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Perfil lena trindade

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  1. 1. O GLOBO ● RIO ● PÁGINA 19 - Edição: 26/02/2012 - Impresso: 25/02/2012 — 16: 52 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO Domingo, 26 de fevereiro de 2012 • 2ª edição O GLOBO RIO ● 19 PERFIL • LENA TRINDADE, Fotógrafa Fotos de Lena Trindade O PINTADINHO, que vive ao lado de chocas e choquinhas NINHO de cambaxirra na escultura Ave pernalta, de Mestre Valentim TUCANO-de-bico-preto na porta do ninho feito num pau-ferro BICO-DE-LACRE: encontrado em pequenos bandos ao lado de coleirinhos e canários-da-terra FERRO-VELHO, que gosta dos frutos de diversas espécies de cactus Os pássaros O CUSPIDOR-de-máscara preta é localizado pelo chamado “tsitsit” Fotógrafa registra em livro as aves que habitam o Jardim Botânico carioca Ana Branco — Quando eu estava come- D Bety Orsini çando o trabalho, decobri que izem por aí que a coruja murucututu-de-barri- Lena Trindade é ga-amarela dormia num bam- uma espécie de buzal, mas nunca conseguia Indiana Jones do vê-la porque ela só aparecia de reino das aves. noite. Um dia, mesmo sabendo Ela sorri, acha que é proibido, depois que o um pouco de exagero, mas grupo foi embora, fiquei es- não nega que, na tentativa de condida no Jardim Botânico fotografar pássaros, sua gran- até escurecer. Esperei, espe- de paixão, já pisou em cobras rei, até que lá pelas tantas ela venenosas, levou marrada de saiu. Foi emocionante ver veado e se atirou em rios para aquele ser enorme (44 centí- fugir do perigo. É Lena quem metros), de asas aber tas, assina as fotos do recém-lan- voando perto de mim. Só fiz a çado "Aves do Jardim Botâni- foto dias depois. Fiquei espe- co do Rio de Janeiro”, ilustra- rando lá no mesmo lugar, e de do com as 152 espécies que tanto treinar o olho consegui habitam uma das mais belas descobrir onde ela estava. áreas verdes da cidade, guia feito em parceria com o orni- tólogo Henrique Rajão e o am- O marido tem bientalista Plínio Senna. — O que me dá mais prazer pavor de insetos na vida é acordar no meio do mato, numa praia... só assim ● Lena explica, também, que me sinto feliz e energizada — para observar pássaros é pre- conta Lena, que é casada há ciso ter cautela e seguir algu- três décadas com o composi- mas regras básicas. tor e poeta Abel Silva. — Não usar cores fortes é Ex-professora, ex-pedagoga, uma delas. E ter uma lente de ex-secretária da embaixada da 400 milímetros é essencial Bulgária, Lena começou a foto- porque as aves não deixam vo- “ grafar quando trabalhava no cê chegar muito perto — a house organ de uma pequena LENA TRINDADE em ação no Jardim Botânico com sua câmera Nikon: disposição para ficar horas a espera de um pássaro raro maioria não permite que nin- editora. guém fique a menos de 30 me- — Como eles não tinham fo- Nesse afã de viver em comu- tempo todo, com direito ao tros. Também não é aconse- tógrafo, todas as vezes que eu nhão com a natureza, em 1986, som das aves. lhável usar perfumes fortes e, ia fazer alguma matéria tinha Lena entrou para o COA (Clu- Nascida em Cabo Frio, Le- é claro, é preciso respeitar o que contratar um freelancer. E be de Observadores de Aves) na enche a boca para afirmar silêncio, pisar leve e, se possí- sempre era uma questão: um e acabou virando diretora de que seu envolvimento com o vel, estar acompanhada por não podia em tal dia, em tal excursão. Numa dessas cami- Rio de Janeiro é tanto que ela quem conhece o assunto. Uma hora, e assim decidi começar nhadas, levou um grupo para Se eu vou com o Abel para o mato, ele anda se considera uma autêntica foto não se faz só com equipa- a fotografar — conta. conhecer a Ilha de Cabo Frio. E dez metros e diz ‘tá bom, né’? Ele tem pavor de carioca. mento, mas com conhecimen- foi lá que um ornitólogo des- — Tenho trabalhos sobre to dos hábitos das aves. Tam- mosquito, de insetos. O Antonio Pedro (o ator), Formigueiro, o cobriu o Formicivora litoralis, vulgo formigueiro-do-litoral: nosso amigo, costuma dizer ‘Lá na casa do art déco e um projeto sobre restingas (com Dorothy Araú- bém é importante chegar bem cedo ao local. As aves são ati- pássaro inquieto — Ele é muito difícil de foto- grafar, vive numa brenha (ema- Abel, a Lena é o Tarzan, e o Abel é a Jane’” Lena Trindade, fotógrafa jo), que espero que saia em breve. Ele terá um foco maior vas no início da manhã e no fi- nal da tarde, quando de ali- ranhado de galhos) e é tão in- na restinga de Marambaia, mentam pela última vez antes ● Lena se apaixonou pelas quieto que levei o dia inteiro pa- uma das mais lindas que já vi. de se recolherem. Mulher para aves quando passou uma tem- ra registrar o primeiro. Só no fim dar no mato usando perneiras, tentando nos aproximar e ía- E que vai muito bem, obriga- lá dos 60 anos (ela não revela a porada na Amazônia com o in- do dia, quando eu estava quase elas protegem a perna, até o mos chegando cada vez mais da, graças aos militares, ou ela idade nem sob tortura), Lena é digenista Apoena Meireles. indo embora, ele apareceu. Ele é joelho, de mordida de cobra. perto. Foi a ave mais dócil que já teria sido invadida há muito um exemplo de pessoa madu- — Andamos quase 20 quilô- um pássaro muito enjoado. E conta que algumas das aves já vi em toda minha carreira tempo. O Rio é tão exuberan- ra, com disposição e sonhos metros para chegar à tribo dos Nesse ofício, os perigos são que vivem no Jardim Botânico de fotógrafa da natureza. Che- te, tão exuberante, que não de sobra. Além do zelo com os suruís, em Rondonia. Eu esta- muitos. Certa vez, Lena estava foram fotografadas em outras gamos tão perto que em certo conseguem ofuscar essa mara- filhos — o biólogo Amaro Emi- va muito preocupada porque fotografando com um grupo “moradias”. Como o gavião- momento ele desceu do galho, vilha da natureza. Imagina se liano e o musicista clássico nunca tinha feito uma cami- de observadores de aves, na pombo-pequeno, espécie amea- veio no chão (talvez comer al- fosse bem tratado, se tivésse- André — ainda lida com a falta nhada daquele porte. Fiquei Reserva do Tinguá, e quase pi- çada de extinção por conta da guma coisa) e fiz uma foto do mos uma Lagoa Rodrigo de de intimidade do marido com tão apaixonada por andar pela sou numa cobra. destruição de seu habitat prefe- meu amigo fotografando o ga- Freitas limpa? — diz Lena. o reino animal. mata que me deu até um bara- — Eu estava andando sobre rencial: as matas da Baixada. vião. Um ao lado do outro. Isto Mas voltemos aos pássaros, — Se eu vou com o Abel pa- to. Quando voltei decidi que as pedras do Rio Tinguá e por — É uma ave dificil de ser nunca mais irá acontecer — esses seres alados, tantas ve- ra o mato, ele anda dez metros não pararia mais. Nessa cami- pouco não pisei numa jarara- vista de perto, como todos os conta Lena, entusiasmada, zes maltratados, eternas mu- e diz “tá bom, né?” Ele tem pa- nhada; pela primeira vez na vi- ca. Para não pisar na venenosa gaviões de modo geral. Com lembrando que haverá exposi- sas inspiradoras de poemas, vor de mosquito, de insetos. O da; eu vi com binóculo uma pulei no rio, mas tive o cuida- este aconteceu algo muito es- ção do trabalho até 15 de abril crônicas e canções. Por eles, Antonio Pedro (o ator), nosso ave e enlouqueci. Então com- do de salvar também meu tranho. Eu estava com um ami- no Espaço Tom Jobim. Serão Lena é capaz de tudo. Até de amigo, costuma dizer: "Lá na prei um binóculo e comecei a equipamento. Depois disso te- go quando vimos o gavião. De- 15 fotos em banners e todas as infringir regras. Uma delas, ela casa do Abel, a Lena é o Tar- me apaixonar. nho sempre o cuidado de an- pois de garantir a foto, fomos fotos do livro projetadas o confessa neste perfil. zan e o Abel é a Jane". ■

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