente, não faz barulho e é a que
eventualmente mais sobe nas árvores26
. As principais espécies do gênero Bothrops são a
atrox, mais encontrada na Amazônia; erythromelas abundante na região nordeste; jararaca
tem grande capacidade adaptativa, ocupa e coloniza tanto áreas silvestres como agrícolas e
periurbanas, sendo a espécie mais comum da região sudeste; jararacussu é a espécie que pode
alcançar o maior comprimento, até 1,8 metros, e que produz a maior quantidade de veneno
dentre as serpentes do gênero, predominante nas regiões sul e sudeste; moojeni principal
espécie dos cerrados e a alternatus vive na região centro-oeste a sul1
.
GÊNERO CROTALUS
As serpentes do gênero Crotalus são representadas no Brasil por uma única espécie a
Crotalus durissus, com ampla distribuição geográfica, desde os cerrados do Brasil central,
regiões áridas e semi-áridas do nordeste, até os campos e áreas abertas do sul, sudeste e
6
norte1
. Popularmente são conhecidas por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga,
maracambóia, maracá e outras denominações populares5
.
GÊNERO LACHESIS
O gênero Lachesis compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies. São
popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo. É
a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais
como amazônia, mata atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do nordeste5
.
GÊNERO MICRURUS
O gênero Micrurus é o representante da família Elapidae no Brasil, onde se incluem as najas
asiáticas e africanas. Com cerca de 22 espécies, apresenta ampla distribuição geográfica no
país. São conhecidas popularmente por coral, coral verdadeira ou boicorá, são de pequeno e
médio porte com tamanho em torno de 1,0 m. O reduzido tamanho da abertura bucal e das
presas inoculadoras de veneno e a baixa agressividade justificam o pequeno número de
acidentes registrados por este gênero1,5
. As Micrurus apresentam anéis vermelhos, pretos e
brancos em qualquer tipo de combinação. Em todo o país, existem serpentes não peçonhentas
com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes
inoculadores. Diferem ainda na configuração dos anéis que, em alguns casos, não envolvem
toda a circunferência do corpo. São denominadas falsas-corais5
.
GÊNERO PHILODRYAS
As espécies do gênero Philodryas, pertencentes à família Colubridae, compreendem as
espécies olfersii, viridissimus, patogoniensis, além da Clelia plúmbea, as quais são de
interesse médico, pois há relatos de quadro clínico de envenenamento. São conhecidas
popularmente por cobra-cipó ou cobra-verde e muçurana ou cobra-preta. Possuem dentes
inoculadores na porção posterior da boca e não apresentam fosseta loreal. Para injetar o
veneno, mordem e se prendem ao local5
.
OFIDISMO SEGUNDO O GÊNERO DE SERPENTE
Dos quatro gêneros de serpentes peçonhentas há predomínio do acidente botrópico, que
corresponde a 87,5% dos casos ofídicos notificados no país em 2003, seguidos pelo crotálico
com 9,2%, laquético com 2,7% e elapídico representado por 0,6%, com pequenas variações
de acordo com a região e distribuição geográfica das serpentes1
. O gráfico 1 demonstra o
percentual no país dos acidentes ofídicos em 2003 distribuídos segundo o gênero da serpente
causadora.
GRÁFICO 1 – Distribuição dos acidentes ofídicos do país em 2003, segundo o gênero da
serpente envolvido1
.
Na maioria dos casos de ofidismo o diagnóstico é baseado nas manifestações apresentadas
pelo paciente. O diagnóstico etiológico, quando há identificação do animal, é pouco
freqüente. Na ausência de alterações clínicas deve ser considerada a possibilidade de acidente
por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6
.
Elapídico
0,6%
Laquético
2,7%
Crotálico
9,2%
Botrópico
87,5%
7
O diagnóstico de certeza de ofidismo é dado pelo reconhecimento do animal causador do
acidente, entretanto, o diagnóstico habitualmente realizado é o presumível, que se baseia na
observação dos sintomas e sinais presentes no acidentado, em conseqüência das atividades
tóxicas, desenvolvidas pela inoculação de determinado tipo de veneno. Desta forma o
conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo
humano permitem o reconhecimento do gênero do animal envolvido no acidente e selecionar
o antídoto adequado, mesmo na ausência da serpente27
.
CLASSIFICAÇÃO DO OFIDISMO PELO VENENO DA SERPENTE
Direcionando-se para a patogenia do veneno das serpentes destaca-se que são secreções de
glândulas especiais ligadas às presas canaliculadas inoculadoras e que se trata de misturas
complexas de substâncias protéicas com propriedades enzimáticas diversas, como
fosfatidásica, colinesterásica, proteolítica, hialuronidásica. As propriedades dos venenos são
definidas como coagulantes, proteolíticas ou necrosantes, hemolíticas e neurotóxicas de
acordo com as substâncias tóxicas que possui e as proporções existentes entre elas26
.
Os venenos ofídicos podem ser classificados de acordo com suas atividades fisiopatológicas,
cujos efeitos são observados em nível local e sistêmico5
.
ASPECTOS CLÍNICOS DO OFIDISMO
Como conseqüência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação
específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1
.
A composição do veneno difere de família para família de ofídico, mas varia menos de gênero
para gênero e apresenta diferenças nas proporções dos diversos componentes de acordo com
as espécies26
. A constatação de lesões locais, de incoagulabilidade do sangue ou da hematúria,
permite afirmar que se trata de acidente botrópico. Fácies neurotóxicas e a meta-
hemoglobinúria são características de acidente crotálico. E o acidente elapídico caracteriza-se
por fácies neurotóxica sem meta-hemoglobinúria e sintomas de paralisia26
.
O problema diagnóstico que às vezes aparece é saber se na realidade houve picada por
serpente peçonhenta e, eventualmente, ausência de inoculação de veneno26
. Na ausência de
alterações clínicas, o paciente deve ser mantido em observação por 6 a 12 horas após o
acidente, após o que, mantendo-se inalterado, deve ser considerada a possibilidade de acidente
por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6
.
Desde os trabalhos de Vital Brazil, no país a maioria dos acidentes identificados, 90,5%, a
serpente envolvida é Bothrops4
. As espécies jararaca e a jararacussu são as mais encontradas
na região sudeste1
. Assim, passamos a destacar no estudo o acidente por Bothrops ou seja,
acidente botrópico.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO OFIDISMO POR BOTHROPS
Na prática, todas as serpentes do gênero Bothrops produzem sintomas semelhantes, variando
de intensidade na razão direta da quantidade de veneno inoculado26
. Descreve-se como
manifestações locais o edema, dor e equimose que se evidenciam, nas primeiras horas após a
picada, na região atingida e progride ao longo do membro acometido1
. As equimoses e
sangramentos no ponto da picada são frequentes, já o infartamento ganglionar e bolhas podem
aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose5
.
Sistemicamente, além de sangramentos em ferimentos cutâneos preexistentes, podem ser
observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria.
Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque5
.
Contudo, a associação da atividade hemorrágica à coagulante pode se traduzir por
8
sangramentos clinicamente evidentes ou detectáveis através de exames complementares. Dos
três tipos de ações principais do veneno botrópico a atividade proteolítica é de importância
fundamental para a caracterização clínica do ofidismo e é causada por frações
bioquimicamente heterogêneas, com especificidades diversas, que atuam de maneira
complexa e inter-relacionada27.
Possivelmente, decorrem da atividade de proteases,
hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação
das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno5
. O gênero
Bothrops possue venenos com ações coagulante, citotóxica ou proteolítica, vasculotóxica as
quais resumimos no esquema do quadro 1.
QUADRO 1 – AÇÕES DOS VENENOS28
A atividade proteolítica se constitui em atividade inflamatória aguda, responsável pelas
alterações que ocorrem no local da picada e proximidade, sendo que a dor costuma ser
imediata e de intensidade variável no local da inoculação do veneno, estendendo-se para todo
o membro nas horas seguintes26
. O quadro 2 ilustra algumas manifestações locais do ofidismo
por Bothrops. Na parte superior a primeira foto mostra as manifestações locais com o edema,
equimose e flictena e na segunda foto a migração do edema e equimose até a raiz da coxa. A
terceira foto é de pé atingido 90 minutos após a picada e abaixo a foto mostra a evolução após
fasciotomia.
QUADRO 2: MANIFESTAÇÕES LOCAIS DO ACIDENTE BOTRÓPICO29
O eritema e o edema local, flogístico, endurado, pode tornar-se regional e atingir a raiz do
membro. Equimoses, bolhas e necrose podem aparecer em dias sucessivos, dependendo da
COAGULANTE VASCULOTÓXICA CITOTÓXICA
AÇÃO COAGULANTE DO AÇÃO DAS ENZIMAS
TIPO TROMBINA HEMORRAGIAS PROTEOLÍTICAS
DESFIBRINOGENAÇÃO LESÃO DO ENDOTÉLIO CAPILAR
SISTÊMICO E LOCAL
HEMORRAGIAS EDEMA NECROSE
9
gravidade do envenenamento isso pode obrigar à amputação. A infecção no local da picada
também é frequente27
. A ação coagulante é derivada de fração do veneno do tipo trombina,
capaz de ativar fatores da coagulação sanguínea27
. No ponto de inoculação o veneno provoca
um coágulo que serve de barreira natural do veneno; este, então, penetra lentamente na
circulação, desfibrinando o sangue pela coagulação do fibrinogênio em microcoágulos e
também pela destruição direta dessa proteína. Provoca assim incoagulabilidade do sangue por
fibrinopenia podendo levar a um estado de choque e a morte. Quando a dose do veneno
inoculado é grande e na veia, em dose igual ou superior a 0,4 mg/Kg, há morte rápida devido
à coagulação intravascular maciça26
.
A atividade hemorrágica não demonstra grandes alterações por ser mais lenta a sua difusão
em relação aos outros venenos hemolíticos, porém não coagulantes26
. Merece destaque a
jararragina, uma hemorragina isolada de Bothrops jararaca, que causa lesão endotelial
sistêmica e trombocitopenia30
, e a bothropstoxina II, uma fosfolipase isolada de Bothrops
jararacussu com atividade anticoagulante31
.
AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DO OFIDISMO POR BOTHROPS
A gravidade depende da quantidade de veneno inoculada. Pode haver casos de picada em que
não ocorre envenenamento, conhecida popularmente por picada seca1
. A gravidade do
acidente botrópico depende da intensidade e precocidade das manifestações locais e da
presença de manifestações sistêmicas como sudorese, hipotensão arterial, choque, hemorragia
e insuficiência renal aguda29
.
Os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave. Acidente leve é a forma
mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou
ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo
de coagulação. Acidente moderado é caracterizado por dor e edema evidente que ultrapassa o
segmento anatômico picado, acompanhado ou não de alterações hemorrágicas locais ou
sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. É grave se há presença de edema local
endurado intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, geralmente acompanhado
de dor intensa e, eventualmente com presença de bolhas5
.
COMPLICAÇÕES
A maioria dos acidentes é classificado como leve e a letalidade geral é de 0,4%. O tempo
decorrido entre o acidente, atendimento e tipo de envenenamento pode elevar a letalidade em
até oito vezes esta taxa. Por outro lado, a frequência de sequelas, relacionada a complicações
locais, é bem mais elevada, situada em 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de
risco como o uso de torniquete, picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo na
administração da soroterapia1
.
Levando em consideração que o bote das serpentes peçonhentas tem um alcance de cerca de
um terço do seu comprimento e a altura habitualmente não passa de 30 cm26
pode-se explicar
o fato de mais frequentemente, as picadas ocorrerem abaixo do terço superior da perna. É
nesta perspectiva que a prática de qualquer medida inicial, particularmente o garroteamento,
pode agravar os efeitos locais do veneno28
. Em decorrência do edema, podem aparecer sinais
de isquemia local devido à compressão dos feixes vásculo-nervosos. As manifestações
sistêmicas como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o
caso como grave, independentemente do quadro local5
.
Contudo firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser
retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam, sendo, a fasciotomia
contra-indicada enquanto o sangue permanecer incoagulável. A ocorrência de abscessos por
10
anaeróbios gram-negativos ou cocos gram-positivos não é rara, necessitando de
antibioticoterapia e drenagem cirúrgica, enquanto as áreas necrosadas necessitam de
desbridamento e deve ser considerada a necessidade de cirurgia reparadora nas perdas
extensas de tecidos29
. O quadro 3 resume as principais complicações locais e sistêmicas do
ofidismo por Bothrops.
QUADRO 3: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES LOCAIS E SISTÊMICAS DO OFIDISMO
POR BOTHROPS5
TRATAMENTO
A precocidade do atendimento médico é fator fundamental na evolução e no prognóstico do
doente. O quadro 4 indica em resumo a abordagem inicial dos acidentes ofídicos.
QUADRO 4: ABORDAGEM INICIAL DOS ACIDENTES OFÍDICOS27
Como medidas gerais deve-se retirar anéis e alianças do dedo atingido, pois o edema pode
tornar-se intenso, produzindo um sistema de garrote28
. O uso de torniquete, com a finalidade
• Limpar com água e sabão o local da picada, para avaliar se existem lesões cutâneas.
• Puncionar veia periférica nunca utilizando o membro afetado.
• Colher sangue para determinação de creatinina, sódio, potássio e hemograma completo,
além da determinação do tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial
ativada (TPPA).
• Iniciar gotejamento de 500 ml de soro glicofisiológico 5% ou soro fisiológico (se o
paciente for diabético), 45 gotas por minuto, com o objetivo de hidratar e manter acesso
venoso para as próximas etapas.
• Pré-medicação: simultaneamente à hidratação, iniciar esquema de proteção contra possíveis
reações de hipersensibilidade ao SAV, administrando bloqueadores dos receptores H1 e H2
da histamina e corticosteróides.
• Anotar características e o volume de urina. Colher aproximadamente 10 ml para exame de
rotina.
COMPLICAÇÕES LOCAIS
Síndrome Compartimental: é rara, caracteriza casos graves, sendo de difícil manejo.
Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso consequente ao grande edema que se
desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades. As manifestações
mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento
distal, cianose e déficit motor.
Abscesso: A ocorrência varia de 10 a 20%. A ação proteolítica do veneno botrópico
favorece o aparecimento de infecções locais. Os germes patogênicos podem provir da boca
do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento. As
bactérias isoladas desses abscessos são bacilos Gram-negativos, anaeróbios e, mais
raramente, cocos Gram-positivos.
Necrose: É atribuída principalmente à ação proteolítica do veneno, associada à isquemia
local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial,
síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas
em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena.
COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS
Choque: É raro e aparece nos casos graves. Sua patogênese é multifatorial, podendo
decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e
de perdas por hemorragias.
Insuficiência Renal Aguda: É também de patogênese multifatorial. Ocorre em função da
ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de
microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
11
de reter o veneno no local da picada, é contra-indicado. É também contra-indicado utilizar
instrumentos cortantes com a finalidade de fazer cortes ao redor da picada, pois os venenos
que possuem frações proteolíticas irão atuar nesses locais, piorando muito a necrose28
. A
vítima de ofidismo deve ser colocada em repouso com o segmento picado elevado e
estendido. Recomenda-se empregar analgésicos e manter hidratação com diurese entre 30 a 40
ml/h no adulto, e 1 a 2 ml/Kg/hora na criança. O uso de antibióticos deverá ser indicado
quando houver evidência de infecção5
. Visando o tratamento das complicações locais destaca-
se que firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser
retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam. Se necessário,
indicar transfusão de sangue, plasma fresco congelado ou crioprecipitado5
.
SOROTERAPIA
O soro antiofídico a ser aplicado deve ser específico para o gênero ao qual a serpente
pertence. Deve ser administrado o mais precocemente possível, em dose única, com o
objetivo de neutralizar a peçonha antes que ela possa ter causado dano. A vacina e o soro
antitetânico estão indicados, seguindo ao protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde
para profilaxia do tétano acidental28
. O tratamento eficaz desses envenenamentos é feito pela
aplicação intravenosa (IV) de soro antiveneno (SAV), específico para cada gênero de
serpente: Soro antibotrópico (SAB): 1 ml neutraliza 5,0 mg de veneno das “jararacas”[...]27
.
O quadro 5 demonstra a soroterapia recomendada conforme a gravidade do acidente
botrópico.
QUADRO 5: CLASSIFICAÇÃO QUANTO À GRAVIDADE E SOROTERAPIA
RECOMENDADA5
CLASSIFICAÇÃOMANIFESTAÇÕES E
TRATAMENTO
LEVE MODERADA GRAVE
LOCAIS
. Dor
. Edema
. Equimose
Ausentes ou
discretas
Evidente Intensas**
SISTÊMICAS
. Hemorragia grave
. Choque
. Anúria
Ausentes Ausentes Presentes
Tempo de Coagulação (TC)* Normal ou alterado Normal ou alterado Normal ou
alterado
SOROTERAPIA (número de
ampolas)
2-4 4-8 12
* TC normal: até 10 min; TC prolongado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: > 30 min.
** Manifestações locais intensas podem ser o único critério para classificação de gravidade.
O número de ampolas utilizado na soroterapia depende do tipo e da gravidade do acidente. A
via de administração é a endovenosa, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de
manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno. Na vigência de reações
imediatas, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente reinstituída após o tratamento
da anafilaxia1
. O teste de sensibilidade, intradérmico foi excluído da rotina de tratamento
desses acidentes pelos soros heterólogos, anti peçonhentos, por apresentar baixa sensibilidade
e baixos valores preditivos quanto ao aparecimento de reações de hipersensibilidade
12
imediatas. Além disso, a execução de testes retarda o início da neutralização da toxina
circulante27
.
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO OFIDISMO
Os acidentes por animais peçonhentos formam um grupo de agravo usualmente pouco
conhecido do profissional de saúde, mas que, invariavelmente, se defronta com um paciente
picado1
. É enfatizado que a padronização atualizada de condutas de diagnóstico e tratamento
dos acidentados é imprescindível, pois as equipes de saúde, com frequência considerável, não
recebem informações desta natureza durante os cursos de graduação ou no decorrer da
atividade profissional5
.
Esta ótica encontra afinidade com a educação permanente, pois é defininda como um processo
educativo que ocorre no espaço do pensar e do fazer no trabalho e que tem como desafio
estimular o desenvolvimento dos profissionais sobre um contexto de responsabilidades e
necessidades de atualização, considerando para isso o serviço, o trabalho, o cuidado, a
educação e a qualidade da assistência32
. No entanto, para que a enfermagem atue de modo
eficiente, é preciso que sua metodologia de trabalho esteja fundamentada no método
científico, o que é garantido pela aplicação do processo de enfermagem33
.
O processo de enfermagem oferece aos enfermeiros uma forma lógica, sistemática e racional
de organizar informações, de modo que o cuidado de enfermagem seja apropriado e efetivo. É
tanto científico como humano, pois as pessoas desenvolvem suas ações de forma sensível e
cuidadosa34
. O Enfermeiro que, ao assumir a realização da Metodologia da Assistência, o faz
de forma ética e com competência técnica, desenvolvendo uma ação sistematizada e
finalística, estará indo ao encontro da lei n. 7.498, que dispõe sobre o exercício da
Enfermagem, em seu artigo 8º “...Ao Enfermeiro incumbe, como integrante de equipe de
saúde, a participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de
saúde[...]”35
.
No planejamento da assistência de enfermagem em ofidismo consideram-se os problemas
identificados e a fisiopatologia, além de redobrar atenção as possíveis reações que podem ser
desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia antiveneno. Deve-se salientar a
importância do papel do enfermeiro nesse atendimento, provendo materiais e medicamentos
necessários, tomando a iniciativa de interromper e substituir a infusão da soroterapia9
. Cabe a
enfermagem prover acesso venoso, sua permeabilidade, controlar a infusão, colher amostras
de sangue para efetuar o tempo de coagulação, controlar as funções vitais, antes, durante e
após o tratamento e devido às alterações fisiopatológicas atentar para o monitoramento da
função renal9
.
Os acidentes ofídicos caracterizam-se como situação de emergência, onde o indivíduo
acometido corre risco de vida36
. Deve-se valorizar o exame físico como o instrumento
utilizado para detecção das condições do acidentado durante o primeiro atendimento, além da
permanência do enfermeiro ao lado da vítima, no sentido de detectar possíveis
intercorrências9
. No exame inicial do paciente picado, deverão ser avaliados alguns
parâmetros clínicos, no sentido de determinar a gravidade do acidente, tais como sinais vitais,
locais de sangramento (hemorragias nos locais da picada, gengivorragia, epistaxe, hematúria,
etc.), estado de hidratação, coloração e volumes urinários para monitorar a função renal,
intensidade e extensão do edema e presença de complicações como bolha, necrose, abscesso e
síndrome compartimental21
.
Em resumo o profissional enfermeiro deve possuir preparo técnico científico para
proporcionar um atendimento imediato adequado às vítimas de ofidismo, prescrevendo o
13
cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e de acordo com as
necessidades das vítimas, estando atento aos sinais e sintomas de agravamento clínico9
.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A população em estudo no município de Alegre, acometida pela picada de serpente no
período de 2001 a 2008, constitui-se em número de 159 casos, conforme evidencia o gráfico
2, sendo 97,5% (155 casos) representados pelos acidentes ofídicos por Bothrops, tendo ainda
2,5% (4 casos) configurados como ignorado o tipo de serpente envolvida.
GRÁFICO 2 – Distribuição do ofidismo em Alegre-ES segundo a serpente envolvida, de
2001 a 2008
Abrindo uma comparação com os casos notificados no Estado do Espírito Santo utilizando os
dados disponíveis no SINAN de 2001 a 2008 encontramos 11.504 casos de ofidísmo no
Espírito Santo, sendo 64,5% (7.424 casos) de acidentes botrópicos. Nota-se que a quase
totalidade dos acidentes ofídicos verificados em Alegre são do gênero Botrópico, o qual é
predominante nesta região do estado do Espírito Santo. Os números confirmam o que a
literatura consultada já enfatiza quanto ao gênero Bothrops como o grupo mais comum da
região Sudeste e corresponde ao acidente ofídico de maior importância epidemiológica no
país, pois é responsável por cerca de 90% dos envenenamentos5
. O quadro 6 mostra a
jararaca, espécie que determina a maior parte dos acidentes, fato que se harmoniza com a
abundância em que é encontrada e com a sua distribuição geográfica na região Sudeste,
especialmente no Estado do Espírito Santo5
.
QUADRO 6: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO GÊNERO BOTHROPS5
Evidenciou o estudo que o atendimento de ofidismo em Alegre tem em sua maioria a serpente
identificada, o que se configura em elemento importante na medida em que possibilita a
dispensa imediata da maioria dos pacientes picados por serpentes não peçonhentas, viabiliza o
reconhecimento das espécies de importância médica em âmbito regional além de ser medida
auxiliar na indicação mais precisa do antiveneno a ser administrado5
. Caracterizamos como
baixo o percentual, no estudo em Alegre, 2,5% (n= 4) de ofidismo em que a serpente não foi
identificada uma vez que foram diagnosticados como acidente por serpente não identificada
18,9% dos acidentes ofídicos notificados em 2003 no país, entretanto considerou-se
injustificável a elevada proporção em face da existência de marcadas diferenças na
apresentação clínica dos envenenamentos ofídicos1
.
14
Em relação à sazonalidade, observou-se no estudo que o ofidismo ocorreu em todas as épocas
do ano, entretanto o gráfico 3 evidencia que maio foi o mês de maior incidência de acidentes
ofídicos, quando foram notificados 13,8% dos casos (n= 22). Os meses de março e outubro
apresentaram picos secundários com 12,6% (n=20) e 11,9% (n=19) dos casos,
respectivamente, em decorrência, provavelmente, de maior atividade do homem no campo
devido a limpeza de pastos e áreas para cultivo pois são situações que oferecem maior
possibilidade de contato das pessoas com a serpente, uma vez que o acidente ocorre sempre
que o homem quebra a distância de fuga do animal, ou seja, a distância em que ela se sente
segura de qualquer agressão25
.
GRÁFICO 3 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos em Alegre-ES de 2001 a
2008
Quanto a distribuição mensal dos acidentes ofídicos no estado do espírito santo de 2001 a
2008 o gráfico 4 mostra predominância dos casos no mês de abril e em segundo e terceiro
plano nos meses de maio e dezembro. Os dados do estudo em Alegre apresentam-se
semelhantes aos do Estado, a pequena diferença observada, deve-se, provavelmente, ao
aparecimento mais tardio das chuvas em alguns dos anos estudados. Apesar de a
sazonalidade ser dependente das condições ambientais e da atividade do homem reconhece-se
que os casos de ofidismo ocorrem com maior frequência no início e no final do ano4
,
enquanto destaca-se que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, observa-se incremento do
número de acidentes no período de setembro a março5
.
GRÁFICO 4 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos no Espírito Santo de
2001 a 2008
O reconhecimento dos períodos do ano de maior risco tem importância para preparar os
serviços e os profissionais de saúde para o aumento na demanda de casos, para estabelecer
estratégias de distribuição e controle dos estoques de soros específicos nos locais de
atendimento, bem como fortalecer as ações de prevenção por meio de atividades de educação
em saúde1
.
Os acidentes ofídicos nas vítimas estudadas no período de 2001 a 2008 em Alegre ocorrem
majoritariamente no sexo masculino com 88% (n=140) enquanto 12% representam as 19
pessoas do sexo feminino acometidas pelo ofidismo, conforme evidencia o gráfico 5. A maior
ocorrência em indivíduos do sexo masculino tem sido referida em todas as casuísticas
15
37%
36%
9%
6%
3%
1%
1%3%
3%
1%
< 1 Ano
1 à 4
5 à 9
10 à 14
15 à 19
20 à 39
40 à 59
60 à 64
65 à 69
70 à 79
nacionais e provavelmente deve-se à maior frequência com que os homens realizam
atividades no campo24
.
GRÁFICO 5 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo o
sexo dos acometidos
88%
12%
Masculino = 140
Feminino = 19
A faixa etária mais acometida pelo ofidismo em Alegre de 2001 a 2008 compreende as idades
de 20 a 59 anos, representando 73,3% dos casos, conforme os dados do SINAN38
são
ilustrados no gráfico 6, provavelmente pela grande inserção nos trabalhos laborais,
contribuindo assim, para o aumento da renda familiar37
.
GRÁFICO 6 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo a
faixa etária das vítimas
Quanto a escolaridade dos acometidos pelo ofidismo no período da pesquisa o gráfico 7
demonstra que 33,3% tem de 4 a 7 anos de estudo, 20,1% não tem escolaridade, porém, em
24,5% das fichas de notificações essa informação foi totalmente ignorada. Esta variável
encontra na literatura a afirmação de que a maioria das análises epidemiológicas realizadas no
país nos últimos 100 anos baseou-se nas mesmas variáveis já apontadas por Vital Brazil.
Assim, com vistas a evoluir nessas análises, foi realizado um estudo exploratório para
verificar as possíveis relações entre variáveis ambientais e socioeconômicas com a incidência
desses acidentes e obtiveram como um dos fatores de risco a carência de alfabetização
ocupando a sexta posição em ordem de importância das variáveis4
.
16
GRÁFICO 7 – Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008,
segundo os anos de estudos das vítimas
24,52%
1,26% 8,81%
33,33%
11,95%
20,13%
NENHUM
1 A 3
4 A 7
8 A 11
NÃO SE APLICA
Campo não
preenchido
Quanto aos acidentados por serpente bothrops, no estudo em Alegre-ES de 2001 a 2008,
totalizaram 155 casos e a distribuição segundo o tempo, em horas, de início do atendimento a
vítima esta descrita na tabela 1.
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES BOTRÓPICOS EM ALEGRE-ES
DE 2001 A 2008, SEGUNDO O TEMPO DE INÍCIO DO ATENDIMENTO
ANO 0-1H 1-3H 3-6H 6-12H 12 E MAIS
HORAS
IGNBRANCO
2001 05 06 02 0 0 0
2002 03 08 0 0 02 0
2003 16 04 0 02 01 01
2004 13 05 02 0 02 0
2005 10 09 0 0 0 0
2006 07 17 04 01 0 01
2007 06 07 02 0 0 01
2008 06 10 0 0 01 01
TOTAL
%
66
42,58%
66
42,58%
10
6,45%
03
1,94%
06
3,87%
04
2,58%
Analisando a tabela 1 verificamos que dos 155 acidentes produzidos pelo gênero Bothrops
ocorridos em Alegre-ES de 2001 a 2008, 42,58% (n=66) foram atendidos com tempo inferior
a 1 hora após a picada; de igual forma 42,58% (n=66) entre 1 a 3 horas. O atendimento levou
mais de 03 horas para acontecer variando até mais de 12 horas em aproximadamente 12,3%.
Porém, 2,58% das fichas de notificações não apresentaram as informações quanto a este dado,
conforme se melhor visualiza no gráfico 8.
17
GRÁFICO 8 - Distribuição dos acidentes botrópicos em Alegre-ES de 2001 a 2008 de
acordo com o tempo de início do atendimento da vítima
Analisando os casos ocorridos no Brasil de 1990 a 1993 demonstra-se a importância da
precocidade do atendimento dos acidentes ofídicos revelando que dos 359 óbitos notificados,
em 314 foi informado o tempo decorrido entre a picada e o atendimento5
. Destes, em 124
(39,49%), o atendimento foi realizado nas primeiras seis horas após a picada, enquanto que
em 190 (60,51%) depois de seis horas da ocorrência do acidente. O tempo entre a picada e o
atendimento médico tem grande importância para o prognóstico do acidente, fato reafirmado
em um estudo na Bahia onde 19% dos pacientes chegaram ao atendimento médico com mais
de 13 horas indicando a desinformação e a precariedade do sistema de saúde3
.
Ficou evidenciado no estudo que a classificação dos acidentes ofídicos por Bothrops quanto à
gravidade dos casos foi considerada leve em 65,8% (N=102), moderada em 27,7% (N=43) e
grave em 5,2% (N=8). O maior índice confere aos acidentes cuja classificação foi leve, 65,8%
(102 casos) e o menor índice 1,3% (N=2) é ignorada a classificação e é o que está
representado no gráfico 9. Em se tratando desta questão encontrou-se a predominância de
47,8% de acidentes moderados em um estudo realizado na Bahia em 2001 e atribuíu-se a
possível equívoco no enquadramento do estadiamento do paciente, tais como considerar a
alteração no tempo de coagulação como indicativo de gravidade, o que é um procedimento
incorreto3
.
GRÁFICO 9 – Distribuição do ofidismo por Bothrops em Alegre-ES de 2001 a 2008
segundo a gravidade
Quanto à evolução dos pacientes de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 o gráfico 10
ilustra que nenhum dos casos notificados evoluiu para óbito, 95% (n=151) evoluíram para a
cura, entretanto 5% (n=8) dos casos não apresentaram notificação relacionada a este dado.
Este dado encontra base no dado de que o óbito é fator ausente nos acidentes ocorridos nas
localidades com melhor infra-estrutura de saúde e estradas vicinais. Isso permite brevidade no
atendimento médico, evitando-se, dessa maneira, o óbito e/ou a remoção do acidentado para
atendimento em localidades mais distantes, o que demandaria mais tempo, piorando
consequentemente as condições de saúde do acidentado25
. O gráfico 11 destaca os dados
referentes a evolução clínica do ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008.
Lev e=102 (65,8% )
Moderado=43
(27,7%)
Grave=8 (5,2%)
Ignorado=2
(1,3%)
0
50
100
150
Leve= 102
Moderado=43
Grave=8
Ignorado=2
18
GRÁFICO 10 - Evolução clínica dos acidentes ofídicos em Alegre-ES de 2001 a 2008.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo evidencia que é possível e desejável conhecer a epidemiologia regional dos
envenenamentos ofídicos, a fim de possibilitar uma avaliação correta dos dados para
formularmos estratégias de prevenção e assistência adequada neste tipo de agravo e de suas
complicações. Espera-se que este estudo contribua para uma redefinição no campo da
assistência em ofidismo, especialmente, no campo da Enfermagem, orientando a
implementação dos cuidados baseado nas evidências clínicas, bem como na complexa
fisiopatologia e riscos de agravamentos.
Os resultados do estudo em Alegre - ES no período de 2001 a 2008 sugerem que o perfil
epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece atenção do
sistema de saúde pública em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159
acidentes ofídicos provocados em 97,5% pelo gênero Bothrops, com predomínio nos meses
de maio, março e outubro. São achados que, associados a informação da literatura, permitem
afirmar que além da importância médica e epidemiológica, algumas questões sociais e
econômicas envolvem os acidentes ofídicos, já que atinge indivíduos jovens e do sexo
masculino, que representam a população economicamente ativa, sendo 88,0% da amostra
constituída de homens e a faixa etária mais acometida de 20 a 59 anos atingiu o percentual de
73,0%, tendo ainda 33,3% dos acometidos 4 a 7 anos de estudo enquanto 20,1% não tem
qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas nacionais embora fossem
considerados casos leves em 65,8% da amostra, 95,0% evoluíram para cura e dos 155 casos
de acidente botrópico encontrados, aproximadamente 85,2% tiveram o primeiro atendimento
em até 3 horas.
As questões apontadas e os resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática
clínica baseada em evidências científicas, além de identificar o papel do enfermeiro frente ao
cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento fundamental no direcionamento de
toda a assistência livre de riscos e sequelas. Desta forma, concluí-se também ser definitivo
para uma boa recuperação da vítima de ofidismo que o Enfermeiro possua preparo técnico
científico para proporcionar um atendimento imediato adequado, redobrar a atenção as
possíveis reações que podem ser desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia
antiveneno, prescrever o cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e
sistematizada e, assim obter maior êxito no atendimento, juntamente com as medidas
terapêuticas necessárias.
A análise apresentada traz uma série de elementos que deverão constituir a base para a tomada
de decisão nos diferentes níveis de atuação da assistência em ofidismo, bem como para
estudos posteriores.
Total= 159
(100%)
Cura= 151
(95%)
Óbito= 0 (0%)
Ign./Branco= 8
(5%)
0
50
100
150
200
Total de casos=159
Cura= 151
Óbito= 0
Ignorado / Branco=8
19
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Abordagem clínica e epidemiológica do ofidismo

  • 1. 1 Abordagem clínica e epidemiológica do ofidismo no município de Alegre (ES) Lauro Freitas da Silva1 , Silvio Antonio Fragoso Filho1 , Teresa Cristina Ferreira da Silva2 1 Autor, acadêmico do 8º Período do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre – FAFIA-ES. 2 Professora orientadora. Enfermeira Especialista em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ. Professora do Curso de Bacharelado em Enfermagem da FAFIA- ES. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Alegre – ES. RESUMO - O ofidismo constitui o envenenamento provocado pela ação de toxinas de serpentes que pode levar a alterações locais e sistêmicas. Considera-se problema importante de saúde pública devido a incidência, gravidade e sequela provocada na vítima. Diante da gravidade dos problemas gerados por esses acidentes e, da necessidade de uma assistência de enfermagem imediata, sistematizada, proporcionando uma rápida recuperação dos acometidos o estudo buscou de forma descritiva, com coleta de dados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, conhecer a magnitude do ofidismo no município de Alegre - ES, no período de 2001 a 2008, correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos à implementação da assistência de enfermagem. Os resultados sugerem que o perfil epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece atenção do sistema de saúde em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159 acidentes ofídicos provocados em 97,5% por Bothrops, com predomínio em maio. Além da importância médica e epidemiológica, envolve questões sociais e econômicas, pois atinge indivíduos jovens e do sexo masculino, que representam a população economicamente ativa, sendo 88% da amostra constituída de homens, 73,3% na faixa etária de 20 a 59 anos e 20,1% não tem qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas nacionais. Foram considerados casos leves 65,8% da amostra, 95% evoluíram para cura e dos 155 acidentes botrópicos encontrados 85,2% tiveram o primeiro atendimento em até 3 horas. As questões apontadas e os resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática clínica baseada em evidências científicas, além de identificar o papel do enfermeiro frente ao cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento fundamental no direcionamento de toda a assistência livre de riscos e sequelas. Palavras-chave: Ofidismo. Acidente. Enfermeiro. ABSTRACT - The ophidism constitutes the poisoning provoked for the toxin action of serpents that can take the local and systematic alterations. Considers an important problem of public health had the provoked incidence, gravity and sequels in the victims. Ahead of the gravity of the problems generated for these accidents and, of the necessity of an assistance of immediate, systemize nursing, providing a fast recovery of assailing the study it searched of descriptive form, with collection of data in the System of Information of Offence and Notification (SINAN) to know the magnitude of the ophidism in the city of Alegre/ES, in the period of 2001 the 2008, correlating the aspects epidemiologists and physicians to the implementation of the nursing assistance. The results suggest that the profile presented epidemiologist and physician configures in fact an event that deserves attention of the system of public health in face of the occurrence in every month of the year, totalizing 159 provoked ophidious accidents in 97,5% for Bothrops, with predominance in May. Beyond the medical importance and epidemiologist, it involves social and economic questions, therefore it reaches young individuals e of the masculine sex, that represent the active population economically, being 88% of the consisting sample of man, 73.3% between 20 the 59 years and 20.1% was illiterate people. Similarity with the national casuistcs was verified. Light cases had been considered 65.8% of the sample, 95% had evolved for cure and of the 155 bothropic accidents found 85.2% they had had the first attendance in up to 3 hours. The pointed questions and the results of the study signal how much to the utility for the practical clinic based on scientific evidences, beyond identifying to the paper of the nurse front to the care with the victim of ophidious accident as element basic in the aiming of all the free assistance of risks and sequels. Key Words: Ophidism. Accident. Nurse. INTRODUÇÃO O ofidismo caracteriza o estado de envenenamento provocado pela ação de toxinas, através de aparelho inoculador de serpentes, podendo determinar alterações sistêmicas e na região da picada1 . Os acidentes denominados ofídicos constituem, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o de maior importância médica em virtude de sua grande frequência e gravidade2 . Assim,
  • 2. 2 podemos destacar os acidentes ofídicos como um importante problema de saúde pública, especialmente em regiões tropicais do mundo3 . A média anual no país desde os trabalhos de Vital Brazil, é de cerca de vinte mil acidentes ofídicos por ano, com um perfil que se mantém inalterado nos últimos cem anos. Na maioria dos acidentes identificados, 90,5%, a serpente envolvida é Bothrops representada pela jararaca, jararacuçu e caiçara4 . A sazonalidade é característica marcante, em geral, relacionada a fatores climáticos e aumento da atividade humana nos trabalhos no campo que determina um predomínio de incidência nos meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária de 15 a 49 anos25,16 . Podemos compreender o ofidismo como um desafio dado as implicações para o sistema circulatório e a coagulação. As complicações sistêmicas como choque e insuficiência renal aguda podem ocorrer, assim como as complicações locais podem acompanhar a evolução das lesões, sendo a gangrena a mais temida complicação para a extremidade, a qual habitualmente resulta de acidentes graves7 . Como consequência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1 . É necessário, pois, analisar que o diagnóstico do tipo de serpente causador do acidente é feito, na maioria dos casos, com base nas manifestações clínicas que o paciente apresenta no momento do atendimento, uma vez que nem sempre é possível a identificação do animal8 . A soroterapia deve ser realizada o mais rapidamente possível e o número de ampolas depende do tipo e da gravidade do acidente, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno1 . No atendimento a vítima de acidente ofídico é preciso minimizar os riscos de complicações, sendo imperativa a realização de ações sistematizadas que vão desde o atendimento emergencial até a assistência hospitalar9 . A partir desta colocação, surge à necessidade de conhecer o perfil do ofidismo, e qual o tipo de cuidado o acidentado necessita, possibilitando uma melhor adequação da assistência de enfermagem. O estudo foi realizado na forma descritiva com coleta de informações na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) nos meses de setembro de 2008 a fevereiro de 2009. Sendo assim, estabelecemos como objetivo geral do estudo conhecer a magnitude do ofidismo no município de Alegre- ES, no período de 2001 a 2008, correlacionando os aspectos epidemiológicos e clínicos do agravo à implementação da assistência de enfermagem. A partir deste direcionamento central da pesquisa buscamos através dos objetivos específicos delinear no estudo o número de acidentes ofídicos no município de Alegre de 2001 a 2008, segundo sexo, idade, escolaridade, tipo de serpente agressora, tempo de início do atendimento, evolução do caso, mês de ocorrência e identificar o papel do enfermeiro frente ao cuidado com a vítima de acidente ofídico. Desta forma, reafirmamos o compromisso do enfermeiro de atuar na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. METODOLOGIA Trata-se de pesquisa descritiva de natureza quantitativa com coleta de dados secundários no SINAN, realizada no período de setembro de 2008 a fevereiro de 2009. As pesquisas
  • 3. 3 descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno10 . Para tanto é necessário o estabelecimento de relações entre variáveis obtidas através da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados11 . No Brasil, existem importantes bancos de dados secundários com abrangência nacional. Dados secundários como os do SINAN podem ser usados em um estudo descritivo para monitorar a qualidade da assistência prestada aos indivíduos12 . Como parte da investigação o estudo partiu de uma fundamentação teórica prévia utilizando a pesquisa bibliográfica que busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado sobre determinado assunto, tema ou problema13 . O local para o estudo foi o município de Alegre localizado ao sul do estado de Espírito Santo, situado a 196 km da capital. Apresenta características climáticas que variam de quente e chuvoso no verão e seco no inverno e conta com uma população residente de 31.714 habitantes14 . Embora os dados do SINAN sejam de domínio público, divulgados em página do Ministério da Saúde na guia do sinanweb/tabnet, o levantamento de dados foi realizado somente após assinatura do termo de consentimento pelo gestor municipal evidenciando que a pesquisa conta com o benefício de adquirir fundamentação para investir em mecanismos de redução das complicações e no aperfeiçoamento da assistência de enfermagem adequada às necessidades específicas da clientela afetada pelo ofidismo. Os dados foram apurados no SINAN, disponível na rede internacional de computadores e na Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Alegre nas fichas de notificação de acidentes por animais peçonhentos do SINAN, de tal maneira que nenhum dos resultados referiu um indivíduo nominal, tampouco implicou quaisquer prejuízos para as pessoas ou instituições envolvidas. No estudo foram utilizadas as variáveis disponíveis na base de dados. Utilizando-se aplicativo eletrônico as variáveis analisadas foram dispostas, para melhor visualização, em tabelas e ou gráficos demonstrando a magnitude do ofidismo em Alegre de 2001 a 2008 quanto ao número de acidentes; segundo sexo, idade e escolaridade da vítima, além do tipo de serpente agressora, mês de ocorrência, tempo de início do atendimento e evolução do caso. CONCEITOS EM OFIDISMO Descreve-se como acidente um acontecimento fortuito que surge quer no estado hígido, quer no decurso de uma doença, causando lesões orgânicas ou agravando outras já existentes. Acidente peçonhento é o estado mórbido ou o agravo clínico determinado pela inoculação de peçonha num organismo por um animal15 . Os acidentes causados pelas mordidas de cobra são denominados ofídicos2 . Considera-se o acidente ofídico ou ofidismo como o acidente causado por serpente peçonhenta ou não-peçonhenta16 . É comum identificar-se o acidente ofídico como lesões provocadas por picada de cobra venenosa, podendo ocasionar graves lesões de pele e lesões renais15 o conceito de ofidismo seguido no presente estudo é o sugerido como a intoxicação por veneno de serpente17 . De fato o ofidismo constitui um dos acidentes por animais peçonhentos. E como envenenamento provocado pela ação de toxinas, através de aparelho inoculador de serpentes pode levar a alterações locais e sistêmicas1 . MAGNITUDE DO OFIDISMO Os acidentes por animais peçonhentos constituem um sério problema de saúde pública, tanto pelo número de casos registrados, quanto pela gravidade apresentada, quando não são convenientemente tratados, podendo conduzir à morte ou a seqüelas capazes de gerar
  • 4. 4 incapacidade temporária ou definitiva para o trabalho e para as atividades habituais de lazer18,19 . A magnitude do ofidismo transcende a importância médica e epidemiológica, pois o problema atinge algumas questões sociais e econômicas, uma vez que acomete indivíduos jovens e do sexo masculino, que representam a população economicamente ativa do país20 . Desde a década de 70, quando começaram a ser implantados os centros de controle de intoxicação ou centro de informação toxicológica, tem sido observados que os acidentes por animais peçonhentos representam a segunda causa de atendimento, somente superados pelas intoxicações medicamentosas, sendo que os acidentes com ofídicos botrópicos representam 90% das notificações21 . “[...] os acidentes ofídicos são mais comuns do que aparentam e ocorrem amplamente em muitas regiões do globo terrestre”7 . Embora relativamente negligenciados, acidentes humanos provocados por picadas de serpentes são um sério problema médico-hospitalar e social uma vez que a maior parte das regiões onde há esse tipo de acidente corresponde às nações subdesenvolvidas e os acidentes ocorrem em sua maioria, em áreas rurais remotas onde os dados epidemiológicos são geralmente escassos e subestimam a verdadeira situação22 . A Organização Mundial de Saúde calcula que ocorram no mundo 1.250.000 a 1.665.000 acidentes por serpentes peçonhentas por ano, com 30.000 a 40.000 mortes20 . A letalidade geral no país de 0,4% é considerada baixa por Brasil (2005), entretanto ocorrem por ano, entre 19.000 a 20.000 acidentes ofídicos com aproximadamente 115 óbitos no Brasil23 . CONTEXTO DEMOGRÁFICO E EPIDEMIOLÓGICO NO BRASIL É importante considerar que o primeiro estudo epidemiológico de acidentes ofídicos foi realizado por Vital Brazil em 1901, quando levantou o número de óbitos por picadas de serpentes peçonhentas no estado de São Paulo, registrando 63, 88 e 104 óbitos em 1897, 1899 e 1900, respectivamente4 . Vital Brazil é tão atual que, em 1909, baseado apenas nos óbitos registrados pelo estado de São Paulo e em uma letalidade de 25%, estimou em 19.200 o número de acidentes ofídicos para todo o Brasil, número este muito próximo dos cerca de 20.000 acidentes ofídicos notificados anualmente no país4 . O número de notificações de ofidismo vem aumentando ano a ano e revela o registro de 25.478 acidentes em 2003, correspondendo à incidência de 15 casos por 100 mil habitantes. E ocorre significativa variação por região, o que demonstra a tabela 1, evidenciando o coeficiente de incidência nas diferentes regiões do país destacando os coeficientes mais elevados nas regiões norte e centro-oeste, enquanto a região sudeste registra o menor coeficiente, 9,51 . O ofidismo constitui, dentre os acidentes por animais peçonhentos, o de maior interesse médico, pela frequência e gravidade e ocorre em todo o país, porém a distribuição por gênero de serpente peçonhenta indica predomínio do acidente botrópico. Os acidentes por serpentes não-peçonhentas são relativamente freqüentes, porém não determinam acidentes graves e, por isso, são considerados de menor importância médica1 . A sazonalidade do ofidismo demonstra uma relação com os fatores climáticos e a maior frequência com que os homens realizam atividades no campo, o que determina um incremento de incidência nos meses quentes e chuvosos, em indivíduos do sexo masculino e faixa etária de 15 a 49 anos24 . A distribuição mensal em 2003 dos acidentes ofídicos, por macrorregião do país revela que na maioria dos estados corresponde ao período de janeiro a abril1 . Generalizando a discussão a epidemiologia dos acidentes ofídicos aponta para um perfil que se mantém inalterado ao longo dos últimos 100 anos no Brasil4 .
  • 5. 5 CARACTERÍSTICAS E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS GÊNEROS DE SERPENTES NO BRASIL Das 2.500 espécies de serpentes conhecidas em todo o mundo, 250 são encontradas no Brasil, destas, 70 são consideradas peçonhentas e pertencem as famílias Viperidae e Elapidae. A família Viperidae é responsável pela maioria dos casos de ofidismo registrados no Brasil. Os gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis representam os viperídeos brasileiros21 . As serpentes do gênero Bothrops são representadas pela conhecida jararaca, Crotalus pela cascavel, Lachesis pela surucucu25 . A presença de fosseta loreal, órgão termorregulador localizado entre o olho e a narina indica com segurança que a serpente é peçonhenta e é encontrada nos gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis. Como exceção de serpente peçonhenta, o gênero Micrurus das corais verdadeiras, representante da família Elapidae, não possui fosseta loreal. Todas as serpentes peçonhentas são providas de dentes inoculadores bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior do maxilar1,5. As cobras venenosas também podem ser identificadas através do tipo de cauda, tendo a Bothrops cauda lisa, a Crotalus cauda com chocalho e a Lachesis cauda com escamas eriçadas5 . As serpentes venenosas são mais freqüentes nos campos, em terrenos cultivados e nos cerrados do que nas matas. Concentram-se mais nas plantações abandonadas ou pouco freqüentadas e nos pastos. Tem hábitos noturnos, durante o dia ficam em esconderijos como em buracos de tatu, ocos de árvores, covas de raízes, montes de lenha e casa de cupim. Em geral não se movimentam muito nem se locomovem rapidamente, atacam quando alguém delas se aproxima ou quando são tocadas ou pisadas26 . GÊNERO BOTHROPS O gênero Bothrops representa o grupo mais importante de serpentes peçonhentas, com mais de 60 espécies encontradas em todo o território brasileiro1 . Esse gênero é o causador do acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país5 . São conhecidas popularmente por: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo, patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações. Estas serpentes habitam principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos5 . A Bothrops jararaca é das mais agressivas, reage prontamente, não faz barulho e é a que eventualmente mais sobe nas árvores26 . As principais espécies do gênero Bothrops são a atrox, mais encontrada na Amazônia; erythromelas abundante na região nordeste; jararaca tem grande capacidade adaptativa, ocupa e coloniza tanto áreas silvestres como agrícolas e periurbanas, sendo a espécie mais comum da região sudeste; jararacussu é a espécie que pode alcançar o maior comprimento, até 1,8 metros, e que produz a maior quantidade de veneno dentre as serpentes do gênero, predominante nas regiões sul e sudeste; moojeni principal espécie dos cerrados e a alternatus vive na região centro-oeste a sul1 . GÊNERO CROTALUS As serpentes do gênero Crotalus são representadas no Brasil por uma única espécie a Crotalus durissus, com ampla distribuição geográfica, desde os cerrados do Brasil central, regiões áridas e semi-áridas do nordeste, até os campos e áreas abertas do sul, sudeste e
  • 6. 6 norte1 . Popularmente são conhecidas por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga, maracambóia, maracá e outras denominações populares5 . GÊNERO LACHESIS O gênero Lachesis compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies. São popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. Habitam áreas florestais como amazônia, mata atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do nordeste5 . GÊNERO MICRURUS O gênero Micrurus é o representante da família Elapidae no Brasil, onde se incluem as najas asiáticas e africanas. Com cerca de 22 espécies, apresenta ampla distribuição geográfica no país. São conhecidas popularmente por coral, coral verdadeira ou boicorá, são de pequeno e médio porte com tamanho em torno de 1,0 m. O reduzido tamanho da abertura bucal e das presas inoculadoras de veneno e a baixa agressividade justificam o pequeno número de acidentes registrados por este gênero1,5 . As Micrurus apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. Em todo o país, existem serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes inoculadores. Diferem ainda na configuração dos anéis que, em alguns casos, não envolvem toda a circunferência do corpo. São denominadas falsas-corais5 . GÊNERO PHILODRYAS As espécies do gênero Philodryas, pertencentes à família Colubridae, compreendem as espécies olfersii, viridissimus, patogoniensis, além da Clelia plúmbea, as quais são de interesse médico, pois há relatos de quadro clínico de envenenamento. São conhecidas popularmente por cobra-cipó ou cobra-verde e muçurana ou cobra-preta. Possuem dentes inoculadores na porção posterior da boca e não apresentam fosseta loreal. Para injetar o veneno, mordem e se prendem ao local5 . OFIDISMO SEGUNDO O GÊNERO DE SERPENTE Dos quatro gêneros de serpentes peçonhentas há predomínio do acidente botrópico, que corresponde a 87,5% dos casos ofídicos notificados no país em 2003, seguidos pelo crotálico com 9,2%, laquético com 2,7% e elapídico representado por 0,6%, com pequenas variações de acordo com a região e distribuição geográfica das serpentes1 . O gráfico 1 demonstra o percentual no país dos acidentes ofídicos em 2003 distribuídos segundo o gênero da serpente causadora. GRÁFICO 1 – Distribuição dos acidentes ofídicos do país em 2003, segundo o gênero da serpente envolvido1 . Na maioria dos casos de ofidismo o diagnóstico é baseado nas manifestações apresentadas pelo paciente. O diagnóstico etiológico, quando há identificação do animal, é pouco freqüente. Na ausência de alterações clínicas deve ser considerada a possibilidade de acidente por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6 . Elapídico 0,6% Laquético 2,7% Crotálico 9,2% Botrópico 87,5%
  • 7. 7 O diagnóstico de certeza de ofidismo é dado pelo reconhecimento do animal causador do acidente, entretanto, o diagnóstico habitualmente realizado é o presumível, que se baseia na observação dos sintomas e sinais presentes no acidentado, em conseqüência das atividades tóxicas, desenvolvidas pela inoculação de determinado tipo de veneno. Desta forma o conhecimento da composição dos venenos e seus principais efeitos sobre o organismo humano permitem o reconhecimento do gênero do animal envolvido no acidente e selecionar o antídoto adequado, mesmo na ausência da serpente27 . CLASSIFICAÇÃO DO OFIDISMO PELO VENENO DA SERPENTE Direcionando-se para a patogenia do veneno das serpentes destaca-se que são secreções de glândulas especiais ligadas às presas canaliculadas inoculadoras e que se trata de misturas complexas de substâncias protéicas com propriedades enzimáticas diversas, como fosfatidásica, colinesterásica, proteolítica, hialuronidásica. As propriedades dos venenos são definidas como coagulantes, proteolíticas ou necrosantes, hemolíticas e neurotóxicas de acordo com as substâncias tóxicas que possui e as proporções existentes entre elas26 . Os venenos ofídicos podem ser classificados de acordo com suas atividades fisiopatológicas, cujos efeitos são observados em nível local e sistêmico5 . ASPECTOS CLÍNICOS DO OFIDISMO Como conseqüência da absorção do veneno na circulação sanguínea, os mecanismos de ação específicos determinam manifestações clínicas diferenciadas para cada gênero de serpente1 . A composição do veneno difere de família para família de ofídico, mas varia menos de gênero para gênero e apresenta diferenças nas proporções dos diversos componentes de acordo com as espécies26 . A constatação de lesões locais, de incoagulabilidade do sangue ou da hematúria, permite afirmar que se trata de acidente botrópico. Fácies neurotóxicas e a meta- hemoglobinúria são características de acidente crotálico. E o acidente elapídico caracteriza-se por fácies neurotóxica sem meta-hemoglobinúria e sintomas de paralisia26 . O problema diagnóstico que às vezes aparece é saber se na realidade houve picada por serpente peçonhenta e, eventualmente, ausência de inoculação de veneno26 . Na ausência de alterações clínicas, o paciente deve ser mantido em observação por 6 a 12 horas após o acidente, após o que, mantendo-se inalterado, deve ser considerada a possibilidade de acidente por serpente não-peçonhenta ou acidente por serpente peçonhenta sem envenenamento6 . Desde os trabalhos de Vital Brazil, no país a maioria dos acidentes identificados, 90,5%, a serpente envolvida é Bothrops4 . As espécies jararaca e a jararacussu são as mais encontradas na região sudeste1 . Assim, passamos a destacar no estudo o acidente por Bothrops ou seja, acidente botrópico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO OFIDISMO POR BOTHROPS Na prática, todas as serpentes do gênero Bothrops produzem sintomas semelhantes, variando de intensidade na razão direta da quantidade de veneno inoculado26 . Descreve-se como manifestações locais o edema, dor e equimose que se evidenciam, nas primeiras horas após a picada, na região atingida e progride ao longo do membro acometido1 . As equimoses e sangramentos no ponto da picada são frequentes, já o infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhados ou não de necrose5 . Sistemicamente, além de sangramentos em ferimentos cutâneos preexistentes, podem ser observadas hemorragias à distância como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria. Podem ocorrer náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial e, mais raramente, choque5 . Contudo, a associação da atividade hemorrágica à coagulante pode se traduzir por
  • 8. 8 sangramentos clinicamente evidentes ou detectáveis através de exames complementares. Dos três tipos de ações principais do veneno botrópico a atividade proteolítica é de importância fundamental para a caracterização clínica do ofidismo e é causada por frações bioquimicamente heterogêneas, com especificidades diversas, que atuam de maneira complexa e inter-relacionada27. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno5 . O gênero Bothrops possue venenos com ações coagulante, citotóxica ou proteolítica, vasculotóxica as quais resumimos no esquema do quadro 1. QUADRO 1 – AÇÕES DOS VENENOS28 A atividade proteolítica se constitui em atividade inflamatória aguda, responsável pelas alterações que ocorrem no local da picada e proximidade, sendo que a dor costuma ser imediata e de intensidade variável no local da inoculação do veneno, estendendo-se para todo o membro nas horas seguintes26 . O quadro 2 ilustra algumas manifestações locais do ofidismo por Bothrops. Na parte superior a primeira foto mostra as manifestações locais com o edema, equimose e flictena e na segunda foto a migração do edema e equimose até a raiz da coxa. A terceira foto é de pé atingido 90 minutos após a picada e abaixo a foto mostra a evolução após fasciotomia. QUADRO 2: MANIFESTAÇÕES LOCAIS DO ACIDENTE BOTRÓPICO29 O eritema e o edema local, flogístico, endurado, pode tornar-se regional e atingir a raiz do membro. Equimoses, bolhas e necrose podem aparecer em dias sucessivos, dependendo da COAGULANTE VASCULOTÓXICA CITOTÓXICA AÇÃO COAGULANTE DO AÇÃO DAS ENZIMAS TIPO TROMBINA HEMORRAGIAS PROTEOLÍTICAS DESFIBRINOGENAÇÃO LESÃO DO ENDOTÉLIO CAPILAR SISTÊMICO E LOCAL HEMORRAGIAS EDEMA NECROSE
  • 9. 9 gravidade do envenenamento isso pode obrigar à amputação. A infecção no local da picada também é frequente27 . A ação coagulante é derivada de fração do veneno do tipo trombina, capaz de ativar fatores da coagulação sanguínea27 . No ponto de inoculação o veneno provoca um coágulo que serve de barreira natural do veneno; este, então, penetra lentamente na circulação, desfibrinando o sangue pela coagulação do fibrinogênio em microcoágulos e também pela destruição direta dessa proteína. Provoca assim incoagulabilidade do sangue por fibrinopenia podendo levar a um estado de choque e a morte. Quando a dose do veneno inoculado é grande e na veia, em dose igual ou superior a 0,4 mg/Kg, há morte rápida devido à coagulação intravascular maciça26 . A atividade hemorrágica não demonstra grandes alterações por ser mais lenta a sua difusão em relação aos outros venenos hemolíticos, porém não coagulantes26 . Merece destaque a jararragina, uma hemorragina isolada de Bothrops jararaca, que causa lesão endotelial sistêmica e trombocitopenia30 , e a bothropstoxina II, uma fosfolipase isolada de Bothrops jararacussu com atividade anticoagulante31 . AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE DO OFIDISMO POR BOTHROPS A gravidade depende da quantidade de veneno inoculada. Pode haver casos de picada em que não ocorre envenenamento, conhecida popularmente por picada seca1 . A gravidade do acidente botrópico depende da intensidade e precocidade das manifestações locais e da presença de manifestações sistêmicas como sudorese, hipotensão arterial, choque, hemorragia e insuficiência renal aguda29 . Os acidentes botrópicos são classificados em leve, moderado e grave. Acidente leve é a forma mais comum do envenenamento, caracterizada por dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo de coagulação. Acidente moderado é caracterizado por dor e edema evidente que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhado ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas como gengivorragia, epistaxe e hematúria. É grave se há presença de edema local endurado intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, geralmente acompanhado de dor intensa e, eventualmente com presença de bolhas5 . COMPLICAÇÕES A maioria dos acidentes é classificado como leve e a letalidade geral é de 0,4%. O tempo decorrido entre o acidente, atendimento e tipo de envenenamento pode elevar a letalidade em até oito vezes esta taxa. Por outro lado, a frequência de sequelas, relacionada a complicações locais, é bem mais elevada, situada em 10% nos acidentes botrópicos, associada a fatores de risco como o uso de torniquete, picada em extremidades (dedos de mãos e pés) e retardo na administração da soroterapia1 . Levando em consideração que o bote das serpentes peçonhentas tem um alcance de cerca de um terço do seu comprimento e a altura habitualmente não passa de 30 cm26 pode-se explicar o fato de mais frequentemente, as picadas ocorrerem abaixo do terço superior da perna. É nesta perspectiva que a prática de qualquer medida inicial, particularmente o garroteamento, pode agravar os efeitos locais do veneno28 . Em decorrência do edema, podem aparecer sinais de isquemia local devido à compressão dos feixes vásculo-nervosos. As manifestações sistêmicas como hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragias intensas definem o caso como grave, independentemente do quadro local5 . Contudo firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam, sendo, a fasciotomia contra-indicada enquanto o sangue permanecer incoagulável. A ocorrência de abscessos por
  • 10. 10 anaeróbios gram-negativos ou cocos gram-positivos não é rara, necessitando de antibioticoterapia e drenagem cirúrgica, enquanto as áreas necrosadas necessitam de desbridamento e deve ser considerada a necessidade de cirurgia reparadora nas perdas extensas de tecidos29 . O quadro 3 resume as principais complicações locais e sistêmicas do ofidismo por Bothrops. QUADRO 3: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES LOCAIS E SISTÊMICAS DO OFIDISMO POR BOTHROPS5 TRATAMENTO A precocidade do atendimento médico é fator fundamental na evolução e no prognóstico do doente. O quadro 4 indica em resumo a abordagem inicial dos acidentes ofídicos. QUADRO 4: ABORDAGEM INICIAL DOS ACIDENTES OFÍDICOS27 Como medidas gerais deve-se retirar anéis e alianças do dedo atingido, pois o edema pode tornar-se intenso, produzindo um sistema de garrote28 . O uso de torniquete, com a finalidade • Limpar com água e sabão o local da picada, para avaliar se existem lesões cutâneas. • Puncionar veia periférica nunca utilizando o membro afetado. • Colher sangue para determinação de creatinina, sódio, potássio e hemograma completo, além da determinação do tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TPPA). • Iniciar gotejamento de 500 ml de soro glicofisiológico 5% ou soro fisiológico (se o paciente for diabético), 45 gotas por minuto, com o objetivo de hidratar e manter acesso venoso para as próximas etapas. • Pré-medicação: simultaneamente à hidratação, iniciar esquema de proteção contra possíveis reações de hipersensibilidade ao SAV, administrando bloqueadores dos receptores H1 e H2 da histamina e corticosteróides. • Anotar características e o volume de urina. Colher aproximadamente 10 ml para exame de rotina. COMPLICAÇÕES LOCAIS Síndrome Compartimental: é rara, caracteriza casos graves, sendo de difícil manejo. Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso consequente ao grande edema que se desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades. As manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor. Abscesso: A ocorrência varia de 10 a 20%. A ação proteolítica do veneno botrópico favorece o aparecimento de infecções locais. Os germes patogênicos podem provir da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento. As bactérias isoladas desses abscessos são bacilos Gram-negativos, anaeróbios e, mais raramente, cocos Gram-positivos. Necrose: É atribuída principalmente à ação proteolítica do veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena. COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS Choque: É raro e aparece nos casos graves. Sua patogênese é multifatorial, podendo decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias. Insuficiência Renal Aguda: É também de patogênese multifatorial. Ocorre em função da ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
  • 11. 11 de reter o veneno no local da picada, é contra-indicado. É também contra-indicado utilizar instrumentos cortantes com a finalidade de fazer cortes ao redor da picada, pois os venenos que possuem frações proteolíticas irão atuar nesses locais, piorando muito a necrose28 . A vítima de ofidismo deve ser colocada em repouso com o segmento picado elevado e estendido. Recomenda-se empregar analgésicos e manter hidratação com diurese entre 30 a 40 ml/h no adulto, e 1 a 2 ml/Kg/hora na criança. O uso de antibióticos deverá ser indicado quando houver evidência de infecção5 . Visando o tratamento das complicações locais destaca- se que firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam. Se necessário, indicar transfusão de sangue, plasma fresco congelado ou crioprecipitado5 . SOROTERAPIA O soro antiofídico a ser aplicado deve ser específico para o gênero ao qual a serpente pertence. Deve ser administrado o mais precocemente possível, em dose única, com o objetivo de neutralizar a peçonha antes que ela possa ter causado dano. A vacina e o soro antitetânico estão indicados, seguindo ao protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde para profilaxia do tétano acidental28 . O tratamento eficaz desses envenenamentos é feito pela aplicação intravenosa (IV) de soro antiveneno (SAV), específico para cada gênero de serpente: Soro antibotrópico (SAB): 1 ml neutraliza 5,0 mg de veneno das “jararacas”[...]27 . O quadro 5 demonstra a soroterapia recomendada conforme a gravidade do acidente botrópico. QUADRO 5: CLASSIFICAÇÃO QUANTO À GRAVIDADE E SOROTERAPIA RECOMENDADA5 CLASSIFICAÇÃOMANIFESTAÇÕES E TRATAMENTO LEVE MODERADA GRAVE LOCAIS . Dor . Edema . Equimose Ausentes ou discretas Evidente Intensas** SISTÊMICAS . Hemorragia grave . Choque . Anúria Ausentes Ausentes Presentes Tempo de Coagulação (TC)* Normal ou alterado Normal ou alterado Normal ou alterado SOROTERAPIA (número de ampolas) 2-4 4-8 12 * TC normal: até 10 min; TC prolongado: de 10 a 30 min; TC incoagulável: > 30 min. ** Manifestações locais intensas podem ser o único critério para classificação de gravidade. O número de ampolas utilizado na soroterapia depende do tipo e da gravidade do acidente. A via de administração é a endovenosa, devendo-se prestar atenção para a ocorrência de manifestações alérgicas durante e logo após a infusão do antiveneno. Na vigência de reações imediatas, a soroterapia deve ser interrompida e posteriormente reinstituída após o tratamento da anafilaxia1 . O teste de sensibilidade, intradérmico foi excluído da rotina de tratamento desses acidentes pelos soros heterólogos, anti peçonhentos, por apresentar baixa sensibilidade e baixos valores preditivos quanto ao aparecimento de reações de hipersensibilidade
  • 12. 12 imediatas. Além disso, a execução de testes retarda o início da neutralização da toxina circulante27 . ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO OFIDISMO Os acidentes por animais peçonhentos formam um grupo de agravo usualmente pouco conhecido do profissional de saúde, mas que, invariavelmente, se defronta com um paciente picado1 . É enfatizado que a padronização atualizada de condutas de diagnóstico e tratamento dos acidentados é imprescindível, pois as equipes de saúde, com frequência considerável, não recebem informações desta natureza durante os cursos de graduação ou no decorrer da atividade profissional5 . Esta ótica encontra afinidade com a educação permanente, pois é defininda como um processo educativo que ocorre no espaço do pensar e do fazer no trabalho e que tem como desafio estimular o desenvolvimento dos profissionais sobre um contexto de responsabilidades e necessidades de atualização, considerando para isso o serviço, o trabalho, o cuidado, a educação e a qualidade da assistência32 . No entanto, para que a enfermagem atue de modo eficiente, é preciso que sua metodologia de trabalho esteja fundamentada no método científico, o que é garantido pela aplicação do processo de enfermagem33 . O processo de enfermagem oferece aos enfermeiros uma forma lógica, sistemática e racional de organizar informações, de modo que o cuidado de enfermagem seja apropriado e efetivo. É tanto científico como humano, pois as pessoas desenvolvem suas ações de forma sensível e cuidadosa34 . O Enfermeiro que, ao assumir a realização da Metodologia da Assistência, o faz de forma ética e com competência técnica, desenvolvendo uma ação sistematizada e finalística, estará indo ao encontro da lei n. 7.498, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, em seu artigo 8º “...Ao Enfermeiro incumbe, como integrante de equipe de saúde, a participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde[...]”35 . No planejamento da assistência de enfermagem em ofidismo consideram-se os problemas identificados e a fisiopatologia, além de redobrar atenção as possíveis reações que podem ser desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia antiveneno. Deve-se salientar a importância do papel do enfermeiro nesse atendimento, provendo materiais e medicamentos necessários, tomando a iniciativa de interromper e substituir a infusão da soroterapia9 . Cabe a enfermagem prover acesso venoso, sua permeabilidade, controlar a infusão, colher amostras de sangue para efetuar o tempo de coagulação, controlar as funções vitais, antes, durante e após o tratamento e devido às alterações fisiopatológicas atentar para o monitoramento da função renal9 . Os acidentes ofídicos caracterizam-se como situação de emergência, onde o indivíduo acometido corre risco de vida36 . Deve-se valorizar o exame físico como o instrumento utilizado para detecção das condições do acidentado durante o primeiro atendimento, além da permanência do enfermeiro ao lado da vítima, no sentido de detectar possíveis intercorrências9 . No exame inicial do paciente picado, deverão ser avaliados alguns parâmetros clínicos, no sentido de determinar a gravidade do acidente, tais como sinais vitais, locais de sangramento (hemorragias nos locais da picada, gengivorragia, epistaxe, hematúria, etc.), estado de hidratação, coloração e volumes urinários para monitorar a função renal, intensidade e extensão do edema e presença de complicações como bolha, necrose, abscesso e síndrome compartimental21 . Em resumo o profissional enfermeiro deve possuir preparo técnico científico para proporcionar um atendimento imediato adequado às vítimas de ofidismo, prescrevendo o
  • 13. 13 cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e de acordo com as necessidades das vítimas, estando atento aos sinais e sintomas de agravamento clínico9 . RESULTADOS E DISCUSSÃO A população em estudo no município de Alegre, acometida pela picada de serpente no período de 2001 a 2008, constitui-se em número de 159 casos, conforme evidencia o gráfico 2, sendo 97,5% (155 casos) representados pelos acidentes ofídicos por Bothrops, tendo ainda 2,5% (4 casos) configurados como ignorado o tipo de serpente envolvida. GRÁFICO 2 – Distribuição do ofidismo em Alegre-ES segundo a serpente envolvida, de 2001 a 2008 Abrindo uma comparação com os casos notificados no Estado do Espírito Santo utilizando os dados disponíveis no SINAN de 2001 a 2008 encontramos 11.504 casos de ofidísmo no Espírito Santo, sendo 64,5% (7.424 casos) de acidentes botrópicos. Nota-se que a quase totalidade dos acidentes ofídicos verificados em Alegre são do gênero Botrópico, o qual é predominante nesta região do estado do Espírito Santo. Os números confirmam o que a literatura consultada já enfatiza quanto ao gênero Bothrops como o grupo mais comum da região Sudeste e corresponde ao acidente ofídico de maior importância epidemiológica no país, pois é responsável por cerca de 90% dos envenenamentos5 . O quadro 6 mostra a jararaca, espécie que determina a maior parte dos acidentes, fato que se harmoniza com a abundância em que é encontrada e com a sua distribuição geográfica na região Sudeste, especialmente no Estado do Espírito Santo5 . QUADRO 6: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO GÊNERO BOTHROPS5 Evidenciou o estudo que o atendimento de ofidismo em Alegre tem em sua maioria a serpente identificada, o que se configura em elemento importante na medida em que possibilita a dispensa imediata da maioria dos pacientes picados por serpentes não peçonhentas, viabiliza o reconhecimento das espécies de importância médica em âmbito regional além de ser medida auxiliar na indicação mais precisa do antiveneno a ser administrado5 . Caracterizamos como baixo o percentual, no estudo em Alegre, 2,5% (n= 4) de ofidismo em que a serpente não foi identificada uma vez que foram diagnosticados como acidente por serpente não identificada 18,9% dos acidentes ofídicos notificados em 2003 no país, entretanto considerou-se injustificável a elevada proporção em face da existência de marcadas diferenças na apresentação clínica dos envenenamentos ofídicos1 .
  • 14. 14 Em relação à sazonalidade, observou-se no estudo que o ofidismo ocorreu em todas as épocas do ano, entretanto o gráfico 3 evidencia que maio foi o mês de maior incidência de acidentes ofídicos, quando foram notificados 13,8% dos casos (n= 22). Os meses de março e outubro apresentaram picos secundários com 12,6% (n=20) e 11,9% (n=19) dos casos, respectivamente, em decorrência, provavelmente, de maior atividade do homem no campo devido a limpeza de pastos e áreas para cultivo pois são situações que oferecem maior possibilidade de contato das pessoas com a serpente, uma vez que o acidente ocorre sempre que o homem quebra a distância de fuga do animal, ou seja, a distância em que ela se sente segura de qualquer agressão25 . GRÁFICO 3 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos em Alegre-ES de 2001 a 2008 Quanto a distribuição mensal dos acidentes ofídicos no estado do espírito santo de 2001 a 2008 o gráfico 4 mostra predominância dos casos no mês de abril e em segundo e terceiro plano nos meses de maio e dezembro. Os dados do estudo em Alegre apresentam-se semelhantes aos do Estado, a pequena diferença observada, deve-se, provavelmente, ao aparecimento mais tardio das chuvas em alguns dos anos estudados. Apesar de a sazonalidade ser dependente das condições ambientais e da atividade do homem reconhece-se que os casos de ofidismo ocorrem com maior frequência no início e no final do ano4 , enquanto destaca-se que nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, observa-se incremento do número de acidentes no período de setembro a março5 . GRÁFICO 4 - Distribuição mensal dos acidentes ofídicos ocorridos no Espírito Santo de 2001 a 2008 O reconhecimento dos períodos do ano de maior risco tem importância para preparar os serviços e os profissionais de saúde para o aumento na demanda de casos, para estabelecer estratégias de distribuição e controle dos estoques de soros específicos nos locais de atendimento, bem como fortalecer as ações de prevenção por meio de atividades de educação em saúde1 . Os acidentes ofídicos nas vítimas estudadas no período de 2001 a 2008 em Alegre ocorrem majoritariamente no sexo masculino com 88% (n=140) enquanto 12% representam as 19 pessoas do sexo feminino acometidas pelo ofidismo, conforme evidencia o gráfico 5. A maior ocorrência em indivíduos do sexo masculino tem sido referida em todas as casuísticas
  • 15. 15 37% 36% 9% 6% 3% 1% 1%3% 3% 1% < 1 Ano 1 à 4 5 à 9 10 à 14 15 à 19 20 à 39 40 à 59 60 à 64 65 à 69 70 à 79 nacionais e provavelmente deve-se à maior frequência com que os homens realizam atividades no campo24 . GRÁFICO 5 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo o sexo dos acometidos 88% 12% Masculino = 140 Feminino = 19 A faixa etária mais acometida pelo ofidismo em Alegre de 2001 a 2008 compreende as idades de 20 a 59 anos, representando 73,3% dos casos, conforme os dados do SINAN38 são ilustrados no gráfico 6, provavelmente pela grande inserção nos trabalhos laborais, contribuindo assim, para o aumento da renda familiar37 . GRÁFICO 6 - Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo a faixa etária das vítimas Quanto a escolaridade dos acometidos pelo ofidismo no período da pesquisa o gráfico 7 demonstra que 33,3% tem de 4 a 7 anos de estudo, 20,1% não tem escolaridade, porém, em 24,5% das fichas de notificações essa informação foi totalmente ignorada. Esta variável encontra na literatura a afirmação de que a maioria das análises epidemiológicas realizadas no país nos últimos 100 anos baseou-se nas mesmas variáveis já apontadas por Vital Brazil. Assim, com vistas a evoluir nessas análises, foi realizado um estudo exploratório para verificar as possíveis relações entre variáveis ambientais e socioeconômicas com a incidência desses acidentes e obtiveram como um dos fatores de risco a carência de alfabetização ocupando a sexta posição em ordem de importância das variáveis4 .
  • 16. 16 GRÁFICO 7 – Distribuição dos casos de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008, segundo os anos de estudos das vítimas 24,52% 1,26% 8,81% 33,33% 11,95% 20,13% NENHUM 1 A 3 4 A 7 8 A 11 NÃO SE APLICA Campo não preenchido Quanto aos acidentados por serpente bothrops, no estudo em Alegre-ES de 2001 a 2008, totalizaram 155 casos e a distribuição segundo o tempo, em horas, de início do atendimento a vítima esta descrita na tabela 1. TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DOS ACIDENTES BOTRÓPICOS EM ALEGRE-ES DE 2001 A 2008, SEGUNDO O TEMPO DE INÍCIO DO ATENDIMENTO ANO 0-1H 1-3H 3-6H 6-12H 12 E MAIS HORAS IGNBRANCO 2001 05 06 02 0 0 0 2002 03 08 0 0 02 0 2003 16 04 0 02 01 01 2004 13 05 02 0 02 0 2005 10 09 0 0 0 0 2006 07 17 04 01 0 01 2007 06 07 02 0 0 01 2008 06 10 0 0 01 01 TOTAL % 66 42,58% 66 42,58% 10 6,45% 03 1,94% 06 3,87% 04 2,58% Analisando a tabela 1 verificamos que dos 155 acidentes produzidos pelo gênero Bothrops ocorridos em Alegre-ES de 2001 a 2008, 42,58% (n=66) foram atendidos com tempo inferior a 1 hora após a picada; de igual forma 42,58% (n=66) entre 1 a 3 horas. O atendimento levou mais de 03 horas para acontecer variando até mais de 12 horas em aproximadamente 12,3%. Porém, 2,58% das fichas de notificações não apresentaram as informações quanto a este dado, conforme se melhor visualiza no gráfico 8.
  • 17. 17 GRÁFICO 8 - Distribuição dos acidentes botrópicos em Alegre-ES de 2001 a 2008 de acordo com o tempo de início do atendimento da vítima Analisando os casos ocorridos no Brasil de 1990 a 1993 demonstra-se a importância da precocidade do atendimento dos acidentes ofídicos revelando que dos 359 óbitos notificados, em 314 foi informado o tempo decorrido entre a picada e o atendimento5 . Destes, em 124 (39,49%), o atendimento foi realizado nas primeiras seis horas após a picada, enquanto que em 190 (60,51%) depois de seis horas da ocorrência do acidente. O tempo entre a picada e o atendimento médico tem grande importância para o prognóstico do acidente, fato reafirmado em um estudo na Bahia onde 19% dos pacientes chegaram ao atendimento médico com mais de 13 horas indicando a desinformação e a precariedade do sistema de saúde3 . Ficou evidenciado no estudo que a classificação dos acidentes ofídicos por Bothrops quanto à gravidade dos casos foi considerada leve em 65,8% (N=102), moderada em 27,7% (N=43) e grave em 5,2% (N=8). O maior índice confere aos acidentes cuja classificação foi leve, 65,8% (102 casos) e o menor índice 1,3% (N=2) é ignorada a classificação e é o que está representado no gráfico 9. Em se tratando desta questão encontrou-se a predominância de 47,8% de acidentes moderados em um estudo realizado na Bahia em 2001 e atribuíu-se a possível equívoco no enquadramento do estadiamento do paciente, tais como considerar a alteração no tempo de coagulação como indicativo de gravidade, o que é um procedimento incorreto3 . GRÁFICO 9 – Distribuição do ofidismo por Bothrops em Alegre-ES de 2001 a 2008 segundo a gravidade Quanto à evolução dos pacientes de ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008 o gráfico 10 ilustra que nenhum dos casos notificados evoluiu para óbito, 95% (n=151) evoluíram para a cura, entretanto 5% (n=8) dos casos não apresentaram notificação relacionada a este dado. Este dado encontra base no dado de que o óbito é fator ausente nos acidentes ocorridos nas localidades com melhor infra-estrutura de saúde e estradas vicinais. Isso permite brevidade no atendimento médico, evitando-se, dessa maneira, o óbito e/ou a remoção do acidentado para atendimento em localidades mais distantes, o que demandaria mais tempo, piorando consequentemente as condições de saúde do acidentado25 . O gráfico 11 destaca os dados referentes a evolução clínica do ofidismo em Alegre-ES de 2001 a 2008. Lev e=102 (65,8% ) Moderado=43 (27,7%) Grave=8 (5,2%) Ignorado=2 (1,3%) 0 50 100 150 Leve= 102 Moderado=43 Grave=8 Ignorado=2
  • 18. 18 GRÁFICO 10 - Evolução clínica dos acidentes ofídicos em Alegre-ES de 2001 a 2008. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo evidencia que é possível e desejável conhecer a epidemiologia regional dos envenenamentos ofídicos, a fim de possibilitar uma avaliação correta dos dados para formularmos estratégias de prevenção e assistência adequada neste tipo de agravo e de suas complicações. Espera-se que este estudo contribua para uma redefinição no campo da assistência em ofidismo, especialmente, no campo da Enfermagem, orientando a implementação dos cuidados baseado nas evidências clínicas, bem como na complexa fisiopatologia e riscos de agravamentos. Os resultados do estudo em Alegre - ES no período de 2001 a 2008 sugerem que o perfil epidemiológico e clínico apresentados configuram de fato um evento que merece atenção do sistema de saúde pública em face da ocorrência em todos os meses do ano, totalizando 159 acidentes ofídicos provocados em 97,5% pelo gênero Bothrops, com predomínio nos meses de maio, março e outubro. São achados que, associados a informação da literatura, permitem afirmar que além da importância médica e epidemiológica, algumas questões sociais e econômicas envolvem os acidentes ofídicos, já que atinge indivíduos jovens e do sexo masculino, que representam a população economicamente ativa, sendo 88,0% da amostra constituída de homens e a faixa etária mais acometida de 20 a 59 anos atingiu o percentual de 73,0%, tendo ainda 33,3% dos acometidos 4 a 7 anos de estudo enquanto 20,1% não tem qualquer escolaridade. Verificou-se semelhança com as casuísticas nacionais embora fossem considerados casos leves em 65,8% da amostra, 95,0% evoluíram para cura e dos 155 casos de acidente botrópico encontrados, aproximadamente 85,2% tiveram o primeiro atendimento em até 3 horas. As questões apontadas e os resultados do estudo sinalizam quanto à utilidade para a prática clínica baseada em evidências científicas, além de identificar o papel do enfermeiro frente ao cuidado com a vítima de acidente ofídico como elemento fundamental no direcionamento de toda a assistência livre de riscos e sequelas. Desta forma, concluí-se também ser definitivo para uma boa recuperação da vítima de ofidismo que o Enfermeiro possua preparo técnico científico para proporcionar um atendimento imediato adequado, redobrar a atenção as possíveis reações que podem ser desencadeadas pela ação do veneno ou mesmo pela terapia antiveneno, prescrever o cuidado de enfermagem a ser prestado de maneira individualizada e sistematizada e, assim obter maior êxito no atendimento, juntamente com as medidas terapêuticas necessárias. A análise apresentada traz uma série de elementos que deverão constituir a base para a tomada de decisão nos diferentes níveis de atuação da assistência em ofidismo, bem como para estudos posteriores. Total= 159 (100%) Cura= 151 (95%) Óbito= 0 (0%) Ign./Branco= 8 (5%) 0 50 100 150 200 Total de casos=159 Cura= 151 Óbito= 0 Ignorado / Branco=8
  • 19. 19 REFERÊNCIAS 1. Brasil, Ministério da saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 6. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 2. Fernandes AM de O, Silva AK da. Tecnologia de prevenção e primeiros socorros ao trabalhador acidentado. Goiânia: AB, 2007. 3. Mise YF, Lira-da-Silva RM, Carvalho FM. Envenenamento por serpentes do gênero Bothrops no Estado da Bahia: aspectos epidemiológicos e clínicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 40, n. 5, 2007. 4. Bochner R, Struchiner CJ. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos no Brasil : uma revisão. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, p. 7-16, 2003. 5. Ministério da saúde, FUNASA. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. 2ª ed. - Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2001. 6. Brasil. Ministério da saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 6. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 7. Araújo M. Ofidismo. In: PITTA, G. B. B.; CASTRO; A. A.; BURIHAN E. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL; LAVA, 2003. Disponível em: < http://www.lava.med.br/livro>. Acesso em: 29 jul. 2008. 8. Instituto Butantan. Acidentes ofídicos. In: Hospital Vital Brazil. Sã Paulo: Copyright, 2007. Disponível em: <http://www.butantan.gov.br/info_utewis.htm>. Acesso em: 14/12/2007. 9. Ayres JÁ, Nitsche MJT, Spiri WC. Acidentes ofídicos, aspectos clínicos, epidemiológicos e assistenciais no atendimento imediato. Revista Nursing, v. 67, n. 6, p. 28-33, 2003. 10. Handem PC, Matioli CP, Pereira FGC. Metodologia: interpretando autores. In: Figueiredo NMA de (org.). Método e metodologia na pesquisa científica. p. 101-130. São Caetano, SP: Difusão, 2004. 11. Figueiredo NMA de (org.). Método e metodologia na pesquisa científica. São Caetano, SP: Difusão, 2004. 12. Costa MFL, Barreto SM. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 12, n. 4, p. 189-201, 2003. 13. Cervo AL, Bervian PA. Metodologia Científica : para uso dos estudantes universitários. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. 14. Prefeitura municipal de Alegre (ES). Alegre em números. Disponível em: <http://www.alegre.es.gov.br/conh_estatisticas.php>. Acesso em 29/07/ 2008. 15. Costa FMV. Grande Dicionário de Enfermagem Atual. Rio de Janeiro: Revic, 2002. 16. Barravieira B. Acidentes ofídicos. In: Veronesi R, Focaccia R. Veronesi: tratado de infectologia. São Paulo: Editora Atheneu, 1996. Capítulo 129. p. 1561- 1577. 17. Ferreira AB de H. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.11. Curitiba: Positivo informática LTDA, 2004. 18. Ministério da saúde, FUNASA. Guia de vigilância epidemiológica. Brasília: MS/FNS, 1998. 19. Torres JB, Abella HB, Nunes CM. Acidentes por animais peçonhentos. In: Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 1117-1123. 20. PINHO, F. M. O. PEREIRA, I. D. Ofidismo. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 47, n. 1, jan./mar., 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0104- 423020001000100026&script=sci_arttextAcesso em 24/02/2008. 21. Tsutiya NY, PACHEO MTT. Correlação da Incidência e quadro de gravidades em acidentes ofídicos botrópicos em uma comunidade. In: IX Encontro latino-americano de iniciação científica e V encontro latino-
  • 20. 20 americano de pós-graduação, 2005, São José dos Campos-SP. Programação e Anais de Resumos 2005 - Universidade do Vale do Paraíba. São José dos Campos : Univap/2005, 2005. v. 1. p. 204-204. 22. Cardoso JLC, Brando RB. Acidentes por animais peçonhentos. 1. ed. São Paulo: Santos, 1982. 23. Feitosa RFG, Melo IMLA, Monteiro HSA. Epidemiologia dos acidentes por serpentes peçonhentas no estado do Ceará – Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 30, n. 4, p. 295-301, jul/ago. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v30n4/0712.pdf > Acesso em 29/07/2008. 24. Jorge MT, Ribeiro LA. Acidentes por serpentes do gênero Bothrops: série de 3.139 casos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba. v. 30, n. 6, Nov./dez. 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v30n4/0712.pdf > Acesso em 29/07/2008. 25. Nascimento SP do. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos ocorridos no Estado de Roraima, Brasil, entre 1992 e 1998. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1; p. 271-276, jan./mar. 2000. 26. Veronesi R. Doenças infecciosas e parasitárias. 7. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982. 27. Azevedo-Marques MM, Cupo P, Hering SE. Acidentes por animais peçonhentos: Serpentes peçonhentas. Medicina. Ribeirão Preto, 36: 480-489, abr./dez. 2003. 28. Veronesi R, Focaccia R. Veronesi: tratado de infectologia. São Paulo: Editora Atheneu, 1996. 29. Jorge AS, Dantas SRPE. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu, 2003. 30. Oliveira A de, Pinto J, Fonseca A, Caputto L, Fonseca F. Avaliação epidemiológica e laboratorial de pacientes que sofreram acidente ofídico na cidade de Miracatu (Vale do Ribeira, São Paulo). Revista de Patologia Tropical, Goiânia, v. 37, p.10-11, 2008. 31. Sano-Martins IS, Santoro ML. Distúrbios Hemostáticos em Envenenamento por Animais Peçonhentos no Brasil. São Paulo: Sarvier, 2003. p. 289-303. 32. Ricaldoni CAC, Sena RR de. Educação permanente: uma ferramenta para pensar e agir no trabalho de enfermagem. Revista latino-americana de enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14. n. 6. nov./dez., 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692006000600002&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em 21/02/2009. 33. Horta WA. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. 34. Zagonel IPS. Consulta de enfermagem: um modelo de metodologia para o cuidado. In: Carraro TE, Westphalen MEA. Metodologia para a assistência de enfermagem: teorizações, modelos e subsídios para a prática. Goiânia: AB, 2001. 35. Carraro TE. Da metodologia da assistência de enfermagem: sua elaboração e implementação na prática. In: Carraro TE, Westphalen MEA. Metodologia para a assistência de enfermagem: teorizações, modelos e subsídios para a prática. Goiânia: AB, 2001. 36. Barraviera B, Peraçoli MTS. Soroterapia heteróloga. In: Barraviera B. Venenos Animais – uma visão integrada. Rio de Janeiro: EPUC, 1994. 37. Albuquerque HN. Perfil clínico-epidemiológico dos acidentes ofídicos notificados no estado da Paraíba. 2002. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). Universidade Estadual da Paraíba, Universidade Federal da Paraíba, Campina Grande. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v12n1/06.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2008. 38. Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN. Ministério da Saúde. DATASUS. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/dh?sinan/animaisp/bases/animaisbr.def>. Acesso em 21/02/2009.