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                                                  Volume




VALTER T. MOTTA
Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




                                   Enzimas
ENZIMAS


A    s enzimas são proteínas com propriedades
     catalisadoras sobre as reações que ocorrem                                          As meias -vidas das enzimas teciduais após
nos sistemas biológicos. Elas tem um elevado grau                                   liberação no plasma apresentam grande variabili-
de especificidade sobre seus substratos acelerando                                  d a d e – nos casos de enzimas medidas com propó -
reações específicas sem serem alteradas ou co n -                                   sitos diagnósticos e prognósticos, podem variar
sumidas durante o processo. O estudo das enzimas                                    desde algumas horas até semanas. Em condições
tem imensa importância clínica. Em algumas do -                                     normais as atividades enzimáticas permanecem
enças as atividades de certas enzimas são medi-                                     constantes, refletindo o equilíbrio entre estes pro-
das, principalmente, no plasma sangüíneo, eritró -                                  cessos. Modificações nos níveis de atividade e n -
citos ou tecidos. Todas as enzimas presentes no                                     zimática ocorrem em situações onde este balanço
corpo humano s ão sintetizadas intracelularmente.                                   é alterado.
Três casos se destacam:                                                                  As elevações na atividade enzimática são devi-
                                                                                    das:
Enzimas plasma-específicas. Enzimas ativas
no plasma utilizadas no mecanismo de coagulação                                     Aumento na liberação de enzimas para o
sangüínea e fibrinólise. Ex.: pró -coagulantes:                                     plasma é c o n s e q ü ê n c i a d e :
trombina, fator XII, fator X e outros.
                                                                                    §   Lesão celular extensa, as lesões celulares são
Enzimas secretadas. São secretadas gera l-                                              geralmente causadas por isquemia ou toxinas
mente na forma inativa e após ativação atuam em                                         celulares, por exemplo: na elevação da ativ i-
locais extracelulares. Os exemplos mais óbvios                                          dade da isoenzima CK-MB após infarto d o
s ã o a s p r o t e a s e s o u h i d r o l a s e s p r o d u z i d a s n o s is-       miocárdio.
tema digestório. Ex.: lipase, α-amilase, tripsin o -
gênio, fosfatase ácida prostática e antígeno pros-                                  §   Proliferação celular e aumento na renovação
t ático específico. Muitas são encontradas no san-                                      celular, por exemplo: aumentos na fosfatase
gue.                                                                                    alcalina pela elevação da atividade osteoblás-
                                                                                        tica durante o crescimento ou restauração ó s -
Enzimas celulares. Normalmente apresentam                                               sea após fraturas.
baixos teores séricos, mas os níveis aumentam
quando são liberadas a partir de tecidos lesados                                    §   Aumento na síntese enzimática, por exemplo:
por alguma doença. Isto permite inferir a localiza-                                     marcada elevação na atividade da γ-glutamil
ç ã o e a natureza das variações patológicas em                                         transferase após a ingestão de álcool.
alguns órgãos, tais como: fígado, pâncreas e mi o -
cárdio. A elevação da atividade sérica depende do                                   §   O b s t r u ç ã o d e d u c t o s – afeta as enzimas nor-
conteúdo de enzima do tecido envolvido, da ex-                                          malmente encontradas nas secreções exócri-
tensão e do tipo de necrose. São exemplos de e n -                                      nas, por exemplo: a amilase e a lipase no suco
zimas celulares as transaminases, lactato desidro-                                      pancreático. Estas enzimas podem regurgitar
genases etc.                                                                            para a corrente circulatória se o ducto pancre -
                                                                                        á t ic o -biliar estiver bloqueado.
92       Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




Redução da remoção de enzimas do                                                  relacionar a atividade enzimática aumentada com
p l a sma devido à insuficiência renal. Afeta                                     os tecidos lesados. Isto porque as enzimas não
as enzimas excretadas na urina, por exemplo: a                                    estão confinadas a tecidos ou orgãos específicos,
amilase pode estar elevada na insuficiência renal.                                pois estão grandemente distrib u í d a s e s u a s a t i v i-
                                                                                  dades podem refletir desordens envolvendo vários
   A redução nos níveis de atividade enzimática                                   tecidos.
são menos comuns e ocorrem na:                                                       Na prática, a falta de especificidade é parc i-
                                                                                  almente superada pela medida de vários parâme-
§     Síntese enzimática reduzida, por exemplo:                                   tros (que incluem várias enzimas). Como as con -
      colinesterase baixa na insuficiência hepática                               centrações relativas das enzimas variam consid e-
      severa pela redução do número de hepatócitos.                               ravelmente em diferentes tecidos, é possível, pelo
                                                                                  menos em parte, identificar a origem de algumas
§     Deficiência congênita de enzimas, por exe m-                                enzimas. Por exemplo, apesar das enzimas
      p lo: baixa atividade da enzima fosfatase alc a-                            transaminases ALT (GTP) e AST (GOT) serem
      lina plasmática na hipofosfatasemia congênita.                              igualmente abundantes no tecido hepático, a AST
                                                                                  (GOT) apresenta concentração 20 vezes maior que
§     Variantes enzimáticas inerentes com baixa                                   a ALT (GTP) no músculo cardíaco. A determin a-
      a t i v i d a d e b i o l ó g i c a , por exemplo, variantes                ção simultânea das duas enzimas fornece uma
      anormais da colinesterase.                                                  clara indicação da provável localização da lesão
                                                                                  tecidual. A especificidade enzimática pode tam-
     A utilidade diagnóstica da medida das enzimas                                bém ser aumentada pela análise das formas isoen -
p l a s máticas reside no fato que as alterações em                               zimáticas de algumas enzimas como na lactato
suas atividades fornecem indicadores sensíveis de                                 desidrogenase.
lesão ou proliferação celular. Estas modificações                                    A seleção de quais enzimas medir com propó -
ajudam a detectar e, em alguns casos, localizar a                                 sitos diagnósticos e prognósticos depende de vá-
lesão tecidual, monitorar o tratamento e o pro -                                  rios fatores. As principais enzimas de uso clínico,
g r e s s o d a d o e n ç a . No entanto, muitas vezes falta                      juntamente com seus tecidos de origem e aplica-
especificidade, isto é, existem dificuldades em                                   ções clínicas são listadas na tabela 9.1.



 Tabela 9.1 Distribuição de algumas enzimas de importância diagnóstica
 Enzima                                                            Principal fonte                         Principais aplicações clínicas

 Amilase                                            Glândulas salivares, pâncreas, ovários            Enfermidade pancreática
 A m i n o t r a n s f e r a s e s ( t r a n sa -   Fígado, músculo esquelético, coração, rim,        Doenças do parênquima hepático, infarto do
 minases)                                           eritrócitos                                       miocárdio, doença muscular
 Antígeno prostático específico                     Próstata                                          Carcinoma de próstata
 Creatina quinase                                   Músculo esquelético, cérebr o, coração, músculo   Infarto do miocárdio, enfermidades
                                                    liso                                              musculares
 Fosfatase ácida                                    Próstata, eritrócitos                             Carcinoma da próstata
 Fosfatase alcalina                                 Fígado, osso, mucosa intestinal, placenta, rim    Doenças ósseas, enfermidades hepáticas
 γ - G l u t a m i l t r a n s f e rase             Fígado, rim                                       Enfermidade hepatobiliar, alcoolismo
 Lactato desidrogenase                              Coração, fígado, músculo esquelético, eritró-     Infarto do miocárdio, hemólise, doenças do
                                                    citos, plaquetas, nódulos linfáticos              parênquima hepático
 Lipase                                             Pâncreas                                          Enfermidade pancreática
Enzimas         93




A MILASE

A     amilase é uma enzima da classe das hidrolases que
      catalisa o desdobramento do amido e glicogênio
ingeridos na dieta. O amido é a forma de
                                                                       normal (ex.: muitas pancreatites associadas com
                                                                       hiperlipemia). Outros testes laboratoriais, como a
                                                                       medida da amilase urinária, depuração da amilase,
armazenamento para a glicose nos vegetais, sendo                       avaliação das isoenzimas da amilase e a medida da
constituído por uma mistura d amilose (amido não-
                                  e                                    lipase sérica, quando empregados em conjunto
ramificado) e amilopectina (amido ramificado). A
                                                                       com a avaliação da amilasemia, aumentam consi-
estrutura do glicogênio é similar ao da amilopectina,
                                                                       deravelmente a especificidade no diagnóstico da
com maior número de ramificações. A α-amilase
                                                                       pancreatite aguda. Apesar de menor utilidade no
catalisa a hidrólise das ligações α-l, 4 da amilose,
amilopectina e glicogênio, liberando maltose e                         diagnóstico da pancreatite, a amilase urinária está
isomaltose. Não hidrolisa as ligações α-1,6.                           freqüentemente aumentada, atingindo valores mais
    A amilase sérica é secretada, fundamental-                         elevados e que persistem por períodos maiores.
mente, pelas glândulas salivares (forma S) e cé-                       Além da determinação da amilasemia outros sinais
lulas acinares do pâncreas (forma P). É secretada                      freqüentes são utilizados para avaliar a pancre atite
no trato intestinal por meio do ducto pancreático.                     aguda:
A s glândulas salivares secretam a amilase que
inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos                     §    N o m o m e n t o d o d i a g n ó s t i c o : contagem de
na boca e esôfago. Esta ação é desativada pelo                              leucócitos >16.000/mm 3 ; glicemia >200
conteúdo ácido do estômago. No intestino, a ação                            mg/dL; lactato desidrogenase >2 x normal;
da amilase pancreática é favorecida pelo meio                               ALT (GTP) > 6 x normal.
alcalino presente no duodeno. A atividade amilá-
sica é também encontrada no sêmem, testículos,                         §    Durante as primeiras 48 horas: diminuição do
ovários, tubos de Fallopio, músculo estriado, pul-                          hematócrito >10%; cálcio sérico <8 mg/dL;
mões e tecido adiposo. A amilase tem massa mo -                             p O 2 arterial <60 mm/Hg.
lecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, fa-
cilmente, filtrada pelo glomérulo renal.                               Outras causas de hiperamilasemia pancre-
                                                                       ática:

                                                                       § C o m p l i c a ç õ e s d a p a n c r e a t i t e a g u d a , tais
H IPERAMILASEMIA                                                           c o m o : p s e u d o c i s t o c o mplicadas por
                                                                           hemorragia, as cites e efusão pleural.
Pancreatite aguda. Constitui um distúrbio i n -
flamatório agudo do pâncreas associado a edema,
                                                                       § Lesões traumáticas do pâncreas, incluindo
intumescência e quantidades variadas de autodis-
                                                                           trauma cirúrgico e investigações radiográficas.
gestão, necrose e, em alguns casos, hemorragia.
Os níveis de amilasemia aumentam após 2 -12 h do
                                                                       § Carcinoma de pâncreas, c o m o b s t r u ç ã o d o s
início do episódio de dor abdominal que é cons-
                                                                           ductos pancreáticos.
tante, intenso e de localização epigástrica com
irradiação posterior para o dorso. A atividade
                                                                       § Abscesso pancreático, onde a amilasemia au -
amilásica retorna ao normal entre o terceiro e o
                                                                           menta ocasionalmente.
quarto dia. Os valores máximos são quatro a seis
vezes maiores do que os valores de referência e                        Hiperamilasemia não-pancreática:
são atingidos entre 12-72 h. A magnitude da ele-
v a ç ã o n ã o se correlaciona com a severidade do
                                                                       § Insuficiência renal por declínio da depuração.
envolvimento pancreático. Por outro lado, 20% de                           Os aumentos são proporcionais à extensão do
t o d o s o s c a s o s d e p a n c r e a t i t e apresentam amilase       comprometimento renal.
94 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



§ Neoplasias de pulmão e ovário.                                    § T r a n s p l a n t e r e n a l , um quinto dos transplanta-
                                                                       dos renais apresentam hiperamilasemia.
§ Síndrome de Meigs (associação de ascite, efu -
    são pleural e fibro ma de ovário).                              § Alcoolismo agudo.

§ Lesões das glândulas salivares, caxumba ou                        § P n e u m o n i a e enfermidades não-neoplásicas.
    cirurgia maxilofacial.
                                                                    § Drogas (opiatos, heroína) por constrição d o
§ Macroamilasemia, encontradas em 1-2% da                              esfíncter de Oddi e ductos pancreáticos, com a
    população como resultado da combinação da                          conseqüente elevação da pressão intraductal,
    molécula de amilase com imunoglobulinas                            provocando regurgitação da amilase para o
    (IgA e IgG) ou outras proteínas plasmáticas                        soro.
    normais o u anormais para formar um complexo
    muito grande para ser filtrado pelo glomérulo;
    neste evento não ocorre amilasúria aumentada                    A MILASE URINÁRIA
    e não indica doença.
                                                                    A hiperamilasúria reflete as elevações séricas da
Hiperamilasemia por desordens de origem                             amilase. A atividade da amilase urinária é deter-
c o m p l e x a . Com mecanismos desconhecidos ou                   minada em amostras de urina de uma hora (nestes
incertos:                                                           casos o paciente deve esvaziar completamente a
                                                                    bexiga e desprezar esta urina; todas as urinas c o -
§ D o e n ç a d o t r a t o b i l i a r como a colecistite          lhidas na hora seguinte são reservadas) ou de 24
    a g u da com aumentos de até quatro vezes os                    horas. Na pancreatite aguda a reabsorção tubular
    v a lo res de referência .                                      da amilase está reduzida, provavelmente secundá-
                                                                    ria a competição com outras proteínas de baixa
§ Eventos intra -a b d o m i n a i s (não pancreáticos)             massa molecular. A hiperamilasúria ocorre tam-
    tais como: úlcera péptica perfurada, obstrução                  bém em quase todas as situações que elevam a
    intestinal, infarto mesentérico, peritonite,                    amilase sérica.
    apendicite aguda, gravidez ectópica rompida,
    aneurismas aórticos e oclusão mesentérica.
                                                                    D EPURAÇÃO DA AMILASE
§ Trauma cerebral, a causa da elevação é
    incerta, mas pode estar associada com trauma
                                                                    A relação·entre a depuração renal da amilase e a
    das glâ n dulas salivares e/ou abdominais; isto é ,
                                                                    depuração da creatinina é útil no diagnóstico dife-
    dependente de outros órgãos atingidos.
                                                                    rencial da pancreatite aguda. Nesta patologia, a
                                                                    depuração renal da amilase é, geralmente, maior
§ Queimaduras e choques tra umáticos.
                                                                    do que a depuração da creatinina causando eleva-
                                                                    ção na relação. O mecanismo responsável por este
§ Hipermilasemia pós-operatória, ocorre em                          aumento na depuração é, em parte, atribuído a um
    20% dos pacientes submetidos a intervenções
                                                                    distúrbio na reabsorção tubular da amilase (e de
    cirúrgicas – incluindo procedimentos extra -ab-
                                                                    outras proteínas de baixa massa molecular) na
    dominais.
                                                                    pancreatite aguda. A fórmula empregada para a
                                                                    depuração é:
§ C e t o a c i d o s e d i a b é t i c a ,a hiperamilasemia está
    presente em 80% destes pacientes sendo mais
                                                                    Amilase na urina (U/dL) × creat. no soro (mg/dL)
    f r e q ü e n t e q u a n d o os teores de glicemia são                                                          × 100 = %
    >500 mg/dL (a fonte de amilase é incerta).                        Amilase no soro × creat. na urina (mg/dL)
Enzimas   95



As determinações de amilase e creatinina séricas               clásticos, cromolíticos e técnicas de monitoração
são realizadas em amostras obtidas ao mesmo                    c o n tínua.
tempo da coleta de urina. A comparação das duas
                                                                   Amiloclásticos (Iodométricos). A avaliação
depurações permite corrigir as alterações na velo-
                                                               amiloclástica (iodométrica) está baseada na capa-
cidade de filtração glomerular, condição esta tam-
                                                               cidade do iodo formar cor azul intensa com o
bém encontrada na insuficiência renal severa.
                                                               amido. Após a ação da amilase sobre um substrato
     Normalmente, os valores da relação variam
                                                               de amido em tempo determinado, a cor azul é
entre 1 a 4%, enquanto na pancreatite aguda, fre-
                                                               medida fornecendo a quantidade de polissacarídio
qüentemente, estão entre 7 e 15%. No entanto,
                                                               remanescente. O método de Van Loon modificado
esta relação não é específica, pois apresenta ele-
                                                               por Caraway além de empregar um substrato rela -
v a ç õ e s n a c e t o a c i d o s e diabética, queimaduras
                                                               tiv amente estável é eficiente e rápido.
extensas, perfuração duodenal, mieloma, circula-
ção extracorpórea e grandes doses intravenosas de                 Sacarogênicos. Nestes métodos, o substrato de
corticoesteróides. A relação é normalizada após a              polissacarídio é hidrolizado pela ação da ami lase
atividade da amilase no sangue e urina voltarem                com formação de monossacarídios e dissacarídios.
aos valores de referência. O cálculo desta relação             O dissacarídio (maltose) forma glicose pela ação
permite diferenciar a macroamilasemia de outras                de uma maltase. A quantidade de glicose produ-
causas de hiperamilasemia. Em função do tama-                  zida indica a atividade amilásica. As unidades
nho do complexo de macroamilase sua depuração                  So mogyi obtidas neste método expressam o nú-
renal é reduzida, fornecendo em valores abaixo de              mero de mg de glicose liberada após incubação. A
1%.                                                            quantidade de glicose já existente na amostra deve
                                                               ser considerada ao empregar estes métodos. É
                                                               bastante empregado em automação.
D ETERMINAÇÃO DA AMILAS E
                                                                   Ensaios cromolíticos. Utilizam um substrato
P a c i e n t e . Não é exigida preparação especial.           de amido ligado a um corante, formando um com-
                                                               ple xo insolúvel. Após a ação da amilase são pro -
Amostra. S o r o sem hemólise e não-lipêmico. A                duzidos pequenos fragmentos de corante-substrato
atividade amilásica necessita de cálcio e cloretos             solúveis em água medidos fotometricamente. Este
como cofatores. Assim, anticoagulantes quelantes               método é facilmente automatizado.
como o citrato, oxalato e EDTA são impróprios                     Monitoração contínua. Sistemas enzimáticos-
para estas amo s t r a s . Urina colhida no período de 1       acoplados são empregados para determinar a ati-
h ou no período de 24 h sem conservantes. A                    vidade enzimática por técnica de monitoração
amilase é uma enzima bastante estável. No soro e               contínua na modificação na absorvância do NAD+
urina (livre de contaminação bacteriana) a amilase             medida em 340 nm.
é estável por uma semana em temperatura amb i-
ente ou por vários meses sob refrigeração.                        Outros métodos. Raramente empregados para
                                                               este propósito são os métodos turbidimétricos,
Interferentes. Resultados falsamente aumenta -                 nefelométricos e de polarização fluorescente.
dos: ácido aminossalicílico, ácido etacrínico,
grandes quantidades de etanol, aspirina, analgés i-                    Valores de referência para a amilase
cos narcóticos, anticoncepcionais orais, colinérg i-           Soro de adultos       60 a 160 U/dL (Somogyi)
cos, contrastes radiográficos, corticoesteróides,                                    1500 a 1800 U/d (Somogyi)
                                                               Urina
pancreozimina, furosemida, rifampina e tiazídicos.                                   ou 70-275 U/h
Resultados falsamente reduzidos: glicose e fluore-                                   50.000 a 80.000 Ud/L
                                                               Líquido duoden a l
tos.                                                                                 (Somo gyi)

Métodos. A amilase é determinada por diferentes
métodos. Os principais são: sacarogênicos, amilo-
96 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



                                                                    VAN LOON, E.J., LIKINS, M.R., SEGER, A. J. Photometric
Bibliografia consultada
                                                                      m e t h o d f o r b l o o d a m y l a s e b y u s e o f s t a r c h -iodine color.
                                                                      A m . J . C l i n . P a t h . , 2 2 :1 1 3 4 -6 , 1 9 5 2 .
CARAWAY, W.T. A stable starch substrate for the
  d e t e r m i nation of amylase in serum and other body fluids.   WONG, E.C.C., BUTCH, A. W., ROSENBLUM, J.L. et al.
  A m . J . C l i n . P a t h o l . , 3 2 :9 7 -9 , 1 9 5 9 .         The clinical chemistry laboratory and acute pancreatitis.
                                                                      C l i n . C h e m . , 3 9 :2 3 4 -4 3 , 1 9 9 3 .
Enzimas       97




L IPASE             E TRIPSINA


A        lipase é uma enzima altamente específica que
         catalisa a hidrólise dos ésteres de glic erol de
                                                                      após o ataque. Metade dos pacientes com pseudo-
                                                                      cisto mostram elevações na lipase sérica.
ácidos graxos de cadeia longa (triglicerí dios) em
presença de sais biliares e um cofator chamado                        Pancreatite crônica. A lipase sérica também é
c o l i p a s e . As ligações éster, nos átomos de carbono            utilizada no diagnóstico da pancreatite crônica;
1 e 3 são preferentemente rompidas, produzindo                        a p e s a r da destruição das células acinares nos últ i-
dois mol de ácidos graxos de cadeia longa e um                        mos estágios da enfermidade resulta em diminui-
mol de 2-acilmonoglicerídio por mol de                                ção na quantidade da enzima na circulação.
triglicerídio hidrolizado. Tanto a lipase como a
colipase são sintetizadas pelas células acinares do                   Desordens intra -abdominais agudas. A s
pâncreas. A lipase também é encontrada na mu -                        vezes o diagnóstico da pancreatite é dificultado
co sa intestinal, leucócitos, células do tecido adi-                  por outras desordens intra -abdomi nais com acha-
poso, língua e leite.                                                 dos clínicos similares: ú l c e r a s d u o d e n a i s o u g á s-
                                                                      tricas perfuradas, obstrução intestinal mesenté-
                                                                      ri c a e c o l e c i s t i t e a g u d a .
H IPERLIPASEMIA
                                                                      Enfermidade renal aguda ou crônica. Nestes
A medida da atividade da lipase no soro, plasma,                      casos o aumento da atividade lipásica não é tão
líquido ascítico e pleural, é usada exclusivamente                    freqüente nem tão pronunciada como a atividade
para o diagnóstico de desordens pancreáticas,                         da amilase.
geralmente, pancreatite aguda. Os níveis de lipase
s ã o n o r m a i s n o s c a s o s d e e n v o lvimento de glâ n -   Obstrução do ducto pancreático. A o b s t ru -
                                                                      ção do ducto pancreático por cálculo ou carcinoma
dulas salivares.
                                                                      de pâncreas pode elevar a atividade da lipase sé-
Pancreatite aguda. A atividade da lipase au -                         rica, dependendo da localização da obstrução e a
menta entre 4 a 8 horas, após o início do quadro                      quantidade de tecido lesado.
atingindo o pico máximo em 24 horas. Os valores
voltam ao normal entre 8 e 14 dias. Os aumentos                       D ETERMI NAÇÃO DA LIPASE
da lipase geralmente são paralelo s àqueles da
amilase, entretanto, tais aumentos podem ocorrer                      P a c i e n t e . Não é exigido cuidados especiais.
antes ou após as elevações da amilase. Na pancre-
a t i t e a g u d a p o d e -se encontrar normoamilasemia             Amostra. S o r o isento de hemólise. É estável por
em 20% dos pacientes (em casos de hiperlipemia)                       uma semana no refrigerador ou por vários meses a
mas com hiperlipasemia. A atividade lipásica não                      -20 0 C.
é necessariamente proporcional à severidade do
ataque.                                                               Interferentes. Resultados falsamente aumenta -
                                                                      dos: c o d e í n a , h e p a rina, morfina, betanecol, cola n-
Complicações da pancreatite aguda. A pan-                             giopan-creatografia retrógrada endoscópica.
creatite aguda pode produzir l í q u i d o a s c í t i c o o u
l í q u i d o p l e u r a l , ou ambos. Acima de 50% dos
pacientes com pancreatite aguda severa desenvol-                      Métodos. Essencial para a compreensão da me-
vem pseudocisto, cuja p r e s e n ç a é s u p e i t a d a             todologia usada na avaliação da lipase é o fato
q u a n do não há melhora clínica em uma semana                       desta enzima atuar na interface éster-água. Deste
                                                                      m o d o , o s s u b s t r a t o s p a r a o e n s a i o d e v e m ser
                                                                      emulsões. A velocidade de reação aumenta com a
98 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



dispersão da emulsão. O emprego de substratos          tripsinogênio no duodeno, em lugar de intra -p a n -
onde a interface éster-água é inapropriada, per-       creática, evita a autodisgestão proteolítica do pân-
mite a ação de outras enzimas, tais como: éster        creas. A tripsina está presente nas fezes de crian-
carboxílico hidrolase, aril-éster hidrolase e lipase   ças pequenas, com redução dos teores em crianças
lipoprotéica. Substratos que empregam triglicerí -     maiores e em adultos, em virtude da des truição da
dios de ácidos graxos de cadeia curta, também          tripsina por bactérias intestinais. A ausência de
permitem falsas reações lipásicas.                     tripsina nas fezes é encontrada em pacientes com
                                                       insuficiência pan creática, fibrose cística (avan-
   Titulometria. Os primeiros métodos práticos
                                                       çada), má absorção em crianças, e pancreatite
para a medida da lipase empregavam uma emulsão
                                                       (crônica).
tamponada de azeite de oliva como substrato. O
soro a ser testado era incubado por 24 h com o
                                                       Bibliografia consultada
substrato e os ácidos graxos liberados eram titula-
dos com hidróxido de sódio a 0,05 M, usando a          CALBREATH, Donald F., CIULLA, Anna P. Clinical
fenolftaleína como indicador.                            c he m i s t r y . 2 e d . P h i l a d e l p h i a : S a u n d e r s , 1 9 9 1 . 468 p.

                                                       CHERRY, I.S., CRANDALL Jr., L. A. The specificity of
   Turbidimetria ou nefelometria. São métodos            pancreatic lipase: Its appearance in the blood after
simples e rápidos que monitoram a redução da             p a n c r e a t i c i n j u r y . Am. J . P h y s i o l . , 1 0 0 :2 6 6 -73, 1932.
turvação de uma emulsão de azeite de oliva como        CLAVIEN, P. A., BURGAN, S., MOOSSA, A. R. Serum
resultado da ação da lipase sobre o substrato.           enzymes and other laboratory tests in acute pancreatitis.
                                                         B r . J . S u r g . , 7 6 :1 2 3 4 -4 3 , 1 9 8 9 .
   Enzimáticos. A lipase hidroliza o substrato         FASSATI, P., PONTI, M., PARIS, P. et al. Kinetic
contendo triglicerídios produzindo glicerol livre        colorime tric assay of lipase in seru m . Clin. Chem,
                                                         3 8 :2 1 1 -5 , 1 9 9 2 .
que é quantificado por diferentes métodos.
                                                       KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA,
                                                         Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry:
       Valores de referência para a lipase               i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . Baltimore : Williams &
                                                         Wilkins, 1995. 514 p.
 Adultos     0,1 a 1,0 Ud Cherry -Crandall ou
                                                       KUROOKA, S., KITAMURA, T. Properties of serum lipase i n
             28 a 280 U/L (intern acionais)
                                                         p a t i e n t s w i t h v a r i o u s p a n c r e a t i c d i s e a s e s . J. Biochem.,
                                                         8 4 :1 4 5 9 -6 6 , 1 9 7 8 .

                                                       REITZ, B., GUIBAULT, G. G. Fluorometric method for
T RIPSINA                                                m e a s u r i n g s e r u m l i p a s e a c t i v i t y . Clin. Chem., 21:1788-
                                                         90, 1975.
                                                       T I E T Z , N . W . , A S T L E S , J . R . , S H U E Y , D . F . Lipase activity
A tripsina é uma enzima proteolítica produzida no           m e a s u r e m e n t i n s e r u m b y a c o n t i n u o s-m o n i t o r i n g p H-
pâncreas, na forma precursora de tripsinogênio              s t a t t e c h n i q u e - a n – u p d a t e . Clin. Chem., 35:1688-93,
                                                            1989.
inativo. O tripsinogênio é convertido em tripsina
no duodeno pela enteroquinase. A ativação do
Enzimas     99




F OSFATASE                  ALCALINA


A       fosfatase alcalina (FA) pertence a um grupo
        de enzimas relativamente inespecíficas, que          § Hepatite viral e cirrose, apresentam pequenas
catalisam a hidrólise de vários fosfomonoésteres                elevações nos níveis séricos da FA.
em pH alcalino. O pH ótimo da reação in vitro
está ao redor de 10, mas depende da natureza e               § Outras desordens, mononucleose in fecciosa,
c o n c e n t r a ç ã o d o s u b s trato empregado.            colangite e cirrose portal.
     A fosfatase alcalina está amplamente distribu-
í da nos tecidos humanos, notadamente na mucosa              Obstrução extrahepática. A atividade eleva 3
intestinal, fígado (canalículos biliares), túbulos           a 10 vezes os valores de referência na obstrução
renais, baço, ossos (osteoblastos) e placenta. A             parcial ou total do colédoco. Encontrados nos
forma predominante no soro em adultos normais                c á l c u l o s b i l i a r e s e câncer de cabeça de pâncreas.
origina-se, principalmente, do fígado e esqueleto.
Apesar da exata função metabólica da enzima ser              Enfermidades ósseas. Aumentos na atividade
d e s c o n h e c ida, parece estar associada com o trans-   da FA ocorrem em pacientes com doenças ósseas
porte lipídico no intestino e com processos de               caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica.
calcificação óssea.
     No fígado, a fosfatase alcalina está localizada         § Doença de Paget (osteíte deformante), como
na membrana celular que une a borda sinusoidal                  resultado da ação das células osteoblásticas na
das células parenquimais aos canalículos biliares.              tentativa de reconstrução óssea que está sendo
N o s ossos a atividade da fosfatase alcalina está              r e a b s o rvida pela atividade não-controlada dos
confinada aos osteoblastos onde ocorre a forma-                 osteoclastos. A FA atinge de 10 a 25 vezes o
ção óssea.                                                      limite superor dos valores de referência.

                                                             § Osteomalácia e raquitismo, apresentam peque-
H IPERFOSFATASEMIA ALCALINA                                     nos aumentos (2 a 4 vezes) de FA, que
                                                                declinam após terapia com vitamina D.
Obstrução intrahepática. Como a fosfatase
alcalina está localizada nas membranas de reves -            § Hiperparatireoidismo primário e secundário,
t imento dos canalículos biliares, e enzima está                incrementos pequenos de FA refletem a pre-
elevada nas desordens do trato biliar. Pelo imp e-              sença e a extensão do envolvimento ósseo.
dimento do fluxo biliar, a FA sérica atinge 2-3
vezes os valores de referência (podendo chegar a             § Tumores ósseos osteoblásticos primários ou
10-15 vezes), dependendo do grau de estase biliar.              secundários, com valores bastante elevados.
Estes aumentos são devidos, fundamentalmente,
ao: (a) incremento na síntese da enzima, (b) reten-          § Fraturas ósseas, p e q u e n o s a u m e n t o s d e F A .
ção de ácidos biliares no fígado, que solubilizam a
fosfatase alcalina e a removem da membrana                   § Outras desordens, pancreatite aguda e crônica,
plasmática dos hepatócitos, e (c) regurgitação da               insuficiência renal crônica, septicemia ex-
enzima para a circulação pelo impedimento da                    trahepática, infecções bacterianas intra -a b d o -
excreção. As elevações ocorrem em:                              minais, síndrome de Fanconi, tirotoxicose e hi-
                                                                perfosfatemia transiente benigna em cria n ças.
§ Lesões expansivas, carcinoma hepatocelular                    Algumas drogas como: cloropromazina, estro -
   primário, metástases, abscessos e granuloma .                gênios e progesterona.
100 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



Gravidez. A u m e n t o s d a F A d e 2-3 vezes são                           s u b s t â n c i a s q u e o s u b s t i t u e m n a a v a l i a ç ã o d a a t i-
observados no terceiro trimestre de gravidez; a                               vidade desta enzima. Deste modo, várias metodo -
enzima adicional é de origem placentária. Au -                                logias foram propostas com o emprego de dife-
mentos ou reduções inexplicáveis da FA, predi-                                rentes substratos.
zem complicações na gravidez, tais como, h i p e r-
                                                                                   β -Glicerofosfato. Os primeiros ensaios publi-
t e n s ã o o u pré-eclampsia.
                                                                              cados quantificavam a liberação do fosfato inor-
                                                                              g â n i c o d o s u b s t r a t o β-glicerolfosfato, após a ação
                                                                              da enzima presente na amostra. Estes métodos
I SOENZIMAS DA FOSFATASE ALCALINA
                                                                              foram abandonados pela pouca sensibilidade e
As principais isoenzimas da fosfatase alcalina                                prolongado período de incubação.
e n c o n t r a d a s n o s o r o s ã o p r o v e n i e n t e s d o fígado,        P -Nitrofenilfosfato. A atividade da enzima é
ossos, intestino e p l a c e n t a . Apresentam consid e-                     medida pela quantidade de fenol liberado do p -
rável heterogeneidade inter e intratecidual, sendo                            nitrofenilfosfato após incubação com o soro, pos-
seu estudo um indicativo da origem da elevação.                               teriormente avaliado por diferentes métodos.
Po dem também ser encontradas outras isoenzimas
patológicas, como a de Regan e Nagao, presentes                                  4 -Nitrofenilfosfato. É o s u b s t r a t o m a i s u s a d o
em processos neoplásticos. Os métodos emprega-                                atualmente na avaliação da fosfatase alcalina. É
d o s n a s e p a r a ç ã o e s t ã o b a s e a d o s nas propriedades        medido o produto liberado após a hidrólise, o 4-
físicas e químicas das isoenzimas: inibição quí-                              nitrofenóxido que é proporcional à atividade da
mica, técnicas imunológicas, eletroforese e inati-                            fosfatase alcalina. A modificação propos t a p o r
v ação térmica.                                                               Bowers e McComb é a mais empregada atual-
                                                                              mente.
                                                                                 α-Naftol monofosfato. Mede a velocidade de
D ETERMINAÇÃO DA FOSFATASE                                                    formação de α-naftol a 340 nm após incubação.
ALCALINA
                                                                                Valores de referência para a fosfatase alcalina
P a c i e n t e . Deve permanecer em jejum por 8 h                                      (4-nitrofenilfosfato – Bowers)
antes d a coleta.                                                             Adultos                              20 a 105 U/L
                                                                              Crianças de 0 a 3 meses              70 a 220 U/L
Amostra. Soro ou plasma heparinizado. Evitar                                  Crianças de 3 meses a 10 anos        60 a 150 U/L
hemólise, pois os eritrócitos contém, aproxima-                               Jovens de 10 a 15 anos               60 a 260 U/L
damente, seis vezes mais fosfatase alcalina que o
soro. O ensaio deve ser realizado logo que possí -                            Bibliografia consultada
vel após a coleta; em algumas horas a fosfatase
aumenta de 3 a 10% a 25 0 C. Os valores podem                                 BELFIELD, A., GOLDBERG, D. M. Inhibition of the
                                                                                nucleotidase effect os alkaline phosphatase by β-
estar 25% mais elevados após a ingestão de refe i-                              g l y c e r o p h o s p h a t e . N a t u r e , 2 9 1 :7 3 -5 , 1 9 6 8 .
ção rica em gorduras.
                                                                              BOWERS Jr., G.N., McCOMB, R.B. Measurement of total
                                                                                alkaline phosphatase activity in human serum. Clin.
Interferências. Resultados falsamente elevados:                                 C h e m . , 2 6 :1 9 8 8 -9 5 , 1 9 7 5 .
são encontrados em pacientes submetidos a trata-                              KOAY, Evelyn S. C., WALMSLEY, Noel. A primer of
mento com paracetamol, aspirina, agentes anti-                                  c he m i c a l p a t h o l o g y . Singapore : World Scientific, 1996.
                                                                                396 p.
fúngicos, barbitúricos, difenilhidantoína, morfina,
                                                                              POSEN, S., DOHERTY, E. Serum alkaline phosphatase in
a n t i-concepcionais orais e tiazidas.                                         c l i n i c a l m e d i c i n e . Adv. Clin. Chem., 22:163-245, 1981.
Métodos. Como o substrato natural da fosfatase                                PRICE, C. P. Multiple forms of human serum alkaline
                                                                                p h o sp h a t a s e : d e t e c t i o n a n d q u a n t i t a t i o n . A n n . C l i n .
alcalina é desconhecido, foram propostas várias                                 Bioc h e m . , 3 0 :3 5 5 -7 2 , 1 9 9 3 .
Enzimas        101




F OSFATASE               ÁCIDA TOTAL E FRAÇÃO PROSTÁTICA


O     termo fosfatase ácida (FAC) designa um
      grupo heterogênio não-específico de fosfata-
                                                         p o s s í vel pela regurgitação da enzima no soro por
                                                         c o mp r e s s ã o o u o b s t r u ç ã o d o s i s t e m a d u c t a l p r o s-
ses que exibem pH ótimo entre 4,5 e 7, e catali-         tático como resultado da hipertrofia glandular. O
sam a hidrólise de monoéster ortofosfórico produ-        d iagnóstico é realizado através de questionários
zindo um álcool e um grupo fosfato. A fosfatase          de sintomas, toque retal, dosagem de PSA, fluxo -
ácida é amplamente distribuída nos tecidos. A            metria e estudo de fluxo de pressão. A etiopatoge-
maior atividade é encontrada na glândula prostá-         nia da HPB ainda não está adequadamente escla -
t ica (1000 vezes maior que em outros tecidos),          recida.
células osteoblásticas do osso, fígado, b aço, rins,
eritrócitos e plaquetas. Em homens adultos, a            Após cirurgia ou terapia anti -androgênica.
próstata contribui com quase a metade da enzima          Os níveis vagarosamente retornam ao normal ou
presente no soro.                                        com o subseqüente aumento caso o tratamento não
     Em indivíduos do sexo masculino, a fração           tenha obtido sucesso.
prostática representa em torno de 50% da fosfa -
t ase ácida total, sendo o restante provenie n t e d o   Palpação retal. A fosfatase ácida prostática no
fígado e de desintegração das plaquetas e eritró -       soro, raramente eleva após a palpação. Entretanto,
citos. Para o sexo feminino é proveniente do fí -        elevações transitórias podem ocorrer após biópsia
g ado, eritrócitos e plaquetas. Os níveis de fosfa -     da próstata, cistoscopia, infarto prostático (cau-
tase ácida no soro apresentam importância clínica        s ado pelo ato de cateterização) e a bastante rara,
no diagnóstico e monitorização do câncer prostá-         ruptura de cisto prostático.
tico, em especial pelo emprego da fração prostá-
tica da fosfatase (FACP).                                Outros aumentos da fosfatase ácida total.
                                                         Pequenas a moderadas elevações são encontradas,
                                                         freqüentemente, nas enfermidades ósseas associa-
H IPERFOSFATESEMIA ÁCI DA                                das aos osteoclastos: enfermidade de Paget (avan-
                                                         çada), hiperparatireoidismo com envolvimento
Carcinoma prostático. A principal finalidade             esquelético, invasão maligna do câncer de seio,
da determinação da fosfatase ácida prostática é o        anemia hemolític a, anemia megaloblástica, mono -
diagnóstico e a monitorização do câncer prostá-          nucleose, prostatite, policitemia vera, leucemia
t ico, particularmente, da forma metastisada. O          mielocítica (e outras enfermidades hematológi-
carcinoma prostático atinge principalmente ho-           cas), mieloma múltiplo, enfermidade de Niemann-
mens acima de 50 anos e é classificado em quatro         Pick e enfermidade de Gaucher (deficiência da
e s tágios A, B, C e D (ver tabela 4.2) com relação      enzima glicerocerebrosidase).
também as elevações do antígeno prostático esp e-
cífico (Ver marcadores tumorais). As elevações da
FAC prostática são encontradas ao redor de 60%           D ETERMI NAÇÃO DA FOSFATASE ÁCIDA
dos homens com câncer metastático da próstata
(estágio D). No entanto, enquando o câncer per-          P a c i e n t e . Não é exigido preparo especial.
manece localizado na glândula são en c o n t r a d o s
valores normais ou levemente aumentad o s d a a t i-     Amostra. S o r o o u p l a s m a h e p a r i n i z a d o isento de
vidade da enzima.                                        hemólise e não lipêmicos. Separar o soro ou
                                                         pla s ma dos eritrócitos logo que possível. A en-
Hipertrofia prostática benigna (HPB). É uma              zima é estabilizada na amostra por acidificação
o c o rrência relativamente comum em homens              (pH ao redor de 5,4). Isto é conseguido pela adi-
acima de 40 anos. O aumento da atividade é               ção de 50 µL de ácido acético 5 mol/L (alternati-
102 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



vamente, juntar 10 mg de citrato dissódico monoi-             mostram diferentes graus de inibição pelo L-tarta-
drato por mL de soro). Nestas condições a ativi-              rato.
d a d e e n zimática é mantida por várias horas em
                                                                 α-Naftol fosfato . Os métodos que empregam o
temperatura ambiente ou por uma semana no re -
                                                              α-naftol fosfato como substrato liberam o naftol –
frigerador.
                                                              pela ação da fosfastase ácida – que reage com o
Interferentes. Resultados falsamente aumenta -                Fast Red TR para formar um produto colorido.
dos: clofibrato. Resultados falsamente reduzidos:             Pouco usado atualmente.
etanol e estrogênio -terapia para o carcinoma de
                                                                   Enzima imunoensaio. Os métodos imunológi-
próstata.
                                                              c o s e s t ã o g a n h a n d o força, principalmente na a u -
Métodos. Vários métodos foram desenvolvidos                   tomação, por sua especificidade para a FACP. Um
para avaliar a atividade da fosfatase ácida. Devido           anticorpo monoclonal ligado a um suporte sólido
a importância da detectação do carcinoma prostá-              u n e -se a FAC prostática. Um segundo anticorpo
tico antes de metastizar, esforços tem sido reali-            conjugado a uma enzima (ALP ou peroxidase)
zados no aumento da sensibilidade e especifici-               liga-se a fosfatase ácida prostática; a a tividade da
d ade das medidas da enzima.                                  enzima ligada é proporcional aos teores de FACP.
    Primeiros métodos. Historicamente, muitos dos                Outros métodos. Radioimunoensaio, cinética
ensaios desenvolvidos para medir a atividade da               fluoremétrica.
fosfatase alcalina foram adaptados para a fosfa -
t ase ácida utilizando os mesmos substratos mas                  Valores de referência para a fosfastase ácida
utilizando um tampão ácido.                                                     prostática (Roy)
    O emprego do fenilfosfato em pH 4,9 é uma                 Adultos                     0,5 a 1,9 U/L
modificação do método de King-Armstrong para a
fosfatase alcalina. Outras adaptações foram reali-            Bibliografia consultada
zadas com o β-glicerolfosfato ou 4-nitrofenilfos-
fato.                                                         BODANSKY, O. Acid phosphatase. Adv. Clin. Chem.,
                                                                1 5 :4 4 -1 3 6 , 1 9 7 2 .
     Timolftaleína monofosfato. É um substrato                CATALONA, W. J., SMITH, D. S., RATLIFF, T. L. et al.
a u t o -indicador com alto grau de especificidade              M e a s u r e m e n t o f p r o s t a t e -specific antigen in serum as a
                                                                screening test for prostate cancer. N. Engl. J. Med.,
para a FACP. A timolftaleína liberada após a ação
                                                                3 2 4 :1 1 5 6 -6 1 , 1 9 9 1 .
da fosfatase, desenvolve cor em meio alcalino.
                                                              CHAN, D. W. AND SOKOLL L. J. Prostate-specific Antigen:
Fosfatases ácidas provenientes de outros tecidos,               Advances and Challenges. Clin Chem. 45:755-756, 1999.
reagem em grau bem menor com este substrato.
                                                              EWEN, L. M., SPITZER, R. W. Improved determination of
Este método é freqüentemente usado.                             prostatic acid phosphatase (sodium thymolphthalein
                                                                m o n o p h s o p a h t e s u b s t r a t e ) . C l i n . C h e m . , 2 2 :6 2 7 -3 2 ,
    Inibição pelo L -t a r t a r a t o . A inibição química     1976.
dife rencia a fração prostática pelo uso de L-tarta-          M A Y N E , P h i l i p D . , D A Y , A n d r e w P . Workbook of clinical
rato. A fosfatase ácida total é determinada por                  chemistry: case presentation and data interpretation.
                                                                 New York : Oxford University Press, 1994. 2 0 8 p .
métodos correntes (são utilizados o 4 -nitrofosfato
o u α-naftil fosfato como substrato) e, em seguida,           ROY, A. V., BROWER, M.E. HAYDEN, J.E. Sodium
                                                                thymol phthalein monophosphato: A new acid
a fração prostática é inibida pelo L-tartarato com              phosphatase substrate with gre ater specificity for the
n o v a d e t erminação da fosfatase ácida. A fração            p r o s t a t i c a n z y m e i n s e r u m . C l i n . C h e m . , 1 7 :1093-102,
                                                                1971.
prostática é calculada pela diferença entre as duas
                                                              TOWNSEND, R. M. Enzyme tests in disease of the
determinações. Esta medida não é totalmente es -                prost a t e . A n n . C l i n . L a b . S c i . , 7 :2 5 4 -6 1 , 1 9 7 7 .
pecífica para a FACP já que outras isoenzimas
Enzimas   103



Tabela 9.2. Classificação clínica do câncer prostático
                                                                                                                 Freqüência da       Freqüência de
Grau           Descrição, histologia e resultados do exame digital retal
                                                                                                             elevação da fosfatase    elevação do
clínico                           e outros exames                                                               ácida prostática          PSA
     A1        Microscópico, não palpável clinicamente com focos menores do
                                                                                                                     11%                 67%
               que 5% do tecido examinado
     A2        M icroscópico, não palpável clinicamente; com muitas áreas de
               mais de5%
     B1        P a l p á v e l , t u m o r m a c r o s c ó p i c o ≤1,5 cm de diâmetro em um
                                                                                                                     22%                 73%
               único lobo
     B2        Palpável, tumor macroscópico >1,5 cm de diâmetro ou vários
               nódulos em ambos os lobos
     C1        T u m o r c o m e xtensão extracapsular mas ainda clinicamente
               l o c a l i z a d o , p a l p á v e l , e s t e n d e n d o - se até a vesícula seminal mas           39%                 80%
               ainda não fixado à parede pélvica
     C2        Tumor com extensão extracapsular mas ainda clinicamente
               l o c a l i z a d o , p a l p á v e l e s t e n d e n d o - se na vesícula seminal mas
               fixado na parede pélvica
     D1        Tumor metastático demonstrável limitado três nódulos pélvicos
                                                                                                                     58%                 88%
               ou menos
     D2        Tumor metastático demonstrável com nódulos mais extensos ou
               metástase extrapélvica (ex.: aos ossos)
Enzimas          104




A MINOTRANSFERASES (TRANSAMINASES )

A      s enzimas aspartato aminotransferase, AST
       (transaminase glutâmica-oxalacética, GOT) e
                                                                                                tes do início dos sintomas. Os aumentos podem
                                                                                                atingir até 100 vezes os limites superiores dos
alanina aminotransferase, ALT (transaminase                                                     valores de referência, apesar de níveis entre 20
glutâmica-pinúvica, GPT) catalisam a transferê n -                                              e 50 vezes, serem os mais encontrados. A s
cia reversível dos gru pos amino de um aminoácido                                               atividades máximas ocorrem entre o 7 e 12 0
para o α-cetoglutarato, formando cetoácido e                                                    dia; declinando entre a terceira e quinta se-
ácido glutâmico. Estas reações requerem piridoxal                                               mana, logo após o desaparecimento dos sinto-
fo s fato como coenzima:                                                                        mas. Na fase aguda da hepatite viral ou tóxica,
                                                                                                a ALT (GPT), geralmente, apresenta atividade
A s p a r t a t o + α- c e t o g l u t a r a t o D oxalacetato + ácido glutâmico
                                                                                                maior que a AST (GOT). A r elação AST/ALT é
A l a n i n a + α- c e t o g l u t a r a t o D p i r u v a t o + á c i d o g l u t â m ico
                                                                                                menor que 1. Geralmente, se encontram hiper-
    As reações catalisadas pelas aminotransferases                                              bilirrubinemia e bilirrubinúria com pequena
(transaminases) exercem papéis centrais tanto na                                                elevação dos teores séricos da fosfatase alca-
síntese como na degradação de aminoácidos. Além                                                 lina.
disso, como estas reações envolvem a interconver-
são dos aminoácidos a piruvato ou ácidos dicarb o-                                           § Cirrose hepática. São detectados níveis até
xílicos, atuam como uma ponte entre o metabo -                                                  cinco vezes os limites superiores dos valores
lismo dos aminoácidos e carboidratos.                                                           de referê n c i a , d e p e n d e n d o d a s c o n d i ç õ e s d o
    As aminotransferases estão amplamente distri-                                               progresso da destruição celular; nestes casos, a
buídas nos tecidos humanos. As atividades mais                                                  atividade da AST (GOT) é maior que a ALT
elevadas de AST (GOT) encontram-se no mi o -                                                    (GTP). A dis função hepatocelular provoca a
cárdio, fígado, músculo esquelético, com peque-                                                 síntese prejudicada da albumina, além do pro -
nas quantidades nos rins, pâncreas, baço, cérebro,                                              longamento do tempo de protrombina, hiperbi-
pulmões e eritrócitos.                                                                          lirrubinemia, teores de amônia elevadas e ure -
                                                                                                mia baixa. A u mentos das aminotransferases
                                                                                                semelhantes aos encontrados na cirrose, são
A UMENTOS DAS AMINOTRANSFERASES                                                                 freqüentes na co lestase extrahepática, carci-
                                                                                                noma de fígado, após ingestão de álcool, du-
                                                                                                rante o “delirium tremens” e após administra -
Desordens hepatocelulares. A AST (GOT) e                                                        ç ã o d e c e r t a s d ro gas, tais como, opiatos, sali-
a ALT (TGP) são enzimas intracelulares presentes                                                cilatos ou ampicilina. A relação AST/ALT
em grandes q u a n t i d a d e s n o c i t o p l a s m a d o s h e pa-                          freqüentemente é ma ior que 1.
tócitos. Lesões ou destruição das células hepáticas
liberam estas enzimas para a circulação. A ALT                                               § Mononucleose infecciosa. Pode ocorrer eleva-
(GPT) é encontrada principalmente no citoplasma                                                 ções de até 20 vezes os valores de referência,
do hepatócito, enquanto 80% da AST(GOT) está                                                    com o envolvimento hepático.
presente na mitocôndria. Esta diferença tem auxi-
liado no diagnóstico e prognóstico de doenças                                                § Colestase extra -h e p á t i c a a g u d a . Entre as vá-
hepáticas. Em dano hepatocelular leve a forma                                                   rias causas estão: retenção de cálculos biliares,
predominante no soro é citoplasmática, enquanto                                                 carcinoma de cabeça de pâncreas e tumor dos
em lesões graves há liberação da enzima m                           i-                          ductos biliares.
tocondrial, elevando a relação AST/ALT.
                                                                                             Infarto do miocárdio. Ao redor de 6 a 8 horas
§ H e p a t i t e a g u da. Os níveis de aminotransfera-                                     após o infarto do miocárdio, a atividade sérica da
     ses séricas elevam-se uma a duas semanas a n -                                          AST (GOT) começa a elevar, atingindo o pico
Enzimas           105



máximo (20 a 200 U/mL) entre 18 e 24 horas e,                     d a n t o í na, etanol, isoniazida, morfina, anticoncep-
progressivamente, retornando aos valores de refe-                 cionais orais, sulfonamidas e tiazidas.
rência ao redor do 5 0 dia. A AST (GOT) n ã o altera
na angina pectoris, pericardite e enfermidade vas-                Métodos. Alguns métodos utilizados para a d e-
cular miocárdica.                                                 terminação da atividade das aminotransferases
                                                                  baseiam-se na formação de cor entre o piruvato ou
Distrofia muscular progressiva e dermato-                         oxaloacetato e a dinitrofenilhidrazina para formar
miosite. Elevações de 4-8 vezes da AST (GOT)                      as hidrazonas correspondentes. A alcalinização da
e, ocasionalmente, da ALT (GPT), são encontra-                    mistura desenvolve cor proporcional à conversão
dos. Em geral, estão normais em outras enfermi-                   dos cetoácidos à hidroxiácidos. A dinitrofenilh i-
dades musculares, especialmente as de origem                      drazina também reage com o α-cetoglutarato pro -
neurogênica.                                                      vocando interferências. Estes m é t o d o s s ã o o b s o -
                                                                  letos.
Embolia pulmonar. Aumento de 2-3 vezes o
                                                                     Monitorização contínua. O piruvato ou oxalo-
normal.
                                                                  acetato formados pela ação das aminotransferases
                                                                  são acoplados a uma segunda reação onde o piru -
Pancreatite aguda. Provoca aumentos mode-
                                                                  vato (pela ação da ALT) ou oxaloacetato (pela
rados de duas a cinco vezes o normal.
                                                                  ação da AST) são reduzidos pela NADH em rea-
Insuficiência cardíaca congestiva. Os níveis                      ção catalisada pela lactato d esidrogenase (para a
                                                                  ALT) ou malato desidrogenase (para a AST). A
de AST podem estar aumentados em graus de leve
                                                                  transformação da NADH por oxidação à NAD + é
a moderado, provavelmente, refletindo a necrose
h e p á t i c a s e c u n d á ria ao suprimento sangüíneo in a-   monitorada em 340 nm. É adicio nado piridoxal 5’-
                                                                  fosfato para suplementar o teor de coenzima no
dequado do fígado.
                                                                  soro e assim desenvolver ativid ade máxima. Este
Outras desordens. A AST (GOT) apresenta                           princípio é utilizado na tecnologia de química
pequenos aumentos na gangrena, esmagamento                        seca (DT Vitros).
muscular, enfermidade hemolíticas, distrofia
muscular progressiva, dermatomiosite, colangite                                 Valores de referência a 37 o C (U/L)
(inflamação dos ductos biliares) e infecção por                                AST (GOT):                  5 a 34
parasitas.                                                                     ALT (GTP):                  6 a 37

                                                                  Bibliografia consultada

D ETERMINAÇÃO DAS TRANSAMINASES                                   BRUNS, D., SAVORY, J., TITHERADGE, A. et al.
                                                                    E v a l u a t i o n o f t h e I F CC-r e c o m m e n d e d p r o c e d u r e f o r
                                                                    serum a sp a r t a t e a m i n o t r a n s f e r a s e a s m o d i f i e d f o r u s e
Paciente: Não necessita cuidados especiais.                         w i t h t h e c e n t r i f u g a l a n a l y z e r . C l i n . C h e m . , 2 7 :1 5 6-9,
                                                                    1981.

Amostra. S o r o isento de hemólise, pois a ativ i-               COHEN, J. A., KAPLAN, M. M. The SGOT/SGPT ratio na
                                                                    indicador of alcoholic liver disease. Dig. Dis. Sci.,
dade das aminotransferases é maior nos eritróci-                    2 4 :8 3 5 -8 , 1 9 7 9 .
t os. A atividade da enzima permanece inalterada
                                                                  KARMEN, S. A note on the spectrophotometric assay of
por 24 horas em temperatura ambiente e mais de                      g l u t a m i c-oxalacetic transaminase in human bloodserum.
uma semana sob refrigeração.                                        J . C l i n . I n v e s t . , 3 4 :1 3 1 -3 , 1 9 5 5 .

                                                                  REITMAN, S., FRANKEL, S.A. A colorimetric method for the
Interferentes. Valores falsamente aumentados:                       determination of serum glutamic oxalacetic and glutamic
                                                                    p i r u v i c t r a n s a m i n a s e s . A m . J . C l i n . P a t h . , 2 8 :5 7 -6 3 ,
paracetamol, ampicilina, agentes anestésicos,                       1957.
c lo ranfenicol, codeína, cumarínicos, dife nilhi-
106 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




G AMA -G LUTAMILTRANSFERASE
     γ-glutamiltransferase (γ-GT) catalisa a trans -
A    ferência de um grupo γ-glutamil de um peptí -
                                                                                        Nas doenças hepatocelulares incluem também a
                                                                                     elevação das transaminases, bilirrubinas, tempo de
dio para outro peptídio ou para um aminoácido                                        protrombina prolongado e hipoalbuminemia.
produzindo aminoácidos γ-glutamil e cis tenil-
glicina. Está envolvida no transporte de aminoáci-                                   Enfermidades hepáticas induzidas pelo
dos e peptídios através das membranas celulares,                                     álcool. A liberação da γ-GT no soro reflete os
na síntese protéica e na regulação dos níveis de                                     efeitos tóxicos do álcool e drogas (ex.: fenitoína)
glutatião tecidual. A γ-GT é encontrada no fígado,                                   sobre as estruturas microssomiais das células h e-
rim, in testino, próstata, pâncreas, cérebro e cora-                                 páticas. A γ-GT é um indicador do alcoolismo,
ção.                                                                                 particularmente, da forma ocult a. Em geral, as
                                                                                     elevações enzimáticas nos alcoólatras variam e n -
                                                                                     tre 2-3 vezes os valores de referência. Por outro
A UMENTOS NA ATIVIDADE DA γ-GT                                                       lado, a ingestão de álcool em ocasiões sociais não
                                                                                     aumenta, significativamente, a γ-GT. Estes en-
Apesar da atividade enzimática ser maior no rim,                                     s aios são úteis no acompanhamento dos efeitos da
a enzima presente no soro é de origem, principal-                                    a b s t e n ç ã o d o á l c o o l . N e s t e s c a s o s , o s n í v e i s v o l-
mente, do sistema hepatobiliar. No f ígado, a γ-GT                                   tam aos valores de referência em duas ou três
está localizada nos canalículos das células hepáti-                                  semanas, mas podem elevar novamente se o uso
cas e, particularmente, nas células epiteliais que                                   do álcool é retomado. Em vista da susceptibili-
revestem os ductos biliares. Deste modo, o princi-                                   d ade da indução enzimática, a interpretação da
pal valor clínico na avaliação da γ-GT é no estudo                                   γ-GT em qualquer caso, deve ser realizada à luz
das desordens hepatobiliares. O grau de elevação                                     dos efeitos de drogas e álcool. O diagnóstico do
é útil no diagnóstico diferencial entre as desor-                                    uso de álcool pode ser complementado pelos se-
dens hepáticas e do trato biliar.                                                    guintes testes:

Obstrução intra -hepática e extra -hepática.                                         § Volume celular médio (VCM) dos eritrócitos. O
São observados os maiores aumentos (5-30 vezes                                            valor diagnóstico da γ-GT é aumentado quando
os limites superiores dos valores de referência)                                          a macrocitose é encontra da pela medida do
n a s c o l e s t a s e s d o t r a t o biliar – processo patoló -                        VCM.
g ico primário da cirrose biliar, colestase intra -
hepática e obstrução biliar extra -hepática. A γ-GT                                  § Tranferrina deficiente em carboidratos (CDT).
é mais sensível e duradoura que a fosfatase alca-                                         Em pacientes com doença induzida pelo álcool,
lina, as transaminases e a nucleotidase, na                                               a transferrina plasmática tem um reduzido
d et e c t a ç ã o d e i c t e r í c i a o b s t r u t i v a , c o l a n g i t e e        conteúdo de carboidratos (ácido siálico). O
c o l ecistite. Além disso, a γ-GT é útil na diferenci-                                   t eor de CDT plasmático está aumentado em,
ação da fonte de elevação da fosfatase alcalina – a                                       aproximadamente, 90% dos pacientes que inge-
γ-GT apresenta valores normais nas desordens                                              rem mais de 60 g de álcool por dia.
ósseas e durante a gravidez. A γ-GT é particula r-
mente importante na avaliação do envolvimento                                        § Etanol sangüíneo.
h e patobiliar em adolescentes, pois a atividade da
fosfatase alcalina está elevada durante o cresci-                                    Hepatite infeciosa. Aumentos de 2 a 5 vezes os
mento ósseo.                                                                         valores de referência; nestes casos a determinação
                                                                                     das aminotranferases (transaminases) é de maior
                                                                                     utilidade.
Enzimas           107



Neoplasmas. Primários ou secundários apre-                             Amostra. S o r o s a n g ü í n e o . Estável por uma s e-
sentam atividade da γ-GT mais intensa e mais                           mana em temperatura ambiente. Quando conge-
precoce que outras enzimas hepáticas.                                  lada é estável por 3 meses.

Esteatose hepática (fígado gorduroso). É a                             Métodos. Os primerios métodos de análise da
mais comum das hepatopatias alcoólicas, mas                            γ-GT empregavam o glutatião como substrato. O
também é descrita em outros quadros, como: h e-                        desaparecimento do substrato ou a formação de
patites medicamentosas, gestação, nutrição pa-                         produto era detectada por cromatografia, mano -
renteral, corticoterapia, diabetes e nas desnutri-                     metria ou absorvância em UV.
ções protéicas. Pequenos aumentos (2 a 5 vezes o
                                                                            γ -Glutamil-p -nitroanilina. O substrato mais
valor superior de referência) ocorrem pela indução
                                                                       usado para a análise da γ-GT é a γ-glutamil-p -
das enzimas microssomiais pelo álcool. Nas outras
                                                                       nitroanilida. O resíduo γ-glutamil do substrato
condições os aumentos são menores.
                                                                       doador é transferido para a glicilglicina, liberando
                                                                       a p -nitroanilina, um produto cromogênico com
Drogas. A γ-GT está presente em grandes quan-
                                                                       a b s o r v â n c ia em 405-420 nm. Esta reação tanto
t i d a d e s n o r e t í c u l o en doplasmático liso e, por-
                                                                       pode ser usada como método de monitorização
tanto, susceptível a indução de aumento da sua
                                                                       contínua como de ponto final. Em química seca
atividade por dro gas, tais como a fenitoína, warfa -
                                                                       (DT Vitros) a alteração de reflexo é empregada
rina e fenobarb it a l . N e s t e s cas o s , a s e l e v a ç õ e s
                                                                       para calcular a atividade da enzima.
a t ingem níveis 4 vezes maiores que os limites
superiores dos valores de referência.
                                                                       Interferências. Resultados falsamente elevados:
                                                                       fenitoína, fenobarbital, glutemidina e metaqua-
Fibrose cística (mucoviscidose). Elevam a
                                                                       lo na.
γ-GT por complicações hepáticas decorre n t e s .
                                                                                  Valores de referência (U/L)
Câncer prostático. São encontrados níveis mo -
                                                                         Homens:                 5 a 25
deradamente elevados. Outros tipos de câncer com
                                                                         Mulheres                8 a 40
metástase hepática também provocam aumentos da
enzima.
                                                                       Bibliografia consultada
Outras condições. Lupus eritematoso sistêmico                          B E R T E L L I , M . S . , C O N C I , F . M . Álcool e fígado. Caxias do
                                                                          Sul : EDUCS, 1997. 219 p.
e hipertireoidismo.
                                                                       C o m m i t t t e e o n E n z y m e s o f t h e S c a n dinavian Society for
                                                                           Clinical Chemistry and Clinical Physiology:
   Atividade normal da enzima é encontrada em                              R e c o m m e n d e d m e t h o d f o r t h e d e t e r m i n a t i o n o f γ-
enfermidades ósseas (enfermidade de Paget, neo -                           glutamyl transf erase in blood. Scand. J. Clin. Lab.
                                                                           I n v e s t . , 3 6 :1 1 9 -2 5 , 1 9 7 6 .
plasma ósseo), em crianças acima de u m ano e em
                                                                       IFCC Expert Panel on Enzymes: IFCC methods for the
mulheres grávidas saudáveis – condições em que
                                                                         m e a s u r e m e n t o f t he catalytic concentration of enzymes.
a fosfatase alcalina está aumentada. Apesar da                           I V : I F C C m e t h o d f o r γ-g l u t a m i l t r a n s f e r a s e . J . C l i n .
γ-GT ser encontrada no pâncreas e rins, a enzima                         C h e m . C l i n . B i o c h e m . , 2 1 :6 3 3 -4 6 , 1 9 8 3 .
não eleva em desordens nestes órgãos a menos que                       LONDON, J. W., SHAW, L. M., THEODORSEN, L.,
                                                                         STROME, J. H. Application of response surface
exista envolvimento hepático.                                            methodology to the assay of gamma-
                                                                         g l u t a m y l t r a n s f e r a s e . C l i n . C h e m . , 2 8 :1 1 4 0 -3 , 1 9 8 2 .

D ETERMINAÇÃO DA γ-GT                                                  R O S A L K I , S . B . G a m m a -g l u t a m y l t r a n s p e p t i d a s e . A d v .
                                                                          C l i n . C h e m . , 1 7 :5 3 -1 0 7 , 1 9 7 5 .
                                                                       SMITH, A. F., BECKETT, G. J., WALKER, S. W., ERA, P. W. H.
P a c i e n t e . Deve permanecer em jejum por 8 h o -                  Clinical biochemistry. 6 ed. London : Blackwell Science, 1998.
ras, à exceção da ingestão de água. Além disso,                         p. 110-123.

não deve ingerir álcool durante 24 horas antes da                      SZASZ, G. A kinetic photometric method for serum gamma-
                                                                         g l u t a m y l t r a n s p e p t i d a s e . Clin. Chem., 15:124-36, 1969.
prova.
108 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações




L ACTATO                DESIDROGENASE


A   lactato desidrogenase (LD) é uma enzima da
    c l a s s e d a s oxidorredutases que catalisa a
oxidação reversível do lactato a piruvato, em pre-         A UMENTOS NA ATIVIDADE DA LD
sença da coenzima NAD+ que atua como doador
ou aceptor de hidrogênio.                                  Infarto agudo do miocárdio. A LD no soro
                   +
  Lactato + NAD + D Piruvato + NADH + H       +     +      aumenta 8 a 12 horas após o infarto do miocárdio,
                                                           atingindo o pico máximo entre 24-4 8 h o r a s ; e s t e s
   A LD está presente no citoplasma de todas as            valores permanecem aumentados por 7 a 12 dias
células do organismo. Sendo rica no miocárdio,             (v. adiante).
fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Os
níveis teciduais de LD são, aproximadamente, 500           Insuficiência cardíaca congestiva, mioca r-
vezes maiores do que os encontrados no soro e              dite, choque ou insuficiência circulatória.
lesões naqueles tecidos provocam elevações pla s-          A LD eleva mais do que 5 vezes os valores de
máticas significantes desta enzima.                        referência.

                                                           Anemia megaloblástica. A deficiência de fo -
I SOENZIMAS DA LACTATO                                     lato ou vitamina B 1 2 p r o v o c a d e s t r u i ç ã o d a s c é lu -
DESIDROGENASE                                              las precursoras dos eritrócitos na medula óssea e
                                                           aumenta, em até 50 vezes, a atividade da enzima
                                                           sérica por conta das isoenzimas LD -1 e LD -2 que
Devido a presença da lactato desidrogenase em
                                                           voltam ao normal após o tratamento.
vários tecidos, aumentos dos teores séricos da
mesma é um achado inespecífico. É possível obter
                                                           Válvula cardíaca artificial. É uma causa de
informações de maior significado clínico pela
                                                           hemólise que eleva as frações LD -1 e LD -2.
separação da LD em suas cinco frações isoenzi-
máticas. As isoenzimas de LD são designadas de
                                                           Enfermidade hepática. O s a u m e n t o s n ã o s ã o
acordo com sua mobilidade eletroforética. Cada
                                                           tão efetivos como os das transaminases (amin o -
isoenzima é um tetrâmero formado por quatro
                                                           transferases):
subunidades chamadas H para a cadeia polipeptí -
dica cardíaca e M para a cadeia polipeptídica
                                                           § Hepatite infecciosa tóxica com icterícia, pro -
muscular esquelética. As cinco isoenzimas encon-
                                                               v o ca aumento de até 10 vezes os valores de re -
trados no soro são:
                                                               ferência.
    Tipo         Percentagem         Localização
                                                           § Hepatite viral, cirrose e icterícia obstrutiva,
LD-1 (HHHH)        14-26       Miocárdio e eritrócitos         apresentam níveis levemente aumentados: uma
L D - 2 (HHHM)     29-39       Miocárdio e eritrócitos         o u d u a s v e z e s o s v a l o r e s superiores de referê n-
                               Pulmão, linfócitos, baço,       cia.
L D - 3 (HHMM)     20-26
                               pâncreas
L D - 4 (HMMM)         8-16    Fígado, músc. esquelético   Mononucleose infeciosa. Os teores séricos da
                                                           LD são geralmente altos, talvez porque a LD seja
L D - 5 (MMMM)         6-16    Fígado, músc. esquelético
                                                           liberada dos agregados das células mononucleares
                                                           imaturas do organismo.
  A hemólise produzida durante a coleta e/ou
manipulação de sangue, eleva as frações LD -1 e
                                                           Enfermidade renal. Especialmente necrose
LD-2.
                                                           t u b u l a r e pielonefrite. Entretanto estes aumentos
Enzimas        109



não estão correlacionados com a proteinúria e                          cular não está associado a nenhuma anormalidade
outros parâmetros da enfermidade renal.                                clínica específica.
                                                                            No infarto do miocárdio tem-s e o s n í v e i s d a
Doenças malignas. Mostram incrementos da                               fração LD -1 e LD -2 aumentados, as isoenzimas
LD no soro, especialmente aquelas com metásta-                         das quais o miocárdio é particularmente rico (ver
ses hepáticas. Elevações importantes são encon -                       adiante).
tradas n a enfermidade de Hodgkin, c â n c e r a b d o -                    Além do lactato, a LD pode a t u a r s o b r e o u t r o s
minal e pulmonar.                                                      s u b s t r a t o s , t a i s c o m o o α-hidroxibutirato. A subu-
                                                                       nidade H tem afinidade maior pelo α-hidroxibuti-
Distrofia muscular progressiva. A u m e n t o s                        rato do que as subunidades M. Isto permite o uso
moderados especialmente nos estágios iniciais e                        deste substrato na medida da ativ idade da LD -l e
médios da doença: eleva a fração LD -5.                                LD-2, que consistem quase inteiramente d e s u b u -
                                                                       nidades H. Este ensaio é conhecido como a me -
Trauma muscular e exercícios muito inte n-                             dida da atividade da α-hidroxibutirato desidroge-
sos. Eleva principalmente a LD -5, dependendo da                       nase (α-HBD).
extensão do trauma.                                                         A α-HBD não é uma enzima distinta, é, isto
                                                                       sim, representante da atividade da LD -1 e LD -2. A
Embolia pulmonar. A isoenzima LD -3 está                               atividade da α-HDB está aumentada naquelas
elevada provavelmente pela grande destruição de                        c o n d ições em que as frações LD -1 e LD -2 estão
plaquetas após a formação do êmbolo.                                   elevadas. No infarto do mio cárdio, a atividade da
                                                                       α-HBD é muito similar aquela da LD -l.
Pneumocistose. Em pacientes portadores do                                   Foi proposto o cálculo da relação LD/ α-HBD
vírus da imunodeficiência adquirida. Esta suspeita                     que, em adultos varia entre 1,2 a 1,6. Nas enfermi -
d eve ser confirmada através dos caracteres clíni-                     dades hepáticas parenquimais, a relação se situa
cos e dos níveis de hipoxemia dos gases arteriais.                     entre 1,6 a 2,5. No infarto do miocárdio, com
                                                                       aumento da LD -1 e LD -2 a relação diminui para
                                                                       0,8 a 1,2.
C ORRELAÇÃO CLÍNICA DAS ISOENZIMAS
DA LD
                                                                       L ACTATO DESIDROGENASE NA URINA
As isoenzimas apresentam alterações em várias
enfermidades que refletem a natureza dos tecidos
envolvidos.                                                            Elevações da atividade da LD na urina de três a
    Aumentos da LD -3 ocorrem com freqüência em                        seis vezes os valo res de referência estão associa -
pacientes com vários tipos de carcinomas.                              das com g l o merulonefrite crônica, lupus eritema -
    As isoenzimas LD -4 e LD -5 s ã o e n c o n t r a d a s ,          toso sistêmico, nefroesclerose diabética e câncer
fundamentalmente, no fígado e músculo esquelé -                        de bexiga e rim. A determinação da LD na urina é
t ico, com o predomínio da fração LD -5. Assim                         afetada pela presença de inibidores como a uréia e
s en do, os níveis LD -5 s ã o ú t e i s n a d e t e c t a ç ã o d e   p e q u e n o s p e p t í d i o s e d e p o ssíveis inativações da
d es o r d e n s h e p á t i c a s – particularmente, distúrbios       enzima sob condições de pH adversos na urina.
intra -h e p á t i c o s – e desordens do músculo esquelé -
t ico, como a distrofia muscular. Na suspeita de
enfermidade hepática, com LD total muito au -                          L ACTATO DESIDROGENASE NO LCR
mentada e quadro isoenzimático não-específico,
existe grande possibilidade da presença de câncer.                     Em condições normais a atividade da LD no lí -
    A LD pode formar complexos com imunoglo -                          q u ido cefalorraquidiano (LCR) é bem menor do
bulinas e revelar bandas atípicas na eletroforese.                     q u e a e n c o n t r a d a n o s o r o s a n g ü í n e o . A d i s t r i b u i-
O complexo com a IgA e IgG, geralmente migra                           ção is o enzimática é LD 1 >LD 3 >LD 2 >LD 4 >LD 5 . No
entre a LD -3 e LD -4. Este complexo macromole-                        en tanto, estes valores podem aumentar e/ou modi-
110 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações



ficar em presença de hemorragia ou lesão na bar-                      ção, a quantidade de piruvato consumida é deter-
re ira cerebral sangüínea provocada por enfermida-                    minada pela adição de d i n i t r o f e n i l h i d r a z i n a para
d e s q u e a d icionam LD de origem sistêmica ao                     formar um composto colorido (hidrazona) medido
LCR. Além disso, as isoenzimas da LD são libera -                     fotometricamente. Esta metodologia está sendo
das das células que se infiltram no LCR. Por                          abandonada em detrimento aos ensaios “cinéti-
exemplo, na m e n i n g i t e b a c t e r i a n a , a granulocitose   c o s ”. Em outro método colorimétrico, a NADH
resultante produz elevações da LD -4 e LD -5, en-                     formada reage com sais tetrazólicos para produzir
q u a n t o a meningite viral c a u s a linfocitose que               um composto colorido.
provoca elevações da LD -1 e LD -3.
                                                                           Piruvato à lactato. Muitos métodos medem a
     Alguns autores observaram aumentos na fração
                                                                      interconversão de lactato/piruvato utilizando a
LD-5 no LCR em presença de tumores metastati-
                                                                      coenzima NAD+ e NADH medida em 340 nm. As
zados, enquanto em tumores cerebrais primários
                                                                      r e a ç õ e s p rocedem do lactato → piruvato, ou de
mostram aumento em todas as frações. Em neo -
                                                                      modo inverso, piruvato → lactato. A velocidade
natais, elevações da LD s ão observadas em hemo r-
                                                                      da reação reversa é três vezes mais rápida, permi-
ragias intracraneanas e estão de forma significa-
                                                                      tindo o emprego de reagentes mais baratos, amo s-
t iva associadas com distúrbios neurológicos com
                                                                      tras pequenas e menor tempo de incubação. En -
convulsões e hidroencefalia.
                                                                      tretanto, a reação reversa é mais susceptível a
                                                                      exaustão do substrato e a perda de linearidade. O
D ETERMINAÇÃO DA LACTATO                                              filme usado em química seca (DT Vitros) contêm
DESIDROGENASE                                                         os reagentes para o emprego da conversão do
                                                                      piruvato e NADH, em lactato e NAD+ .
P a c i e n t e . Não é exigido preparo especial.
                                                                                           Valores de referência para a
Amostra. S o r o o u plasma hepa r i n i z a d o ou LCR.                           lactato desidrogenase (U/L)
O soro e plasma devem estar completamente                               Soro                              95 a 225
isentos de hemólise, pois os eritrócitos contém                         Urina                              42 a 98
100-150 vezes mais LD. Estável por 24 h em tem-                         Líquido cefalorraquid ia n o       7 a 30
peratura ambiente. Não refrigerar.
                                                                      Bibliografia consultada
Interferentes. Resultados falsamente elevados:
ácido ascórbico, anfotericina B, barbitúricos, car-                   CABAUD, P. G., WRÓBLEWSKI, F. Colorimetric
                                                                        m e a s u re m e n t o f l a c t i c d e h y d r o g e n a s e a c t i v i t y o f b o d y
bonato de lítio, clofibrato, carbutamina, cefalo -                      f l u i d s . A m . J . C l i n . P a t h . , 3 0 :2 3 4 -6 , 1 9 8 1 .
t ina, clonidina, cloridrato de clorpromazina, clori-                 CHATTERLY, S, SUN, T., LIEN, Y. Diagnostic value of
drato de procainamida, codeína, dextran, floxuri-                       lactate dehydrogenase isoenzymes in cerebrospinal
                                                                        f l u i d . J . C l i n . L a b . A n a l . , 5 :1 6 8 -7 4 , 1 9 9 1 .
dina, hormônio tireóideo, lorazepam, meperidina,
mitramicina, morfina, nia cina, nifedipina, propra-                   STURK, A., SANDERS, G. T. B. Macro enzymes:
                                                                        prevalence, composition, detection and clinical
nolol e metildopa. Resultados falsamente reduzi -                       r e l e v a n c e . J . C l i n . C h e m . C l i n . B i o c h e m . , 2 8 :6 5 -8 1 ,
dos: esteróides anabólicos, androgênios oxalatos e                      1990.
tiazidas.                                                             Working Group on Enzymes of the German Siciety for
                                                                        C l i n i cal Chemistry: Proposal for standard methods for
                                                                        the determination of enzyme concentrations in serum
Métodos. A atividade da lactato desidrogenase                           a n d p l a s m a a t 3 7 o C. C l i n . C h e m . C l i n . B i o c h e m . ,
pode ser avaliada em termos da velocidade de                            2 8 :8 0 5 -8 , 1 9 9 0 .
transformação do piruvato a lactato. Após incuba-
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  • 1. 9 Volume VALTER T. MOTTA Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Enzimas
  • 2. ENZIMAS A s enzimas são proteínas com propriedades catalisadoras sobre as reações que ocorrem As meias -vidas das enzimas teciduais após nos sistemas biológicos. Elas tem um elevado grau liberação no plasma apresentam grande variabili- de especificidade sobre seus substratos acelerando d a d e – nos casos de enzimas medidas com propó - reações específicas sem serem alteradas ou co n - sitos diagnósticos e prognósticos, podem variar sumidas durante o processo. O estudo das enzimas desde algumas horas até semanas. Em condições tem imensa importância clínica. Em algumas do - normais as atividades enzimáticas permanecem enças as atividades de certas enzimas são medi- constantes, refletindo o equilíbrio entre estes pro- das, principalmente, no plasma sangüíneo, eritró - cessos. Modificações nos níveis de atividade e n - citos ou tecidos. Todas as enzimas presentes no zimática ocorrem em situações onde este balanço corpo humano s ão sintetizadas intracelularmente. é alterado. Três casos se destacam: As elevações na atividade enzimática são devi- das: Enzimas plasma-específicas. Enzimas ativas no plasma utilizadas no mecanismo de coagulação Aumento na liberação de enzimas para o sangüínea e fibrinólise. Ex.: pró -coagulantes: plasma é c o n s e q ü ê n c i a d e : trombina, fator XII, fator X e outros. § Lesão celular extensa, as lesões celulares são Enzimas secretadas. São secretadas gera l- geralmente causadas por isquemia ou toxinas mente na forma inativa e após ativação atuam em celulares, por exemplo: na elevação da ativ i- locais extracelulares. Os exemplos mais óbvios dade da isoenzima CK-MB após infarto d o s ã o a s p r o t e a s e s o u h i d r o l a s e s p r o d u z i d a s n o s is- miocárdio. tema digestório. Ex.: lipase, α-amilase, tripsin o - gênio, fosfatase ácida prostática e antígeno pros- § Proliferação celular e aumento na renovação t ático específico. Muitas são encontradas no san- celular, por exemplo: aumentos na fosfatase gue. alcalina pela elevação da atividade osteoblás- tica durante o crescimento ou restauração ó s - Enzimas celulares. Normalmente apresentam sea após fraturas. baixos teores séricos, mas os níveis aumentam quando são liberadas a partir de tecidos lesados § Aumento na síntese enzimática, por exemplo: por alguma doença. Isto permite inferir a localiza- marcada elevação na atividade da γ-glutamil ç ã o e a natureza das variações patológicas em transferase após a ingestão de álcool. alguns órgãos, tais como: fígado, pâncreas e mi o - cárdio. A elevação da atividade sérica depende do § O b s t r u ç ã o d e d u c t o s – afeta as enzimas nor- conteúdo de enzima do tecido envolvido, da ex- malmente encontradas nas secreções exócri- tensão e do tipo de necrose. São exemplos de e n - nas, por exemplo: a amilase e a lipase no suco zimas celulares as transaminases, lactato desidro- pancreático. Estas enzimas podem regurgitar genases etc. para a corrente circulatória se o ducto pancre - á t ic o -biliar estiver bloqueado.
  • 3. 92 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Redução da remoção de enzimas do relacionar a atividade enzimática aumentada com p l a sma devido à insuficiência renal. Afeta os tecidos lesados. Isto porque as enzimas não as enzimas excretadas na urina, por exemplo: a estão confinadas a tecidos ou orgãos específicos, amilase pode estar elevada na insuficiência renal. pois estão grandemente distrib u í d a s e s u a s a t i v i- dades podem refletir desordens envolvendo vários A redução nos níveis de atividade enzimática tecidos. são menos comuns e ocorrem na: Na prática, a falta de especificidade é parc i- almente superada pela medida de vários parâme- § Síntese enzimática reduzida, por exemplo: tros (que incluem várias enzimas). Como as con - colinesterase baixa na insuficiência hepática centrações relativas das enzimas variam consid e- severa pela redução do número de hepatócitos. ravelmente em diferentes tecidos, é possível, pelo menos em parte, identificar a origem de algumas § Deficiência congênita de enzimas, por exe m- enzimas. Por exemplo, apesar das enzimas p lo: baixa atividade da enzima fosfatase alc a- transaminases ALT (GTP) e AST (GOT) serem lina plasmática na hipofosfatasemia congênita. igualmente abundantes no tecido hepático, a AST (GOT) apresenta concentração 20 vezes maior que § Variantes enzimáticas inerentes com baixa a ALT (GTP) no músculo cardíaco. A determin a- a t i v i d a d e b i o l ó g i c a , por exemplo, variantes ção simultânea das duas enzimas fornece uma anormais da colinesterase. clara indicação da provável localização da lesão tecidual. A especificidade enzimática pode tam- A utilidade diagnóstica da medida das enzimas bém ser aumentada pela análise das formas isoen - p l a s máticas reside no fato que as alterações em zimáticas de algumas enzimas como na lactato suas atividades fornecem indicadores sensíveis de desidrogenase. lesão ou proliferação celular. Estas modificações A seleção de quais enzimas medir com propó - ajudam a detectar e, em alguns casos, localizar a sitos diagnósticos e prognósticos depende de vá- lesão tecidual, monitorar o tratamento e o pro - rios fatores. As principais enzimas de uso clínico, g r e s s o d a d o e n ç a . No entanto, muitas vezes falta juntamente com seus tecidos de origem e aplica- especificidade, isto é, existem dificuldades em ções clínicas são listadas na tabela 9.1. Tabela 9.1 Distribuição de algumas enzimas de importância diagnóstica Enzima Principal fonte Principais aplicações clínicas Amilase Glândulas salivares, pâncreas, ovários Enfermidade pancreática A m i n o t r a n s f e r a s e s ( t r a n sa - Fígado, músculo esquelético, coração, rim, Doenças do parênquima hepático, infarto do minases) eritrócitos miocárdio, doença muscular Antígeno prostático específico Próstata Carcinoma de próstata Creatina quinase Músculo esquelético, cérebr o, coração, músculo Infarto do miocárdio, enfermidades liso musculares Fosfatase ácida Próstata, eritrócitos Carcinoma da próstata Fosfatase alcalina Fígado, osso, mucosa intestinal, placenta, rim Doenças ósseas, enfermidades hepáticas γ - G l u t a m i l t r a n s f e rase Fígado, rim Enfermidade hepatobiliar, alcoolismo Lactato desidrogenase Coração, fígado, músculo esquelético, eritró- Infarto do miocárdio, hemólise, doenças do citos, plaquetas, nódulos linfáticos parênquima hepático Lipase Pâncreas Enfermidade pancreática
  • 4. Enzimas 93 A MILASE A amilase é uma enzima da classe das hidrolases que catalisa o desdobramento do amido e glicogênio ingeridos na dieta. O amido é a forma de normal (ex.: muitas pancreatites associadas com hiperlipemia). Outros testes laboratoriais, como a medida da amilase urinária, depuração da amilase, armazenamento para a glicose nos vegetais, sendo avaliação das isoenzimas da amilase e a medida da constituído por uma mistura d amilose (amido não- e lipase sérica, quando empregados em conjunto ramificado) e amilopectina (amido ramificado). A com a avaliação da amilasemia, aumentam consi- estrutura do glicogênio é similar ao da amilopectina, deravelmente a especificidade no diagnóstico da com maior número de ramificações. A α-amilase pancreatite aguda. Apesar de menor utilidade no catalisa a hidrólise das ligações α-l, 4 da amilose, amilopectina e glicogênio, liberando maltose e diagnóstico da pancreatite, a amilase urinária está isomaltose. Não hidrolisa as ligações α-1,6. freqüentemente aumentada, atingindo valores mais A amilase sérica é secretada, fundamental- elevados e que persistem por períodos maiores. mente, pelas glândulas salivares (forma S) e cé- Além da determinação da amilasemia outros sinais lulas acinares do pâncreas (forma P). É secretada freqüentes são utilizados para avaliar a pancre atite no trato intestinal por meio do ducto pancreático. aguda: A s glândulas salivares secretam a amilase que inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos § N o m o m e n t o d o d i a g n ó s t i c o : contagem de na boca e esôfago. Esta ação é desativada pelo leucócitos >16.000/mm 3 ; glicemia >200 conteúdo ácido do estômago. No intestino, a ação mg/dL; lactato desidrogenase >2 x normal; da amilase pancreática é favorecida pelo meio ALT (GTP) > 6 x normal. alcalino presente no duodeno. A atividade amilá- sica é também encontrada no sêmem, testículos, § Durante as primeiras 48 horas: diminuição do ovários, tubos de Fallopio, músculo estriado, pul- hematócrito >10%; cálcio sérico <8 mg/dL; mões e tecido adiposo. A amilase tem massa mo - p O 2 arterial <60 mm/Hg. lecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, fa- cilmente, filtrada pelo glomérulo renal. Outras causas de hiperamilasemia pancre- ática: § C o m p l i c a ç õ e s d a p a n c r e a t i t e a g u d a , tais H IPERAMILASEMIA c o m o : p s e u d o c i s t o c o mplicadas por hemorragia, as cites e efusão pleural. Pancreatite aguda. Constitui um distúrbio i n - flamatório agudo do pâncreas associado a edema, § Lesões traumáticas do pâncreas, incluindo intumescência e quantidades variadas de autodis- trauma cirúrgico e investigações radiográficas. gestão, necrose e, em alguns casos, hemorragia. Os níveis de amilasemia aumentam após 2 -12 h do § Carcinoma de pâncreas, c o m o b s t r u ç ã o d o s início do episódio de dor abdominal que é cons- ductos pancreáticos. tante, intenso e de localização epigástrica com irradiação posterior para o dorso. A atividade § Abscesso pancreático, onde a amilasemia au - amilásica retorna ao normal entre o terceiro e o menta ocasionalmente. quarto dia. Os valores máximos são quatro a seis vezes maiores do que os valores de referência e Hiperamilasemia não-pancreática: são atingidos entre 12-72 h. A magnitude da ele- v a ç ã o n ã o se correlaciona com a severidade do § Insuficiência renal por declínio da depuração. envolvimento pancreático. Por outro lado, 20% de Os aumentos são proporcionais à extensão do t o d o s o s c a s o s d e p a n c r e a t i t e apresentam amilase comprometimento renal.
  • 5. 94 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações § Neoplasias de pulmão e ovário. § T r a n s p l a n t e r e n a l , um quinto dos transplanta- dos renais apresentam hiperamilasemia. § Síndrome de Meigs (associação de ascite, efu - são pleural e fibro ma de ovário). § Alcoolismo agudo. § Lesões das glândulas salivares, caxumba ou § P n e u m o n i a e enfermidades não-neoplásicas. cirurgia maxilofacial. § Drogas (opiatos, heroína) por constrição d o § Macroamilasemia, encontradas em 1-2% da esfíncter de Oddi e ductos pancreáticos, com a população como resultado da combinação da conseqüente elevação da pressão intraductal, molécula de amilase com imunoglobulinas provocando regurgitação da amilase para o (IgA e IgG) ou outras proteínas plasmáticas soro. normais o u anormais para formar um complexo muito grande para ser filtrado pelo glomérulo; neste evento não ocorre amilasúria aumentada A MILASE URINÁRIA e não indica doença. A hiperamilasúria reflete as elevações séricas da Hiperamilasemia por desordens de origem amilase. A atividade da amilase urinária é deter- c o m p l e x a . Com mecanismos desconhecidos ou minada em amostras de urina de uma hora (nestes incertos: casos o paciente deve esvaziar completamente a bexiga e desprezar esta urina; todas as urinas c o - § D o e n ç a d o t r a t o b i l i a r como a colecistite lhidas na hora seguinte são reservadas) ou de 24 a g u da com aumentos de até quatro vezes os horas. Na pancreatite aguda a reabsorção tubular v a lo res de referência . da amilase está reduzida, provavelmente secundá- ria a competição com outras proteínas de baixa § Eventos intra -a b d o m i n a i s (não pancreáticos) massa molecular. A hiperamilasúria ocorre tam- tais como: úlcera péptica perfurada, obstrução bém em quase todas as situações que elevam a intestinal, infarto mesentérico, peritonite, amilase sérica. apendicite aguda, gravidez ectópica rompida, aneurismas aórticos e oclusão mesentérica. D EPURAÇÃO DA AMILASE § Trauma cerebral, a causa da elevação é incerta, mas pode estar associada com trauma A relação·entre a depuração renal da amilase e a das glâ n dulas salivares e/ou abdominais; isto é , depuração da creatinina é útil no diagnóstico dife- dependente de outros órgãos atingidos. rencial da pancreatite aguda. Nesta patologia, a depuração renal da amilase é, geralmente, maior § Queimaduras e choques tra umáticos. do que a depuração da creatinina causando eleva- ção na relação. O mecanismo responsável por este § Hipermilasemia pós-operatória, ocorre em aumento na depuração é, em parte, atribuído a um 20% dos pacientes submetidos a intervenções distúrbio na reabsorção tubular da amilase (e de cirúrgicas – incluindo procedimentos extra -ab- outras proteínas de baixa massa molecular) na dominais. pancreatite aguda. A fórmula empregada para a depuração é: § C e t o a c i d o s e d i a b é t i c a ,a hiperamilasemia está presente em 80% destes pacientes sendo mais Amilase na urina (U/dL) × creat. no soro (mg/dL) f r e q ü e n t e q u a n d o os teores de glicemia são × 100 = % >500 mg/dL (a fonte de amilase é incerta). Amilase no soro × creat. na urina (mg/dL)
  • 6. Enzimas 95 As determinações de amilase e creatinina séricas clásticos, cromolíticos e técnicas de monitoração são realizadas em amostras obtidas ao mesmo c o n tínua. tempo da coleta de urina. A comparação das duas Amiloclásticos (Iodométricos). A avaliação depurações permite corrigir as alterações na velo- amiloclástica (iodométrica) está baseada na capa- cidade de filtração glomerular, condição esta tam- cidade do iodo formar cor azul intensa com o bém encontrada na insuficiência renal severa. amido. Após a ação da amilase sobre um substrato Normalmente, os valores da relação variam de amido em tempo determinado, a cor azul é entre 1 a 4%, enquanto na pancreatite aguda, fre- medida fornecendo a quantidade de polissacarídio qüentemente, estão entre 7 e 15%. No entanto, remanescente. O método de Van Loon modificado esta relação não é específica, pois apresenta ele- por Caraway além de empregar um substrato rela - v a ç õ e s n a c e t o a c i d o s e diabética, queimaduras tiv amente estável é eficiente e rápido. extensas, perfuração duodenal, mieloma, circula- ção extracorpórea e grandes doses intravenosas de Sacarogênicos. Nestes métodos, o substrato de corticoesteróides. A relação é normalizada após a polissacarídio é hidrolizado pela ação da ami lase atividade da amilase no sangue e urina voltarem com formação de monossacarídios e dissacarídios. aos valores de referência. O cálculo desta relação O dissacarídio (maltose) forma glicose pela ação permite diferenciar a macroamilasemia de outras de uma maltase. A quantidade de glicose produ- causas de hiperamilasemia. Em função do tama- zida indica a atividade amilásica. As unidades nho do complexo de macroamilase sua depuração So mogyi obtidas neste método expressam o nú- renal é reduzida, fornecendo em valores abaixo de mero de mg de glicose liberada após incubação. A 1%. quantidade de glicose já existente na amostra deve ser considerada ao empregar estes métodos. É bastante empregado em automação. D ETERMINAÇÃO DA AMILAS E Ensaios cromolíticos. Utilizam um substrato P a c i e n t e . Não é exigida preparação especial. de amido ligado a um corante, formando um com- ple xo insolúvel. Após a ação da amilase são pro - Amostra. S o r o sem hemólise e não-lipêmico. A duzidos pequenos fragmentos de corante-substrato atividade amilásica necessita de cálcio e cloretos solúveis em água medidos fotometricamente. Este como cofatores. Assim, anticoagulantes quelantes método é facilmente automatizado. como o citrato, oxalato e EDTA são impróprios Monitoração contínua. Sistemas enzimáticos- para estas amo s t r a s . Urina colhida no período de 1 acoplados são empregados para determinar a ati- h ou no período de 24 h sem conservantes. A vidade enzimática por técnica de monitoração amilase é uma enzima bastante estável. No soro e contínua na modificação na absorvância do NAD+ urina (livre de contaminação bacteriana) a amilase medida em 340 nm. é estável por uma semana em temperatura amb i- ente ou por vários meses sob refrigeração. Outros métodos. Raramente empregados para este propósito são os métodos turbidimétricos, Interferentes. Resultados falsamente aumenta - nefelométricos e de polarização fluorescente. dos: ácido aminossalicílico, ácido etacrínico, grandes quantidades de etanol, aspirina, analgés i- Valores de referência para a amilase cos narcóticos, anticoncepcionais orais, colinérg i- Soro de adultos 60 a 160 U/dL (Somogyi) cos, contrastes radiográficos, corticoesteróides, 1500 a 1800 U/d (Somogyi) Urina pancreozimina, furosemida, rifampina e tiazídicos. ou 70-275 U/h Resultados falsamente reduzidos: glicose e fluore- 50.000 a 80.000 Ud/L Líquido duoden a l tos. (Somo gyi) Métodos. A amilase é determinada por diferentes métodos. Os principais são: sacarogênicos, amilo-
  • 7. 96 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações VAN LOON, E.J., LIKINS, M.R., SEGER, A. J. Photometric Bibliografia consultada m e t h o d f o r b l o o d a m y l a s e b y u s e o f s t a r c h -iodine color. A m . J . C l i n . P a t h . , 2 2 :1 1 3 4 -6 , 1 9 5 2 . CARAWAY, W.T. A stable starch substrate for the d e t e r m i nation of amylase in serum and other body fluids. WONG, E.C.C., BUTCH, A. W., ROSENBLUM, J.L. et al. A m . J . C l i n . P a t h o l . , 3 2 :9 7 -9 , 1 9 5 9 . The clinical chemistry laboratory and acute pancreatitis. C l i n . C h e m . , 3 9 :2 3 4 -4 3 , 1 9 9 3 .
  • 8. Enzimas 97 L IPASE E TRIPSINA A lipase é uma enzima altamente específica que catalisa a hidrólise dos ésteres de glic erol de após o ataque. Metade dos pacientes com pseudo- cisto mostram elevações na lipase sérica. ácidos graxos de cadeia longa (triglicerí dios) em presença de sais biliares e um cofator chamado Pancreatite crônica. A lipase sérica também é c o l i p a s e . As ligações éster, nos átomos de carbono utilizada no diagnóstico da pancreatite crônica; 1 e 3 são preferentemente rompidas, produzindo a p e s a r da destruição das células acinares nos últ i- dois mol de ácidos graxos de cadeia longa e um mos estágios da enfermidade resulta em diminui- mol de 2-acilmonoglicerídio por mol de ção na quantidade da enzima na circulação. triglicerídio hidrolizado. Tanto a lipase como a colipase são sintetizadas pelas células acinares do Desordens intra -abdominais agudas. A s pâncreas. A lipase também é encontrada na mu - vezes o diagnóstico da pancreatite é dificultado co sa intestinal, leucócitos, células do tecido adi- por outras desordens intra -abdomi nais com acha- poso, língua e leite. dos clínicos similares: ú l c e r a s d u o d e n a i s o u g á s- tricas perfuradas, obstrução intestinal mesenté- ri c a e c o l e c i s t i t e a g u d a . H IPERLIPASEMIA Enfermidade renal aguda ou crônica. Nestes A medida da atividade da lipase no soro, plasma, casos o aumento da atividade lipásica não é tão líquido ascítico e pleural, é usada exclusivamente freqüente nem tão pronunciada como a atividade para o diagnóstico de desordens pancreáticas, da amilase. geralmente, pancreatite aguda. Os níveis de lipase s ã o n o r m a i s n o s c a s o s d e e n v o lvimento de glâ n - Obstrução do ducto pancreático. A o b s t ru - ção do ducto pancreático por cálculo ou carcinoma dulas salivares. de pâncreas pode elevar a atividade da lipase sé- Pancreatite aguda. A atividade da lipase au - rica, dependendo da localização da obstrução e a menta entre 4 a 8 horas, após o início do quadro quantidade de tecido lesado. atingindo o pico máximo em 24 horas. Os valores voltam ao normal entre 8 e 14 dias. Os aumentos D ETERMI NAÇÃO DA LIPASE da lipase geralmente são paralelo s àqueles da amilase, entretanto, tais aumentos podem ocorrer P a c i e n t e . Não é exigido cuidados especiais. antes ou após as elevações da amilase. Na pancre- a t i t e a g u d a p o d e -se encontrar normoamilasemia Amostra. S o r o isento de hemólise. É estável por em 20% dos pacientes (em casos de hiperlipemia) uma semana no refrigerador ou por vários meses a mas com hiperlipasemia. A atividade lipásica não -20 0 C. é necessariamente proporcional à severidade do ataque. Interferentes. Resultados falsamente aumenta - dos: c o d e í n a , h e p a rina, morfina, betanecol, cola n- Complicações da pancreatite aguda. A pan- giopan-creatografia retrógrada endoscópica. creatite aguda pode produzir l í q u i d o a s c í t i c o o u l í q u i d o p l e u r a l , ou ambos. Acima de 50% dos pacientes com pancreatite aguda severa desenvol- Métodos. Essencial para a compreensão da me- vem pseudocisto, cuja p r e s e n ç a é s u p e i t a d a todologia usada na avaliação da lipase é o fato q u a n do não há melhora clínica em uma semana desta enzima atuar na interface éster-água. Deste m o d o , o s s u b s t r a t o s p a r a o e n s a i o d e v e m ser emulsões. A velocidade de reação aumenta com a
  • 9. 98 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações dispersão da emulsão. O emprego de substratos tripsinogênio no duodeno, em lugar de intra -p a n - onde a interface éster-água é inapropriada, per- creática, evita a autodisgestão proteolítica do pân- mite a ação de outras enzimas, tais como: éster creas. A tripsina está presente nas fezes de crian- carboxílico hidrolase, aril-éster hidrolase e lipase ças pequenas, com redução dos teores em crianças lipoprotéica. Substratos que empregam triglicerí - maiores e em adultos, em virtude da des truição da dios de ácidos graxos de cadeia curta, também tripsina por bactérias intestinais. A ausência de permitem falsas reações lipásicas. tripsina nas fezes é encontrada em pacientes com insuficiência pan creática, fibrose cística (avan- Titulometria. Os primeiros métodos práticos çada), má absorção em crianças, e pancreatite para a medida da lipase empregavam uma emulsão (crônica). tamponada de azeite de oliva como substrato. O soro a ser testado era incubado por 24 h com o Bibliografia consultada substrato e os ácidos graxos liberados eram titula- dos com hidróxido de sódio a 0,05 M, usando a CALBREATH, Donald F., CIULLA, Anna P. Clinical fenolftaleína como indicador. c he m i s t r y . 2 e d . P h i l a d e l p h i a : S a u n d e r s , 1 9 9 1 . 468 p. CHERRY, I.S., CRANDALL Jr., L. A. The specificity of Turbidimetria ou nefelometria. São métodos pancreatic lipase: Its appearance in the blood after simples e rápidos que monitoram a redução da p a n c r e a t i c i n j u r y . Am. J . P h y s i o l . , 1 0 0 :2 6 6 -73, 1932. turvação de uma emulsão de azeite de oliva como CLAVIEN, P. A., BURGAN, S., MOOSSA, A. R. Serum resultado da ação da lipase sobre o substrato. enzymes and other laboratory tests in acute pancreatitis. B r . J . S u r g . , 7 6 :1 2 3 4 -4 3 , 1 9 8 9 . Enzimáticos. A lipase hidroliza o substrato FASSATI, P., PONTI, M., PARIS, P. et al. Kinetic contendo triglicerídios produzindo glicerol livre colorime tric assay of lipase in seru m . Clin. Chem, 3 8 :2 1 1 -5 , 1 9 9 2 . que é quantificado por diferentes métodos. KAPLAN, Alex, JACK, Rhona, OPHEIM, Kent E., TOIVOLA, Bert, LYON, Andrew W. Clinical chemistry: Valores de referência para a lipase i n t e r p r e ta t i o n a n d t e c h n o q u e s . Baltimore : Williams & Wilkins, 1995. 514 p. Adultos 0,1 a 1,0 Ud Cherry -Crandall ou KUROOKA, S., KITAMURA, T. Properties of serum lipase i n 28 a 280 U/L (intern acionais) p a t i e n t s w i t h v a r i o u s p a n c r e a t i c d i s e a s e s . J. Biochem., 8 4 :1 4 5 9 -6 6 , 1 9 7 8 . REITZ, B., GUIBAULT, G. G. Fluorometric method for T RIPSINA m e a s u r i n g s e r u m l i p a s e a c t i v i t y . Clin. Chem., 21:1788- 90, 1975. T I E T Z , N . W . , A S T L E S , J . R . , S H U E Y , D . F . Lipase activity A tripsina é uma enzima proteolítica produzida no m e a s u r e m e n t i n s e r u m b y a c o n t i n u o s-m o n i t o r i n g p H- pâncreas, na forma precursora de tripsinogênio s t a t t e c h n i q u e - a n – u p d a t e . Clin. Chem., 35:1688-93, 1989. inativo. O tripsinogênio é convertido em tripsina no duodeno pela enteroquinase. A ativação do
  • 10. Enzimas 99 F OSFATASE ALCALINA A fosfatase alcalina (FA) pertence a um grupo de enzimas relativamente inespecíficas, que § Hepatite viral e cirrose, apresentam pequenas catalisam a hidrólise de vários fosfomonoésteres elevações nos níveis séricos da FA. em pH alcalino. O pH ótimo da reação in vitro está ao redor de 10, mas depende da natureza e § Outras desordens, mononucleose in fecciosa, c o n c e n t r a ç ã o d o s u b s trato empregado. colangite e cirrose portal. A fosfatase alcalina está amplamente distribu- í da nos tecidos humanos, notadamente na mucosa Obstrução extrahepática. A atividade eleva 3 intestinal, fígado (canalículos biliares), túbulos a 10 vezes os valores de referência na obstrução renais, baço, ossos (osteoblastos) e placenta. A parcial ou total do colédoco. Encontrados nos forma predominante no soro em adultos normais c á l c u l o s b i l i a r e s e câncer de cabeça de pâncreas. origina-se, principalmente, do fígado e esqueleto. Apesar da exata função metabólica da enzima ser Enfermidades ósseas. Aumentos na atividade d e s c o n h e c ida, parece estar associada com o trans- da FA ocorrem em pacientes com doenças ósseas porte lipídico no intestino e com processos de caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica. calcificação óssea. No fígado, a fosfatase alcalina está localizada § Doença de Paget (osteíte deformante), como na membrana celular que une a borda sinusoidal resultado da ação das células osteoblásticas na das células parenquimais aos canalículos biliares. tentativa de reconstrução óssea que está sendo N o s ossos a atividade da fosfatase alcalina está r e a b s o rvida pela atividade não-controlada dos confinada aos osteoblastos onde ocorre a forma- osteoclastos. A FA atinge de 10 a 25 vezes o ção óssea. limite superor dos valores de referência. § Osteomalácia e raquitismo, apresentam peque- H IPERFOSFATASEMIA ALCALINA nos aumentos (2 a 4 vezes) de FA, que declinam após terapia com vitamina D. Obstrução intrahepática. Como a fosfatase alcalina está localizada nas membranas de reves - § Hiperparatireoidismo primário e secundário, t imento dos canalículos biliares, e enzima está incrementos pequenos de FA refletem a pre- elevada nas desordens do trato biliar. Pelo imp e- sença e a extensão do envolvimento ósseo. dimento do fluxo biliar, a FA sérica atinge 2-3 vezes os valores de referência (podendo chegar a § Tumores ósseos osteoblásticos primários ou 10-15 vezes), dependendo do grau de estase biliar. secundários, com valores bastante elevados. Estes aumentos são devidos, fundamentalmente, ao: (a) incremento na síntese da enzima, (b) reten- § Fraturas ósseas, p e q u e n o s a u m e n t o s d e F A . ção de ácidos biliares no fígado, que solubilizam a fosfatase alcalina e a removem da membrana § Outras desordens, pancreatite aguda e crônica, plasmática dos hepatócitos, e (c) regurgitação da insuficiência renal crônica, septicemia ex- enzima para a circulação pelo impedimento da trahepática, infecções bacterianas intra -a b d o - excreção. As elevações ocorrem em: minais, síndrome de Fanconi, tirotoxicose e hi- perfosfatemia transiente benigna em cria n ças. § Lesões expansivas, carcinoma hepatocelular Algumas drogas como: cloropromazina, estro - primário, metástases, abscessos e granuloma . gênios e progesterona.
  • 11. 100 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações Gravidez. A u m e n t o s d a F A d e 2-3 vezes são s u b s t â n c i a s q u e o s u b s t i t u e m n a a v a l i a ç ã o d a a t i- observados no terceiro trimestre de gravidez; a vidade desta enzima. Deste modo, várias metodo - enzima adicional é de origem placentária. Au - logias foram propostas com o emprego de dife- mentos ou reduções inexplicáveis da FA, predi- rentes substratos. zem complicações na gravidez, tais como, h i p e r- β -Glicerofosfato. Os primeiros ensaios publi- t e n s ã o o u pré-eclampsia. cados quantificavam a liberação do fosfato inor- g â n i c o d o s u b s t r a t o β-glicerolfosfato, após a ação da enzima presente na amostra. Estes métodos I SOENZIMAS DA FOSFATASE ALCALINA foram abandonados pela pouca sensibilidade e As principais isoenzimas da fosfatase alcalina prolongado período de incubação. e n c o n t r a d a s n o s o r o s ã o p r o v e n i e n t e s d o fígado, P -Nitrofenilfosfato. A atividade da enzima é ossos, intestino e p l a c e n t a . Apresentam consid e- medida pela quantidade de fenol liberado do p - rável heterogeneidade inter e intratecidual, sendo nitrofenilfosfato após incubação com o soro, pos- seu estudo um indicativo da origem da elevação. teriormente avaliado por diferentes métodos. Po dem também ser encontradas outras isoenzimas patológicas, como a de Regan e Nagao, presentes 4 -Nitrofenilfosfato. É o s u b s t r a t o m a i s u s a d o em processos neoplásticos. Os métodos emprega- atualmente na avaliação da fosfatase alcalina. É d o s n a s e p a r a ç ã o e s t ã o b a s e a d o s nas propriedades medido o produto liberado após a hidrólise, o 4- físicas e químicas das isoenzimas: inibição quí- nitrofenóxido que é proporcional à atividade da mica, técnicas imunológicas, eletroforese e inati- fosfatase alcalina. A modificação propos t a p o r v ação térmica. Bowers e McComb é a mais empregada atual- mente. α-Naftol monofosfato. Mede a velocidade de D ETERMINAÇÃO DA FOSFATASE formação de α-naftol a 340 nm após incubação. ALCALINA Valores de referência para a fosfatase alcalina P a c i e n t e . Deve permanecer em jejum por 8 h (4-nitrofenilfosfato – Bowers) antes d a coleta. Adultos 20 a 105 U/L Crianças de 0 a 3 meses 70 a 220 U/L Amostra. Soro ou plasma heparinizado. Evitar Crianças de 3 meses a 10 anos 60 a 150 U/L hemólise, pois os eritrócitos contém, aproxima- Jovens de 10 a 15 anos 60 a 260 U/L damente, seis vezes mais fosfatase alcalina que o soro. O ensaio deve ser realizado logo que possí - Bibliografia consultada vel após a coleta; em algumas horas a fosfatase aumenta de 3 a 10% a 25 0 C. Os valores podem BELFIELD, A., GOLDBERG, D. M. Inhibition of the nucleotidase effect os alkaline phosphatase by β- estar 25% mais elevados após a ingestão de refe i- g l y c e r o p h o s p h a t e . N a t u r e , 2 9 1 :7 3 -5 , 1 9 6 8 . ção rica em gorduras. BOWERS Jr., G.N., McCOMB, R.B. Measurement of total alkaline phosphatase activity in human serum. Clin. Interferências. Resultados falsamente elevados: C h e m . , 2 6 :1 9 8 8 -9 5 , 1 9 7 5 . são encontrados em pacientes submetidos a trata- KOAY, Evelyn S. C., WALMSLEY, Noel. A primer of mento com paracetamol, aspirina, agentes anti- c he m i c a l p a t h o l o g y . Singapore : World Scientific, 1996. 396 p. fúngicos, barbitúricos, difenilhidantoína, morfina, POSEN, S., DOHERTY, E. Serum alkaline phosphatase in a n t i-concepcionais orais e tiazidas. c l i n i c a l m e d i c i n e . Adv. Clin. Chem., 22:163-245, 1981. Métodos. Como o substrato natural da fosfatase PRICE, C. P. Multiple forms of human serum alkaline p h o sp h a t a s e : d e t e c t i o n a n d q u a n t i t a t i o n . A n n . C l i n . alcalina é desconhecido, foram propostas várias Bioc h e m . , 3 0 :3 5 5 -7 2 , 1 9 9 3 .
  • 12. Enzimas 101 F OSFATASE ÁCIDA TOTAL E FRAÇÃO PROSTÁTICA O termo fosfatase ácida (FAC) designa um grupo heterogênio não-específico de fosfata- p o s s í vel pela regurgitação da enzima no soro por c o mp r e s s ã o o u o b s t r u ç ã o d o s i s t e m a d u c t a l p r o s- ses que exibem pH ótimo entre 4,5 e 7, e catali- tático como resultado da hipertrofia glandular. O sam a hidrólise de monoéster ortofosfórico produ- d iagnóstico é realizado através de questionários zindo um álcool e um grupo fosfato. A fosfatase de sintomas, toque retal, dosagem de PSA, fluxo - ácida é amplamente distribuída nos tecidos. A metria e estudo de fluxo de pressão. A etiopatoge- maior atividade é encontrada na glândula prostá- nia da HPB ainda não está adequadamente escla - t ica (1000 vezes maior que em outros tecidos), recida. células osteoblásticas do osso, fígado, b aço, rins, eritrócitos e plaquetas. Em homens adultos, a Após cirurgia ou terapia anti -androgênica. próstata contribui com quase a metade da enzima Os níveis vagarosamente retornam ao normal ou presente no soro. com o subseqüente aumento caso o tratamento não Em indivíduos do sexo masculino, a fração tenha obtido sucesso. prostática representa em torno de 50% da fosfa - t ase ácida total, sendo o restante provenie n t e d o Palpação retal. A fosfatase ácida prostática no fígado e de desintegração das plaquetas e eritró - soro, raramente eleva após a palpação. Entretanto, citos. Para o sexo feminino é proveniente do fí - elevações transitórias podem ocorrer após biópsia g ado, eritrócitos e plaquetas. Os níveis de fosfa - da próstata, cistoscopia, infarto prostático (cau- tase ácida no soro apresentam importância clínica s ado pelo ato de cateterização) e a bastante rara, no diagnóstico e monitorização do câncer prostá- ruptura de cisto prostático. tico, em especial pelo emprego da fração prostá- tica da fosfatase (FACP). Outros aumentos da fosfatase ácida total. Pequenas a moderadas elevações são encontradas, freqüentemente, nas enfermidades ósseas associa- H IPERFOSFATESEMIA ÁCI DA das aos osteoclastos: enfermidade de Paget (avan- çada), hiperparatireoidismo com envolvimento Carcinoma prostático. A principal finalidade esquelético, invasão maligna do câncer de seio, da determinação da fosfatase ácida prostática é o anemia hemolític a, anemia megaloblástica, mono - diagnóstico e a monitorização do câncer prostá- nucleose, prostatite, policitemia vera, leucemia t ico, particularmente, da forma metastisada. O mielocítica (e outras enfermidades hematológi- carcinoma prostático atinge principalmente ho- cas), mieloma múltiplo, enfermidade de Niemann- mens acima de 50 anos e é classificado em quatro Pick e enfermidade de Gaucher (deficiência da e s tágios A, B, C e D (ver tabela 4.2) com relação enzima glicerocerebrosidase). também as elevações do antígeno prostático esp e- cífico (Ver marcadores tumorais). As elevações da FAC prostática são encontradas ao redor de 60% D ETERMI NAÇÃO DA FOSFATASE ÁCIDA dos homens com câncer metastático da próstata (estágio D). No entanto, enquando o câncer per- P a c i e n t e . Não é exigido preparo especial. manece localizado na glândula são en c o n t r a d o s valores normais ou levemente aumentad o s d a a t i- Amostra. S o r o o u p l a s m a h e p a r i n i z a d o isento de vidade da enzima. hemólise e não lipêmicos. Separar o soro ou pla s ma dos eritrócitos logo que possível. A en- Hipertrofia prostática benigna (HPB). É uma zima é estabilizada na amostra por acidificação o c o rrência relativamente comum em homens (pH ao redor de 5,4). Isto é conseguido pela adi- acima de 40 anos. O aumento da atividade é ção de 50 µL de ácido acético 5 mol/L (alternati-
  • 13. 102 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações vamente, juntar 10 mg de citrato dissódico monoi- mostram diferentes graus de inibição pelo L-tarta- drato por mL de soro). Nestas condições a ativi- rato. d a d e e n zimática é mantida por várias horas em α-Naftol fosfato . Os métodos que empregam o temperatura ambiente ou por uma semana no re - α-naftol fosfato como substrato liberam o naftol – frigerador. pela ação da fosfastase ácida – que reage com o Interferentes. Resultados falsamente aumenta - Fast Red TR para formar um produto colorido. dos: clofibrato. Resultados falsamente reduzidos: Pouco usado atualmente. etanol e estrogênio -terapia para o carcinoma de Enzima imunoensaio. Os métodos imunológi- próstata. c o s e s t ã o g a n h a n d o força, principalmente na a u - Métodos. Vários métodos foram desenvolvidos tomação, por sua especificidade para a FACP. Um para avaliar a atividade da fosfatase ácida. Devido anticorpo monoclonal ligado a um suporte sólido a importância da detectação do carcinoma prostá- u n e -se a FAC prostática. Um segundo anticorpo tico antes de metastizar, esforços tem sido reali- conjugado a uma enzima (ALP ou peroxidase) zados no aumento da sensibilidade e especifici- liga-se a fosfatase ácida prostática; a a tividade da d ade das medidas da enzima. enzima ligada é proporcional aos teores de FACP. Primeiros métodos. Historicamente, muitos dos Outros métodos. Radioimunoensaio, cinética ensaios desenvolvidos para medir a atividade da fluoremétrica. fosfatase alcalina foram adaptados para a fosfa - t ase ácida utilizando os mesmos substratos mas Valores de referência para a fosfastase ácida utilizando um tampão ácido. prostática (Roy) O emprego do fenilfosfato em pH 4,9 é uma Adultos 0,5 a 1,9 U/L modificação do método de King-Armstrong para a fosfatase alcalina. Outras adaptações foram reali- Bibliografia consultada zadas com o β-glicerolfosfato ou 4-nitrofenilfos- fato. BODANSKY, O. Acid phosphatase. Adv. Clin. Chem., 1 5 :4 4 -1 3 6 , 1 9 7 2 . Timolftaleína monofosfato. É um substrato CATALONA, W. J., SMITH, D. S., RATLIFF, T. L. et al. a u t o -indicador com alto grau de especificidade M e a s u r e m e n t o f p r o s t a t e -specific antigen in serum as a screening test for prostate cancer. N. Engl. J. Med., para a FACP. A timolftaleína liberada após a ação 3 2 4 :1 1 5 6 -6 1 , 1 9 9 1 . da fosfatase, desenvolve cor em meio alcalino. CHAN, D. W. AND SOKOLL L. J. Prostate-specific Antigen: Fosfatases ácidas provenientes de outros tecidos, Advances and Challenges. Clin Chem. 45:755-756, 1999. reagem em grau bem menor com este substrato. EWEN, L. M., SPITZER, R. W. Improved determination of Este método é freqüentemente usado. prostatic acid phosphatase (sodium thymolphthalein m o n o p h s o p a h t e s u b s t r a t e ) . C l i n . C h e m . , 2 2 :6 2 7 -3 2 , Inibição pelo L -t a r t a r a t o . A inibição química 1976. dife rencia a fração prostática pelo uso de L-tarta- M A Y N E , P h i l i p D . , D A Y , A n d r e w P . Workbook of clinical rato. A fosfatase ácida total é determinada por chemistry: case presentation and data interpretation. New York : Oxford University Press, 1994. 2 0 8 p . métodos correntes (são utilizados o 4 -nitrofosfato o u α-naftil fosfato como substrato) e, em seguida, ROY, A. V., BROWER, M.E. HAYDEN, J.E. Sodium thymol phthalein monophosphato: A new acid a fração prostática é inibida pelo L-tartarato com phosphatase substrate with gre ater specificity for the n o v a d e t erminação da fosfatase ácida. A fração p r o s t a t i c a n z y m e i n s e r u m . C l i n . C h e m . , 1 7 :1093-102, 1971. prostática é calculada pela diferença entre as duas TOWNSEND, R. M. Enzyme tests in disease of the determinações. Esta medida não é totalmente es - prost a t e . A n n . C l i n . L a b . S c i . , 7 :2 5 4 -6 1 , 1 9 7 7 . pecífica para a FACP já que outras isoenzimas
  • 14. Enzimas 103 Tabela 9.2. Classificação clínica do câncer prostático Freqüência da Freqüência de Grau Descrição, histologia e resultados do exame digital retal elevação da fosfatase elevação do clínico e outros exames ácida prostática PSA A1 Microscópico, não palpável clinicamente com focos menores do 11% 67% que 5% do tecido examinado A2 M icroscópico, não palpável clinicamente; com muitas áreas de mais de5% B1 P a l p á v e l , t u m o r m a c r o s c ó p i c o ≤1,5 cm de diâmetro em um 22% 73% único lobo B2 Palpável, tumor macroscópico >1,5 cm de diâmetro ou vários nódulos em ambos os lobos C1 T u m o r c o m e xtensão extracapsular mas ainda clinicamente l o c a l i z a d o , p a l p á v e l , e s t e n d e n d o - se até a vesícula seminal mas 39% 80% ainda não fixado à parede pélvica C2 Tumor com extensão extracapsular mas ainda clinicamente l o c a l i z a d o , p a l p á v e l e s t e n d e n d o - se na vesícula seminal mas fixado na parede pélvica D1 Tumor metastático demonstrável limitado três nódulos pélvicos 58% 88% ou menos D2 Tumor metastático demonstrável com nódulos mais extensos ou metástase extrapélvica (ex.: aos ossos)
  • 15. Enzimas 104 A MINOTRANSFERASES (TRANSAMINASES ) A s enzimas aspartato aminotransferase, AST (transaminase glutâmica-oxalacética, GOT) e tes do início dos sintomas. Os aumentos podem atingir até 100 vezes os limites superiores dos alanina aminotransferase, ALT (transaminase valores de referência, apesar de níveis entre 20 glutâmica-pinúvica, GPT) catalisam a transferê n - e 50 vezes, serem os mais encontrados. A s cia reversível dos gru pos amino de um aminoácido atividades máximas ocorrem entre o 7 e 12 0 para o α-cetoglutarato, formando cetoácido e dia; declinando entre a terceira e quinta se- ácido glutâmico. Estas reações requerem piridoxal mana, logo após o desaparecimento dos sinto- fo s fato como coenzima: mas. Na fase aguda da hepatite viral ou tóxica, a ALT (GPT), geralmente, apresenta atividade A s p a r t a t o + α- c e t o g l u t a r a t o D oxalacetato + ácido glutâmico maior que a AST (GOT). A r elação AST/ALT é A l a n i n a + α- c e t o g l u t a r a t o D p i r u v a t o + á c i d o g l u t â m ico menor que 1. Geralmente, se encontram hiper- As reações catalisadas pelas aminotransferases bilirrubinemia e bilirrubinúria com pequena (transaminases) exercem papéis centrais tanto na elevação dos teores séricos da fosfatase alca- síntese como na degradação de aminoácidos. Além lina. disso, como estas reações envolvem a interconver- são dos aminoácidos a piruvato ou ácidos dicarb o- § Cirrose hepática. São detectados níveis até xílicos, atuam como uma ponte entre o metabo - cinco vezes os limites superiores dos valores lismo dos aminoácidos e carboidratos. de referê n c i a , d e p e n d e n d o d a s c o n d i ç õ e s d o As aminotransferases estão amplamente distri- progresso da destruição celular; nestes casos, a buídas nos tecidos humanos. As atividades mais atividade da AST (GOT) é maior que a ALT elevadas de AST (GOT) encontram-se no mi o - (GTP). A dis função hepatocelular provoca a cárdio, fígado, músculo esquelético, com peque- síntese prejudicada da albumina, além do pro - nas quantidades nos rins, pâncreas, baço, cérebro, longamento do tempo de protrombina, hiperbi- pulmões e eritrócitos. lirrubinemia, teores de amônia elevadas e ure - mia baixa. A u mentos das aminotransferases semelhantes aos encontrados na cirrose, são A UMENTOS DAS AMINOTRANSFERASES freqüentes na co lestase extrahepática, carci- noma de fígado, após ingestão de álcool, du- rante o “delirium tremens” e após administra - Desordens hepatocelulares. A AST (GOT) e ç ã o d e c e r t a s d ro gas, tais como, opiatos, sali- a ALT (TGP) são enzimas intracelulares presentes cilatos ou ampicilina. A relação AST/ALT em grandes q u a n t i d a d e s n o c i t o p l a s m a d o s h e pa- freqüentemente é ma ior que 1. tócitos. Lesões ou destruição das células hepáticas liberam estas enzimas para a circulação. A ALT § Mononucleose infecciosa. Pode ocorrer eleva- (GPT) é encontrada principalmente no citoplasma ções de até 20 vezes os valores de referência, do hepatócito, enquanto 80% da AST(GOT) está com o envolvimento hepático. presente na mitocôndria. Esta diferença tem auxi- liado no diagnóstico e prognóstico de doenças § Colestase extra -h e p á t i c a a g u d a . Entre as vá- hepáticas. Em dano hepatocelular leve a forma rias causas estão: retenção de cálculos biliares, predominante no soro é citoplasmática, enquanto carcinoma de cabeça de pâncreas e tumor dos em lesões graves há liberação da enzima m i- ductos biliares. tocondrial, elevando a relação AST/ALT. Infarto do miocárdio. Ao redor de 6 a 8 horas § H e p a t i t e a g u da. Os níveis de aminotransfera- após o infarto do miocárdio, a atividade sérica da ses séricas elevam-se uma a duas semanas a n - AST (GOT) começa a elevar, atingindo o pico
  • 16. Enzimas 105 máximo (20 a 200 U/mL) entre 18 e 24 horas e, d a n t o í na, etanol, isoniazida, morfina, anticoncep- progressivamente, retornando aos valores de refe- cionais orais, sulfonamidas e tiazidas. rência ao redor do 5 0 dia. A AST (GOT) n ã o altera na angina pectoris, pericardite e enfermidade vas- Métodos. Alguns métodos utilizados para a d e- cular miocárdica. terminação da atividade das aminotransferases baseiam-se na formação de cor entre o piruvato ou Distrofia muscular progressiva e dermato- oxaloacetato e a dinitrofenilhidrazina para formar miosite. Elevações de 4-8 vezes da AST (GOT) as hidrazonas correspondentes. A alcalinização da e, ocasionalmente, da ALT (GPT), são encontra- mistura desenvolve cor proporcional à conversão dos. Em geral, estão normais em outras enfermi- dos cetoácidos à hidroxiácidos. A dinitrofenilh i- dades musculares, especialmente as de origem drazina também reage com o α-cetoglutarato pro - neurogênica. vocando interferências. Estes m é t o d o s s ã o o b s o - letos. Embolia pulmonar. Aumento de 2-3 vezes o Monitorização contínua. O piruvato ou oxalo- normal. acetato formados pela ação das aminotransferases são acoplados a uma segunda reação onde o piru - Pancreatite aguda. Provoca aumentos mode- vato (pela ação da ALT) ou oxaloacetato (pela rados de duas a cinco vezes o normal. ação da AST) são reduzidos pela NADH em rea- Insuficiência cardíaca congestiva. Os níveis ção catalisada pela lactato d esidrogenase (para a ALT) ou malato desidrogenase (para a AST). A de AST podem estar aumentados em graus de leve transformação da NADH por oxidação à NAD + é a moderado, provavelmente, refletindo a necrose h e p á t i c a s e c u n d á ria ao suprimento sangüíneo in a- monitorada em 340 nm. É adicio nado piridoxal 5’- fosfato para suplementar o teor de coenzima no dequado do fígado. soro e assim desenvolver ativid ade máxima. Este Outras desordens. A AST (GOT) apresenta princípio é utilizado na tecnologia de química pequenos aumentos na gangrena, esmagamento seca (DT Vitros). muscular, enfermidade hemolíticas, distrofia muscular progressiva, dermatomiosite, colangite Valores de referência a 37 o C (U/L) (inflamação dos ductos biliares) e infecção por AST (GOT): 5 a 34 parasitas. ALT (GTP): 6 a 37 Bibliografia consultada D ETERMINAÇÃO DAS TRANSAMINASES BRUNS, D., SAVORY, J., TITHERADGE, A. et al. E v a l u a t i o n o f t h e I F CC-r e c o m m e n d e d p r o c e d u r e f o r serum a sp a r t a t e a m i n o t r a n s f e r a s e a s m o d i f i e d f o r u s e Paciente: Não necessita cuidados especiais. w i t h t h e c e n t r i f u g a l a n a l y z e r . C l i n . C h e m . , 2 7 :1 5 6-9, 1981. Amostra. S o r o isento de hemólise, pois a ativ i- COHEN, J. A., KAPLAN, M. M. The SGOT/SGPT ratio na indicador of alcoholic liver disease. Dig. Dis. Sci., dade das aminotransferases é maior nos eritróci- 2 4 :8 3 5 -8 , 1 9 7 9 . t os. A atividade da enzima permanece inalterada KARMEN, S. A note on the spectrophotometric assay of por 24 horas em temperatura ambiente e mais de g l u t a m i c-oxalacetic transaminase in human bloodserum. uma semana sob refrigeração. J . C l i n . I n v e s t . , 3 4 :1 3 1 -3 , 1 9 5 5 . REITMAN, S., FRANKEL, S.A. A colorimetric method for the Interferentes. Valores falsamente aumentados: determination of serum glutamic oxalacetic and glutamic p i r u v i c t r a n s a m i n a s e s . A m . J . C l i n . P a t h . , 2 8 :5 7 -6 3 , paracetamol, ampicilina, agentes anestésicos, 1957. c lo ranfenicol, codeína, cumarínicos, dife nilhi-
  • 17. 106 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações G AMA -G LUTAMILTRANSFERASE γ-glutamiltransferase (γ-GT) catalisa a trans - A ferência de um grupo γ-glutamil de um peptí - Nas doenças hepatocelulares incluem também a elevação das transaminases, bilirrubinas, tempo de dio para outro peptídio ou para um aminoácido protrombina prolongado e hipoalbuminemia. produzindo aminoácidos γ-glutamil e cis tenil- glicina. Está envolvida no transporte de aminoáci- Enfermidades hepáticas induzidas pelo dos e peptídios através das membranas celulares, álcool. A liberação da γ-GT no soro reflete os na síntese protéica e na regulação dos níveis de efeitos tóxicos do álcool e drogas (ex.: fenitoína) glutatião tecidual. A γ-GT é encontrada no fígado, sobre as estruturas microssomiais das células h e- rim, in testino, próstata, pâncreas, cérebro e cora- páticas. A γ-GT é um indicador do alcoolismo, ção. particularmente, da forma ocult a. Em geral, as elevações enzimáticas nos alcoólatras variam e n - tre 2-3 vezes os valores de referência. Por outro A UMENTOS NA ATIVIDADE DA γ-GT lado, a ingestão de álcool em ocasiões sociais não aumenta, significativamente, a γ-GT. Estes en- Apesar da atividade enzimática ser maior no rim, s aios são úteis no acompanhamento dos efeitos da a enzima presente no soro é de origem, principal- a b s t e n ç ã o d o á l c o o l . N e s t e s c a s o s , o s n í v e i s v o l- mente, do sistema hepatobiliar. No f ígado, a γ-GT tam aos valores de referência em duas ou três está localizada nos canalículos das células hepáti- semanas, mas podem elevar novamente se o uso cas e, particularmente, nas células epiteliais que do álcool é retomado. Em vista da susceptibili- revestem os ductos biliares. Deste modo, o princi- d ade da indução enzimática, a interpretação da pal valor clínico na avaliação da γ-GT é no estudo γ-GT em qualquer caso, deve ser realizada à luz das desordens hepatobiliares. O grau de elevação dos efeitos de drogas e álcool. O diagnóstico do é útil no diagnóstico diferencial entre as desor- uso de álcool pode ser complementado pelos se- dens hepáticas e do trato biliar. guintes testes: Obstrução intra -hepática e extra -hepática. § Volume celular médio (VCM) dos eritrócitos. O São observados os maiores aumentos (5-30 vezes valor diagnóstico da γ-GT é aumentado quando os limites superiores dos valores de referência) a macrocitose é encontra da pela medida do n a s c o l e s t a s e s d o t r a t o biliar – processo patoló - VCM. g ico primário da cirrose biliar, colestase intra - hepática e obstrução biliar extra -hepática. A γ-GT § Tranferrina deficiente em carboidratos (CDT). é mais sensível e duradoura que a fosfatase alca- Em pacientes com doença induzida pelo álcool, lina, as transaminases e a nucleotidase, na a transferrina plasmática tem um reduzido d et e c t a ç ã o d e i c t e r í c i a o b s t r u t i v a , c o l a n g i t e e conteúdo de carboidratos (ácido siálico). O c o l ecistite. Além disso, a γ-GT é útil na diferenci- t eor de CDT plasmático está aumentado em, ação da fonte de elevação da fosfatase alcalina – a aproximadamente, 90% dos pacientes que inge- γ-GT apresenta valores normais nas desordens rem mais de 60 g de álcool por dia. ósseas e durante a gravidez. A γ-GT é particula r- mente importante na avaliação do envolvimento § Etanol sangüíneo. h e patobiliar em adolescentes, pois a atividade da fosfatase alcalina está elevada durante o cresci- Hepatite infeciosa. Aumentos de 2 a 5 vezes os mento ósseo. valores de referência; nestes casos a determinação das aminotranferases (transaminases) é de maior utilidade.
  • 18. Enzimas 107 Neoplasmas. Primários ou secundários apre- Amostra. S o r o s a n g ü í n e o . Estável por uma s e- sentam atividade da γ-GT mais intensa e mais mana em temperatura ambiente. Quando conge- precoce que outras enzimas hepáticas. lada é estável por 3 meses. Esteatose hepática (fígado gorduroso). É a Métodos. Os primerios métodos de análise da mais comum das hepatopatias alcoólicas, mas γ-GT empregavam o glutatião como substrato. O também é descrita em outros quadros, como: h e- desaparecimento do substrato ou a formação de patites medicamentosas, gestação, nutrição pa- produto era detectada por cromatografia, mano - renteral, corticoterapia, diabetes e nas desnutri- metria ou absorvância em UV. ções protéicas. Pequenos aumentos (2 a 5 vezes o γ -Glutamil-p -nitroanilina. O substrato mais valor superior de referência) ocorrem pela indução usado para a análise da γ-GT é a γ-glutamil-p - das enzimas microssomiais pelo álcool. Nas outras nitroanilida. O resíduo γ-glutamil do substrato condições os aumentos são menores. doador é transferido para a glicilglicina, liberando a p -nitroanilina, um produto cromogênico com Drogas. A γ-GT está presente em grandes quan- a b s o r v â n c ia em 405-420 nm. Esta reação tanto t i d a d e s n o r e t í c u l o en doplasmático liso e, por- pode ser usada como método de monitorização tanto, susceptível a indução de aumento da sua contínua como de ponto final. Em química seca atividade por dro gas, tais como a fenitoína, warfa - (DT Vitros) a alteração de reflexo é empregada rina e fenobarb it a l . N e s t e s cas o s , a s e l e v a ç õ e s para calcular a atividade da enzima. a t ingem níveis 4 vezes maiores que os limites superiores dos valores de referência. Interferências. Resultados falsamente elevados: fenitoína, fenobarbital, glutemidina e metaqua- Fibrose cística (mucoviscidose). Elevam a lo na. γ-GT por complicações hepáticas decorre n t e s . Valores de referência (U/L) Câncer prostático. São encontrados níveis mo - Homens: 5 a 25 deradamente elevados. Outros tipos de câncer com Mulheres 8 a 40 metástase hepática também provocam aumentos da enzima. Bibliografia consultada Outras condições. Lupus eritematoso sistêmico B E R T E L L I , M . S . , C O N C I , F . M . Álcool e fígado. Caxias do Sul : EDUCS, 1997. 219 p. e hipertireoidismo. C o m m i t t t e e o n E n z y m e s o f t h e S c a n dinavian Society for Clinical Chemistry and Clinical Physiology: Atividade normal da enzima é encontrada em R e c o m m e n d e d m e t h o d f o r t h e d e t e r m i n a t i o n o f γ- enfermidades ósseas (enfermidade de Paget, neo - glutamyl transf erase in blood. Scand. J. Clin. Lab. I n v e s t . , 3 6 :1 1 9 -2 5 , 1 9 7 6 . plasma ósseo), em crianças acima de u m ano e em IFCC Expert Panel on Enzymes: IFCC methods for the mulheres grávidas saudáveis – condições em que m e a s u r e m e n t o f t he catalytic concentration of enzymes. a fosfatase alcalina está aumentada. Apesar da I V : I F C C m e t h o d f o r γ-g l u t a m i l t r a n s f e r a s e . J . C l i n . γ-GT ser encontrada no pâncreas e rins, a enzima C h e m . C l i n . B i o c h e m . , 2 1 :6 3 3 -4 6 , 1 9 8 3 . não eleva em desordens nestes órgãos a menos que LONDON, J. W., SHAW, L. M., THEODORSEN, L., STROME, J. H. Application of response surface exista envolvimento hepático. methodology to the assay of gamma- g l u t a m y l t r a n s f e r a s e . C l i n . C h e m . , 2 8 :1 1 4 0 -3 , 1 9 8 2 . D ETERMINAÇÃO DA γ-GT R O S A L K I , S . B . G a m m a -g l u t a m y l t r a n s p e p t i d a s e . A d v . C l i n . C h e m . , 1 7 :5 3 -1 0 7 , 1 9 7 5 . SMITH, A. F., BECKETT, G. J., WALKER, S. W., ERA, P. W. H. P a c i e n t e . Deve permanecer em jejum por 8 h o - Clinical biochemistry. 6 ed. London : Blackwell Science, 1998. ras, à exceção da ingestão de água. Além disso, p. 110-123. não deve ingerir álcool durante 24 horas antes da SZASZ, G. A kinetic photometric method for serum gamma- g l u t a m y l t r a n s p e p t i d a s e . Clin. Chem., 15:124-36, 1969. prova.
  • 19. 108 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações L ACTATO DESIDROGENASE A lactato desidrogenase (LD) é uma enzima da c l a s s e d a s oxidorredutases que catalisa a oxidação reversível do lactato a piruvato, em pre- A UMENTOS NA ATIVIDADE DA LD sença da coenzima NAD+ que atua como doador ou aceptor de hidrogênio. Infarto agudo do miocárdio. A LD no soro + Lactato + NAD + D Piruvato + NADH + H + + aumenta 8 a 12 horas após o infarto do miocárdio, atingindo o pico máximo entre 24-4 8 h o r a s ; e s t e s A LD está presente no citoplasma de todas as valores permanecem aumentados por 7 a 12 dias células do organismo. Sendo rica no miocárdio, (v. adiante). fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Os níveis teciduais de LD são, aproximadamente, 500 Insuficiência cardíaca congestiva, mioca r- vezes maiores do que os encontrados no soro e dite, choque ou insuficiência circulatória. lesões naqueles tecidos provocam elevações pla s- A LD eleva mais do que 5 vezes os valores de máticas significantes desta enzima. referência. Anemia megaloblástica. A deficiência de fo - I SOENZIMAS DA LACTATO lato ou vitamina B 1 2 p r o v o c a d e s t r u i ç ã o d a s c é lu - DESIDROGENASE las precursoras dos eritrócitos na medula óssea e aumenta, em até 50 vezes, a atividade da enzima sérica por conta das isoenzimas LD -1 e LD -2 que Devido a presença da lactato desidrogenase em voltam ao normal após o tratamento. vários tecidos, aumentos dos teores séricos da mesma é um achado inespecífico. É possível obter Válvula cardíaca artificial. É uma causa de informações de maior significado clínico pela hemólise que eleva as frações LD -1 e LD -2. separação da LD em suas cinco frações isoenzi- máticas. As isoenzimas de LD são designadas de Enfermidade hepática. O s a u m e n t o s n ã o s ã o acordo com sua mobilidade eletroforética. Cada tão efetivos como os das transaminases (amin o - isoenzima é um tetrâmero formado por quatro transferases): subunidades chamadas H para a cadeia polipeptí - dica cardíaca e M para a cadeia polipeptídica § Hepatite infecciosa tóxica com icterícia, pro - muscular esquelética. As cinco isoenzimas encon- v o ca aumento de até 10 vezes os valores de re - trados no soro são: ferência. Tipo Percentagem Localização § Hepatite viral, cirrose e icterícia obstrutiva, LD-1 (HHHH) 14-26 Miocárdio e eritrócitos apresentam níveis levemente aumentados: uma L D - 2 (HHHM) 29-39 Miocárdio e eritrócitos o u d u a s v e z e s o s v a l o r e s superiores de referê n- Pulmão, linfócitos, baço, cia. L D - 3 (HHMM) 20-26 pâncreas L D - 4 (HMMM) 8-16 Fígado, músc. esquelético Mononucleose infeciosa. Os teores séricos da LD são geralmente altos, talvez porque a LD seja L D - 5 (MMMM) 6-16 Fígado, músc. esquelético liberada dos agregados das células mononucleares imaturas do organismo. A hemólise produzida durante a coleta e/ou manipulação de sangue, eleva as frações LD -1 e Enfermidade renal. Especialmente necrose LD-2. t u b u l a r e pielonefrite. Entretanto estes aumentos
  • 20. Enzimas 109 não estão correlacionados com a proteinúria e cular não está associado a nenhuma anormalidade outros parâmetros da enfermidade renal. clínica específica. No infarto do miocárdio tem-s e o s n í v e i s d a Doenças malignas. Mostram incrementos da fração LD -1 e LD -2 aumentados, as isoenzimas LD no soro, especialmente aquelas com metásta- das quais o miocárdio é particularmente rico (ver ses hepáticas. Elevações importantes são encon - adiante). tradas n a enfermidade de Hodgkin, c â n c e r a b d o - Além do lactato, a LD pode a t u a r s o b r e o u t r o s minal e pulmonar. s u b s t r a t o s , t a i s c o m o o α-hidroxibutirato. A subu- nidade H tem afinidade maior pelo α-hidroxibuti- Distrofia muscular progressiva. A u m e n t o s rato do que as subunidades M. Isto permite o uso moderados especialmente nos estágios iniciais e deste substrato na medida da ativ idade da LD -l e médios da doença: eleva a fração LD -5. LD-2, que consistem quase inteiramente d e s u b u - nidades H. Este ensaio é conhecido como a me - Trauma muscular e exercícios muito inte n- dida da atividade da α-hidroxibutirato desidroge- sos. Eleva principalmente a LD -5, dependendo da nase (α-HBD). extensão do trauma. A α-HBD não é uma enzima distinta, é, isto sim, representante da atividade da LD -1 e LD -2. A Embolia pulmonar. A isoenzima LD -3 está atividade da α-HDB está aumentada naquelas elevada provavelmente pela grande destruição de c o n d ições em que as frações LD -1 e LD -2 estão plaquetas após a formação do êmbolo. elevadas. No infarto do mio cárdio, a atividade da α-HBD é muito similar aquela da LD -l. Pneumocistose. Em pacientes portadores do Foi proposto o cálculo da relação LD/ α-HBD vírus da imunodeficiência adquirida. Esta suspeita que, em adultos varia entre 1,2 a 1,6. Nas enfermi - d eve ser confirmada através dos caracteres clíni- dades hepáticas parenquimais, a relação se situa cos e dos níveis de hipoxemia dos gases arteriais. entre 1,6 a 2,5. No infarto do miocárdio, com aumento da LD -1 e LD -2 a relação diminui para 0,8 a 1,2. C ORRELAÇÃO CLÍNICA DAS ISOENZIMAS DA LD L ACTATO DESIDROGENASE NA URINA As isoenzimas apresentam alterações em várias enfermidades que refletem a natureza dos tecidos envolvidos. Elevações da atividade da LD na urina de três a Aumentos da LD -3 ocorrem com freqüência em seis vezes os valo res de referência estão associa - pacientes com vários tipos de carcinomas. das com g l o merulonefrite crônica, lupus eritema - As isoenzimas LD -4 e LD -5 s ã o e n c o n t r a d a s , toso sistêmico, nefroesclerose diabética e câncer fundamentalmente, no fígado e músculo esquelé - de bexiga e rim. A determinação da LD na urina é t ico, com o predomínio da fração LD -5. Assim afetada pela presença de inibidores como a uréia e s en do, os níveis LD -5 s ã o ú t e i s n a d e t e c t a ç ã o d e p e q u e n o s p e p t í d i o s e d e p o ssíveis inativações da d es o r d e n s h e p á t i c a s – particularmente, distúrbios enzima sob condições de pH adversos na urina. intra -h e p á t i c o s – e desordens do músculo esquelé - t ico, como a distrofia muscular. Na suspeita de enfermidade hepática, com LD total muito au - L ACTATO DESIDROGENASE NO LCR mentada e quadro isoenzimático não-específico, existe grande possibilidade da presença de câncer. Em condições normais a atividade da LD no lí - A LD pode formar complexos com imunoglo - q u ido cefalorraquidiano (LCR) é bem menor do bulinas e revelar bandas atípicas na eletroforese. q u e a e n c o n t r a d a n o s o r o s a n g ü í n e o . A d i s t r i b u i- O complexo com a IgA e IgG, geralmente migra ção is o enzimática é LD 1 >LD 3 >LD 2 >LD 4 >LD 5 . No entre a LD -3 e LD -4. Este complexo macromole- en tanto, estes valores podem aumentar e/ou modi-
  • 21. 110 Bioquímica Clínica: Princípios e Interpretações ficar em presença de hemorragia ou lesão na bar- ção, a quantidade de piruvato consumida é deter- re ira cerebral sangüínea provocada por enfermida- minada pela adição de d i n i t r o f e n i l h i d r a z i n a para d e s q u e a d icionam LD de origem sistêmica ao formar um composto colorido (hidrazona) medido LCR. Além disso, as isoenzimas da LD são libera - fotometricamente. Esta metodologia está sendo das das células que se infiltram no LCR. Por abandonada em detrimento aos ensaios “cinéti- exemplo, na m e n i n g i t e b a c t e r i a n a , a granulocitose c o s ”. Em outro método colorimétrico, a NADH resultante produz elevações da LD -4 e LD -5, en- formada reage com sais tetrazólicos para produzir q u a n t o a meningite viral c a u s a linfocitose que um composto colorido. provoca elevações da LD -1 e LD -3. Piruvato à lactato. Muitos métodos medem a Alguns autores observaram aumentos na fração interconversão de lactato/piruvato utilizando a LD-5 no LCR em presença de tumores metastati- coenzima NAD+ e NADH medida em 340 nm. As zados, enquanto em tumores cerebrais primários r e a ç õ e s p rocedem do lactato → piruvato, ou de mostram aumento em todas as frações. Em neo - modo inverso, piruvato → lactato. A velocidade natais, elevações da LD s ão observadas em hemo r- da reação reversa é três vezes mais rápida, permi- ragias intracraneanas e estão de forma significa- tindo o emprego de reagentes mais baratos, amo s- t iva associadas com distúrbios neurológicos com tras pequenas e menor tempo de incubação. En - convulsões e hidroencefalia. tretanto, a reação reversa é mais susceptível a exaustão do substrato e a perda de linearidade. O D ETERMINAÇÃO DA LACTATO filme usado em química seca (DT Vitros) contêm DESIDROGENASE os reagentes para o emprego da conversão do piruvato e NADH, em lactato e NAD+ . P a c i e n t e . Não é exigido preparo especial. Valores de referência para a Amostra. S o r o o u plasma hepa r i n i z a d o ou LCR. lactato desidrogenase (U/L) O soro e plasma devem estar completamente Soro 95 a 225 isentos de hemólise, pois os eritrócitos contém Urina 42 a 98 100-150 vezes mais LD. Estável por 24 h em tem- Líquido cefalorraquid ia n o 7 a 30 peratura ambiente. Não refrigerar. Bibliografia consultada Interferentes. Resultados falsamente elevados: ácido ascórbico, anfotericina B, barbitúricos, car- CABAUD, P. G., WRÓBLEWSKI, F. Colorimetric m e a s u re m e n t o f l a c t i c d e h y d r o g e n a s e a c t i v i t y o f b o d y bonato de lítio, clofibrato, carbutamina, cefalo - f l u i d s . A m . J . C l i n . P a t h . , 3 0 :2 3 4 -6 , 1 9 8 1 . t ina, clonidina, cloridrato de clorpromazina, clori- CHATTERLY, S, SUN, T., LIEN, Y. Diagnostic value of drato de procainamida, codeína, dextran, floxuri- lactate dehydrogenase isoenzymes in cerebrospinal f l u i d . J . C l i n . L a b . A n a l . , 5 :1 6 8 -7 4 , 1 9 9 1 . dina, hormônio tireóideo, lorazepam, meperidina, mitramicina, morfina, nia cina, nifedipina, propra- STURK, A., SANDERS, G. T. B. Macro enzymes: prevalence, composition, detection and clinical nolol e metildopa. Resultados falsamente reduzi - r e l e v a n c e . J . C l i n . C h e m . C l i n . B i o c h e m . , 2 8 :6 5 -8 1 , dos: esteróides anabólicos, androgênios oxalatos e 1990. tiazidas. Working Group on Enzymes of the German Siciety for C l i n i cal Chemistry: Proposal for standard methods for the determination of enzyme concentrations in serum Métodos. A atividade da lactato desidrogenase a n d p l a s m a a t 3 7 o C. C l i n . C h e m . C l i n . B i o c h e m . , pode ser avaliada em termos da velocidade de 2 8 :8 0 5 -8 , 1 9 9 0 . transformação do piruvato a lactato. Após incuba-