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Polêmicas




ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005          251
Por detrás do último ato
da ciência-espetáculo:
as células-tronco embrionárias
DANTE MARCELLO CLARAMONTE GALLIAN

       A crítica da medicina dogmática


É
        COMUM OUVIR dizer o quão pouco aprendemos com a história. Quando,
        entretanto, aplicamos esta frase ao mundo da ciência, o efeito que nos
        causa – ou, pelo menos deveria causar – é o de perplexidade, no mínimo
de desconcerto.
       Estas são as sensações que infelizmente vêem aflorando neste historiador
da medicina ao se deparar, quase diariamente, nos últimos tempos, através dos
diversos meios de comunicação e entre os mais variados cenários científico-acadê-
micos, com o alardeado tema das pesquisas com células-tronco embrionárias. É
quase impossível não associar todo este fenômeno de marketing científico com a
frase cunhada pelo médico e historiador Gregorio Marañón, que, já na primeira
metade do século passado – 1946 – denunciava um certo “costume” pertinaz de
seu tempo: “a superstição dos conhecimentos de última hora”1.
       Em ensaio intitulado Crítica da medicina dogmática, Marañón alertava
então seus colegas cientistas sobre a necessidade de se estudar história da medi-
cina como antídoto à superstição, ao dogmatismo e à ignorância, que invariável
e cada vez mais rapidamente, nos tempos que correm, levam ao vexame e, conse-
qüentemente, ao atraso da ciência. E, para tanto, justificava recordando dezenas
de “desastres científicos” ocorridos em não mais de décadas e anos anteriores aos
que então se viviam, provocados por “conclusões precipitadas e alardeantes”,
fruto de entusiasmos ingênuos ou – o que é pior – de outros interesses, que
causaram não poucos estragos no desenvolvimento da ciência – o que é grave – e
na vida de muitas pessoas – o que é muito mais grave.
       Frente a isto, Marañón defendia o desenvolvimento de uma crítica ao
modelo dogmático da medicina, fundamentada, por um lado, no reconhecimen-
to da falácia do dogmatismo científico – o cientificismo – e, por outro, no reco-
nhecimento da profunda complexidade dos fenômenos deste mundo, que re-
querem a participação de outros saberes, de maneira coerente e séria.
       Infelizmente, parece que as advertências e sugestões de Dom Gregorio
não foram seguidas e sequer compreendidas por uma boa parcela dos nossos
cientistas.



ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005                                              253
O último ato da ciência-espetáculo do século XX
       Há bem pouco tempo – menos de uma década – um acontecimento muito
conhecido e divulgado pela imprensa provou o quanto ainda aprendemos pou-
co; o quanto ainda cultivamos o costume de repetir os mesmos erros do passado.
Refiro-me ao Projeto Genoma.
       Na recente virada do século XX para o XXI, a corrida para integralizar o
seqüenciamento do genoma humano tornou-se o tema científico por excelência.
Divulgava-se, na ocasião, que tal feito proporcionaria uma verdadeira revolução
na medicina, desencadeando transformações fantásticas na vida das pessoas e das
sociedades. As “profecias” emitidas pelos adeptos do novo dogma genômico
parecem ter contaminado e convertido não só o público leigo, sempre esperan-
çoso diante dos anúncios panacêuticos da medicina moderna, como também os
sagazes capitalistas, que investiram milhões no projeto revolucionário. Depois
de uma carreira espetacular entre duas empresas norte-americanas – uma pública
e outra privada – acompanhada quase que diariamente por milhares de especta-
dores on line, num clima de verdadeiro show da ciência, o resultado chegou não
como êxtase, mas como um balde de água fria. Não porque não se tenha conse-
guido realizar o feito do seqüenciamento, mas simplesmente porque o feito não
se fez milagre; ou seja, o mapeamento do genoma humano não trouxe, nestes
últimos anos, nenhuma conseqüência imediata para a medicina aplicada: nenhum
remédio, nenhuma terapia revolucionária capaz de salvar vidas, recuperar doen-
tes incuráveis, fazer andar paralíticos etc. Nada, pelo menos nos próximos anos
ou décadas...
       É difícil de acreditar que os cientistas, principalmente os geneticistas en-
volvidos diretamente no projeto, só tenham chegado a esta desoladora conclu-
são ao final do frenético trabalho. Sem dúvida. Mas, se evidentemente sabiam
bem antes, por que esta fulcral informação não foi divulgada? Por que se permi-
tiu que se gerasse esta verdadeira mística em torno do Projeto Genoma?
       As respostas a estas perguntas não são, certamente, tão difíceis de respon-
der, mas ao invés disso, gostaria de avançar um pouco no tempo, deslocando o
foco do penúltimo ao último grande ídolo científico de nosso tempo: a utiliza-
ção de células-tronco embrionárias para fins terapêuticos2.
      As células-tronco
      As pesquisas com células-tronco adultas (não embrionárias) – extraídas
principalmente do sangue do cordão umbilical e da medula óssea – iniciaram-se
há mais de uma década, quando se descobriu que o caráter indiferenciado destas
potencializava uma grande margem de “manipulação” por parte do cientista,
que poderia, com meios técnicos adequados, transformá-las ou diferenciá-las
em células específicas, possibilitando assim a regeneração de tecidos e mesmo
órgãos.
      As experiências terapêuticas com células-tronco adultas em seres humanos
começaram a ser realizadas mais recentemente e, nos últimos anos, têm se divul-


254                                               ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
gado resultados alentadores em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil,
particularmente na regeneração de tecidos do coração, lesados por infarto.
       Na esteira do evento Dolly, entretanto, um novo tipo de célula-tronco,
virtualmente mais promissora que a adulta, começou a ser objeto de interesse
dos cientistas: a embrionária, ou seja, células indiferenciadas presentes no estágio
inicial de desenvolvimento do embrião – blastocisto. Segundo alguns cientistas,
este tipo de célula-tronco apresentaria grandes vantagens em relação às células-
tronco adultas por possuir um maior potencial de “plasticidade”, respondendo
melhor aos processos de diferenciação induzida para a produção de linhagens,
além de possibilitar a superação das limitações genéticas que, no caso de terapia
de doenças congênitas, apresentariam as células-tronco adultas. Tudo isto, obvia-
mente, em tese.
       Deixando de lado, pelo menos provisoriamente, os aspectos éticos que
uma prática de pesquisa deste tipo implica – já que para se conseguir as células-
tronco embrionárias é necessário sacrificar o embrião, “obtido” por clonagem
ou por compra em clínicas de reprodução assistida, que mantêm estoque de
“excedentes” congelados – gostaria de me ater às dimensões estritamente cientí-
ficas da questão e que não têm sido devidamente esclarecidas pelos meios acessí-
veis de divulgação .
       Unanimemente, os cientistas que pesquisam ou reivindicam a liberdade de
pesquisar com células-tronco embrionárias, reconhecem as “grandes dificulda-
des técnicas” que têm se apresentado no processo de investigação3. Ao contrário
do que vem ocorrendo com as células-tronco adultas, as experiências com célu-
las-tronco embrionárias não produziram nenhum êxito terapêutico reconheci-
do, sequer em animais4. Pelo contrário, estudos importantes vêm demonstrando
que a utilização de células-tronco embrionárias em experimentos terapêuticos
têm causado tumores em animais, levando a crer que o mesmo deva ocorrer se
administrado em seres humanos5.
       Recentemente, cientistas coreanos, os primeiros a tentar realizar publica-
mente pesquisa com células-tronco de embriões humanos, divulgaram nota es-
clarecendo que “das três associações celulares humanas obtidas através de
clonagem – de um total de centenas de tentativas em centenas de óvulos – ape-
nas uma derivou em linhagem celular do tipo embrionário”. Entretanto, esclare-
cem, “tal linhagem apresentou-se imprestável para a pesquisa ou para uso
terapêutico”6. Conclusão: a possibilidade de que se venha a conseguir linhagens
úteis para pesquisa nos próximos anos é ínfima.
       Segundo Natalia López Mortalla, catedrática de bioquímica da Universi-
dade de Navarra, Espanha, “a tecnologia da clonagem é extremamente ineficaz
e, no caso dos primatas, de mil tentativas realizadas (mil óvulos), não se conse-
guiu nenhum verdadeiro embrião”7. Por outro lado, ainda de acordo com ela,
      existe um critério biológico claro sobre o que é uma associação de células vivas,
      mais ou menos organizadas e o que é um indivíduo. Com algumas cautelas, a



ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005                                                      255
“clonagem terapêutica” poderia se converter realmente em uma tecnologia de
      transferência de núcleos, que não seria mais clonagem. [...] E se um dia se
      verificasse que as células embrionárias servem para curar, poder-se-ia consegui-
      las por outros procedimentos que não exijam óvulos8.
       Também em relação às células-tronco extraídas de embriões “produzidos”
por reprodução assistida e que se encontram congelados, o argumento de que
tais indivíduos seriam virtualmente incapazes de se desenvolverem, mas úteis do
ponto de vista terapêutico, não encontra sustentação adequada.
       Em suma, do ponto de vista estritamente científico, não há nada que justi-
fique este clima de euforia que tem se procurado disseminar em nosso país, prin-
cipalmente através dos mass media e que atingiu seu clímax recentemente com a
aprovação, pelo Congresso Nacional, da lei de biossegurança, que autoriza as
pesquisas com células-tronco extraídas de embriões humanos. Ao contrário do
que vem ocorrendo com as pesquisas e experiências com células-tronco adultas,
as perspectivas a curto e médio prazos são muito pouco promissoras. E isto já
começa inclusive a ser admitido mais explicitamente pelos próprios cientistas
que, aqui no Brasil, estiveram na linha de frente da luta pela aprovação da lei de
biossegurança9. Tal como ocorreu com o Projeto Genoma, depois da euforia, da
mobilização apocalíptica e sentimentalista, vem o discurso da prudência, da paci-
ência... O que de fato está em jogo em tudo isto?
      Por detrás da ciência-espetáculo
      Há duas questões que, a meu ver, parecem ser as principais e que merecem
atenção. Uma delas está explícita e a outra velada, ainda que não de todo desco-
nhecida. Gostaria de começar pela última, que me parece mais simples e menos
intrigante, para poder me deter na primeira, mais instigante e desafiadora, do
ponto de vista histórico.
      Com a autorização legal para a realização de pesquisas com células-tronco
embrionárias no país, os primeiros beneficiados, do ponto de vista econômico,
serão as clínicas que possuem estoques de embriões congelados, declaradamente
os primeiros a servirem para o desenvolvimento da linha de pesquisa. Com isto,
uma nova fonte de receita se agregará a estas empresas, que inclusive terão a
dupla vantagem de diminuírem os gastos com a manutenção obrigatória dos
embriões “excedentes”.
      Em relação à técnica da clonagem, sabe-se também que os insumos neces-
sários são extraordinariamente custosos e que muitos laboratórios e empresas
especializadas em produtos bioquímicos têm muito a lucrar com a abertura desta
nova linha de pesquisa.
      A outra grande questão, entretanto, a que mais tem sido alardeada e promo-
vida a pièce de resisténce pelos cientistas que defendem o direito de pesquisar com
as células-tronco extraídas de embriões humanos, é a intangibilidade sagrada do
avanço científico.



256                                                  ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
Foto Alan Marques/Folha Imagem 2.3.2005




Manifestantes a favor da Lei de Biossegurança comemoram sua aprovação em Brasília (DF).

       Para uma parcela considerável do universo científico, barrar, proibir o desen-
volvimento de determinada linha de pesquisa, ainda que esta não apresente pers-
pectivas favoráveis a curto e médio prazos, por motivos “extra-científicos”, signi-
fica não só ferir a dignidade da ciência, mas se posicionar contra a própria huma-
nidade, na medida em que tolhe a grande força propulsora do seu progresso.
       Sem dúvida, a liberdade para pesquisar é um dos princípios fundamentais
para o desenvolvimento da ciência, entretanto, de acordo com os valores essen-
ciais da sociedade livre e democrática, ao exercício da liberdade se associam não
só direitos mas também deveres. A ciência é livre para pesquisar, mas deve sem-
pre respeitar, promover e nunca prejudicar a vida.
       É sabido que os cientistas que defendem o direito de pesquisar com célu-
las-tronco extraídas de embriões humanos justificam-se eticamente apoiando-se
em concepções filosóficas que relativizam o conceito de vida humana, identifi-
cando-o seja com uma noção difusa de continuidade impessoal10, seja com a
noção kantiana de autodeterminação11. Entretanto, o próprio avanço da ciência
nas últimas décadas, principalmente no referente ao campo da genética e da
medicina reprodutiva, tem apontado, indiscutivelmente, para uma visão cada vez
mais genética e personalista da vida humana. Ou seja, nunca como antes, temos
tantas razões para afirmar – razões estas fornecidas pela própria ciência – que a
vida humana tem origem no momento da fecundação, da união do esperma-
tozóide com o óvulo12. Insistir em negar tal evidência hoje representa negar o
próprio avanço da ciência e desprezar o natural processo de revisão filosófica que
deve acompanhar o desenvolvimento da pesquisa e da ética científica.


ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005                                                              257
Neste sentido, reivindicar a liberdade da pesquisa com células-tronco ex-
traídas de embriões humanos – mesmo no estágio blastocístico – em nome do
“progresso da ciência”, apresenta-se, ao meu ver, como um argumento simplista
e dogmático. Identifica-se aqui, mais uma vez, a reedição da perspectiva dogmática
da ciência, tal como diagnosticou Marañón há mais de cinqüenta anos. Por de-
trás de todo este “espetáculo”, certamente não está o “velho embate entre as
luzes da ciência e as trevas da religião”, mas sim o posicionamento ideológico do
cientificismo que, tomando como fundamento uma concepção meramente
tecnicista e pragmática de ciência e apoiada por uma leitura oportunista da filo-
sofia, procura justificar o “avanço da ciência” pelo bem dela mesma.
       A análise cuidadosa da história – particularmente da história da ciência –
em seus eventos menos ou mais recentes – como tivemos a oportunidade de
pontuar – aliada ao acompanhamento conseqüente do diálogo entre a ciência e a
antropologia filosófica, continua sendo a melhor medida preventiva contra a
“síndrome” da medicina dogmática. Mas a receita do Dr. Marañón parece con-
tinuar sendo desprezada. Não tanto porque pareça amarga demais, mas talvez
porque simplesmente exija, necessariamente, que o “paciente” pare, pense, refli-
ta, enfim, que faça um “certo repouso” reflexivo. E isso é algo que o espírito do
nosso tempo não permite. Não podemos parar; a ciência não pode parar. Afinal
o tempo é escasso, o tempo é...
       Enquanto isso, a quantos outros novos atos de ciência-espetáculo teremos
que assistir?



Notas
 1 Cf. Gregorio Marañon, “Crítica de la medicina dogmática”, em Vocación y Ética y
   otros ensayos. Madrid, Espasa-Calpe, 1966, p. 342.
 2 Para um visão mais completa sobre este e outros temas relacionados com o Projeto
   Genoma, remeto para o excelente trabalho da Dra. Marimélia A. Porcionatto, “Proje-
   to Genoma: uma leitura atenta do livro da vida?”, apresentado como dissertação de
   mestrado no programa de pós-graduação em História da Ciência da PUC-São Paulo
   em 2001. Marimélia Porcionatto é também doutora em bioquímica e docente na
   Unifesp/EPM. Tal como a autora e como todos os que estão diretamente envolvidos
   neste empreendimento, minha crítica não se dirige ao projeto em si, que sem dúvida é
   algo importantíssimo e de grande valor científico. A crítica dirige-se essencialmente à
   mistificação que se produziu à época de sua divulgação.
 3 Cf., por exemplo, os artigos publicados no dossiê “Células Trono” do n. 51 desta
   revista, particularmente os de Anne Fargot-Largeault, “Embriões, células-tronco e
   terapias celulares: questões filosóficas e antropológicas”, e de Mayana Zats, “Clonagem
   e células-tronco”, Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004, pp. 227-256.
 4 Freed CR., “Will Embryonic Stem Cells be a Useful Source of Dopamine Neurons for
   Transplant into Pacients with Parkinson’s Disease?” Proceedings of the National Academy
   of Sciences, vol. 99, 2002, pp. 1755-1757.



258                                                    ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
5 Cf. J. Marx, “Mutant Stem Cells May Seed Cancer”, Science, vol. 301, 2003, pp.
   1308-1310; e M. E. Valk-Lingbeek; S. W. Bruggeman e M. van Lohuizen, “Stem
   Cells and Cancer: The Polycomb Connection”, Cell, vol. 118, 2004, pp. 409-418.
 6 N. L. Mortalla, “La clonación terapéutica: ni clonación, ni terapéutica, ni necesaria”.
   ABC, Madrid, 3 mar. 2005. Mais recentemente, uma nova nota divulgou um inespe-
   rado sucesso na obtenção das linhagens (maio de 2005), porém, artigo na revista Cell
   do mesmo mês, aponta que, novamente, as linhagens obtidas eram todas “doentes” e
   “incompatíveis para o uso terapêutico”.
 7 Idem.
 8 Em princípios de junho de 2005, James Battey, pesquisador do Instituto Nacional de
   Saúde de Bethesda, Maryland, EUA, divulgou nota afirmando que estaria conseguin-
   do obter células-tronco embrionárias através de células adultas. Cf. O Estado de S.Paulo,
   8 jun. 2005, p. A22.
 9 Cf. “Marco político e científico: entrevista com Mayana Zatz”, Agência Fapesp, 10/
   3/2005. Boletim eletrônico: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_ dentro.
   php?id=3400.
10 Cf. Mayana Zataz, op. cit..
11 Cf. Anne Fagot-Largeault, op. cit.. Segundo a autora, “Não se trata de argumentar
   que o embrião humano, desde seus primeiros estágios de desenvolvimento, é objeto
   de respeito, portanto intocável. O respeito, no sentido kantiano, destina-se ao agente
   moral, isto é, a um ser capaz de se autodeterminar, de se comportar segundo a repre-
   sentação que ele tem do imperativo moral. Um embrião no estado de blastocisto não
   tem autonomia moral...” (p. 240).
12 Cf. Vicent Bourguet, O ser em gestação; reflexões bioéticas sobre o embrião humano, São
   Paulo, Loyola, 2002 e Jean Bernard, Da biologia à ética, Campinas, Editorial Psy,
   1994.


Referências bibliográficas
BERNARD, Jean. Da biologia à ética. Campinas, Editorial Psy, 1994.
BOURGUET, Vicent. O ser em gestação; reflexões bioéticas sobre o embrião humano. São
 Paulo, Loyola, 2002.
FARGOT-LARGEAULT, Anne. “Embriões, células-tronco e terapias celulares: ques-
 tões filosóficas e antropológicas”. Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004, pp. 227-
 245.
FREED CR., “Will Embryonic Stem Cells be a Useful Source of Dopamine Neurons
 for Transplant into Pacients with Parkinson’s Disease?” Proceedings of the National
 Academy of Sciences. vol. 99, 2002, pp. 1755-1757.
MRAÑÓN, Gregorio. “Crítica de la medicina dogmática”. Em Vocación y Ética y otros
 ensayos. Madrid, Epasa-Calpe, 1966.
MARX, J. “Mutant Stem Cells May Seed Cancer”. Science, vol. 301, 2003, pp. 1308-
 1310.
MORTALLA, N. L. “La clonación terapéutica: ni clonación, ni terapéutica, ni necesaria”.
 ABC, Madrid, 3 mar. 2005.



ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005                                                         259
PORCIONATTO, Marimélia A. Projeto Genoma: uma leitura atenta do livro da vida?
 Dissertação de Mestrado, São Paulo, PUC-São Paulo, 2001.
VALK-LINGBEEK, M. E.; BRUGGEMAN S.W. e VAN LOHUIZEN, M. “Stem Cells
 and Cancer: The Polycomb Connection”. Cell, vol. 118, 2004, pp. 409-418.
ZATS, Mayana, “Clonagem e células-tronco”. Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004,
 pp. 247-256.



RESUMO   – PARTINDO da perspectiva da “crítica da medicina dogmática” de Gregorio Ma-
rañón, o artigo pretende discutir o tema da pesquisa com as células-tronco à luz de con-
siderações científicas, filosóficas e éticas que nem sempre são levadas em conta pela
maioria dos trabalhos que vem sendo publicados. É necessário analisar os posicionamentos
científicos sobre esta questão no cenário político, ideológico e histórico que nos envolve.
PALAVRAS-CHAVE:   Bioética, Células-Tronco, História e Filosofia da Ciência.

ABSTRACT – ROOTED in Gregorio Marañón’s “critique of dogmatic medicine”, this essay
discusses stem cell research from the viewpoint of scientific, philosophical and ethical
considerations that most published works do not always take into account. It is incumbent
that scientific positions on this issue be analyzed in light of the political, ideological and
historical scenarios in which we are immersed.
KEY-WORDS :   Bioethics, Stem Cells, History and Philosophy of Science.




Dante Marcello Claramonte Gallian é doutor em História Social pela FFLCH-USP,
diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde (CeHFi) da Unifesp e
membro do Núcleo Interdisciplinar de Bioética (NIBio) da Unifesp.
@ – dante.dac @epm.br
Recebido em 21.7.05 e aceito em 3.8.05.



260                                                      ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005

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Por detrás do último ato da ciência espetáculo as células-tronco embrionárias

  • 2. Por detrás do último ato da ciência-espetáculo: as células-tronco embrionárias DANTE MARCELLO CLARAMONTE GALLIAN A crítica da medicina dogmática É COMUM OUVIR dizer o quão pouco aprendemos com a história. Quando, entretanto, aplicamos esta frase ao mundo da ciência, o efeito que nos causa – ou, pelo menos deveria causar – é o de perplexidade, no mínimo de desconcerto. Estas são as sensações que infelizmente vêem aflorando neste historiador da medicina ao se deparar, quase diariamente, nos últimos tempos, através dos diversos meios de comunicação e entre os mais variados cenários científico-acadê- micos, com o alardeado tema das pesquisas com células-tronco embrionárias. É quase impossível não associar todo este fenômeno de marketing científico com a frase cunhada pelo médico e historiador Gregorio Marañón, que, já na primeira metade do século passado – 1946 – denunciava um certo “costume” pertinaz de seu tempo: “a superstição dos conhecimentos de última hora”1. Em ensaio intitulado Crítica da medicina dogmática, Marañón alertava então seus colegas cientistas sobre a necessidade de se estudar história da medi- cina como antídoto à superstição, ao dogmatismo e à ignorância, que invariável e cada vez mais rapidamente, nos tempos que correm, levam ao vexame e, conse- qüentemente, ao atraso da ciência. E, para tanto, justificava recordando dezenas de “desastres científicos” ocorridos em não mais de décadas e anos anteriores aos que então se viviam, provocados por “conclusões precipitadas e alardeantes”, fruto de entusiasmos ingênuos ou – o que é pior – de outros interesses, que causaram não poucos estragos no desenvolvimento da ciência – o que é grave – e na vida de muitas pessoas – o que é muito mais grave. Frente a isto, Marañón defendia o desenvolvimento de uma crítica ao modelo dogmático da medicina, fundamentada, por um lado, no reconhecimen- to da falácia do dogmatismo científico – o cientificismo – e, por outro, no reco- nhecimento da profunda complexidade dos fenômenos deste mundo, que re- querem a participação de outros saberes, de maneira coerente e séria. Infelizmente, parece que as advertências e sugestões de Dom Gregorio não foram seguidas e sequer compreendidas por uma boa parcela dos nossos cientistas. ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005 253
  • 3. O último ato da ciência-espetáculo do século XX Há bem pouco tempo – menos de uma década – um acontecimento muito conhecido e divulgado pela imprensa provou o quanto ainda aprendemos pou- co; o quanto ainda cultivamos o costume de repetir os mesmos erros do passado. Refiro-me ao Projeto Genoma. Na recente virada do século XX para o XXI, a corrida para integralizar o seqüenciamento do genoma humano tornou-se o tema científico por excelência. Divulgava-se, na ocasião, que tal feito proporcionaria uma verdadeira revolução na medicina, desencadeando transformações fantásticas na vida das pessoas e das sociedades. As “profecias” emitidas pelos adeptos do novo dogma genômico parecem ter contaminado e convertido não só o público leigo, sempre esperan- çoso diante dos anúncios panacêuticos da medicina moderna, como também os sagazes capitalistas, que investiram milhões no projeto revolucionário. Depois de uma carreira espetacular entre duas empresas norte-americanas – uma pública e outra privada – acompanhada quase que diariamente por milhares de especta- dores on line, num clima de verdadeiro show da ciência, o resultado chegou não como êxtase, mas como um balde de água fria. Não porque não se tenha conse- guido realizar o feito do seqüenciamento, mas simplesmente porque o feito não se fez milagre; ou seja, o mapeamento do genoma humano não trouxe, nestes últimos anos, nenhuma conseqüência imediata para a medicina aplicada: nenhum remédio, nenhuma terapia revolucionária capaz de salvar vidas, recuperar doen- tes incuráveis, fazer andar paralíticos etc. Nada, pelo menos nos próximos anos ou décadas... É difícil de acreditar que os cientistas, principalmente os geneticistas en- volvidos diretamente no projeto, só tenham chegado a esta desoladora conclu- são ao final do frenético trabalho. Sem dúvida. Mas, se evidentemente sabiam bem antes, por que esta fulcral informação não foi divulgada? Por que se permi- tiu que se gerasse esta verdadeira mística em torno do Projeto Genoma? As respostas a estas perguntas não são, certamente, tão difíceis de respon- der, mas ao invés disso, gostaria de avançar um pouco no tempo, deslocando o foco do penúltimo ao último grande ídolo científico de nosso tempo: a utiliza- ção de células-tronco embrionárias para fins terapêuticos2. As células-tronco As pesquisas com células-tronco adultas (não embrionárias) – extraídas principalmente do sangue do cordão umbilical e da medula óssea – iniciaram-se há mais de uma década, quando se descobriu que o caráter indiferenciado destas potencializava uma grande margem de “manipulação” por parte do cientista, que poderia, com meios técnicos adequados, transformá-las ou diferenciá-las em células específicas, possibilitando assim a regeneração de tecidos e mesmo órgãos. As experiências terapêuticas com células-tronco adultas em seres humanos começaram a ser realizadas mais recentemente e, nos últimos anos, têm se divul- 254 ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
  • 4. gado resultados alentadores em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, particularmente na regeneração de tecidos do coração, lesados por infarto. Na esteira do evento Dolly, entretanto, um novo tipo de célula-tronco, virtualmente mais promissora que a adulta, começou a ser objeto de interesse dos cientistas: a embrionária, ou seja, células indiferenciadas presentes no estágio inicial de desenvolvimento do embrião – blastocisto. Segundo alguns cientistas, este tipo de célula-tronco apresentaria grandes vantagens em relação às células- tronco adultas por possuir um maior potencial de “plasticidade”, respondendo melhor aos processos de diferenciação induzida para a produção de linhagens, além de possibilitar a superação das limitações genéticas que, no caso de terapia de doenças congênitas, apresentariam as células-tronco adultas. Tudo isto, obvia- mente, em tese. Deixando de lado, pelo menos provisoriamente, os aspectos éticos que uma prática de pesquisa deste tipo implica – já que para se conseguir as células- tronco embrionárias é necessário sacrificar o embrião, “obtido” por clonagem ou por compra em clínicas de reprodução assistida, que mantêm estoque de “excedentes” congelados – gostaria de me ater às dimensões estritamente cientí- ficas da questão e que não têm sido devidamente esclarecidas pelos meios acessí- veis de divulgação . Unanimemente, os cientistas que pesquisam ou reivindicam a liberdade de pesquisar com células-tronco embrionárias, reconhecem as “grandes dificulda- des técnicas” que têm se apresentado no processo de investigação3. Ao contrário do que vem ocorrendo com as células-tronco adultas, as experiências com célu- las-tronco embrionárias não produziram nenhum êxito terapêutico reconheci- do, sequer em animais4. Pelo contrário, estudos importantes vêm demonstrando que a utilização de células-tronco embrionárias em experimentos terapêuticos têm causado tumores em animais, levando a crer que o mesmo deva ocorrer se administrado em seres humanos5. Recentemente, cientistas coreanos, os primeiros a tentar realizar publica- mente pesquisa com células-tronco de embriões humanos, divulgaram nota es- clarecendo que “das três associações celulares humanas obtidas através de clonagem – de um total de centenas de tentativas em centenas de óvulos – ape- nas uma derivou em linhagem celular do tipo embrionário”. Entretanto, esclare- cem, “tal linhagem apresentou-se imprestável para a pesquisa ou para uso terapêutico”6. Conclusão: a possibilidade de que se venha a conseguir linhagens úteis para pesquisa nos próximos anos é ínfima. Segundo Natalia López Mortalla, catedrática de bioquímica da Universi- dade de Navarra, Espanha, “a tecnologia da clonagem é extremamente ineficaz e, no caso dos primatas, de mil tentativas realizadas (mil óvulos), não se conse- guiu nenhum verdadeiro embrião”7. Por outro lado, ainda de acordo com ela, existe um critério biológico claro sobre o que é uma associação de células vivas, mais ou menos organizadas e o que é um indivíduo. Com algumas cautelas, a ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005 255
  • 5. “clonagem terapêutica” poderia se converter realmente em uma tecnologia de transferência de núcleos, que não seria mais clonagem. [...] E se um dia se verificasse que as células embrionárias servem para curar, poder-se-ia consegui- las por outros procedimentos que não exijam óvulos8. Também em relação às células-tronco extraídas de embriões “produzidos” por reprodução assistida e que se encontram congelados, o argumento de que tais indivíduos seriam virtualmente incapazes de se desenvolverem, mas úteis do ponto de vista terapêutico, não encontra sustentação adequada. Em suma, do ponto de vista estritamente científico, não há nada que justi- fique este clima de euforia que tem se procurado disseminar em nosso país, prin- cipalmente através dos mass media e que atingiu seu clímax recentemente com a aprovação, pelo Congresso Nacional, da lei de biossegurança, que autoriza as pesquisas com células-tronco extraídas de embriões humanos. Ao contrário do que vem ocorrendo com as pesquisas e experiências com células-tronco adultas, as perspectivas a curto e médio prazos são muito pouco promissoras. E isto já começa inclusive a ser admitido mais explicitamente pelos próprios cientistas que, aqui no Brasil, estiveram na linha de frente da luta pela aprovação da lei de biossegurança9. Tal como ocorreu com o Projeto Genoma, depois da euforia, da mobilização apocalíptica e sentimentalista, vem o discurso da prudência, da paci- ência... O que de fato está em jogo em tudo isto? Por detrás da ciência-espetáculo Há duas questões que, a meu ver, parecem ser as principais e que merecem atenção. Uma delas está explícita e a outra velada, ainda que não de todo desco- nhecida. Gostaria de começar pela última, que me parece mais simples e menos intrigante, para poder me deter na primeira, mais instigante e desafiadora, do ponto de vista histórico. Com a autorização legal para a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias no país, os primeiros beneficiados, do ponto de vista econômico, serão as clínicas que possuem estoques de embriões congelados, declaradamente os primeiros a servirem para o desenvolvimento da linha de pesquisa. Com isto, uma nova fonte de receita se agregará a estas empresas, que inclusive terão a dupla vantagem de diminuírem os gastos com a manutenção obrigatória dos embriões “excedentes”. Em relação à técnica da clonagem, sabe-se também que os insumos neces- sários são extraordinariamente custosos e que muitos laboratórios e empresas especializadas em produtos bioquímicos têm muito a lucrar com a abertura desta nova linha de pesquisa. A outra grande questão, entretanto, a que mais tem sido alardeada e promo- vida a pièce de resisténce pelos cientistas que defendem o direito de pesquisar com as células-tronco extraídas de embriões humanos, é a intangibilidade sagrada do avanço científico. 256 ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
  • 6. Foto Alan Marques/Folha Imagem 2.3.2005 Manifestantes a favor da Lei de Biossegurança comemoram sua aprovação em Brasília (DF). Para uma parcela considerável do universo científico, barrar, proibir o desen- volvimento de determinada linha de pesquisa, ainda que esta não apresente pers- pectivas favoráveis a curto e médio prazos, por motivos “extra-científicos”, signi- fica não só ferir a dignidade da ciência, mas se posicionar contra a própria huma- nidade, na medida em que tolhe a grande força propulsora do seu progresso. Sem dúvida, a liberdade para pesquisar é um dos princípios fundamentais para o desenvolvimento da ciência, entretanto, de acordo com os valores essen- ciais da sociedade livre e democrática, ao exercício da liberdade se associam não só direitos mas também deveres. A ciência é livre para pesquisar, mas deve sem- pre respeitar, promover e nunca prejudicar a vida. É sabido que os cientistas que defendem o direito de pesquisar com célu- las-tronco extraídas de embriões humanos justificam-se eticamente apoiando-se em concepções filosóficas que relativizam o conceito de vida humana, identifi- cando-o seja com uma noção difusa de continuidade impessoal10, seja com a noção kantiana de autodeterminação11. Entretanto, o próprio avanço da ciência nas últimas décadas, principalmente no referente ao campo da genética e da medicina reprodutiva, tem apontado, indiscutivelmente, para uma visão cada vez mais genética e personalista da vida humana. Ou seja, nunca como antes, temos tantas razões para afirmar – razões estas fornecidas pela própria ciência – que a vida humana tem origem no momento da fecundação, da união do esperma- tozóide com o óvulo12. Insistir em negar tal evidência hoje representa negar o próprio avanço da ciência e desprezar o natural processo de revisão filosófica que deve acompanhar o desenvolvimento da pesquisa e da ética científica. ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005 257
  • 7. Neste sentido, reivindicar a liberdade da pesquisa com células-tronco ex- traídas de embriões humanos – mesmo no estágio blastocístico – em nome do “progresso da ciência”, apresenta-se, ao meu ver, como um argumento simplista e dogmático. Identifica-se aqui, mais uma vez, a reedição da perspectiva dogmática da ciência, tal como diagnosticou Marañón há mais de cinqüenta anos. Por de- trás de todo este “espetáculo”, certamente não está o “velho embate entre as luzes da ciência e as trevas da religião”, mas sim o posicionamento ideológico do cientificismo que, tomando como fundamento uma concepção meramente tecnicista e pragmática de ciência e apoiada por uma leitura oportunista da filo- sofia, procura justificar o “avanço da ciência” pelo bem dela mesma. A análise cuidadosa da história – particularmente da história da ciência – em seus eventos menos ou mais recentes – como tivemos a oportunidade de pontuar – aliada ao acompanhamento conseqüente do diálogo entre a ciência e a antropologia filosófica, continua sendo a melhor medida preventiva contra a “síndrome” da medicina dogmática. Mas a receita do Dr. Marañón parece con- tinuar sendo desprezada. Não tanto porque pareça amarga demais, mas talvez porque simplesmente exija, necessariamente, que o “paciente” pare, pense, refli- ta, enfim, que faça um “certo repouso” reflexivo. E isso é algo que o espírito do nosso tempo não permite. Não podemos parar; a ciência não pode parar. Afinal o tempo é escasso, o tempo é... Enquanto isso, a quantos outros novos atos de ciência-espetáculo teremos que assistir? Notas 1 Cf. Gregorio Marañon, “Crítica de la medicina dogmática”, em Vocación y Ética y otros ensayos. Madrid, Espasa-Calpe, 1966, p. 342. 2 Para um visão mais completa sobre este e outros temas relacionados com o Projeto Genoma, remeto para o excelente trabalho da Dra. Marimélia A. Porcionatto, “Proje- to Genoma: uma leitura atenta do livro da vida?”, apresentado como dissertação de mestrado no programa de pós-graduação em História da Ciência da PUC-São Paulo em 2001. Marimélia Porcionatto é também doutora em bioquímica e docente na Unifesp/EPM. Tal como a autora e como todos os que estão diretamente envolvidos neste empreendimento, minha crítica não se dirige ao projeto em si, que sem dúvida é algo importantíssimo e de grande valor científico. A crítica dirige-se essencialmente à mistificação que se produziu à época de sua divulgação. 3 Cf., por exemplo, os artigos publicados no dossiê “Células Trono” do n. 51 desta revista, particularmente os de Anne Fargot-Largeault, “Embriões, células-tronco e terapias celulares: questões filosóficas e antropológicas”, e de Mayana Zats, “Clonagem e células-tronco”, Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004, pp. 227-256. 4 Freed CR., “Will Embryonic Stem Cells be a Useful Source of Dopamine Neurons for Transplant into Pacients with Parkinson’s Disease?” Proceedings of the National Academy of Sciences, vol. 99, 2002, pp. 1755-1757. 258 ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005
  • 8. 5 Cf. J. Marx, “Mutant Stem Cells May Seed Cancer”, Science, vol. 301, 2003, pp. 1308-1310; e M. E. Valk-Lingbeek; S. W. Bruggeman e M. van Lohuizen, “Stem Cells and Cancer: The Polycomb Connection”, Cell, vol. 118, 2004, pp. 409-418. 6 N. L. Mortalla, “La clonación terapéutica: ni clonación, ni terapéutica, ni necesaria”. ABC, Madrid, 3 mar. 2005. Mais recentemente, uma nova nota divulgou um inespe- rado sucesso na obtenção das linhagens (maio de 2005), porém, artigo na revista Cell do mesmo mês, aponta que, novamente, as linhagens obtidas eram todas “doentes” e “incompatíveis para o uso terapêutico”. 7 Idem. 8 Em princípios de junho de 2005, James Battey, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde de Bethesda, Maryland, EUA, divulgou nota afirmando que estaria conseguin- do obter células-tronco embrionárias através de células adultas. Cf. O Estado de S.Paulo, 8 jun. 2005, p. A22. 9 Cf. “Marco político e científico: entrevista com Mayana Zatz”, Agência Fapesp, 10/ 3/2005. Boletim eletrônico: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_ dentro. php?id=3400. 10 Cf. Mayana Zataz, op. cit.. 11 Cf. Anne Fagot-Largeault, op. cit.. Segundo a autora, “Não se trata de argumentar que o embrião humano, desde seus primeiros estágios de desenvolvimento, é objeto de respeito, portanto intocável. O respeito, no sentido kantiano, destina-se ao agente moral, isto é, a um ser capaz de se autodeterminar, de se comportar segundo a repre- sentação que ele tem do imperativo moral. Um embrião no estado de blastocisto não tem autonomia moral...” (p. 240). 12 Cf. Vicent Bourguet, O ser em gestação; reflexões bioéticas sobre o embrião humano, São Paulo, Loyola, 2002 e Jean Bernard, Da biologia à ética, Campinas, Editorial Psy, 1994. Referências bibliográficas BERNARD, Jean. Da biologia à ética. Campinas, Editorial Psy, 1994. BOURGUET, Vicent. O ser em gestação; reflexões bioéticas sobre o embrião humano. São Paulo, Loyola, 2002. FARGOT-LARGEAULT, Anne. “Embriões, células-tronco e terapias celulares: ques- tões filosóficas e antropológicas”. Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004, pp. 227- 245. FREED CR., “Will Embryonic Stem Cells be a Useful Source of Dopamine Neurons for Transplant into Pacients with Parkinson’s Disease?” Proceedings of the National Academy of Sciences. vol. 99, 2002, pp. 1755-1757. MRAÑÓN, Gregorio. “Crítica de la medicina dogmática”. Em Vocación y Ética y otros ensayos. Madrid, Epasa-Calpe, 1966. MARX, J. “Mutant Stem Cells May Seed Cancer”. Science, vol. 301, 2003, pp. 1308- 1310. MORTALLA, N. L. “La clonación terapéutica: ni clonación, ni terapéutica, ni necesaria”. ABC, Madrid, 3 mar. 2005. ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005 259
  • 9. PORCIONATTO, Marimélia A. Projeto Genoma: uma leitura atenta do livro da vida? Dissertação de Mestrado, São Paulo, PUC-São Paulo, 2001. VALK-LINGBEEK, M. E.; BRUGGEMAN S.W. e VAN LOHUIZEN, M. “Stem Cells and Cancer: The Polycomb Connection”. Cell, vol. 118, 2004, pp. 409-418. ZATS, Mayana, “Clonagem e células-tronco”. Estudos Avançados 51, maio-ago. 2004, pp. 247-256. RESUMO – PARTINDO da perspectiva da “crítica da medicina dogmática” de Gregorio Ma- rañón, o artigo pretende discutir o tema da pesquisa com as células-tronco à luz de con- siderações científicas, filosóficas e éticas que nem sempre são levadas em conta pela maioria dos trabalhos que vem sendo publicados. É necessário analisar os posicionamentos científicos sobre esta questão no cenário político, ideológico e histórico que nos envolve. PALAVRAS-CHAVE: Bioética, Células-Tronco, História e Filosofia da Ciência. ABSTRACT – ROOTED in Gregorio Marañón’s “critique of dogmatic medicine”, this essay discusses stem cell research from the viewpoint of scientific, philosophical and ethical considerations that most published works do not always take into account. It is incumbent that scientific positions on this issue be analyzed in light of the political, ideological and historical scenarios in which we are immersed. KEY-WORDS : Bioethics, Stem Cells, History and Philosophy of Science. Dante Marcello Claramonte Gallian é doutor em História Social pela FFLCH-USP, diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde (CeHFi) da Unifesp e membro do Núcleo Interdisciplinar de Bioética (NIBio) da Unifesp. @ – dante.dac @epm.br Recebido em 21.7.05 e aceito em 3.8.05. 260 ESTUDOS AVANÇADOS 19 (55), 2005