1. CAMINHADA DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO REINO
DO MUR
Período 2011-2012
9ª ETAPA
SEXUALIDADE E AFETIVIDADE
APRESENTAÇÃO
Colocamos à disposição dos participantes dos Grupos de Partilha de
Profissionais (GPP), do Ministério Universidades Renovadas (MUR), mais um
módulo de formação referente ao biênio 2011/2012, cujo tema é: “Sexualidade
e Afetividade”. Esse é o quarto de sete temas propostos para serem estudados
ao longo desse período em nossas comunidades. Em seu conjunto,
contemplam-se as quatro dimensões ou aspectos da formação indicados no
Documento de Aparecida: espiritual, humana, doutrinário e missionário-pastoral
e destacados em nosso texto-base. Esperamos, com isso, que os diversos
temas, selecionados de acordo com pesquisa realizada entre membros dos
GPPs de todo o Brasil, reunidos no ENUR/2010 no mês de setembro em
Brasília, contribuam para robustecer os cinco pilares que sustentam nossas
comunidades e promover o crescimento das mesmas.
É nosso objetivo, conforme o texto base dos Grupos de Partilha de
Profissionais, “Formar integralmente, na força do Espírito Santo, homens e
mulheres novos, que sejam discípulos missionários de Jesus Cristo, capazes
de beber cotidianamente da Palavra, confrontando e unindo fé e vida, fé e
razão, oração, reflexão e ação; de estabelecer relações humanas profundas e
frutuosas; de dialogar com as instituições e com a cultura do nosso tempo,
rumo à civilização do amor”. Temos por pressuposto que o estudo, assim como
a oração e a partilha que o acompanham, proporciona-nos entrar na intimidade
do Senhor, ouvir sua voz, fortalecer nossos grupos e encorajar nossa missão
evangelizadora na sociedade. Trata-se, portanto, de uma “ferramenta
2. poderosa” na formulação e comunicação contínua das “razões de nossa
Esperança” e de nossa Fé (1Pe 3.15).
Almejamos, enfim e mais amplamente, em comunhão com todos os
ministérios e serviços da Renovação Carismática Católica, avançar para
“águas mais profundas” e atentos à Palavra do Senhor, “lançar nossas redes”
para uma pesca abundante (Lc, 5, 1-11) e perene.
Segue abaixo um novo cronograma para os temas programados para
o biênio 2011/2012.
2011
Janeiro, Fevereiro e
Março/2011
Abril, Maio e Junho/2011 Oração e escuta (Espiritual)
Julho, Agosto e Vocação e missão dos leigos na
Setembro/2011 Igreja e no mundo (Doutrinária)
Novembro, Dezembro/2011 e Administração da vida (Humana)
Janeiro/2012
2012
Fevereiro, Março e Abril/2012 Sexualidade e afetividade (Humana)
Maio, Junho e Julho/2012 Cura interior (Espiritual)
Agosto, Setembro e Fé e razão (Doutrinária)
Outubro/2012
Novembro e Dezembro/2012 Planejamento de projetos, captação
de recursos e dízimo
(Pastoral/Missionária)
Obs.: O tema referente à dimensão Pastoral/Missionária: “Eclesiologia: ser
Igreja no novo milênio”, inicialmente programada para Out a Dez/2011, será
incluído, oportunamente, em programações futuras.
3. PROPOSTAS DE ENCAMINHAMENTOS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Esperamos uma recepção criativa e crítica dos textos que
apresentamos. Deste modo, é importante que os conteúdos sejam discutidos,
refletidos e meditados de acordo com o contexto que sabemos sempre singular
de nossas comunidades. Deve-se evitar, deste modo, que a formação aconteça
nos moldes de uma aula tradicional na qual alguém, do alto de sua cátedra,
ministre lições a uma classe passiva e descomprometida com o debate ou na
forma de pregação.
Ainda que seja necessária uma pessoa em especial para moderar as
discussões, estimulamos os participantes de nossas comunidades que os
momentos de formação ocorram, preferencialmente, na forma de um grupo de
estudo. Mesmo que seus membros possuam diferentes níveis de
sistematização dos conteúdos que compõem os diversos temas apresentados,
a experiência pessoal e as leituras anteriores que cada um dos participantes
possui devem ser valorizadas. É necessário, enfim, que haja um “clima
favorável” para o estudo, tais como, a título de contribuição, propomos a seguir:
Que os textos sejam disponibilizados com a devida antecedência e os
participantes estimulados a lê-los previamente;
Preparar espaços e tempos de qualidade para o estudo;
Divulgar bibliografia a respeito do tema, incentivando a “troca” de
referências e materiais (livros, artigos, vídeos etc.) entre os participantes
do estudo visando seu aprofundamento;
Reservar espaços apropriados para questionamentos: “cultivar a
dúvida” e propiciar um saudável ambiente de debate;
O estudo pode “continuar” em nossas listas de e-mails, podendo ser
disponibilizados outros textos afins considerados relevantes;
Procurar, sempre que possível, remeter os leitores aos textos das
Sagradas Escrituras como oportunidade de estudo da própria palavra;
Desenvolver o hábito do estudo e da reflexão é tão importante quanto o
estudo do tema em si.
4. SEXUALIDADE E AFETIVIDADE1
SEXUALIDADE E AFETIVIDADE – DOM DE DEUS
“Então Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que
eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas
as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra. E Deus criou o homem à sua
imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher.” (Gn 1, 26-27)
Deus é a origem de todas as coisas. Em sua onipotência, sabedoria e
em seu amor criou o universo, a Terra, a vida, o homem e a mulher.
Deus é amor (I Jo 4, 8) e nos criou, em um transbordamento de seu
amor, à sua imagem e semelhança; somos, assim, vocacionados a amar. Viver
o amor, segundo o que o Deus nos propõe é uma forma de viver a comunhão
com Ele. E é a comunhão com Deus que orienta nosso viver.
A vida é um dom de Deus, cada pessoa é razão de louvor a Deus, pois
sua existência é sinal do amor e do poder criador de Deus. A sexualidade e a
afetividade são dons de Deus que dignificam os seres humanos e os fazem
colaboradores na obra criadora de Deus e em Seu plano de amor para toda a
humanidade.
A sexualidade não se confunde com genitalidade, nem com
sexo, nem com órgãos sexuais. Esses são componentes, mas a
realidade mais profunda é constituída por uma energia, ou seja,
uma força que nos impele ao encontro dos outros. Deus nos fez
sexuados para facilitar a comunicação e a comunhão. Outra
maneira de dizer que somos sexuados é dizer: Graças a Deus
fomos feitos por amor e para o amor (Mozer, 2004).
Fomos feitos para o amor, somos chamados a amar e a irmos ao
encontro do outro. Deus nos convida a criarmos laços afetivos e estarmos em
comunhão com Ele no amor. Os dons que o Senhor nos deu, a sexualidade e a
1
Este módulo foi elaborado por Leandra Alonso da Silva.
5. afetividade, são dádivas que, se bem vividas, nos levam a uma vida de
santidade e nos torna colaboradores no plano de Deus para a humanidade.
E o que a Igreja nos diz sobre o dom da sexualidade? De acordo com
o Catecismo da Igreja Católica no número 2332:
A sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na
unidade de corpo e alma. Diz respeito particularmente à
afetividade, à capacidade de amar e procriar e, de uma maneira
mais geral, à aptidão de criar vínculos de comunhão com os
outros.
Cada ser humano possui uma vivência pessoal e única de sua
sexualidade e afetividade, visto que cada um tem um modo próprio de ser, de
se comunicar, de sentir etc. O ser homem e o ser mulher exprimem essa
diferença de vivência da afetividade e da sexualidade e manifestam, também, a
unidade entre a dimensão corporal e espiritual que essa mesma vivência
contempla.
A sexualidade, portanto, não diz respeito apenas à dimensão biológica
e corporal do/da homem/mulher; diz respeito, também, à subjetividade humana.
Existe, certamente, uma maneira pessoal e única de amar, reagir, sentir, de
criar laços afetivos, de pensar. A sexualidade é algo que deve estar integrado
na dinâmica geral da pessoa, ou seja, revela-se na sua maneira de se vestir,
de se relacionar, nas manifestações de carinho etc. A experiência de
relacionar-se compreende, vale repetir, a dimensão corporal, espiritual, enfim,
todo o ser.
A sexualidade, como podemos observar no texto que transcrevemos a
seguir, tem sua finalidade também no aspecto social:
[...] o Evangelho da Sexualidade parte do pressuposto de que
ela é sempre um dom de Deus e, como tal, entra em cheio nos
projetos de Deus. Ao criar-nos como sexuados, Deus nos fez
assim, não por engano ou de maneira temerária, mas para
propiciar-nos o crescimento numa tríplice dimensão pessoal,
social e transcendente. Na dimensão pessoal, a sexualidade
encontra-se a serviço da personalização, ou seja, é uma energia
que nos torna pessoas únicas e originais, à exata medida que
nos empurra ao encontro do diferente, do outro. Na dimensão
social, a sexualidade abre-se ao serviço da construção de uma
6. nova humanidade: não aquela do ódio e da destruição, mas
aquela que derruba todos os muros e preconceitos [...] (Mozer,
2004).
Jesus assumiu em tudo a condição humana, exceto no pecado. Deste
modo, a sexualidade e a afetividade foram também assumidas pelo filho de
Deus que se fez homem. Jesus, como podemos observar na leitura dos
evangelhos, demonstrava seus sentimentos: ele chorou e se alegrou, se
decepcionou, foi firme exercendo autoridade, teve amizades e afeição pelas
pessoas. Jesus propôs, a partir de sua palavra e de sua proposta de vida, que
rompia com toda hipocrisia e exclusão, a construção de uma nova humanidade.
Jesus assumiu o ser humano de forma integral. A sexualidade a
afetividade como parte desse todo é um dom que precisa ser cuidado e
valorizado, é uma fonte de graça para a construção do Reino de Deus.
Para oração, reflexão e partilha:
A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos [...] o contato com a
natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade
vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia
como sinais de seu sincero amor. (Documento de Aparecida, 356)
Vamos agradecer a Deus por nos ter criado, pela nossa existência, por
sermos homem ou mulher, pelos dons que nos oferece e, entre eles, a
afetividade e a sexualidade. Vamos agradecer a Deus pela nossa capacidade
de nos afeiçoarmos uns aos outros e de amar.
Partindo do exemplo de vida de Jesus, como vivemos esse belíssimo
dom da sexualidade a da afetividade com que Deus, em seu amor, nos
presenteou? Vamos ao encontro do outro? Qual a qualidade dos laços afetivos
que criamos?
CASTIDADE
Segundo o Catecismo da Igreja Católica no número 2337:
7. A castidade significa a integração correta da sexualidade na
pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser
corporal e espiritual. A sexualidade na qual se exprime a
pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se
pessoa e verdadeiramente humana quando é integrada na
relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e
temporariamente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da
castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a
integralidade da doação.
A vivência da castidade é o reconhecimento de si e do outro como um
ser sagrado e templo do Espírito Santo, é relacionar-se consigo mesmo e com
os outros os respeitando e amando-os em sua dignidade de filhos de Deus. A
pessoa casta não é centrada em si mesma e não mantém relações egoístas,
abre-se para viver o seu corpo e a sexualidade como dom de Deus. Inserida na
experiência da fé, a castidade implica em renúncia de paixões, pensamentos e
atitudes, é expressão de responsabilidade para consigo mesmo e para com os
outros. A castidade é virtude de todos os estado de vida e também expressão
do amor da pessoa a Deus.
Os dons do Espírito Santo, o desejo de viver a palavra, de buscar o
Senhor e de estar em comunhão com Ele cria condições para a vivência da
castidade. Contamos com a força de Deus e com auxílio do Espírito para
levarmos adiante uma vida casta. É o próprio Senhor que nos convence da
beleza de viver a castidade, é Ele quem assegura as condições para Vivenciá-
la e quem nos suporta.
Para reflexão e partilha:
A vontade de Deus, expressa nas palavras da Igreja é
frequentemente apresentada pelos meios de comunicação em geral, como
conservadora. Os desafios pessoais e comunitários enfrentados pelos cristãos
para a vivência da castidade são, assim, enormes: Quais são os desafios
sociais atuais para vivermos a castidade? Quais as lutas pessoais, os desafios
relacionados ao autodomínio e a renúncia que temos que viver? Nos meios em
8. que estamos inseridos – no trabalho, na família, na vida social – temos
conseguido testemunhar a fé cristã católica?
CONTEXTO CULTURAL
Os padrões de relacionamento que caracterizam nosso cotidiano na
atualidade são, muitas vezes, pautados em interesses imediatos e na
possibilidade de retribuições. São marcados, frequentemente, pela busca de
satisfação pessoal. Vivemos, deste modo, um tempo em que as relações
pessoais têm a característica da superficialidade; as pessoas travam
relacionamentos curtos e aparentes, de acordo com o que é mais satisfatório
ou vantajoso, não se comprometem umas com as outras, não buscam
conhecerem-se mais profundamente e, assim, assumir o chamado de Deus de
ser dom para o outro.
Além disso, vivemos em um mundo em que as pessoas prezam
excessivamente pelo imediato, tudo precisa ser rápido; o trabalhador bom é
avaliado pela produção gerada em um curto período de tempo, o computador
precisar trabalhar rapidamente. Não sabemos esperar por nada: qualquer coisa
que tenha um processo diferente do imediato nos parece lento, monótono,
enfadonho. Rapidamente os objetos se tornam obsoletos, queremos sempre
algo mais novo, mais potente ou mais ágil. Em suma, segundo o Documento de
Aparecida, uma das marcas da cultura atual é valorização do descartável e do
provisório.
A fragmentação da concepção integral do homem na sua relação com
o mundo e com Deus distorce a verdade sobre o homem e pode conduzi-lo a
caminhos destrutivos. O individualismo característico do nosso tempo justifica a
busca de satisfações individuais e imediatas em lugar do bem do outro.
O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe
uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel
primordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos e
tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual
se concebe fixado no próprio presente, trazendo concepções de
inconsistência e instabilidade. Deixa-se de lado a preocupação
pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos
9. dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários
direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das
enfermidades e da morte. [...] Prefere-se viver o dia-a-dia, sem
programas a longo prazo nem apegos pessoais, familiares e
comunitários. As relações humanas estão sendo consideradas
objetos de consumo, conduzindo as relações afetivas sem
compromisso responsável e definitivo (Documento de Aparecida
n. 44 e 46).
As características da sociedade atual se refletem, evidentemente, nos
relacionamentos pessoais: as pessoas dizem umas para outras que o amor
acabou, unem-se e separam-se rapidamente, descartam pessoas motivadas a
viver uma experiência nova e descompromissada.
É necessário, assim, à luz da Palavra de Deus, lançar um olhar crítico
sobre a sociedade atual. É prudente que julguemos, sob essa Luz, os modos e
padrões de relacionamento que são apresentados.
Os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens; Ele
[Deus] nos convida a viver um amor sublime, a enxergar os outros como
imagem e semelhança Sua. Cristo nos revelou o amor que edifica o outro, que
o eleva e o introduz em um caminho de felicidade e santidade. Esse amor o
Senhor nos convida a viver em qualquer estado de vida, em todas as vocações
que há na igreja.
A sexualidade, enquanto modalidade de relacionamento tem como fim
o amor, ela é plenamente realizada no amor. Na atualidade, a dimensão da
sexualidade e da afetividade humana, como algo que abrange os diferentes
aspectos da pessoa, está fragmentada. Percebemos na fala das pessoas ou na
mídia, um jeito de viver no qual as relações humanas são superficiais; o sexo é
banalizado, separado do amor e vivido em relações sem solidez que
rapidamente se desfazem. O corpo humano, que é sagrado e templo do
Espírito Santo, torna-se objeto de sedução e prazer.
O gênero sexual é um elemento constitutivo da pessoa humana e
também um diferenciador. O corpo humano, seu sexo, a masculinidade e a
feminilidade integram dimensões da sexualidade e afetividade humana que se
expressam no ser homem e no ser mulher. Trata-se de um dom que realiza o
10. sentido de ser e existir da pessoa humana. O Catecismo da Igreja Católica no
número 364 afirma:
O corpo2 do homem participa da dignidade da imagem de
Deus, ele é corpo humano precisamente porque é animado
pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está
destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do
Espírito.
Para reflexão e partilha:
Quais as influências da sociedade atual em nossas vivências de um
modo geral e, particularmente, sobre o exercício da castidade? O que
pensamos sobre as características de nossa sociedade? Como nos inserimos e
vivemos em meio a essa realidade?
ENCONTRO COM DEUS
Quando Israel era jovem comecei a amá-lo e do Egito chamei meu filho.
Quanto mais o chamava, tanto mais ele corria de mim (Oséias 11,1)
O Senhor deseja nos conduzir e nos ensinar a amá-lo para, a partir
dessa experiência, irmos ao encontro dos outros. É necessário, em primeiro
lugar, deixar-se amar; não nos fechemos em nossas dificuldades e barreiras
para vivenciar uma afetividade plena. A vivência madura de nossa afetividade
leva-nos a estarmos disponíveis ao amor. Com serenidade e simplicidade, a
gostar dos sinais de afeto que os outros demonstram e de estabelecer relações
humanas profundas e sadias (CENCINI, 2002).
Todo ser humano quer e precisa ser amado em sua singularidade. É
fundamental, deste modo, que todo ser humano seja “tocado” por um amor que
acolhe, compreende, edifica e o leve a conhecer e desenvolver suas
2
Os números 1004 e 2031 do Catecismo também fazem referência ao corpo e nos ajuda a
compreender sua dimensão na vivência da fé.
11. potencialidades. Olhando o mundo ao nosso redor, nas letras das músicas
seculares, por exemplo, percebemos o anseio das pessoas por amor e
felicidade; mas muitas vezes a forma de amar vivida pelos homens gera
escravidão, sofrimentos, infelicidades e pode até se tornar um vício.
As pessoas buscam incessantemente o amor e muitas vezes se iludem
porque partem da premissa de satisfazer suas necessidades pessoais, de
serem amadas; Essa busca excessiva do amor, em seu egoísmo, escraviza e é
ilusória; quanto mais buscamos a nossa própria satisfação, mais exigentes
seremos e menos saciados estaremos. A desconfiança, a raiva, o ciúme
podem fazer adoecer o amor e os nossos relacionamentos. Fomos criados
para a felicidade e a realização pessoal; somos chamados a buscá-la [a
felicidade], mas apenas a “experiência transcendente” nos leva ao verdadeiro
sentido do amor.
Pensemos, mais uma vez, na realidade atual e na forma como as
pessoas se relacionam em geral e buscam seus pares: O que orienta as
pessoas? Quais são os critérios para relacionar-se?
Muitas pessoas se unem a outras na busca de sua própria satisfação,
ou de vantagens, se preocupam excessivamente consigo mesmas. De acordo
com Cencini (2002), essas pessoas estão presas ao nível da relação
meramente corporal e muitas vezes, o relacionamento com esse parâmetro
traz problemas na área afetivo-sexual.
Viver o corpo como um dom é viver a renúncia, a doação de si, até de
suas qualidades físicas como um dom a serviço do verdadeiro ideal. Ou seja, é
realizar aquilo que o homem realmente é e que é chamado a ser. O corpo
como dom e não como posse, nos leva à coragem da entrega de si, do
martírio, do comprometimento.
Aqueles que são chamados ao matrimônio vivem a doação de si em
todas as dimensões de seu ser a fim de realizarem-se plenamente e, ao
mesmo tempo favorecer a plena realização do outro. As pessoas que são
chamadas a uma vida consagrada exclusivamente a Deus, oferecem também o
corpo como dom. A renúncia, neste caso, da dimensão genital dimensiona a
12. afetividade para além do componente corporal. Segundo Cencini (2002) a
“superação” da dimensão corporal e o abster-se do prazer genital conduz a
pessoa a viver alegrias profundas do relacionamento humano.
O verdadeiro amor liberta nosso coração e nos leva a amar de maneira
desinteressada. A decisão por essa forma de amar nos conduz a sentirmos
amados; ensina-nos, de forma generosa, a doar-nos e sermos capazes de
receber. Perceberemos o quanto somos amados e isso nos trará grande
alegria: “quando alguém ama aí Deus se faz presente” (Cencini, 2002).
O verdadeiro amor compreende a outra pessoa na sua singularidade e
na sua diferença, acolhe-a. É o amor que sustenta esse processo porque
aceita e acolhe a pessoa como ela realmente é e não como uma imagem ou
algo que gostaria que fosse. Deus nos convida a amar os outros como Ele nos
ama e fazer uma experiência com Ele, não apenas com o intuito de satisfazer
nossa necessidade pessoal, mas para nos abrirmos ao outro.
Jesus respondeu: O primeiro de todos os mandamentos é
este: [...] que ame ao Senhor seu Deus com todo o seu
coração, com toda a sua alma, com todo o seu
entendimento e com toda a sua força. O segundo
mandamento é este: Ame o seu próximo como a si mesmo.
(Mc 12,29-31).
Aquele que ama relaciona-se de forma benévola com tudo e com
todos: consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo a sua volta. É a
pessoa que acolhe, contempla e faz bem a todos que dela se aproximam; a
pessoa que ama é misericordiosa e branda. Jesus em sua humanidade
acolheu as crianças, foi misericordioso com os pecadores, envolvia e cativava
os que estavam a sua volta com sua palavra, com seu olhar de ternura, com
seu zelo com as pessoas e com toda sua humanidade. Jesus, de braços
abertos na cruz – com essa atitude de liberdade – nos comunica seu amor
infinito.
Deus atrai o ser humano para Si, é apaixonado por ele e quer
conquistá-lo. Há vários relatos nos textos bíblicos que ilustram o encontro de
Deus com os homens e como estes, numa relação intensa e amorosa, foram
13. seduzidos por Ele. É o caso, por exemplo, do profeta Jeremias e Isaias e do
apóstolo Paulo. Todavia, o Amor de Deus é exigente, pede renúncia, nos põe a
prova, nos propõe a cruz. Tudo isso será vivido com nossa decisão de
abraçarmos e nos apaixonarmos por Deus. Trata-se de uma resposta a quem
nos amou primeiro e nos convida a uma relação de amor: “Com amor eterno te
amei; por isso mantive por tanto tempo a fidelidade a ti”. (Jr 31,3)
O amor incondicional e absoluto é atributo apenas do amor divino. Por
mais bem sucedida que seja uma experiência afetiva e amorosa, (não falo
apenas de relacionamento entre homem e mulher, mas dos nossos
relacionamentos com a família, com os amigos e com a comunidade) ela terá
os seus limites porque somos humanos e temos nossas fraquezas; ninguém é
capaz de nos amar como o Senhor nos ama. Assim, mergulhar no amor de
Deus é condição fundamental para construirmos relacionamentos saudáveis e
duradouros.
A felicidade que cada pessoa busca e necessita, voltamos a afirmar,
não está nas pessoas ou nas coisas. É imprescindível um encontro pessoal
com Deus, deixar-se amar por Ele e, a partir desse encontro, dessa intimidade,
seremos impelidos pelo Senhor a irmos ao encontro daqueles que Ele mesmo
proporciona para vivermos a aventura, a beleza e a ousadia de amar e de se
relacionar.
O aspecto humano do amor de Deus por nós manifestou-se na pessoa
de Jesus. Deixemo-nos fascinar pela pessoa de Jesus, é Ele quem torna plena
nossa vida, muda-a, nos faz verdadeiramente livres, toca profundamente nosso
coração com sua Palavra que ilumina todos os aspectos de nosso ser e nos dá
um novo sentido à vida.
Os místicos, alguns santos, por exemplo, tiveram uma experiência com
Deus de forma a abranger a sexualidade; os místicos não dissociam
espiritualidade de sexualidade, a experiência do amor de Deus envolve,
portanto, todo o ser.
O termo experiência mística significa a experiência daquilo que Deus
realiza em nós, é a ação misteriosa de Deus em nós (CENCINI, 2002). É
14. necessário que a pessoa se disponha, em atitudes concretas, a acolher a ação
de Deus. Que a oração diária, nossa intimidade e amizade com Deus, nos
transformem e nos convençam a respeito daquilo que realmente somos e, que
nos façam ouvir com clareza, nosso chamado.
Oração e reflexão
Contemplemos Jesus, em sua humanidade e em seus inúmeros
encontros com as pessoas. Deixemo-nos amar por Ele, deixemos que Seu
olhar e suas palavras nos envolvam e nos cure.
Convido a todos a meditarmos nessa passagem:
“Tu és meu filho amado, em ti encontro o meu agrado” (Mc 1,11)
Nós somos filhos amados do Senhor e Ele se afeiçoa a cada de um
nós.
Que o nosso coração se abra à experiência do Amor de Deus. Que
esse amor invada os abismos de nossa alma, percorra conosco a nossa
história, cure nossa sexualidade e afetividade, nos ilumine e nos conduza a
uma vida nova.
REFERÊNCIAS
CENCINI, Amedeo. Amarás o Senhor teu Deus. Tradução M. T. Voltarelli. São
Paulo, Paulinas, 2002.
COELHO, Márcio Marcelo. Sexualidade: o que os jovens sabem e pensam.
São Paulo: Editora Canção Nova, 2010.
GRÜN, Anselm. Abra o seu coração para o amor; tradução Sidnei Vilmar Noé –
Petropólis, RJ: Vozes, 2010.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola/Vozes/Paulinas/Ave
Maria/Paulus, 1998.
Conselho Pontifício para a Família. Sexualidade Humana: Verdade e
Significado. Orientações Educativas em Família. Paulinas, 2009.
15. Conselho Episcopal Latino Americano. Documento de Aparecida. Texto
Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do
Caribe. 13-31 de maio de 2007. Edições: Paulus, Paulinas e CNBB.
Mozer, Frei A. Sexualidade: Felicidade ao alcance de todos. Vida Pastoral de
nov./dez. de 2004.
Sugestões de leitura
AQUINO, F. R. Q. Família, Santuário de Vida – Vida Conjugal e Educação dos
Filhos. 9ª Ed. São Paulo, Ed. Cleófas.
LÉO, Padre. Sede fecundos. 12 ed. São Paulo: Canção Nova, 2008.
MOHANAM J. A Vida Sexual dos Solteiros e Casados. São Paulo: Edições
Loyola, 4 edição, 2009.
AGOSTINI, N. Sexualidade e realização humana: a proposta da igreja católica
Religião e Cultura (PUC-SP), vol. VII, n° 13, junho de 2008, p. 71-82.