1. INDUÇÃO DE PARTO EM CAPRINOS E OVINOS
Prof. Adelmo Ferreira de Santana – Caprinocultura e Ovinocultura
E-mail afs@ufba.br
Departamento de Produção Animal
Escola de Medicina Veterinária
Universidade Federal da Bahia
CEP- 40.170-110 Salvador - Bahia
Maria do Carmo P. de Oliveira - Acadêmica de Medicina Veterinária
Monografia apresentada na disciplina Caprinocultura e Ovinocultura- julho/2000
INTRODUÇÃO
O parto é a expulsão do feto depois de atingir o desenvolvimento completo. A
expulsão do produto não viável se denomina de aborto (MIES FILHO 1975).
O conhecimento da duração da prenhez é fundamental para se diferenciar um
abortamento, parto prematuro (nascimento prematuro), parto normal ou parto
retardado (gestação prolongada) (GRUNERT, BIRGEL 1989).
Nos pequenos ruminantes apenas se descrevem modificações do úbere e
ligeira edemaciação da vulva na fase de preparação do parto; e suas disposições
anatômicas não dificultam o parto (GRUNERT, BIRGEL 1989).
A duração da prenhez ocorre em período biológica variável e sua variabilidade
pode depender de vários fatores, entre os quais se destacam como fundamentais a
hereditariedade e as influências do meio ambiente ( alimentação, fatores mecânicos
e medicamentos, estação do ano, etc ) (GRUNERT, BIRGEL 1989).
2. A indução do parto vem sendo adotada quando deseja-se finalizar uma
gestação prolongada ou onde há transtornos patológicos, com o objetivo de
minimizar o tempo de gasto na observação da parturiente, devido à programação
do momento do parto e a possibilidade do seu acompanhamento (SALLES et al
1995).
O perfeito conhecimento do mecanismo fisiológico do parto tem propiciado os
meios terapêuticos de induzi-lo artificialmente (SALLES et al 1998).
São muitos os fatores responsáveis pela indução do parto nos animais
domésticos, mas nesse trabalho, será abordado apenas aqueles fatores que
influenciam o parto doe ovinos e caprinos.
FISIOLOGIA DA GESTAÇÃO
O período de gestação da cabra e da ovelha é de aproximadamente 150 dias.
A necessidade nutricional para o desenvolvimento do feto e das membranas fetais
durante a fase inicial da gestação são essencialmente similares às necessidades
para a sua mantença. A quantidade de nutrientes necessária para o crescimento
fetal é relativamente pequena e em torno de 60-80 dias da parição ocorre uma
maior exigência nutricional, com o aumento do tamanho do(s) feto(s). Na fase
inicial da gestação estando a fêmea severamente deficiente de nutrientes, pode
reabsorver ou abortar o(s) feto(s). A deficiência nutricional no final da gestação,
pode ocasionar das crias nascerem abaixo do peso, com debilidade e
ocasionalmente mortes (PINKERTON, SIMPSON 1981). A cabra depende da
3. progesterona produzida no corpo lúteo (C.L.), para manutenção da gestação
durante todo o seu período. O C.L. é sensível à ação luteolítica da progesterona F2
alfa, natural e sintética, o cloprostenol, induz aborto ao parto quando aplicados em
qualquer época da gestação (SIMPLÍCIO et al 1981).
O parto espontâneo nos pequenos ruminantes ocorre à termo em torno de
150 dias, depois de um abrupto declínio na concentração de progesterona
circulante. Estudos prévios demonstram que a progesterona é quase que na
totalidade de origem luteal e que a ativação do eixo pituitário-adrenal do feto causa
luteólise e inicia-se o trabalho de parto (CURRIE, 1934). É proposto que o C.L. de
cabras e ovelhas gestantes seja mantido pelo complexo luteotrópico, e os
hormônios mudam com a idade gestacional, fazendo parte também as
prostaglandinas durante o terço final da gestação (FORD et al 1995). É
demonstrado que nos animais domésticos há um brusco aumento do nível de
corticóide circulante em conexão com o fim da gestação, aumentando nas últimas
48 horas antes do parto e seu pico coincide com o momento do parto.
Numerosos trabalhos demonstram que os níveis plasmáticos de progesterona
caem rapidamente no final da gestação, sendo muito brusca na ovelha, sendo
muitas vezes a injeção de dexametasona a causa desse nível, induzindo o parto. O
nível de estrógeno se eleva rapidamente nas últimas 24 a 48 horas antes do parto
e essa elevação tem como objetivo ativar o miométrio e iniciar os estímulos das
contrações uterinas (CAL 1985).
O corpo lúteo é a principal glândula secretora da progesterona nos pequenos
ruminantes durante o metaestro, diestro e gestação. O parto é precedido por uma
4. queda brusca no nível plasmático periférico de progesterona que é associada a
elevação da concentração de PGF 2 alfa na circulação útero-ovariana, com o
aumento da motilidade uterina (SIMPLICIO 1980). O hipotálamo hipofisário fetal
parece ser de papel fundamental para o começo do parto (CAL 1985).
Aproximando-se a data do parto evidenciam-se sinais de relaxamento dos
ligamentos sacro-isquiático, repleção do úbere, as veias mamárias, nos animais de
aptidão para leite, tornam-se mais evidentes, redução da ingestão de alimento e
inquietação. Com a maior aproximação da parição é observada uma secreção de
característica opaca e ligeiramente amarelada que flui através da vulva que é
decorrente da liquefação do tampão mucoso cuja função e de manter a cérvix
fechada durante toda a gestação. Depois da liquefação do tampão mucoso e da
dilatação cervical ocorre a insinuação e o rompimento da bolsa, aparecimento dos
membros anteriores do feto e com menos freqüência os posteriores, existindo um
aumento da freqüência e intensidade das contrações uterinas (SIMPLÍCIO et al
1999).
FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR A DURAÇÃO DA PRENHEZ
A) Raça
Nas raças precoces e zootecnicamente puras, o período de gestação tem menor
duração do que o observado nos animas pertencentes a raças não aperfeiçoadas
(GRUNERT, BIRGEL 1989).
5. B) Sexo do Feto
Quando a prenhez se prolonga é admissível prever que o produto será macho. De
modo geral, os machos nascem um, dois ou três dias mais tarde que as fêmeas
(GRUNERT, BIRGEL 1989).
C) Idade da Mãe
Nas primíparas o período de gestação é menor (GRUNERT , BIRGEL 1989).
D) Tamanho e Número de Fetos
Feto mais desenvolvido nasce mais cedo do que o menor desenvolvimento.
Nas multíparas, a duração da prenhez varia segundo o n.º de fetos contidos no
útero, sendo menor a duração deste período quanto maior for o n.º de fetos
gerados. Esta regra também pode ser aplicada nas uníparas (GRUNERT, BIRGEL
1989).
E) Estações do Ano
As estações do ano podem influenciar de maneira significativa na gestação.
Na estação chuvosa (época de boa alimentação) os animais nascem mais cedo e na
estação seca (época de alimentação deficiente) verifica-se o contrário (GRUNERT,
BIRGEL 1989).
ABORTO PROVOCADO OU TERAPÊUTICO
O Médico Veterinário deve sempre ter em mente que um dos objetivos da
profissão é a manutenção da vida, perfeita procriação dos animais domésticos,
resultando em aproveitamento econômico adequado da pecuária. Porém, em
6. algumas circunstâncias deve-se recomendar o abortamento ou a indução de parto
prematuro. A interrupção da gestação é conveniente nos seguintes casos : a)
formas graves de osteomalácia; b) feto morto e retido (mumificado); c) hidropisia
dos envoltórios fetais; d) gestações de animais jovens ou quando houver
coberturas indesejáveis; e) paresia anteparto, hemorragia uterina e prolapso
vaginal graves. A interrupção da prenhez é mais fácil no decorrer da primeira
metade do período de gestação, porque os fetos são eliminados com a bolsa e o
útero involui sem complicações ( GRUNERT, BIRGEL 1989).
A) Enucleação do Corpo do Corpo Lúteo
A enucleação só é eficiente quando feita precocemente, havendo sempre
perigo de hemorragia capaz de determinar aderências ovarianas e mesmo provocar
a morte (GRUNERT, BIRGEL 1989).
B) Rompimento das Bolsas Fetais
Este rompimento só é possível entre a quarta e a oitava semana de gestação.
Através do reto, o operador deve fazer pressão ou massagem no corno gravídico,
provocando a morte do feto pelo rompimento das bolsas fetais. Como resultado,
ocorre o abortamento, após três a oito dias (GRUNERT, BIRGEL 1989).
C) Indução do Parto por Ação Medicamentosa
Os métodos mecânicos para provocar abortamento muitas vezes aderências
secundárias a hemorragias ovarianas ou lesões uterinas que determinam
infertilidade. Por isso é recomendável a indução do parto através de medicamentos
que não provoquem efeitos colaterais graves (GRUNERT, BIRGEL 1989).
7. Diversos Hormônios que devem ser levados em conta no controle do parto,
acham-se em desequilíbrio no momento pré-parto (MIES FILHO 1975).
C.1) Pelo uso da Prostaglandina F2 alfa
Este produto é eficiente para provocar abortamento no primeiro terço da
gestação. No segundo terço da gestação é necessário aumentar a dose de
prostaglandina F2 alfa e repetir a aplicação para conseguir-se abortamento. A
prostaglandina F2 alfa provoca indução de parto, porque produz rápida e intensa
diminuição do nível sangüíneo de progesterona (GRUNERT, BIRGEL 1989). A
progesterona, que protege o miométrio da ação dos excitantes, está com seu nível
diminuído no final da gestação (MIES FILHO 1975).
A prostaglandina também estimula de forma marcante a contratilidade das fibras
uterinas, por liberação do cálcio das ligações de ATP dos retículos citoplasmáticos
das células (GRUNERT, BIRGEL 1989). A PGF 2 alfa, que provoca contrações no
miométrio, está aumentada no final da gravidez, (MIES FILHO 1975).
C.2) Pelo Uso de Glicocorticóides
Estes produtos causa abortamento tardio, ou seja, no terço final da gestação,
bem como podem induzir o parto dos ruminantes. Os partos são induzidos em 80%
dos casos entre dois a quatro dias após a aplicação. Isso ocorre por contração
uterina conseqüente à queda do nível sangüíneo de progesterona e ao aumento dos
valores sangüíneos de estrógenos e prostaglandina. Via de regra há retenção das
secundinas, fato que exigirá antibioticoterapia profilática adequada (GRUNERT,
BIRGEL 1989). Alguns trabalhos indicam que as ovelhas teriam uma reação a
aplicação de dexametasona em 120 dias de prenhez ( Cal 1985).
8. Os corticóides sintéticos induzem o parto em ovelhas havendo uma queda dos
níveis de progesterona plasmática materna, aumento do nível de estrógenos
materno e aumenta a concentração de prostaglandina F2 alfa na veia uterina
média; essa prostaglandina tem sido encontrada, antecedendo ao parto nos
cotilédones maternos de ovinos e é usada clinicamente para induzir o aborto e o
trabalho de parto em mulheres ; ela atua diretamente sobre a musculatura uterina
e reproduz as contrações fisiológicas do parto normal (ARTHUR 1979).
Outro fator desencadeante do parto é a deficiência de corticóides adrenais. O
fenômeno depende, portanto, igualmente do hipotálamo e hipófise fetais através do
ACTH secretado sob condições de tensão a que se submete o novo ser até as
proximidades do parto ( MIES FILHO 1975).
Nos cinco a sete últimos dias de gestação em ovinos há um rápido aumento
na concentração de corticóides fetais (ARTHUR 1979).
A indução do parto com dexametasona ou outro corticóide, somente parece
ter efeito negativo para a mãe, sendo o principal efeito a retenção de placenta,
sendo sua incidência maior quanto mais tardia for a indução. Estudos indicam que a
aplicação de estrógenos em vários níveis de doses, durante seis dias antes da
aplicação do corticóide, tem como objetivo determinar os níveis plasmáticos
maiores de estrógenos podendo incidir favoravelmente na retenção das secundinas.
O objetivo das aplicações de corticóide é reduzir as incidências de parto distórcios.
O parto antecipado produz poucos efeitos negativos na cria, como pôr exemplo a
redução do peso, podendo em algumas circunstâncias, facilitar o parto (CAL 1985).
C.3) Hormônio Estrogênico
9. Dos fatores humorais, o mais importante é a modificação nas concentrações
de progesterona e estrogênio no plasma materno de um estado de domínio da
progesterona para uma condição de ausência de estrogênio. O aumento na
concentração de estrog6enio, junto com o declínio no nível de progesterona,
promove a síntese de proteínas contráteis na musculatura uterina e, pôr diminuir o
limiar para estimulação nervosa e mec6anica, causa uma melhora na propagação e
coordenação das ondas de contração uterina. O parto depende de fatores que
alteram a quantidade de estrógeno no tecido uterino (ARTHUR 1979).
Os estrógenos (principalmente o estriol), que aumenta a sensibilidade do
miométrio aos excitantes, está em nível aumentado no final do período (MIES
FILHO 1975).
D) Estímulo Mecânico
O estímulo mecânico exercido pelo aumento de volume do conteúdo uterino
sobre o miométrio, a cérvix e a vagina, provocam via nervosa, a secreção da
ocitocina pela hipófise materna. Esta secreção é também estimulada pelo
desequilíbrio dos níveis hormonais e por fatores externos ( luz, som, stress). Deve-
se considerar a relaxina que amolece os tecidos pélvicos (MIES FILHO 1975).
MEDICAMENTOS, DOSES E VIAS DE APLICAÇÃO
Dentre as substâncias que são utilizadas para induzir o parto, citam-se a
dexametazona, por via intramuscular (I.M.), e o estradiol 17 beta quando aplicado
endovenosamente (E. V.) (CURRIE et al 1976). A PGF 2 alfa e seus análogos
10. sintéticos demonstram ser muito eficientes na indução do parto ou do aborto
quando foram aplicados pela via endovenosa (E.V.), intramuscular (I.M.) ou
subcutânea (S.C.0 em qualquer fase de gestação ( BRETZLAFF, OTT 1983).
Ficou evidenciado que o cloprostenol, mesmo em doses reduzidas, foi capaz
de induzir o parto em cabras e ovelhas. Entretanto, doses maiores, aplicadas pela
via Intramuscular vulvar (I.M.V.), levaram à uma concentração dos partos em
menores intervalos de tempo, tornando mais precisa da hora do parto, facilitando
com isso o manejo e redução do tempo gasto na observação (SALLES et al 1998).
Acredita-se que exista uma ligação vascular entre drenagem sangüínea da
vagina e vulvar para o útero, na qual a PGF 2 alfa endócrina é sintetizada na
mucosa uterina e passa por mecanismo de contracorrente da veia utero-ovárica
para artéria ovariana, chegando ao corpo lúteo (BAIRD 1992).
CONCLUSÃO
A ovelha pare arqueado o dorso, contraindo-se após amplas inspirações,
muitas vezes de pé e o período de expulsão é de 30 minutos, em média.
No desenvolvimento de um parto normal, há interação de inúmeros fatores,
principalmente de origem neuro-endócrina, que acarreta na gestante modificações
de ordem morfológicas, bioquímicas, biofísicas e de fisiologia muscular.
Os partos prematuros induzidos com corticóides sintéticos como
dexametazona e fluemetazona em ovelhas em prenhez foram precedidos por uma
queda no nível de progesterona plasmática materna e por um aumento no nível de
11. estrógenos, com aumento da concentração de prostaglandina F2 alfa na veia
uterina.
Todas as vias de aplicações foram eficientes, a mais eficiente a I.M.V. , na
dose de 75 mg de cloprostenol, pois agrupou os nascimentos com redução da
amplitude dos partos, melhorando manejo, devido ao menor tempo gasto no
acompanhamento dos partos.
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