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2009-2010
Teus Olhos 
Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
Outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.
Octavio Paz, in Liberdade sob Palavra
                                            Fernando Pessoa




Tradução de Luis Pignatelli



Olhos 
Olhos:
brilhantes da chuva que caiu
quando Deus me mandou beber.
                                                              George Underwood, Left Eye
Olhos:
ouro, que a noite me contou nas mãos,
quando colhi urtigas
e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.
Olhos:
noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão
e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes




                                                                                                       Rafal Olbinski
saltei pelos lugares da eternidade.
Paul Celan, in Papoila e Memória
                                                                                           2009-2010




Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno
2009-2010
          Imagens que Passais pela Retina                                                             De Quem é o Olhar
                                                                                                      De quem é o olhar
Imagens que passais pela retina                                                                       Que espreita por meus olhos?
Dos meus olhos, porque não vos fixais?                                                                Quando penso que vejo,
Que passais como a água cristalina                                                                    Quem continua vendo
Por uma fonte para nunca mais!...                                                                     Enquanto estou pensando?
Ou para o lago escuro onde termina                                                                    Por que caminhos seguem,
Vosso curso, silente de juncais,                                                                      Não os meus tristes passos,
E o vago medo angustioso domina,                                                                      Mas a realidade
— Porque ides sem mim, não me levais?                                                                 De eu ter passos comigo?
Sem vós o que são os meus olhos abertos?
— O espelho inútil, meus olhos pagãos!                                                                Às vezes, na penumbra
Aridez de sucessivos desertos...                René Magritte (1898-1967),                            Do meu quarto, quando eu
Fica sequer, sombra das minhas mãos,              O Espelho Falso, 1928                               Por mim próprio mesmo
Flexão casual de meus dedos incertos,                                                                 Em alma mal existo,
— Estranha sombra em movimentos vãos.
                                                                                                      Toma um outro sentido
Camilo Pessanha, in Clepsidra                                                                         Em mim o Universo —
                                                                                                      É uma nódoa esbatida
Olhar e Chorar                                                                                        De eu ser consciente sobre
       Not                 ável criatura são os olhos! Admirável instrumento da
                                                                                                      Minha ideia das coisas.
natureza;                  prodigioso artifício da Providência! Eles são a primeira                                                     Rafal Olbinski
origem da                  culpa; eles a primeira fonte da Graça. São os olhos duas
                                                                                                      Se acenderem as velas
víboras,                   metidas em duas covas, e que a tentação pôs o veneno, e
                                                                                                      E não houver apenas
a                          contrição a triaga. São duas setas com que o Demónio se arma
                                                                                                      A vaga luz de fora —
para nos                   ferir e perder; e são dois escudos com que Deus depois
                                                                                                      Não sei que candeeiro
de feridos                 nos repara para nos salvar. Todos os sentidos do homem
                                                                                                      Aceso onde na rua —
têm um só ofício; só os olhos têm dois. O Ouvido ouve, o Gosto gosta, o Olfacto
                                                                                                      Terei foscos desejos
cheira, o Tacto apalpa, só os olhos têm dois ofícios: Ver e Chorar. Estes serão os
                                                                                                      De nunca haver mais nada
dois pólos do nosso discurso.
                                                                                                      No Universo e na Vida
     Ninguém haverá (se tem entendimento) que não deseje saber por que ajuntou
                                                                                                      De que o obscuro momento
a Natureza no mesmo instrumento as lágrimas e a vista; e por que uniu a mesma
                                                                                                      Que é minha vida agora!
potência o ofício de chorar, e o de ver? O ver é a acção mais alegre; o chorar a
mais triste. Sem ver, como dizia Tobias, não há gosto, porque o sabor de todos
                                                                                                      Um momento afluente
os gostos é o ver; pelo contrário, o chorar é o estilado da dor, o sangue da alma,
                                                                                                      Dum rio sempre a ir
a tinta do coração, o fel da vida, o líquido do sentimento. Por que ajuntou logo
                                                                                                      Esquecer-se de ser,
a natureza nos mesmos olhos dois efeitos tão contrários, ver e chorar? A razão
                                                                                                      Espaço misterioso
e a experiência é esta. Ajuntou a Natureza a vista e as lágrimas, porque as
                                                                                                      Entre espaços desertos
lágrimas são consequência da vista; ajuntou a Providência o chorar com o ver,
                                                                                                      Cujo sentido é nulo
porque o ver é a causa do chorar. Sabeis porque choram os olhos? Porque vêem.
                                                                                                      E sem ser nada a nada.
                                                                                          2009-2010




                                               Padre António Vieira, in Sermões                       E assim a hora passa
                                                                                                      Metafisicamente.
                                                                                                                                            Rafal Olbinski
                                                                                                      Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Fuga




                                                                        2009-2010
O músico procura
Fixar em cada verso
O cântico disperso
Na luz, na água e no vento.

Porém, luz, vento e água
Variam riso e mágoa,
De momento a momento.

E em vão a área dos dedos
Se eleva! Não traduz
Os súbitos segredos
Escondidos no vento,
Nas águas e na luz...

Pedro Homem de Mello, in Segredo
                                   Rafal Olbinski

Pobre Velha Música!

Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas                                Fernando Pessoa
Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:




                                                                                    Rafal Olbinski
Fui-o outrora agora.

Fernando Pessoa, in Cancioneiro
                                                                        2009-2010




                                                       Rafal Olbinski
2009-2010
Uma Gargalhada de Raparigas
                                                                                                                     DIÁLOGOS E ANALECTOS
Uma gargalhada de raparigas soa do ar da estrada.
Riu do que disse quem não vejo.
Lembro-me já que ouvi.                                                                                                           Antelóquio
Mas se me falarem agora de uma gargalhada de rapariga da estrada,
Direi: não, os montes, as terras ao sol, o Sol, a casa aqui,                                      Aprendiz – Como posso ouvir-te? Como posso entender-te?
E eu que só oiço o ruído calado do sangue que há na minha vida dos dois                                      Como soa a tua voz quando me falas?
lados da cabeça.                                                                                                                                                  Jacek Yerka
                                   Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa),
                                             in Poemas Inconjuntos
                                                                                                  Silêncio – Soa tal como a tua quando me pronuncias.
                                                                                                             E, se me pronuncias, como podes tu não me escutar?
                                                                                                             Não há música ou palavra que não me contenha;
O Suporte da Música                                                                                          Desenho contornos, preencho vazios
                                                                                                             Dou tempo ao tempo para que o sentido flua.
o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
                                                                                                  Aprendiz – Talvez seja por isso que o mundo me parece cheio de música
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
                                                                                                             Sobretudo quando o encontro dentro de um livro
olhares encontrando-se, ou das suas
                                                                                                             Ou penso estar a criá-lo quando escrevo.
                                                                                                             Talvez seja por isso que as palavras parecem brotar
vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
                                                                                                             De todas as coisas que existem ou penso.
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
                                                                                                             Ora cantam, ora voam, ora se calam…
crescendo como trepadeiras entre eles.
                                                                                                             E, no entanto, continuo sempre a ouvi-las…
o suporte da música pode ser uma apetência
                                                                                                             Será apenas a ti que ouço?
dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
                                                                                                  Palavra – O que farás agora comigo?
ramifica entre os timbres, os perfumes,
                                                                                                            Não te menosprezes.
mas é também um ritmo interior, uma parcela
                                                                                                            O que seria o mundo sem os aprendizes?
do cosmos, e eles sabem-no, perpassando                             Rafal Olbinski                          Escuta todos os silêncios.
                                                                                                            É na minúscula centelha do teu ser que eu sou eterna.
por uns frágeis momentos, concentrado
                                                                                                            O que serias tu sem a minha eternidade
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
                                                                                                            Para interrogar e criar permanentemente?
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.
                                                                                                  Silêncio – Por que insistes em chamar-me silêncio,
                                                                                                             Se não paras de me escutar, de me falar, de me dizer.
Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos
                                                                                                             Bem sabes que não sou mais do que as palavras que nascem de ti.

                                                                                                                                                   Suy, Diálogos e Analectos
                                                                                     2009-2010




                    «A música é o barulho que pensa.»
                                 Victor Hugo
Os Cinco Sentidos




                                                                                                2009-2010
Os nossos sentidos
Já tos vou distinguir
Com palavras excelentes,
- Escuta, amor, se queres ouvir.
O primeiro era ver
Tua boquinha a falar.
Que linda cara para beijos,
Se os quisesses aceitar.
Segundo era ouvir,
Gosto de ouvir novas tuas,
Trago-te no pensamento
Muito mais do que tu cuidas.
Terceiro era cheirar,
Tu cheiras mesmo a rosa
Oh que lindos olhos tens!
Oh que cara tão formosa!
O quarto era gostar,
Que gostos posso eu ter,
Ausente do teu amor
Mais me valia morrer.
                                                Charles West Cope, 1811-1890, The Thorn, 1866
O quinto apertar
As tuas mãos com as minhas.                               AFORISMOS
Havemos de ir à igreja                          «A rosa tem espinhos que o olfacto ignora.»
Trocar nossas palavrinhas.                      Rui de Morais, in Do Riso das Insónias, 2007

(poema tradicional da Beira Baixa,         «O instinto é o olfacto da mente.»
Rochas de Baixo), Jaime Lopes Dias,                                  D. Gay de Girardin
Etnografia da Beira, 2ª edição, vol. V,
Lisboa, 1966.                              «A memória é o perfume da alma.»
                                                                          George Sand




                                                                                                            Robert Mapplethorpe
    «Aquilo a que a terminologia           «De todos os sentidos, a vista é o mais
    romântica     chama    génio   ou      superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto
    inspiração não é mais do que           o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso
                                                                                                2009-2010




    encontrar      empiricamente     o     e inconstante, o tacto o mais profundo.»
    caminho, seguir o próprio olfacto,                                      Denis Diderot
    tomar atalhos.»
               Italo Calvino
2009-2010
As Rosas Amo dos Jardins de Adónis                                                                       Quando Olho para Mim não Me Percebo
                                                                                                         Quando olho para mim não me percebo.
As Rosas amo dos jardins de Adónis,
                                                                                                         Tenho tanto a mania de sentir
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
                                                                                                         Que me extravio às vezes ao sair
Que em o dia em que nascem,
                                                                                                         Das próprias sensações que eu recebo.
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
                                                                                                         O ar que respiro, este licor que bebo,
Nascem nascido já o sol, e acabam
                                                                                                         Pertencem ao meu modo de existir,
Antes que Apolo deixe
                                                                                                         E eu nunca sei como hei de concluir
O seu curso visível.
                                                                                                         As sensações que a meu pesar concebo.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
                                                                                                         Nem nunca, propriamente reparei,
Que há noite antes e após
                                                                                                         Se na verdade sinto o que sinto. Eu
O pouco que duramos.
                                                                         Walter Pfisterer,
                                                                                                         Serei tal qual pareço em mim? Serei
 Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes
                                                                            Physalis
                                                                                                         Tal qual me julgo verdadeiramente?
Antes o Voo da Ave
                                                                                                         Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,                                                         Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
                                                                                                            Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.                                                         Ditosa Ave
A recordação é uma traição à Natureza,                                                                   Quem fosse acompanhando juntamente
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.                                                               Por esses verdes campos a avezinha,
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.                                                               Que despois de perder um bem que tinha,
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!in O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII
 Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa),                                                         Não sabe mais que cousa é ser contente!

                                                                                                         E quem fosse apartando-se da gente,
Passa uma Borboleta por Diante de Mim                                                                    Ela por companheira e por vizinha,
Passa uma borboleta por diante de mim                                                                    Me ajudasse a chorar a pena minha,
E pela primeira vez no Universo eu reparo                                                                E eu a ela também a que ela sente!
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.                                                            Ditosa ave! que ao menos, se a natura
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,                                                               A seu primeiro bem não dá segundo,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,                                                     Dá-lhe o ser triste a seu contentamento.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
                                                                                             2009-2010




A borboleta é apenas borboleta                                                                           Mas triste quem de longe quis ventura
E a flor é apenas flor.                                                                                  Que para respirar lhe falte o vento,                             Fonte: Dover
                                                                                                         E para tudo, enfim, lhe falte o mundo!
As Mãos




                                                            2009-2010
  Brandamente escrevem dos espasmos do sol.
 Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço
    de um revérbero no eixo dos ventos, usura
das máscaras que, sucessivamente, as transformam
    de consciência em cal ou metal obscuro.
    E já não é por si que a presença existe ou
  subsiste o que separa. Destroem as sementes,
  apodrecem como um sopro e não são remanso
  na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se
      à água, para serem raiz do que se cala
   e insinuam-se, para sempre, no pó da noite.
   Um castelo de pele tomba. Deixam de ser
  nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente,
     do termo da música o luto do silêncio.
      Orlando Neves, in Decomposição - o Corpo




                                                                        Rafal Olbinski
                                                            2009-2010




                                      Robert Mapplethorpe
CACIDA DA MÃO IMPOSSÍVEL




                                           2009-2010
                                                                           Não quero mais que uma mão,
                                                                                  mão ferida, se possível.
                                                                           Não quero mais que uma mão,
                                                                      inda que passe noites mil sem cama.
                                                                             Seria um lírio pálido de cal,
                                                                       uma pomba atada ao meu coração,
                                                                    o guarda que na noite do meu trânsito
                                                                            de todo vetaria o acesso à lua.
                                                                             Não quero mais que essa mão
                                                       para os diários óleos e a mortalha de minha agonia.
                                                                             Não quero mais que essa mão
                                                                          para de minha morte ter uma asa.
                                                                                       Tudo mais passa.
                                                                   Rubor sem nome mais, astro perpétuo.
                                                                          O demais é o outro; vento triste
                                                                   enquanto as folhas fogem debandadas.
                                                                  Federico García Lorca, in Divã do Tamarit
As Tuas Mãos Terminam em Segredo                                                      Tradução de Óscar Mendes


 As tuas mãos terminam em segredo.                                   Em Todas as Ruas te Encontro
  Os teus olhos são negros e macios                                       Em todas as ruas te encontro
Cristo na cruz os teus seios (?) esguios                                      em todas as ruas te perco
 E o teu perfil princesas no degredo...                                   conheço tão bem o teu corpo
                                                                                sonhei tanto a tua figura
 Entre buxos e ao pé de bancos frios                              que é de olhos fechados que eu ando
  Nas entrevistas alamedas, quedo                                                   a limitar a tua altura
 O vendo põe o seu arrastado medo                                            e bebo a água e sorvo o ar
  Saudoso o longes velas de navios.                                          que te atravessou a cintura
                                                                             tanto tão perto tão real
Mas quando o mar subir na praia e for                                   que o meu corpo se transfigura
  Arrasar os castelos que na areia                                       e toca o seu próprio elemento
 As crianças deixaram, meu amor,                                            num corpo que já não é seu
                                                                               num rio que desapareceu
 Será o haver cais num mar distante...                                  onde um braço teu me procura.
  Pobre do rei pai das princesas feias
                                           2009-2010




                                                                          Em todas as ruas te encontro
   No seu castelo à rosa do Levante!                                        em todas as ruas te perco.
     Fernando Pessoa, in Cancioneiro                                        Mário Cesariny, in Pena Capital
Dobrada à Moda do Porto




                                                                                2009-2010
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,




                                                                                            Anton Arkhipov, Coffee Break
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas
   «A fome só se satisfaz com a comida e a fome de imortalidade da alma
   com a própria imortalidade. Ambas são verdadeiros instintos.»
                                                                                2009-2010




Ayd, Bulgária, 2009                                           Fernando Pessoa
2009-2010




                                                                                                                                                                                                                                                     «Um homem com fome não é um homem livre.»
                                                                                                                                                 Miguel de Unamuno
                                                                                                    «A fome de cultura sentem-na muito poucos,
                                                                                                    muito menos do que os que crêem senti-la.»




                                                                                                                                                                                                                       Robert Stevenson, Discursos
                                                                  Christopher Gilbert

                          Gostava de Gostar de Gostar
Gostava de gostar de gostar.
Um momento... Dá-me de ali um cigarro,
Do maço em cima da mesa-de-cabeceira.
Continua... Dizias
Que no desenvolvimento da metafísica                                                                                                                                               Fred Wessel, Anticipating Bacchus
De Kant a Hegel
                                                                                                                                                                     Não só Vinho, mas nele o Olvido
Alguma coisa se perdeu.
Concordo em absoluto.                                                                               Não só vinho, mas nele o olvido, deito
Estive realmente a ouvir.                                                                           Na taça: serei ledo, porque a dita
Nondum amabam et amare amabam (Santo Agostinho).                                                    É ignara. Quem, lembrando
                                                                                                    Ou prevendo, sorrira?
Que coisa curiosa estas associações de ideias!
                                                                                                    Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Estou fatigado de estar pensando em sentir outra coisa.                                             Consigamos, pensando; recolhidos
Obrigado. Deixa-me acender. Continua. Hegel...                                                      No impalpável destino
                                                                                                    Que não 'spera nem lembra.
Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas                                         Com mão mortal elevo à mortal boca
                                                                                        2009-2010




                                                                                                    Em frágil taça o passageiro vinho,
                    «Hoje, setenta por cento da humanidade                                          Baços os olhos feitos
                                                                                                    Para deixar de ver.
                  ainda morre de fome... e trinta por cento faz
                                    dieta.»                                                                                                                                 Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes
Os Cinco Sentidos




                                                                                                2009-2010
Os nossos sentidos
Já tos vou distinguir
Com palavras excelentes,
- Escuta, amor, se queres ouvir.
O primeiro era ver
Tua boquinha a falar.
Que linda cara para beijos,
Se os quisesses aceitar.
Segundo era ouvir,
Gosto de ouvir novas tuas,
Trago-te no pensamento
Muito mais do que tu cuidas.
Terceiro era cheirar,
Tu cheiras mesmo a rosa
Oh que lindos olhos tens!
Oh que cara tão formosa!
O quarto era gostar,
Que gostos posso eu ter,
Ausente do teu amor
Mais me valia morrer.
                                                Charles West Cope, 1811-1890, The Thorn, 1866
O quinto apertar
                                                          AFORISMOS
As tuas mãos com as minhas.




                                                                                                            Giuseppe Guadagno, A tight couple, 2007
                                                «A rosa tem espinhos que o olfacto ignora.»
Havemos de ir à igreja
                                                Rui de Morais, in Do Riso das Insónias, 2007
Trocar nossas palavrinhas.
(poema tradicional da Beira Baixa,         «O instinto é o olfacto da mente.»
Rochas de Baixo), Jaime Lopes Dias,                                  D. Gay de Girardin
Etnografia da Beira, 2ª edição, vol. V,
Lisboa, 1966.                              «A memória é o perfume da alma.»
                                                                          George Sand
    «Aquilo a que a terminologia           «De todos os sentidos, a vista é o mais
    romântica     chama    génio   ou      superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto
    inspiração não é mais do que           o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso
                                                                                                2009-2010




    encontrar      empiricamente     o     e inconstante, o tacto o mais profundo.»
    caminho, seguir o próprio olfacto,                                      Denis Diderot
    tomar atalhos.»
               Italo Calvino
2009-2010
As Rosas Amo dos Jardins de Adónis                                                                       Quando Olho para Mim não Me Percebo
                                                                                                         Quando olho para mim não me percebo.
As Rosas amo dos jardins de Adónis,
                                                                                                         Tenho tanto a mania de sentir
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
                                                                                                         Que me extravio às vezes ao sair
Que em o dia em que nascem,
                                                                                                         Das próprias sensações que eu recebo.
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
                                                                                                         O ar que respiro, este licor que bebo,
Nascem nascido já o sol, e acabam
                                                                                                         Pertencem ao meu modo de existir,
Antes que Apolo deixe
                                                                                                         E eu nunca sei como hei de concluir
O seu curso visível.
                                                                                                         As sensações que a meu pesar concebo.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
                                                                                                         Nem nunca, propriamente reparei,
Que há noite antes e após
                                                                                                         Se na verdade sinto o que sinto. Eu
O pouco que duramos.                                                     Walter Pfisterer,               Serei tal qual pareço em mim? Serei
 Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes                      Physalis

                                                                                                         Tal qual me julgo verdadeiramente?
Antes o Voo da Ave
                                                                                                         Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,                                                         Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
                                                                                                            Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.                                                         Ditosa Ave
A recordação é uma traição à Natureza,                                                                   Quem fosse acompanhando juntamente
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.                                                               Por esses verdes campos a avezinha,
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.                                                               Que despois de perder um bem que tinha,
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!in O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII
 Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa),                                                         Não sabe mais que cousa é ser contente!

                                                                                                         E quem fosse apartando-se da gente,
Passa uma Borboleta por Diante de Mim                                                                    Ela por companheira e por vizinha,
Passa uma borboleta por diante de mim                                                                    Me ajudasse a chorar a pena minha,
E pela primeira vez no Universo eu reparo                                                                E eu a ela também a que ela sente!
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.                                                            Ditosa ave! que ao menos, se a natura
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,                                                               A seu primeiro bem não dá segundo,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,                                                     Dá-lhe o ser triste a seu contentamento.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
                                                                                             2009-2010




A borboleta é apenas borboleta                                                                           Mas triste quem de longe quis ventura
E a flor é apenas flor.                                                                                  Que para respirar lhe falte o vento,                             Fonte: Dover
                                                                                                         E para tudo, enfim, lhe falte o mundo!
Fernando Pessoa

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Toma lá poesia 2009-2010 - 5 sentidos

  • 1. 2009-2010 Teus Olhos  Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima, silêncio que fala, tempestades sem vento, mar sem ondas, pássaros presos, douradas feras adormecidas, topázios ímpios como a verdade, Outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro duma árvore e são pássaros todas as folhas, praia que a manhã encontra constelada de olhos, cesta de frutos de fogo, mentira que alimenta, espelhos deste mundo, portas do além, pulsação tranquila do mar ao meio-dia, universo que estremece, paisagem solitária. Octavio Paz, in Liberdade sob Palavra Fernando Pessoa Tradução de Luis Pignatelli Olhos  Olhos: brilhantes da chuva que caiu quando Deus me mandou beber. George Underwood, Left Eye Olhos: ouro, que a noite me contou nas mãos, quando colhi urtigas e fiz arrepender as sombras dos Provérbios. Olhos: noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes Rafal Olbinski saltei pelos lugares da eternidade. Paul Celan, in Papoila e Memória 2009-2010 Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno
  • 2. 2009-2010 Imagens que Passais pela Retina De Quem é o Olhar De quem é o olhar Imagens que passais pela retina Que espreita por meus olhos? Dos meus olhos, porque não vos fixais? Quando penso que vejo, Que passais como a água cristalina Quem continua vendo Por uma fonte para nunca mais!... Enquanto estou pensando? Ou para o lago escuro onde termina Por que caminhos seguem, Vosso curso, silente de juncais, Não os meus tristes passos, E o vago medo angustioso domina, Mas a realidade — Porque ides sem mim, não me levais? De eu ter passos comigo? Sem vós o que são os meus olhos abertos? — O espelho inútil, meus olhos pagãos! Às vezes, na penumbra Aridez de sucessivos desertos... René Magritte (1898-1967), Do meu quarto, quando eu Fica sequer, sombra das minhas mãos, O Espelho Falso, 1928 Por mim próprio mesmo Flexão casual de meus dedos incertos, Em alma mal existo, — Estranha sombra em movimentos vãos. Toma um outro sentido Camilo Pessanha, in Clepsidra Em mim o Universo — É uma nódoa esbatida Olhar e Chorar De eu ser consciente sobre Not ável criatura são os olhos! Admirável instrumento da Minha ideia das coisas. natureza; prodigioso artifício da Providência! Eles são a primeira Rafal Olbinski origem da culpa; eles a primeira fonte da Graça. São os olhos duas Se acenderem as velas víboras, metidas em duas covas, e que a tentação pôs o veneno, e E não houver apenas a contrição a triaga. São duas setas com que o Demónio se arma A vaga luz de fora — para nos ferir e perder; e são dois escudos com que Deus depois Não sei que candeeiro de feridos nos repara para nos salvar. Todos os sentidos do homem Aceso onde na rua — têm um só ofício; só os olhos têm dois. O Ouvido ouve, o Gosto gosta, o Olfacto Terei foscos desejos cheira, o Tacto apalpa, só os olhos têm dois ofícios: Ver e Chorar. Estes serão os De nunca haver mais nada dois pólos do nosso discurso. No Universo e na Vida Ninguém haverá (se tem entendimento) que não deseje saber por que ajuntou De que o obscuro momento a Natureza no mesmo instrumento as lágrimas e a vista; e por que uniu a mesma Que é minha vida agora! potência o ofício de chorar, e o de ver? O ver é a acção mais alegre; o chorar a mais triste. Sem ver, como dizia Tobias, não há gosto, porque o sabor de todos Um momento afluente os gostos é o ver; pelo contrário, o chorar é o estilado da dor, o sangue da alma, Dum rio sempre a ir a tinta do coração, o fel da vida, o líquido do sentimento. Por que ajuntou logo Esquecer-se de ser, a natureza nos mesmos olhos dois efeitos tão contrários, ver e chorar? A razão Espaço misterioso e a experiência é esta. Ajuntou a Natureza a vista e as lágrimas, porque as Entre espaços desertos lágrimas são consequência da vista; ajuntou a Providência o chorar com o ver, Cujo sentido é nulo porque o ver é a causa do chorar. Sabeis porque choram os olhos? Porque vêem. E sem ser nada a nada. 2009-2010 Padre António Vieira, in Sermões E assim a hora passa Metafisicamente. Rafal Olbinski Fernando Pessoa, in Cancioneiro
  • 3. Fuga 2009-2010 O músico procura Fixar em cada verso O cântico disperso Na luz, na água e no vento. Porém, luz, vento e água Variam riso e mágoa, De momento a momento. E em vão a área dos dedos Se eleva! Não traduz Os súbitos segredos Escondidos no vento, Nas águas e na luz... Pedro Homem de Mello, in Segredo Rafal Olbinski Pobre Velha Música! Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Fernando Pessoa Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te, Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Rafal Olbinski Fui-o outrora agora. Fernando Pessoa, in Cancioneiro 2009-2010 Rafal Olbinski
  • 4. 2009-2010 Uma Gargalhada de Raparigas DIÁLOGOS E ANALECTOS Uma gargalhada de raparigas soa do ar da estrada. Riu do que disse quem não vejo. Lembro-me já que ouvi. Antelóquio Mas se me falarem agora de uma gargalhada de rapariga da estrada, Direi: não, os montes, as terras ao sol, o Sol, a casa aqui, Aprendiz – Como posso ouvir-te? Como posso entender-te? E eu que só oiço o ruído calado do sangue que há na minha vida dos dois Como soa a tua voz quando me falas? lados da cabeça. Jacek Yerka Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas Inconjuntos Silêncio – Soa tal como a tua quando me pronuncias. E, se me pronuncias, como podes tu não me escutar? Não há música ou palavra que não me contenha; O Suporte da Música Desenho contornos, preencho vazios Dou tempo ao tempo para que o sentido flua. o suporte da música pode ser a relação entre um homem e uma mulher, a pauta Aprendiz – Talvez seja por isso que o mundo me parece cheio de música dos seus gestos tocando-se, ou dos seus Sobretudo quando o encontro dentro de um livro olhares encontrando-se, ou das suas Ou penso estar a criá-lo quando escrevo. Talvez seja por isso que as palavras parecem brotar vogais adivinhando-se abertas e recíprocas, De todas as coisas que existem ou penso. ou dos seus obscuros sinais de entendimento, Ora cantam, ora voam, ora se calam… crescendo como trepadeiras entre eles. E, no entanto, continuo sempre a ouvi-las… o suporte da música pode ser uma apetência Será apenas a ti que ouço? dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se Palavra – O que farás agora comigo? ramifica entre os timbres, os perfumes, Não te menosprezes. mas é também um ritmo interior, uma parcela O que seria o mundo sem os aprendizes? do cosmos, e eles sabem-no, perpassando Rafal Olbinski Escuta todos os silêncios. É na minúscula centelha do teu ser que eu sou eterna. por uns frágeis momentos, concentrado O que serias tu sem a minha eternidade num ponto minúsculo, intensamente luminoso, Para interrogar e criar permanentemente? que a música, desvendando-se, desdobra, entre conhecimento e cúmplice harmonia. Silêncio – Por que insistes em chamar-me silêncio, Se não paras de me escutar, de me falar, de me dizer. Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos Bem sabes que não sou mais do que as palavras que nascem de ti. Suy, Diálogos e Analectos 2009-2010 «A música é o barulho que pensa.» Victor Hugo
  • 5. Os Cinco Sentidos 2009-2010 Os nossos sentidos Já tos vou distinguir Com palavras excelentes, - Escuta, amor, se queres ouvir. O primeiro era ver Tua boquinha a falar. Que linda cara para beijos, Se os quisesses aceitar. Segundo era ouvir, Gosto de ouvir novas tuas, Trago-te no pensamento Muito mais do que tu cuidas. Terceiro era cheirar, Tu cheiras mesmo a rosa Oh que lindos olhos tens! Oh que cara tão formosa! O quarto era gostar, Que gostos posso eu ter, Ausente do teu amor Mais me valia morrer. Charles West Cope, 1811-1890, The Thorn, 1866 O quinto apertar As tuas mãos com as minhas. AFORISMOS Havemos de ir à igreja «A rosa tem espinhos que o olfacto ignora.» Trocar nossas palavrinhas. Rui de Morais, in Do Riso das Insónias, 2007 (poema tradicional da Beira Baixa, «O instinto é o olfacto da mente.» Rochas de Baixo), Jaime Lopes Dias, D. Gay de Girardin Etnografia da Beira, 2ª edição, vol. V, Lisboa, 1966. «A memória é o perfume da alma.» George Sand Robert Mapplethorpe «Aquilo a que a terminologia «De todos os sentidos, a vista é o mais romântica chama génio ou superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto inspiração não é mais do que o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso 2009-2010 encontrar empiricamente o e inconstante, o tacto o mais profundo.» caminho, seguir o próprio olfacto, Denis Diderot tomar atalhos.» Italo Calvino
  • 6. 2009-2010 As Rosas Amo dos Jardins de Adónis Quando Olho para Mim não Me Percebo Quando olho para mim não me percebo. As Rosas amo dos jardins de Adónis, Tenho tanto a mania de sentir Essas volucres amo, Lídia, rosas, Que me extravio às vezes ao sair Que em o dia em que nascem, Das próprias sensações que eu recebo. Em esse dia morrem. A luz para elas é eterna, porque O ar que respiro, este licor que bebo, Nascem nascido já o sol, e acabam Pertencem ao meu modo de existir, Antes que Apolo deixe E eu nunca sei como hei de concluir O seu curso visível. As sensações que a meu pesar concebo. Assim façamos nossa vida um dia, Inscientes, Lídia, voluntariamente Nem nunca, propriamente reparei, Que há noite antes e após Se na verdade sinto o que sinto. Eu O pouco que duramos. Walter Pfisterer, Serei tal qual pareço em mim? Serei Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes Physalis Tal qual me julgo verdadeiramente? Antes o Voo da Ave Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu, Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto, Nem sei bem se sou eu quem em mim sente. Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas A ave passa e esquece, e assim deve ser. O animal, onde já não está e por isso de nada serve, Mostra que já esteve, o que não serve para nada. Ditosa Ave A recordação é uma traição à Natureza, Quem fosse acompanhando juntamente Porque a Natureza de ontem não é Natureza. Por esses verdes campos a avezinha, O que foi não é nada, e lembrar é não ver. Que despois de perder um bem que tinha, Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!in O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa), Não sabe mais que cousa é ser contente! E quem fosse apartando-se da gente, Passa uma Borboleta por Diante de Mim Ela por companheira e por vizinha, Passa uma borboleta por diante de mim Me ajudasse a chorar a pena minha, E pela primeira vez no Universo eu reparo E eu a ela também a que ela sente! Que as borboletas não têm cor nem movimento, Assim como as flores não têm perfume nem cor. Ditosa ave! que ao menos, se a natura A cor é que tem cor nas asas da borboleta, A seu primeiro bem não dá segundo, No movimento da borboleta o movimento é que se move, Dá-lhe o ser triste a seu contentamento. O perfume é que tem perfume no perfume da flor. 2009-2010 A borboleta é apenas borboleta Mas triste quem de longe quis ventura E a flor é apenas flor. Que para respirar lhe falte o vento, Fonte: Dover E para tudo, enfim, lhe falte o mundo!
  • 7. As Mãos 2009-2010 Brandamente escrevem dos espasmos do sol. Envelhecem do pulso ao cérebro, ao calor baço de um revérbero no eixo dos ventos, usura das máscaras que, sucessivamente, as transformam de consciência em cal ou metal obscuro. E já não é por si que a presença existe ou subsiste o que separa. Destroem as sementes, apodrecem como um sopro e não são remanso na areia ou domadoras de chamas. Igualam-se à água, para serem raiz do que se cala e insinuam-se, para sempre, no pó da noite. Um castelo de pele tomba. Deixam de ser nomeadas ou nome. Escrevem, brandamente, do termo da música o luto do silêncio. Orlando Neves, in Decomposição - o Corpo Rafal Olbinski 2009-2010 Robert Mapplethorpe
  • 8. CACIDA DA MÃO IMPOSSÍVEL 2009-2010 Não quero mais que uma mão, mão ferida, se possível. Não quero mais que uma mão, inda que passe noites mil sem cama. Seria um lírio pálido de cal, uma pomba atada ao meu coração, o guarda que na noite do meu trânsito de todo vetaria o acesso à lua. Não quero mais que essa mão para os diários óleos e a mortalha de minha agonia. Não quero mais que essa mão para de minha morte ter uma asa. Tudo mais passa. Rubor sem nome mais, astro perpétuo. O demais é o outro; vento triste enquanto as folhas fogem debandadas. Federico García Lorca, in Divã do Tamarit As Tuas Mãos Terminam em Segredo Tradução de Óscar Mendes As tuas mãos terminam em segredo. Em Todas as Ruas te Encontro Os teus olhos são negros e macios Em todas as ruas te encontro Cristo na cruz os teus seios (?) esguios em todas as ruas te perco E o teu perfil princesas no degredo... conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura Entre buxos e ao pé de bancos frios que é de olhos fechados que eu ando Nas entrevistas alamedas, quedo a limitar a tua altura O vendo põe o seu arrastado medo e bebo a água e sorvo o ar Saudoso o longes velas de navios. que te atravessou a cintura tanto tão perto tão real Mas quando o mar subir na praia e for que o meu corpo se transfigura Arrasar os castelos que na areia e toca o seu próprio elemento As crianças deixaram, meu amor, num corpo que já não é seu num rio que desapareceu Será o haver cais num mar distante... onde um braço teu me procura. Pobre do rei pai das princesas feias 2009-2010 Em todas as ruas te encontro No seu castelo à rosa do Levante! em todas as ruas te perco. Fernando Pessoa, in Cancioneiro Mário Cesariny, in Pena Capital
  • 9. Dobrada à Moda do Porto 2009-2010 Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha Que a preferia quente, Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razão, nem num restaurante. Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua. Quem sabe o que isto quer dizer? Eu não sei, e foi comigo... (Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim, Particular ou público, ou do vizinho. Sei muito bem que brincarmos era o dono dele. E que a tristeza é de hoje). Sei isso muitas vezes, Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram Dobrada à moda do Porto fria? Não é prato que se possa comer frio, Mas trouxeram-mo frio. Não me queixei, mas estava frio, Anton Arkhipov, Coffee Break Nunca se pode comer frio, mas veio frio. Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas «A fome só se satisfaz com a comida e a fome de imortalidade da alma com a própria imortalidade. Ambas são verdadeiros instintos.» 2009-2010 Ayd, Bulgária, 2009 Fernando Pessoa
  • 10. 2009-2010 «Um homem com fome não é um homem livre.» Miguel de Unamuno «A fome de cultura sentem-na muito poucos, muito menos do que os que crêem senti-la.» Robert Stevenson, Discursos Christopher Gilbert Gostava de Gostar de Gostar Gostava de gostar de gostar. Um momento... Dá-me de ali um cigarro, Do maço em cima da mesa-de-cabeceira. Continua... Dizias Que no desenvolvimento da metafísica Fred Wessel, Anticipating Bacchus De Kant a Hegel Não só Vinho, mas nele o Olvido Alguma coisa se perdeu. Concordo em absoluto. Não só vinho, mas nele o olvido, deito Estive realmente a ouvir. Na taça: serei ledo, porque a dita Nondum amabam et amare amabam (Santo Agostinho). É ignara. Quem, lembrando Ou prevendo, sorrira? Que coisa curiosa estas associações de ideias! Dos brutos, não a vida, senão a alma, Estou fatigado de estar pensando em sentir outra coisa. Consigamos, pensando; recolhidos Obrigado. Deixa-me acender. Continua. Hegel... No impalpável destino Que não 'spera nem lembra. Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas Com mão mortal elevo à mortal boca 2009-2010 Em frágil taça o passageiro vinho, «Hoje, setenta por cento da humanidade Baços os olhos feitos Para deixar de ver. ainda morre de fome... e trinta por cento faz dieta.» Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes
  • 11. Os Cinco Sentidos 2009-2010 Os nossos sentidos Já tos vou distinguir Com palavras excelentes, - Escuta, amor, se queres ouvir. O primeiro era ver Tua boquinha a falar. Que linda cara para beijos, Se os quisesses aceitar. Segundo era ouvir, Gosto de ouvir novas tuas, Trago-te no pensamento Muito mais do que tu cuidas. Terceiro era cheirar, Tu cheiras mesmo a rosa Oh que lindos olhos tens! Oh que cara tão formosa! O quarto era gostar, Que gostos posso eu ter, Ausente do teu amor Mais me valia morrer. Charles West Cope, 1811-1890, The Thorn, 1866 O quinto apertar AFORISMOS As tuas mãos com as minhas. Giuseppe Guadagno, A tight couple, 2007 «A rosa tem espinhos que o olfacto ignora.» Havemos de ir à igreja Rui de Morais, in Do Riso das Insónias, 2007 Trocar nossas palavrinhas. (poema tradicional da Beira Baixa, «O instinto é o olfacto da mente.» Rochas de Baixo), Jaime Lopes Dias, D. Gay de Girardin Etnografia da Beira, 2ª edição, vol. V, Lisboa, 1966. «A memória é o perfume da alma.» George Sand «Aquilo a que a terminologia «De todos os sentidos, a vista é o mais romântica chama génio ou superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfacto inspiração não é mais do que o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso 2009-2010 encontrar empiricamente o e inconstante, o tacto o mais profundo.» caminho, seguir o próprio olfacto, Denis Diderot tomar atalhos.» Italo Calvino
  • 12. 2009-2010 As Rosas Amo dos Jardins de Adónis Quando Olho para Mim não Me Percebo Quando olho para mim não me percebo. As Rosas amo dos jardins de Adónis, Tenho tanto a mania de sentir Essas volucres amo, Lídia, rosas, Que me extravio às vezes ao sair Que em o dia em que nascem, Das próprias sensações que eu recebo. Em esse dia morrem. A luz para elas é eterna, porque O ar que respiro, este licor que bebo, Nascem nascido já o sol, e acabam Pertencem ao meu modo de existir, Antes que Apolo deixe E eu nunca sei como hei de concluir O seu curso visível. As sensações que a meu pesar concebo. Assim façamos nossa vida um dia, Inscientes, Lídia, voluntariamente Nem nunca, propriamente reparei, Que há noite antes e após Se na verdade sinto o que sinto. Eu O pouco que duramos. Walter Pfisterer, Serei tal qual pareço em mim? Serei Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa), in Odes Physalis Tal qual me julgo verdadeiramente? Antes o Voo da Ave Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu, Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto, Nem sei bem se sou eu quem em mim sente. Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão. Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), in Poemas A ave passa e esquece, e assim deve ser. O animal, onde já não está e por isso de nada serve, Mostra que já esteve, o que não serve para nada. Ditosa Ave A recordação é uma traição à Natureza, Quem fosse acompanhando juntamente Porque a Natureza de ontem não é Natureza. Por esses verdes campos a avezinha, O que foi não é nada, e lembrar é não ver. Que despois de perder um bem que tinha, Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!in O Guardador de Rebanhos - Poema XLIII Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa), Não sabe mais que cousa é ser contente! E quem fosse apartando-se da gente, Passa uma Borboleta por Diante de Mim Ela por companheira e por vizinha, Passa uma borboleta por diante de mim Me ajudasse a chorar a pena minha, E pela primeira vez no Universo eu reparo E eu a ela também a que ela sente! Que as borboletas não têm cor nem movimento, Assim como as flores não têm perfume nem cor. Ditosa ave! que ao menos, se a natura A cor é que tem cor nas asas da borboleta, A seu primeiro bem não dá segundo, No movimento da borboleta o movimento é que se move, Dá-lhe o ser triste a seu contentamento. O perfume é que tem perfume no perfume da flor. 2009-2010 A borboleta é apenas borboleta Mas triste quem de longe quis ventura E a flor é apenas flor. Que para respirar lhe falte o vento, Fonte: Dover E para tudo, enfim, lhe falte o mundo!